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Pablo Jiménez Serrano O Direito do Consumidor no Mercado Imobiliário Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor aos Contratos Imobiliários EDITORA JURISMESTRE CONSELHO EDITORIAL Presidente: Pablo Jiménez Serrano. Doutor em Direito, UNISAL, Lorena-SP, Unifoa-RJ, UBM-RJ. Membros: Prof. Dr. Celso Antonio Pacheco Fiorillo (Academia de Direitos Humanos/Brasil). Chanceler da Academia de Direitos Humanos é o primeiro professor Livre Docente em Direito Ambiental do Brasil bem como Doutor e Mestre em Direito das Relações Sociais (pela PUC/SP). Miembro colaborador del Grupo de Investigación Reconocido IUDICIUM: Grupo de Estudios Procesales de la Universidad de Salamanca (ESPAÑA) y Director Académico del Congreso de Derecho Ambiental Contemporáneo España/Brasil- Universidad de Salamanca (ESPAÑA). Professor convidado visitante da Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar (PORTUGAL) e Professor Visitante/Pesquisador da Facoltà di Giurisprudenza della Seconda Università Degli Studi di Napoli (ITALIA). Grasiele Augusta Ferreira Nascimento. Doutora em Direito, UNISAL, Lorena-SP. Rolando Antonio Rios Ferrer. Doutor em Direito. Universidade Lusófona de Cabo Verde. Mario González Arencibia. Doutor em Ciências Econômicas. Universidad de Habana, Cuba. Lino Rampazzo. Doutor em Teologia pela Pontificia Università Lateranense (Roma). Cláudia Ribeiro Pereira Nunes. PhD, PPGD/UVA, UBM-RJ Ana Maria Viola. Doutora em Direito. UNISAL, Lorena-SP. Daniele Mattoso Hammes. Doutora em Sociologia Política, UBM-RJ. CONSELHO CIENTÍFICO-TÉCNICO Revisão Editorial: Pablo Jiménez Serrano. Diretor. Revisão Textual: Maricineia Pereira Meireles da Silva, UBM e UniFOA. Tradução: José Alfredo Jiménez Serrano. Professor de Língua Inglesa e Literatura Espanhola. Projeto gráfico da capa: Luciano Fonseca. Tecnologia de Sistema de Computação, UFF. FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316 Editoração e Acabamento: Editora Jurismestre – Rua H, n. 173 Fone: (24) 99905-8200 – 27251-223 – Volta Redonda, RJ. www.loja.jurismestre.com.br contato@jurismestre.com.br http://www.loja.jurismestre.com.br Pablo Jiménez Serrano Graduação em Direito pela Universidade do Oriente, Cuba (1983), Mestrado em Epistemologia da Política e do Direito pela Universidade São Judas Tadeu (2005) e Doutorado em Direito pela Universidade do Oriente, Cuba (1996), diploma revalidado (RECONHECIDO), de acordo com os documentos constantes do Processo n. 2000.1.4694.1.7 pela Universidade de São Paulo - USP/SP (02 de agosto de 2004). Cursou o Programa de Doutorado: Metodologia Fontes e Instituições Jurídicas da Universidade de Alicante, Espanha. Professor e pesquisador do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Unisal, Lorena. Professor e pesquisador do Centro Universitário de Volta Redonda, UniFOA. Professor e pesquisador do Centro Universitário de Barra Mansa, UBM. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Civil e Direito do Consumidor, atuando principalmente nos seguintes temas: Metodologia do Ensino e da Pesquisa Jurídica, Hermenêutica e Interpretação Jurídica, Filosofia do Direito, Ética Pública e Empresarial, Teoria do Direito etc. É autor de vários livros e artigos científicos. SUMÁRIO______________________________________________________________ INTRODUÇÃO, 8 CAPÍTULO 1 DIREITO DO CONSUMIDOR E DIREITO IMOBILIÁRIO, 11 1.1 Definições, 11 1.1.1 Direito do Consumidor, 12 1.1.2 Direito Imobiliário, 14 1.2 O Direito do Consumidor no âmbito imobiliário, 18 CAPÍTULO 2 PRESSUPOSTOS NORMATIVOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR E DO DIREITO IMOBILIÁRIO, 26 2.1 Pressuposto constitucional, 26 2.2 Pressuposto infraconstitucional, 29 2.2.1 Fundamentos normativo do Direito do Consumidor, 30 2.2.2 Fundamentos normativo do Direito Imobiliário, 32 2.2.3 Diálogo das fontes, 32 2.2.3.1 Código de Defesa do Consumidor e Código Civil Brasileiros, 33 2.2.3.2 Código de Defesa do Consumidor Brasileiro e a legislação imobiliária, 36 2.2.4 Direitos básicos do consumidor no âmbito do mercado imobiliário, 56 2.2.5 Consequências derivadas da violação dos direitos básicos do consumidor, 64 CAPÍTULO 3 O MERCADO IMOBILIÁRIO, 67 3.1 A relação de consumo no mercado imobiliário, 67 3.1.1 A relação imobiliária como relação de consumo, 68 3.1.1.1 Compreensão estrutural da relação de consumo, 72 3.1.1.2 Natureza difusa da relação de consumo, 76 CAPÍTULO 4 O CONSUMIDOR IMOBILIÁRIO, 78 4.1 O conceito de consumidor, 78 4.1.1 Definição legal do consumidor, 79 4.1.2 Significação doutrinária do consumidor, 81 4.1.2.1 Teorias finalista, maximalista e mista, 82 4.2 O consumidor imobiliário, 84 CAPÍTULO 5 O FORNECEDOR IMOBILIÁRIO, 85 5.1 O conceito de fornecedor, 85 5.1.1 Definição legal do fornecedor, 85 5.1.2 Significação doutrinária do fornecedor, 87 5.2 O fornecedor imobiliario, 88 CAPÍTULO 6 O CONTRATO IMOBILIÁRIO, 90 6.1 O conceito de contrato, 90 6.1.1 O contrato de consumo, 95 6.2 Características do contrato imobiliário, 100 6.3 Terminologia vinculada ao contrato imobiliário, 101 6.3.1 Matrícula, 101 6.3.2 Compra e venda, 101 6.3.3 Opção de compra e venda, 104 6.3.4 Promessa de compra e venda, 104 6.3.5 Contrato particular de compra e venda, 105 6.3.6 Escritura de compra e venda, 106 6.3.7 Incorporação imobiliária, 106 CAPÍTULO 7 CONFLITOS DERIVADOS DO MERCADO IMOBILIÁRIO, 108 7.1 Conflitos no mercado imobiliário, 108 7.2 Uma tipologia de conflitos, 110 7.3 Práticas comerciais abusivas no CDC, 111 7.3.1 Práticas abusivas pré-contratuais, 112 7.3.2 Práticas abusivas contratuais, 113 7.3.3 Práticas abusivas pós-contratuais, 115 7.4 Práticas comerciais abusivas no mercado imobiliário, 116 CAPÍTULO 8 PROTEÇÃO DA RELAÇÃO DE CONSUMO, 123 8.1 Proteção pré-contratual, 123 8.1.1 A oferta vinculante, 123 8.1.1.1 Requisitos da oferta vinculante, 126 8.1.2 Publicidade ou propaganda, 127 8.1.2.1 Publicidade enganosa e abusiva, 128 8.2 Proteção contratual da relação de consumo imobiliário, 130 8.2.1 Adesão contratual, 132 8.2.1.1 Efeitos da Adesão Contratual, 135 8.2.2 Interpretação contratual, 138 8.2.3 Direito de arrependimento ou desistência contratual, 142 CAPÍTULO 9 RESPONSABILIDADE NA RELAÇÃO DE CONSUMO, 144 9.1 A responsabilidade objetiva e solidária, 144 9.1.1 Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço: acidente de consumo, 149 9.1.2 Responsabilidade por Vicio do Produto e do Serviço: defeito menos grave, 153 9.2 Causas da exclusão da responsabilidade consumerista, 157 9.2.1 Caso fortuito e força maior, 159 9.2.2 Decadência e Prescrição, 161 CAPÍTULO 10 A DEFESA DO CONSUMIDOR, 163 10.1 A concepção do dano na relação de consumo, 163 10.1.1 Espécies de dano: patrimonial e moral, 164 10.2 Reparação do dano no CDC, 166 10.2.1 Tutela administrativa, 167 10.2.1.1 Sanções administrativas, 167 10.2.2 Tutela penal: direito penal consumerista, 171 10.2.2.1 Sanções penais, 172 10.3 Sistema nacional de defesa do consumidor, 177 10.3.1 Órgãos públicos de defesa do consumidor, 178 10.3.2 Associações civis de defesa do consumidor, 183 10.3.3 A defesa do consumidor em juízo, 184 10.3.3.1 Defesa individual do consumidor, 186 10.3.3.2 Defesa coletiva do consumidor: ações coletivas, 186 10.4 Desconsideração da personalidade jurídica, 188 10.5 Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor aos Contratos Imobiliários, 192 10.5.1 Estudo de Caso, 192 BIBLIOGRAFIA, 196 INTRODUÇÃO Toda e qualquer obra jurídica é considerada útil na medida em que contribua com a significação e a caracterização das relações e direitos próprios de um determinado ramo ou disciplina, a partir do estudo dos conceitos fundamentais e constitutivo da doutrina e da legislação dominantes acerca de determinado assunto. Neste sentido, notória é a contribuição dos doutrinadores pátrios e, também, estrangeirosacerca do significado e da definição do objeto, dos objetivos e das razões do Direito do Consumidor e sua repercussão noutros importantes campos do direito. Certamente, o Direito do Consumidor é uma disciplina que se estende a outros ramos e sub-ramos jurídicos que, a exemplo do Direito Imobiliário, estimula discussões e reflexões cada vez mais aprofundadas acerca do diálogo existente entre eles e da proteção efetiva das relações jurídicas imobiliárias, ora consideradas de consumo. Em verdade, o Direito do Consumidor é um microssistema que estende a suas raízes e influencias a todo o sistema de relações contratuais que possam ser consideradas consumeristas. Contudo, por ser um microssistema constituído de normas: princípios e regras almeja orientar o consumo massificado em face da defesa do sujeito mais fraco da relação tutelada: o consumidor imobiliário que junto ao fornecedor, participa do mercado imobiliário. O Direito do Consumidor é, portanto, um exemplo de humanização do contato imobiliário, no sentido de que sua aplicação exige compreensão de seus pressupostos e fundamentos sociais, valorativos e normativos. Falamos, assim, de um novo direito que engloba valores situados acima dos interesses individuais e empresariais característicos do mercado imobiliário. Destarte, toda lição sobre Direito do Consumidor deve servir de base para a resolução de conflitos derivados das relações contratuais de consumo. Nesse sentido, no primeiro capítulo significamos a relação e o diálogo possível entre Direito do Consumidor e Direito Imobiliário, facilitando, desta forma, sua compreensão e uso, caracterizando o contrato imobiliário também como objeto do Direito do Consumidor contemporâneo que tem como objetivo a tutelar dos direitos e a resolução de conflitos oriundos do mercado imobiliário. Na presente obra, procuramos, pois, tornar possível a compreensão dos fundamentos e pressupostos que balizam a proteção das relações consumeristas no âmbito do mercado imobiliário. Esta é uma obra voltada ao estudioso que, diariamente, empenha-se em compreender as diferenças e, também, as semelhanças e o diálogo existente entre o Direito do Consumidor e o Direito Imobiliário no contexto do Direito Privado (Civil e Consumerista). Na primeira parte do presente livro, objetivamos familiarizar o leitor com os conceitos que norteiam o regime já instrumentalizado de resolução de conflitos nascidos das diversas práticas desenvolvidas pelas empresas e demais entes despersonalizados com o intuito de aproximar, ao consumidor, seus produtos e serviços. Procuramos, igualmente, demonstrar que existe uma notável relação entre o mercado imobiliário e a contratação em massa, assunto que, por ser também de interesse para o jurista moderno, abordamos com mais profundidade no capítulo 3. Na segunda parte desta obra, discorremos sobre a caracterização e resolução dos problemas que alberga este importante ramo do direito que hoje repercute na vida de todo cidadão. De sorte que a análise das normas, princípios e regras do CDC estimula-nos na procura da sua eficiência e eficácia social do Direito Imobiliário. Assim, privilegiamos, como aspecto importante e consequente das lições anteriores, a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao mercado imobiliário: seus valores, normas e dispositivos. Por aplicabilidade, entendemos o estudo das concepções que modernamente orientam os processos de integração normativa como antessala da decisão de casos concretos, atividade própria do jurista prático. Objetiva-se, portanto, a abordagem de importantes temas cujos conteúdos projetam-se para a práxis desse importante direito imobiliário. Os conteúdos selecionados caracterizam a funcionalidade do Direito do Consumidor, ora pautada pela necessidade de uma legislação eficaz por meio da qual se viabilize a efetiva resolução de conflitos derivados das relações de consumo, problemática jurídicas que domina o mundo moderno. Neste ponto, destacamos os meios de proteção pré-contratual, contratual e pós-contratual que objetivamente permitem inibir os conflitos derivados das relações de consumo, abordando, para tanto, a tipologia de conflito nascidos das práticas comerciais no Direito do Consumidor. Como formando parte da proteção pré-contratual da relação de consumo, estudaremos a oferta vinculante e a publicidade enganosa e abusiva. Quanto à proteção Contratual, significamos, do contrato de consumo, sua interpretação, destacando característica mais relevante: a adesão contratual. Discute-se, finalmente, a defesa do consumidor imobiliário em face da efetiva tutela do consumidor, a saber, tutela administrativa, penal, individual e coletiva. Enfim, nas páginas que se seguem, almejamos contribuir para uma eficiente interpretação e compreensão dos conceitos, princípios e normas consumeristas que se aplicam ao mercado imobiliário no Brasil. Agradeço aos idealizadores do Programa Oficial do Curso de Direito Imobiliário para alunos da Universidade Central de Santiago de Chile e do Unisal, pelo incentivo na elaboração da presente obra, possibilitando, assim, uma discussão nesta importante disciplina: Direito Imobiliário e relaciones de consumo, resumidamente: Direito do Consumidor Imobiliário. Pablo Jiménez Serrano Rio de Janeiro, 22 de novembro de 2018 Capítulo 1 DIREITO DO CONSUMIDOR E DIREITO IMOBILIÁRIO Conteúdo: 1.1 Definições. 1.1.1 Direito do Consumidor. 1.1.2 Direito Imobiliário. 1.2. O Direito do Consumidor no âmbito imobiliário. No presente capítulo nos propomos significar o direito do consumidor e o direito imobiliário e, a seguir, caracterizar a relação existente entre esses importantes microssistemas jurídicos, colocando em diálogo, tanto a doutrina como suas normas vigentes. Esta primeira abordagem possibilitará a compreensão posterior da estrutura da relação consumerista no marco do mercado imobiliário. 1.1 Definições A primeira dificuldade que iremos enfrentar ao falar da relação e do diálogo existente entre o Direito do Consumidor e o Direito Imobiliário é a compreensão da origem e definição de ambas as disciplinas. Isso, por que a elas, mesmo tendo uma natureza contratual, podem ser atribuídas naturezas diferentes. Assim, por exemplo, o Direito do Consumidor, quando inserido na grade curricular dos cursos jurídicos, adota diversas denominações, a saber, Direito consumerista, Direito do Consumo, Relações Jurídicas Consumerista etc. Por outro lado, o Direito Imobiliário, poucas vezes aparece como disciplina independente, mas é contemplado como uma disciplina que faz parte do Direito Privado e, mais especificamente do Direitos das Coisas, Direitos da Propriedade, Propriedade Imobiliária etc. Mas, de fato, todas essas denominações nos falam de uma única coisa: de um conjunto de relações jurídicas contratuais que tem natureza privada e consumerista e, por esse motivo, atualmente devem ser significadas no plano, não só do Direito Privado, mais também do Direito do Consumidor. Primeiro, porque são relações constituídas por empresas (geralmente particulares) e, segundo, porque trata-se de serviços massificados e estandardizados. Em ambos os casos contamos com denominações e definições concomitantes. Vejamos. 1.1.1 Direito do Consumidor O Direito do Consumidor é um microssistema ou disciplina reguladoras das relações de consumo que, evidentemente, tem um cunho social. Neste sentido, este microssistema jurídico pode ser considerando um Direito Social, uma ramificação do Direito Privado, estritamente vinculado ao Direito Civil, ao Direito Empresarial, Direito Imobiliárioe aos direitos constitucional, penal, administrativo etc. É um dos sub-ramos jurídicos referido mais à proteção dos direitos coletivos do que aos individuais, por ser o resultado das conquistas obtidas dentro das lutas de classes sociais. A doutrina consumerista é pacífica em aceitar que o CDC é norma de ordem pública. Assim, “as normas contidas no CDC são de ordem pública e interesse social, sendo, portanto, cogentes e inderrogáveis pela vontade das partes”[1]. Destaca-se, nesse sentido, que o STJ já se manifestou: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. NORMA DE ORDEM PÚBLICA. DERROGAÇÃO DA LIBERDADE CONTRATUAL. O caráter de norma pública atribuído ao Código de Defesa do Consumidor derroga a liberdade contratual para ajustá-la aos parâmetros de lei [...]. (STJ, Resp. 292942/MG, Rel. Min. Sávio de Figueiredo Teixeira, DJ 07/05/2001). A primeira questão a ser destacada é o sentido humanístico implícito no princípio da dignidade da pessoa humana como bem intangível. “Promover significa assegurar afirmativamente que o Estado realize positivamente a defesa, a tutela dos interesses destes consumidores que, como vimos é um direito fundamental (direito humano de nova geração, social e econômico) a uma prestação protetiva do Estado, a uma atuação positiva do Estado, por todos os seus poderes: Judiciário, Executivo, Legislativo”[2]. Por conta da natureza difusa do Direito do Consumidor, alguns autores apontam seu caráter social (é Direito Social), sua origem privada ou privatista (é uma continuação do Direito Civil e mais especificamente do Direito Empresarial), ou tem origem constitucional etc. Mas, verdadeiramente, as normas contidas no CDC são de ordem pública e interesse social. Diz-se de um direito fundamental (de 3ª terceira geração), direito humano de nova geração, social e econômico[3]. Diz-se da defesa dos direitos ou interesses legítimos individuais, mas também coletivo e social típico das sociedades capitalistas industrializadas, nas quais os riscos do progresso devem ser compensados por uma legislação tutelar e subjetivamente especial. Trata-se, conforme diretrizes da ONU, de um direito humano de nova geração (ou dimensão), um direito social e econômico, um direito de igualdade material do mais fraco, do leigo, do cidadão civil nas suas relações frente aos fornecedores de produtos e serviços que, nessa posição, são experts, fortes ou em posição de poder[4]. Podemos afirmar, então, que o regime jurídico consumerista respeita a hierarquia constitucional, assim “a garantia constitucional de proteção e defesa do consumidor é considerada cláusula pétrea, impossível de ser suprimida ou restringida pelo legislador”[5]. Em suma, considera-se ser um ramo de direito tutelar, “social”, difuso e coletivo que, evidentemente, guarda relação com outros ramos e disciplinas, fundamentalmente com o Direito Constitucional, o Direito Civil, Administrativo, Penal e Processual. Portanto consideramos sua natureza difusa. Conforme ensina Sérgio Cavalieri Filho[6], o Direito do Consumidor ou Direito do Consumo é concebido como sendo o conjunto de princípios e regras destinados à proteção do consumidor, verifica-se, desde logo, não ser o consumo, enquanto tal, o objeto da tutela das regras que constituem esse novo ramo do direito, mas sim o próprio consumidor. Trata-se, continua o citado autor, de disciplinar a produção e a distribuição de bens, assim como a prestação de serviços, tendo em vista a defesa do consumidor. Em outras palavras, é sobre o fornecedor de produtos e serviços que recaem obrigações de várias espécies em ordem à defesa do consumidor. A preocupação não está focada no objeto de alguma relação jurídica (enfoque objetivo), mas em um sujeito (enfoque subjetivo). No mesmo sentido, Claudia Lima Marques[7] define o Direito do Consumidor como um ramo novo do direito, disciplina transversal entre o direito privado e o direito público, que visa a proteger um sujeito de direitos, o consumidor, em todas as suas relações jurídicas frente ao fornecedor, um profissional, empresário ou comerciante. Assim, explica a citada autora, trata-se de um conjunto de normas e princípios especiais que visam a cumprir com um triplo mandamento constitucional, a saber, promover a defesa dos consumidores (art. 5º, XXXII, da CF), assegurar, como princípio geral da atividade econômica, a defesa do consumidor (art. 170 da CF), sistematizar e ordenar a tutela especial infraconstitucionalmente, por meio de uma microcodificação, CDC, art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitória da CF de 1988. De acordo com Leonardo de Medeiros Garcia[8], o Direito do Consumidor é um microssistema jurídico, no qual o objetivo não é tutelar os iguais, cuja proteção já é encontrada no Direito Civil, mas justamente tutelar os desiguais, tratando de maneira diferente fornecedor e consumidor com o fito de alcançar a igualdade. Já, para Leonardo Roscoe Besa[9], um tema ao qual o Código do Consumidor dedica especial atenção é a proteção contratual do consumidor. O objetivo legal é promover lealdade, transparência e equilíbrio nas relações entre fornecedor e consumidor. Da análise dessas e de outras definições parece surgir uma divergência quanto ao sentido e ao alcance dessa disciplina. Trata-se de saber se ela existe para proteger unicamente o consumidor ou se também suas normas abrangem as relações de consumo. Com o intuito de superar essa dificuldade, e devido à complexidade do seu objeto, preferimos denominar a disciplina da seguinte forma: “Direito das Relações de Consumo”. Em verdade, essa opção não é pacífica, mas há de se entender como um pilar importante que nos permitirá superar inúmeros equívocos doutrinários quanto ao sentido e ao alcance deste microssistema. Falaremos, pois, de seu sentido e alcance, não sem antes referirmos a algumas definições, aqui consideradas como ponto de partida importante para a compreensão de sua natureza e objeto. Podemos concluir dizendo que o Direito do Consumidor é um sub-ramo do Direito constitutivo de um conjunto de teorias, normas e práticas jurídicas que objetivam a tutela das relações consumeristas, a educação para o consumo, a previsão e a resolução de conflitos. Assim, limito-me a significar o Direito do Consumidor da seguinte maneira: o Direito do Consumidor é uma disciplina jurídica constituída de um conjunto de pressupostos teóricos (conceituais e valorativos), e normativos (princípios e regras) destinadas à tutela das relações jurídicas de consumo constituídas pelos sujeitos consumidor e fornecedor. 1.1.2 Direito Imobiliário Por sua vez, o Direito Imobiliário é significado como uma parte importante do Direito Privado que tem por objetivo estudar e regular as diversas relações jurídicas relativas à posse, à aquisição e extinção da propriedade sobre bens imóveis, da qual são oriundo o direito ao condomínio, ao aluguel, à compra e venda, à troca, à doação, à cessão de direitos, à usucapião, aos financiamentos da casa própria, às incorporações imobiliárias, ao direito de preferência do inquilino, ao direito de construir, ao direito de vizinhança, ao registro de imóveis, todos eles anexos aos bem imóvel. Sendo o Direito Imobiliário um sub-ramo do direito privado, também possui normas reguladoras da propriedade sobre os bens imóveis, cujas raízes se assentam no Direito de Propriedade (Direito da Coisas) e tem como finalidade disciplinar relações jurídicas de consumeristas, por exemplo, relativas ao aluguel, à compra e venda, ao financiamento de casa própria e, não consumeristas, por exemplo, a doação, a usucapião, direito de vizinhança,posse, cessão de direitos, troca, aquisição e perda da propriedade, direito de construir, direito de preferência do inquilino, registro de imóveis e outras diversas relações. Decerto, o primeiro grupo de relações anteriormente elencados é aquele que, ao efeito do presente estudo, mais interessa. Mas, assim como sua denominação indica o Direito Imobiliário regula o conjunto de relações jurídicas constituídas sobre bem imóveis. Este tipo de bem (bens imóveis) é prescrito no art. 79 do Código Civil Brasileiro, a saber, o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural e artificialmente: “são bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente” (art. 79) e como é obvio a tipologia abrange: casas, prédios e terrenos. Esta classificação procede do Direito de Propriedade, também chamado de Direito Reais ou Direito das Coisas, que vem a ser um conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens materiais ou imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem. Infere-se desta definição que este direito visa regulamentar as relações entre os homens em torno dos bens (coisas), traçando normas tanto para a aquisição e o exercício, conservação e perda de poder dos homens sobre esses bens como para os meios de sua utilização econômica[10]. Bem, afirma Fábio Ulhoa[11], é tudo o que pode ser pecuniariamente estimável, isto é, avaliado em dinheiro. Considera-se bens, assim, uma casa, o automóvel, uma obra de arte etc. São bens (semoventes), igualmente, os animais, a energia elétrica etc. cuja valorização pode ser quantificada. Todavia, são considerados bens jurídicos quaisquer direitos passíveis de estimação econômica, como o crédito, as obrigações, direitos autorais, direitos relativos à imagem e outros. Nem todos os bens interessam ao direito das coisas, pois o homem só se apropria de bens úteis à satisfação de suas necessidades[12]. O vocábulo propriedade vem do latim proprietas, derivado de proprius, designando o que pertence a uma pessoa. Assim, a propriedade indica uma relação jurídica de apropriação de um certo bem corpóreo ou incorpóreo[13]. Podemos considerar o Direito de Propriedade como o mais importante dos direitos reais. Todos os demais institutos desse ramo de direito civil se definem como exteriorização (posse), desdobramento (usufruto, uso etc.) ou limitação (servidão e direitos reais de garantia) do direito de propriedade. Observa-se que este direito não leva, unicamente em conta os interesses do proprietário, mas também o dos não proprietários que igualmente gravitam em torno da coisa objeto do direito. Eis que, de fato, hodiernamente, o Direito de Propriedade atenta à função social. Nesse sentido, a propriedade deve estar apta a cumprir simultaneamente as funções individual e social que dela se espera[14]. Nesse cenário, o direito imobiliário deixa de ser um campo exclusivamente centrado sobre a disciplina jurídica da propriedade imóvel, para passar a abranger também institutos inovadores que se dirigem a fomentar empreendimentos imobiliários, ou que a tais empreendimentos se associam de forma indivisível, como se vê de tantas questões relativas à regulamentação do transporte urbano, à conservação do meio ambiente sadio, à proteção do patrimônio histórico e cultural, questões que, embora não sejam “imobiliárias” no sentido tradicional do termo, passam a integrar o conjunto de preocupações do novo direito imobiliário brasileiro – que deixa, assim, de ser um setor específico dos direitos reais para se converter em um ramo multidisciplinar, que exige a combinação de noções típicas do direito administrativo, do direito ambiental, do direito econômico e do direito tributário, entre outros. Toda essa candente transformação torna oportuno revisitar o direito imobiliário em uma perspectiva civil-constitucional, comprometida com a realização dos valores fundamentais nas relações privadas. A profusão de novos institutos no âmbito imobiliário não deve sugerir a adesão a lógicas puramente setoriais, inspiradas em inovações de ocasião, mas deve, muito ao contrário, ser reflexo da necessidade de novas vias de concretização dos valores constitucionais, que norteiam o direito imo- biliário, atribuindo-lhe sentido e direção. Eis o único caminho metodológico para evitar a fragmentação do direito imobiliário em correntes antagônicas e inconciliáveis, cada qual se valendo das soluções que considere mais apropriadas aos seus próprios objetivos setoriais, reproduzindo de modo insuperável os intensos conflitos ideoló- gicos que sempre cercaram, no campo ou na cidade, o uso da propriedade imóvel[15]. A doutrina nacional classifica a propriedade da seguinte maneira: a) Propriedade corpórea ou incorpórea. Conforme ao objeto da propriedade ele pode ser um bem corpóreo ou incorpóreo. Os corpóreos são bens dotados de existência física (material). Já os incorpóreos não têm existência material ou física, porém imaterial ou intelectual, assim, por exemplo, as marcas registradas, patentes e invenções etc. Assim, ensina Fabio Ulhoa[16], da propriedade corpórea se ocupa o direito das coisas. Já, a incorpórea está disciplinada em normas esparsas, a exemplo da propriedade intelectual. Todavia, a propriedade corpórea, denominada de domínio, está disciplinada nos arts. 1.228 e seguintes do Código Civil e é objeto de estudo do direito das coisas. b) Propriedade plena ou restrita. A propriedade pode ser plena, quando não existe nenhuma limitação ao exercício do seu direito, isto é, “quando todos os seus elementos constitutivos se acham reunidos na pessoa do proprietário, ou seja, quando seu titular pode usar, gozar e dispor do bem de modo absoluto, exclusivo e perpétuo, bem como reivindicá-lo de quem, injustamente, o detenha”[17]. Por outro lado, considera-se restrita a propriedade em que o exercício do direito limita-se a cláusulas estabelecidas no próprio negócio e imposta pelo seu titula. Assim, a restrição ou limitação, depende de alguns dos poderes de um sujeito que objetiva preserva-la. Esta limitação se faz presente, por exemplo, no usufruto, onde limitada é a propriedade do proprietário, pois o usufrutuário tem sobre a coisa o uso e gozo. Todavia, limitado é o domínio gravado com cláusula de inalienabilidade, já que o seu proprietário privado está do direito de dispor do bem[18]. c) Propriedade singular ou copropriedade. Este critério de classificação leva em consideração a quantidade de titulares do direito de propriedade. Assim sendo, singular é aquela em que um só sujeito de direito, pessoa física ou jurídica é o proprietário. Já, a copropriedade (exemplos: condomínio, comunhão ou propriedade coletiva) se constitui com base na existência ou presença de vários sujeitos ou proprietários. d) Propriedade perpétua ou resolúvel. A propriedade é perpétua no sentido de durar enquanto dure o interesse do proprietário (exemplo: o proprietário de um terreno é seu dono em quanto viver ou o alienar (vender). É resolúvel quando está sujeita a uma condição imposta. Assim, por exemplo, é resolúvel a propriedade fiduciária, por meio da qual “o devedor aliena ao credor um bem, sob a condição de voltar a titular a propriedade quando pagar a dívida no vencimento”. Encontram-se também exemplos de propriedade resolúvel no fideicomisso, na doação com reversão e no contrato de compra e venda com cláusula de retrovenda. No fideicomisso, o testador define para quem a herança ou legado deve ser transmitido quando do falecimento do herdeiro ou legatário (CC. Art. 1951). Na doação com reversão, o doador estabelece que, se sobreviver ao donatário, o bem doado retorna à sua propriedade (Art.547 CC). Na retrovenda, o vendedor de imóvel reserva-se o direito de recobrar a propriedade do bem no prazo máximo de três anos, mediante restituição do preço e o reembolso das despesas do comprador (art. 505)[19]. f) Propriedade imobiliária ou mobiliária. Esta classificação considera a natureza dos bens móveis e imóveis: “móveis são os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação, ou de remoção por força alheia, sem alteração da sustância ou da destinação econômico-social”, conforme regulado no art. 82 do CC., (exemplos: um veículo, um livro, um celular). Por outro lado, imóveis são aqueles bens que não são suscetíveis de movimento, por impossibilidade física ou imposta pela sua natureza (exemplos: um terreno, uma casa, um prédio). Esta última classificação se refere aos bens que podem ser removidos ou não removidos de um local para outros sem que se afeite a sua natureza ou constituição. Neste sentido, o Direito Imobiliário regula os direitos reais sobre os bens imóveis e as ações que os asseguram, incluindo-se os imóveis por natureza: solo e sua superfície, subsolo e espaço aéreo. Existe, ainda uma classificação de bens imóveis: a) bens que por acessão natural que inclui aqueles bens decorrentes de fenômenos naturais, como árvores, frutos, cursos das águas; b) bens imóveis por acessão artificial: decorrentes do trabalho do homem, como construções, edifícios e plantações, não se considerando as construções temporárias ou provisórias, acampamentos, circos, feiras etc. Existe, ainda, os direitos derivados desses bens imóveis, a saber, direito real sobre imóveis (servidões, uso, usufruto, penhor, hipoteca, anticrese, habitação, rendas constituídas sobre imóveis e propriedade) e suas respectivas ações (ações de reivindicação, por exemplo). Mas, de fato, as relações jurídicas, direitos e obrigações que incidem sobre os bens imóveis são diversas e, por isso, neste estudo interessa aquelas que derivam, da relação do consumo, por exemplo, compra e venda de terrenos, casas, apartamento, onde além da aquisição e transferência, o adquirente (consumidor) deve formalizar o negócio jurídico no registro no Cartório de Imóveis e cuidar da elaboração da Escritura Pública. 1.2 O Direito do Consumidor no âmbito imobiliário Nesta seção discutimos a incidência do CDC no mercado imboiliário. Assim, achamos necessario partir da seguinte indagação. O que tem de comum ambas as disciplinas? Eis que existem direitos derivados de um contrato (imobiliário) aqui considerado de consumo, cuja característica é de adesão, sempre direcionado aos consumidores. Sendo uma relação jurídica de consumo há de ser aplicado o CDC (Código de Defesa do Consumidor). Certamente, uma boa parte das relações jurídicas derivadas do mercado imobiliário é objeto do Direito do Consumidor: a “relação de consumo”, relação jurídica estabelecida entre fornecedores e consumidores e que tem sua origem nos Processos de Produção, Distribuição, Intercâmbio e Consumo (Pdiscon). Pois bem, o Direito do Consumidor tem como matéria ou assunto a tutela dos interesses próprios dos sujeitos que participam da relação consumerista: fornecedor – consumidor, tentando, assim, minimizar as desigualdades, inibir as agressões e os abusos dos quais o consumidor é vítima, mas também definir as causas excludentes de responsabilidade procurando, com isso, restabelecer a boa-fé e o equilíbrio contratual na relação de consumo. Assim, insistimos na ideia de que o Direito do Consumidor desempenha um papel decisivo na nova regulamentação das relações jurídicas surgidas da contratação em massa. Esse Direito tão especial, nos dias atuais, apresenta-se como resultado do movimento internacional de defesa do consumidor, que começou a fazer sentir em todo o mundo. Em verdade, o Direito das Relações de Consumo assenta-se no CDC: “regulamento de alta proteção ao consumidor nas sociedades capitalista contemporânea, com regras específicas muito bem colocadas e que acaba gerando toda a sorte de dificuldade de interpretação das questões contratuais, da responsabilidade, da informação, da publicidade, do controle in abstrato das cláusulas contratuais, das ações coletivas, enfim, literalmente de tudo o que está por ele estabelecido”[20]. O consumo, vinculado às relações econômicas, constitui-se com base nas relações pré-contratuais e contratuais por meio das quais se objetiva o intercâmbio de mercadorias, produtos e serviços. Decerto, para satisfazer suas necessidades, os cidadãos necessitam estabelecer relações contratuais. Esses contratos têm como causa as atividades relacionadas com a criação – denominada trabalho –, que pressupõe o desenvolvimento. É ponto pacífico que o trabalho como atividade humana permite que o homem aproprie-se das riquezas das coisas que brinda a natureza, para transformá-las em bens e satisfazer, dessa maneira, suas necessidades. O processo de trabalho inclui a atividade racional do homem, pela qual se transmitem as mercadorias desde o produtor ao consumidor, desde o proprietário ao proprietário ou possuidor, e se obtém os serviços em geral. Portanto, utiliza-se o contrato de consumo como uma instituição econômica e jurídica que se manifesta em todas as esferas da atividade socioeconômica e mais ainda, na atividade artística, profissional, industrial e trabalhista. Já, quanto aos objetivos: o télos, a teleologia ou o para que do Direito do Consumidor? e, de acordo com a opinião comum dos doutrinadores, considera- se que o Direito do Consumidor tem por finalidade tentar minimizar as desigualdades socioeconômicas e jurídicas existentes entre o fornecedor e o consumidor, inibir e sancionar as agressões e abusos dos quais o consumidor é vítima, procurando, com isso, restabelecer um equilíbrio contratual na relação de consumo. Quero dizer, com isso, que a abordagem dos diversos temas vinculados ao Direito do Consumidor permite-nos avaliar o nível de profundidade e atualidade com que se vem tratando do assunto na comunidade jurídica nacional e internacional. No entanto qualquer enfoque histórico ou legislativo sobre o Direito do Consumidor nos introduz no mundo heterogêneo de suas regras e no importante estudo das regulamentações estabelecidas pelos legisladores na maioria dos países; portanto, a nosso ver, é meritório ressaltar os benefícios que qualquer estudo científico, desenvolvido sobre o assunto, brinda ao ordenamento jurídico internacional. A nosso ver, todo ensinamento do regime jurídico consumerista, em princípio, há de servir para: Primeiro, possibilitar a compreensão objetiva da evolução e o desenvolvimento deste importante direito (Direito do Consumidor); Segundo, verificar o nível de aproximação e diferenças existentes entre o Direito privado e o Direito do Consumidor; Terceiro, avaliar a concretização ou efetiva proteção das complexas relações de consumo; Quarto, contribuir para a resolução dos conflitos que de tais relações derivam-se. O Direito do Consumidor no âmbito Imobiliário pode ser considerado um regime jurídico que estabelece as regras e princípios que possibilitam a resolução dos conflitos oriundo do mercado imobiliário. Como será explicado, participa desta relação jurídica consumerista, de um lado, o fornecedor imobiliário (as imobiliárias fornecedoras de serviços ou produtos imobiliários) e, de outro, o consumidor imobiliário, aquele que participa da relação como destinatário final e que, com frequência é vítima das práticas abusivas derivadas da oferta e dos contratos de consumoimobiliários. De fato, é correta a aplicação do CDC às relações jurídicas constituídas entre o fornecedor de produtos e serviços imobiliários e o consumidor (pessoa física ou jurídica que adquire tais produtos ou serviços como destinatária final) e, como será explicado no próximo capítulo, não intermediário. Esta possibilidade acaba por corroborar que a tutela do consumidor imobiliário é confirmada pela incidência (e alcance) das normas deste código no Direito Imobiliário. É, hoje, dominante a opinião de que o fenômeno do consumo está vinculado às relações socioeconômicas, que se sabem onerosa e lucrativa, relações constituídas a partir dos vínculos jurídicos nem sempre harmoniosos nos quais, muitas vezes, usando-se de práticas abusivas, o fornecedor almeja aproximar produtos e serviços ao mercado de consumo; sendo certo que, nessas práticas e relações de intercâmbio, revelam-se profundas contradições (conflitos de interesses), próprias da sociedade moderna que o Direito Civil tradicional não está apto a resolver. Decerto, o Direito do Consumidor chegou para complementar as insuficiências do Direito Civil tradicional, aquelas que são próprias das lacunas jurídicas que impedem a adequada e eficaz proteção das novas relações socioeconômicas. Por isso, pode-se afirmar que as normas do Direito civil tradicional tornaram-se defasadas perante as novas relações e problemas. Todavia, dentre as questões que estimulam o estabelecimento de normas protetoras das relações de consumo, está o anseio pelo lucro, mesmo acima da moralidade e da legalidade: o lucro é legítimo quando ético (“lucro ético”). Assim, perante a negação dos direitos dos consumidores, surge a necessidade de criar uma normativa intervencionista dos Poderes Públicos, que incida diretamente sobre a possibilidade de autorregulamentar os interesses particulares e de configurar um Direito excepcional em relação ao Direito do Contrato regulamentado pelo Código Civil; mas sua permanência no tempo vai incorporando suas soluções à normalidade do ordenamento[21]. Noutra ordem, a produção em massa afeta a autonomia da vontade; e a globalização da economia e a aparição de novas formas de associação, distribuição e comercialização dos produtos e serviços aconselham a proteção dos consumidores. Não se trata, pois, da simples proteção da relação credor/devedor, comprador/vendedor, ou partes contratantes etc.; mas de diversas relações de consumo nascidas, mesmo sem existir contrato, de uma nova ordem socioeconômica. E, ainda, existindo um antecedente contratual: “o consumidor adquire bens ou contrata serviços sob pressões internas (hábitos, costumes) ou externas (publicidade, informações inadequadas) que deformam o contrato de consumo, passando a ser um ato condicionado e não voluntário”[22]. Um aspecto determinante no estabelecimento de normas jurídicas favoráveis ao consumidor, já explicamos, são as condições gerais do contrato que são constituídas por regras as quais determinam o conteúdo contratual, total ou parcialmente, estabelecidas de maneira unilateral por um dos contratantes, para uma série indefinida de contratantes, sem que possam fazer outra coisa senão aderir a elas, ou rejeitar o contrato. O principal problema das condições gerais dos contratos é a possibilidade de abuso da parte dominante, a qual as estabelece, ante o aderente, que se encontra, em muitas ocasiões, em uma posição débil, porque incluso sua liberdade de contratar (liberdade de celebrar ou não o contrato) é de fato inexistente, pois se trata de coisas ou serviços essenciais ou necessários para a vida as que lhe proporciona o contrato, e o fornecedor daquelas ou daqueles se encontra em uma posição oligopolística, quando não de prático monopólio, no mercado. Em face da situação anterior, e para evitar os abusos de tão desmedida desigualdade das partes contratantes, articulam-se mecanismos de controle das condições gerais que são, basicamente, de três tipos: a) legislativos, ditando-se normas de caráter geral que imponham um determinado conteúdo às condições gerais, ou proibindo sua inclusão nelas de determinadas cláusulas, consideradas especialmente abusivas, ou simplesmente, proibindo de modo genérico as que podem ser assim qualificadas; b) administrativos, singularmente por meio da exigência de uma autorização prévia das condições gerais, com o objetivo de prevenir o abuso da parte dominante de quem as dispõe; c) judiciais, estabelecendo sob a interpretação do contrato a regra stipulatio contra proferentem e, sobretudo, a da boa-fé, tanto em função puramente interpretativa, como em função integradora[23]. Com um enfoque sociológico, dizemos que o direito dos consumidores é o resultado das mudanças na composição da sociedade na qual impera a defesa do consumidor como destinatário final ou equiparado frente ao fornecedor: produtor, importado, distribuidor, comerciante etc. Durante todo o processo de produção, distribuição, intercâmbio e consumo, os consumidores esperam satisfazer suas necessidades por meio da aquisição de determinados serviços ou produtos pelo preço justo e com boas condições, formas de entrega e qualidade, em correspondência com a remuneração. Conforme o Direito Civil tradicional; para constituir-se relações jurídicas contratuais, necessita-se do consentimento das partes, ou melhor, do acordo comum entre dois ou mais sujeitos. Vê-se, assim, a relação contratual regida pelo princípio (aforismo ou brocardo) pacta sunt servanda, que orienta o contrato a contratação civil, o qual tem como pressuposto a autonomia da vontade (as partes decidem, no mesmo plano de igualdade, preço, qualidade, forma de entrega etc. dos produtos e serviços e demais cláusulas contratuais). Como será explicado, essas possibilidades não se verificam na relação (contratação) consumerista. Esse esquema legal privatista para interpretar contratos de consumo é completamente equivocado, porque o consumidor não se senta à mesa para negociar cláusulas contratuais. Na verdade, o consumidor vai ao mercado e recebe produtos e serviços postos e ofertados segundo regramentos que o CDC agora pretende controlar [...]. Até a oferta, para ilustrarmos com mais um exemplo, é diferente nos dois regimes: no direito privado é um convite à oferta; no direito do consumidor, é uma oferta que vincula o ofertante[24]. Contudo “a ordem jurídica tradicional revela profundas limitações, entre as quais podem estar aquelas que concernem ao consentimento, o procedimento e os mecanismos do Direito Civil”[25]. Não há dúvida de que o consentimento, sendo um elemento essencial do contrato, engendra obrigações para as quais se exige o seu cumprimento efetivo. No entanto, nessa nova disciplina, trata-se justamente de superar as limitações do direito contratual, mesmo porque nem sempre a relação de consumo tem sua origem no contrato. Igualmente, nem sempre as relações de consumo são pacíficas, fato pelo qual se torna necessário o regime de proteção e resolução de conflito: CDC. Em verdade, não cremos que, por meio da legislação vigorante, sejamos capazes de alcançar uma igualdade no mundo consumerista; pois, de modo algum, o consumidor, sem uma consciência de consumo, terá a possibilidade de incidir na produção e nos mecanismos que impõe o consumo. O consumidor, no mundo moderno, não é capaz de determinar o que, em verdade, quer consumir. Produtos e serviços são impostos pelo próprio modo de vida e disso se aproveita o consumidor. Dessa forma, seria melhor afirmar que o Direito do Consumidor existe não unicamentepara amparar a parte mais fraca, mas para tutelar a relação de consumo, buscando, por meio da conscientização das partes constitutivas: consumidor e fornecedor, humanizar o processo de produção, circulação, intercâmbio e consumo e harmonizar as relações jurídicas de consumo. Há, contudo, uma boa razão para entender que a legislação civil tradicional mostrou-se insuficiente na solução dos conflitos jurídicos surgidos das relações de consumo. Essas insuficiências recaem essencialmente na proteção e regulamentação dos seguintes supostos e realidades: Primeiro, a exigência da culpa do fornecedor torna-se impossível e inviável o ressarcimento de danos causados ao consumidor, em virtude da colocação no mercado de produtos e serviços potencialmente danosos; Segundo, a estrutura do Direito Comum (Civil tradicional) liga o dano ao agente causador, a quem incumbiria a responsabilidade de reparação (responsabilidade por culpa). Nas relações de consumo, entretanto, o dano pode ser causado pela pessoa do fornecedor, por seus empregados ou agentes ou até mesmo por outros fornecedores solidários. Daí, a necessidade de estender (alagar) a responsabilidade para atingir a todos os fornecedores solidários, vigorando, assim, a responsabilidade objetiva, solidária e subsidiária; Terceiro, o consumidor não tem ação direta contra os produtores (aqueles agentes econômicos que desenvolvem atividades econômicas primárias); podendo, única e naturalmente, estabelecer ação contra o comerciante-vendedor; Quarto, os prazos curtos de prescrição e decadência, contados a partir da entrega da coisa, também dificultam a ação do consumidor nas reclamações por vícios ocultos; Quinto, a persecução executória sob o patrimônio do fornecedor é dificultada pela não adoção, na via legislativa, da teoria da desconsideração da personalidade jurídica; Sexto, as regras que regulamentam a prova impedem a atuação judicial do consumidor, reduzindo-lhe a possibilidade do êxito[26]. Por causa dessas limitações, colocou-se como necessidade a idealização de uma nova legislação consumerista e a ausência de um tribunal especializado para o conhecimento e solução dos conflitos, sendo pouco econômico e não funcional o processo iniciado para reclamar indenização pelos danos causados nas relações de consumo. Como solução de tais insuficiências, com relação à reparação dos danos nas relações de consumo, nos artigos 8º, 12 e 14 do Código do Consumidor brasileiro, prescrevem-se as regras pertinentes sobre a matéria. Quanto à responsabilidade objetiva, como explicaremos na segunda parte desta obra, o fornecedor responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre os riscos. Como consequência, o fornecedor responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores, por defeitos do projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização, como se regulamenta no artigo 12 Código Defesa de Consumidor. No entanto, afirma Rizzatto Nunes[27], durante praticamente o século inteiro, no Brasil, acabamos aplicando, às relações de consumo, a lei civil para resolver os problemas que surgiram e, por isso, fizemo-lo de forma equivocada. Tais equívocos influem na maneira como enxergamos as relações de consumo e, atualmente, temos toda sorte de dificuldades para interpretar e compreender um texto que é bastante enxuto, curto, que diz respeito a um novo corte feito no sistema jurídico e que regula especificamente as relações que envolvem os consumidores e os fornecedores. Em verdade, o Direito do Consumidor brasileiro e seu regime jurídico prescrito na Constituição Federal (artigo 170) e no CDC acabaria por ter uma importância decisiva na solução dos conflitos socioeconômicos que têm como precedente as relações de consumo. Resumindo, as insuficiências do Direito Civil tradicional motivam o estudo do regime nacional de proteção dos direitos dos consumidores; pois, como afirma Rizzatto Nunes, nem sempre a maior parte dos estudiosos do direito foram educados investigando os fenômenos ocorrentes na sociedade de consumo. “Precisamos, portanto, entender por que é que ainda existe certa, ou melhor, uma grande dificuldade de compreensão das regras da lei consumerista”. Eis que, continua o citado autor, quase todos aqueles que operam o direito no Brasil advogados, juízes, procuradores etc. foram formados na tradição do direito privado, cuja estrutura remonta ao século XIX e que é baseada num sistema jurídico anterior à Constituição Federal atual e, claro, anterior à edição da Lei n. 8.078/90[28]. Dessa forma, o estudo da disciplina nas universidades brasileiras justifica-se pela tradição positivista e privatista, que limita a compreensão das consequências negativas derivadas do consumismo que estimula a sociedade de massas do presente século. Capítulo 2 PRESSUPOSTOS NORMATIVOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR E DO DIREITO IMOBILIÁRIO Conteúdo: 2.1 Pressuposto constitucional. 2.2 Pressuposto infraconstitucional. 2.2.1 Fundamentos normativo do Direito do Consumidor. 2.2.2 Fundamentos normativo do Direito Imobiliário. 2.2.3 Diálogo das fontes. 2.2.3.1 Código de Defesa do Consumidor e Código Civil Brasileiros. 2.2.3.2 Código de Defesa do Consumidor Brasileiro e a legislação imobiliária. 2.2.4 Direitos básicos do consumidor no âmbito do mercado imobiliário. 2.2.5 Consequências derivadas da violação dos direitos básicos do consumidor. Neste segundo capítulo estudaremos o fundamento normativo tanto do direito do Consumidor como do Direito Imobiliário, indicando, assim, a orientação constitucional e infraconstitucional vigente e as variadas legislações, direitos e consequências que derivas dessas relações. O propósito deste capítulo é consolidar a compreensão dos fundamentos de ambas disciplinas, com o intuito de melhor compreender sua atualidade, investigando, assim, os fenômenos decorrentes da sociedade de consumo que estimulam a proteção da relação de consumo. Pois bem, por pressupostos normativos entendemos o conjunto de norma, princípios e regras que balizam a tutela da relação de consumo nascidas do mercado imobiliário que, se bem são reguladas por legislações especificas, também são objeto do CDC e possuem uma forte influência constitucional. Podemos, assim, acreditar que os pressupostos normativos são formas objetivadas do conhecimento jurídico e grandes referências que invocamos nos processos de interpretação e integração do Direito do Consumidor: entenda-se, assim, o conjunto de recursos (valores e normas, princípios e regras) que orientam a resolução de problemas socioeconômicos e jurídicos. A significação dos conceitos propostos não é pacífica. Ora, devido a sua importância teórica e prática privilegiamos uma escala distintiva. 2.1 Pressuposto constitucional A necessidade e busca por uma legislação coerente (ordem normativa: correspondência entre normas superiores, inferiores e colaterais), eficiente (obtenção ou cumprimento dos objetivos: educação para o consumo, tutela efetiva, resolução dos conflitos), eficaz (eficácia social: obediência ou respeito dos destinatários) e capaz de proteger as relações de consumo sempre foi, e ainda é, uma preocupação observada nos diferentes países. Naturalmente, o interesse por resolver os conflitos nascidos das relaçõesde consumo não é um problema exclusivo do Brasil. Diz-se de um problema internacional que não tem fronteiras, pois o consumismo já é parte integrante e determinante de todas as sociedades modernas. Perante essa necessidade, no mundo moderno começou-se a idealizar um sistema de regras jurídicas muito particulares, direitos dos consumidores que hoje vigoram em diferentes países e estendem-se pouco a pouco como um direito necessário para a cidadania. Como concepção primária, o Direito do Consumidor compreendeu, em seus inícios, o direito a) à seguridade; b) à informação; c) à educação; d) à satisfação das necessidades básicas; e) à indenização; f) ao direito de viver em um meio ambiente saudável. Verdadeiramente, essa concepção dialoga com a principíologia constitucional vigente. Destarte, os princípios têm várias funções: informadora, normativa e interpretativa. A função informadora serve de inspiração ao legislador, de fundamento do direito positivado. A função normativa atua como uma fonte supletiva, nas lacunas ou omissões da lei. A função interpretativa serve de critério orientador para os intérpretes e aplicadores da lei[29]. Conforme a doutrina nacional, existem três maneiras de introduzir o Direito do Consumidor. A primeira é por meio do sistema de valores (e direitos fundamentais) que a Constituição Federal de 1988 impôs no Brasil. A segunda é por meio da filosofia de proteção dos mais fracos ou do princípio tutelar (favor debilis), que orienta o direito dogmaticamente, em especial as normas do direito que se aplicam a essa relação de consumo. Essa segunda maneira de introduzir o Direito do Consumidor poderia ser chamada de dogmático-filosófica. A terceira maneira é por meio da sociologia do direito, ao estudar as sociedades de consumo de massa atuais, a visão econômica dos mercados de produção, de distribuição e de consumo, que destaca a importância do consumo e de sua regulação especial. A terceira maneira poderia ser denominada de introdução socioeconômica ao direito do consumidor[30]. Falamos em orientação constitucional ao indicar os fundamentos constitucionais. Nossa Constituição, atenta às tendências da economia mundial, estabeleceu a necessidade da criação de um Código de Defesa do Consumidor. Ao explicar a orientação constitucional do Direito do Consumidor, gostaríamos de lembrar que o Código de Defesa do Consumidor forma parte de um microssistema que unicamente poderá ser compreendido quando conhecidas as normas constitucionais às quais ele está correlacionado. Eis que “as normas constitucionais, além de ocuparem o ápice da “pirâmide jurídica”, caracterizam- se pela imperatividade de seus comandos, que obrigam não só as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou de direito privado, como o próprio Estado”[31]. Com base na ideia de que o ordenamento jurídico brasileiro, visto como um sistema ordenado de direito positivo, considera-se o Direito do Consumidor como um reflexo do direito constitucional de proteção afirmativa dos consumidores (art. 5º, XXXII, e art. 170, V, da CF/88; art. 48 da CF). É nesse sentido que se fala da proteção constitucionalmente, tanto como direito fundamental, como princípio de ordem econômica nacional. Em outras palavras, a Constituição Federal de 1988 é a origem da codificação tutelar dos consumidores no Brasil; pois, no art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, encontra-se o mandamento para que o legislador ordinário estabelecesse um Código de Defesa e Proteção do Consumidor, o que aconteceu em 1990. O Direito do Consumidor seria, assim, o conjunto de normas e princípios especiais que visam a cumprir com este triplo mandamento constitucional: 1- de promover a defesa dos consumidores (art. 5º, XXXII, da CF: “o estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”); 2- de observar e assegurar como princípio geral da atividade econômica, como princípio imperativo da ordem econômica constitucional, a necessária defesa do consumidor (art. 170 da CF: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observando os seguintes princípios [...] V- defesa do consumidor; [...]”); e 3- de sistematizar e ordenar essa tutela especial infraconstitucionalmente por meio de um Código (microcodificação) que reúna e organize as normas tutelares, de direito privado e público, com base na ideia de proteção do sujeito de direitos (e não da relação de consumo ou do mercado de consumo), um código de proteção de defesa do consumidor (art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988: “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”)[32]. Assim, como examinamos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ressaltam-se: a cidadania, a dignidade da pessoa humana os valores do trabalho e da livre iniciativa. (Veja-se artigo 1º da CF). Como ensina Rizzatto Nunes[33], a livre iniciativa não é ilimitada: sempre gera responsabilidade social. Assim, como vemos no art. 170 da CF que trata dos princípios da atividade econômica, o regime é capitalista, logo há livre iniciativa, ele é possível, e aquele que tem patrimônio e condições de adquirir créditos no mercado pode, caso queira, empreender algum negócio. Nesse sentido, calcado na livre iniciativa e no equilíbrio trazido pelo controle do Estado, surgiu o Código de Defesa do Consumidor em nosso país, representado pela Lei 8078 de 11/9/1990. Ora, antes de entrarmos na análise da dogmática do CDC, consideramos necessária a abordagem das normas constitucionais que norteiam sua normativa. Vejamos, pois, os princípios e normas que incidem no sentido e alcance das normas do CDC. Em verdade, a Constituição Federal agrupa vários princípios que são considerados diretivas (ou diretrizes), ou melhor, pressupostos epistemológicos da ordem normativa. Tais princípios expressam-se em forma de proposições que definem o funcionalismo jurídico e que, portanto, vincula o intérprete, ou aplicador do direito, a uma compreensão e sentido social, pois eles orientam a interpretação e aplicação das normas jurídicas em geral. Assim, os princípios constitucionais albergam os valores sociais. Assim, como pressupostos constitucionais, podem ser indicados alguns princípios contidos na Constituição Federal, aqueles que guardam relação direita com o Direito do Consumidor. Vejamos: a) Artigo 1º: Cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores do trabalho e da livre iniciativa. b) Artigo 3º: Construção de uma sociedade livre, justa e solidária, desenvolvimento nacional, erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais, promoção do bem de todos, sem preconceitos de origens, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de discriminação. Veja-se a Constituição Federal - Arts. 1º, 3º, 5º - XXXII, 170 V, 173 e 180; 48 das Disposições Transitórias. (1. Direitos e garantias individuais: a) Soberania; b) Dignidade; c) Liberdade; d) Justiça; e) Solidariedade; f) Isonomia; g) Vida; h) Intimidade, vida privada, honra e imagem; i) Informação. 2. Quanto à atividade Econômica: j) eficiência; k) publicidade; l) indenização por danos materiais e morais. Conclui-se que tais princípios são aqueles que afetam mais diretamente o Direito do consumidor e estão destinados a realizar outros tantos direitos e garantias fundamentais[34]. 2.2 Pressuposto infraconstitucional Em setembro de 1990, aprovou-se o Código de Defesado Consumidor, que entrou em vigor em 11 de março de 1991. Igualmente, a Associação Civil de Consumidores IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor com sede em São Paulo (entidade não governamental, sem fins lucrativos), desempenhou e ainda desempenha um papel importante na defesa dos interesses do consumidor brasileiro. Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: [...] (Grifo nosso) É igualmente interessante verificar a relação existente entre as normas do Código de Defesa do Consumidor Brasileiro e outras normas de igual ou maior hierarquia jurídica, para julgar, principalmente, se essas normas correspondem- se com o conteúdo das normas constitucionais. Igualmente, revela-se, entre outras coisas, que a maior parte dos danos e conflitos jurídicos derivados das relações de consumo em massa não está obtendo uma adequada reparação, devido às razões econômicas, à falta de educação e ao desconhecimento de seus direitos de grande parte da população consumidora, razão pela qual formulamos oportunas considerações. 2.2.1 Fundamentos normativo do Direito do Consumidor O sistema da Lei n. 8.078/90 (lei principiológica), ensina Rizzatto Nunes[35], é formado por princípios que hão de ser respeitados pelo intérprete. Porém, antes de ingressarmos no exame do CDC, é necessário que conheçamos as normas constitucionais às quais ele está ligado. É forçoso que se conheçam os princípios constitucionais que conduzem a interpretação do CDC. Nesse sentido, explica o citado autor, “qualquer exame de norma jurídica infraconstitucional deve ser iniciado, portanto, da norma máxima, daquela que irá iluminar todo o sistema normativo. A análise e o raciocínio do intérprete se dão, assim, dedutivamente, de cima para baixo. A partir disso o intérprete poderá ir verificando a adequação e constitucionalidade das normas infraconstitucionais que pretende estudar”. Continua o autor, “é um grave erro interpretativo, como ainda se faz, iniciar a análise dos textos a partir da norma infraconstitucional, subindo até o topo normativo e principiológico magno”[36]. Observamos que a afirmativa anteriormente citada retrata a interpretação principiológica muito comum nos sistemas de direito onde predomina o positivismo jurídico. Em verdade, existe uma evidente correlação entre os princípios constitucionais que orientam a atividade econômica e a normativa infraconstitucional. Tal correlação torna-se evidente na leitura do artigo 1º do CDC: “O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts 5º, inciso XXXII, 170, inciso V da CF e art. 48 de suas Disposições Transitórias”. Para fundar os direitos dos consumidores, a política nacional de proteção ao consumidor pauta-se por princípios específicos, a saber: a) reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; b) proteção efetiva do consumidor; c) harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo; d) boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; e) educação e informação de fornecedores e consumidores etc. “In verbis”: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor [...], sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos; VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo. Em suma, da análise constitucional e infraconstitucional, observa-se, de um lado, a eficácia vertical dos direitos fundamentais, isto é, a eficácia entre o Estado e o consumidor dos direitos fundamentais, ou nas relações privadas, e a chamada eficácia horizontal dos direitos fundamentais, entre um consumidor e as empresas, eficácia dos direitos fundamentais nas relações (contratuais e delituais) entre sujeitos de direito privado. Nesse sentido, a CF de 1988 serve de centro valorativo, centro sistemático-institucional e normativo do direito privado, um direito moldado pela ordem pública constitucional e limitado e consubstanciado pelos direitos fundamentais[37]. 2.2.2 Fundamentos normativo do Direito Imobiliário Abordaremos a seguir o fundamento normativo do Direito Imobiliário mais relacionado ao Direito do Consumidor. Pois bem, as normas do Direito Imobiliário disciplinam diversas questões concretamente relacionadas ao regime dos bens imóveis. Contudo, as variadas leis que conformam o Direito Imobiliário regulam, por exemplo, o condomínio, a locação, o sistema financeiro etc. Vejamos, a seguir, as que mais se vinculam ao Direito do Consumidor. a) Código Civil (Lei nº 10.406/2002); b) Lei nº 4.591/64: Disciplina o condomínio. (Especificamente no relacionado às incorporações imobiliárias, não contemplada no Código Civil de 2002); c) Lei nº 8.245/91 (Disciplina as Locações); d) Lei nº 4.380/64 (Disciplina o Sistema Financeiro da Habitação); e) Lei nº 6.015/73 (Disciplina os Registros públicos); f) Lei nº 4.591/64 modificada pela Lei nº 10.931/2004 (Disciplina a incorporação imobiliária). g) Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) (Disciplina os direitos dos consumidores oriundos do contrato imobiliário). 2.2.3 Diálogo das fontes Não devemos conceber o Direito Imobiliário desvinculado do Direito do Consumidor. Diante das considerações até agora expostas, podemos concluir que existe um diálogo entre o Direito do Consumidor e a legislação civil (Código Civil) e imobiliária anteriormente elencadas. Certamente, existe uma função de complementariedade entre essas legislações. O entendimento disso tem como premissa a ideia de que a tutela das relações jurídicas constituídas no mercado imobiliário, oriundas da contratação em massa e dos denominados contratos de adesão, parte da concepção delas como relação de consumo. 2.2.3.1 Código de Defesa do Consumidor e Código Civil Brasileiros Evidentemente, no marco do Direito Privado, subsistem e vigoram ambos os instrumentos jurídicos:o CDC e o CC. Por esse motivo, importante é definir seu grau de coexistência e aplicação no campo das relações privadas ou privatistas; pois, como será estudado, a relação de consumo tem uma peculiaridade específica que a torna diferente das outras relações jurídicas, fundamentalmente daquela relação contratual (civil) estabelecidas entre pessoas naturais ou físicas. Conforme ensinamentos de Sérgio Cavalieri[38], o objetivo principal do CDC não é desequilibrar a balança em favor do consumidor, mas sim harmonizar os interesses de ambos. Nisso, continua o nosso autor, consiste o princípio da equivalência contratual, núcleo dos contratos de consumo; esse é o ponto de partida para a correta aplicação do CDC. Usa-se a expressão “dialogo das fontes” para alertar acerca da necessidade de uma aplicação coerente das leis de direito privado, coexistentes no sistema, procurando assim uma eficiência não só hierárquica, mas funcional do sistema plural e complexo de nosso direito contemporâneo, a evitar a “antinomia”, a “incompatibilidade” ou a “não coerência”[39]. Diálogo porque, no processo de integração normativa, precisamos verificar a aplicabilidade a caso concreto, determinando a correspondência e evitando a incongruência normativa, respeitando, assim, a lógica deôntica ou deontológica que há de vigorar no próprio sistema. Isso porque, com muita frequência, verificamos conflitos de leis ou dilemas principiológicos e também normativos. Assim, por exemplo, afirma Claudia Lima[40], uma lei anterior, como o CDC de 1990, e uma lei posterior como o CC de 2002, estariam em “conflito”: daí a necessária “solução” do “conflito” por meio da prevalência de uma lei sobre a outra e a consequente exclusão da outra do sistema (ab-rogação, derrogação, revogação). Dessa forma, continua a citada autora, três são os tipos de “diálogo” possíveis entre essas duas importantíssimas leis da vida privada: 1) na aplicação simultânea das duas leis, uma lei pode servir de base conceitual para a outra (diálogo sistemático de coerência), especialmente se uma lei é geral e a outra especial, se uma é a lei central do sistema e a outra um microssistema específico, não completo materialmente, apenas com completude subjetiva de tutela de u grupo da sociedade; 2) na aplicação coordenada das duas leis, uma lei pode complementar a aplicação da outra, a depender de seu campo de aplicação no caso concreto (diálogo sistemático de complementaridade e subsidiariedade em antinomias aparentes ou reais), a indicar a aplicação complementar tanto de suas normas, quanto de seus princípios, no que couber, o que for necessário ou subsidiariamente; 3) ainda há o diálogo das influências recíprocas sistemáticas, como no caso de uma possível redefinição do campo de aplicação de uma lei (assim, por exemplo, as definições de consumidor stricto sensu e de consumidor equiparado podem sofrer influências finalísticas do Código Civil, uma vez que esta lei vem justamente para regular as relações entre iguais, dois iguais- consumidores ou dois iguais-fornecedores entre si – no caso de dois fornecedores, trata-se de relações empresariais típicas, em que o destinatário final fático da coisa ou do fazer comercial é um outro empresário ou comerciante [...]. É a influência do sistema especial no geral e do geral no especial, um diálogo de double sens (diálogo de coordenação e adaptação sistemática). De qualquer forma, lembramos que a aplicação normativa a um caso concreto, mesmo que no Direito Privado vigore a boa-fé e a função social da propriedade (princípios), o CDC é lei prioritária e o CC é lei subsidiária. O CC é uma lei para as relações jurídicas entre pessoas naturais ou entre empresas que, teoricamente, estão situadas no mesmo plano de igualdade. O CC aplica-se, excepcionalmente, quando expressamente assim o prevê ou assim é prescrito para regular, por analogia, contratos atípicos. Assim, por exemplo, várias são as formas de aquisição da propriedade imóvel reguladas pelo Código Civil de 2002, previstas no Capítulo II, do Título III, do Livro III (Parte Especial), a saber: a) Por meio da usucapião, aquisição da propriedade pela posse prolongada e cumprindo os requisitos prescritos no Código Civil. CAPÍTULO II Da Aquisição da Propriedade Imóvel Seção I Da Usucapião Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2o O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. Art. 1.241. Poderá o possuidor requerer ao juiz seja declarada adquirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel. Parágrafo único. A declaração obtida na forma deste artigo constituirá título hábil para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé. Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião. b) Pelo Registro do Título. Diz-se do modo mais comum de aquisição de imóveis. Refere-se à inscrição do contrato no Cartório de Registro do lugar do imóvel. Seção II Da Aquisição pelo Registro do Título Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. § 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo.
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