Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Emanuelly Lopes Cardoso Anestésicos Locais Conceito Substâncias que bloqueiam a condução nervosa quando aplicadas localmente no tecido nervoso em concentrações apropriadas; Agem em qualquer parte do sistema nervoso e em todo tipo de fibra; Em contato com um nervo são capazes de produzir tanto bloqueio sensitivo quanto motor + possui um efeito temporário e completamente reversível; Histórico Uso clínico começou em 1884: Köller empregou a cocaína para obter anestesia tópica do olho; 1885: Hasltead demonstrou a capacidade da cocaína de produzir bloqueio periférico; 1898: Bier utilizou a cocaína por via subaracnóidea; Cocaína = único agente anestésico local capas de estimular o córtex cerebral e levar a dependência + possui propriedades bloqueadoras da recaptação da noradrenalina pelas terminações pós-ganglionares simpáticas -> vasoconstrição da área exposta à sua ação + excelente anestésico tópico + pouco utilizado para promover anestesia e vasoconstrição da mucosa nasal antes da intubação Nasotraqueal; 1º anestésico local sintético = procaína (Einhorn em 1905); 1943: Leofgren sintetizou a lidocaína = anestésico local de escolha nos consultórios odontológicos, nas salas de emergência e nos centros cirúrgicos + apresenta um bloqueio de condução mais rápido, intenso e duradouro do que a procaína e poder ser utilizado topicamente + tornou-se o agente padrão (todos os outros anestésicos são comparados com ela). Estrutura Química Agentes anestésicos locais possuem uma estrutura molecular básica = 1 anel aromático (radical lipofílico) unido a uma amina (radical hidrofílico) por uma cadeia intermediária; Porção lipofílica = resíduo aromático que pode ser o ácido p- aminobenzóico (procaína) ou quinoleína (dibucaína) ou anilina (lidocaína ou mepivacaína); Cadeia intermediária = resíduo alcoólico com 2 átomos de carbono; Porção hidrofílica = amina secundária ou terciária; A ligação entre a cadeia intermediária e o grupo aromático pode ser do tipo éster (-CO-) ou do tipo amida (-NHC-) -> a natureza desta ligação é a base para a classificação dos agentes anestésicos locais. As principais diferenças entre o grupo éster e o grupo amida relacionam-se ao local + ao tipo de metabolização + ao potencial para produzir reações alérgicas. Propriedades Físico-Químicas As propriedades dos anestésicos locais incluem: potência + início e duração da atividade anestésica; Estas propriedades anestésicas são determinadas essencialmente pelas propriedades físico-químicas destes agentes. Peso Molecular O peso molecular dos diferentes agentes anestésicos locais varia de 220 a 228 D; Este fato é responsável pelas pequenas diferenças em seu coeficiente de difusão aquosa -> este valor é inversamente relacionado à raiz quadrada do peso molecular; O peso molecular desempenha um papel relevante na movimentação dos anestésicos locais através dos canais de sódio da membrana nervosa + é um fator preponderante no grau de permeabilidade através da dura-máter. Lipossolubilidade Principal determinante da potência anestésica intrínseca; Axolema = 90% de lipídios + 10% de proteínas; Compostos químicos altamente lipofílicos tendem a penetrar na membrana nervosa mais facilmente + requerem menor número de moléculas para obtenção do bloqueio da condução nervosa -> entre os amino-amidas, a mepivacaína e a prilocaína = menos lipossolúveis + agentes menos potentes, enquanto a etidocaína = mais lipofílica + mais potente anestésico local; Existe uma relação similar entre lipossolubilidade e potência anestésica entre os agentes do tipo éster: o Procaína = menos lipossolúvel + agente mais fraco, enquanto a ametocaína (tetracaína) = possui maior lipossolubilidade + maior potência. A correlação entre lipossolubilidade e potência anestésica não é tão precisa como em preparações de nervos isolados ->a lidocaína in vitro é aproximadamente duas vezes mais potente do que a prilocaína e a mepivacaína -> no homem esta superioridade não existe; Grau De Ionização (PKA) O início do bloqueio de condução em nervos isolados é determinado pelo pka de cada anestésico individualmente; PKA de um composto químico = valor de pH no qual as formas ionizadas e não-ionizadas estão presentes em quantidades iguais. A forma eletricamente não carregada de um agente é responsável pela difusão através das bainhas nervosas e membrana neuronal; O início de ação está diretamente ligado à proporção do composto que existe nesta forma; A porcentagem de um agente anestésico local presente na forma básica quando injetado num tecido de pH 7,4 é inversamente proporcional ao pka deste agente: o Mepivacaína + lidocaína + prilocaína + etidocaína = PKA de aproximadamente 7,7 -> quando são injetados num tecido de pH 7,4, 65% destas d rogas estarão na forma ionizada e 35% na forma não ionizada; o Tetracaína = PKA de 8,6 -> somente 5% estarão presentes na forma não ionizada em pH tecidual 7,4, estando 95% na forma ionizada; o Bupivacaína = PKA de 8,1 -> 15% na forma não ionizada no pH fisiológico e 85% na forma ionizada; o A lidocaína + mepivacaína + prilocaína + etidocaína = apresentam início de ação rápido; o A procaína + tetracaína = têm um tempo de latência mais longo; o A bupivacaína ocupa uma posição intermediária em termos de PKA e latência do bloqueio nervoso. 2 Emanuelly Lopes Cardoso Afinidade Proteica Duração da anestesia = relacionada ao grau de afinidade proteica dos anestésicos locais; Os anestésicos se combinam com um receptor proteico localizado no canal de sódio da membrana nervosa; Compostos com maior afinidade e que se ligam mais firmemente aos sítios receptores permanecem no canal por um período de tempo maior + apresentam um bloqueio de condução mais longo; Estudos in vitro demonstram que agentes como a procaína, que se ligam em pequena quantidade às proteínas, são rapidamente removidos através de lavagens sucessivas das preparações isoladas de nervos, enquanto drogas como a tetracaína, bupivacaína e etidocaína são removidas numa velocidade extremamente baixa. Estudos in vivo confirmam a relação entre afinidade protéica dos anestésicos locais e sua duração de ação; o A procaína produz um bloqueio de plexo braquial com duração de 29-60 min + bupivacaína ou etidocaína = duração de até 10 horas de anestesia; Propriedades Não-Físico-Químicas As diferenças entre os resultados in vitro e in vivo parecem estar relacionadas às propriedades vasodilatadoras ou à difusibilidade tecidual dos diversos anestésicos locais; Lipossolubilidade extremamente elevada da etidocaína = resulta na maior captação deste agente pelo tecido adiposo -> determina menor número de moléculas disponíveis para o bloqueio nervoso (em comparação com a bupivacaína); Lidocaína = provoca maior vasodilatação do que a mepivacaína ou prilocaína -> resulta em maior absorção vascular; O tempo de latência do bloqueio de condução depende de alguns fatores: maior capacidade de difusão através de tecidos não- nervosos + concentração de anestésico empregada; O início de ação rápido da cloroprocaína no homem pode ser explicado em parte por sua maior difusibilidade através de tecidos não-nervosos ou pelo emprego de concentrações da ordem de 3%, (baixa toxicidade sistêmica). Relação Estrutura-Atividade Modificações na estrutura química de um anestésico local alteram seus efeitos farmacológicos. o Alongado a cadeia intermediária ou aumentando o número de carbonos da amina terciária ou do anel aromático = obtém-se uma droga com lipossolubilidade diferente + potência + taxa de metabolismo + duração de ação diferentes; A adição de um radical butil ao grupo amino do anel benzênico da procaína resulta na tetracaína (mais lipossolúvel + 10 vezes mais potente + apresenta uma duração de ação mais longa + relacionada a uma reduçãode quatro vezes na taxa de metabolização); A halogenização da procaína leva à cloroprocaína (hidrolizada 3-4x mais rapidamente pela colinesterase plasmática) -> esta hidrólise rápida limita sua duração de ação e toxicidade sistêmica; A adição do grupo butil à extremidade amina da mepivacaína resulta na bupivacaína (é cerca de 35x mais lipossolúvel + tem uma potência e duração cerca de 3-4x maiores); A etidocaína assemelha-se à lidocaína, porém um grupo propil ao invés de um etil na porção amina, e a adição de um grupo etil no carbono alfa da cadeia intermediária, lhe conferem um aumento de 50 vezes na lipossolubilidade e de 2-3x na duração de ação. Mecanismo De Ação Anestésicos locais agem inibindo a condução dos nervos periféricos por um decréscimo na permeabilidade ao sódio que impede a despolarização da membrana; Os anestésicos locais convencionais podem bloquear ambas as correntes de sódio e potássio; Cocaína = inibe o fluxo transmembrana de sódio e potássio -> os anestésicos locais exercem seu maior efeito sobre a condutância do sódio; Efeito eletrofisiológico predominante destes compostos ocorre durante a fase de despolarização do potencial de ação -> ocorre um decréscimo na velocidade e no grau de despolarização -> o limiar de excitabilidade para a transmissão não é atingido -> o impulso nervoso deixa de ser propagado ao longo do nervo; O efeito sobre o fluxo de sódio é mediado via interação cálcio- anestésico local; Aumentando ou diminuindo a concentração do íon cálcio ao redor do nervo pode-se antagonizar ou potencializar o bloqueio, respectivamente -> sugere uma competição entre o anestésico local e o cálcio ligado à membrana; Os anestésicos locais são capazes de inibir a ligação do íon cálcio à fosfatidil-l serina + o grau de inibição correlaciona-se à sua potência anestésica; Três sítios distintos têm sido propostos como local onde os agentes anestésicos exercem seu efeito sobre a condutância ao sódio ao longo da membrana nervosa: o Superfície da membrana = envolve alteração das cargas negativas fixas + potencial transmembrana -> sem alterar o potencial de repouso intracelular; o Matriz da membrana = envolve sua expansão lateral -> causando modificações espaciais no canal do sódio; o Receptores específicos no canal de sódio. Este modelo de receptor localizado no canal de sódio, na face interna da membrana, adapta-se a todos os tipos de anestésicos utilizados clinicamente e prevê diferentes vias de acesso para as formas ionizadas e não-ionizadas através de três conformações espaciais diferentes para o canal de sódio: 1) Um estado de repouso-fechado (R) 2) Um estado ativado-aberto (A) 3) Um estado inativado-fechado (I) 3 Emanuelly Lopes Cardoso Durante cada potencial de ação, os canais de sódio ciclam de um estado para outro; Estado de repouso = ambos os portões m e h estão fechados -> esta forma predomina antes da estimulação nervosa; Estado ativado = ambos os portões se abrem -> permite as passagens dos íons sódio durante a despolarização da membrana. Estado inativado = o portão m permanece aberto, mas o portão h se fecha imediatamente após a estimulação, coincidindo com a fase inicial de repolarização e período refratário; Os anestésicos locais ligam-se ao receptor em qualquer uma das três conformações e impedem a condução elétrica durante o estado A (ativado-aberto); O fechamento do portão h favorece a interação droga-receptor e promove a inativação do canal. O movimento das frações não-ionizadas, lipofílicas, é possível durante os três estados, via difusão através da matriz da membrana, enquanto para as frações ionizadas, hidrofílicas, só é possível através do portão h aberto durante o estado A (aberto-ativado); A concentração mínima de anestésico local necessária para o bloqueio da condução dos impulsos nervosos é denominada Cm. o É análoga à concentração alveolar mínima (CAM) dos anestésicos inalatórios + varia conforme o diâmetro das fibras, pH e frequência da estimulação nervosa; o Cm para fibras motoras = 2x maior do que a das fibras sensitivas -> explica por que a anestesia sensitiva nem sempre se acompanha de paralisia da musculatura esquelética; Nervos periféricos = formados por fibras mielinizadas A e B e não- mielinizadas C. Existe uma superfície mínima da fibra mielinizada que precisa ser exposta a uma concentração adequada de anestésico local para que o bloqueio de condução ocorra -> pelo menos 2 (de preferência 3) nódulos de Ranvier sucessivos (aproximadamente 1cm), devem entrar em contato com o anestésico local. A localização anatômica das fibras nervosas e sua facilidade de acesso por difusão podem influenciar sua suscetibilidade à ação do anestésico local. A observação clínica da maioria dos bloqueios nervosos revela uma sequência: 1) Elevação da temperatura da pele (fibras B) 2) Perda da sensação de dor-temperatura (fibras Aδ e C) 3) Perda da propriocepção (fibras Aγ) 4) Perda do tato e pressão (fibras Aβ) 5) Perda da função motora (fibras Aα) ** Clinicamente esta ordem pode ser modificada pela dosagem utilizada -> Bupivacaína a 0,25% = início de ação relativamente lento -> a latência diminui significativamente se a concentração aumentar para 0,75%; Quando um anestésico local é injetado junto a um tronco nervoso de grosso calibre + a uma concentração acima da Cm motora = o arranjo topográfico das fibras determinará a sequência do bloqueio; Em baixas concentrações, a bupivacaína bloqueia inicialmente as fibras C não mielinizadas e, posteriormente, as fibras A mielinizadas -> o bloqueio lento de fibras A pela bupivacaína é devido ao seu pka elevado e consequente redução do número de moléculas não carregadas eletricamente disponíveis para penetrar nas barreiras que circundam as grandes fibras A. In vivo = uma combinação de difusão lenta e absorção pela vasculatura circundante, pode resultar numa situação clínica em que o número de moléculas que penetram as fibras motoras A seja insuficiente para causar bloqueio de condução. A ausência de barreiras de difusão nas fibras C permite que bupivacaína suficiente alcance os sítios receptores na membrana da fibra C causando anestesia sensorial. A etidocaína mostra pouca ou nenhuma separação entre bloqueio motor e sensorial -> é um excelente agente por via peridural em situações que necessitem de relaxamento muscular -> combina rápido início de ação + duração prolongada + anestesia satisfatória + bloqueio motor profundo; Atividade Anestésica Fatores que influenciam a atividade anestésica: 1) Técnica regional utilizada 2) Estado físico ou clínico do paciente 3) Fatores associados à cirurgia 4) Tipo de solução anestésica Conforme a técnica empregada verifica-se que a latência pode ser imediata na anestesia infiltrativa ou muito longa no bloqueio nervoso periférico; Duração = é menor para a maioria dos agentes anestésicos locais quando empregados por via subaracnóidea; o Bupivacaína: apresenta uma variação de 5x na duração da anestesia conforme o bloqueio executado = 128min em média para a raquianestesia e até 613min no bloqueio de plexo braquial; Características físicas e clínicas dos pacientes = a quantidade de anestésico necessária por segmento, na anestesia peridural é inversamente proporcional à idade + estágio da gravidez + grau de aterosclerose; Mas é diretamente proporcional à estatura ou comprimento da coluna vertebral; Duração de ação = é afetada pelas condições clínicas do paciente -> redução em torno de 40% no tempo de ação de vários anestésicos quando empregados em bloqueio do plexo braquial em pacientes com insuficiência renal crônica + na esclerodermia verifica-se acentuado aumento na duração da anestesia infiltrativa + insuficiência hepática grave pode prolongar o efeito (principalmente de anestésicos tipo amida); Fatores relacionados à cirurgia (hemorragia acompanhada de hipotensão e vasoconstrição generalizada) diminuem a absorção vascular do anestésico local; Agentes vasoconstritores (adrenalina) são adicionados aos anestésicos locais com o objetivo de retardar a absorção da droga + aumentar a duração da atividade anestésica de agentes de curta ou média duração; Modificações no pH da solução anestésica = usadas para melhorar a qualidade da anestesia regional; o Adição de bicarbonato à bupivacaína imediatamente antes da injeção em bloqueios de plexo braquial; o Utilização de soluções carbonatadas (CO2) de anestésicos locais para diminuir o tempo de latência + intensificar o grau de anestesia; O grau de bloqueio produzido por uma determinada concentração de anestésico local depende do estado de estimulação nervosa -> um nervo em repouso é menos sensível do que outro que tenha sido estimulado recente e repetidamente -> quanto maior a frequência da estimulação precedente, maior será o grau de bloqueio; Atualmente existem dois tipos de bloqueio = tônico (que ocorre durante estimulações de baixa freqüência, isto é, menores que 0,5Hz) + fásico ou frequência dependente (que ocorre com estimulações de frequência mais alta); Farmacocinética Os anestésicos locais são aplicados diretamente onde exercem sua ação -> não necessitam ser transportados pela circulação sistêmica para atingir seu órgão alvo; Somente o término de seu efeito está relacionado a fenômenos de absorção, redistribuição, metabolismo e excreção. Absorção A absorção dos anestésicos locais pela circulação sistêmica depende dos seguintes fatores: 1) Local de injeção 2) Dose total administrada 3) Associação ou não de vasoconstritor 4) Propriedades farmacológicas da droga Injeções múltiplas + vascularização intensa + presença ou não de tecido adiposo na região do bloqueio = podem explicar as diferentes concentrações sanguíneas de uma mesma droga, segundo a técnica regional empregada; Aplicação tópica dos anestésicos locais pode levar a diferenças na absorção e na toxicidade (mais rápida via intratraqueal -> são observadas variações conforme o tipo de anestésico empregado); o Toxicidade da tetracaína após instilação traqueal é muito próxima à intravenosa; o Lidocaína = não tem absorção rápida -> dificulta a absorção sistêmica; 4 Emanuelly Lopes Cardoso Absorção + consequente nível sanguíneo de anestésico local = estão diretamente relacionados à dose total empregada; A associação com vasoconstritor pode reduzir a velocidade da absorção + aumentar a duração de ação; o Podem-se utilizar preparações comerciais que contenham adrenalina na concentração de 5µg/ml ou então adicioná-la imediatamente antes do bloqueio regional; o Mesmo se mantivermos todos os fatores (local de administração + dosagem + vasoconstritor) -> a velocidade de absorção será determinada pelas propriedades farmacológicas de cada droga; o A lidocaína e a mepivacaína apresentam níveis sanguíneos muito próximos -> porém a prilocaína apresenta níveis significativamente menores devido à sua atividade vasodilatadora menos potente. Distribuição É proporcional ao coeficiente de partição tecido/sangue + à massa + à perfusão tecidual; Anestésicos locais tipo amida se distribuem mais amplamente pelos tecidos do que os do tipo éster; Amidas de longa duração ligam-se às proteínas plasmáticas numa proporção maior do que as de curta duração; Existem dois sítios de ligação importantes: as alfa-1-glicoproteínas e a albumina; A afinidade às proteínas plasmáticas pode limitar a quantidade de anestésico local livre -> diminui sua toxicidade; A cinética de distribuição dos anestésicos locais evidencia duas fases de desaparecimento da circulação: o Fase α: mais inicial e veloz + representa a saída dos anestésicos em direção aos tecidos ricamente perfundidos; o Fase (β): reflete o estabelecimento de equilíbrio com os tecidos pobremente vascularizados e com as vias de eliminação (metabólicas e excretoras); o As expressões T1/2α e T1/2β representam o tempo necessário para reduzir em 50% a concentração sanguínea; Volume de distribuição (VD) = fornece informações sobre a capacidade diferencial + acúmulo dos anestésicos nos tecidos; o Drogas com alta solubilidade lipídica apresentam um VD elevado, indicando que são mais solúveis no cérebro, fígado e gorduras, do que em água; o ICC = pode estar associada a um decréscimo no volume de distribuição dos anestésicos locais + a uma menor velocidade de eliminação hepática e renal -> nestas condições = altas concentrações sanguíneas podem ser atingidas aumentando o risco de toxicidade; O primeiro órgão a receber os anestésicos locais (presentes na circulação) = pulmão -> funciona como grande capacitor armazenando temporariamente grandes quantidades dessas substâncias (coeficiente de partição pulmão/sangue elevado); o Exercem função protetora (a concentração que atinge o SNC + coração é mais baixa quando comparada à da artéria pulmonar); o Bupivacaína = o grau de extração é dependente do total de droga que alcança os pulmões + decresce à medida que a concentração plasmática se eleva; o Propranolol = compete com os anestésicos locais pelos sítios de ligação pulmonar; Tipo especial de distribuição tecidual envolve a transferência placentária dos anestésicos locais -> eles atravessam a placenta na forma não ionizada por difusão passiva -> o grau de difusão varia entre os agentes + obedece um padrão que é inversamente relacionado ao grau de ligação às proteínas plasmáticas; o Situação de hipoproteinemia materna (pré-eclâmpsia) -> uma maior quantidade de anestésico pode passar da circulação materna para a fetal; o Bupivacaína = quanto maior a concentração ligada a proteína materna, menor a quantidade transferida para o feto; o Capacidade de ligação dos anestésicos locais às proteínas plasmáticas fetais = 60% da materna -> permite uma fração livre proporcionalmente maior. Biotransformação Clearance = medido em unidades de fluxo (L/ml)-> expressa a eficiência com que um determinado soluto é eliminado; A eliminação dos anestésicos locais se deve principalmente à biotransformação hepática -> o clearance destes agentes é sinônimo do clearance hepático; Dependendo da estrutura química do anestésico local + da espécie animal + da via de administração + do pH urinário + outros fatores = uma determinada proporção da droga é eliminada in natura pela urina; Fração remanescente = metabolizada através de reações enzimáticas -> snedo excretada sob a forma de vários metabólitos pelas fezes e urina; Como a ligação amida é muito estável no sangue, a metabolização destes agentes só ocorre no fígado -> através de alguns produtos de sua biotransformação pelo menos três mecanismos estejam envolvidos: 1) Hidroxilação aromática; 2) N-dealquilação; 3) Hidrólise da amida. Efeitos farmacológicos dos metabólitos anestésicos locais são pouco conhecidos: o O derivado mono-N-desetil da lidocaína -> importante quando este agente é utilizado em infusão contínua -> a concentração plasmática desta substância equivale a 70% da lidocaína com um potencial tóxico equivalente a 70-100% da mesma; o Halotano + cimetidina + propranolol = diminuem o clearance dos anestésicos locais -> por meio da inibição direta da atividade de oxidases + à redução do fluxo sanguíneo hepático; Ésteres = metabolizados no plasma e no fígado; o Meia vida plasmática reflete a ação da pseudocolinesterase - > adultos varia de 10-20s (cloroprocaína) + 40s (procaína) + vários minutos (tetracaína); Cloroprocaína administrada via peridural = 3,1 minutos; Diferenças na farmacocinética dos anestésicos locais ocorrem a partir do nascimento e durante os primeiros anos de vida -> na infância pode-se esperar a interação de três fatores: absorção mais rápida + maiorvolume de distribuição + níveis plasmáticos mais baixos de albumina e α-1-ácido-glicoproteína. Ações Farmacológicas Além de bloquear a condução de impulsos ao longo dos axônios do sistema nervoso periférico, os anestésicos locais podem agir em qualquer estrutura do organismo onde mecanismos de excitação e condução de impulsos estejam envolvidos. Sistema Nervoso Central Os anestésicos locais atingem o cérebro através da corrente sanguínea; Concentração plasmática de anestésicos locais conforme local de injeção 5 Emanuelly Lopes Cardoso Efeitos -> quando em concentrações plasmáticas pequenas exibem uma propriedade anticonvulsivante, enquanto níveis elevados desencadeiam convulsões; Lidocaína = agente que apresenta a melhor margem de segurança (existe uma diferença de pelo menos 3x entre a dose anticonvulsiva e a convulsiva); Lidocaína + procaína quando injetadas por via endovenosa (EV) são capazes de produzir intensa analgesia -> demonstrada pela redução da CAM de anestésicos inalatórios, quando empregados como coadjuvantes numa anestesia geral; Supressão do reflexo da tosse (de origem central) obtida com pequenas doses de lidocaína EV (2mg/kg)30. Sistema Cardiovascular Efeito eletrofisiológico cardíaco primário de um anestésico local = redução na velocidade máxima de despolarização, principalmente nas fibras de Purkinje e musculatura ventricular; A duração do potencial de ação e do período refratário diminui + a relação período refratário/duração do potencial de ação está aumentada; Existem diferenças qualitativas entre os efeitos dos diversos agentes anestésicos locais: o Bupivacaína = deprime mais acentuadamente a fase rápida da despolarização (Vmáx.) ->num coração intacto, este evento se traduz por um aumento no intervalo PR e um alargamento do complexo QRS = esta diminuição da condução pode resultar num bloqueio unidirecional -> propicia o aparecimento de fenômenos de reentrada que resultam em batimentos ventriculares ectópicos e taquicardia ventricular; Sistema Respiratório Lidocaína (quando empregada em doses) deprime a resposta ventilatória à hipóxia; Pacientes com doença pulmonar crônica, com retenção de CO2, cuja ventilação dependa basicamente da hipóxia, podem apresentar risco de falência respiratória quando da administração de lidocaína EV para tratamento de arritmias ventriculares. Toxicidade Os anestésicos locais são relativamente desprovidos de efeitos colaterais, se administrados em região anatômica apropriada e em dosagens adequadas; Reações tóxicas sistêmicas podem ocorrer em decorrência da injeção intravascular ou intratecal acidental ou da administração de doses excessivas; Manifestações de toxicidade sistêmica relacionam-se diretamente à concentração sanguínea dos anestésicos locais; A passagem dos anestésicos locais através da barreira hematoencefálica provoca alterações no sistema nervoso central proporcional à concentração plasmática destes -> sintomas iniciais incluem inquietação + vertigem + dificuldade para focalizar imagens; À medida que a concentração plasmática aumenta pode aparecer = dificuldade de fala + abalos musculares principalmente na face e em extremidades -> precedem as convulsões tonicoclônicas; As convulsões são seguidas de depressão generalizada do sistema nervoso central acompanhada de hipotensão e apneia; O início das convulsões reflete uma depressão seletiva dos neurônios corticais inibidores, liberando as vias excitatórias; Os anestésicos locais são capazes de inibir a captação de K+ por estas mesmas células (provável mecanismo das convulsões); As convulsões podem induzir modificações na farmacocinética dos anestésicos locais -> redução no clearance + aumento no T1/2β desses agentes após o início das convulsões -> a diminuição na eliminação dos anestésicos locais favorece uma captação maior por órgãos críticos como cérebro ou coração. Cardiotoxicidade Concentrações extremamente elevadas de anestésicos locais deprimem a atividade de marca-passo do nó sinoatrial, resultando em bradicardia sinusal e até parada cardíaca; Os anestésicos locais exercem um profundo efeito depressor sobre a atividade mecânica do miocárdio -> esta atividade inotrópica negativa é dose-dependente e proporcional à potência anestésica; Colapso cardiovascular súbito (fibrilação ventricular, taquicardia ventricular, assistolia ou bloqueio AV completo) pode ocorrer quase que imediatamente após a injeção rápida de um anestésico local potente (bupivacaína ou etidocaína) -> ressuscitação é difícil e demorada + a massagem cardíaca pode levar até 45min para promover a redistribuição adequada deste agente. Reações Alérgicas Agentes amino-ésteres (procaína) = induzem reações do tipo alérgico por serem derivados do ácido p-aminobenzóico; Agentes do tipo éster -> são observadas reações positivas; Embora os amino-amidas não produzam reações alérgicas, as preparações comerciais destes agentes podem conter metilparabem, preservativo de estrutura química semelhante ao ácido p-aminobenzóico, capaz de provocar hipersensibilidade. Novos Agentes Ropivacaína Agente anestésico local novo do grupo amino-amida; Embora estruturalmente similar à bupivacaína e mepivacaína, apresenta-se como o isômero s da 1-propil- 2’,6’- pipecoloxilidina; Apresenta um pka semelhante ao da bupivacaína e uma lipossolubilidade menor; Após infusão intravenosa apresenta uma meia vida de eliminação mais curta do que a bupivacaína (t1/2β ropi = 26min., t1/2β bupi = 39min); Durante a gestação é menos cardiotóxica do que a bupivacaína e mais que do a lidocaína Maior margem de segurança entre as doses convulsivas e letais comparativamente à bupivacaína Ração livre da ropivacaína permanece inalterada, ao contrário do que ocorre com a bupivacaína, devido à diminuição das ligações proteicas; Em doses equipotentes produz um grau de bloqueio motor menor do que a bupivacaína e uma propensão maior para bloquear as fibras ad e c -> propriedades vantajosas para pacientes obstétricas ou em tratamento de dor; Relação entre a potência anestésica dos dois agentes bupi: ropi é igual a 1,3:1 + a toxicidade eletrofisiológica cardíaca é 1,7:1 -> a ropivacaína apresenta uma margem de segurança maior se injetada inadvertidamente na circulação sanguínea; Fluxo sanguíneo uterino -> não se observaram efeitos adversos após infusão intravenosa de ropivacaína em quantidade correspondente a concentrações obtidas através de bloqueio peridural. 6 Emanuelly Lopes Cardoso Técnica Anestésica A anestesia regional pode ser classificada de acordo com o local da injeção do anestésico: (a) Anestesia tópica (b) Anestesia infiltrativa (c) Bloqueio de nervo periférico (d) Bloqueio peridural (e) Raquianestesia. Anestesia Tópica Os anestésicos locais são usados para produzir anestesia tópica através da aplicação nas membranas mucosas do nariz, boca, árvore traqueobrônquica, esôfago e trato geniturinário; No trato respiratório = inibem a atividade ciliar + dificultam a remoção das secreções da via aérea + atingem rapidamente a circulação; Lidocaína -> pode atingir níveis similares à administração venosa 15 minutos após o uso de spray antecedendo à intubação traqueal. Anestesia Infiltrativa Envolve a administração de anestésico local via extravascular ou intravascular + difusão em direção as terminações nervosas (local de bloqueio da excitação); A via extravascular é atingida injetando-se um anestésico local no nível da pele e tecido celular subcutâneo; A duração pode ser duplicada pela adição de adrenalina a 1:200.000 à solução anestésica empregada -> esta associação não deve ser utilizada em tecidos perfundidos por artérias terminais (dedos, orelhas, nariz) devido à isquemia provocada pela vasoconstrição resultante; A via intravascularconsiste na injeção de droga anestésica na luz dos vasos de um membro exsanguinado (sem sangue) + garroteado -> para que este agente não atinja a circulação sistêmica, mas se difunda através da parede vascular até as terminações nervosas do tecido adjacente ou troncos nervosos = anestesia rápida + acompanhada de relaxamento muscular; A duração do bloqueio independe do tipo de anestésico empregado + é determinada pelo tempo de garroteamento. Bloqueio De Nervo Periférico Pode ser subdividida em bloqueios maiores (dois ou mais nervos distintos são bloqueados) ou menores (um único nervo); Este bloqueio pode ser conseguido através da injeção de anestésico local nas proximidades de um nervo periférico ou de um plexo nervoso -> uma vez depositado, o anestésico tende a se difundir a partir da superfície mais externa do nervo em direção à porção mais central ou interna obedecendo um gradiente de concentração; Nervos periféricos mistos -> pode-se observar um relaxamento muscular antecedendo o bloqueio sensitivo, quando as fibras motoras estão distribuídas perifericamente em relação às sensitivas. Bloqueio Peridural A administração de anestésico local no espaço peridural lombar ou sacral produz um bloqueio peridural provavelmente por dois mecanismos: 1) O anestésico local se difunde através da dura-máter e atinge as raízes nervosas e a medula espinal; 2) O anestésico se difunde através dos forames intervertebrais produzindo múltiplos bloqueios paravertebrais. o Este último processo de difusão é lento -> pode levar de 15-29 minutos para evidenciar uma anestesia satisfatória. Esta via de administração exige grandes doses de anestésicos locais; Frequentemente empregam-se soluções com adrenalina (5µg/ml) -> sua absorção pode levar a manifestações sistêmicas caracterizadas por estimulação α-adrenérgica; Este tipo de bloqueio favorece o aparecimento de concentrações plasmáticas elevadas de anestésicos locais; Atenção especial deve ser dada à sua utilização em anestesia obstétrica devido à passagem transplacentária destes agentes. Raquianestesia Anestesia produzida pela injeção do anestésico local no espaço subaracnóideo; A colocação do anestésico diretamente no líquor propicia o contato entre tais agentes e a medula espinal determinando uma curta latência; A concentração de anestésico local diminui em função da distância -> explica a diferença entre os níveis de bloqueio: o simpático, dois dermátomos acima do sensitivo, e este, dois acima do motor -> as fibras mais sensíveis podem ser bloqueadas com menor quantidade de anestésico; A gravidade específica da solução de anestésico injetada é um dos fatores responsáveis pela dispersão do bloqueio; o Uso de soluções hiperbáricas (gravidade acima da líquórica) - > adiciona glicose hipertônica; o Uso de soluções hipobáricas (gravidade abaixo da líquórica) - > adiciona água destilada; o Uso de soluções isobáricas; o Dependendo do nível segmentar do bloqueio simpático pode haver hipotensão. Principal fenômeno não é uma vasodilatação arteriolar -> o decréscimo observado na resistência vascular sistêmica é da ordem de 15%; Alteração cardiovascular mais importante = perda do tônus venoso com aumento de sua capacitância e consequente diminuição do retorno venoso; o Bradicardia pode ocorrer se houver bloqueio das fitas pré- ganglionares simpáticas cardioaceleradas (T1-T4); Pode haver dificuldade respiratória por bloqueio dos músculos intercostais -> a falência respiratória só ocorre com níveis excessivamente altos -> se deve a uma paralisia isquêmica dos centros respiratórios medulares, após hipotensão e redução do fluxo sanguíneo cerebral. A concentração plasmática e do anestésico após bloqueio subaracnóideo é muito pequena para produzir alterações fisiológicas.
Compartilhar