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Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. Classificação do Negócio Jurídico Faz-se necessário a classificação do negócio jurídico para que possamos identificar a natureza jurídica deste (categorização jurídica) e nos termos do art. 185 do Código Civil, a classificação que iremos ver a seguir serve tanto para os negócios jurídico, quanto atos jurídicos em sentido estrito. I. Quanto a Manifestação de Vontade dos Envolvidos: • Negócios Jurídicos Unilaterais: no ato ou negócio jurídico unilateral, como o próprio nome já sugere, nós temos a manifestação de vontade de uma única pessoa/agente/parte. Exemplo: testamento, renúncia a um crédito, promessa de recompensa, etc. Os negócios jurídicos unilaterais pode ser classificados em receptícios e não receptícios. Negócios Unilaterais Receptícios: A declaração de vontade tem que ser encaminhada a seu destinatário, possibilitando assim a produção de seus efeitos, a exemplo a promessa de recompensa. Negócios Unilaterais não Receptícios: não há necessidade de levar a conhecimento do destinatário a manifestação de vontade, nesses casos informar ao destinatário sobre a manifestação de vontade é irrelevante, a exemplo o testamento, não é necessário informar ao destinatário que foi deixado um testamento em seu nome para que ele produza efeitos, é lógico que isso não o impede de recursar os bens deixados pelo falecido, no momento oportuno. Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. • Negócios Jurídicos Bilaterais: nos negócios jurídicos bilaterais nós temos 02 (duas) pessoas que desejam praticar determinado negócio, ou seja, há manifestação de vontade de 02 (duas) partes, a exemplo um contrato de compra e venda, ou o próprio casamento. ato ou negócio • Negócios Jurídicos plurilaterais: envolve mais de 02 (duas) partes, onde ambas todas possuem o mesmo objetivo. A exemplo o contrato de sociedade entre mais de 02 (duas) pessoas, ou até mesmo o consórcio. No que diz respeito ao consórcio, esse não é aquele consórcio honda, gazin, chevrolet, etc. aqui falamos da União de mais de uma Pessoa Jurídica para a prática de determinado ato, em nosso Estado pode exemplo, existe um consórcio intermunicipal, ou seja, a União de mais de um município com a finalidade de realizar a coleta e destinação final do lixo, tendo em vista que a legislação exige que os lixos devem ser destinados em aterro sanitário próprio respeitado todas as normas no que diz respeito ao meio ambiente, e além do elevado custo para sua construção, os mais próximos estão no município de Cacoal, e Vilhena, então através do consórcio intermunicipal vários municípios do Estado realizam a coleta de lixo, e destinação final a esses aterros. II. Quanto as Vantagens Patrimoniais para os Envolvidos • Negócios Jurídicos Gratuitos: são atos de mera liberalidade, ou seja, uma parte concede a outra determinado benefício, sem que haja uma contra prestação da parte que recebe, ou seja, não Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. gera nenhuma obrigação em relação a quem está recebendo com aquele que concedeu o benefício. Exemplo: doação pura, contrato de comodato. • Negócio Jurídico Oneroso: trata-se de um negócio jurídico onde há obrigações para ambas as partes, ou seja, de um lado temos a prestação e de outro uma contra prestação, não há necessidade de ser necessariamente em dinheiro, podendo a contra prestação através de qualquer bem que tenha valor econômico. Exemplo: contrato de compra e venda, de um lado temos a parte que vende um bem, e de outro lado a parte que paga por este bem, e esse pagamento pode ser através de dinheiro, ou até mesmo outro bem que tenha valor econômico. A doutrina moderna apresenta mais 02 (duas) classificações acerca do proveito econômico, sendo elas: • Negócio Jurídico Neutros: trata-se de um negócio jurídico em que inexiste atribuição de valor patrimonial, impossibilitando assim classifica-lo como gratuito ou oneroso. Exemplo a instituição de um bem de família voluntário ou convencional (arts. 1.711 a 1.722 do CC). • Negócio Jurídico Bifrontes: são aqueles negócios jurídicos que podem ser tanto onerosos quanto gratuitos, os exemplos clássicos são o contrato de depósito e o contrato de mútuo. O que vem a ser o contrato de depósito? É um contrato muito comum na nossa região inclusive, utilizado pelos agricultores. Imagine um pequeno produtor de café por exemplo, ao terminar a Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. colheita, verifica que o preço da sua mercadoria está muito baixo, em virtude do período de safra, e ele não tem estrutura para armazenar a sua produção em sua propriedade, o que ele faz? Procura uma cerealista e deixa o café depositado nela, para vender no período de entre safra. Nesse caso o dono do armazém pode cobrar ou não pelo depósito, isto porque na prática enquanto o cereal estiver armazenado, ele acaba utilizando este, tendo apenas a obrigação de devolver a mesma quantidade e qualidade que foi depositado, e também resguardam o direito de preferência na compra. O contrato de mútuo é aquele em que há transferência de um bem fungível (aquele que pode ser substituído por outro da mesma natureza qualidade), podendo também ser oneroso ou gratuito. Imagine que você empresta 100 tijolos para o seu vizinho terminar a casinha do cachorro. Ele pode te devolver um objeto exatamente igual ao que você emprestou não pode? Sim, e você pode cobrar ou não em virtude desse contrato de mútuo. Ou ainda quando você empresta dinheiro, ao seu colega de sala, o dinheiro você não vai receber o mesmo dinheiro que pagou, mas outro da mesma quantidade e valor, podendo ou não cobrar juros em virtude desse empréstimo. Quando estivermos diante de um contrato de mútuo oneroso é conhecido por Mútuo Feneratício. III. Quanto aos Efeitos no Aspecto Temporal • Negócio Jurídico Inter Vivos: são os negócios jurídicos mais comuns, pois trata-se do negócio jurídico que visa produzir efeito desde logo, ou seja, durante a vida das partes. Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. • Negócio Jurídico Mortis Causa: são aqueles negócios jurídicos que somente irão produzir efeito após o óbito de determinada pessoa, a exemplo o testamento e o legado. Legado é o ato em que determinada pessoa, manifesta sua vontade em deixar um, ou mais bens para outra pessoa, QUE NÃO SEJA SEU HERDEIRO, por isso falamos que o falecido deixou seu legado a Fulano por exemplo. O legado é sempre deixado em testamento, por isso trata-se de sucessão legitima, e o legatário (pessoa que recebe o legado/bem) pode ser ou não da família, mas nunca será um herdeiro. IV. Quanto à Necessidade ou não de Solenidades e Formalidades • Negócio Jurídico Formais ou Solenes: obedecem a uma forma ou solenidade prevista em lei para a sua validade ou aperfeiçoamento, ou seja, para que ele seja um negócio válido e eficaz é necessário respeitar as formas conforme determinação legal. Exemplo: Casamento, e o Testamento, são negócios em que é necessário respeitar o procedimento previsto em lei. • Negócio Jurídico Informais ou não Solenes: o art. 107 do CódigoCivil estabelece que “a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente exigir. Ou seja, em regra os negócios jurídicos não dependem de uma forma especial para serem válidos, a exemplo a compra e venda, locação, etc. Sempre que você realiza uma compra e venda que você faz um contrato formal, solene? Não, somente nos casos em que em virtude da natureza do negócio você precisa se resguardar, mas em regra as compras de pequeno valor para pronto pagamento são Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. realizadas informalmente, tal fato está amparado pelos princíos da operabilidade e simplicidade. V. Quanto à Independência ou Autonomia • Negócio Jurídico Principais ou Independentes: São aqueles negócios jurídicos que tem vida própria, de modo que não necessitam de outro para existir, a exemplo a locação de um imóvel. • Negócios Jurídicos Acessórios ou Dependentes: Trata-se de negócios jurídicos em que a sua existência está condicionada a existência de outro e por isso são dependentes, a exemplo a fiança em relação a locação. Em alguns casos o locatário exige um fiador, ou seja, uma pessoa que responderá pela dívida do locador, caso este venha ficar inadimplente, veja que a locação só se concretizara, caso o fiador seja aceito. VI. Quanto às Condições Pessoais Especiais dos Negociantes • Negócios Jurídicos Impessoais: não é exigido nenhuma condição especial das partes, podendo a obrigação ser cumprida tanto pelas partes quanto por um terceiro, a exemplo contrato de compra e venda. • Negócios Jurídicos Personalíssimos ou Intuito Personae: o negócio exige uma condição especial de um dos negociantes, havendo uma obrigação infungível, ou seja, aquela obrigação que não pode ser substituída. Exemplo: contratação de uum pintor renomado, ou um cantor consagrado para a realização de Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. um show, outra pessoa pode fazer o show do Roberto Carlos? Não, somente ele, então exige a qualidade especial, no presente caso, que seja o Roberto Carlos, por ser uma obrigação única. VII. Quanto à sua Causa Determinante • Negócios Jurídicos Causais ou Materiais: o próprio negócio jurídico traz o motivo do seu conteúdo, a exemplo o termo de divórcio. • Negócios Jurídicos Abstratos ou Formais: não há necessidade de constar o motivo do negócio jurídico, ele simplesmente acontece, sem a necessidade de maiores explicações, a exemplo a transmissão de uma propriedade. VIII. Quanto ao Momento de Aperfeiçoamento • Negócios Jurídicos Consensuais: passam a produzir efeitos a partir do momento que é realizado um acordo, a exemplo uma compra e venda pura, conforme o art. 482 do CC. • Negócios Jurídicos Reais: somente produzem efeitos após a entrega do objeto, como é o caso do contrato de comodato e mútuo, que são contratos de empréstimo. IX. Quanto à Extensão dos Efeitos • Negócios Jurídicos Constitutivos: passa a gerar efeitos a partir do momento em que são concluídos, pois criam uma obrigação, seja ela positiva (fazer, ou entregar) seja ela negativa (um Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. deixar de fazer), assim produzem efeitos ex nunc, ou seja não retroagem, como é o caso da compra e venda. • Negócios Jurídicos Declarativos: geram efeitos retroativos, a partir do fato em que constitui o seu objeto, a exemplo no caso do inventário, onde produz efeitos desde o óbito, uma vez que a sucessão ocorre a partir do falecimento. Estudo dos Elementos Acidentais do Negócio Jurídico Os elementos nada mais são do que elementos trazidos ao negócio pelas partes, que visam alterar uma ou mais consequências do negócio jurídico, no que diz respeito a escada ponteana, eles estão diretamente ligados ao plano de eficácia, podendo inclusive serem dispensados. Contudo, muito embora seja dispensado a existência desses elementos no negócio jurídico, haverá situações em que a sua presença poderá acarretar a nulidade do ato, os elementos acidentais a condição, o termo, e o encargo ou modo (são sinônimos), conforme consta nos arts. 121 a 137 do Código Civil. Condição A condição tem origem na manifestação de vontade das partes, faz com que o negócio jurídico esteja vinculado, ou seja, dependa da existência de um acontecimento futuro e incerto, conforme preceitua o art. 121 do CC, com a seguinte redação: Art. 121 – considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. A condição comporta as seguintes classificações: Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. I. Quanto a Licitude: • Condições Lícitas – estão em conformidade com o ordenamento jurídico, e nos termos do art. 122 do Código Civil, considera-se condições licitas, aquelas que não contrariem a lei, a ordem pública ou os bons costumes. Tendo em vista que as condições licitas não ofendem o ordenamento jurídico, essas não podem ocasionar a nulidade do ato. Exemplo: uma compra e venda que necessite da aprovação do comprador (venda a contento ou ad gustum). • Condições Ilícitas - por via de lógica, se as condições lícitas são aquelas que não contrariam o direito (lei), a ordem pública ou os bons costumes, a condição ilícita é aquela exatamente ao contrário, contraria a lei, a ordem pública e os bons costumes. Exemplo: a venda que dependa da pratica de uma crime pelo comprador ou vendedor. II. Quanto à Possibilidade: • Condições Possíveis - como o próprio nome já sugere são as condições possíveis de serem realizadas, e não atrapalham a validade do negócio jurídico. Exemplo: compra e venda subordinada a uma viagem do comprador à Europa. • Condições Impossíveis – a contrário da classificação anterior, aqui nós temos uma condição impossível de ser cumprida, e em razão disso torna o negócio absolutamente nulo. A nulidade absoluta ocorre quando a condição for suspensiva, nos termos do art. 123, inciso I do Código Civil. Exemplo: compra e venda subordinada a Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. uma viagem a marte, ou que condicione o comprador a trazer uma pessoa já falecida a vida. III. Quanto à Origem da Condição • Condições Causais ou Casuais – são oriundas de eventos naturais, ou seja, fatos jurídicos stric sensu. Exemplo: eu falo que se chover, eu vou vender a minha casa, por que a água fica alegada na frente e isso me incomoda. • Condições Potestativa – necessitam da vontade humana, ou seja está presente um elemento volitivo, sendo assim dividida em 02 (duas) espécies: ➢ Condições Simples ou Meramente Potestativas: dependem das manifestação de vontade intercalada de duas pessoas, trata-se de negócio jurídico lícito. Exemplo: alguém institui uma liberalidade a favor de outrem, dependente de um desempenho artístico (cantar em um espetáculo). ➢ Condições puramente potestativas – dependem de uma vontade unilateral, dependendo assim da vontade de apenas uma das partes. (art. 122 do CC, parte final). Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordempública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. Trata-se de condição ilícita. Exemplo: dou-lhe um veículo, se eu quiser. • Condição promíscua – aqui nós temos inicialmente uma condição potestativa, mas passa a perder tal característica em virtude de uma Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. fato posterior, que não está na esfera de vontade do agente, dificultando assim a concretização do negócio. Exemplo Eu lhe dou um carro se você for campeão do torneio’. Essa condição potestativa passará a ser promíscua se o jogador vier a se machucar. • Condições mistas – são aquelas que dependem, ao mesmo tempo, de um ato volitivo, somado a um evento natural. Exemplo: Eu lhe dou um veículo se você cantar amanhã, desde que esteja chovendo durante o espetáculo. IV. Quanto aos Efeitos da Condição • Condição Suspensivas – para que o negócio jurídico possa produzir efeitos é necessário o seu acontecimento (art. 125 do CC), ou seja, ela suspende a produção dos efeitos do negócio jurídico até que ela aconteça. Exemplo: venda de vinho, onde está somente ocorrera com a aprovação ad gustum do comprador, enquanto o comprador não aprovar, está venda estará suspensa (a produção dos seus efeitos), ou exemplo é o pai que celebra um contrato de doação com a filha de um carro, porém somente irá se efetivar caso essa filha venha a casar, ou seja, o carro foi dado. De acordo com o art. 126 do CC/2002, se alguém dispuser de alguma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas últimas não terão valor, caso ocorra o implemento do evento futuro e incerto, sendo a condição incompatível com essas novas disposições. Tal regra impede que uma nova condição se sobreponha a uma anterior, caso sejam elas incompatíveis entre si. Como demonstrado, as condições suspensivas física ou juridicamente impossíveis geram a nulidade absoluta do negócio jurídico (art. 123, I, do CC). Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. • Condições Resolutivas – são aquelas que, enquanto não se verificarem, não trazem qualquer consequência para o negócio jurídico, vigorando o mesmo, cabendo inclusive o exercício de direitos dele decorrentes (art. 127 do CC). Ilustrando, no campo dos Direitos Reais, quando o título de aquisição da propriedade estiver subordinado a uma condição resolutiva, estaremos diante de uma propriedade resolúvel (art. 1.359 do CC). Isso ocorre no pacto de retrovenda, na venda com reserva de domínio e na alienação fiduciária em garantia. Por outro lado, sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, os direitos que a ela se opõem, segundo art. 128 do CC. Segundo o mesmo dispositivo, se a condição resolutiva for aposta em um negócio de execução periódica ou continuada, a sua realização não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente, respeitada a boa-fé. Isso salvo previsão em contrário no instrumento negocial. Imagine-se o exemplo de uma venda de vinhos, celebrada a contento ou ad gustum. A não aprovação, a negação do vinho representa uma condição resolutiva. Logicamente, se o comprador já adquiriu outras garrafas de vinho (negócio de execução periódica ou trato sucessivo), a não aprovação de uma última garrafa não irá influenciar nas vendas anteriores. Desse modo, não pode o comprador alegar que não irá pagar as outras bebidas, muito menos o jantar, o que inclusive denota a sua má-fé. A condição resolutiva pode ser expressa –, se constar do instrumento do negócio – ou tácita – se decorrer de uma presunção ou mesmo da natureza do pacto celebrado. A condição presente na venda ad gustum de vinhos é, na maioria das vezes, tácita, já que sequer é celebrado contrato escrito. Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. Importante tecer 02 comentários acerca das condições suspensiva e resolutiva, nos moldes do art. 129 e 130 do Código Civil, vejamos: Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. 1. Condição Maliciosamente Obstada. O espírito do presente artigo é preservar o elemento da incerteza quanto à ocorrência do evento que subordina a eficácia do negócio jurídico. se uma das partes maliciosamente influenciar a ocorrência ou a não ocorrência de determinada condição a seu favor, o art. 129 impõe que se afastem os efeitos dessa influência externa maliciosamente exercida. Assim, se a condição for maliciosamente obstada pela parte a quem desfavorecer reputar-se-á verificada a condição. por outro lado, a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita reputar- se-á não verificada. Imaginem a situação em que uma Pessoa realiza a doação de veículo para este amigo, porém coloca como condição para a doação que o amigo chegue a determinado local, até o meio dia, e este deve ir por uma estrada em especifico, não podendo utilizar uma via alternativa, contudo essa estrada está em péssimas condições de conservação, o que impossibilitaria o amigo de chegar na hora combinada. Essa condição não deverá ser observada, pois foi incluída justamente para que o acordo não fosse cumprido, contudo se o amigo chegar a tempo, está será aproveitada. 2. Comprovada má-fé. O artigo 129 é explícito ao afirmar que ficção da ocorrência ou da inocorrência de uma condição depende da Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. comprovação de que a pessoa que influenciou agiu com má-fé. ausente esse requisito, o art. 129 não terá aplicação. Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. Apesar de ser-lhe vedado influenciar a ocorrência ou inocorrência da condição para maliciosamente adquirir desde logo o direito eventual, admite o legislador que o sujeito titular dessa expectativa de direito pratique atos voltados à sua conservação. Alguém que tenha a expectativa de adquirir a propriedade de um imóvel poderá, por exemplo, defender sua posse contra a turbação ou o esbulho de terceiros. Termo Diferente da condição, onde nós não sabemos se o evento vai acontecer nem quando vai acontecer, o termo condiciona a eficácia desse negócio a um evento futuro e certo, nada mais é do que um evento futuro e certo, que vincula o começou ou o fim dos atos jurídicos, podendo ser classificado em termo inicial (dies a quo), quando começa produzir efeitos, e o termo final (dies ad quem), com eficácia resolutiva e que põe fim às consequências derivadas do negócio jurídico. Não podemos confundir a expressão TERMO, com a expressão PRAZO, o prazo é justamente o lapso temporal que se tem entre o termo inciial e o termo final, vejamos a diferença: Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. Conforme preceitua o art. 131 do CC, o termo inicial suspendeo exercício, mas não a aquisição do direito, e é justamente esse fato que diferencia a condição suspensiva. Condição Suspensiva • Suspende o Exercício e à aquisição do Direito; • Subordina a eficácia do negócio a evento futuro e incerto. Termo Inicial (ou Suspensivo) • Suspende o Exercício, mas não a aquisição do direito; • Subordina a eficácia do negócio a evento futuro e certo O art. 132 do Código Civil estabelece as normas para contagem do prazo: Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. § 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. § 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. O art. 133 do Código Civil estabelece que: Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes. Presunção dos prazos Relação aos Herdeiros: segundo o referido dispositvo, os prazos serão presumidos em favor dos herdeiros, a primeira dela diz quanto ao prazo do herdeiro para cumprir o legado em favor do legatário, assim existindo dúvida quanto à exigibilidade do prazo de pagamento do legado, este deve ser interpretado em favor do herdeiro, outra hipótese é quando é estipulado um encargo em testamento, e via de regra se estabelece um prazo para o cumprimento deste prazo, sendo este também interpretado em favor do herdeiro. Presunção de prazos em favor do Devedor: A regra é que nos contratos os prazos sejam favoráveis ao devedor, contudo essa presunção pode ser renunciada, podendo este pagar a dívida antes do vencimento. Importante destacar que essa regra não é absoluta, não poderá antecipar o pagamento quando este tiver por finalidade fraudar um terceiro, ou seja, eu tenho uma obrigação que vai vencer na sexta feira, eu escolho outra para pagar na segunda e alego não ter tido condições de pagar a da sexta, veja que beneficiei um credor em relação ao outro pagando uma conta que nem vencida estava. Preconiza a lei que “Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exequíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo” (art. 134 do CC). De acordo com esse comando legal, o negócio é, por regra, instantâneo, somente assumindo a forma continuada se houver previsão no instrumento negocial ou em lei. Por outro lado, dependendo da natureza do negócio haverá obrigação não instantânea, inclusive se o ato tiver que ser cumprido em outra localidade. Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. Conforme o art. 135 do CC, ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva, respectivamente. Desse modo, quanto às regras, o termo inicial é similar à condição suspensiva; o termo final à condição resolutiva. No que concerne às suas origens, tanto o termo inicial quanto o final podem ser assim classificados: Termo legal – é o fixado pela norma jurídica. Exemplificando, o termo inicial para atuação de um inventariante (mandato judicial) ocorre quando esse assume compromisso. •Termo convencional – é o fixado pelas partes, como o termo inicial e final de um contrato de locação. O termo pode ser ainda certo ou incerto (ou determinado e indeterminado), conforme conceitos a seguir transcritos: •Termo certo ou determinado – sabe-se que o evento ocorrerá e quando ocorrerá. Exemplo: o fim de um contrato de locação celebrado por tempo determinado. •Termo incerto e indeterminado – sabe-se que o evento ocorrerá, mas não se sabe quando. Exemplo: a morte de uma determinada pessoa. Por fim, fica fácil também a identificação do termo, pois é comum a utilização da expressão quando (v.g., dou-lhe um carro quando seu pai falecer). Encargo ou Modo O encargo ou modo é o elemento acidental do negócio jurídico que traz um ônus relacionado com uma liberalidade. Geralmente, tem-se o encargo na doação, testamento e legado. Para Vicente Ráo, “modo ou encargo é uma Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. determinação que, imposta pelo autor do ato de liberalidade, a esta adere, restringindo-a”.154 O negócio gratuito ou benévolo vem assim acompanhado de um ônus, um fardo, um encargo, havendo o caso típico de presente de grego. Exemplo que pode ser dado ocorre quando a pessoa doa um terreno a outrem para que o donatário construa em parte dele um asilo. O encargo é usualmente identificado pelas conjunções para que e com o fim de. A respeito da doação modal ou com encargo, há regras específicas previstas na Parte Especial do Código Civil. A doação modal está tratada pelo art. 540 do CC, sendo certo que somente haverá liberalidade na parte que exceder o encargo imposto. Não sendo executado o encargo, caberá revogação da doação, forma de resilição unilateral que gera a extinção contratual (arts. 555 a 564). De acordo com o art. 136 do CC/2002, “o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.” Desse modo, no exemplo apontado, o donatário já recebe o terreno. Caso não seja feita a construção em prazo fixado pelo doador, caberá revogação do contrato. Em regra, o encargo diferencia-se da condição suspensiva justamente porque não suspende a aquisição nem o exercício do direito, o que ocorre no negócio jurídico se a última estiver presente. Enuncia o art. 137 do CC que deve ser considerado não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. Trata-se de uma inovação, não havendo correspondente no Código Civil de 1916. O comando em questão traz, em sua primeira parte, o princípio da conservação negocial ou contratual, relacionado com a função social dos contratos. Desse modo, despreza-se a ilicitude ou a impossibilidade parcial, aproveitando-se o resto do negócio. A segunda parte traz previsão pela qual o encargo passa para o plano da validade do negócio, caso seja fixado no instrumento como motivo determinante da liberalidade, gerando eventual nulidade absoluta do negócio jurídico. Para ilustrar, a doação de um prédio no centro da cidade de Passos, Minas Gerais, feita https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530984076/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#fn154 Prof. Fernando Valdomiro dos Reis, Direito Civil II Este material foi elabora através de extrações do Livro MANUAL DE DIREITO CIVIL, VOLÚME ÚNICO, DO PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. com o encargo de que ali se construa uma pista de pouso de OVNIs, deve ser considerada como pura e simples, enquanto a doação desse mesmo prédio com o encargo de que o donatário provoque a morte de algumas pessoas é nula. Finalizando, para facilitar o estudo, pode ser concebido o seguinte quadro comparativo entre os três institutos (condição, termo e encargo ou modo): Condição Termo Encargo Negócio dependente de evento futuro + incertoNegócio dependente de evento futuro + certo Liberalidade + ônus Identificado pelas conjunções “se” ou “enquanto” Identificado pela conjunção “quando” Identificado pelas conjunções “para que” ou “com o fim de” Suspende (condição suspensiva) ou resolve (condição resolutiva) os efeitos do negócio jurídico Suspende (termo inicial) ou resolve (termo final) os efeitos do negócio jurídico Não suspende nem resolve a eficácia do negócio. Não cumprido o encargo, cabe revogação de liberalidade
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