Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Pró-reitoria de EaD e CCDD Teoria e Prática Cambial Aula 1 Prof. Joni Tadeu Borges 2 Pró-reitoria de EaD e CCDD Conversa inicial Por meio da disciplina de Teoria e Práticas Cambiais vamos entrar num assunto considerado imprescindível ao profissional que atua no Comércio Exterior e outras áreas, como por exemplo: administração, logística e financeira. O assunto será interessante, porque vamos falar de dinheiro “moeda estrangeira” e, para uma empresa, certamente, é um dos fatores que determinará a sua sustentabilidade no mercado. Para entender melhor o que eu vou passar para vocês, é de suma importância acompanhar os acontecimentos econômicos e políticos do país, uma vez que esses fatores estarão ligados e influenciando diretamente o mercado cambial. Vale lembrar que a movimentação de moeda estrangeira no Brasil está amparada em legislações que devem ser de conhecimento de todos os envolvidos. Com certeza, o aluno que conhecer com maior profundidade a prática do câmbio poderá ter mais oportunidades profissionais e, quando necessário, operar com mais segurança no mercado cambial. Contextualizando Ao final da aula vamos colocar em prática os conteúdos apresentados nesta rota. Veja a situação abaixo e procure relacionar todos os procedimentos que devem ocorrer nas operações de câmbio: Uma empresa brasileira realizou uma exportação no valor de USD 100.000,00 para um importador no Canadá. Após o importador efetuar o pagamento ao exportador, este terá que vender os dólares para seu banco de relacionamento, entregando-os imediatamente. 3 Pró-reitoria de EaD e CCDD Tema 1 - Abordagem conceitual de câmbio e reservas internacionais Há muito tempo a moeda é utilizada como instrumento de troca. Na economia a moeda é aceita para pagar pelas compras de produtos e serviços. Dessa maneira, tudo aquilo que pode ser aceito como forma de pagamento pode ser considerado como moeda. Antigamente era dessa maneira que o homem utilizava a moeda, na forma de troca. Trocava um bem por outro ou pagava um bem com outro. Não havia a moeda física e a prática dessas transações denomina-se escambo. Com a evolução do homem e da maneira de se operar no mercado, a moeda passou a ser utilizada nas transações comerciais e financeiras como um meio de troca. Hoje, quando o mercado (homem) vende um produto, ele receberá moeda que poderá ser utilizada para comprar qualquer outro produto. A importância da moeda está em atribuir valores aos produtos, facilitando as transações para quem quer comprar ou vender. Exemplificando: uma caixa de leite tem o valor de R$ 3,00, um automóvel tem o valor de R$ 30.000,00. E como já foi citado anteriormente, a moeda será o instrumento de troca para a aquisição desses bens. Tratando-se de câmbio, cada moeda tem um valor e, regra geral, cada país tem a sua moeda. Mas por que uma moeda é mais valorizada ou desvalorizada do que a outra? O valor da moeda é sempre relativo e depende de vários fatores aplicados a cada país: lei da oferta e da procura, credibilidade, políticas econômicas, especulações, inflação, juros etc. Como o país tem moedas diferentes e há a necessidade de fazer a compra de bens e serviços, além de outras transações financeiras entre eles, em algum momento haverá o ato de pagar ou receber por essas transações. Em que moeda pagar ou em que moeda receber, se os países podem ter uma política 4 Pró-reitoria de EaD e CCDD cambial que restringe a entrada de moeda estrangeira em seu território? A solução é fazer a troca de moedas para se adequar às normas cambiais de cada país. Para essa troca dá-se o nome de câmbio. No mercado internacional de moedas, os negociadores têm o objetivo de obter rendimentos com as operações de compra e venda de moedas estrangeiras. Como em qualquer outro tipo de comércio, os operadores buscam comprar a moeda pelo preço mais barato e vender pelo preço mais caro. O ponto de interrogação está em quando isso ocorre. Em que momento o preço da moeda estará menor ou maior? Porque o custo das moedas que circulam mundialmente sofre alterações permanentes devido à lei da oferta e da procura. E são vários os fatores, principalmente aqueles relacionados à economia e à política adotadas em cada país. Se o mercado cambial sofre várias influências externas ou internas que vão impactar no preço de uma moeda em relação a outro, não pode descartar a possibilidade do risco. Tem que observar outros fatores também nas negociações de moedas estrangeiras para evitar surpresas desagradáveis como conhecer a liquidez da moeda que está sendo negociada. Por exemplo, não adianta comprar a moeda Zloty (Polônia) por um preço muito baixo e não ter para quem vender. Outros detalhes que têm que ser observados nas operações de compra e venda de moeda entre países, como fuso horário e feriados na praça da moeda negociada, influenciam diretamente no preço. O mercado cambial existe há muito tempo e passou por várias fases. Países que dominavam a economia tinham a sua moeda como referência, porém somente após a Segunda Guerra Mundial, com a assinatura do Acordo de Breton Woods (1944), o dólar americano passou a ser a moeda mais negociada entre os países capitalistas. A partir desse momento, o dólar americano tornou-se referência nas negociações internacionais e constitui as reservas internacionais dos países. 5 Pró-reitoria de EaD e CCDD As reservas internacionais são as disponibilidades que os países possuem depositadas em moeda estrangeira (moedas fortes) utilizadas no cumprimento dos seus compromissos financeiros e divisas são os valores recebidos por um país, resultantes de suas exportações, empréstimos de capitais, investimentos externos. Em algum momento esses dois conceitos podem se confundir dependendo da maneira de como são utilizados. Devido à particularidade de cada moeda, incluindo a credibilidade do país que a emite em termos de políticas monetárias, fiscais, econômicas e cambiais perante a comunidade financeira internacional, a moeda terá mais aceitação e gozará de maior confiança em sua capacidade de ser utilizada como meio de troca e reserva e valor. Mundialmente as moedas foram divididas em dois grupos: moedas conversíveis e inconversíveis. Moedas conversíveis são aquelas que são aceitas nas transações internacionais sem restrições. São usadas pelas pessoas físicas ou jurídicas para pagamento de transações comerciais ou financeiras. Já as moedas inconversíveis não têm aceitabilidade no mercado internacional. Reservas Internacionais País Reserva Internacional (Milhões de USD) 1 China 3,202,321 2 Arábia Saudita 2,257,619 3 Japão 1,254,100 4 Suíça 619,550 5 Taiwan 418,900 6 Rússia 380,544 7 Brasil 372.438 8 Coreia do sul 365,760 9 Singapura 343,215 10 Hong Kong 359,900 Fonte: Wikipédia (março de 2016) 6 Pró-reitoria de EaD e CCDD Tema 2 - Classificação do Mercado de Câmbio A finalidade do mercado de câmbio está sustentada na necessidade de fazer a troca (compra ou venda) da moeda estrangeira entre pessoas físicas e jurídicas residentes, com sede ou domiciliadas no Brasil, com pessoas físicas e jurídicas residentes, com sede ou domiciliadas no exterior. Aplica-se também para o mercado de câmbio a transferência de moeda nacional (real) do Brasil para o exterior e do exterior para o Brasil entre as pessoas citadas acima. As operações de ouro-instrumento cambial fazem parte do mercado de câmbio. Todas essas transações ou operações devem ser realizadas por intermédiode instituições autorizadas a operar com câmbio pelo Banco Central do Brasil. Em nossos estudos, vamos abordar principalmente as operações de câmbio decorrentes das operações comerciais (exportação e importação) e financeiras praticadas entre as empresas brasileiras e estrangeiras. O Decreto-lei 857/69, de 11 de setembro de 1969 estabelece o curso forçado da moeda no Brasil. Portanto, como não se pode trabalhar com outra moeda no Brasil que não seja a moeda corrente atual (Real) e as transações comerciais e financeiras com o exterior são realizadas, em regra geral, com moedas conversíveis, será necessário que o importador brasileiro compre a moeda estrangeira para pagar suas importações. Já o exportador brasileiro deve vender a moeda estrangeira decorrente da sua exportação para receber o valor correspondente em reais. O mercado de câmbio, como é muito amplo, pode ter várias classificações ou divisões. Abaixo serão apresentadas as mais utilizadas pelos participantes desse mercado. 7 Pró-reitoria de EaD e CCDD Quanto ao modo de entrega da moeda estrangeira: Mercado de câmbio manual É o ambiente no qual ocorrem as transações de compra e venda de moeda estrangeira em espécie ou por meio de cheques de viagem. Essas operações são realizadas em instituição autorizadas a operar em câmbio, como os bancos múltiplos e comerciais, casas de câmbio. Exemplo: Uma pessoa brasileira precisa ir ao exterior para participar de um curso. Obviamente ela terá que comprar moeda estrangeira para se manter no exterior pelo período previsto. Poderá comprar dólar, euro ou outra moeda estrangeira disponível, de acordo com sua necessidade, em uma instituição autorizada a operar com câmbio pelo Banco Central do Brasil. Não há limitação para o valor a ser negociado, porém a instituição autorizada deverá observar a regulamentação para a prática dessas negociações. Vale ressaltar que as transações realizadas nesse mercado têm como única finalidade a utilização da moeda em viagem para o exterior (venda de moeda estrangeira às pessoas que vão viajar para o exterior), ou compra de moeda estrangeira de estrangeiros ou brasileiros que ingressam no país. A taxa de câmbio praticada nesse mercado é diferenciada em relação à taxa praticada nas operações de câmbio de exportação e importação. Mercado de câmbio sacado Nesse mercado, as operações de câmbio ocorrem por meio de movimentações de débitos e créditos em moeda estrangeira em contas de bancos brasileiros no exterior autorizados pelo Banco Central do Brasil. É grande o volume de operações de câmbio no Brasil oriundas das transações de exportação e importação, consideradas operações de câmbio comerciais. Já as transações de remessas de recursos para o exterior e recebimento do exterior não decorrentes de importação e exportação são consideradas operações de câmbio financeiro. 8 Pró-reitoria de EaD e CCDD A legislação não permite a movimentação de moeda estrangeira no Brasil. Dessa maneira, há necessidade de a movimentação da moeda estrangeira se dar no exterior, conforme a regulamentação do Banco Central do Brasil. Exemplo: Recebimento de USD 10.000,00 por parte de uma empresa brasileira decorrente da exportação realizada para um importador do Chile. Acompanhe o fluxo a seguir: 1. O exportador vende e embarca a mercadoria para o importador chileno no valor de USD 10.000,00. 2. O importador entrega o valor em pesos chilenos equivalente a USD 10.000,00 em seu banco e solicita que este pague ao exportador brasileiro. 9 Pró-reitoria de EaD e CCDD 3. O banco do importador fica com os pesos chilenos e solicita que seu banco correspondente em Nova Iorque debite em sua conta o valor de USD 10.000,00 e transfira-o para o banco correspondente do exportador também em Nova Iorque. A grande maioria das operações de câmbio, nas quais a moeda utilizada é o Dólar dos Estados Unidos, é transacionada em Nova Iorque por se tratar do principal centro financeiro mundial. 4. O banco correspondente do importador faz um débito em sua conta no valor de USD 10.000,00 e credita essa quantia na conta do banco correspondente do exportador, também em Nova Iorque (esse valor é do exportador). Obs.: O crédito, nesse caso, é feito na conta de um banco brasileiro no exterior autorizado pelo Banco Central. Quando a movimentação das transferências se dá em USD, os bancos brasileiros têm uma conta em Nova Iorque, mas poderia ser em qualquer cidade ou país do mundo. Os principais bancos brasileiros, normalmente, têm uma agência em Nova Iorque para atender as demandas das empresas brasileiras, além de outras finalidades. 5. O banco correspondente do exportador em Nova Iorque avisa o banco do exportador no Brasil sobre o crédito em sua conta. Esse valor fica disponível para o exportador fazer a conversão em reais (câmbio) em seu banco no Brasil. 6. O banco do exportador compra os USD 10.000,00 do exportador e credita os reais correspondentes na conta do exportador. Obs.: Quando o banco brasileiro compra os dólares do exportador por meio de uma operação de câmbio, o valor dos dólares é creditado na conta do banco brasileiro no exterior, no caso em Nova Iorque. O banco pode utilizar o saldo acumulado nessa conta (crédito) para pagar a importação de alguma empresa brasileira por meio de um débito nessa mesma conta. Resumindo, a movimentação de débito e crédito na conta de um banco brasileiro no exterior em moeda estrangeira é conhecida como mercado de câmbio sacado. 10 Pró-reitoria de EaD e CCDD Tema 3 - Classificação do Mercado de Câmbio Quanto à finalidade de entrega da moeda estrangeira: Mercado de câmbio comercial São as operações de câmbio decorrentes da compra e venda de moedas estrangeiras relacionadas às operações comerciais: exportação de mercadorias e serviços e importação de mercadorias e serviços. Mercado de câmbio financeiro São as operações de câmbio decorrentes da compra e venda de moedas estrangeiras não relacionadas às operações comerciais. É o caso de pagamento de juros sobre empréstimo, pagamento de seguro no exterior, recebimento de doação, investimento externo, assim como outras centenas de enquadramento que se podem dar às transferências internacionais em moeda estrangeira. Quanto ao prazo de entrega da moeda estrangeira: Mercado de câmbio pronto Na negociação da compra ou venda da moeda estrangeira há um prazo para o vendedor entregar a moeda estrangeira para o comprador, que depende da negociação entre as partes, na qual uma delas sempre será a instituição autorizada em operar em câmbio e do outro lado, a pessoa física ou jurídica que precisa comprar ou vender a moeda estrangeira. Se a moeda estrangeira for entregue ao comprador até dois dias úteis da data da negociação (contratação de câmbio), considera-se uma operação realizada no mercado de câmbio pronto. A maioria das operações cambiais ocorrem nesse mercado. 11 Pró-reitoria de EaD e CCDD Exemplo: Considere o mesmo exemplo utilizado para apresentar o mercado de câmbio sacado, no qual o exportador brasileiro fez uma venda comercial de USD 10.000,00 para o importador chileno. Após o crédito na conta do banco brasileiro em Nova Iorque, o valor de USD 10.000,00 fica disponível para o exportador brasileiro negociar a venda da moeda com o seu banco de relacionamento no Brasil. Assim que o exportador vender a moeda estrangeira, no caso USD 10.000,00, para o seu banco de relacionamento, ele entregará de imediato a moeda estrangeira ao comprador (banco), sendo que a entrega ocorrerá dentro do prazo de dois diasúteis da data da negociação. Mercado de câmbio futuro Nesse mercado a entrega da moeda estrangeira pelo vendedor ao comprador ocorre em um prazo superior a dois dias úteis da data da negociação. São exemplos de operações que ocorrem nesse mercado: o financiamento à exportação por meio do contrato de câmbio (ACC e ACE), operações de câmbio travado e outras. Exemplo: No caso de uma operação de câmbio travado de exportação, vamos considerar que um exportador brasileiro tem a receber USD 100.000,00 referente a uma venda comercial para um importador australiano, porém a data do pagamento ficou acordada para 180 dias após a data do embarque. Considerando que já se passaram 20 dias da data de embarque e que o exportador queira negociar a venda da moeda estrangeira nesse momento com o seu banco de relacionamento, se o banco comprar os USD 100.000,00 do exportador, irá recebê-los após 160 dias da data da negociação. Portanto, o exportador (vendedor da moeda estrangeira) entregará a moeda estrangeira ao banco (comprador da moeda estrangeira) em uma data futura. Isso se trata de uma operação de câmbio realizada no mercado de câmbio futuro. Nesse exemplo, como se trata de uma operação de câmbio travado, o banco também entregará os reais equivalentes a 160 dias da data da negociação (contratação do câmbio). Há vários tipos de operações de câmbio praticadas nesse mercado. 12 Pró-reitoria de EaD e CCDD Quanto aos agentes participantes na compra e venda de moeda estrangeira: Mercado de câmbio primário São as operações de câmbio realizadas entre as instituições autorizadas a operar com câmbio e os seus clientes, podendo ser pessoas físicas ou jurídicas que necessitam comprar ou vender moeda estrangeira. Exemplo: Utilizando os exemplos citados anteriormente, seja no câmbio pronto ou no câmbio futuro, os exportadores estão vendendo sua moeda estrangeira para o seu banco de relacionamento. Essas operações são realizadas no mercado de câmbio primário. Mercado de câmbio secundário Identificado também como mercado de câmbio interbancário, é o mercado que os bancos autorizados a operar com câmbio compram e vendem moeda entre si. Uma das características importantes do mercado é a precificação da taxa de câmbio, porque é a partir das taxas de câmbio praticadas nesse mercado que os bancos irão negociar com seus clientes no mercado de câmbio primário, aplicando o spread necessário para rentabilizar suas operações de câmbio. Outra utilização para os bancos é adequar suas posições cambiais diárias. Isso é o saldo em moeda estrangeira ao final do dia. Exemplo: Banco do Brasil vende USD 5.000.000, 00 para o banco Santander. Nesse sentido, podemos considerar que em uma operação de exportação, por exemplo, poderá ocorrer simultaneamente em diversos mercados, como o mercado de sacado (valor da exportação é creditada numa conta no exterior), mercado de câmbio pronto (assim que o exportador vender a moeda estrangeira entrega imediatamente para o comprador) e mercado de 13 Pró-reitoria de EaD e CCDD câmbio primário (o exportador vende a sua moeda estrangeira para um banco autorizado a operar com câmbio). Mercado de câmbio paralelo É considerado mercado de câmbio paralelo o ambiente no qual ocorrem a compra e venda de moeda estrangeira por agentes não autorizados pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio. São práticas utilizadas nesse mercado, recursos oriundos de superfaturamento de exportação, subfaturamento na importação, corrupção, lavagem de dinheiro e outros de menor relevância, mas nem por isso são considerados legais. Exemplo: Determinada pessoa compra USD 10.000,00 em espécie para viajar ao exterior. Essa pessoa viaja e só utiliza USD 8.000,00. Ao retornar ao Brasil, utiliza a sobra de USD 2.000,00 para pagar uma dívida em um estabelecimento não autorizado a operar com câmbio. Nesse momento, os USD 2.000,00 saem do mercado oficial de câmbio e ingressam no mercado de câmbio paralelo. Quanto à política cambial adotada pelos países: Mercado de câmbio livre ou flutuante Os países que adotam política cambial livre ou flutuante interferem muito pouco nesse mercado. Isso não quer dizer que não seja regulamentado. Porém as transferências de valores para o exterior e do exterior são mais flexíveis. A taxa de câmbio praticada nesse mercado, considerada livre (flutuante) oscila conforme as condições de mercado, isto é, seu preço é definido pela lei da oferta e procura da moeda estrangeira. No Brasil o mercado de câmbio, atualmente, é considerado livre, mesmo havendo a possibilidade de o Banco Central do Brasil intervir no mercado quando considera que esse está fora dos parâmetros previstos para a economia brasileira. Quando isso ocorre, o Banco Central do Brasil entra no mercado para comprar ou vender a moeda estrangeira para procurar estabilizar a oscilação da taxa de câmbio. 14 Pró-reitoria de EaD e CCDD Mercado de câmbio fixo ou controlado No mercado de câmbio controlado, as autoridades monetárias do país intervêm diretamente nas transações de transferências de divisas, principalmente dificultando a saída de divisas do país. Isso ocorre porque o país que adere a essa política normalmente está com sua economia fragilizada. Consequentemente, em regra geral, fixa-se a taxa de câmbio nesse mercado. Tema 4 - Estrutura do mercado cambial no Brasil Os agentes autorizados a operar no mercado de câmbio pelo Banco Central do Brasil são: bancos múltiplos e bancos comerciais; caixas econômicas e bancos de investimento; bancos de desenvolvimento; bancos de câmbio; agências de fomento; sociedades de crédito, financiamento e investimento; sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários; sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários e sociedades corretoras de câmbio; agências de turismo e meios de hospedagem de turismo para operarem no mercado de câmbio; Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). Cada um dos agentes autorizados a operar no mercado de câmbio tem suas características próprias para atuar, podendo ser quanto aos tipos de operações que podem realizar, limites das operações de câmbio e de posição de câmbio, entre outras. 15 Pró-reitoria de EaD e CCDD Estrutura básica do mercado de câmbio no Brasil Pode-se considerar que os bancos em geral, autorizados pelo Banco Central do Brasil, têm maior participação nesse mercado. Eles são os responsáveis em negociar (comprar e vender) moedas estrangeiras para os exportadores, importadores ou qualquer pessoa física ou jurídica que precise também negociar a moeda estrangeira. O local onde ocorre essa negociação chama-se “mesa de câmbio” e os profissionais que aí atuam chamam-se operadores de câmbio. É comum, além disso, fazer as operações de câmbio via internet. Outro agente que atende um público especifico, porém em volume muito menor do que os bancos, é a casa de câmbio. A casa de câmbio opera somente com a compra e venda de moeda estrangeira em espécie, travel check ou travel money card com a finalidade de viagem. Já as corretoras de câmbio atuam principalmente como intermediadores na negociação da compra e venda de moeda estrangeira entre as empresas e os bancos. As corretoras acompanham o mercado de câmbio e procuram fazer o melhor negócio para seus clientes. Também podem comprar e vender moeda 16 Pró-reitoria de EaD e CCDD estrangeira, porém com valores limitados por operação pelo Banco Central do Brasil. A Secretaria da Receita Federal, desde 2005, é responsável pelo controle dofluxo financeiro dos pagamentos e recebimentos em moedas estrangeiras por parte das empresas importadoras e exportadoras. No ambiente no qual se opera o mercado de câmbio no Brasil, dois sistemas são de máxima importância: o Sisbacen e Siscomex. Sisbacen - O Sistema de Informações do Banco Central é um conjunto de recursos de tecnologia da informação, interligado em rede, utilizado pelo Banco Central na condução de seus processos de trabalho. É nesse sistema que todas as operações de compra e venda de moeda estrangeira são registradas, nas quais são informados o nome do comprador e vendedor da moeda estrangeira, valor negociado, valor da taxa de câmbio, natureza da operação, entre outras informações. Siscomex: O Sistema Integrado de Comércio Exterior é um instrumento informatizado, por meio do qual é exercido o controle governamental do comércio exterior brasileiro. Essa ferramenta facilitadora permite a adoção de um fluxo único de informações, eliminando controles paralelos e diminuindo significativamente o volume de documentos envolvidos nas operações. Exemplo da utilização dos sistemas: Uma empresa faz a venda de uma mercadoria para um importador no exterior no valor de USD 100.000,00. Para a mercadoria sair do Brasil, a empresa exportadora tem de registrar a operação no Siscomex, ou seja, registrar o Registro de Exportação – RE, com as informações comerciais, tributárias e cambiais. 17 Pró-reitoria de EaD e CCDD Para receber o valor da exportação pago pelo importador estrangeiro, o exportador tem que vender os USD 100.000,00 para um banco. A operação será registrada pelo banco no Sisbacen. A empresa exportadora terá o seu CNPJ registrado nos dois sistemas. Dessa maneira a Secretaria da Receita Federal poderá confrontar as informações e verificar a regularidade das operações quanto ao fluxo de moeda estrangeira realizada por essa empresa. Tema 5 - Posição de câmbio e legislação cambial Posição de câmbio A posição de câmbio é representada pelo saldo das operações de câmbio (compra e venda de moeda estrangeira) prontas ou para liquidação futura, realizadas pelas instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio. Atualmente não há limitação imposta pelo Banco Central do Brasil quanto à posição de câmbio dos bancos autorizados a operar em câmbio. A posição de câmbio, nos bancos, pode apresentar-se da seguinte forma: Nivelada: o volume de compras e vendas se equivalem; Comprada: o volume de compras é maior do que o volume de vendas; Vendida: o volume de vendas é maior do que o volume de compras. Dependendo da posição de câmbio que um banco opta por ter no final do dia, ele poderá ter lucro ou prejuízo devido à variação cambial que ocorre no mercado de câmbio. Os bancos mais conservadores procuram trabalhar em uma posição nivelada, isto é, tentam manter suas compras de moeda estrangeira 18 Pró-reitoria de EaD e CCDD iguais às vendas no decorrer do dia. Dessa maneira, estão menos sujeitos a ter perdas expressivas. Na posição comprada, os bancos esperam uma desvalorização da taxa de câmbio, situação em que podem vender a moeda a uma taxa mais alta, obtendo o lucro esperado. Vale lembrar que as instituições autorizadas a operar com câmbio estão sujeitas ao controle diário pelo Banco Central do Brasil, mesmo não havendo limites para a posição comprada ou vendida. O fato de uma instituição bancária poder ficar “comprada ou vendida” não implica, necessariamente, a realização de operações especulativas. Tal decisão deve derivar de uma decisão estratégica da alta administração da instituição. A posição de câmbio de um banco pode influenciar diretamente na negociação da taxa de câmbio com os seus clientes. Por exemplo, se um exportador necessitar vender seus dólares para um banco quando este estiver com excesso de moeda estrangeira (dólar) no seu caixa (posição comprada) e não interessar mais a ele comprar mais dólares, o banco provavelmente vai oferecer-lhe uma taxa de câmbio menor. Consequentemente, se o exportador vender a moeda ao banco, receberá menos reais. Exemplo: Como ficará a posição de câmbio do banco Zelta Ltda. ao final do dia, sabendo-se que iniciou o dia com um saldo positivo de USD 5.000.000,00 e realizou as seguintes operações no mercado: 1.ª operação: vendeu USD 1.000.000,00 para a empresa importadora Leme Ltda.; 2.ª operação: contratou uma operação de ACC com a empresa exportadora Campos e Matos Ltda., no valor de USD 2.000.000,00; 3.ª operação: contratou um câmbio de USD 2.000.000,00, referente a um financiamento à importação do importador Zicos SA; 4.ª operação: vendeu USD 5.000.000,0 para o banco Cifras S.A; 19 Pró-reitoria de EaD e CCDD 5.ª operação: contratou um câmbio de USD 2.000.000,00 referente a um empréstimo recebido pela empresa Cambuã Ltda. Operação Compra Venda Saldo USD Posição Saldo Inicial 5.000.000,00 5.000.000,00 Comprada 1.ª 1.000.000,00 4.000.000,00 Comprada 2.ª 2.000.000,00 6.000.000,00 Comprada 3.ª 2.000.000,00 4.000.000,00 Comprada 4.ª 5.000.000,00 1.000.000,00 Vendida 5.ª 2.000.000,00 1.000.000,00 Comprada Legislação cambial A atual legislação cambial brasileira compreende basicamente as quatro Circulares do Banco Central do Brasil, de 16 de dezembro de 2013, que substituíram o Regulamento de Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais de 2005 (RMCCI). O principal motivo para a implementação das Circulares Bacen foi por questão jurídica, pois em termos técnicos foram poucas as alterações. A Circular n.º 3688 dispõe sobre o funcionamento do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), firmado pelo Banco Central do Brasil com os bancos centrais da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. A Circular n.º 3689 trata sobre capitais brasileiros no exterior e permite que as instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio pelo Banco Central do Brasil, possam transferir para o exterior em moeda nacional e em 20 Pró-reitoria de EaD e CCDD moeda estrangeira por parte de pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no País. A Circular n.º 3690 apresenta como as operações de câmbio devem ser classificadas no mercado de câmbio. Toda operação de câmbio deve ter uma classificação com o objetivo de apresentar para ao Banco Central as diversas finalidades de transferências de recursos do ou para exterior. A Circular n.º 3691 dispõe sobre as normas e procedimentos do mercado de câmbio relativo à Resolução n.º 4.568, de 29 de maio de 2008, que destaca as operações de compra e venda de moeda estrangeira por instituição autorizada a operar com câmbio pelo Banco Central do Brasil. Obs.: nas próximas rotas/aulas trataremos mais especificamente sobre os temas relacionados na Circular n.º 3.691. Serão abordados os conteúdos sobre os aspectos cambiais na exportação, importação e câmbio financeiro. Síntese Vimos o que é o câmbio e como esse tema está inserido diretamente nas operações comerciais realizadas pelas empresas importadoras e exportadoras. É necessário que o profissional de comércio exterior tenha com profundidade o conhecimento dos principais conceitos relacionados à área cambial, contudo será necessário, além disso, acompanhar a legislação que ampara tais operações. Referências BORGES, Joni Tadeu. Câmbio. Curitiba: Ibpex, 2008. BORGES, Joni Tadeu. Financiamento ao Comércio Exterior. Curitiba: Ibpex, 2012. 21 Pró-reitoria de EaD e CCDD Circular 3688: http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/48813/Circ_3688_v1_O.pdf Circular 3689: http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/ Lists/Normativos/Attachments/48812/Circ_3689_v2_P.pdf Circular 3690: http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/ Lists/Normativos/Attachments/48816/Circ_3690_v2_P.pdf Circular 3691: http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/ Lists/Normativos/Attachments/48815/Circ_3691_v5_P.pdf
Compartilhar