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HISTÓRIA DA PUBLICIDADE E PROPAGANDA AULA 5 Prof. Patrick Diener 2 CONVERSA INICIAL Caro aluno, bem-vindo à quinta aula da disciplina História da Publicidade e Propaganda! Campanhas cada vez mais criativas surgem com os meios eletrônicos: o rádio e a televisão inauguraram uma nova era na publicidade brasileira. Era preciso dar voz e imagens aos anunciantes. A propaganda massiva passa a fazer parte do dia a dia das pessoas. De início, a televisão é altamente segmentada, pois seu público era a classe A. A televisão levou quatro anos para chegar aos 350.000 aparelhos (RAMOS, MARCONDES, 1995, p. 50). O rádio se firmara como o meio massivo mais popular, mas, aos poucos, perdia espaço para a TV. Hoje, quase 60% do investimento publicitário fica na televisão, e o rádio oscila nos 4%, disputando lugar com a internet. CONTEXTUALIZANDO Campanhas publicitárias marcaram épocas e gerações. Publicitários brasileiros viraram figuras de importância no cenário internacional. O Brasil, dos anos 1970 em diante, mesmo sendo um país em desenvolvimento, passava a ser considerado uma potência da propaganda mundial. Agências brasileiras, anunciantes brasileiros e publicitários brasileiros passam a representar entidades, júris e estudos da publicidade. A publicidade desenvolvida no país representa-nos em criatividade, na singeleza das ideias simples (procure no youtube o anúncio morte do orelhão, da extinta Telesp) e na irreverência bom humor (o cachorrinho Basset da Cofap). O Brasil angaria prêmios internacionais e passa a ter representatividade e influência. A Semana de Arte Moderna de 1922 e a Tropicália dos anos 1960 nos definem, bem como as campanhas “pra frente Brasil” – em virtude do tricampeonato na Copa do Mundo e ainda o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, famoso na época da ditatura. Na medida em que a economia do país crescia, “a felicidade se expressava na posse de bens”, dizia o publicitário Celso Japiassu (In: MARCONDES, 2001, p. 46), bem como na satisfação de desejos de uma nova classe média que surgia nos anos do “milagre econômico”. 3 TEMA 1 - PUBLICIDADE A PARTIR DO APARECIMENTO DO RÁDIO E TV Em uma época em que um dos principais veículos publicitários era o Almanaque do Biotônico Fontoura, anunciar no rádio era um desafio. Os primeiros jingles da década de 1920 eram, em sua maioria, rimados. Segundo informa Simões, a primeira voz a ser ouvida no rádio brasileiro foi a do presidente Epitácio Pessoa, em 7 de setembro de 1922. De início, propagandas eram proibidas no rádio. Só após um ano da concessão que as rádios poderiam explorar os anúncios (SIMÕES, 2006, p. 86-7). O rádio lançara, no cenário brasileiro, as cantoras Carmem Miranda e Araci de Almeida, assim como Noel Rosa, Chico Salves, Silvio Caldas, Cartola, entre outros. As radionovelas conquistavam os públicos, bem como os programas de auditório. A palavra broadcasting entrava para o vocabulário das agências. Em uma década, o fenômeno do rádio fazia parte do imaginário brasileiro: na hora da radionovela, as ruas esvaziavam. Conta-se que até missas eram realizadas quando um personagem querido morria (RAMOS E MARCONDES, 1995, p. 42). O rádio veio disputar o espaço publicitário primeiro como um meio alternativo aos jornais e revistas para, ao longo de uma década, consolidar-se como uma das principais plataformas para se fazer propaganda. Isso é particularmente interessante do ponto de vista do alcance do rádio: textos falados podem ser entendidos por mais pessoas, afinal, o Brasil ainda não era, entre 1920-1930, uma nação cuja maior parte da população fosse alfabetizada. Entre os anunciantes pioneiros do rádio, destaquem-se o xarope Bromil, Óleo de fígado de bacalhau, Xarope São João. Algo entre os remédios e as lojas. Os anuários são publicados ano a ano, fazendo um balanço do cenário das atividades publicitárias, como dando conta dos maiores anunciantes do ano e fazendo rankings das maiores agências e suas respectivas campanhas. Com o tempo, o rádio passava a incorporar os noticiários em sua programação, com destaque para o famoso Repórter Esso, na Rádio Nacional, na década de 1940: “o primeiro a dar as últimas” e “testemunha ocular da história” (RAMOS E MARCONDES, 1995, p. 46). A revista Publicidade, na sua edição nº 95, apontava que, em 1932, o investimento publicitário no rádio estava superando as verbas investidas em painéis e cartazes (SIMÕES, 2006, p. 105). 4 Pelo que os historiadores apontam, um dos jingles mais famosos da época eram os do sabonete Gessy. Ainda em 1934, o governo proíbe que empresas de comunicação brasileiras possuíssem sócios estrangeiros, apenas brasileiros natos. Na medida em que se proliferam as empresas radiofônicas por todo o território brasileiro, aumenta-se a importância do jingle e do merchandising ao vivo. Entre os anunciantes do rádio na década de 1930 destacam-se as meias Lupo, cigarros da Souza Cruz, remédios e até uma seguradora: a Sul América. Começam a aparecer anúncios das emissoras conclamando os anunciantes a utilizar o rádio como meio de massa. No Rio, a rádio Guanabara anunciava: “quem anuncia na Guanabara sabe que é ouvido por todo mundo”; ou, ainda, a Rádio Transmissora Brasileira oferecia seus serviços: “mande-nos o seu cartão que nós faremos dez textos para o senhor escolher um ou dois”, sem despesa para o anunciante. Outro anúncio da Rádio Tupy dizia: “ aumente suas vendas anunciando na rádio Tupy, a estação mais ouvida de todo Brasil” (SIMÕES, 2006, p. 121). Em 1935, entre as 19 e 20 horas, e em dias úteis, começava a veicular o programa A Hora do Brasil. Um jingle famoso da época, para o sabonete Lifebuoy dizia: “quando chega o verão, e aperta o calor, transpira-se tanto, é mesmo um horror” – faz-nos pensar, será que funcionaria hoje? Em seguida, surgiam as primeiras produtoras de áudio para a publicidade radiofônica: José Scatena fundou em São Paulo, no ano de 1948, a RGE – Rádio Gravações Especializadas (RAMOS; MARCONDES, 1995, p. 49). Quase uma década antes, em 1938, Carlos Pereira Valle fundava a Publicidade em Filmes Sonoros, que destinava anúncios para o cinema e seu primeiro cliente foi a Bayer (SIMÕES, 2006, p. 120). Em seus primórdios, a programação radiofônica e suas publicidades foram as formatadoras da cultura brasileira. Foi o rádio que levou o samba para o Brasil. Era uma época em que se compravam os espaços para anúncio não pelo tempo de 15, 30 ou 60 segundos, mas por blocos. Comprava-se espaço para vários anúncios. Diversas rádios alugavam espaços na programação a preços módicos, se comparados a hoje. Quanto aos formatos, afirma Marcondes: 5 Em dois ou três anos, contudo, a linguagem publicitária no rádio criaria os seus primeiros formatos próprios: os spots (peças com textos interpretados, acompanhados ou não de música) e os jingles (trilhas sonoras curtinhas, desenvolvidas especificamente para o anunciante) (2001, p. 27) Já a televisão iniciaria suas transmissões oficialmente em 1950 com a TV Tupi, colocando o Brasil como o quarto país do mundo a transmitir televisão. Houve exibições experimentais antes, mas oficialmente é a TV de Assis Chateubriand, proprietária dos Diários Associados. Marcondes ainda destaca que com a televisão o desafio à publicidade era dar imagem e movimento às mensagens publicitárias; o rádio, antes, havia dado a voz (2001, p. 31). Surgiam as garotas-propaganda, pois a publicidade sempre visou o público feminino – anúncios no formato infomercial se popularizaram, pois sua “função era demonstrar, como numa conversa doméstica com a consumidora, as maravilhas dos produtos anunciados” (idem, p. 32). Marcondes ainda recorda que a televisão, em seus primórdios, era ao vivo, não havia videotape, ou seja, imagens pré-gravadas, algo comum hoje em dia. Nos anos 1950, osonho de consumo das famílias era comprar uma TV – estava armado o circo eletrônico e seus novos padrões de beleza, os novos eletrodomésticos e um novo ritmo – o rock n’ roll. Na medida em que a televisão avança no mundo, surgem novos fenômenos da música: entre eles, a primeira boy-band de fama mundial, os Beatles. O impacto da TV no nosso imaginário é inquestionável, é o meio mais consumido pela população (SAMPAIO, 2003, p.95). Segundo as estatísticas (MÍDIA DADOS BRASIL, 2015), o brasileiro dispõe entre três a quatro horas consumindo televisão: é sua fonte de entretenimento, informação e lazer, de educação e prestação de serviço. Atualmente, o Brasil conta com cinco redes de televisão privadas de abrangência e cobertura nacional, entre elas: Globo, Record, SBT, Bandeirantes e Rede TV. O Brasil possui apenas um canal público direcionado ao país, a TV Brasil. As outras tevês educativas são estaduais, ainda que possam transmitir a outros estados da federação. 6 No livro 200 anos de propaganda no Brasil, Ricardo Ramos e Pyr Marcondes assinalam que “a propaganda em televisão começou do nada” (1995, p. 57) – dizia Fernando Severino, diretor comercial da TV Tupi. Na ausência de firmas especializadas em filmes, a maioria dos anúncios eram ao vivo. Nossos primeiros anunciantes foram as Persianas Colúmbia e a Casa Clô. Os comerciais eram ao vivo ou com slides [...] é interessante observar que, no Brasil, a televisão veio do rádio, quer dizer, foi iniciada com a participação de muitos homens do rádio, enquanto em outros países, ela começava com homens do cinema e teatro. Isso refletiu-se na publicidade de TV, que tinha muita influência do rádio. Os textos eram tremendamente radiofônicos. (RAMOS; MARCONDES, 1995, p. 57) A Globo foi fundada em 1965, em meio à ditadura militar. Nos anos 1980, a emissora era a principal rede de tevê do país. Segundo consta, possuía equipamentos adquiridos de uma parceria como grupo Time-Life. Chegou a alcançar 75% da audiência, sendo que seus programas do horário nobre costumam, até hoje, a manter a liderança. A Globo inovava com vinhetas e chamadas criativas, modernas e com ar internacional: um de seus maiores criativos era o alemão Hans Donner, responsável pelo padrão estético da Vênus Platinada, que ficou conhecido como padrão globo de qualidade. Segundo Ramos e Marcondes: Mesclando sofisticadas técnicas de desenho, utilização eletrônica de objetos especialmente construídos e exposições múltiplas com câmera especiais de animação [...] criaram, no final dos anos 1970, alguns dos mais marcantes ícones da Globo. Entre eles, a esfera de aço escovado, que seria a imagem-master do atual logo-olho da rede. (1995, p. 105) TEMA 2 - ANÚNCIOS AO VIVO Os anúncios ao vivo começaram nas ruas e depois tomaram conta das rádios: é o meio que mais atinge a população brasileira e está presente em 99% das residências. Entretanto, sua participação no investimento publicitário atinge uns 4 a 5% do investimento total. Geralmente, anúncios ao vivo irão envolver a demonstração e/ou explicação do produto/serviço anunciado. Este detalhamento pode ser feito por palavras, sons ou imagens (SAMPAIO, p. 42). Utilizando-se da figura de um ou 7 mais apresentadores, anúncios ao vivo podem ser dirigidos à plateia de um programa ou aos telespectadores. Veja um exemplo de comercial ao vivo que não deu muito certo na década de 1960: https://www.youtube.com/watch?v=vgYC4K2XODA Outro recurso comum aos anúncios ao vivo é a ideia do testemunhal, ou o uso de personalidades ou autoridades para apresentar e testemunhar a favor do produto/serviço anunciado. Programas de auditório da televisão utilizam do mesmo formato, sendo muito comum assistirmos anúncios nos programas de auditório do fim de semana: Silvio Santos, Eliana, Faustão, Pânico, são alguns dos exemplos de programas atuais com apresentadores de anúncios ao vivo. Durante a semana, Ana Maria Braga e seu programa matinal, bem como o Encontro com Fátima Bernardes são programas com anúncios ao vivo. Testemunhais são muito comuns nos anúncios ao vivo. Outras modalidades vêm da promoção de vendas como concursos, concursos culturais, sorteio de prêmios, distribuição de brindes, demonstração de produtos, entre outras formas. Veja um exemplo de merchandising: https://www.youtube.com/watch?v=T0T0SySuvGY Geralmente em canais de programação popular, os anúncios ao vivo foram ficando sofisticados. Hoje envolvem a demonstração de produtos dentro da narrativa de um programa: por exemplo, o product placement que acontece nas disputas do líder no Big Brother Brasil, ou quando os brothers que participam do reality-show vão às compras para a casa em um supermercado. Mas este assunto será tratado mais detalhadamente no próximo tema! Veja um exemplo de product placement no Big Brother Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=D3iCBQX2mzM TEMA 3 - PATROCÍNIO E PRODUCT PLACEMENT No campo da comunicação de massas, o patrocínio pode ser utilizado tanto na comunicação mercadológica enquanto estratégia de promoção e https://www.youtube.com/watch?v=vgYC4K2XODA https://www.youtube.com/watch?v=T0T0SySuvGY https://www.youtube.com/watch?v=D3iCBQX2mzM 8 promoção de vendas, quanto na comunicação institucional, quando, por exemplo, se visa à manutenção da imagem corporativa e a propaganda da marca, sem necessariamente vender algo. Segundo Sampaio, entende-se o patrocínio como uma ferramenta de promoção e de promoção de vendas. Assim, o patrocínio se configura como uma ferramenta de comunicação utilizada para divulgar a marca, promover os produtos, empresas e organizações e para se comunicar com os consumidores. Entretanto, é um campo bastante vasto: podendo ser apenas uma ação (patrocínio) ou “um conjunto de ações amparadas em uma mensagem objetiva de comunicação” (2003, p. 253). Ainda, no caso do patrocínio, a ferramenta pode se configurar nos mais diversos campos, pode-se, por exemplo, patrocinar um filme, um espetáculo de teatro, um festival, um edifício, um campeonato esportivo, um evento científico, entre outros. É difícil isolarmos as atividades de comunicação em apenas um aspecto ou uma estratégia ou ferramenta de comunicação, ainda mais em um contexto de criação e desenvolvimento de uma campanha, em um mundo cada vez mais dinâmico e conectado: a maioria das ações acontecem em um conjunto de estratégias e ações com objetivos de comunicação claros e definidos. A comunicação é uma área multidisciplinar na qual diversas ferramentas desenvolvem uma atividade específica (SAMPAIO, 2003, p. 252). Assim, num contexto de um planejamento de comunicação, o patrocínio poderia aparecer como uma ferramenta do marketing cultural ou social, por exemplo, dependendo, sobretudo, de uma definição prévia de qual objetivo de comunicação se pretende obter. Formato muito comum nos EUA, o patrocínio aparece praticamente em todos os programas televisivos. Um tipo de patrocínio clássico é aquele em que geralmente um programa de rádio ou televisão ou evento vêm precedidos de uma sentença que diz algo como: “– este programa é um oferecimento da empresa...” ou, ainda, “ – chocolate cacau apresenta...”. 9 Cabe aqui comentar uma outra variação que acontece em conjunto com o patrocínio é a ferramenta do merchandising: quando a comunicação de uma empresa anunciante aparece impressa, projetada ou desenhada em um cenário (como nas corridas de automóveis, as bandeirolas de diversas empresas ou mesmo as marcas estampadas nas carrocerias). No próximo tema vamos explorar de novo o merchandising. No fim dos anos 1930, e durante a Segunda Guerra, “o jornalismo patrocinado pela Esso faz história” (SIMÕES, 2006, p. 127). O programa Repórter Esso marcava a era do rádio durante o governo de Getúlio Vargas que, segundo Simões, foi o primeiro presidente a se preocuparcom a propaganda do governo no Brasil e no exterior. O repórter Esso marcou a história também porque transitou do rádio à televisão. Ouça o programa Repórter Esso da época em que era veiculado no rádio: https://www.youtube.com/watch?v=cIgSWgWH2kg Veja um exemplo do programa Repórter Esso na TV Tupi: https://www.youtube.com/watch?v=SFOIsMsQc-o Uma outra variação do patrocínio é aquela em que o produto vai aparecer dentro da narrativa do programa, sendo utilizado em um filme ou em uma novela, por exemplo. Atualmente, isso se chama product placement. Alguns autores, como Sampaio, chamam esse tipo de estratégia de merchandising editorial ou tie-in (atado ao editorial). Trata-se de uma estratégia bastante peculiar e que se intensificou no final do século passado (a Nike em De Volta para o Futuro) e que, com o advento da internet, invadiu os seriados televisivos, novelas e até mesmo o youtube. Veja um exemplo na série House: https://www.youtube.com/watch?v=cIgSWgWH2kg https://www.youtube.com/watch?v=SFOIsMsQc-o 10 Fonte: https://blogdamarco.wordpress.com/2011/11/21/product-placement-propaganda- invisivel-ou-quase-isso/ Veja alguns exemplos de product placement em filmes famosos: https://www.youtube.com/watch?v=_3FLKuQa62c Quer saber mais sobre o product placement? Acesse este artigo da Intercom que faz uma análise sobre essa estratégia no filme 007 – Skyfall: http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2015/resumos/R47-1532-1.pdF TEMA 4 - INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA NA LINHA EDITORIAL Pense num estrangeiro que nunca esteve no Brasil a observar os brasileiros sintonizados, pela manhã, numa televisão de uma padaria qualquer, e se deparar com um programa em que uma senhora loira e um papagaio conversam animadamente com um convidado enquanto a senhora está a servir um café da manhã. A propaganda veiculada neste horário e neste programa em especial, precisa adequar-se à realidade editorial, ou pode correr o risco de não falar com o público. O programa Mais Você, da Rede Globo, é, há anos, o líder de audiência em sua faixa horária, e o papagaio Louro José é um êxito como apresentador de merchandising televisivo. Assim, para o estrangeiro, por mais estranho que possa lhe parecer, irá começar a perceber que o programa matinal da maior emissora brasileira tem muitas semelhanças com os programas da mesma faixa horária de outros países. Programas matinais vão contar as notícias do dia, falar https://blogdamarco.wordpress.com/2011/11/21/product-placement-propaganda-invisivel-ou-quase-isso/ https://blogdamarco.wordpress.com/2011/11/21/product-placement-propaganda-invisivel-ou-quase-isso/ https://www.youtube.com/watch?v=_3FLKuQa62c http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2015/resumos/R47-1532-1.pdF 11 ou preparar comida, terão matérias com foco em coisas domésticas ou de família, falarão de economia, de crianças e de receitas. Os programas de televisão matinais irão se ocupar de uma linha editorial que não diz respeito necessariamente à faixa horária, mas ao público que o assiste: são programas que visam as donas de casa, que, muitas vezes, são as chefes de família. Sabendo disso, a publicidade brasileira sempre investiu numa comunicação com as mulheres. O que mudou ou evoluiu, por assim dizer, foram os veículos. Se antes as publicações impressas dominavam, hoje, estes disputam o espaço com a televisão, com blogueiras e com as redes sociais. Um exemplo bastante corriqueiro é o publieditorial, aquele que “é a propaganda com características editoriais, com formato bastante semelhante ao contexto do veículo onde é inserida e geralmente identificada de modo bem discreto” (SAMPAIO, 2003, p. 256). É muito comum em revistas, em impressos, mas também aparece em outros meios. Aliás o mercado nacional de revistas foi se especializando com a melhora de renda da população nos anos 1970, década do “milagre econômico brasileiro”. Veja, a seguir, alguns exemplos de publieditorial no site Brainstorm 9: Fonte: http://www.b9.com.br/publieditorial/ http://www.b9.com.br/publieditorial/ 12 É nos anos 1980 que a publicidade moderniza seus formatos e práticas. Apareciam os jornais em formato tabloide, novidade em meio a jornais de formato standard. Ramos e Marcondes contam que nessa década as transformações no mercado editorial foram radicais: buscando ampliar o leque de seus interesses editoriais. “O fenômeno era de segmentação, com lançamentos de títulos em profusão para os cada vez mais variados e específicos públicos” (RAMOS, MARCONDES, 1995, p. 101). Surgiam revistas jovens, revistas masculinas e semanários: a revista Istoé tinha quatro anos em 1980, e a revista Veja estava completando 12 anos. Você viu um pouco disso na disciplina de Princípios da Publicidade, está lembrado? TEMA 5 - PADRONIZAÇÃO DE ANÚNCIOS Porque existem padronização de anúncios? A título de exemplo, a cidade de São Paulo, em 1938, contava, segundo a revista Aspectos, com 80 mil cartazes espalhados pelas ruas, 1.798 luminosos a maioria em neon (In: SIMÕES, 2006, p. 122). Simões (2006) informa que, já nessa época, a prefeitura da cidade de São Paulo começa a organizar a tributação sobre luminosos e a proibição da propaganda com alto-falantes, por exemplo. Foi entre 1930-1940 que se padronizou o formato centímetros X colunas para anúncios em jornais: é o espaço padrão de um anúncio de jornal, ou seja, um centímetro de comprimento por uma coluna de largura (SAMPAIO, 2003, p. 328). Outra preocupação que necessitava de normas e alguma vigilância eram as propagandas da área de saúde, na qual incluem-se os médicos e parteiras, bem como a indústria farmacêutica, de modo a prevenir abusos por parte de uma publicidade por muitas vezes gananciosa. Em 1944, uma lei da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul regulamentava que nenhum anúncio de propaganda de produtos farmacêuticos 13 poderá ser publicado, irradiado ou afixado em cartazes sem o visto da Seção de Fiscalização do Exercício Profissional (SIMÕES, p. 131). O raciocínio era um tanto lógico, se os anúncios de automóveis muitas vezes recebiam retoques ou lift-ups por parte dos artistas gráficos, porque não fazer o mesmo com as promessas de um medicamento de um anunciante cheio de verba para investir em propaganda? Daí a necessidade de uma organização e normatização de determinadas práticas do marketing e da publicidade. Na década de 1940, as agências e emissoras de São Paulo formaram um convênio em que se redigiu o primeiro esboço de um Código de Ética Profissional de Propaganda. A seguir, o que saiu pela Associação Paulista de Propaganda: as agências se propõem a utilizar o rádio como um veículo publicitário; as emissoras se propõem a prestar toda e qualquer assistência às agências; as emissoras manterão tabelas de preços fixas e que só podem ser alteradas com um prazo de 90 dias de antecedência; as agências são divididas em dois grupos: o daquelas que se responsabilizam pelo pagamento em nome do cliente e das que não assumem tal responsabilidade; as emissoras poderão trabalhar anunciantes diretos, obedecendo à tabela; os contatos quer de agência quer das emissoras precisam ser sócios da APP incumbe-se a APP para realizar um amplo estudo sobre o rádio. (SIMÕES, 2006, p. 133) Em 1942, saía o decreto-Lei 4.113 que consolidava a propaganda de médicos, cirurgiões-dentistas, parteiras, massagistas, enfermeiras, casas de saúde e estabelecimentos congêneres (RAMOS; MARCONDES, 1995, p. 51). A padronização de anúncios hoje é realizada pelo CENP – cuja homepage informa: O CENP-Conselho Executivo das Normas-Padrão foi constituído em 16 de dezembro de 1998 por meio de uma livre convenção entre as entidades representativas dos principais agentes econômicos do mercado publicitário brasileiro. Assinaram e se comprometeram com princípios defendidospelo CENP os Anunciantes, representados pela ABA – Associação Brasileira dos Anunciantes; as Agências de Publicidade, pela ABAP – Associação Brasileira das Agências de Publicidade e FENAPRO – Federação Nacional das Agências de Propaganda e os Veículos de Comunicação, pela ANJ – Associação Nacional de Jornais, ANER – Associação Nacional dos Editores de Revistas, ABERT – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, ABTA – Associação Brasileira de Televisão por Assinatura 14 e a Central de Outdoor. Posteriormente vieram se juntar também o IAB Brasil – Interactive Advertising Bureau, a ABMOOH – Associação Brasileira de Mídia Out-of-Home e a FENAPEX - Federação Nacional da Publicidade Exterior. Todas essas entidades de classe discutem formatos, modelos, padrões e práticas da publicidade. Por exemplo, em 1980, a Associação Brasileira de Empresas Produtoras de Filmes Publicitários instituiu os parâmetros envolvidos na produção de comerciais (RAMOS; MARCONDES, 1995, p. 107). A seguir, observe um print de entidades de classe da publicidade e propaganda brasileiras, reunindo veículos, anunciantes, empresários, sindicatos, grupos e coletivos do mercado nacional. Fundada em 1º de agosto de 1949, a Abap defende e divulga os interesses de agências brasileiras associadas à indústria de comunicação. Está presente em todos os estados do país e é a maior organização do setor na América Latina. Suas associadas são responsáveis por 78% do investimento publicitário brasileiro em mídia, movimentando um universo de 3.200 profissionais e 4.100 clientes. Dentre as realizações da Abap estão a cofundação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), do Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp), do Instituto Verificador de Comunicação, do Fórum Permanente da Indústria da Comunicação (Forcom), do Fórum de Produção Publicitária e do Fórum do Audiovisual e do Cinema (FAC). Além disso, a Abap inspirou a Lei 4680/65, conhecida como a Lei da Propaganda, e foi responsável pela realização de quatro Congressos Brasileiros de Publicidade e do 5º Congresso da Indústria da Comunicação. A entidade também contribuiu de forma decisiva para a aprovação da Lei 12.232, que regulamenta os critérios para licitações públicas. A associação é sister association de duas importantes entidades: Associação Americana de Agências 15 de Publicidade (AAAA) e Associação Europeia de Agências de Comunicação (Eaca). A Abap também é entidade fundadora e integrante da Confederação da Publicidade dos Países de Língua Portuguesa (CPPLP). A partir do CENP, todas as entidades de classe citadas participam direta ou indiretamente da elaboração, discussão, defesa e articulação das normas publicitárias, nas mais variadas instâncias. A padronização é algo que vem sendo discutido desde a década de 1940. Na ocasião do convênio entre a ABAP e a AAAA firmaram-se as seguintes cláusulas que definiam o que era uma agência, quais os serviços que prestam quer ao anunciante quer ao veículo, fixando sua independência em relação a ambos, e fixa os critérios de remuneração (na época em 17,65% na veiculação e 15% sobre as despesas de produção). Onze agências firmaram o acordo: a J.W. Thompson, a Standard, a Inter-Americana, a McCann-Erickon, a Grant, a Record, Voga, Época, Erwin Wasey, Xavier e Poyares. (SIMÕES, 2006, pp. 156- 7). Na década de 1950, a publicidade brasileira alcançava os patamares internacionais movimentando em valores o equivalente a 1% do PIB – Produto Interno Bruto. Exemplo: em 1954, o PIB foi de 450 bilhões de cruzeiros enquanto o investimento publicitário nacional alcançara 4,5 bilhões de cruzeiros. Em 1951, saía uma lei federal que versava sobre crimes contra a economia popular, considerando criminosa a propaganda que estivesse a “dar indicações ou fazer afirmações falsas em prospectos ou anúncios, para o fim de substituição, compra ou venda de títulos, ações ou cotas” [Lei 1.521 de 26/12/1951]. Segundo nos informam os historiadores da publicidade, Pyr Marcondes, Ricardo Ramos e Roberto Simões, as primeiras discussões de padronização de formatos de anúncios, por exemplo, passavam a ser organizadas pela Eclectica e sua representação comercial do jornal O Estado de S. Paulo. Lembre-se que, em aulas anteriores, foi comentado sobre o publicitário Júlio Cosi (o velho Cosi, um homem de agências e do rádio) a viajar pelo interior do Brasil a fim de organizar o negócio da publicidade no Brasil: 16 A maioria dos jornais não tinha tabela de preços de centimetragem. Na década de 1920, ele teve de viajar o Brasil [...] de modo a estabelecer um método de operação agência-veículo: nasceram as autorizações, prevendo o tamanho, data e preço do anúncio [...] viajou aos Estados Unidos, visitou os jornais e agências e aplicou como pôde aquilo que aprendeu... O autor vai chamar a época dos anos 1940-1950 de movimento associativo. Já a década de 1970, começam a surgir os Conselhos Estaduais de Propaganda, uma iniciativa que vai na esteira das associações nacionais como a ABAP (Associação Brasileira de Agências de Propaganda). Existe uma grande quantidade de entidades associativas e conveniadas. No Brasil, o cenário publicitário se configura com uma grande diversidade de entidades de classe associativas. Saiba mais Para saber mais sobre algumas dessas entidades, acesse: http://www.abapnacional.com.br/links.cfm No começo dos anos 1980, o mercado editorial brasileiro amadurecia com a introdução de novos formatos, promoveu-se uma mudança editorial em diversas publicações. Nesse sentido, Ramos e Marcondes apontavam que a maior revista feminina do país, a Claudia, aumentava o seu formato e introduzia em suas páginas algumas seções fixas sobre temas ligados ao cotidiano feminino (1995, p. 101). Esse processo acabou atingindo uma série de publicações nacionais, onde se desenvolveu o foco editorial, com destaque para a Quatro Rodas, a Playboy, a Istoé, entre outras. A padronização de formatos de anúncio é essencial para a publicidade, facilita, e muito, o nosso trabalho. Por exemplo, a Central de Outdoor, entidade que representa vários exibidores, realizou um intenso trabalho de valorização desse veículo. Foi responsável pela padronização do formato, o que facilitou muito o trabalho das agências (anteriormente, cada exibidor utilizava uma medida para o outdoor, fazendo com que a agência tivesse que produzir diferentes artes-finais para a mesma campanha). Isso aconteceu também em http://www.abapnacional.com.br/links.cfm 17 outras mídias, como a TV, com a padronização dos tempos ofertados para anúncio e a padronização feita pela Associação Nacional de Jornais (www.anj.org.br), que é aplicável à maioria dos jornais brasileiros e define os formatos de jornal (standart, tabloide, berliner). Isso também se aplica à internet, com formatos de banners, por exemplo. É possível ver as especificações na imagem a seguir: Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAMaMAD/apostila-midia Saber que um formato se adequa a vários veículos facilita o planejamento de anúncios, bem como sua criação. Já pensou se você fosse anunciar em jornais do Brasil inteiro e cada um tivesse um formato diferente? Que trabalhão você teria para criar as artes, não é?! NA PRÁTICA Já vimos que a estratégia de product placement apresenta elementos conhecidos como merchandising. Trata-se de uma ferramenta do marketing utilizada no ponto de venda ou, neste caso, em espaços editoriais (programas de TV, de rádio, mídia impressa). É comumente utilizado em eventos esportivos, em seriados, novelas e minisséries: as marcas estão presentes sob a forma do produto em si (alguém tomando uma Coca-Cola) ou, ainda em símbolos, na ambientação, no cenário ou na decoração, em objetos etc. Atualmente, também é possível ver a prática de productplacement nos canais do youtube, o Porta dos Fundos é um exemplo. 18 Product Placement da cerveja Itaipava no canal Porta dos Fundos Fonte: http://plugcitarios.com/2013/12/17/porta-dos-fundos-investe-em-mais-um- merchan-inteligente/ Saiba mais Leia a matéria do portal Exame sobre a prática de product placement no canal Porta dos Fundos: http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/porta-dos- fundos-tem-product-placeent-de-itaipava SÍNTESE Na aula de hoje, vimos que as campanhas publicitárias marcaram épocas e gerações. E acompanhamos um pouco dessa evolução, no Brasil e no mundo. REFERÊNCIAS MARCONDES, Pyr. Uma História da Propaganda Brasileira. Rio de Janeiro, Ediouro: 2001. MARCONDES, Pyr; RAMOS, Ricardo. 200 Anos de Propaganda no Brasil: do reclame ao ciberanúncio. São Paulo: Meio & Mensagem, 1995. http://plugcitarios.com/2013/12/17/porta-dos-fundos-investe-em-mais-um-merchan-inteligente/ http://plugcitarios.com/2013/12/17/porta-dos-fundos-investe-em-mais-um-merchan-inteligente/ http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/porta-dos-fundos-tem-product-placeent-de-itaipava http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/porta-dos-fundos-tem-product-placeent-de-itaipava 19 MENA BARRETO, Roberto. Agência de Propaganda e as Engrenagens da História. São Paulo: Summus, 2006. RAMOS, Ricardo. Do Reclame à Comunicação: pequena história da propaganda no Brasil. São Paulo: ed. Atual, 1985. SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A Z. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. SANT’ANNA; ROCHA JUNIOR; DABUL GARCIA. Propaganda: teoria, técnica e prática. São Paulo: Cengage Learning, 2013. SIMÕES, Roberto. A Propaganda no Brasil: evolução histórica. São Paulo: ESPM: Referência, 2006. VASSALO LOPES, Maria Immacolata. Pesquisa em Comunicação. São Paulo: edições Loyola, 2003.
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