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Monografia Alteração do registro civil

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ
CURSO DE DIREITO
NÚCLEO DE MONOGRAFIA
HELTON JOSÉ SERRANO ESCARIAO DA NÓBREGA
ALTERAÇÃO DO NOME E DO SEXO NO REGISTRO CIVIL EM FACE DA CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL
JOÃO PESSOA
2013
HELTON JOSÉ SERRANO ESCARIAO DA NÓBREGA
ALTERAÇÃO DO NOME E DO SEXO NO REGISTRO CIVIL EM FACE DA CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, como requisito parcial para a obtenção do Título Bacharel em Direito.
Orientadora: Prof. Rodrigo Toscano de Brito
 
Área: Direito Civil
JOÃO PESSOA
2013
HELTON JOSÉ SERRANO ESCARIAO DA NÓBREGA
ALTERAÇÃO DO NOME E DO SEXO NO REGISTRO CIVIL EM FACE DA CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
 Prof.ª Rodrigo Toscano de Brito
Orientador
__________________________________________________
1º Examinador 
__________________________________________________
2º Examinador 
JOÃO PESSOA
2013
TERMO DE RESPONSABILIDADE
Eu, HELTON JOSÉ SERRANO ESCARIÃO DA NÓBREGA, discente devidamente matriculada no 10º Período, Turma M, Matrícula nº. 0910034980, declaro para todos os fins de direito e para salva guarda da pessoa do meu orientador Professor Rodrigo Toscano de Brito, que responsabilizo-me integralmente pelo conteúdo da Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, sob o título “ALTERAÇÃO DO NOME E DO SEXO NO REGISTRO CIVIL EM FACE DA CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL”, eximindo terceiros de eventuais responsabilidades sobre o que nela está escrito é autentico e foi por mim produzido, submetido à avaliação técnico, correções gramatical e ortográfica, não constituindo cópia ou plágio de qualquer outra pesquisa acadêmica anteriormente realizada. 
João Pessoa, 16 de Outubro de 2013. 
_______________________________________________
HELTON JOSÉ SERRANO ESCARIAO DA NÓBREGA
Dedico este trabalho monográfico...
A força do direito deve superar o direito da força.
Rui Barbosa
RESUMO
Este trabalho apresenta uma abordagem sobre o transexualismo, exposto como sendo uma disfunção entre seu sexo biológico e o psicológico, que se caracteriza com o objetivo de encontrar uma melhor condição de vida social para o indivíduo. Por fim, depois que o indivíduo passar pela cirurgia, ele irá buscar nas vias judiciais a alteração pelo seu nome e sexo em seu registro civil, para que enfim ele possa ter sua satisfação por completa. Este estudo foi realizado a parti de revisão bibliográfica, webgráfica, alem da interpretação de jurisprudência, pertinentes ao tema proposto. Este estudo tem a importância, uma vez que o atual entendimento que predomina nos tribunais é que tal pedido seja deferido, uma vez que os magistrados devem atender ao princípio da dignidade da pessoa humana, em virtude deste princípio exposto no artigo 1°, da nossa Constituição Federal como sendo um direito fundamental. 
Palavra chave: transexual, cirurgia, direito à alteração do nome e sexo, princípios constitucionais. 
ABSTRACT
This paper presents an approach on transsexualism, exposed as a dysfunction between their biological sex and psychological, which is characterized with the aim of finding a better life social to the individual. Finally, after the individual undergoing surgery, he will seek the remedies to change his name and gender in their civil registry, so that he can finally have your complete satisfaction. This study partici literature review, webgráfica, beyond the interpretation of case law relevant to the theme. This study has relevance, since the current understanding that prevails in the courts is that such a request is granted, since judges must meet the principle of human dignity, by virtue of the principle stated in Article 1 of our Constitution as a fundamental right.
Keyword: transsexual surgery, the right to change the name and gender, constitutional principles.
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO
2 – DETERNINAÇÃO DO SEXO
	2.1 – CONCEITOS DOUTRINÁRIOS
	2.2 – DEFINIÇÕES DO SEXO
		2.2.1 - MORFOLÓGICO
		2.2.2 – PSICOLÓGICOS
		2.2.3 – LEGAL OU JURÍDICO
	2.3 - TRANSEXUALISMO
		2.3.1 – TRANSEXUAL PRIMÁRIO 
		2.3.2 – TRANSEXUAL SECUNDÁRIO
		2.3.3 – OUTROS TIPOS DE SEXUALIDADE
		2.3.4 - TRAVESTIS
		2.3.5 - HOMOSSEXUAIS
		2.3.6 - BISSEXUAIS
3 - A CIRURGIA DE TRANGENITALIZAÇÃO À LUZ DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
	3.1 – NOÇÕES DE DIREITO DA PERSONALIDADE
	3.2 – DIREITO À SAÚDE
	3.3 – DIREITO A DISPOSIÇÕES DO PRÓPRIO CORPO
	3.4 – COREÇÃO CIRURGICA
	3.5 – A ÉTICA DA REALIZAÇÃO DA CIRURGIA DE TRANGENITALIZAÇÃO
4 - ALTERAÇÕES DO NOME E DO SEXO APÓS A CIRURGIA DE TRANGENITALIZAÇÃO
	4.1 – NOME CIVIL
	4.2 – POSSIBILIDADES DE ALTERAÇÃO DO NOME E DO SEXO APÓS A CIRURGIA
	4.3 – PUBLICIDADE DE ALTERAÇÃO NO REGISTRO CIVIL
	4.4 – AÇÕES CABIVEL, COMPETÊNCIA E PROCEDIMENTO.
4.5 - A SATISFAÇÃO DO TRANSEXUAL COMO FORMA DE ATENDIMENTO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
	5 – CONCIDERAÇÕES FINAIS
 REFERENCIAS
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INTRODUÇÃO
A problemática envolvida no presente trabalho versa sobre uma reflexão a respeito do direito do transexual quanto à alteração do nome em seu Registro Civil, após a cirurgia de transgenitalização.
Os transexuais podem ser tanto masculinos quanto femininos, não devem ser confundidos com os travestis, hermafroditas e homossexuais. O transexual é aquele indivíduo que nasce de um sexo e que psicologicamente sente ser do sexo oposto, nasce homem, porém sente ser mulher e vive versa, tratando-se assim de um transtorno de identidade sexual.
A transexualidade está dividida em primários e os secundários e sendo os transexuais primários considerados aptos para a realização da intervenção cirúrgica e assim a mudança completa de sexo, passando assim a ter o sexo do corpo condizente ao sexo de seu entendimento psicológico.
O transexual primário é o único a ter essa autorização posto que o mesmo passe por problemas de transformação do sexo precoce, impulsivo, insistente e imperativo, sem ter tendência alguma para o homossexualismo ou o travestismo. Em contrapartida o transexual secundário ele não tem uma certeza sobre si mesmo, podendo ter uma tendência para o homossexualismo quanto para o travestismo, neste caso a intervenção cirúrgica não é aconselhável devido a sua insegurança psicológica em determinar o que de fato ele se considera tanto sexualmente como fisicamente.
Dentro da medicina o transexualismo é identificado como uma questão de saúde psíquica, considerando que o diagnóstico do indivíduo é a realização da cirurgia de transgenitalização e assim a sua real identidade perante a sociedade, família e ele próprio.
É de bom alvitre mencionar que se trata de um tema complexo, de grande discriminação social e aceitação mínima tanto na sociedade, como em sua própria família tendo uma classificação de perversão sexual, onde o sujeito acaba sendo afetado diretamente na sua vida e refletindo em seu convívio social, familiar ou jurídico.
A de se verificar que no primeiro capitulo abordará os temas em relação aos tipos de diferentes classes sexuais e no qual não deve ser confundida com a transexual, visto que, as características de cada classe os tornam específicos e assim diferentes em seus objetivos e vontades.
Por ser um assunto de pouca dimensão e aceitação o tema não dispõe de grandes normas tutelares em relação ao direito da mudança de sexo e de toda a documentação gerada após a cirurgia tornando então um grande litígio para toda essa classe sexual nova.
No Brasil, de um modo geral este tema ainda é bastante resistente e não temos um posicionamento positivo, já que a sociedade e os legisladores não abriram os olhos para a realidade encontrada nos dias atuais, realidade esta que vem sendo veiculada entre os meios de comunicação tais como telejornais,jornais impressos e revistas os quais nos mostram a cada dia a batalha destes indivíduos por seus objetivos.
Entretanto a luta por todos estes direitos é ainda lenta, sendo poucos casos de aceitação e conhecimento popular. A comoção social é ínfimos em relação a estes indivíduos que se consideram estranhos, ao próprio corpo e lutam para se aceitarem ou como são ou na mudança de sexo. O preconceito continuará a ser a maior muralha neste caso a ser derrubada. O transexual tem a sua aceitação social mais complicada por não ter o apoio social adequado por fecharem os olhos e os nossos legisladores continua inerte a toda esta classe e seus devidos direitos.
O segundo capítulo, traz a questão jurídica que o transexual tem como direito dispor de seu corpo, onde haverá uma busca em nosso ordenamento jurídico, que possa resguardar o seu direito de dispor de seu próprio corpo, através da autorização do Conselho Federal de Medicina pela Resolução nº 1.652/02.
Portanto, justo seja que o transexual tenha o direito para adequar o seu nome e sexo à sua atual realidade. Este assunto estar abordado no terceiro capítulo, com uma breve esplanada sobre direito da personalidade, direito ao nome, ressaltando a sua importância, pois é através do nome que todos têm o seu devido conhecimento no meio social.
Restando ao indivíduo que após a cirurgia de transgenitalização ingressará na justiça com o pedido de alteração do nome em seu Registro Civil de seu nome e sexo. Tal pedido já vem sendo acolhido em diversos tribunais em nosso País, conforme apresentado, vislumbrando-se que o poder judiciário procura não atrapalhar no tocante a integração do transexual no meio social, atendendo assim o princípio da dignidade da pessoa humana disposto em nossa Constituição Federal.
2	DETERMINAÇÃO DO SEXO
2.1	CONCEITOS DOUTRINÁRIOS
A primeira identificação quanto ao sexo de um indivíduo é realizada logo em seu nascimento pelo médico em um simples fato da observação das genitálias externas visíveis, mas não se pode dizer que aquele indivíduo é exclusivamente do sexo ao qual ele nasceu naturalmente.
A distinção entre masculino e feminino tratado pelo pênis e pela vagina é apenas uma constatação genética, que nos dias atuais não se pode levar apenas este fator como definição psicológica.
Boa parte da doutrina trata o sexo como um resultado de aspectos harmônicos distintos, Berenice, 2000, aborda um conceito onde para que se tenha um resultado será necessária à soma de fatores, ela diz que:
Para a Medicina Legal, não se pode mais considerar o conceito de sexo fora de uma apreciação plurivetorial, resultante de fatores genéticos, somáticos, psicológicos e sociais. A Psicologia define a sexualidade humana como uma combinação de vários elementos: o sexo biológico (o sexo que se tem), as pessoas por quem se sente desejo (a orientação sexual), a identidade sexual (quem se acha que é) e o comportamento ou papel sexual. Como os fatos acabam se impondo ao Direito, a rigidez do registro identificatório da identidade sexual não pode deixar de curvar-se à pluralidade psicossomática do ser humano.
Partindo deste princípio entende-se que o conceito de transexualismo, não está definido pelo seu sexo biológico, nem pela sua orientação sexual, mais sim pelo desejo que este possui em seu ponto psicológico de ser do sexo oposto através da cirurgia de transgenitalização.
Por ter a medicina evoluída junto com a sociedade, a sexualidade de um indivíduo não pode ser mais restringida apenas ao seu sexo biológico sendo tratada apenas por seus aspectos externos ou ao simples fato de ter o seu registro de nascimento determinado por masculino ou feminino, envolvendo outros aspectos que devem ser levados em consideração entre eles são, os aspectos psicológicos, os morfológicos e o que ampara todos os outros requisitos, mais que nos dias atuais ainda não existe uma legislação especifica que tenha evoluído como a medicina, trata-se do jurídico.
Neste sentido Maria Berenice, 2010, afirma que:
Estar à margem da lei não significa ser desprovido de direito nem pode impedir a busca do seu reconhecimento na Justiça. Ainda quando o direito se encontra envolto em uma auréola de preconceito, o juiz não deve ter medo de fazer justiça. A função judicial é assegurar direitos, e não bani-los pelo simples fato de determinadas posturas se afastarem do que se convencionou chamar de normal. 
Por se tratar de uma questão tão complexa, é possível chegar a uma conclusão estudada e analisada que este fenômeno ocorre por um transtorno físico, psíquico e sexual.
O estudioso Odon Ramos Maranhão, 1995, afirma que 
Não se pode mais considerar o conceito de sexo fora de uma apreciação plurivetorial. Em outros termos, o sexo é resultante de um equilíbrio de diferentes fatores que agem de forma concorrente nos planos físicos, psicológico e social.
No mesmo sentido, a estudiosa Dorina Epps Qualia, 1980, dispõe em sua obra que “o sexo é determinado pelo conjunto de características genéticas, anatômicas, hormonais e psicológicas”.
Com base nos autores podemos observar que para determinar o sexo de um indivíduo será necessário apresentar uma combinação de vários fatores, e que surge certa barreira quando o fator jurídico tende a ser discutido, pois é este que traz toda a base para os demais.
No mesmo norte Berenice, 2010, acredita que:
Uma das mais instigantes questões que estão a merecer regulamentação para adentrar na esfera jurídica é a que diz com o fenômeno nominado de transexualidade. Por envolver a própria inserção do indivíduo no contexto social, reflete-se na questão da identidade e diz com o direito da personalidade, que tem proteção constitucional.
O Conselho Federal de Medicina, na resolução de nº 1652/02 traz a definição do paciente transexual como “portador de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência a automutilação e ou autoextermínio”. Desta forma encontramos que muitos indivíduos que passam por este transtorno acabam por se próprio mutilar como forma de encontra-se em seu sexo, ou renegar a sua identidade psicológica devido ao medo de negação e preconceito enfrentado nos dias atuais.
 Não se pode então, confundir o transexualismo com alguma outra espécie como travestismo ou homossexualismo entre outros, nem tampouco igualar esta classe sexual aos direitos jurídicos e sexuais diversos.
2.2	DEFINIÇÕES DO SEXO 
2.2.1	MORFOLÓGICO
Na morfologia existe uma ligação nos estudos diretamente com a reprodução humana, por mostrar um entendimento com uma forma de basear-se na fisiologia, pois irá apresentar uma investigação quanto às funções orgânicas, os processos e as atividades vitais do indivíduo na sua sexualidade. 
Com uma base apresentada por Guilherme Oswaldo Arbenz, 1998, a morfologia quanto ao sexo não deve ser tratada exclusivamente pelos aspectos externos e a anatomia interna, segundo ele: 
O sexo não se define apenas pelo aspecto morfológico externo e pela anatomia interna. É certo, porém, que os sexos se distinguem, em princípio, por estes elementos. A genitália externa e a genitália interna, assim como os caracteres sexuais secundários a partir da puberdade, diferem de maneira expressiva, o que permite a distinção nos casos normais.
Esta distinção quanto ao sexo morfológico é caracterizada por duas correntes distintas. Na primeira distinção o sexo morfológico propriamente dito se divide com as características genitais internas, externas e gônadas a outra são características extragenitais que são características secundarias decorrente da ação hormonal produzida pelas gônadas. Já na segunda distinção englobam-se mais o sexo dinâmico, pois trata de um conjunto de ações envolvidas no ato sexual desde o apetite sexual até o relaxamento após o ato sexual.
Para, Maria Berenice, 2010, ela afirma que:
A identificação do sexo é feita no momento do nascimento pelos caracteres anatômicos, registrando-se o indivíduo como pertencente a um ou a outro sexo exclusivamente pela genitália exterior. No entanto, adeterminação do gênero não decorre exclusivamente das características anatômica as não se podendo mais considerar o conceito de sexo fora de uma apreciação plurivetorial, resultante de fatores genéticos, somáticos, psicológicos e sociais. 
Portanto compreende-se como o sexo morfológico a soma de um resultado das características apresentadas pelas genitais (estruturas internas x externas) e extragenitais somáticas (caracteres sexuais secundários).
2.2.2	PSICOLÓGICO
Com base na corrente doutrinaria, o sexo psicológico se define em várias características que podem ser analisadas como uma reação psicológica de um determinado indivíduo frente a seus determinados distúrbios, estes conflitos com o seu sexo psicológico faz com que o indivíduo transexual cultive dentro de si mesmo um sentimento de angustia e desprezo por não achar que ele não esteja adequado perante a sociedade, Berenice, 2010, define como:
Eventual coincidência entre o sexo aparente e o psicológico gera problemas de diversas ordens. Além de um severo conflito individual, há repercussões nas áreas médica e jurídica, pois o transexual tem a sensação de que a biologia se equivocou com ele. Ainda que o transexual reúna em seu corpo todos os atributos físicos de um dos sexos, seu psiquismo pende, irresistivelmente, ao sexo oposto. Mesmo sendo biologicamente normal, nutre um profundo inconformismo com o sexo anatômico e intenso desejo de modificá-lo, o que leva à busca de adequação da externalidade de seu corpo à sua alma. 
Com a evolução das técnicas cirúrgicas, tornou-se possível mudar a morfologia sexual externa, meio que começou a ser utilizado para encontrar a equiparação da aparência ao gênero com que se identifica. Dito avanço no campo médico, entretanto, não foi acompanhado pela legislação, uma vez que nenhuma previsão legal existia a regular a realização da cirurgia. Essa omissão levava a classe médica a uma problemática ético-jurídica e a questionamentos sobre a natureza das intervenções cirúrgicas e a possibilidade de sua realização
O conceito de sexo psicológico abordado por Maranhão trata como sendo um ajuste ou conexão apresentada pelo indivíduo com uma base psicológica própria de seu sexo biológico, ele diz que:
É evidente que fatores constitucionais e endócrinos predisporão alguém a um prevalecente tipo de reação psicológica. Além disso, os de ordem educacional, familiar, escolar etc. atuarão até certo ponto de uma forma orientada a levar alguém a se comportar e a reagir como masculino ou feminino. Outras vezes os processos educativos, de aculturamento e de adaptação social serão ineficazes para alcançar esse ajuste bio-psíquico-social. Esses casos haverá desvio psicológico-sexual, com grande diversidade de situações patológicas. Geralmente, porém, um ajuste ou integração chega a ser obtido e as pessoas apresentam uma estrutura psicológica própria do seu sexo biológico.
Entretanto poderá ser definido o sexo psicológico pela variedade de características que são traduzidas pela psicologia do indivíduo com determinados estímulos. Em razão do sexo ao qual o indivíduo pertença pode ocorrer uma reação distinta. 
Trata-se dos transexuais, estes são avaliados como indivíduo biologicamente normal, mais com semelhanças ao gênero que corresponde ao seu sexo oposto, vale lembrar que os doutrinadores classificam em uma subespécie distinta, os primários, que são os considerados os únicos a serem habilitados a fazerem a transgenitalização, pois tem manifestações precoces, já os secundários apresentam manifestações tardias, tendo em vista que ele não tem uma certeza sobre si, apresentando uma oscilação entre o travestismo e o homossexualismo.
 Trata-se de homossexualismo o indivíduo com as características de um ser que sente alguma forma de atração por outro indivíduo pertencente ao mesmo gênero ou sexo que o seu. Já o travestismo, são os indivíduos que tem a sua identificação com o seu sexo biológico perfeito, entretanto, tem um hábito e sente-se bem ao trajar roupas referentes ao seu sexo oposto, a sua orientação sexual ela torna-se diversificada uma vez que tanto faz ser ou não do mesmo sexo que o seu.
De acordo com que um indivíduo vai amadurecendo e desenvolvendo seu corpo e sua mente, este cria seus próprios princípios acerca do pensamento que até certa idade isto é imposto universalmente, tanto pela sociedade ou até mesmo pelo ambiente familiar, sendo que a cada passo dado por este indivíduo ganha força e autocontrole, passando a contornar o próprio destino, mesmo que a sociedade imponha pressão quanto a sua orientação sexual, está nunca irá conseguir impor contra a sua força biológica.
Assim sendo impedido de considerar o desenvolvimento sem uma identificação, diante do exposto, seja quanto ao homem ou mulher, a identidade é algo que rege a maneira do indivíduo de como agir e se relacionar com os outros membros do sexo, não sabendo o próprio o que esperar de si mesmo.
Condiciona-se, a observação pessoal da criança quanto aos seus genitais, bem como na sua formação relacionada ao tipo da vestimenta, as brincadeiras em seus horários de lazer. O ser humano ao longo de sua vida passar por diversas transformações, onde nos dois primeiros anos de vida a educação será acentuada para que sejam firmados, reflexos condicionados de comportamentos. Já em sua fase de adolescência surgem então as primeiras experiências sexuais, baseando-se na orientação recebida quando criança.
O indivíduo passa a ter uma certeza quanto a sua identidade de gênero a partir das sensações eróticas que aumentam trazendo assim prazeres satisfatórios. De acordo com que o indivíduo vai tendo as experiências sexuais, ele gerará uma resposta sexual, ao que agrada ou desagrada.
A busca para inibir ou prevenir algum desajuste futuro, deve ser tratado durante os dois primeiros anos de vida, pois quanto mais maduro o indivíduo se torna, menores são as chances de evitar um grau de desvio. Cabe ao indivíduo o interesse na correção do desvio, que poderá ou não ser sanado com o auxílio da terapia.
2.2.3	LEGAL OU JURÍDICO 
O sexo jurídico é aquele encontrado no Registro civil e seguida pela maioria dos doutrinadores. O Estado reconhece o nascimento oficialmente através da publicidade deste fato jurídico, via caráter público da certidão de nascimento.
Através das características biológicas do recém-nascido o sexo jurídico é instituído de acordo com esses aspectos, não havendo nem uma anormalidade desses órgãos externos e uma harmonia com os órgãos internos. No entanto, existem casos em que foge à regra, sendo exemplo, os transexuais que mesmo com o sexo jurídico estando de acordo com o sexo biológico, ele não está acompanhado do seu sexo psicológico. 
A importância do sexo jurídico na vida de uma pessoa vai muito além da identificação de ser masculino ou feminino. É nesta diferença de sexo que está baseada os papéis impostos pela sociedade para cada cidadão e assim a que papel ele passaria a integrar desde a sua concepção.
Pelo fato de não existir nem uma legislação especifica em nosso ordenamento jurídico brasileiro, o magistrado ao deferir o pedido para uma alteração em seu Registro civil quanto ao seu nome e sexo, busca forças no principio da dignidade da pessoa humana, uma vez que nosso ordenamento ao seu analisado ao pé da letra nem proíbe nem permite, Berenice, 2010, afirma que:
No entanto, o sistema jurídico brasileiro consagra o princípio da imutabilidade do nome, não chancelando qualquer pretensão do transexual à mudança do prenome. A Lei dos Registros Públicos diz que o prenome só pode ser alterado quando expuser ao ridículo o seu portador, sendo admitida a alteração somente a pedido do interessado, contanto que não prejudique o sobrenome da família.
Em nosso sistema jurídico se já não bastasse essa inércia perante este assunto, no qual deve ser muito discutido de forma que se encontre não apenas uma solução jurídica como também combater para a diminuição ou ate mesmo acabar com o preconceito vivenciado pelo indivíduo transexual, com este norte Berenice, 2010,analisa que:
Após a realização da cirurgia, que extirpa os órgãos genitais aparentes, adaptando o sexo anatômico à identidade psicossocial, questão de outra ordem se apresenta. Inquestionavelmente é aflitiva a situação de quem, com características de um sexo, tem sua documentação declarando-o como pertencente ao gênero corporal em que foi registrado, o que gera constrangimentos de toda ordem. Daí a busca de alteração do nome e da identificação do sexo no registro civil. A inexistência de via administrativa ou previsão legislativa leva, com frequência, a aflorar na Vara dos Registros Públicos procedimentos pleiteando a retificação.
Para o indivíduo transexual ele necessariamente precisa de amparos de forma equiparada, pois um necessita um do outro para que este torne assim um só, que tenha a satisfação por completa, pois, para a cirurgia é primordial a medicina como aliado e na justiça ele busca pilares para enfim este indivíduo torne-se assim uma só pessoa firme com ela mesma, psicologicamente, morfologicamente e juridicamente. 
2.3	TRANSEXUALISMO
Antes de partimos para o conceito da transexualidade, podemos analisar algumas considerações a respeito da sexualidade humana. Ao tratarmos da sexualidade humana, vale ressaltar a ligação com a origem humana.
Desde os primórdios na Grécia e Roma Antiga, os maridos tinham como costumes fazer encontros entre eles envolvidos pela filosofia, já as mulheres por sua vez queixavam-se justamente devido a essa ausência dos maridos, havendo a necessidade da manifestação sexual.
Na Grécia, a mulher como esposa tinha apenas o dever fundamental de procriar. Os homens buscavam nas prostitutas os prazeres heterossexuais, sendo a prostituição fonte de prazer e uma das funções exercidas pelas escravas. Nesta mesma linha de raciocínio em Roma o chefe da família tinha a mulher como procriadora e sendo de propriedade dele. Já a prostituição para eles era algo de necessidade.
Devido ao fortalecimento do cristianismo, a Igreja passa a ter e assumir um papel muito forte, como sendo uma instituição moralizadora, centralizadora, e diretora das funções que eram de interesses para os Estados. Para o cristianismo, a forma de buscar o prazer apenas poderia ser de forma espiritual. Tendo visivelmente a distinção entre o Bem e o Mal tratando a matéria quanto ao prazer como sendo do considerado mal. 
O sexo passou a ser tratado como algo mal, o prazer era tido como uma obra do diabo. A permissão quanto ao sexo era apenas com o intuito da procriação e expandir a sociedade. Tratando de uma perversão, por discutir ser uma degeneração moral a Igreja condena, também, o homossexualismo, a poligamia, a bigamia e a prostituição.
Com esta certa moralização da Igreja, o casamento torna-se sagrado, entretanto o prazer entre o casal ainda era proibido, pois feriam as leis matrimonias da Igreja. No Império Romano, através de seus métodos na castração de animais para domesticá-lo como de costume, passou se então a praticarem a retirada dos testículos masculinos que eram tidos como aqueles escravos que guardavam os leitos das esposas dos senhores, esses indivíduos tornavam-se mulheres devido ao comportamento e a maneira que vivia.
Diz à história que o Imperador Nero matou a sua própria esposa, e depois procurou um escravo que lembrasse a sua mulher para que seus cirurgiões o transformassem em mulher. Outro Imperador que também partiu para essa busca pela transformação foi Heliogábalo, casando com um escravo, e passando ele próprio adotar o papel da mulher e doando metade do seu império para um cirurgião que o convertesse o seu órgão sexual masculino em uma genitália feminina.
Essas e outras variadas histórias relatam uma evolução da sexualidade em torno da transexualidade, onde encontramos uma lenda que até os dias atuais não se sabe a verdade sobre os fatos reais que no século IX, afirmou que o Papa João VIII seria uma mulher, a Papisa Joana, que se vestia de homem e que teria engravidado e morreu ao dar à luz.
Segundo exposto acima, a transexualidade é uma mutação comum no desenvolvimento no gênero de um indivíduo que ocorre de forma natural e que desde antiguidade vem sendo observada e documentada estando presente no meio social e com possibilidade de estarem próximas as nossas famílias surgindo assim razões para grandes debates acerca do tema, não envolvendo apenas debates no âmbito social, mas também religioso e principalmente jurídico.
A de verificará que os conceitos doutrinários apresentados, nestes primeiros momentos têm um papel relevante para o conceito do transexual. Os doutrinadores apresentam que, parte do indivíduo possui uma incompatibilidade de aceitação, do seu sexo biológico que não está de acordo com o seu psicológico, fazendo com que o indivíduo reprove seguramente seus órgãos genitais.
Tereza Rodrigues Vieira, 2000, diz que:
Transexual é o indivíduo que possui a convicção inalterável de pertencer ao sexo oposto ao constante em seu Registro de Nascimento, reprovando veementemente seus órgãos sexuais externos, do quais deseja se livrar por meio de cirurgia. Segundo uma concepção moderna, o transexual masculino é uma mulher com corpo de homem. Um transexual feminino é, evidentemente, o contrário. São, portanto, portadores de neurodiscordância de gênero. Suas reações são, em geral, aquelas próprias do sexo com o qual se identifica psíquica e socialmente. Culpar este indivíduo é o mesmo que culpar a bússola por apontar para o norte. O componente psicológico do transexual caracterizado pela convicção íntima do indivíduo de pertencer a um determinado sexo se encontra em completa discordância com os demais componentes, de ordem física, que designaram seu sexo no momento do nascimento. Sua convicção de pertencem ao sexo oposto àquele que lhe fora oficialmente dado é inabalável e se caracteriza pelas primeiras manifestações da perseverança desta convicção, segundo uma progressão constante e irreversível, escapando a seu livre arbítrio.
Com o mesmo pensamento, Maranhão comenta o conceito do transexual “fenotipicamente pertencem a sexo definido, mais psicologicamente ao outro e se comportam segundo este, rejeitando aquele”.
Entretanto foram na década de 50, após algumas cirurgias ainda em experiências para a mudança do sexo através da retirada do pênis, apresentadas em uma conferência na Academia de Medicina de Nova Iorque, é que surgiu então a palavra transexualismo pronunciada pelo americano Harry Benjamim, este que nos dias atuais é tido como referência quando se trata do assunto transexualismo.
O então médico conceitua o transexualismo como finalidade de indicar distúrbio referente à identidade sexual, a partir de casos de pacientes que tendiam à transformação da aparência sexual, com base em uma convicção de pertencer a um sexo psicológico, oposto ao que realmente possuía e para isso eram submetidos a tratamentos hormonais e cirurgias.
No ano de 1969, no Marrocos, em Casablanca, Airton Galeai foi o primeiro brasileiro a passar pela cirurgia de mudança de sexo se tratando de um latino-americano de homem para mulher, passando então a ser conhecido por “Jacqueline”.
Já aqui no Brasil, a primeira cirurgia de mudança de sexo ocorreu no ano de 1971, quando Waldir Nogueira, foi operado, também de homem para mulher, este processo cirúrgico proibido na época pelo Conselho Federal de Medicina, fez com o que o cirurgião Dr. Roberto Farina respondesse criminalmente a um processo, o qual acarretou em sua prisão e cassou seu direito de exercer a medicina.
Porem aqui no Brasil o tema “transexualismo” ganhou forças quando Luis Roberto Gambine Moreira passou pelo processo da intervenção cirúrgica na mudança de sexo de homem para mulher, cirurgia está feita no exterior, em que ganhou destaque na década de oitenta se tornando a primeira modelo do Brasil Transexual conhecida então mundialmente como “Roberta Close”.
Com o passar dos anos e os avanços tecnológicos na Medicina, foram desenvolvidos alguns métodos para tratamento deste transtorno para buscar uma adequação social para os transexuais,por parte dos psicólogos, psicanalista, e o próprio Conselho Federal de Medicina passando a ter a sua legalidade em caráter experimental, em hospitais públicos e Universidade, baseando-se com a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1482/97.
Após a evolução deste tratamento, em 2002, a Resolução do Conselho Federal de Medicina é editada pela de nº 1652/02 permitindo então que a intervenção cirúrgica na mudança de sexo fosse realizada em hospitais particulares, com os devidos pré-requisitos estabelecidos de acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.
Mesmo com o progresso para a “diminuição” acerca do preconceito da sociedade no que se refere este tema, com aquele que socialmente se contraditório com o sexo natural como os homossexuais, travestis, transexuais ainda vive sob uma pressão, tendo que enfrentar dificuldades mesmo com todo o avanço na área da medicina em relação ao transexualismo, no que se refere à parte jurídica ainda é tido como uma barreira para a adaptação do transexual operado na sociedade.
2.3.1	TRANSEXUAL PRIMÁRIO
O transexual primário recebe essa classificação pelo fato de ser, o verdadeiro transexualismo. São aqueles indivíduos que precocemente apresentam uma manifestação pela alteração do seu sexo, convictos de que esta é a única solução para o seu problema, pois apresenta uma grande reprovação quanto ao seu órgão genital, tentando a todo custo esconde-lo ou buscando métodos para atrofiá-lo.
O seu órgão genital não tem a devida função em relação ao seu prazer, sendo então por ele considerado de forma inútil. Esta pessoa em questão não tem em nenhum momento desvio para o homossexualismo ou o travestismo. Durante o momento de acompanhamento clínico, apresenta o chamado “traço de definitivo” o qual mostra a toda sua confiança em relação à mudança de sexo.
Nos dias atuais casos com a identificação do transexualismo primário passou a ser mais presente e tornaram-se motivos de divisão de opiniões como no caso do menino Coy na cidade Oregon no qual desde os seus 6 (seis) anos de idade comporta-se como uma menina, usando roupas, e até mesmo frequentando o banheiro feminino da escola em que estuda.
A partir dos seis anos o problema de Coy passou a ser sobre o uso ou não do banheiro feminino, pois com o seu crescimento a situação de manter as meninas e Coy passa a ser um problema. 
2.3.2	TRANSEXUAL SECUNDÁRIO
Como já citado, existe o transexualismo secundário, e a este indivíduo encontramos uma incerteza acerca do homossexualismo e o travestismo, razão pela qual é analisado o seu impulso transexual como “temporário”, “fortuito”.
Devido a esse impulso de incerteza é que torna o transexual secundário impedido de realizar a intervenção cirúrgica para mudança de sexo, neste ser não se encontra o traço de definitivo o tornando assim convicto de sua condição e de seu desejo sexual e físico, não sendo assim possível a sua cirurgia, por encontrar-se em constante dúvida em relação a fazer ou não a cirurgia de transgenitalização. 
2.3.3	OUTROS TIPOS SEXUAIS
Toda via, dentro da nossa sociedade, é comum que os tipos de classes sexuais como os transexuais, homossexuais, bissexuais e travestis, terem uma mesma designação devido aos costumes vigentes.
Entretanto existem grandes diferenças em relação a cada tipo de classe sexuais aonde se encontra uma característica específica para sua identificação. No entanto a generalização e banalização sexual e social causa a estes indivíduos discriminação e torna todo o processo árduo. 
O preconceito envolve todas as classes e assim restringe até aos transexualismo primário a sua oportunidade de cirurgia e de obter os direitos jurídicos inertes a estes causando a cada um maiores frustrações físicas, psíquicas e sexuais.
2.3.4	TRAVESTISMO
O travestismo é indicado por se tratar de um disfarce, trata-se de uma transformação naquilo que não é. O indivíduo masculino passa a se trajar como uma mulher e tenta a busca pelos movimentos e manias femininas.
Trata de um indivíduo que constrói a sua imagem através das roupas, calçados, da maquilagem e dos trejeitos femininos. O Travesti não sofre alteração em seu corpo e também não é, necessariamente, um problema acerca de sua orientação sexual.
Hélio Gomes, 1993, afirmava que “travestismo é um desvio no sexo no qual o indivíduo se sente atraído pelas veste-se do sexo oposto”. Daí se retira a distinção entre o transexual e o travesti, pois os transexuais têm o desprezo pelo seu órgão genital, por não ser com seu órgão uma fonte de prazer, enquanto o travestismo não proporciona tal comportamento. 
2.3.5 HOMOSSEXUALISMO
Dentre os doutrinadores da medicina, o homossexualismo consiste em uma anomalia que na prática ativa, passiva ou ambivalente, de atos libidinosos, entre indivíduos que pertença ao mesmo sexo, trata-se então de uma inversão sexual.
Eles convivem normalmente com o seu próprio sexo e são convictos que pertencem a ele. No que se refere às formas de se vestir também são de formas normais quanto ao seu sexo e não lhe agride de forma psicológica. Existe uma diferença apontada em relação aos transexuais e os homossexuais é que, este não está em busca da cirurgia de mudança de sexo, pois o seu órgão genital lhe dá prazer.
Outra diferença é que, também, no fato em que os homossexuais não têm qualquer aborrecimento quanto ao seu sexo biológico, e sua atividade sexual é voltada para as pessoas de sexo biológico similar ao seu, pelo qual se tem preferência unicamente atraída pelo mesmo sexo.
2.3.6 BISSEXUAIS
Quanto ao bissexualismo teremos uma diferenciação quanto à alternância na pratica sexual, pois está classe não tem preferência quanto ao parceiro, e se relaciona ora com do mesmo sexo, ora com parceiro do sexo oposto.
A designação de bissexual não é bem vista como as demais, homossexual, gay, lésbica e heterossexual. O desconforto ocorre entre os bissexuais por acreditarem que tal denominação não os considera de forma adequada, acreditam que o seu emprego ocorre por inexistir no momento uma palavra mais apropriada que demonstre a realidade da ocasião.
Esta nomenclatura não é satisfatória, mais ao menos possibilita uma identificação quanto a sua sexualidade, quebrando assim a diferença existente entre heterossexual e homossexual. A bissexualidade não pode ser encarada como uma fase transitória de heterossexual para o homossexual e vice versa. 
Em grande parte dos casos se tratando de bissexualidade é a implicância no reconhecimento de uma identidade sexual independente das demais, possui características próprias, com tendências entre o heterossexual e o homossexual, nem por isso renunciam a nem uma identidade.
3	A CIRÚRGIA DE TRANSGENITALIZAÇÃO À LUZ DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
3.1 	NORÇÕES DE DIREITO DA PERSONALIDADE
No Direito existe um campo no qual temos muitas divergências em relação aos direitos de personalidade por parte dos doutrinadores quanto à sua designação.
Existem diversas denominações “direitas da personalidade”, “direitos individuais” ou “direito de personalidade”. Entretanto não há uma conformidade em relação à decisão da sua natureza, o entendimento majoritário é daqueles que os veem com uns direitos subjetivos.
Segundo Maria Helena Diniz, 2002, estes são os direitos que o indivíduo tem de defender seus interesses protegidos pelo Estado seus, como ela ressalva em sua palavra:
Os direitos da personalidade são direitos de defender: 1) a integridade física: a vida, os alimentos, o próprio corpo vivo ou morto, o corpo alheio vivo ou morto, as partes separadas do corpo vivo ou morto (CF, art. 199, § 4.º; Lei n. 9.434/97 e Dec. _. 2.268/97, que a regulamenta; CC, arts. 13, 14 e 15, Portaria n. 1.376/93 do Ministério da Saúde); 2) a integridade intelectual: a liberdade de pensamento (RT, 210:411,401:409), a autoria científica, artística, literária; 3) a integridade moral: a liberdade civil, política e religiosa, a honra (RF, 63:174, 67:217, 85:483),a honorificiência,o recato, o segredo pessoal, doméstico o profissional (RT,330:809,339:518,521:513,523:438, 567:305,CC, art. 21) a imagem (RT, 570:177, 576:249, 600:69, 623:61; CC, art. 20) e a identidade pessoal (CC, arts. 16, 17, 18 e 19), familiar e social” 
Seguindo o mesmo entendimento Carlos Alberto Bittar, 1995, trata o direito a personalidade como direito essenciais reconhecidos a pessoa humana, diz que:
Consideram-se como da personalidade os direitos reconhecidos à pessoa humana tomada em si mesma e em suas projeções na sociedade, previstos no ordenamento jurídico exatamente para a defesa de valores inatos do homem, como a vida, a higidez física, a intimidade, a honra, a intelectualidade e outros tantos.
O direito subjetivo é capaz de resguardar a pessoa humana a tradicional construção dos direitos subjetivos de caráter patrimonial para levar em consideração o comportamento social e a valoração dos aspectos essências do homem. A compreensão do direito subjetivo é a noção da liberdade, indispensável para a proteção e desenvolvimento dos direitos da personalidade.
O direito a personalidade do homem trata-se de um direito individual indispensável para a proteção da sua dignidade e sua integridade pessoal. Direitos estes que nascem com o próprio homem tento a personalidade como uma parte legitima do indivíduo, pois será através dela que ele defenderá seus interesses.
A personalidade do indivíduo ela é caracterizada por ser individual e intransferível e não podendo ser penhorada tendo a sua extinção em regra extingue-se em regra com o falecimento do indivíduo. O indivíduo também não poderá transferir a outrem como também não poderá renunciar a sua personalidade, que não terá prazo para ser exercida, a personalidade não pode prescrever, esta quando lesada, surge para o indivíduo o direito à indenização por danos morais, todavia este fato não lhe tira o seu próprio caráter.
O ordenamento jurídico brasileiro reconhece a personalidade jurídica com base nas Constituição Federal de 1988 que traz a dignidade humana tutelada no artigo 1º, III, da Constituição, in verbis:
Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
A principal característica deste princípio se dar pela proteção que ele transmite ao indivíduo uma forma de defesa pessoal. O direito a personalidade abriga vários direitos individuais as pessoas, como: o direito à identidade pessoal, direito à liberdade, o direito à honra, o direito ao resguardo pessoal, o direito a integridade física, e o direito à vida.
Neste mesmo norte Maria Helena Diniz, 2002, demonstra a importância da que os direitos da personalidade, para uma pessoa uma vez que este é protegido legal e constitucionalmente, veremos:
Importância desses direitos e a posição privilegiada que vem ocupando na Lei Maior são tão grandes que sua ofensa constitui elemento caracterizador de dano moral e patrimonial indenizável, provocando uma revolução na proteção jurídica pelo desenvolvimento de ações de responsabilidade civil e criminal; do mandado de segurança; do mandado de injunção; do habeas corpus; do habeas data etc. Com isso reconhece-se nos direitos da personalidade uma dupla dimensão: a axiológica, pela qual se materializam os valores fundamentais da pessoa, individual ou socialmente considerada, e a objetiva, pela qual consistem em direitos assegurados legal e constitucionalmente, vindo a restringir a atividade dos três poderes, que deverão protegê-los contra quaisquer abusos, solucionando problemas graves que possam advir com o progresso tecnológico, p. ex., conciliando a liberdade individual com a sócia. 
Entendendo a importância única e exclusiva que a personalidade tem como transmitir ao indivíduo uma garantia de uma proteção digna do com essas pessoas para que haja uma construção com base na qualidade de vida tendo em vista uma forma do convívio de uma sociedade mais justa, solidaria e livre.
O direito mais precisa que o ser humano tem é o próprio direito a vida, sem ela nada poderá existir, o direito à vida é assegurado antes mesmo do seu nascimento, que mesmo dentro do ventre de sua mãe já está assegurado o direito quanto ao nascituro.
3.2 	DIREITO À SAÚDE
Como esta designada na Constituição Federal ficou a cargo do Estado o dever de assegurar a todos assistência medica onde cada um tenha o mesmo direito que os outros, pois se trata de um direito a todos devendo garantir mediante políticas econômicas e sociais, oferecendo assim uma melhor condição de vida para a população.
Entretanto é possível notar que o Poder Público tem avançado pouco em relação a uma garantia de qualidade de vida para a população havendo assim uma expressa desigualdade em relação aos serviços prestados, onde está incluída a oportunidade na busca da disponibilidade do tratamento quanto à oferta de medicamento, no Brasil a justiça vem auxiliando as pessoas, a buscar um amparo judicial para que o poder judiciário atue de forma mais rigorosa e com precisão para assegurar nos casos mais urgentes ou na falta de medicamento muitas vezes inviável para que certa pessoa tenha condições financeiras de adquirir tal medicamento.
O direito a saúde no ano de 2007 foi invocado pela decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidindo pela inclusão na tabela do SIH-SUS a cirurgia de transgenitalização, ementa:
DIREITO CONSTITUCIONAL. TRANSEXUALISMO. INCLUSÃO NA TABELA SIH-SUS DE PROCEDIMENTOS MÉDICOS DE TRANSGENITALIZAÇÃO. PRINCÍPIO DA IGUALDADE E PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃOPOR MOTIVO DE SEXO. DISCRIMINAÇÃO POR MOTIVO DE GÊNERO. DIREITOS FUNDAMENTAIS DE LIBERDADE. LIVRE DESENVOLVIMENTO DA
PERSONALIDADE, PRIVACIDADE E RESPEITO À DIGNIDADE HUMANA. DIREITO À SAÚDE. FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO. 
1- A exclusão da lista de procedimentos médicos custeados pelo Sistema Único de Saúde das cirurgias de transgenitalização e dos procedimentos complementares, em desfavor de transexuais, configura discriminação proibida constitucionalmente, além de ofender os direitos fundamentais de liberdade, livre desenvolvimento da personalidade, privacidade, proteção à dignidade humana e saúde. 2 – A proibição constitucional de discriminação por motivo de sexo protege heterossexuais, homossexuais, transexuais e travestis, sempre que a sexualidade seja o fator decisivo para a imposição de tratamentos desfavoráveis. 3 – A proibição de discriminação por motivo de sexo compreende, além da proteção contra tratamentos desfavoráveis fundados na distinção biológica entre homens e mulheres, proteção diante de tratamentos desfavoráveis decorrentes do gênero, relativos ao papel social, à imagem e às percepções culturais que se referem à masculinidade e à feminilidade. 4 – O princípio da igualdade impõe a adoção de mesmo tratamento aos destinatários das medidas estatais, a menos que razões suficientes exijam diversidade de tratamento, recaindo o ônus argumentativo sobre o cabimento da diferenciação. Não há justificativa para tratamento desfavorável a transexuais quanto ao custeio pelo SUS das cirurgias de neocolpovulvoplastia e neofaloplastia, pois (a) trata-se de prestações de saúde adequadas e necessárias para o tratamento médico do transexualismo e (b) não se pode justificar uma discriminação sexual (contra transexuais masculinos) com a invocação de outra discriminação sexual (contra transexuais femininos). 5 – O direito fundamental de liberdade, diretamente relacionado com os direitos fundamentais ao livre desenvolvimento da personalidade e de privacidade, concebendo os indivíduos como sujeitos de direito ao invés de objetos de regulação alheia, protege a sexualidade como esfera da vida individual livre da interferência de terceiros, afastando imposições indevidas sobre transexuais, mulheres, homossexuais e travestis. 6 – A norma de direito fundamental que consagra a proteção à dignidade humana requer a consideração do ser humano com um fim emsi mesmo, ao invés de meio para a realização de fins e de valores que lhe são externos e impostos por terceiros; são inconstitucionais, portanto, visões de mundo heterônomas, que imponham aos transexuais limitem e restrições indevidas, com repercussão no acesso a procedimentos médicos. 7 – A força normativa da Constituição, enquanto princípio de interpretação requer que a concretização dos direitos fundamentais empreste a maior força normativa possível a todos os direitos simultaneamente, pelo que a compreensão do direito à saúde deve ser informada pelo conteúdo dos diversos direitos fundamentais relevantes para o caso. 8 – O direito à saúde é direito fundamental, dotado de eficácia e aplicabilidade imediatas, apto a produzir direitos e deveres nas relações dos poderes públicos entre si e diante dos cidadãos, superada anoção de norma meramente programática, sob pena de esvaziamento do caráter normativo da Constituição. 9 – A doutrina e a jurisprudência constitucionais contemporâneas admitem a eficácia direta da norma constitucional que assegura o direito à saúde, ao menos quando as prestações são de grande importância para seus titulares e inexiste risco de dano financeiro grave, o que inclui o direito à assistência médica vital, que prevalece, em princípio, inclusive quando ponderado em face de outros princípios e bens jurídicos. 10 – A inclusão dos procedimentos médicos relativos ao transexualismo, dentre aqueles previstos na Tabela SIH-SUS, configura correção judicial diante da discriminação lesiva aos direitos fundamentais de transexuais, uma vez que tais prestações já estão contempladas pelo sistema público de saúde. 11 – Hipótese que configura proteção de direito fundamental à saúde derivado, uma vez que a atuação judicial elimina discriminação indevida que impede o acesso igualitário ao serviço público. 12 – As cirurgias de transgenitalização não configuram ilícito penal, cuidando-se de típicas prestações de saúde, sem caráter mutilador. 13 – As cirurgias de transgenitalização recomendadas para o tratamento do transexualismo não são procedimentos de caráter experimental, conforme atestam Comitês de Ética em Pesquisa Médica e manifestam Resoluções do Conselho Federal de Medicina. 14 – A limitação da reserva do possível não se aplica ao caso, tendo em vista a previsão destes procedimentos na Tabela SIH-SUS vigente e o muito reduzido quantitativo de intervenções requeridas. 14 – Precedentes do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, da Corte Europeia de Justiça, do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, da Suprema Corte dos Estados Unidos, da Suprema Corte do Canadá, do Tribunal Constitucional da Colômbia, do Tribunal Constitucional Federal alemão e do Tribunal Constitucional de Portugal. DIREITO PROCESSUAL. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICOFEDERAL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. ABRANGÊNCIA NACIONAL DA DECISÃO. 15o Ministério Público Federal é parte legítima para a propositura de ação civil pública, seja porque o pedido se fundamenta em direito transindividual (correção de discriminação em tabela de remuneração de procedimentos médicos do Sistema Único de Saúde), seja porque os direitos dos membros do grupo beneficiário têm relevância jurídica, social e institucional. 16 – Cabível a antecipação de tutela, no julgamento do mérito de apelação cível, diante da fundamentação definitiva pela procedência do pedido e da presença do risco de dano irreparável ou de difícil reparação, dado o grande e intenso sofrimento a que estão submetidos transexuais nos casos em que os procedimentos cirúrgicos são necessários, situação que conduz à automutilação e ao suicídio. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e deste Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 17 – Conforme precedentes do Supremo Tribunal Federal e deste Tribunal Regional Federal da 4ª Região são possíveis à atribuição de eficácia nacional à decisão proferida em ação civil pública, não se aplicando a limitação do artigo 16 da Lei nº 7.347/85 (redação da Lei nº 9.494/97), em virtude de natureza do direito pleiteado e das graves consequências da restrição espacial para outros bens jurídicos constitucionais. 18 – Apelo provido, com julgamento de procedência do pedido e imposição de multa diária, acaso descumprido o provimento judicial pela Administração Pública. (Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Apelação Civil n. 2001.71.00.026279-9/RS. Relator: Roger Raupp Rios, julgado em 14/08/2007).
Observa-se que o voto do relator Roger Raupp mostra a seguinte passagem, ao mencionar o direito à saúde e o direito quanto ao tratamento adequado ao transexual de acordo com a sua situação patológica, completando a devida responsabilidade ao Estado o dever de prestar o devido atendimento gratuito para a realização da cirurgia de mudança de sexo.
Assim, pode ser considerado o enfermo, em razão de um conflito psicológico por não conseguir ter uma vida como outra pessoa qualquer ou mesmo profissionalmente produtiva, podendo ser analisado a necessidade do seu transtorno psicológico a ser visto como uma questão de saúde.
Para que o transexual não tenha a sua qualidade de vida ameaçada, quando este estiver realizado à cirurgia de transgenitalização, segue o Estado com o dever de garantir a essas pessoas que possa viver de forma digna de acordo com sua nova característica quanto ao seu sexo, ou seja, possa ter o direito para a alteração do seu registro de nascimento uma vez que o direito de personalidade é subjetivo e por se tratar de características individuais cada indivíduo torna-se livre para definir a sua personalidade.
3.3 	DIREITO À DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO
O transexual tem na sua vida um peso a ser carregado por achar que não pertence à sociedade por não encontrar a sua felicidade quando não se vir psicologicamente do sexo ao qual pertence carregando uma tristeza interior de se sentir inferior por medo de que a sociedade excluía esta pessoa com preconceitos ultrapassados.
A medicina buscou encontrar uma forma que a cada ano que se passa é mais comum esta realidade nos consultórios médicos com a procura de tentar de alguma forma encontrar uma solução para este caso, solução esta resolvida através da cirurgia de mudança de sexo, mais que em alguns Países essas cirurgia não é permitida, restando a essas pessoas buscar os Países que permitem esse procedimento cirúrgico. 
Ainda que tenha ocorrido uma evolução no âmbito da medicina ao transexual ainda resta com um empecilho, a barreira no âmbito jurídico, pois com base no Código Civil o art. 13 diz que, in verbis:
Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição ao próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. 
.Com base neste dispositivo seria impossível a realização da cirurgia de transgenitalização ser realizada por leva a crer que tal procedimento seria ilícito, virtude de condicionar a intervenção cirúrgica com um fato de não trazer diminuição permanente da integridade física do indivíduo, e não contrariar os bons costumes.
Entretanto, insta ressaltar, que a intervenção cirúrgica que o transexual procura, uma vez que ele convive com um conflito interno de identidade sexual, prevalecendo o sexo psicológico. Podendo ser observado, ainda, que este procedimento cirúrgico não traz ao paciente nem uma diminuição a integridade física (nem temporária, nem permanente), uma vez que o parecer dos médicos responsáveis pela analise do paciente que são hábitos a fazerem a cirurgia demonstre ser favorável ao indivíduo.
3.4 	CORREÇÃO CIRÚRGICA
O termo Cirurgia de Redesignação Sexual é utilizado para definir o procedimento onde uma pessoa de sexo masculino ou feminino, tem toda a sua aparência física e sexual alterada para o sexo oposto através da cirurgia de redesignação sexual. 
O primeiro a estudar profundamente os transexuais foi o Dr. Harry Benjamin, na década de 50, naquela época, não existia nem um suporte bibliográfico prévio. Sem nem uma terminologiaadequada, entretanto mesmo sem muitos recursos para a pesquisa os resultados deste fenômeno são idênticos aos atuais: reconhecimento precoce, a buscar por usar roupas do sexo oposto secretamente, certo grau de culpa e varias buscas sem sucesso por uma tentativa de mudança quanto aos seus desejos sexuais e sentimentais.
No Brasil esta cirurgia era condenada pelo Conselho Federal de Medicina por se tratar de uma cirurgia de mutilação, e não corretiva, conforme o IV Congresso Federal de Medicina Legal realizado na cidade de São Paulo em 1974, caso algum medico realizasse esse tipo de procedimento seria punido tanto na esfera jurídica pelo Código Penal, podendo ate ser preso e responderia consequentemente no Conselho Federal de Medicina.
O primeiro caso de grande repercussão nacional foi o caso diagnosticado de Waldir Nogueira, que se tratava de uma pessoa transexual primário, que procurou a cirurgia no ano de 1971, cirurgia esta realizada pelo Dr. Roberto Farinha. A cirurgia foi um verdadeiro sucesso realizado no Hospital das Clinicas, em São Paulo.
A realização desta cirurgia acarretou em um inquérito policial, uma vez o que o cirurgião que realizou essa cirurgia Dr. Roberto Farinha, foi condenado a uma pena de reclusão de 2 (dois) anos de por crime de lesões corporais, visto que o MM Juiz entendeu que o caso de Waldir Nogueira tratava- se de homossexualidade.
Cabendo ao Tribunal da alçada Criminal de São Paulo, em 1979 da 5º Câmera, deu provimento à apelação, e por votação majoritária absolveu o acusado, chegando à conclusão que o Dr. Roberto Farinha não agiu dolosamente, uma vez que foi através dessa cirurgia que veio a diminuir o sofrimento mental e físico, e que tal cirurgia não era vedada pelo Conselho de Ética de Medicina nem pela lei.
Outro caso de grande repercussão no Brasil foi o caso do transexual Luis Roberto Gambini Moreira, mais conhecido como Roberta Close, entretanto a cirurgia dela foi realizada na Inglaterra em 1989, começando a parti dai a sua luta em busca do seu direito para alteração do seu nome. Em 1992, ela conseguiu na 8º Vara da Família do Rio de Janeiro autorização para essa mudança nos documentos, mais a 2º instância negou em 1997. A defesa então impetrou outra ação, pedindo o reconhecimento quanto a suas características físicas femininas. Roberta então teve que passar por nada mais que nove especialistas médicos aonde os laudos mostraram que ela realmente possuía aspectos hormonais femininos. A defesa de Roberta também argumentou que ela não poderia viver psicologicamente bem com um nome ao qual não desejasse e que consequentemente a levasse a ser vitima de preconceitos, alem de que seria um direito íntimo dela mudar de nome.
Após quinze anos de muita luta em 10 de março de 2005, Roberta Close conseguiu, finalmente, garantir o seu direito de mudar de nome de Luis Roberto Gambine Moreira para Roberta Gambine Moreira. Ate que foi emitida uma nova certidão pelo cartório da 4º Circunscrição do Rio de Janeiro. Essa certidão garantiu à modelo a retirada no Brasil de documentos, como carteira de identidade, CPF e passaporte, como sendo do sexo feminino. 
Entretanto a medicina sempre seguiu evoluindo com a população e no ano de 1997 o Conselho Federal de Medicina editou a Resolução nº 1.482/97, autorizando como finalidade de pesquisa a realização de cirurgia de redesignação e mais tarde no ano de 2002 devido aos bons resultados da cirurgia novamente o Conselho Federal de Medicina editou uma nova resolução nº 1.652/02, revogando a anterior. 
O principal objetivo da cirurgia de mudança de sexo não se trata de tornar o individuo ativo, mais sim tentar equiparar a aparência do seu corpo com a sua aparência psicológica. A cirurgia envolve vários processos ate a sua realização, desde o diagnostico pelos medico ate uma fase de teste por alguns anos entre um a cinco anos no papel inverso ao seu sexo, como uma forma adaptação.
A cirurgia de mudança de sexo surge em um momento para que possa ser encontrada como uma possível solução para este caso, ficando como dever para a sociedade e nossos legisladores apoia-las e incentivar cada vez mais, pois os transexuais só assim poderão buscar a sua felicidade para isso é necessário que tenha uma disposição de todos os meios existentes e aceitos por toda sociedade.
Entretanto existe uma corrente contraria a essa possibilidade de cirurgia em relação à mudança de sexo, pois, eles sustentam que esta não tem condão de modificar o sexo do indivíduo, pois mesmo depois de operado, em um transexual masculino continuará sendo homem e o transexual feminino continuará mulher, por tratar que a cirurgia apenas altera a aparência do órgão genital externo.
Já os que defendem a intervenção cirúrgica, alegam que essa é a única forma encontrada como uma alternativa como solução para este caso. Afirmam que mesmo que a cirurgia não lhe dê a função reprodutora (a qual em nem um momento cogita-se o estabelecimento da busca pela reprodução a parti desse novo órgão), mais proporciona ao transexual integrar o seu sexo biológico com o seu sexo psicológico, buscada por este, contribuindo assim, para a felicidade do indivíduo.
A felicidade é uma sensação no qual faz com que uma pessoa possa se sentir bem, não é possível dizer exatamente o que é a felicidade mais se tratando dos transexuais essa felicidade é busca pela equiparação do seu sexo biológico com o seu sexo psicológico, quando essa felicidade não é encontrada essa pessoa passa a sentir-se desprezada pela sociedade por achar que ela não estar adequada entre o meio em que ela frequenta, devido aos preconceitos ainda encontrados hoje em dia com essas pessoas.
As cirurgias variam de acordo com cada caso. Existe um complemento no tratamento dessas cirurgias que são ministradas com auxilio de hormônios sexuais, com o objetivo de estimular as características do sexo adotado. Quando o transexual masculino busca a cirurgia para obtenção da genitália feminina, ministra a esse paciente o hormônio estrógeno, já no caso do transexual feminino que busca a genitália masculina com a cirurgia é ministrado o hormônio testosterona. Este processo, buscar pôr fim aos conflitos psicológicos e sociais de que esses indivíduos são vitimas.
Por vezes, uma recursa dos médicos em realizar esse processo cirúrgico de trangenitalização no transexual, pode levar essa pessoa à exaltação máxima buscando por conta própria uma autocastração ou ate mesmo o suicídio. Trazendo como uma conclusão de que a intervenção cirúrgica se faz necessária para o seu tratamento.
3.5 	A ÉTICA DA REALIZAÇÃO DA CIRÚRGIA DE TRANSGENITALIZAÇÃO
Em torno de toda essa discussão, o Conselho Federal de Medicina, em 1997, depois de vários anos de debates, publicou uma Resolução nº 1.482/97, autorizou a cirurgia. Alguns anos após essa publicação veio uma nova Resolução de nº 1.652/02, revogando a Resolução nº 1.482/97, entretanto, mantiveram grande parte do texto e o sentido da antiga Resolução.
Restou ao Conselho Federal de Medicina definir o que seria o paciente transexual como ´´portador de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência à automutilação e ou autoextermínio`. Consolidando assim a sua definição com as demais apresentadas anteriormente. 
O art. 1º estabelece a autorização para a realização da cirurgia de trangenitalização em todo território nacional, tanto para o transexual masculino quanto para o feminino:
autorizar, a título experimental, a realização de cirurgia de transgenitalização do tipo neocolpovulvoplastia, neofaloplastia e ou procedimentos complementares sobre gônadas e caracteres sexuais secundários como tratamento dos casos de transexualismo.
A interpretação deste artigo leva a entender que a autorização é apenas experimental, e não que a cirurgia seja experimental, uma vez que não são permitidos pela nossa legislação que seja utilizado seres humanos em cirurgias experimentais.
Esta cirurgia deve ser seguida de acordo com os critérios estabelecidos no art. 3º critérios estes que tem o único fim de assegurarque a cirurgia só poderá ser autorizada caso conste todos os requisitos, na ausência de quaisquer requisitos não poderá o medico prescrever o diagnostico da cirurgia de trangenitalização, pois não será caracterizado o indivíduo transexual. Os critérios são: 
a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, aos critérios abaixo enumerados:
- desconforto com o sexo anatômico natural;
- desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características.
primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto;
- permanência desse distúrbio de forma contínua e consistente por,
no mínimo dois anos;
- “ausência de outros transtornos mentais.
Com a busca por um medico pelo transexual, serão realizados os exames e após estes exames clínicos, este será encaminhado para outra equipe medica que deverá o acompanhar pelo período de dois anos, estas normais estão estabelecidas no art. 4º da mesma resolução: 
A seleção dos pacientes para” a cirurgia de transgenitalização obedecerá à avaliação de equipe multidisciplinar constituída por médico- psiquiatra, cirurgião, psicólogo e assistente social, obedecendo aos critérios abaixo definidos, após dois anos de acompanhamento conjunto:
- diagnóstico médico de transexualismo;
- maior de 21 (vinte e um) anos;
- “ausência de características inapropriadas para a cirurgia.
Esta regra deve ser seguida, pois a finalidade da realização da cirurgia apenas em pacientes transexuais. O período de acompanhamento de dois anos é necessário, para que durante este tempo a equipe medica possa utilizar todos os recursos necessários para que se possa chegar a um diagnostico para a realização da cirurgia. Depois de concluído este período, e tendo a equipe concluída que o paciente encontrasse de acordo com os requisitos do art.3º, e, consequentemente também os requisitos do art. 4º a parti dai os médicos poderão recomendar seguramente a realização da cirurgia de trangenitalização.
Em relação à idade do paciente, o art.4º dia que a idade hábil para realização da cirurgia é de 21 (vinte e um) anos, não foi observado que a parti do ano de 2002, através da Lei nº 10.406/2002, que ficou instituída no novo Código Civil, tendo uma redução na maioridade civil, para 18 (dezoito) anos.
Mesmo tendo a idade estabelecida em 21 (vinte e um) anos de idade, deve se levar em conta que a nova maioridade civil estabelecida no novo ordenamento jurídico em vigor, tornando – o habilitado ao paciente de 18 (dezoito) anos de idade apto a realizar a cirurgia. Portanto o indivíduo que seja considerado pela equipe medica como transexual primário poderá através da cirurgia de trangenitalização alterar o seu sexo, pois possui capacidade plena, decorrente maioridade civil.
A cirurgia de trangenitalização esta adequada com forme as normas éticas medicas, visto que este procedimento esta autorizado pelo Conselho Federal de Medicina, que reconheceu a sua natureza terapêutica, não se constituindo em uma violência punível.
4 ALTERAÇÃO DO NOME E DO SEXO APÓS A CIRURGIA DE TRANGENITALIZAÇÃO
4.1 	NOME CIVIL
O nome é uma obrigação e designado no ato do nascimento da criança, tornando possível a aplicação da lei, para o comprimento dos deveres e para que possa ser exercido os seus respectivos direito.
Em outros tempos bastava um único nome para distinguir o indivíduo em determinado local. Entretanto, com o aumento natural da população de determinada região aumentava cada dia, verificando-se, assim, que não seria suficiente para a denominação do indivíduo na sociedade, passando a ser necessária a atribuição de outro nome complementado o primeiro nome para melhor lhe identificasse em seu meio.
Tendo o indivíduo primário superado as questões referentes à cirurgia de mudança de sexo, surge outra, após a realização desta cirurgia, onde ocorreu uma adaptação quanto ao seu sexo anatômico à identidade psicossocial, e passa se apresentar com características de um sexo, mais possui a documentação como pertencer a outro sexo, pois de agora em diante começará a busca para a alteração do registro civil. Seria possível de ocorrer essa alteração de nome e do seu novo estado sexual, na sua documentação?
Esse direito sendo negado, colocará a vida de este ser humano em uma situação constrangedora, uma vez que, após a realização da cirurgia e dos tratamentos realizados que mudaram completamente sua aparência física, ao impossibilitar a alteração da documentação, permanecerá este a margem da sociedade, pois o preconceito será inevitável e dificultará também em uma possível procura por emprego, uma simples hospedagem em hotéis, utilização de banheiros, enfim, tendo a sua dignidade lesada.
4.2 	POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO NOME E DO SEXO APÓS A CIRURGIA
Este cirurgia para o transexual busca uma adequação do seu sexo psicológico como forma de se sentir integrado a sociedade. Com a finalidade de terminar de uma vez sua dualidade sexual, afirmando-se na qualidade em que seu sexo psicológico o define. A cirurgia que definirá o transexual homem-mulher irá assumir o sexo feminino psicológico, passando a viver de forma mais íntegra, passando este a se sentir mais integro individualmente, pois a sua sexualidade psicológica e o seu corpo estará em harmonia.
A legislação brasileira ainda é omissa se tratando deste assunto, ficando como dever do judiciário encontrar e com muita dificuldade formas fundamentações para as questões referentes aos transexuais quanto à modificação em seu novo estado sexual e nome.
No Brasil, quando não for possível encontrar nem um embasamento legal na Lei, para a solução de algum conflito perante o judiciário, o magistrado deverá agir com base no art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil, que diz: ´´quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais``.
Entretanto alguns doutrinadores e jurisprudências negam a alteração do nome para os transexuais em seu registro com base na vedação do art. 1.604 do Código Civil, que diz: “Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro”.
Contudo, se tratando do transexual operado, o art. 1.604 do Código Civil não deverá ser invocado por não se tratar de uma retificação de registro nem de um erro, e sim de uma alteração do estado da pessoa com a sua nova identidade sexual.
Por não ter ainda uma legislação especifica, para este problema do transexual, não seria o correto regredir com o avanço obtido pela medicina com um atraso do legislativo impedindo de certa forma que este indivíduo possa ganhar este direito, uma vez que na lei maior, traz em seu texto constitucional, bem como a Lei de Registro público e também no Código Civil Brasileiro, a possibilidade de alteração do registro civil do transexual operado.
Esta possibilidade é encontrada com base no principio da dignidade da pessoa humana, de acordo com a Constituição Federal, esta é a força necessária que o transexual busca para apoiar o seu direito para mudança do seu nome, uma vez que, sendo negado a aquele este direito, colocará o transexual em uma situação bastante constrangedora diante da sociedade, ferindo o principio invocado. Como também o Código Civil, em seu art. 16 diz que: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e sobrenome”.
 Tendo o transexual o direito a ter a sua identidade pessoal, para que possa ser mais bem identificado perante a sociedade, como também para evitar situações constrangedoras e vexatórias, evitando com que este passe por discriminações, pois o Direito da personalidade assegura a todas as pessoas o respeito perante a sociedade, bem como a ordem jurídica, passando ao transexual operado a ter o direito, de ter sua documentação regulamentada e adequada a sua nova situação.
Existem jurisprudências que foram favoráveis ao tema, trazendo sustentação para a possibilidade da mudança de nome. Este entendimento o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julgou que:
REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS. RETIFICAÇÃO DESEX E DE PRENOME. TRANSEXUALIDADE. ALTERAÇÃO QUE PODE OCORRER POR EXCEÇÃO E MOTIVADAMENTE, AS HIPÓTESES PERMITIDAS PELA LEI DOS REGISTROS PÚBLICOS (LEI Nº 6.015/73, ARTS. 56 E 57). NOME REGISTRAL DO USUÁRIO EM DESCOMPASSO COM A SUA APARÊNCIA FÍSICA E PSÍQUICA. RETIFICAÇÃO QUE SE RECOMENDA, DE FORMA A EVITAR SITUAÇÕES DE CONSTRANGIMENTO PÚBLICO. ALTERAÇÃO DE SEXO, POSTERIOR CIRURGIADE TRANSGENITALIZAÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ART. 462 DO CPC. APELAÇÃO PROVIDA, POR MAIORIA. (Apelação Cível Nº 70014179477, Oitava Câmara Cível, Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul, Relator: Luiz Ari Azambuja Ramos, julgado em 24/08/2006).
Este julgado trata-se de um transexual primário masculino que mesmo sem ter passado ainda pela cirurgia de trangenitalização, buscou a justiça para alterar seu nome no Registro Civil. Entretanto o pedido só foi deferido após a cirurgia de mudança de sexo.
O relator deste caso Luiz Ari Azambuja Ramos, relatou que:
“Veja-se que no presente processo sequer existe um réu propriamente dito. Há apenas o Estado resistindo ao pedido da apelante de, em última análise, querer ser feliz. De buscar a mulher que a natureza lhe deu em um corpo de homem. ‘Data venia’, o direito precisa e deve buscar a realidade. Por mais que não queiramos enxergar, por mais que tentemos fechar nossos olhos neste caso, não há como tirar da apelante a sua realidade de mulher. E isso é que a justiça, o direito, e mais ainda o direito de família, deve resgatar. Por isso, voto no sentido de alterar-se tanto o nome da apelante de RODOLFO para PATRÍCIA, quanto o seu sexo, compatibilizando-os com a realidade vivida por ela.”
Outra decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que mostra ser favorável a alteração do nome e do sexo em seu registro, onde o apelante teve o indeferimento do seu pedido no juízo de primeiro grau. Eis a ementa:
APELAÇÃO CÍVEL. TRANSEXUALISMO. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. NOME E SEXO. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA RECONHECIDO. PROCEDIMENTO CIRÚRGICO DE TRANSGENITALIZAÇÃO REALIZADO. É possível a alteração do registro de nascimento relativamente ao sexo e ao nome em virtude da realização da cirurgia de redesignação sexual. Vedação de extração de certidões referentes à situação anterior do requerente. APELO PROVIDO. (Apelação Cível nº 70013580055, Oitava Câmara Cível, Tribunal De Justiça Do Rio Grande Do Sul, Relator: Claudir Fidélis Faccenda, julgado em 17/08/2006).
Importante observar que o então relator, o desembargador Claudir Fidélis Faccenda, fez o uso de uma sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, com o suporte de fundamentar o seu voto, tendo como relator o Ministro do STJ, Barros Monteiro:
“2. A jurisprudência brasileira vem admitindo a retificação do registro civil de transexual, a fim de adequar o assento de nascimento à situação decorrente da realização de cirurgia para mudança de sexo. Conforme consignado no parecer ministerial, nesse sentido há acórdãos proferidos por vários Tribunais pátrios, dentre eles os Tribunais estaduais de Pernambuco, Amapá, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, sendo proveniente deste último decisum prolatado na Apelação Cível nº 165.157-4/5, Relator Desembargador Boris Kaufmann, julgada em 22/3/2001, do qual se extraem os seguintes excertos: “É verdade que essa desconformidade entre o prenome e o aspecto físico somente surgiu em razão das modificações provocadas pela cirurgia plástica e pela forma do autor se vestir e agir no meio social”. Mas, como salientou a magistrada citada, 'manter-se um ser amorfo, por um lado mulher, psíquica e anatomicamente reajustada, e por outro lado homem, juridicamente, em nada contribuiria para a preservação da ordem social e da moral, parecendo-nos muito pelo contrário um fator de instabilidade para todos aqueles que com ela contactassem, quer nas relações pessoais, sociais e profissionais, além de constituir solução amarga, destrutiva, incompatível com a vida' (transcrição de Antonio Chaves in 'Direito à vida e ao próprio corpo', 1994, pág. 160). Portanto, ainda que não se admita o erro, não se pode negar que, com o aspecto hoje apresentado pelo autor, o prenome 'Adão' o expõe a ridículo, autorizada a sua modificação pelo art. 55, parágrafo único, combinado com o art. 109, ambos da Lei n.6515, de 31 de dezembro de 1973, inexistindo qualquer indicação de que a alteração objetive atingir direitos de terceiros. E, tendo em vista que o autor vem utilizando o prenome 'Lucimara' para se identificar, razoável a sua adoção no assento de nascimento, seguida do sobrenome familiar.
 A alteração da indicação do sexo necessita exame mais cuidadoso.
(...) omissis
Como o erro no assento não existiu, em princípio na alteração não seria possível. No entanto, não se pode ignorar a advertência feita pelo magistrado Ênio Santarelli Zuliani, em brilhante voto vencido proferido na Apelação Cível n. 052.672-4/6, da Comarca de Sorocaba: 'Como a função política do Juiz é de buscar soluções satisfatórias para o usuário da jurisdição – sem prejuízo do grupo em que vive -, a sua resposta deve chegar o mais próximo permitido da fruição dos direitos básicos do cidadão (art. 5°, X, da Constituição da República), eliminando proposições discriminatórias, como a de manter, contra as evidências admitidas até por crianças inocentes, erro na conceituação do sexo predominante do transexual'. E, mais adiante, aludindo à dubiedade existente no portador da síndrome de identidade sexual, acrescenta: 'A medicina poderá aliviar o peso da dubiedade, com técnicas cirúrgicas. O Estado confia que o sistema legal é apto a fornecer a saída honrosa e deve assumir uma posição que valoriza a conquista da felicidade ('soberana é a vida, não a lei', Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, in 'O aprimoramento do Processo Civil como pressuposto de uma justiça melhor', AJURIS 57/80), quando livre da ameaça de criar-se exceção ao controle da paz social'.
A tendência que se observa no mundo é a de alterar-se o registro adequando-se o sexo jurídico ao sexo aparente. O jornal 'EI Mundo', edição de 18 de março de 2000, anunciou: 'Um juez ordena el cambio de nombre del primer transexual operado por Ia Seguridade Social'. Embora a manchete aluda apenas à mudança do nome, a alteração envolveu também o sexo, esclarecendo que o Juizado n. 21, de Primeira Instância de Sevilha - Espanha, ordenou a alteração do nome e do sexo de Suzana G. G., o primeiro transexual operado na Espanha pela Previdência Social, acrescentando: 'La sentença recoge que há quedado debidamente acreditado que Susana, antes Antonio, há 'assumido y ejercitado desde su irifância roles claramente feminino', que solo se han manifestado em su comportamiento, relaciones, o forma de vestir, sino que incluso lé llevaron a 'intentos de mutilación por Ia adversion y repugnância que sentida hacia SUS órganos genitales masculinos, existiendo uma disociatión entre tales órganos y SUS sentimientos' (...)
Já na Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das _ações Unidas em 10 de dezembro de 1948, afirmava-se que a dignidade é inerente a todos os membros da família humana. E a Constituição em vigor inclui, entre os direitos individuais, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas (art. 5°, X). Reside aqui o fundamento legal autorizador da mudança do sexo jurídico, pois sem ela, ofendida estará a intimidade do autor, bem como sua honra. O constrangimento, a cada vez que se identifica, afastou o autor de atos absolutamente normais em qualquer indivíduo, pelo medo da chacota. A busca da felicidade, que é direito de qualquer ser humano, acabou comprometida. Essa preocupação é que levou esta 5ª Câmara de Direito Privado a admitir a alteração do nome e do sexo no assento de nascimento de H. D. B., também transexual primário. Afirmou o acórdão - que curiosamente manteve a indicação de 'transexual' como sendo o sexo do registrado - que "não se pode deixar de reconhecer ao autor o direito de viver

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