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1 Universidade Federal do Oeste Do Pará Instituto de Ciências da Educação Programa de Pós-Graduação em Educação Mestrado Acadêmico em Educação RELATÓRIO ANALÍTICO DA DISCIPLINA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Núbia dos Santos Oliveira Relatório apresentado como requisito parcial para obtenção de conceito e aprovação na Disciplina Pesquisa em Educação, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), sob a responsabilidade do Prof. Dr. Luiz Percival Leme Brito. Santarém – PA 2018 2 INTRODUÇÃO Trata o presente relatório analítico de uma narrativa aprofundada acerca das aulas realizadas no âmbito da disciplina Pesquisa em Educação, ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Percival Leme Britto, como disciplina obrigatória para o 1º semestre do Mestrado Acadêmico em Educação/PPGE/UFOPA, para a turma ingressante em 2018. O mesmo objetiva a exposição detalhada das considerações, debates, análises dos textos de estudos, com observações pertinentes aos pontos de convergência entre eles, que foram abordados e discutidos ao longo da realização da disciplina, no período de 21 de março a 27 de junho de 2018. O mesmo está estruturado a partir de cada unidade de ensino, por entendermos que tal formato melhor se adequa aos objetivos propostos, tanto para as análises dos textos de estudo, quanto do próprio trabalho desenvolvido em sala de aula pelo docente. Considerando a riqueza das discussões ocorridas em sala, as indagações respondidas durante o estudo e discussão dos textos, julgamos ser de extrema importância o aprofundamento e detalhamento do presente relatório, haja vista que todas as reflexões oriundas do curso foram e são de grande relevância para a formação acadêmica e profissional dos mestrandos e, futuramente dos novos profissionais que estarão sendo formados e lapidados durante os 2 anos de vivência no mestrado em educação da Ufopa. Por esta razão, a opção por um relatório com nível de detalhamento mais robusto, e, portanto, um pouco mais extenso, justifica-se pela importância dada aos conceitos, conteúdos, análises, ponderações e argumentações feitas pelo Prof. Dr. Percival Britto, as quais contribuíram de maneira singular para a compreensão da nossa missão enquanto estudantes de pós- graduação. Importante observar que, com relação aos objetivos propostos para a disciplina em questão, as contribuições compartilhadas pelo professor foram de grande impacto em nosso aprendizado, uma vez que trouxe novas perspectivas para olhar o campo da pesquisa em educação sob um novo prisma, de cunho bastante agregador e, por que não dizer, inovador também, considerando o nível de aprendizado em conhecimento que trouxemos da graduação. 3 Outro aspecto digno de nota, o qual foi tratado durante o curso, diz respeito aos princípios de ética e conduta científica, os quais foram trabalhados na unidade 2 da disciplina. Os textos e conteúdos trazidos para a discussão serviram de alicerce e guia para a construção de nossos projetos de pesquisa, que após a realização da disciplina certamente terão novas proposições e formatações, no sentido de que o mesmo esteja em consonância com os princípios das boas condutas científicas, bem como a realização do próprio trabalho de campo a ser conduzido em breve. Para a unidade 3, ao se trabalhar as questões de teoria e método na pesquisa em educação, uma ressalva feita pela autora Alves-Mazzotti e que deve ser um constante exercício de reflexão em nossa missão enquanto pesquisadores, diz respeito à nossa responsabilidade diante de todos os aspectos apontados por ela no que tange aos processos de produção das pesquisas, a qual não pode ser minimizada, sendo que não podemos abrir mão de estarmos compromissados com a produção de conhecimento confiável, pois somente dessa maneira estaremos contribuindo, tanto com o desenvolvimento de instrumental teórico no campo da educação, quanto na busca pelo rigor e relevância das pesquisas, que também se configura como uma meta política, e não somente científica. Ao tratar sobre a caracterização, possibilidades e exigências da pesquisa qualitativa em educação, a partir das abordagens presentes nos textos de Menga Ludke e Marli André, Alves-Mazzotti e Lígia Martins, pode-se perceber a preocupação das pesquisadoras com a falta de rigor nas pesquisas em educação, centrando-se na questão da transferibilidade dos conhecimentos produzidos e aplicabilidade na área da educação, e alertam para nossa responsabilidade enquanto pesquisadores com a produção do conhecimento, primando sempre pela busca do rigor nas pesquisas que a nós compete. Na unidade 5, a partir dos textos de estudo de Marli André e Alves-Mazzotti, foi possível adentrar mais profundamente nas abordagens sobre o estudo de caso na educação, definição, suas características fundamentais, além de ver o assunto sob outra ótica, como nos casos onde seu uso se dá de forma indiscriminada, discutindo- se critérios de sua aplicabilidade ou não no campo da educação. Para a unidade 6, foram discutidos a caracterização e problematização da pesquisa-ação, pesquisa-intervenção e pesquisa-participante, seu quadro conceitual, diferenciações e aproximações, a partir dos textos de Carlos Rodrigues Brandão, Maria Amélia Franco e Michel Thiollent, por meio dos quais foi possível traçar as 4 possibilidades de aplicação dessas metodologias, bem como a compreensão das possibilidades que a pesquisa-ação nos fornece na produção de conhecimentos no/com/para o professor protagonista, como assim denomina Franco (2016), de modo que todas os textos desta unidade apresentam-nos uma postura epistemológica, ou seja, uma forma de compreender o mundo e a realidade, de modo que se atue para produzir conhecimento sobre essa realidade. Muito interessante a temática trazida para unidade 7, cujo teor abordava as contraposições e complementaridades da perspectiva qualitativa x perspectiva quantitativa, tomando como ponto de partida as discussões trazidas por Alceu Ferraro e Bernadete Gatti, a partir dos quais foi possível compreender o nome epistemológico correto para esse tipo de abordagem, qual seja, a pesquisa focal ou pontual. Para a última unidade de estudo, discutiu-se sobre a produção dos dados em pesquisas educacionais, na qual pode-se ter clareza quanto a atenção necessária na qualidade dos dados da pesquisa, sendo primordial ter certeza sobre os tipos de dados que se deseja produzir para que se possa ter clareza do caminho que se pretende trilhar para que se consiga produzir uma pesquisa com qualidade e confiabilidade no que se refere à transferibilidade dos conhecimentos produzidos por esta. Por fim, a partir dos estudos realizados no âmbito da disciplina pesquisa em educação, foi possível perceber o quão distante estávamos do mundo das pesquisas sistemáticas, organizadas, estruturadas, que tenham como base uma concreta fundamentação teórica, com a aplicação coerente dos métodos e técnicas de pesquisa e produção de dados, de modo que a produção do conhecimento em nossas pesquisas estejam alinhadas às proposições teóricas e epistemológicas adotadas com consciência e clareza, de modo que possamos ser capazes de realizar pesquisas com qualidade e que tragam, de fato, contribuições para a produção do conhecimento, seja em nível local ou nacional. 5 UNIDADE 1 O LUGAR DA PESQUISA NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 6 RELATÓRIO ANALÍTICO DA DISCIPLINA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Encontro 1 – 21 de Março de 2018 Unidade 1 – O Lugar da Pesquisa na Produção do Conhecimento Atividades previstas para a aula: Apresentação de PPT - Ciência, Conhecimento e Pesquisa emEducação – Prof. Dr. Luiz Percival Leme Brito; Orientação das tarefas e obrigações discentes; 1. Comentários introdutórios A primeira aula da disciplina Pesquisa em Educação foi realizada no dia 21 de março de 2018, com início às 08h30min, na sala H301, do Campus Rondon da Universidade Federal do Oeste do Pará, para a turma de 2018 do PPGE – Mestrado em Educação. Para a aula inicial, o prof. Dr. Luiz Percival Leme Britto utiliza a apresentação de power point (slides) com o tema: “Ciência, Conhecimento e Pesquisa em Educação”, os quais utilizam como referências, as bibliografias rigorosamente selecionadas para os estudos no âmbito da disciplina. As discussões iniciais e questões problematizadoras apresentadas pelo docente, logo na primeira aula, nos levaram a refletir sobre o papel da pesquisa, especialmente, da pesquisa em educação, para a produção do conhecimento e para o progresso da ciência, haja vista que, segundo Britto (2018), a Educação pode ser concebida como ciência, a partir de uma visão mais ampla da mesma, como sendo: “toda disciplina que se constitui em torno de uma ordem de conhecimento, determinado e específico, que implica o estabelecimento de fronteiras relativamente definidas e identificadas, que conseguem estabelecer conteúdos circunscritos e estabelecidos, que produzem determinados paradigmas, modelos ou padrões que constituem as suas teorias essenciais, e que, finalmente, constrói uma identidade tal que são reconhecidas como um campo específico de produção de conhecimento, e tem um grupo de seguidores que se diz ‘fazedor’ daquilo”. Nesse aspecto, é importante destacar, ressalta Britto, que tal conceito carrega, em sua essência, uma base muito mais sociológica que filosófica de ciência. Portanto, toda vez que alguém se identifica e autodenomina como sendo um “educador”, está se construindo uma ciência. 7 2. Principais conceitos e teorias apresentadas As questões problematizadoras trazidas à baila no primeiro encontro da disciplina, foram muito relevantes para a compreensão da temática que envolve o campo da Educação, mais especificamente, na produção da Pesquisa em Educação, uma vez que, fez-se necessário delimitar e perceber a não coincidência entre Ciência e Conhecimento, ficando claro que existem dimensões do conhecimento humano, ainda que sistematizadas e organizadas, que não podem ser concebidas como ciência. Nesse sentido, importante ter sempre em mente que a ciência é apenas uma faceta do conhecimento, bastante significativa, mas que não corresponde à totalidade do conhecimento humano. Importante destacar, ainda no contexto das multifacetadas dimensões do conhecimento humano, que existem pelo menos outras 5 (cinco) dimensões do conhecimento humano que não passam pela ciência, com destaque para as Artes e para a Fé, as quais muito pouco tem a dizer no diálogo com a ciência. Assim, é válido lembrar que a própria ideia de Educação como ciência é algo que tem ganhado bastante espaço no âmbito das discussões científicas e acadêmicas. Assim entendida como “prática, conhecimento objetivo acumulado no próprio fazer”, a educação não estaria incluída como ciência. No entanto, do ponto de vista mais rigoroso de se conceituar ciência, dizer que a Educação não é ciência se configura apenas como uma forma de entender processos, pois, na medida que se alarga o conceito de ciência, esta é sim concebida como tal. Outra questão que muito nos chama atenção para o campo da pesquisa em Educação, diz respeito à abertura de espírito, necessária para se fazer ciência. Adorno (1995) chama atenção especial para esse aspecto ao discutir a formação e a atividade intelectual dos professores. Assim diz ele: Onde falta a reflexão do próprio objeto, onde falta o discernimento intelectual da ciência, instala-se em seu lugar a frase ideológica; (...) nesta aliança entre a ausência pura e simples de reflexão intelectual e o estereótipo da visão de mundo oficialista delineia-se uma conformação dotada de afinidades totalitárias. Hoje em dia o nazismo sobrevive menos por alguns ainda acreditarem em suas doutrinas — e é discutível inclusive a própria amplitude em que tal crença ocorreu no passado — mas principalmente em determinadas conformações formais do pensamento. Entre estas enumeram-se a disposição a se adaptar ao vigente, uma divisão com valorização distinta entre massa e lideranças, deficiência de 8 relações diretas e espontâneas com pessoas, coisas e ideias, convencionalismo impositivo, crença a qualquer preço no que existe (p. 62). Outro ponto importante discutido na primeira aula, cujo texto da autora Alves-Mazzotti foi aprofundado no encontro do dia 18 de abril, refere-se à produção do conhecimento científico como sendo um processo de produção coletiva. A autora nos chama atenção para a necessidade de estarmos aberto ao conhecimento, a sermos vigilantes do senso comum e do senso de acomodação, tão presentes nas pesquisas atuais, além de primarmos pela busca de uma pesquisa que apresente caráter universal e que contribui para o conhecimento de forma mais ampla. Para isso, faz-se necessário que a pesquisa seja de caráter coletivo e mais encaixada possível no âmbito nacional e internacional. Ainda nas discussões sobre a produção do conhecimento, a indagação sobre a razão de se produzir conhecimento foi objeto de nossa reflexão, uma vez que “o conhecimento humano está diretamente ligado a uma certa ordem histórico-social definida” (Britto, 2018). Assim, resta-nos claro que o conhecimento está intimamente ligado à existência humana, uma vez que ao produzir a própria existência por meio da ação, das formas de produção, de maneira consciente, planejada e intencional, é que o homem produz conhecimento e dele se apropria, para novamente reproduzir novas formas de existência, que por sua vez, determinam as novas formas de conhecimento e assim sucessivamente, num ciclo de vital importância para a perpetuação da espécie humana na história. A cultura, portanto, é fruto desse processo histórico-social. Cabe ressaltar ainda que, tal processo de produção do conhecimento, do ponto de vista dialético da história, é o responsável pelo processo criativo humano, que se materializa por meio das indagações, da contradição, das necessidades ontológicas, dos conflitos, sendo então nesse contexto que se faz a intervenção na história. Portanto, é preciso ter disposição para a produção conhecimento, ou seja, ter “abertura de espírito para perguntar e aprender”. É no enfrentamento das situações inusitadas que nos abre a possibilidade de produzir conhecimento, articulando informações oriundas de diversas fontes ao raciocínio investigativo que nos é subjacente. 9 Mas o que é o conhecimento? Essa pergunta se faz pertinente no âmbito da ciência, principalmente quando precisamos ter claro a distinção entre o conhecimento científico e outras formas de conhecimento, para não incorrermos no erro do supervalorizar o particular em detrimento do universal. Essa distinção é uma das questões centrais em Filosofia da Ciência. Assim, a produção de teorias para explicar as questões que permeiam a existência humana é uma das tarefas primordiais das ciências. Nesse sentido, necessário entender como ciência, numa concepção mais restrita e provisória desta como “conhecimento objetivo, verificável e questionável que se tem sobre o funcionamento da natureza”, e isto é conhecimento científico. Assim, nesta definição mais clássica de ciência como sendo “a explicação da natureza” a Educação não é entendida como ciência. Dessa forma, chega-se na questão-problema da ciência moderna, que é o problema da demarcação, ou seja, dizer o que é e o que não é concebido como ciência, ter critérios claros, rigorosos e objetivos para determinar o que se configura ou não como ciência. Ainda que para a Educação nãoseja tão relevante ter claros esses critérios, essa tarefa se faz pertinente para não correr o risco de inclui-la no campo das “pseudociências”. Outra reflexão importante para esse nosso relatório de estudo, ainda no âmbito dos critérios de cientificidade, é que não basta somente dizer que algo funciona para que este se torne legítimo fazer científico, uma vez que o próprio critério de funcionamento é objeto de discussão e, portanto, não confiável do ponto de vista do fazer ciência. Foram apresentados os diversos conceitos de ciência ao longo da história, bem como sua evolução, a partir do séc. XVIII até os dias atuais. Nesse aspecto, a primeira grande evolução na conceituação de ciência foi a própria separação entre ciência e filosofia. Devido ao não ajustamento de algumas ciências ao modelo de ciência proposto pela física, daí a necessidade de fazer distinção entre as ciências humanas e as ciências naturais, uma vez que dentro das ciências humanas, há uma importante diferença em relação às ciências da natureza que diz respeito às suas características enquanto objeto empírico verificável e delimitável, permitindo, inclusive universalizações, como é o caso da Sociologia e da Antropologia, construindo um modelo de ciência razoavelmente equilibrado. 10 Retornando para as reflexões sobre Educação enquanto ciência, resta- nos claro que, na medida em que esta possui objeto e fronteiras bem delimitadas, em que adquire uma identidade e um corpo de seguidores, é que a Educação se constitui como ciência. Nesse aspecto, o conceito de ciência se difunde com o conceito de disciplina, e nesse sentido, dentro do campo da Educação enquanto ciência coexistem campos específicos que também são denominados de ciência, como é o caso da psicologia e da filosofia da educação, da didática, a termodinâmica, a cinética, dentre outras. A partir do problema que se está elaborando, 3 (três) grandes tipos de ciência se põe em evidência: Ciências Naturais, Sociais e Formais. Estas, no entanto, não se constituem homogêneas em si, nem se limitam a denominações tradicionais, podendo pertencer simultaneamente a qualquer uma das três grandes áreas. Mesmo numa visão ampliada de ciência, se faz necessário estabelecer um conjunto de critérios de cientificidade, para não recorrer ao equívoco de confundirmos ciência com atividade, uma vez que essa relação não é tão clara e delimitada. Nesse sentido, Alves-Mazzotti (2001) propõe alguns critérios de cientificidade que precisam estar claros e bem delimitados no âmbito da pesquisa, principalmente daquela que nos diz respeito que é a pesquisa em educação, já que na área das ciências humanas a lógica objetiva não é tão aplicável, justamente porque um dos grandes problemas da educação é o preciosismo quantitativo de crenças existentes, que muitas vezes são tomadas como verdades absolutas, e por essa razão não são testadas nem falseadas como convém, comprometendo inclusive a qualidade do trabalho de pesquisa, e este é um critério importante de cientificidade. Por conseguinte, Alves-Mazzotti apresenta-nos algumas exigências para proposição e realização de pesquisa, cuja investigação deve apontar como questão norteadora alguns critérios indiscutíveis e que se aplicam a qualquer opção conceitual e epistemológica que se adote: Definição/fundamentação teórico-metodológica, pertinência, objetividade, densidade de dados, método, relevância/abrangência/impacto e transferibilidade. 11 3. Reflexões quanto à pertinência da temática e compreensão do tema para a pesquisa individual Diante das proposições e discussões apresentadas até o momento, cabe a nós, mestrandos, enquanto pesquisadores em educação, refletir sobre o nosso papel mediante a questões problematizadoras que nos interpelam na construção do conhecimento, na realização da nossa pesquisa e até mesmo em nossa atuação enquanto profissionais da educação, uma vez que nossa missão maior é nos tornarmos referências pedagógicas em educação na Amazônia e para a Amazônia. Dessa maneira, é imprescindível analisar e compreender os principais problemas verificados na prática de pesquisa, segundo Alves-Mazzotti, para não enredarmos pelos caminhos tortuosos do fazer científico e por fim sucumbirmos nos erros mais comuns cometidos no âmbito da pesquisa. Dentre os erros mais comuns, importante destacar aqueles mais preocupantes e atenuantes, que com certeza comprometem a qualidade do trabalho científico: 1. Esgarçamento do conceito de pesquisa; 2. Descuido teórico-conceitual; 3. Descuido metodológico; 4. Pouca inserção; 5. Irrelevância; 6. Narcisismo investigativo; 7. Modismo; 8. Falta de densidade; 9. Populismo pedagógico; 10. Subjetivismo; irracionalismo; 11. Pulverização; imediatismo; Não é nosso objetivo, para fins do presente trabalho, explorar à exaustão cada um dos problemas elencados pela autora e discutidos em sala de aula com maestria pelo docente da disciplina, mas somente citá-los para que estejam claros em nossa mente o suficiente para não os cometer durante e execução do nosso trabalho de pesquisa. Considerando a importância das discussões e reflexões trazidas para o primeiro encontro da disciplina Pesquisa em Educação, acredita-se que seja de 12 suma importância para a nossa formação enquanto pesquisadores termos sempre em mente as implicações que a compreensão do tema pode trazer à produção de nossas pesquisas, não apenas no âmbito do Mestrado em Educação, mas também para a nossa vida profissional e para a construção da nossa trajetória de pesquisadores como tal. Nesse sentido, compreender os princípios teóricos que norteiam o vasto campo da pesquisa em educação, suas singularidades e condições materiais que a transformam em ciência, é tarefa primordial e essencial para aqueles que se pretendem formar como pesquisadores desse campo, haja vista que dado sua inserção como ciência a partir de uma visão mais ampla desta, é importante que estejam bem definidas e delimitadas as condições, critérios e fronteiras, de forma clara e organizada em nosso fazer. Pensar na pesquisa em educação enquanto práxis do fazer pedagógico é outro aspecto que precisa ser compreendido na busca por uma boa formação docente enquanto mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da UFOPA, cujo objetivo é propiciar condições teóricas, metodológicas e epistemológicas para formação e qualificação de pesquisadores na área da educação. Nesse sentido, importante destacar que, segundo Dalbosco (2014), a pesquisa em educação, em seu sentido mais amplo, tem por finalidade a investigação da experiência formativa que dois ou mais indivíduos inseridos em determinado contexto histórico-social. Dessa forma, a experiência e o saber humano se constituem peça fundamental na ação investigativa, sendo uma questão educacional de primeira ordem estudá-la e constituí-la dentro da própria ação profissional e acadêmica. Essa reflexão deve ser constante e cada vez mais forte em nossa constituição como investigadores, tarefa que se faz singular diante da complexidade de lidar com as questões mais próprias do fazer e saber humano, tarefa primordial no âmbito da pesquisa em educação, no âmbito do fazer científico na educação. O encontro inicial com o campo da Pesquisa em Educação proporcionou reflexões muito pertinentes e norteadoras para a trajetória que estaremos seguindo a partir deste primeiro momento. 13 Durante a aula, foram apresentados ainda a dinâmica do trabalho docente no âmbito da disciplina, quais sejam a produção discente e avaliação, cujo trabalho deverá resultar em:1 – Relatório de estudo, com síntese dos conteúdos trabalhados e comentários analíticos; 2 – Elaboração de acervo de referência de textos para desenvolvimento da pesquisa, por meio da realização de cinco sinopses de artigos científicospara composição de um catálogo comentado sobre pesquisa em educação; 3 – Definição e redação do projeto de pesquisa no âmbito dos grupos de pesquisa/orientação, para entrega de síntese do projeto com parecer e nota dada pelo orientador. Após as formalidades necessárias, o docente procedeu à apresentação e discussão da temática sobre Ciência, Conhecimento e Pesquisa em Educação, conforme detalhamento, análise e reflexões expostas no corpo deste relatório. Por último, mas não menos importante, os conteúdos abordados nesta aula inicial têm estado presente em nosso dia a dia, e não somente por ocasião das aulas da disciplina ministrada pelo Prof. Dr. Percival Leme Britto, mas também no âmbito das demais disciplinas do programa, das discussões nos grupos de pesquisa, na leitura de referenciais teóricos que serão utilizados na pesquisa e, consequentemente, no seu principal produto que é a dissertação. Portanto, grande foi o impacto e a contribuição das discussões trazidas para o encontro, as quais ampliaram significativamente a percepção desta pesquisadora quanto ao seu papel enquanto mestranda, enquanto pesquisadora e enquanto profissional na área de Educação. 14 RELATÓRIO ANALÍTICO DA DISCIPLINA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Encontro 2 – 28 de março de 2018 Unidade 1 – O Lugar da Pesquisa na Produção do Conhecimento Atividades previstas para a aula: ✓ Análise das propostas de pesquisas dos discentes apresentadas no processo seletivo 2018 – apresentação em PPT pelo professor, seguida de debate e esclarecimentos. 1. Comentários introdutórios A segunda aula da disciplina Pesquisa em Educação foi realizada no dia 28 de março de 2018, com início às 08h15min, na sala H301, do Campus Rondon da Universidade Federal do Oeste do Pará, para a turma de 2018 do PPGE – Mestrado em Educação. Para este encontro, o prof. Dr. Luiz Percival Leme Britto fez a abordagem dos seguintes textos de estudo: “O que é filosofia da Linguística? ”, de José Borges Neto e o texto da Zaia Brandão “Indagação e convicção: fronteiras entre a ciência e a ideologia”. Deu-se início ao encontro com a socialização de algumas informações inerentes à própria pesquisa e ser realizada pelos mestrandos, qual seja a realização do Seminário de Dissertação, que acontecerá na primeira semana de Setembro/18. Além disso, mais alguns comentários foram enfatizados pelo professor Percival no que tange às diferenças existentes entre a graduação e mestrado, principalmente no que tange à especialização em determinada área, ou seja, o mestrado prepara o acadêmico para ser um profissional em algo, ou seja, não seremos meros reprodutores de procedimentos esvaziados de finalidade, mas seremos pessoas que sabem fazer críticas, refletir, além de saber produzir ideias e procedimentos. Além dessa observação, outro ponto que já havia sido mencionado na aula anterior e que se faz sempre importante manter em destaque é sobre a característica fundamental do trabalho de pesquisa que é a solidariedade, ou seja, não existe pesquisa ou produção de conhecimento intelectual que se realize sozinho, daí a importância e necessidade dos grupos de pesquisa, que 15 figuram como locus privilegiado da produção de conhecimento, a partir dos pontos em comum sobre o objeto que se pretendem averiguar, pesquisar. Além dessas reflexões, outras foram ponto de destaque na parte inicial da aula, que é a indagação que devemos fazer a nós mesmo a respeito do nosso problema de pesquisa e da sua relevância para o conhecimento, uma vez que a pesquisa se torna relevante a partir do momento que se estabelece a relação entre o particular e o universal, entre o caso específico e os grandes temas de interesse no debate social. 2. Principais conceitos e teorias apresentadas A partir dessas reflexões iniciais, foi trazido para a discussão o texto da Zaia Brandão, que discute as fronteiras entre a ciência e a ideologia, e sobre o qual iremos iniciar a nossa análise, tendo em vista ter sido este de mais fácil compreensão e aplicação para a pesquisa individual que estamos propondo. A autora situa Ciência e Ideologia em dois domínios distintos – o da indagação e o da convicção, cuja definição se configura num caráter mais normativo que descritivo, e, portanto, mais deontológico que ontológico. No entanto, a mesma ressalta a dificuldade de traçar claramente as fronteiras entre ambos, preferindo, no presente ensaio, manter o distanciamento entre os dois constructos. No entanto, tal definição apontada pela autora apresenta duas problematizações: a primeira delas é que transforma a filosofia em ideologia, uma vez que a filosofia é do campo da convicção. O segundo é que situa a ideologia numa visão fraca e insuficiente para a mesma. Nesse sentido, o professor argumenta que a “a ideia de ideologia é fundamentalmente o modo como a cultura representa, compreende e percebe a vida concreta. Ela é, portanto, mais do que a realidade em si”. Este é o conceito de ideologia nascido no século XVIII com os ideólogos, sendo que este modo de pensar o mundo, e de perceber o mundo no plano das ideias é que produz a realidade. Em Marx, vemos a evolução deste conceito inicial de ideologia ser transformado em “processo de representação de como a vida é/dever ser, e essas formas de representar são vinculadas ao fazer social humano e são modelos em disputa de maneira a fazer prevalecer uma forma de perceber a realidade” (Britto, 2018). Nesse cenário, uma forma se põe dominante pois 16 dispõe dos recursos necessários à sua disseminação e sua configuração como verdade diante da sociedade. Contudo, a grande questão que a autora discute no texto, é de que a ciência é concebida como uma ideia ou princípio passível de verificação, e, portanto, visto como verdade objetiva. Ideologia, por sua vez entendida como convicção, é vista como verdade subjetiva, e, por isso, impossível de ser verificada, comprovada ou negada. Apesar de parecer simples a delimitação entre uma e outra, no campo das ciências humanas essa distinção não é tão clara e precisa. No texto de estudo, a autora centra sua atenção especificamente para a ciência, definindo alguns de seus parâmetros, o que, segundo a mesma, delinearia os limites do fazer ideológico no âmbito da produção do conhecimento. Para Zaia, existem um conjunto de critérios que determinam o que é fazer ciência, os quais são um conjunto de princípios e critérios que guiam as investigações. Segundo ela, essas regras que orientam e demarcam o modus operandi do jogo científico não são imutáveis, uma vez que são determinadas pelo fluxo da história e dos contextos nos quais se insere. Deste modo, é no âmbito do próprio fazer científico que se desenvolvem as regras e limites que são propostas pelos próprios jogadores, ou seja, pelos próprios cientistas. Borges, no entanto, alerta para o que parece ser uma tentativa frustrada de estabelecer critérios de cientificidade que caracterizem, em linhas gerais, o conhecimento científico dos demais tipos de conhecimento, ou seja, estaríamos ai diante do problema da demarcação, isto é, da falta de critérios claros e rigorosos para considerar como ciência determinada atividade. Eduardo Galeano (1998) em “De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso”, citando uma frase escrita anonimamente em um muro na cidade de Quito (Equador) disse: “Quanto tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas”. Essa frase, ilustra perfeitamente o que a Zaia evidencia no texto: “O problema é sempre uma questão pois, se corresponde a uma real indagação, remete a perguntas para as quais não estão formuladas respostas satisfatórias” (2010, p. 852). Portanto, a ideia do conhecimento novo não está em perguntar o que ninguém perguntou, mas em perguntar a mesma coisa de maneira diferente, acrescenta Britto.17 Nesse sentido, segundo Zaia, caso o pesquisador esteja diante de uma pergunta ou problema para o qual já teria as respostas satisfatórias, então este não estaria no campo da indagação, e, portanto, da ciência, mas estaria situado tão somente no campo da convicção, e dessa forma, estaria de diante de um fazer ideológico e não de produção do conhecimento. 3. Reflexões quanto à pertinência para a pesquisa individual e para a compreensão do tema No texto Indagação e Convicção, Zaia Brandão afirma que no campo da educação, alguns problemas têm sido muito frequentes, uma vez que o desejo de intervenção muitas vezes se sobrepõe ao objetivo da indagação. Nesse sentido, aponta o que, segundo ela, seriam os principais problemas e desafios para a pesquisa em Educação, sobre os quais falaremos brevemente, no intuito de aplicar suas proposições à própria prática de pesquisa no âmbito do Mestrado em Educação. A falta de clareza entre indagação e convicção acaba gerando certa ambiguidade entre ciência e política. Além disso, o fato de ser a educação um campo multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar, compromete e dificulta a própria definição do que é o campo da educação. Outro problema da pesquisa em educação, segundo Zaia Brandão, é a rápida adesão às explicações impressionistas e empiristas, que demonstra a fragilidade teórico-metodológica que deriva do pouco conhecimento das lógicas específicas, disfarçando a utilização do sendo comum como base para o raciocínio. Outro problema muito frequente do campo de pesquisa em educação, é a supervalorização do teórico em detrimento à própria prática de pesquisa, o que têm aberto muitas portas para os modismos em pesquisa educacional, mascarados por justificativas frágeis como: dar voz aos sujeitos, representações sociais por meio da transcrição literal de entrevistas, dentre outras que apenas servem de escória para práticas de pesquisa que procuram simplesmente justificar orientações às políticas educacionais ou amparar profilaxias pedagógicas. Ainda, considerando a importância das discussões e reflexões trazidas para este segundo encontro da disciplina Pesquisa em Educação, que por 18 serem questões bastante polêmicas merecem destaque especial em nossa análise, e é relevante a discussão nesse momento. Uma dessas questões que a autora aponta como agravantes e que se derivam das políticas acadêmicas, é o princípio da indissociabilidade ensino/pesquisa. A autora faz crítica a um grande movimento conceitual importante no campo da educação, que é a figura do professor-pesquisador. Segundo ela, o exercício do binômio ensino/pesquisa pelos docentes, como imposição da legislação educacional, resulta em arremedos, ora do ensino, ora da pesquisa no mundo acadêmico. Outro agravante, é a proliferação dos cursos de pós-graduação para responder à demanda de titulação de docentes, imposto pelo Sistema Capes, que acaba por transformar os pesquisadores de ofício em maquinas de produção e consequentemente, em maus professores. Outro ponto importante na pesquisa em educação é o que ela chama de mito da originalidade da tese de doutorado. Novamente a autora enfatiza que a fazer ciência com seriedade pressupõe a realização de um trabalho em equipe, e que é questionável a atribuição de significado à busca pela originalidade a todo custo no campo da pesquisa. Ela acrescenta que “ uma revisão bibliográfica, densa e pertinente para a pesquisa, só se produz na continuidade do debate e do estudo coletivo” (BRANDÃO, 2010, p. 855). Por esses e outros equívocos, a pesquisa em educação têm se distanciado e transgredido as fronteiras que deveriam distanciar ciência de ideologia, ainda que descrever tais fronteiras não seja tarefa fácil, como foi aclarado do início desta análise. Diante da exposição em sala de aula e tendo como base a leitura dos textos de estudo selecionados para o segundo encontro da disciplina, se faz importante uma análise final, no entanto, não conclusiva, acerca dos temas propostos tanto por José Borges Neto quanto pela Zaia Brandão, no sentido de tornar ainda mais aplicável ao nosso trabalho de pesquisa os pressupostos, problematizações e pontos de vista defendidos pelos autores. Assim, de maneira geral, as discussões em sala de aula bem como a análise dos textos nos levaram a repensar nosso papel no âmbito da produção científica, principalmente se tratando do campo da pesquisa em educação. 19 Primeiramente, a tarefa de definir o que é ciência se mostra bastante difícil, ao mesmo tempo em que se apresenta como a mola propulsora para a investigação no campo da filosofia da ciência, a qual, mesmo não propondo uma caracterização elucidativa, permite a pormenorização das questões a serem respondidas de modo que a compreensão geral das questões seja o mais viável possível. Apesar do objetivo do autor, ao construir o texto “O que é filosofia da linguística”, ter sido trazer para campo da linguística as discussões sobre filosofia, ciência, filosofia da linguística, entre outras questões pertinentes ao campo da investigação em ciências, o mesmo leva à tona muitas outras reflexões que podem ser compartilhadas, discutidas e compreendidas em qualquer que seja a área da ciência, permeando questões problemáticas como métodos, problemas, ética, epistemologia, tanto nas ciências de modo geral, como em áreas específicas de investigação como matemática, física, biologia, psicologia, ciências sociais e da linguística, e por que não dizer, no campo da educação. Outra questão muito relevante na compreensão da temática sobre o lugar da pesquisa na produção do conhecimento, foram as proposições de Zaia Brandão no que tange à distinção entre ciência e ideologia, entre o domínio da indagação e da convicção, uma vez que é de extrema importância que saibamos identificar as fronteiras entre um conceito e outro, principalmente em se tratando da pesquisa em educação, por meio do exercício da auto objetivação mencionado por Brandão como sendo o permanente controle sobre as motivações da pesquisa, sobre a posição epistemológica, bem como sobre a problematização e os objetivos que se busca atingir por meio da pesquisa, haja vista a grande disseminação no campo da educação, dado a complexidade e volume de problemas a enfrentar, que o desejo de intervenção se torne mais pujante que o próprio objetivo da investigação, conforme aponta a autora, e que são um dos grandes problemas e desafios a serem enfrentados para a realização de uma boa pesquisa em educação, como é o nosso objetivo. Portanto, compreender essas questões se faz missão primordial para nós enquanto pesquisadores da educação, e a leitura e conhecimento dos textos pôde contribuir de maneira significativa para os primeiros passos na busca pela objetividade, pertinência, criteriosidade, posicionamento teórico- 20 metodológico e epistemológico coerente e consistente, além de não esquecer do caráter coletivo das pesquisas que as tornam densas e pertinentes, e principalmente, entendendo que deve haver uma constante e relevante relação entre o particular e o universal, entre o caso específico e o caso geral, produzindo assim uma pesquisa de qualidade inquestionável e devidamente produzida dentro dos mínimos critérios de cientificidade exigido para o campo das ciências maduras. 4. Referências Bibliográficas para a Unidade 1 BORGES NETO, José. O que é filosofia da Linguística? (Tradução e adaptação da introdução a What is the Philosophy of Science? de Hitchcock, C. (ed.) Contemporary debates in Philosophy of Science, Malden, MA: Blackwell, p. 1- 19, 2004). Disponível em: https://docs.ufpr.br/~borges/publicacoes/ traducoes/FilosLing.pdf. BRANDÃO, Zaia. Indagação e convicção: fronteiras entre a ciência e a ideologia. Cadernos de Pesquisa, vol.40, n.141, p. 849-856, set./dez. 2010.21 UNIDADE 2 ÉTICA E CONDUTA CIENTÍFICA 22 RELATÓRIO ANALÍTICO DA DISCIPLINA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Encontro 3 – 04 de abril de 2018 Unidade 2 – Ética e conduta científica Atividades previstas para a aula: ✓ Apresentação de PPT – O plágio na ciência, Kalina Manabe Brauko. Disponível em: http://ppgoceano.paginas.ufsc.br/files/2016/06/O- pl%C3%A1gio-na-ci%C3%AAncia.pdf. ✓ Definição de parâmetros de conduta científica 1. Comentários introdutórios O terceiro encontro da disciplina Pesquisa em Educação foi realizado no dia 04 de abril de 2018, com início às 08h15min, na sala H301, do Campus Rondon da Universidade Federal do Oeste do Pará, para a turma de 2018 do PPGE – Mestrado em Educação. Para este encontro, o prof. Dr. Luiz Percival Leme Britto realizou a apresentação de power point (slides) com o tema: “O plágio na ciência”, de autoria da pesquisadora Kalina Manabe Baruko, além da abordagem dos seguintes textos de estudo: 1. “Reflexividade como ethos da pesquisa qualitativa”, de Maria Cecília de Souza Minayo; 2. “Más condutas científicas – uma abordagem crítico-comparativa para in-formar uma reflexão sobre o tema”, de Murilo Mariano Vilaça; e 3. “Espaço aberto: o mal-estar na academia – produtivismo científico, o fetichismo do conhecimento-mercadoria”, de Eunice Trein. O Professor inicia a aula fazendo a abordagem de dois conceitos muito recentes no âmbito da investigação científica, os quais são muito úteis, tanto para nossa reflexão, quanto para a análise que estamos fazendo sobre a temática “Ética e conduta científica”. Trata-se, portanto, dos conceitos de Boas e Más condutas no campo da ciência. Tais conceitos, ao mesmo tempo descritivo e normativo, pois da mesma maneira em que descrevem quais seriam as más condutas, eles também estabelecem o que seriam as boas condutas. 23 Mesmo tendo uma relação direta com a questão da ética, as boas e más condutas não devem ser confundidas com esta, nem tampouco com a obediência cega a determinados procedimentos estabelecidos pelos comitês, ainda que estes sejam muito importantes para a regulamentação, coordenação e acompanhamento da pesquisa acadêmico-científica. Essa advertência se faz relevante devido à grande tendência que temos de seguir protocolos previamente delimitados, e ainda porque a questão da ética é muito mais uma questão de fundamento que de caráter protocolar, e, portanto, é algo primordial tanto na vida das pessoas, quanto na atividade acadêmica, intelectual e pedagógica que diz respeito a todos nós. Vilaça faz uma série de advertências importantes com relação à questão da ética e do que se entende quando se fala em ética. Um dos pontos importantes que ele traz para nossa reflexão é sobre o caráter social, cultural e político. Nesse sentido, ele aponta que há uma certa inviabilidade de explicar a ética do ponto de vista individual, particular ou transcendental de pessoas em sua individualidade, haja vista que o homem é um ser social, que se produz e se torna homem por meio das relações que estabelece com a história, com os demais homens, com o meio em que vive. Minayo (2014), por conseguinte, estabelece uma reflexão sobre a ética no âmbito da pesquisa antropológica e qualitativa, ela alerta que é preciso ter em mente que, apesar da normatividade e protocolos existentes no campo científico, o mesmo é permeado por questões conflituosas e contradições, e que o sentido ético das pesquisas nessas áreas é dado pelo seu caráter humanístico, inter-relacional e empático. Daí a preocupação ser mais relevante nesses campos de pesquisa, dado a exigência ser ainda maior para um comportamento ético do pesquisador, tanto na análise do material produzido, bem como na elaboração e divulgação dos resultados por parte destes. Ainda relacionada à questão da ética, porém numa roupagem mais filosófica, Eunice Trein propõe uma reflexão um pouco mais delimitada e centrada na questão do produtivismo científico, fazendo uma análise sobre a questão do mal-estar na civilização com base em Freud, para posteriormente tecer algumas proposições acerca da transformação do conhecimento em mercadoria, assumindo este a forma de trabalho fabril como apontado por Marx, trazendo para o debate a transformação do produtivismo em ideologia, uma vez 24 que ele seria visto como o responsável pelo desenvolvimento social em nosso país, reforçando um pouco mais as discussões em torno das boas e más condutas acadêmicas e científicas, tendo como foco o campo da pesquisa educacional, sugerindo a instalação de uma certo mal-estar na academia. 2. Principais conceitos e teorias apresentadas Considerando as questões iniciais levantadas anteriormente, faz-se importante tecer algumas reflexões a partir das conceituações e teorias exploradas nos textos de estudo, somadas às discussões realizadas em sala de aula a respeito da ética, das boas e más condutas, da fraude e do plágio nas ciências e na pesquisa, conforme apontamentos feitos pelos autores dos textos em análise. Luiz Percival apresenta uma reflexão inicial sobre a questão do fundamento principal do liberalismo, qual seja, “a ideia de que cada indivíduo é uma totalidade completa no mundo e que se realiza independentemente do resto”. Em contrapartida, a esse preceito, Rousseau, em sua conceituação de “Contrato Social”, diz que os indivíduos são sujeitos livres, autônomos, senhores de si, capazes de tudo, que agem para o bem ou para o mal. Contrariamente à teoria de Rousseau, existe outra concepção de caráter dialético, a qual afirma que os indivíduos são a própria história humana, e que, portanto, não se transforma indivíduos fora da história humana, ou seja, não há como mudar as pessoas sem que a própria história humana que estes produzem também seja afetada por tais mudanças. Nesse sentido, quando se pensa sobre a questão da ética, é importante observar seu caráter sistêmico e estruturado no contexto em que se insere. Assim, ao se pensar sobre ética no âmbito da ciência, por conseguinte, é pensar do ponto de vista do coletivo e não da ordem individual. Ainda no abrangente campo das reflexões sobre ética, convém-nos esclarecer as diferenças que recaem a respeito desta com a conceituação do âmbito da moral. A ética, está voltada para a Filosofia dos valores morais comportamentais, regendo-se pelas condições objetivas da existência, e portanto, muito mais ampla e abrangente, enquanto a moral, embora seja oriunda da ética, se volta para a construção de padrões rígidos de comportamento, de conduta. 25 Outro conceito bastante pertinente no campo da pesquisa, refere-se à compreensão acerca do Plágio na Ciência. Segundo Britto (2018), plágio “é apropriação indébita e sem crédito da produção intelectual alheia”. A discussão acerca dessa temática foi realizada com base na apresentação de PPT intitulada “O Plágio na Ciência”, da Kalina Manabe Brauko, onde foram apresentados alguns aspectos relevantes e que mantém implicação direta na nossa atuação enquanto pesquisadores. Compreender os diferentes tipos de plágio, a motivação que leva alguém a cometê-lo e as precauções necessários para evitar esse tipo de prática em nosso trabalho acadêmico, com certeza é de extrema importância para a realização de uma pesquisa idônea, sem mácula e dotada de certa originalidade (não no sentido de novas teorias, mas no sentido do experimento que se faz a partir da teoria que se coloca em teste) que a torna um produto cientifico dotado de singularidade e autoria, aqui entendida em suas “dimensões criativa, histórico-social e ético-política; como exercício de autonomia, possibilidade de autoprodução; pertencimento e responsabilidade por aquilo que se cria” (Silva 2008, p. 364e 365). 3. Reflexões quanto à pertinência para a pesquisa individual e para a compreensão do tema No bojo dessas elucubrações, um aspecto que se faz pertinente quanto à nossa prática de pesquisa, inclusive remoto ao nosso ingresso ao Mestrado, o qual foi trazido à nossa autoanálise pelo professor Luiz Percival, haja vista estarmos tratando sobre ética, sobre boas e más condutas, sobre fraude nas pesquisas diz respeito aos seguintes questionamentos: Qual é a razão os motivos pelos quais eu faço pós-graduação, e em que medida meu projeto de pesquisa se vincula a uma proposta de formação? Porque fazemos mestrado? Ao ser elaborado o pré-projeto de pesquisa, qual foi a prevalência de sua vontade em função da necessidade de adequação do seu trabalho aos interesses da pesquisa? Quantos de nós tivemos uma colaboração externa na elaboração do projeto de pesquisa, que possamos julgá-la como legítima, e/ou o quanto essa colaboração, na nossa avaliação, tenha sido até maior do que possamos julgar pelo aspecto da retidão? O quanto, ao elaborar o seu pré- projeto, a utilização da bibliografia se se justificava pelo problema, ou ainda, o 26 quanto ela resultava do conhecimento que tínhamos dela? Em outras palavras, o quanto do nosso trabalho pode ser considerado como plágio? Esses questionados e reflexões, a meu ver, devem servir tanto para análise pregressa de nossas condutas, quanto para nossas atuações vindouras no campo da pesquisa científica, uma vez que devem permear o nosso fazer e a nossa consciência sobre às práticas e condutas que estaremos adotando, de modo que possas arbitrar positivamente em nossas escolhas, procedimentos, análises e, portanto, em nosso fazer acadêmico e científico, ou melhor, em toda nossa existência. As discussões e reflexões trazidas para este terceiro encontro da disciplina Pesquisa em Educação merecem destaque especial em nossa análise, e sua discussão se faz relevante nesse momento, justamente por serem questões bastante polêmicas. Para isso, a partir da análise do conceito de “reflexividade” proposto por Minayo e Guerriero (2013) como sendo as práticas que ocorrem no contexto da pesquisa e a forma como isso afeta, tanto o pesquisador como o campo e a vida social no qual este se insere, temos que ter sempre em nossa mente que, mesmo que o campo científico seja caracterizado por certa normatividade, estamos sempre diante de um campo marcado por conflitos e contradições. Nesse sentido, “o labor científico caminha sempre em duas direções: numa, elabora teorias, métodos, princípios e estabelece resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminha-se para outras direções” (Minayo e Guerriero, 2013, p. 1.104). Por esta senda, a leitura e análise dos textos de estudo propostos para a temática “ética e conduta científica” da unidade 3, proporcionou uma reflexão de cerdo modo introspectiva, mas ao mesmo tempo extrínseca, voltada para o fazer acadêmico e científico no nosso campo de pesquisa em educação. Nas proposições de Minayo e Guerriero, as reflexões sobre ética em pesquisa antropológica e qualitativa trazidas por ela neste ensaio, nos proporcionou um avanço significativo na assimilação e aplicação do sentido ético do fazer científico, seja na atuação comportamental do pesquisador em campo, ou até mesmo na análise, elaboração e divulgação dos resultados das pesquisas e suas implicações éticas na vida dos participantes, sendo este um 27 exercício consciente e constante de interpretações, empatia e auto reflexividade. Outro aspecto importante apontado e referido durante este terceiro encontro de Pesquisa em Educação, que em muito favoreceu nossa percepção acerca da seriedade e responsabilidade no fazer científico, foram os apontamentos sobre fraude e o plágio em pesquisa, sobre as boas e más condutas científica, conforme as asserções de Brauko e Vilaça. De acordo com a apresentação realizada em sala de aula a partir dos slides elaborados pela professora Kalina Manabe Brauko, a questão do plágio é oriunda de um problema cultura, uma vez que, a prática da cópia teve início na idade média a partir das atividades realizadas pelos monges copistas ao longo de quase mil anos, onde a escassez de livros levava muitos docentes a redigirem seus resumos e suas compilações para disponibilizá-las aos discentes. Portanto, o conceito de plágio nasce do conceito de autoria, de produção individual. No entanto, uma ressalta deve ser feita quanto ao plágio, uma vez que o mesmo não deve ser confundido com o conceito de imitação, que por sua vez é considerado como absorção de parte das ideias de outrem. Outro ponto importante e que merece destaque é quanto à distinção entre plágio intencional e acidental: o acidental só pode ser de algo que ficou na cabeça, e acabamos utilizando como se fosse de autoria própria, quando na verdade a ideia original era de outra pessoa. Outro ponto que merece destaque diz respeito às paráfrases, que até certo ponto pode ser caracterizado como um tipo de “novo plágio” que está sendo instaurado no meio acadêmico, uma vez que a simples paráfrase não descaracteriza o plágio. Uma solução que se apresenta para evitarmos o plágio em nossas pesquisas, seja intencional ou acidental, é a realização de uma boa e consistente revisão bibliográfica, de modo a apresentar as ideias originais dos mais diversos autores que escreveram sobre determinado tema, e por fim apresentarmos nossas ideias, análises e discussões sobre o mesmo assunto, uma vez que a originalidade não está na teoria que se apresenta, mas sim no experimento que põe em tese a teoria dada. Por fim, ainda em se tratando acerca da questão do plágio na ciência, importante destacar e refletir sobre as consequências desse tipo de má conduta científica, o que é apontado por Vilaça como “tríade maligna” FFP – fabricação, 28 falsificação e plágio. Segundo o autor, essa ótica é insuficiente para a compreensão do problema do plágio, uma vez que este rol de restrito de más práticas é insuficiente para pensar o compromisso ético do cientista, uma vez que outras diversas práticas antiéticas poderiam ser ignoradas. Outro ponto de atenção que nos foi enfatizado durante a aula, diz respeito à utilização do termo “apud” nas citações, que muitas vezes é usado indiscriminadamente pelos acadêmicos, quando na verdade deveria ser justificado somente nos casos onde a obra é de rara localização e onde o acesso à obra no momento da escrita é inviável. Assim, precisamos tomar muito cuidado com esse tipo de conduta, uma vez que também pode ser caracterizado como uma má prática cientifica. Por fim, foi destacado ainda ao final da aula a importância do cuidado com o rigor metodológico durante a pesquisa. Segundo Britto (2018), o capítulo metodológico é simplesmente “protocolar”, em sua essência, a metodologia é resultado estrito da pergunta e da produção teórica, e que se constitui na medida em que se desenvolve um projeto no qual se busca responder um questionamento e para o qual se busca uma alternativa ou caminho para se responder a esta determinada pergunta, ou seja, o mais importante não é simplesmente fazer constar em nosso trabalho um capítulo que se denomina como “metodológico”, mas principalmente, é fazer constar neste cada ação, estratégia, método utilizado para se alcançar o objetivo proposto da pergunta inicial. 4. Referências Bibliográficas para a Unidade 2 MINAYO, Maria Cecília de Souza; GUERRIERO, Iara Coelho Zito. Reflexividade como éthos da pesquisa qualitativa. Ciência & Saúde Coletiva, 19(4):1103-1112, 2014. VILAÇA, Murilo Mariano. Más condutas científicas – uma abordagem crítico-comparativa para in-formar uma reflexão sobre o tema. Revista Brasileira de Educação, v. 20 n. 60, p. 245-269, jan-mar. 2015. TREIN, Eunice. Espaço aberto o mal-estar na academia– produtivismo científico, o fetichismo do conhecimento-mercadoria. Revista Brasileira de Educação. v. 16 n. 48, p. 769-792, set-dez. 2011. 29 UNIDADE 3 PESQUISA EM EDUCAÇÃO – QUESTÕES DE TEORIA E DE MÉTODO 30 RELATÓRIO ANALÍTICO DA DISCIPLINA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Encontro 4 – 12 de abril de 2018 Atividades previstas para a aula: ✓ Problematização inicial: apresentação em PPT pelo docente com síntese dos textos de estudo; discussão conceitual e derivações metodológicas; fichas de leitura; 1. Comentários introdutórios O encontro quatro da disciplina Pesquisa em Educação foi realizado, no dia 12 de abril de 2018, com início às 08h15min, na sala H304, do Campus Rondon da Universidade Federal do Oeste do Pará, para a turma de 2018 do PPGE – Mestrado em Educação. Para este encontro, foram trabalhados os seguintes textos de estudo: 1) Relevância e aplicabilidade da Pesquisa em Educação, de Alda Judith Alves- Mazzotti; 2) Pesquisa em Educação: questões de teoria e de método, de Marli André; e 3) A Construção metodológica da pesquisa em educação: desafios, de Bernardete A. Gatti. O Professor inicia a aula respondendo a uma pergunta realizada por um dos mestrandos da turma, o qual questionou sobre os conteúdos a respeito de revisão bibliográfica e quando estes seriam trabalhados pelo docente. O professor enfatizou, em resposta, que não estava previsto no programa do curso esse tipo de assunto, uma vez que essa disciplina não é de metodologia de pesquisa, mas de fundamentos e epistemologia da pesquisa. A metodologia é assunto para ser tratado com o professor orientador. Britto (2018) enfatiza ainda algumas questões atinentes ao trabalho de pesquisa, para o qual existem duas formas que são intrínsecas à ação de estudar/pesquisar: A primeira delas é: perguntar sobre a própria forma como se observa, se olha para o mundo, a forma como se pensa o problema, portanto, qual é a concepção de verdade, de conhecimento, de ciência, de materialidade, que você tem (se tem), que o projeto tem, e a partir dessas questões é que você indaga a educação e pergunto para o meu problema de pesquisa como é que eu penso essa questão, da mesma forma eu indago a vida, eu indago a 31 política. Não dá para ser marxista na educação e liberal na política, pode até ser possível, mas é uma contradição significativa. O professor continua sua argumentação ressaltando ainda que, no trabalho de existem duas formas que são intrínsecas à ação de estudar/pesquisar: A primeira delas é: perguntar sobre a própria forma como se observa, se olha para o mundo, a forma como se pensa o problema, portanto, qual é a concepção de verdade, de conhecimento, de ciência, de materialidade, que você tem (se tem), que o projeto tem, que o projeto tem, e a partir dessas questões é que você indaga a educação e pergunto para o meu problema de pesquisa como é que eu penso essa questão, da mesma forma eu indago a vida, eu indago a política. Não dá para ser marxista na educação e liberal na política, pode até ser possível, mas é uma contradição significativa. Ele continua sua explanação enfatizando ainda que, uma das características das ciências humanas modernas (relativistas, subjetivistas, idealistas, pós-modernas, todas irrealistas) é admitir o achismo como irrelevante no âmbito da compreensão ou indagação da realidade. Ressalta ainda que é necessário formular essa reflexão conceitual no âmbito do nosso trabalho de investigação, e além disso, no âmbito da própria vida, pois por traz de todas as nossas ações há uma forma de perceber o mundo, a qual será muito mais interessante quanto mais esclarecida ela for. Portanto, é preciso nos questionarmos a respeito do lugar onde eu estou? Qual lugar epistemológico estou adotando para desenvolver a pesquisa e quais são as consequências disso para a minha a pesquisa que nos propomos a fazer. Essas questões são importantes a serem acrescentadas para nossa reflexão, mesmo que não tenha sido feita essas perguntas nos textos de estudo. A segunda grande questão que se deve observar quando se fala em revisão bibliográfica é: Existem muitas outras pessoas que investigam o mesmo tema, e quanto mais isso acontece melhor. Não existe tema estudado à exaustão, existem explicações exauridas, e isso é a grande teoria da ciência. Por exemplo, a física só cresce porque se percebem mais complexamente o mesmo problema, e se destroem teorias, acumulando-se novas teorias mais potentes. Não é o tema que se esgota é a explicação, isto é, a teoria epistemológica. Portanto, a revisão bibliográfica é “revisão é a busca de um 32 certo mapeamento e do conhecimento do já conhecido do tema que estou investigando” (BRITTO, 2018). Portanto, para fins da realização da pesquisa no âmbito do mestrado em educação, o projeto deverá trazer a revisão bibliográfica de modo suficiente para desenhar o tema-problema, ou seja, precisa apontar o viés epistemológico que se está adotando, de maneira organizada e delimitada a partir do lugar teórico adotado para esse fim. 2. Principais conceitos e teorias apresentadas Após as considerações iniciais referidas no encontro do dia 12 de abril, o professor inicia as proposições dos textos a partir da exposição de power point com resumo feito a partir do texto de Alves-Mazzotti: “Relevância e aplicabilidade da Pesquisa em Educação”. Professor inicialmente destaca que, um elemento comum entre os três textos de estudo programados para a unidade 3, é que os três autores apresentam sérias queixas sobre a falta de rigor na pesquisa em educação. Os três autores chamam a atenção para a relevância e a necessidade de estabelecer esse rigor e ao mesmo tempo eles dizem que no campo da educação, um de seus grandes problemas é a falta de precisão conceitual, inclusive em termos-chaves, uma vez que o próprio nome do campo já é um problema conceitual. Um exemplo dessa falta de clareza é que, na prática do fazer no campo da educação, se abre espaço para “tudo”, isto é, comporta uma diversidade muito grande. No texto da Marli André, cujo título coincide exatamente com a temática proposta para a unidade 3, a saber: Pesquisa em Educação: questões de teoria e método, apresenta-se uma discussão de que quando se fala de ciência, afinal, do que estamos falando? Como é que estou entendendo ciência? A autora destaca que, para assegurar a qualidade das pesquisas na área da educação é preciso promover o debate nos mais diversos meios acadêmicos, de modo a criar condições para que se possa aflorar as concepções consensuais do que seja uma “boa” ou uma “má” pesquisa, o que deve ser feito coletivamente. Para tanto, a autora se dispõe a fazer alguns questionamentos que, somado a de outros colegas da área, possam fazer parte de um debate cada vez mais amplo e rico na busca pelo aperfeiçoamento da pesquisa em educação. 33 Dentre as questões apontadas por Marli (2005), importante destacar ainda as mudanças no cenário educacional e a busca da qualidade, os quais tem crescido ao longo dos últimos 20 anos, principalmente por conta da expansão da pós-graduação. Ela chama atenção para as mudanças decorrentes nos temas e problemas, nos referenciais teóricos, nos enfoques adotados, nas abordagens metodológicas, o que faz emergir um debate salutar acerca do conflito de tendências metodológicas sobre as diferenças nos pressupostos epistemológicos e também sobre o próprio conceito de cientificidade. Outra questão abordada por Marli André, diz respeito às questões sobre os fins e os métodos, os quais, devido à grande de diversidade de temáticas que trouxe problemas de diferentes ordens para a pesquisa em educação, e dentre os quais ela destaca três, os quais também acreditamos ser importantedestacar para fins de aprofundamento nas reflexões realizadas a partir do estudo dos textos: a) questões referentes aos fins da investigação e à natureza dos conhecimentos produzidos; b) questões relativas aos critérios de avaliação dos trabalhos científicos; e c) questões voltadas aos pressupostos dos métodos e técnicas de investigação, tanto em abordagens qualitativas quanto nas quantitativas. Ela continua sua exposição textual abordando mais detalhadamente alguns aspectos desses três grupos de questões. Inicialmente, ela questiona e nos faz refletir sobre a seguinte dúvida: Qual deve ser o nosso propósito na pesquisa, é o fazer ciência ou intervenção? Tal questionamento tem marcado presença nos debates acadêmicos e também podem ser encontradas em diversas revisões críticas da pesquisa educacional, segundo ela, enquanto alguns pesquisadores centram atenção no processo de desenvolvimento da pesquisa e no tipo de conhecimento que está sendo gerado, enquanto outros se debruçam mais sobre os achados das pesquisas, sua aplicabilidade ou seu impacto social. Outro aspecto apontado por ela é: Como se define uma boa pesquisa? Essa questão está presente numa segunda ordem de problemas de pesquisa em educação que diz respeito aos critérios de julgamento dos trabalhos científicos. Segundo André (2005), muito se tem destacado a importância de que os trabalhos atendam aos critérios de relevância científica e social, ou seja, 34 estejam inseridos num quadro teórico em que fique clara a sua contribuição ao conhecimento já disponível. Para ela, é imprescindível a opção de temas engajados na prática social, e para isso tem cobrado das pesquisas que estas tenham um objeto bem definido, na qual os objetivos ou questões estejam claramente formulados, que tenha metodologia adequada aos objetivos e os procedimentos metodológicos sejam suficientemente descritos e justificados, com análise densa, fundamentada, suficientemente capazes de trazer evidências ou provas das afirmações ou conclusões a que se chegou, ou seja, é preciso ficar evidente o avanço do conhecimento e o que cada estudo acrescentou ao já conhecido ou sabido. O terceiro aspecto apresentando por André (2005) é pertinente às questões de método. Segundo ela, após várias revisões bibliográficas na área de pesquisa em educação têm apontado a fragilidade metodológica dos estudos e pesquisas, as quais tomam porções muito reduzidas da realidade, um número muito limitado de que observações e de sujeitos, levantamento de opiniões com instrumentos precários, análises pouco fundamentadas, e interpretações sem respaldo teórico. Outro grande problema nas pesquisas em educação detectados e apontados por ela é quanto a uma certa confusão entre o que seria ação formativa e pesquisa-ação, e entre o papel do pesquisado e o papel dos participantes, entre ensino e pesquisa, entre ação e investigação. O mais interessante dessa observação feita pela autora é que, tais conflitos foram encontrados a partir da análise de dissertações e tese produzidas nos anos 90, e para os quais deve ser dada uma séria atenção principalmente por parte dos orientadores de muitos programas de pós-graduação do país. Na parte final do texto, ela traz à nossa reflexão alguns pontos que não podem deixar de ser considerados quando se trata das reais condições de produção de conhecimento, e aponta questionamentos quanto à formação de conhecimento de discentes (mestrado e doutorado) bem como quanto às condições de produção de conhecimento dos docentes, e conclui sua exposição antevendo alguns desafios e perspectivas no cenário atual da pesquisa em educação no nosso pais, os quais destacamos a seguir, e que servem tanto para o nosso pensar quanto para o fazer científico no que 35 concerne à nossa tarefa enquanto acadêmicos de mestrado e, portanto, pesquisadores: 1. Assumir como uma tarefa coletiva o estabelecimento de critérios de avaliação das pesquisas da área, tornando-os públicos e abertos às críticas e sugestões e estabelecendo-se constante debate sobre eles; 2. A busca pelo rigor e qualidade dos trabalhos; 3. A luta pela melhoria das condições de produção do conhecimento; e 4. Construção de espaços coletivos nos programas de pós-graduação para elaboração e desenvolvimento de projetos de pesquisas 3. Reflexões quanto à pertinência da temática para a pesquisa individual A partir das reflexões já referidas no tópico anterior, que tiveram como ponto de partida as reflexões trazidas pela autora Marli André, pretendemos aqui adentrar mais profundamente numa reflexão individual e intrínseca acerca da pertinência dos conceitos e discussões elucidadas até o momento, e que podem servir de embasamento, tanto teórico quanto metodológico para a realização da pesquisa individual. Tendo como aporte as elucubrações propostas por Alves-Mazzotti, a qual destaca a discussão em torno da qualidade da pesquisa em educação no Brasil é fruto de uma longa história de debates e estudos que tem focalizado tanto os processos de produção das pesquisas quanto os seus produtos. Dentre as questões inerentes ao processo de produção da pesquisa, a autora destaca alguns problemas que merecem atenção. Vejamos quais são: a) primazia do ensino sobre a pesquisa no âmbito das universidades, restando pouca disponibilidade de tempo para pesquisas e orientações; b) pouca atenção ao conhecimento acumulado na área devido quase ausência de equipes com articulação e continuidade suficientes para o estabelecimento de linhas de investigação que favoreçam a produção de um corpo sólido e integrado de conhecimentos, conferindo perfil próprio aos diferentes programas de pós-graduação; c) falta de apoio efetivo das universidades e das agências de fomento ao desenvolvimento das pesquisas (falta de recursos financeiros e investimento nas pesquisas e nos estudos). Com relação às problemáticas apontadas na própria produção, ela destaca: a) pobreza teórico-metodológica na abordagem dos temas, 36 limitando-se a estudos puramente descritivos e/ou “exploratórios; b) pulverização e irrelevância dos temas escolhidos; c) adoção de modismos nas escolhas teórico-metodológicas; d) aplicabilidade imediata dos resultados; e) divulgação restrita dos resultados que pouca causam impacto na prática. A autora examina alguns aspectos que, segundo ela, favorecem a manutenção desses problemas, no caso específico das produções de teses e dissertações, e procura enfatizar o papel dos docentes e orientadores que atuam nos cursos de pós-graduação. Dentre esses aspectos, ela destaca a centralidade da questão teórico-metodológica. Segundo ela, a pobreza teórico-metodológica, ao que lhe parece, é a grande responsável pelos problemas apontados por ela no bolo das produções. Outro aspecto observado refere-se à teorização e transferibilidade do conhecimento. Um indicador bastante concreto disso é justamente a despreocupação em situar o problema proposto num contexto mais amplo de discussão. Esse problema transmite a ideia de que o conhecimento sobre aquele determinado problema começou e terminou naquela investigação, o que ela chama de “narcisismo investigativo”. Um outro ponto importante que ela destacou e que muito há de contribuir com a nossa pesquisa, é quando ela enfatiza que ao contextualizar o problema por meio do diálogo com estudos anteriores, ela não está fazendo referência à “revisão bibliográfica”. Nesse aspecto, ela está se referindo à comparação e crítica que explicitam inicialmente a necessidade e pertinência do estudo proposto, e, ao seu final, apontam os resultados divergentes e pontos em comum entre os obtidos naquela pesquisa comparado ao de estudos anteriores. Creio que este deva ser um dos pontos de nossa maior atenção e rigor na elaboração de nossa proposta de pesquisa. Quanto à transferibilidade do conhecimentoe objetividade, ela destaca que a produção de conhecimentos que possam ser aplicados a outras realidades, não apenas contribui para a acumulação do conhecimento, como também favorece a divulgação das pesquisas, constituindo-se condição necessária à construção coletiva do conhecimento. Portanto, a objetividade nas pesquisas não é mero produto individual, pelo contrário, a única objetividade a que podemos ambicionar em nossas pesquisas é aquela resultante do que ela chama de “crítica interpares”, pois permite a exposição 37 das tendências individuais do pesquisador. Portanto, a aceitação de um caráter objetivo nas investigações pressupõe a aceitação da “tradição crítica”, ou seja, sua abertura à análise, à crítica e ao questionamento da comunidade científica, evitando-se assim erros grosseiros e tendenciosidades do pesquisador. 4. Contribuições relevantes para a compreensão do tema Considerando, por fim, as discussões e debates apresentados pelo docente durante a aula, o professor Percival reforçou a necessidade de que sejam feitas as leituras das dissertações orientadas recentemente pelos professores do programa, mais especificamente dos nossos orientadores, inclusive, tomarmos conhecimento até mesmo de suas teses de doutorado, justamente para buscarmos uma certa coerência nas pesquisas, e de preferência estarmos inseridos num corpo organizado de pesquisa. Ainda nas discussões realizadas na primeira aula dessa unidade, alguns comentários do professor Percival Britto, alguns conceitos importantes abordados merecem destaque na nossa análise, diz respeito ao esclarecimento feito sobre a questão das teorias relativistas, que segundo ele são teorias liberais, sendo, portanto, o liberalismo uma forma de compreensão do humano. Segundo ele, liberalismo não é uma tese econômica, é uma tese filosófica. A filosofia do séc. XVIII que sustenta o liberalismo econômico é liberal, por que a concepção de mundo que produz um certo momento da história, tem que coincidir a explicação do humano com a legitimação das formas de realização da economia, pois segundo Marx, são as relações econômicas de produção que determinam os modos de produção, mas haverá uma produção ideológica, ou intelectual, correspondente que sustenta essa forma de ser da economia (BRITTO, 2018). Para Britto (2018), o conceito de liberal está no debate da educação. Segundo ele, existem 3 grandes linhas educacionais hoje: o pragmatismo neoliberal, que predomina nas ações do banco mundial e no atual governo brasileiro; o liberalismo, que predomina numa série de propostas educacionais abrangentes e que valorizam o humano como princípio fundamental, são propostas alternativas presentes nos EUA, na Europa e América do Sul, e o materialismo histórico, que reúnem a ideia de que o indivíduo é necessariamente fruto da história. 38 5. Comentários finais Um outro conceito importante apresentado nos textos e abordados em sala de aula pelo docente, refere-se ao “esgarçamento” do conceito de pesquisa, apresentando por Warde (1990, p. 70), segundo esta autora, o conceito de pesquisa foi tão ampliado que atualmente cabe tudo: folclores, os sensos comuns, os relatos de experiência, sem deixar de falar nos desabafos emocionais e nos cabotinismos (tendência a atrair ou tentar atrair sobre si as atenções). Importante destacar ainda que, nas palavras de Alves-Mazzotti, a atual dificuldade de se definir o que constitui pesquisa está diretamente vinculada às mudanças verificadas na conceituação de ciência e de método científico, resultantes da crítica do paradigma positivista. No entanto, a autora ressalta ainda que nada impede que as pesquisas no campo da educação possam ser rigorosas, atendendo assim aos requisitos da tradição científica. Ela enfatiza ainda que a pesquisa cientifica encontrada nas ciências naturais também são decorrentes de um processo de construção histórica, e por essa razão, por analogia, é possível construir, no âmbito das ciências sociais, uma ideia de cientificidade distinta da adotada pelas ciências naturais e que seja adequada aos fenômenos por elas estudados, sem menosprezar o rigor positivista das pesquisas. A título de conclusão, destaca-se o grande desafio da contemporaneidade nas pesquisas que é aliar a riqueza proporcionada pelo estudo profundo dos fenômenos microssociais, contextualizados, à possibilidade de transferência de conhecimentos ou à geração de hipóteses para o estudo de outros contextos semelhantes. Por último, uma ressalva feita por ela e que deve ser um constante exercício de reflexão em nossa missão enquanto pesquisadores, é quanto nossa responsabilidade diante de todos esses aspectos abordados pelas autoras, a qual não pode ser minimizada, sendo que não podemos abrir mão de estarmos compromissados com a produção de conhecimento confiável, pois somente dessa maneira estaremos contribuindo, tanto com o desenvolvimento de instrumental teórico no campo da educação, quanto na busca pelo rigor e relevância das pesquisas, que também se configura como uma meta política, e não somente científica. 39 6. Referências Bibliográficas para a Unidade 3 ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. Relevância e aplicabilidade da pesquisa em educação. Cadernos de Pesquisa, n. 113, p. 39-50, jul. 2001. ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação – questões de teoria e de método. Associação brasileira de pesquisa em educação em ciências. Atas do V Enpec, Nº 5, p. 1-12, 2005. GATTI, Bernardete A. A construção metodológica da pesquisa em educação – desafios. RBPAE, vol. 28, n. 1, p. 13 ‑ 34, jan/abr. 2012. 40 RELATÓRIO ANALÍTICO DA DISCIPLINA PESQUISA EM EDUCAÇÃO Encontro 5 – 18 de abril de 2018 Atividades previstas para a aula ✓ Discussão conceitual e derivações metodológicas – aprofundamento e problematizações pelos alunos; implicações para o trabalho no âmbito do Programa 1. Comentários introdutórios Para o 2º bloco de aulas referente à unidade 3 (encontro 5), a discussão se afunilou em torno do texto da Bernardete A. Gatti “A construção metodológica da pesquisa em educação: desafios”. A autora apresenta uma ideia inicial que deve ser levada bastante a sério, que essa ideia terminológica e conceitual, ou seja, o fato de ser muitos nomes em disputa e todos eles dizendo praticamente a mesma coisa, é, na opinião de Britto, o grande problema hoje no campo das pesquisas em educação. Essa mesma problemática também aparece no texto da Marli André. O Professor Percival argumenta que nós temos um conjunto de termos que reportam praticamente a mesma coisa: Educação, Pedagogia, Ciências da Educação, Ciências do Ensino, Didáticas. Ele cita como um exemplo prático para essa ideia as seguintes afirmações: “Sua pedagogia não é boa”, ou “sua didática não é boa”, ou ainda, “suas práticas de ensino não são boas”, ou então, “sua técnica de ensino não é boa”, ou seja, quatro versões diferentes, sendo que nenhuma delas e nem o seu uso não é neutro. Ao se falar em “pesquisa em educação”, de acordo com a ideia de Gatti significaria uma posição integradora, convergente para várias áreas com um ponto de partida que seriam os processos educativos, os quais, segundo acréscimos feitos por Britto (2018), seriam processos “macro” e “micro”. Por outro lado, ao preferir o termo “ciências da educação”, a autora sugere um olhar que distingue vários campos de investigação em educação, voltados para conhecimentos que se originam e se dirijam a outros campos. Exemplo claro disso seria o próprio Instituto de Ciências da Educação da Ufopa, o ICED, segundo Britto. Seguiu-se um longo debate sobre a questão específica deste Instituto, após uma observação feita por um dos mestrandos sobre uma 41 determinada informação que foi dada durante uma reunião de
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