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Fichamento - Paz e Guerra Entre Nações (pg 47-66)

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Relações Internacionais
	Introdução às Relações Internacionais
	Professora Tatiana Garcia
	Victória Evangelista Aguiar da Silva
	
	
	
	
	
Disciplina: Introdução ao Estudo das Relações Internacionais 
Professora Tatiana Garcia
Discente: Victória Evangelista Aguiar da Silva | 1º semestre noturno (campus Vila Olímpia)
ARON, Raymond. Paz e Guerra entre as Nações. Brasília: Ed.UNB; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002 (Introdução, p. 47-66)
No início deste capítulo, Aron (2002), após fazer uma breve linha do tempo, onde menciona fatos que marcaram e mudaram a história (como a Revolução Inglesa, no século XVII, e a Revolução Francesa, no século XVIII), e sucintamente esclarecendo como os Estados Unidos tornaram-se a superpotência do século XX, expõe como as relações internacionais trilharam um caminho e tornaram-se objeto de estudo de uma disciplina universitária. Antes estudadas isoladamente por áreas como Direito, História e Geopolítica, por exemplo, o assunto veio à tona após os inúmeros acontecimentos que antecederam e sucederam as Grandes Guerras (com destaque para a Segunda), fazendo com que as pessoas e, consequentemente, o Estado se interessassem cada vez mais, aumentando o número de livros e artigos que falassem sobre. 
Ao contestar tais esforços, Raymond esclarece alguns pontos.
Apesar de já haver historiadores estudando as relações internacionais antes da ascensão do Estados Unidos, os mesmos restringiam-se à descrição ou à narrativa, limitando a ciência a algo supérfluo. Assim, questiona: “[...] Que benefício poderiam tirar os estadistas atuais, ou os diplomatas, do conhecimento histórico dos séculos passados?” (p.48), já que os instrumentos de batalha, sejam dentro ou fora do campo, mudaram com o passar dos anos e as lições do século anterior tornaram-se duvidosas. Então, continua: 
A validade dessas lições não pode ser mantida se elas não forem inseridas numa teoria que abranja o antigo e o novo, identificando os elementos constantes para elaborar o inédito, em vez de eliminá-lo. [...] Os especialistas em relações internacionais não queriam simplesmente seguir os passos dos historiadores; desejavam criar um corpo de doutrina, como todos os estudiosos: formular proposições de caráter geral. (p.48)
De modo grosseiro, era “fácil” caracterizar a teoria das relações internacionais, objetificando-a à fórmula de organização dos dados, seleção dos problemas e determinação das regularidades e dos acidentes. Contudo, “qualquer teoria, no campo das ciências sociais, deve cumprir essas três funções. Os problemas se colocam além destas proposições incontestáveis.” (p.49).
Aron compara a interpretação empírica e a interpretação teórica das relações internacionais entre uma fotografia e um retrato pintado. Sobre isso, diz: "A fotografia mostra tudo o que pode ser visto pelo olho nu; o retrato não mostra tudo o que pode ser visto pelo olho nu, mas mostra algo que o olho não vê: a essência humana da pessoa que serve como modelo" (p.49).
Após algumas indagações, conclui-se que, ao não haver elementos racionais da política internacional e estes não serem o bastante para “desenhar um esboço ou pintar um retrato de acordo com a essência do modelo”, será necessário trilhar outro caminho, no caso, o da sociologia. Desse modo, ao objetivar compreender o cenário internacional, “o teórico se esforçará por reter todos os elementos, em vez de fixar sua atenção exclusivamente sobre os elementos racionais.” (p.49).
Outra controvérsia surge perante o diálogo do "esquematismo racional" e o da "análise sociológica": o idealismo contra o realismo. Após instigar os leitores, Aron tranquiliza-os: “As duas concepções teóricas não são contraditórias, mas complementares: o esquematismo racional e as proposições sociológicas constituem estágios sucessivos na elaboração conceitual do universo social.” (p.50).
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Após uma metáfora sobre a infelicidade de um professor ao tentar definir o conceito das relações internacionais e proposições sobre a definição de fronteira, Raymond esclarece que
 Nenhuma disciplina científica tem fronteiras traçadas com exatidão. Não importa muito saber onde começam e onde terminam as relações internacionais. [...] O importante é determinar o centro de interesse, a significação própria do fenômeno ou dos comportamentos que constituem o núcleo deste domínio específico. (p.52)
Adiante, o autor adota personagens simbólicos, um diplomata e um soldado, e metafora novamente:
 Os dois e somente eles - agem plenamente não como membros mas como representantes das coletividades a que pertencem: o diplomata, no exercício das duas funções, é a unidade política em nome da qual fala; no campo de batalha, o soldado é a unidade política em nome da qual mata o seu semelhante. (p.52)
Tais atores “vivem e simbolizam as relações internacionais que, enquanto interestatais, levam à diplomacia e à guerra. As relações interestatais apresentam um traço original que as distinguem de todas as outras relações sociais: elas se desenrolam à sombra da guerra.” (p.52).
Aron sugere que, enquanto não houver um “Estado universal”, haverá distinções entre a política interna e a política externa, onde a primeira “tende a reservar o monopólio da violência aos detentores da autoridade legítima” (p.53) e a segunda “admite a pluralidade dos centros de poder armado.” (p.53). Em suma,
 a política tem por objetivo imanente a submissão dos homens ao império da lei; na medida em que diz respeito às relações entre Estados, parece significar a simples sobrevivência dos Estados diante da ameaça virtual criada pela existência dos outros Estados - este é o seu ideal e o seu objetivo. (p.53)
Ainda na utopia do Estado universal, Raymond idealiza que não haveria mais um exército, e sim uma polícia que cuidasse da segurança da nação e que, caso uma província desse território se rebelasse, “o Estado único mundial os consideraria como rebeldes, tratando-os como tais.” (p.54). Todavia, essa guerra civil remeteria à política internacional, caso o êxito dos rebeldes o desagregassem do Estado universal, o que, mais uma vez, colocaria em cheque o conceito das relações internacionais. 
No parágrafo seguinte, Aron questiona: “Por se estender do nascimento à morte dos Estados, o estudo das relações internacionais perde sua originalidade, os limites do seu campo específico?” (p.55). A resposta vem no final: 
Tendo por tema principal o significado específico das relações internacionais [...], esta disciplina não pode abstrair as diversas modalidades de intercâmbio existentes entre as nações e os impérios, os múltiplos determinantes da diplomacia mundial, e as circunstâncias em que os Estados aparecem e desaparecem. Uma ciência ou filosofia total da política englobaria as relações internacionais como um dos seus capítulos, mas este capítulo guardaria sua originalidade por tratar das relações entre unidades políticas que reivindicam o direito de fazer justiça e de escolher entre paz e a guerra. (p.55)
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Aqui, Raymond compara o futebol com a diplomacia. Após exemplificar e dissecar os atores, situações e estratégias do esporte, encontra o que chama de “quatro níveis de conceituação”. São elas: “a esquematização dos conceitos e sistemas, as causas gerais dos acontecimentos, a evolução do esporte ou de uma partida isolada e os julgamentos, pragmáticos ou éticos, sobre os tipos de comportamento” (p.57). Em seguida, relaciona-os com a diplomacia:
O comportamento diplomático ou estratégico apresenta certas analogias com a conduta esportiva [...]. Toda coletividade está cercada de inimigos, de amigos, de atores neutros ou indiferentes. Não há um terreno diplomático precisamente delimitado, mas há um campo diplomático no qual aparecem todos os atores que podem vir a intervir no caso de um conflito generalizado. A colocação dos jogadores não está fixada, em caráter definitivo, pelas regras e táticas costumeiras, mas há certos agrupamentos característicos dos atores, que constituem situações traçadas esquematicamente. (p.57)
Diante do exposto, 
[...]a política externa parece singularmente indeterminada: o objetivo dos atores não é simples, como levar a bola ao gol adversário. As regras do jogo diplomático não estão perfeitamente codificadas, e alguns jogadores as violam, quando isto lhes traz vantagem. Não há um árbitro, e mesmo quando o conjunto dos atores (as Nações Unidas) pretendem fazer um julgamento, os atores nacionais não se submetem às decisões desse árbitro coletivo, cuja imparcialidade é discutível. Se a rivalidade das nações faz lembrar um esporte, é a luta livre [...]. (p.57-58)
Ao finalizar essa comparação, Aron agora relaciona o esporte à economia. Relata como “necessidades” surgiram e cresceram além dos recursos existentes; de como, apesar de haver meios para vencer a pobreza, as classes sociais dominantes preferem ignorá-la e continuar com seus privilégios; da utopia sobre abundância de Trotsky; e, por fim, alegora que, embora o objetivo dos jogadores de futebol seja levar a bola até o gol adversário, os atores econômicos “desejam fazer o melhor uso de recursos que são insuficientes, utilizando-os de maneira a produzir aquilo que lhes der a satisfação máxima.” (p.59).
Em seguida, fala brevemente sobre algumas teorias econômicas, sejam elas macro ou microscópicas, problematizando suas consequências, mesmos que mínimas, na sociedade.
O sociólogo expõe que a principal diferença entre os atores econômicos e os futebolistas é que os primeiros “se arriscam a não conhecer a situação exata criada pelo relacionamento entre variáveis econômicas” (p.61), já os segundos “podem ver a posição exata dos seus parceiros e rivais.” (p.61).
“Toda teoria, qualquer que seja a sua inspiração, substitui os homens reais por atores econômicos, cuja conduta é simplificada e racionalizada: reduz as numerosas circunstâncias que influem sobre a atividade econômica a um pequeno número de determinantes.” (p.62), assim, “a sociologia é um intermediário indispensável entre a teoria e a realidade” (p.62). 
Desta maneira, o comportamento dos atores econômicos, desde os empresários até os consumidores, 
nunca é determinado de forma unívoca pela noção de um máximo: a escolha entre o aumento da renda e a diminuição do esforço aplicado à produção depende de elementos psicológicos, irredutíveis a uma fórmula genérica. De um modo mais geral, o comportamento efetivo dos empresários e dos consumidores é influenciado pelos modos de vida, as concepções morais e metafísicas, a ideologia ou os valores da coletividade. Existe assim uma ideologia e uma psicologia social da economia, cujo objetivo é compreender a conduta dos atores econômicos, comparando-a os esquemas da teoria ou precisando as escolhas efetivamente feitas, entre os diversos tipos de maximização elaborados pela teoria. (p.62)
O entendimento do sistema econômico dentro de um conjunto social pode ser o objeto de estudo da sociologia; eles se complementam, não se anulam, como é pensado.
Por fim, Aron Raymond conclui que 
O sistema econômico se estrutura menos rigorosamente do que uma partida de futebol: nem os limites físicos nem os jogadores são determinados com precisão neste sistema, mas a solidariedade recíproca das suas variáveis e as identidades contábeis permitem, desde que se admita a hipótese da racionalidade, perceber a textura do conjunto a partir dos elementos que o compõem. (p.63)
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Ao final desse capítulo, Raymond retoma o conceito de política externa. 
De primazia, compara o comportamento de diferentes pessoas perante distintas situações. Dessas condutas, pode-se concluir “uma combinação de meios com relação aos fins, a aceitação de um risco em função de probabilidades.” (p.63), isto é, o estudante, primeiro comportamento a ser analisado, pode assistir uma aula por ter interesse e gostar dos assuntos abordados, almejando o diploma por orgulho, ou simplesmente acompanhá-la por obrigação e pretender o certificado por necessidade profissional; independente do motivo, pode-se considerar um jogo de interesses. Esse “cálculo” é feito com base em uma hierarquia e uma conjuntura. 
Embora o comportamento do diplomata e do estrategista apresente semelhanças com os dos jogadores de futebol, seus objetivos não são tão determinados ou expressos racionalmente por um máximo, como o dos atores econômicos. Sua conduta toma como ponto de largada a “pluralidade dos centros autônomos de decisão, admitindo o risco de guerra; e deste risco deduz a necessidade de calcular os meios.” (p.64).
Aron ressalta que “o comportamento diplomático-estratégico não tem um fim evidente, mas que o risco de guerra obriga a calcular as forças e os meios disponíveis.” (p.65). Em outras palavras, “a alternativa da paz e da guerra permite elaborar os conceitos fundamentais das relações internacionais.” (p.65).
Ele salienta também que “enquanto cada coletividade tiver que pensar na sua própria salvação, e, ao mesmo tempo, na sobrevivência do sistema diplomático e da espécie humana, o comportamento diplomático-estratégico não será determinado racionalmente, mesmo em teoria.” (p.65).
Apesar disso, assume que, na primeira parte da obra, elabora uma teoria do tipo racional “com base nos conceitos fundamentais[...], nos sistemas e tipos de sistemas.” (p.65), e que tais sistemas 
não apresentam um contorno nítido, como um campo de futebol, nem são unificados por igualdades contábeis e pela interdependência das variáveis, como os sistemas econômicos; mas cada ator sabe bem [...] como se situar com relação aos adversários e aos companheiros de equipe. (p.65)
A teoria, apesar de algumas divergências, possui semelhanças com a teoria econômica. Porém, por falta de interpretações do comportamento diplomático, não possui condições de se desenvolver como teoria global.
Nessa introdução, Raymond adianta brevemente algumas partes do livro, destacando a singularidade nunca vista antes da conjuntura atual (embora a obra tenha sido publicada em 1962, a visão do ilustre autor continua cabendo perfeitamente na realidade vigente), e trazendo à tona mais uma vez a utopia da abundância e a destruição das armas termonucleares, atitudes que reanimam o desejo de paz eterna.
Por último, mas não menos importante, cita Immanuel Kant:
a humanidade deve percorrer o caminho sangrento das guerras para chegar um dia à paz. É através da história que se realiza a repressão da violência natural, a educação do homem à luz da razão. (p.66).

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