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Anestésicos locais Eliselle Gouveia de Faria Biteli, DVM, Msc. Residência em Anestesiologia Veterinária Doutoranda pelo Programa de Cirurgia Veterinária, ênfase em Anestesiologia UNESP - JaboBcabal / SP Histórico: Niemann (1860)- cocaína, extraída da folha de coca Moreno y Maiz (1868)- descreveu o uso potencial da cocaína como anestésico local Carl Koller (1884)- anestesia tópica no olho Halstead- sugeriu sua aplicação em nervos periféricos e em nível de coluna espinhal Ritsert (1890)- Benzocaína, primeiro AL sintético Bier (1898)- primeira raqui com cocaína Einhon e Brain (1905)- sintetizaram a procaína Lofgren (1943)- síntese da lidocaína Ekrstam (1957)- síntese da bupivacaína e ropivacaína Década de 60- prilocaína O que são anestésicos locais? Grego: an: sem aisthesis: sensação Os anestésicos locais (AL) compreendem uma série de substâncias químicas localmente aplicadas, com estruturas moleculares semelhantes, capazes de inibir a percepção das sensações (sobretudo a dor) e também de prevenir o movimento, sem contudo alterar o nível de consciência. Farmacodinâmica: Mecanismo de ação dos AL Os anestésicos locais exercem seu efeito através do bloqueio reversível dos canais de sódio regulados por voltagem, inibindo, assim, a propagação dos potenciais de ação ao longo dos neurônios. Através da inibição da propagação do potencial de ação, os AL impedem a transmissão da informação para o sistema nervoso central (SNC). Farmacodinâmica: Mecanismo de ação dos AL Particularidade no mec. ação na anestesia epidural Além de bloquear canais iônicos de sódio e potássio, em diferentes sítios da medula espinhal (corno dorsal e ventral), age em canais de cálcio e na inibição da liberação de substância P no corno dorsal. Na área pré-sináptica ainda interfere com outros neurotransmissores, como acetilcolina e GABA. Farmacocinética: absorção -Os AL atravessam as membranas dos nervos por: difusão. Fatores que influenciam essa travessia: lipossolubilidade, pH do meio e [ ] do fármaco. Farmacocinética: absorção Outros fatores que influenciam a absorção: local de injeção; dose; uso de vasoconstritor; característica farmacológica da droga. Farmacocinética dos anestésicos locais Os fatores mais significantes que influenciam a absorção são: dose; -A absorção não está relacionada à concentração nem ao volume utilizado, sendo a dose total administrada o fator mais importante. Farmacocinética dos anestésicos locais Os fatores mais significantes que influenciam a absorção são: uso de vasoconstritor; os vasoconstritores devem ser usados, por retardarem a absorção dos agentes anestésicos. Impedem a elevação dos níveis sanguíneos sistêmicos, então reduzindo o risco de reações tóxicas e prolongando a ação da droga, com aumento da captação neural. Farmacocinética dos anestésicos locais Os fatores mais significantes que influenciam a absorção são: uso de vasoconstritor; NÃO USAR EM EXTREMIDADES a Vasoconstrição pode durar tempo suficiente para causar necrose!!! Farmacocinética dos anestésicos locais Os fatores mais significantes que influenciam a absorção são: uso de vasoconstritor; NÃO USAR EM EXTREMIDADES a Vasoconstrição pode durar tempo suficiente para causar necrose!!! Farmacocinética dos anestésicos locais Os fatores mais significantes que influenciam a absorção são: característica farmacológica da droga; A natureza físico-química do fármaco afeta sua absorção sistêmica. Farmacocinética O pH das soluções dos AL é ácido (tendem a permanecerem na forma ionizada). Ao ser injetado no tecido é tamponado e passa a permanecer na forma não ionizada (favorece a absorção pelos tecidos). ao chegar no axônio encontra um ambiente básico, ioniza-se novamente (dificulta a absorção pelos vasos). Farmacocinética Observação: O AL é distribuído quando consegue alcançar os vasos sanguíneos (perde o efeito farmacológico). Parte do AL injetado é captado por tecidos adjacentes, entre os quais tecido adiposo e vasos sanguíneos. Para o próprio tecido nervoso, apenas uma parcela estará disponível para ativação. Farmacocinética dos anestésicos locais Biotransformação e Excreção O metabolismo varia com a estrutura do AL: AMIDA ou ÉSTER Farmacocinética dos anestésicos locais Os ésteres são metabolizados, principalmente, pela colinesterase plasmática (de forma rápida) e os metabólitos hidrossolúveis são excretados na urina; As amidas são metabolizadas pelo sistema microssomal hepático com natureza mais complexa (duração longa). Farmacocinética dos anestésicos locais Fatores que interferem na metabolização: hipofluxo hepático ou quadro de hepatopatia grave, a metabolização desses anestésicos será prejudicada. A idade avançada, a insuficiência cardíaca e/ou hepática interferem com o metabolismo dos AL. Farmacocinética Lipossolubilidade: Quanto mais lipossolúvel, melhor a penetração na membrana nervosa. ex.: Bupivacaína A lipossolubilidade aumentada traduz-se em maior sequestro de AL na mielina e outras estruturas lipossolúveis, com liberação mais lenta, que pode aumentar a duração mas pode retardar a velocidade do início de ação. Grau de ionização: a latência do AL está relacionado ao grau de ionização. Quanto > o pKa > menor a quantidade na forma não ionizada > latência Farmacocinética dos anestésicos locais A velocidade com que os anestésicos locais desaparecem do sangue sofre influência da ligação às proteínas e da solubilidade lipídica. Excreção: renal Farmacocinética dos anestésicos locais Por que alguns AL tem um período de ação maior que outros??? A alta ligação às proteínas plasmáticas prolonga a permanência dos AL na corrente sanguínea, portanto, a bupivacaína, com 95% de ligação, e a ropivacaína, com 94%, têm maior tempo de duração esperada que a lidocaína 64%. Estrutura Química Os AL possuem: -um grupo aromático (lipossolúvel, hidrofóbico) -um grupo amina (hidrofílico) Esses 2 grupos são ligados por uma cadeia intermediária que determina a classificação dos AL em: AMIDA OU ÉSTER Estrutura Química Exemplos de Amidas: -Lidocaína, bupivacaína, prilocaína Exemplos de Éster: -Cocaína, ametocaína Estrutura Química Diferença entre os tipos de anestésicos locais: ÉSTER: -Instáveis em solução (mais fácil a quebra da ligação molecular) -Maior potencial alergênico -Rápida hidrólise (enzimas no plasma) AMIDAS: -Estáveis em solução -Baixo potencial alergênico Diferença entre os tipos de anestésicos locais: Influência do pH Os AL não agem em regiões inflamadas e/ ou infeccionadas. Por quê???? Influência do pH Os AL não agem em regiões inflamadas e/ou infeccionadas. Por quê???? tecidos infectados tendem a ser um meio mais ácido que o habitual. Como há redução no pH local, há menor fração não-ionizada de anestésico local e por isso o efeito será mais lento e reduzido. Tecidos infectados também podem apresentar maior fluxo sanguíneo local, levando à maior remoção do anestésico local antes que ele atue sobre os neurônios Os nervos periféricos têm fibras A e B mielinizadas e C não-mielinizadas: Classificação dos nervos periféricos Associações Com o intuito de melhorar a atividade dos AL, são usados aditivos, entre eles o bicarbonato, a epinefrina, opióides, glicose e, mais recentemente, os agonistas α2- drenérgicos. Bicarbonato (Alcalinização) Embora vários mecanismos sejam postulados, a alcalinização inibe a condução do impulso nervoso, e a adição de bicarbonato pode aumentar a potência do bloqueio de condução pelo AL. Também aumenta a velocidade do início de ação do bloqueio nervoso, ao disponibilizar maior percentual de AL sob a forma não-ionizada (neutra-lipossolúvel). Epinefrina/adrenalina As vantagens do uso da epinefrina como aditivo apontam para o aumentodo tempo de anestesia, melhora da intensidade do bloqueio pelo AL e menor risco de toxicidade por absorção sistêmica do AL diminuída. Opióides A atuação dos opióides ocorre no neuroeixo, por via central e periférica. Na via supra- espinhal, o uso de opióides causa analgesia, por interação com receptores em vários locais, ativação de feixes espinhais descendentes e feixes analgésicos não- opióides. Glicose A glicose é adicionada à bupivacaína para aumentar a baricidade da solução, tornando-a hiperbárica em relação ao líquor, o que permite maior controle da dispersão intratecal do anestésico. Agonistas α2-adrenérgicos A clonidina tem analgesia mediada por receptores em neuroeixo central e periférico e efeito sinérgico com os AL. Há efeitos diretos de caráter inibitório sobre a condução de fibras nervosas periféricas A e C. A vantagem do seu uso decorre da intensificação tanto do bloqueio sensitivo quanto do motor. O AL pode afetar os fetos em pacientes prenhes? O AL pode afetar os fetos em pacientes prenhes? Os ésteres possuem mínimos efeitos sobre feto, pois são metabolizados de modo tão acelerado que não existem concentrações suficientes na circulação sistêmica para ultrapassar a barreira placentária. O AL pode afetar os fetos em pacientes prenhes? As amidas apresentam maior tendência à passagem transplacentária. Nesse grupo, as amidas com menor grau de ligação protéica, como a lidocaína, atravessam em maior quantidade a barreira placentária. EFEITOS ADVERSOS DOS AL Toxicidade sistêmica -injeção intravascular acidental de AL -A proporção da absorção sistêmica depende: a) da dose administrada dentro dos tecidos; b) da vascularização do sítio de injeção; c) da presença da epinefrina na solução e d) de propriedades físico-químicas da droga. A toxicidade sistêmica envolve, principalmente, o Sistema Nervoso Central (SNC) e o sistema cardiovascular (SCV). EFEITOS ADVERSOS DOS AL Toxicidade sistêmica (SNC) -parestesia da língua -os AL rapidamente atravessam a barreira hemato-encefálica e produzem alterações no SNC -Agitação, vertigem, zumbido e dificuldade de focar objetos ocorrem seguidamente. -contração dos músculos esqueléticos (espasmos) -convulsões tônico-clônicas -hipotensão e apnéia EFEITOS ADVERSOS DOS AL Toxicidade sistêmica (SCV) Em baixa concentração, os AL possuem efeitos sobre os canais de sódio, provavelmente contribuindo para a propriedade antiarrítmica desses fármacos. Quando a concentração plasmática dos AL torna- se excessiva, uma quantidade suficiente de canais de sódio são bloqueados, e tanto a condução quanto a automaticidade da fibra muscular cardíaca tornam-se deprimidas. EFEITOS ADVERSOS DOS AL Toxicidade sistêmica Efeitos diretos sobre os vasos periféricos. Os AL apresentam uma ação bifásica sobre o músculo liso vascular. Baixas doses de lidocaína e de bupivacaína produzem diminuição do fluxo sangüíneo arterial periférico (vasoconstrição), sem qualquer alteração na pressão arterial, enquanto altas doses aumentam o fluxo sangüíneo (vasodilatação). USO CLÍNICO Anestesia tópica (superfícies) -spray de lidocaína (intubação orotraqueal) -EMLA (bloqueio da transmissão neuronal dos receptores dérmicos). -Colírio anestésico USO CLÍNICO Anestesia infiltrativa injeção extravascular de AL, numa área a ser anestesiada Anestesia por tumescência Consiste na injeção subcutânea de grandes volumes de AL diluídos em combinação com epinefrina e Solução fisiológica. USO CLÍNICO Anestesia por tumescência As vantagens dessa técnica são: a) simplicidade de execução; b) baixa incidência de sangramento; c) analgesia pós-operatória prolongada d) possibilidade de anestesia de grandes áreas do corpo. e) descolamento melhor do tumor *Teoria do espalhamento das células tumorais USO CLÍNICO Anestesia Venosa Regional (BIER) Fundamenta-se na injeção intravascular de AL, numa determinada extremidade do corpo, isolada do resto da circulação sistêmica, por um torniquete. Tem rápido início de ação com concomitante relaxamento muscular. A duração da anestesia independe do AL utilizado, pois é determinada pelo tempo de torniquete, sendo que a sua liberação restabelece a sensibilidade e o tônus muscular da área envolvida. USO CLÍNICO Anestesia Venosa Regional (BIER) -Muito utilizada em procedimentos de membros em Grandes animais -Amputações em pequenos animais USO CLÍNICO Anestesia Venosa Regional (BIER) técnica: -cateterização de uma veia -bandagem de Esmarch/torniquete -retirada de sangue -injeção do anestésico na veia -Jamais associar com adrenalina Promove boa analgesia e mínimo sangramento USO CLÍNICO Anestesia Espinhal Decorre da injeção de AL dentro do espaço subaracnóideo USO CLÍNICO Anestesia Epidural (entre L7 e S1) -Vantagens: -paciente acordado -analgesia prolongada -sem reação sistêmica -Por que associar AL? Bloqueio dos Nervos Periféricos Ocorre pela injeção de AL dentro dos tecidos adjacentes aos nervos periféricos individuais ou aos plexos nervosos. Quando os AL são depositados nas proximidades dos nervos periféricos, eles se difundem da superfície exterior para o centro da fibra nervosa. Conseqüentemente, as fibras localizadas na parte externa do nervo são anestesiadas primeiro. Bloqueio dos Nervos Periféricos L invertido Paravertebral Anestésicos locais mais utilizados Lidocaína -mais comumente utilizado -é um fármaco com ligação amida de hidrofobicidade moderada - Sua ação possui início rápido e duração média -A lidocaína possui um valor relativamente baixo de pKa, e uma grande fração do fármaco encontra-se presente na forma neutra em pH fisiológico. Isso resulta em rápida difusão da lidocaína através das membranas e em rápido bloqueio. Anestésicos locais mais utilizados Lidocaína -A lidocaína é utilizada na anestesia infiltrativa, no bloqueio de nervos periféricos e na anestesia epidural, espinal e tópica. É também administrada como antiarrítmico -A lidocaína sofre metabolismo no fígado Anestésicos locais mais utilizados Bupivacaína -A bupivacaína é um AL com ligação amida de longa duração de ação. É altamente hidrofóbica - é metabolizada no fígado -Mais cardiotóxica -Latência alta e duração longa
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