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O Papel do/a Psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental nas Disfunções Sexuais Dayane de Jesus Oliveira Carlos André Nogueira Oliveira Faculdade São Francisco de Barreiras Ao longo dos tempos, a sexualidade humana tem constatado sua influência como parte integrante da identidade do indivíduo, em seus aspectos físicos e psicológicos, seja através da repressão e negação ou da exposição e exploração. Assim, o desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo aflora os aspectos da sua sexualidade, pois, ela é uma parte integrante da vida (Bonzon, 2004). A sexualidade é singular a cada pessoa, pois seus aspectos são individuais, psíquicos, sociais e culturais. Estes aspectos trazem consigo uma historicidade, práticas, simbolizações e atitudes. Esta área compreende que se há uma dificuldade sexual ela pode interferir diretamente no bem-estar biopsicossocial do indivíduo, fazendo muitas vezes necessária a procura da psicoterapia para lidar com tais incômodos (Moizés & Bueno, 2010). Atualmente, entende-se por disfunções sexuais um grupo heterogêneo de transtornos que, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-V, caracterizam-se por uma ou mais perturbações que interferem diretamente na capacidade do indivíduo de experimentar e/ou responder sexualmente a estímulos de prazer sexual (American Psychiatric Association [APA], 2014). É por meio deste diagnóstico que o/a psicoterapeuta Cognitivo- Comportamental norteia-se para traçar o plano de tratamento da Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC) diante das disfunções sexuais. A TCC é uma psicoterapia breve, estruturada e orientada para resolver problemas atuais com estratégias 2 cognitivas e comportamentais através do empirismo colaborativo. Este por sua vez, é o processo que paciente e terapeuta compartilham de seus conhecimentos, para que as tomadas de decisões sejam de acordo entre eles/as, na finalidade de resolverem juntos/as os problemas e atingirem as metas traçadas (Beck, 2013). O presente artigo tem como objetivo, investigar qual a importância da práxis em psicoterapia Cognitivo-Comportamental e de seus recursos teóricos e práticos para o tratamento das disfunções sexuais. Neste sentido, Carey (2011) ressalta que tal investigação se faz necessária para conhecer e respaldar-se da prevalência, etiologia, desencadeamento e manutenção das dificuldades sexuais, com a finalidade de promover uma avaliação diagnóstica e tratamento mais fidedigno por meio dos fatores psicossociais ou do estilo de vida do/a paciente/casal. No que diz respeito à estrutura deste artigo, inicialmente será realizada uma breve construção sobre a sexualidade e os padrões de comportamentos sexuais humanos sob uma perspectiva biopsicossocial, descreve sobre as dificuldades sexuais, relata as classificações das disfunções sexuais e explana a teoria da psicoterapia. Logo após, serão elaborados os métodos de avaliação e tratamento diante das dificuldades sexuais, discutindo-se sobre a integração entre a psicoterapia sexual e a psicofarmacologia, e por fim, as considerações finais. Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa, visando a apresentação de material teórico no intuito de descrever e explicar, baseado na cientificidade e fidedignidade dos dados coletados, reunindo e sistematizando o conhecimento já existente. 3 Este tipo de pesquisa concentra-se no universo de significados ao invés da representatividade numérica, neste sentido, busca-se explicar o porquê das coisas através de dados não métricos que são suscitados e de interação do campo a ser estudado (Silveira & Córdova, 2009). Contudo, o objetivo será exploratório e o procedimento de coleta escolhido foi o bibliográfico, ou seja, foram pesquisados materiais que já contém informações elaboradas e publicadas. Neste sentido, para esse empreendimento investigativo, foram empregados como fonte de pesquisa livros, periódicos e artigos científicos sobre tal assunto, do qual foram utilizados os bancos de dados eletrônicos dos sites Scientific Electronic Library Online (Scielo), Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic), Lilacs, Biblioteca Virtual em Saúde Psicologia-Brasil (BVS-PSI), Google Livros e Manuais de Tratamento em TCC. Este artigo, terá como protótipo o raciocínio dedutivo, que segundo Gerhardt e Souza (2009), tem como critério retirar conclusões das proposições já publicadas sobre a psicoterapia cognitivo-comportamental no âmbito das dificuldades sexuais, sendo que seus princípios são de caráter cientifico. Torna-se assim, o resultado final deste trabalho, um extrato puramente formal em virtude de sua lógica. A Construção da Sexualidade e dos Padrões de Comportamentos Sexuais Humanos sob uma Perspectiva Biopsicossocial A palavra sexualidade surge no âmbito técnico da medicina e da biologia por volta de 1800. Contudo, o seu conceito popularizou apenas no século XIX, quando passou a ser compreendida não apenas ao ato sexual e seus impulsos, mas 4 também se fundamenta nos aspectos biopsicossociais, tais como a emoção, afetividade, comunicação, fantasias e estímulos sensoriais (Foucault, 2006). A sexualidade humana é composta por particularidades, a qual para analisá- lo necessita compreendê-lo como um todo, pois é intercomunicante do indivíduo consigo mesmo e com as demais pessoas. Embora não seja única, a sexualidade é um instrumento relacional, pois é através do papel sexual que cada um/a desenvolve e estabelece formas peculiares para vivenciar relações pessoais e interpessoais (Gherpelli, 1996). Tozo (2011, p. 2), aponta que a sexualidade é: A manifestação de um estado interior que impulsiona o indivíduo para a vida. É a forma de sentir o corpo, de comunicar-se, de manifestar afeto e expressar sentimentos, desejos e prazeres corporais e emocionais. É a energia que motiva o indivíduo a buscar o contato, a intimidade, a ternura, o amor, evidenciando-se nos movimentos das pessoas, ou seja, como elas tocam e são tocadas. É uma qualidade individual e também relacional. Está no toque, no olhar, no aroma, no timbre da voz, no abraço, no beijo, em qualquer carícia, como também nas relações sexuais, tais como o coito em suas centenas de posições, autoerotização, fantasias sexuais. A sexualidade é composta por três elementos fundamentais: potencial biológico, o processo de socialização e capacidade psicoemocional. O processo dinâmico que envolve tais pilares é compreendido como um conflito entre eles. Assim, de um lado está a necessidade básica sexual, da qual as estruturas fisiológicas de resolução nem sempre coincidem com os padrões culturais. E por outro lado, o processo de adequação das regras sociais de convivência (Gherpelli, 1996). Caballo (2003) ressalta que a habilidade de comportamentos do indivíduo é relacionada de acordo com a sua interação interpessoal no contexto social. Assim, pode-se observar que existem normas sociais que geram expectativas de 5 comportamentos sociais em determinadas situações, e no que se refere ao comportamento sexual a questões de gênero são as mais influentes. De acordo com o sexo do indivíduo espera-se comportamentos normativos e taxados pela sociedade, assim como para subculturas distintas. Caballo (2003), acrescenta que as mulheres tendem a sofrer pressões do tipo que: o casamento é sinônimo de felicidade, caso a mulher seja solteira há uma lacuna em sua vida, além de que, espera-se que estas sejam mais passivas quanto a expor manifestações de interesse por sexo. Enquanto homens, tendem a ter a representação social de que ser solteiro é ser feliz e realizado sexualmente. Além do mais, é incutido ao homem a necessidade de tomar iniciativa e de que a sua masculinidade é posta em causa considerando o tamanho, grossura e dureza do seu pénis, assim como o seu funcionamento constante (Caballo, 2003).Nesta perspectiva, a capacidade adaptativa e o funcionamento intelectual do indivíduo têm a função de estabilizar tal conflito (dos três elementos fundamentais da sexualidade), no intuito de adaptá-lo ao comportamento socialmente aceitável e aos valores embutidos neles. Por muitas vezes essa busca pelos ideais sociais de relação sexual perfeita levam as pessoas a se sentirem insatisfeitas na prática real (Gherpelli, 1996; Caballo, 2003). Por se tratar de um processo dinâmico, as atitudes e os comportamentos pertinentes à sexualidade humana estão em constante alteração. Portanto, para avaliar a “normalidade” de padrões comportamentais sexuais é fundamental levar em consideração a moral, os costumes e principalmente o contexto em que o indivíduo está inserido. Assim, constata-se que, quando se trata de sexualidade 6 torna-se mais difícil e delicado caracterizar comportamentos que representam transtornos psicológicos (Whitbourne & Halgin, 2015). A terapia sexual é recente, sua fundamentação teórica se espelha no modelo de comportamento sexual formulado no final dos anos de 1940 por Kinsey e colaboradores. Em 1966, Masters e Johnson também contribuíram significativamente com seus estudos sobre resposta sexual humana de um ponto de vista fisiológico, e só em 1979, Kaplan introduziu a esta teoria, componentes afetivos e cognitivos (Tess & Savoia, 2007). Kinsey e seus colaboradores iniciaram estudos revolucionários, que resultaram na publicação dos livros: Comportamento Sexual do homem (1948) e Comportamento Sexual da Mulher (1953), estes por sua vez descreviam o repertório de comportamentos sexuais de americanos/as no pós-guerra. Embora o trabalho de Kinsey tenha sido importante, sua metodologia foi muito questionada, e não alcançava os aspectos de resposta fisiológica e biológica, deixando assim tais questões em aberto (Sena, 2010a; Sena, 2010b). Masters e Johnson na década de 60 contribuíram com estudos sobre resposta sexual humana através de um método observacional, focando-se em um ponto de vista fisiológico. Deste modo, o casal colheu os dados a partir de interrogatórios que levantavam dados médicos, sociais e psicossociais, observações diretas com uso de filmagens em cores, recursos como vagina artificial e pênis de plástico transparente, dispositivo fotográfico miniaturizado, estudos laboratoriais dos aspectos físicos e fisiológicos sobre as relações sexuais (Sena, 2010a; Sena, 2010b). Segundo Carey (2011), a descoberta mais significativa de Masters e Johnson, foi a caracterização da resposta sexual masculina e feminina, ele foi 7 subdivido em um ciclo com quatro etapas sucessivas: Fase de excitação; Fase platô; Fase do orgasmo; e Fase final ou de resolução. Desta forma, a resposta sexual humana ocorre de maneira satisfatória quando ocorrências hormonais e fisiológicas vulneráveis às implicações de excitações emotivas sejam elas crônicas ou intensas, sobrevenham de maneira suficientes. Neste seguimento, o ciclo de resposta sexual masculino e feminino de Masters e Johnson (1970), descreve cada uma dessas fases: 1. Excitação: esta fase consiste na estimulação psicológica e/ou fisiológica acerca do desejo e da atividade sexual e tem a duração de minutos ou horas, caracteriza-se nos homens principalmente pela ereção peniana e nas mulheres pela lubrificação vaginal (Marques, Chedid & Eizerik, 2008). 2. Platô: consiste em uma excitação contínua, com alterações fisiologias concomitantes, nos homens ocorre a tumescência da ereção peniana, enquanto nas mulheres além da vasocongestão pélvica, acontece a lubrificação e expansão da genitália. Pode levar de 30 segundos a vários minutos. 3. Orgasmo: é caracterizada pela fase onde o clímax do prazer sexual nas mulheres ocorrem contrações da parede vaginal, e nos homens é representada pela ejaculação peniana, sendo que em ambos os sexos o esfíncter anal ritmicamente se contrai. A sensação para ambos os sexos é de prazer intenso. 4. Resolução: consiste em um estado de bem-estar subjetivo onde predomina o relaxamento muscular, os homens fisiologicamente são refratários à outra ereção por um tempo variável, já as mulheres podem continuar sendo estimuladas imediatamente (Marques, Chedid & Eizerik, 2008). Tess e Savoia (2007) referem que outra fase foi adicionada por Kaplan (1974), a do desejo. Esta corresponde à vontade de instituir uma relação sexual 8 desencadeada por estímulos sensoriais (audição, visão, olfato etc.), pela memória, por experiências eróticas, ou de fantasias do indivíduo. Isto é, está ligada aos aspectos afetivos e cognitivos que impulsionam à atividade sexual. Deste modo, “o novo esquema considerava o ciclo de resposta sexual, então, composto pelas fases de desejo, excitação, orgasmo e resolução” (Marques, Chedid & Eizerik, 2008, p. 177). A partir de então, este modelo é usado para descrever os padrões sexuais humanos sob uma perspectiva biopsicossocial que impulsiona os indivíduos a engajar-se em uma atividade sexual. Inclusive, a classificação das disfunções sexuais, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) ou DSM-V, são categorizadas de acordo com esse ciclo de resposta comportamental sexual (Tess & Savoia, 2007). Classificações das Disfunções Sexuais Dificuldades e Disfunções Sexuais A sexualidade humana envolve diversos aspectos, como: a experiência pessoal, fatores sócio-históricos, culturais, religiosos, legais, econômicos e éticos. Tais fatores, são potenciais para gerar o bem-estar, crescimento e auto realização, ao mesmo tempo em que podem gerar conflitos e sofrimentos (Oliveira, 2013). Algumas pessoas podem apresentar alterações ou perturbações no seu ciclo de resposta sexual, surgindo às dificuldades sexuais. No entanto, se essas dificuldades persistem e se mantêm durante um tempo, isso pode gerar um nível 9 de ansiedade e frustação, que afeta o indivíduo levando-o a uma vida sexual insatisfatória (Oliveira, 2013). As queixas relatadas por pacientes, como por exemplo, ausência de carinho depois da relação, medo de intimidade, incapacidade de relaxar, dificuldade de comunicação entre parceiros/as e poucos preâmbulos, contribuem para um grupo heterogêneo de dificuldades sexuais. Isto é, “as dificuldades sexuais são fatores que não implicam necessariamente falha de desempenho, mas refletem uma insatisfação sexual e podem eventualmente levar a algum tipo de disfunção” (Tess & Savoia, 2007, p. 340). O termo dificuldades sexuais, engloba muito além de uma disfunção sexual, pois um mesmo indivíduo pode ter várias disfunções sexuais ao mesmo tempo, limitando assim, sua capacidade de prazer sexual e/ou responder a estímulos sexuais, de forma que impeça a experiência de excitação e/ou orgasmo (APA, 2014). O conceito de disfunção sexual é apontado por Wincze, Bach e Barlow (1999), como uma perturbação nas fases do desejo, excitação, orgasmo e/ou resolução, ou quando apresenta dores durante a relação sexual. Em complemento a APA (2014), entende por disfunção sexual o julgamento clínico de respostas comportamentais sexuais resultadas de estimulações sexuais inadequadas. Contudo, as disfunções sexuais são comportamentos, pensamentos e sentimentos desadaptativos que podem estar associados a fatores fisiológicos e psicossociais, de modo que resultam em perturbações em qualquer uma das quatro etapas do ciclo de resposta sexual (Marques, Chedid & Eizerik, 2008). Becker e Stinson (2012) apontam que as disfunções sexuais são classificadas por subtipos, sendo eles: Ao longo da vida (presente desde o início 10 do funcionamento sexual do indivíduo); Adquiridas (surgem em um período após uma fase de funcionamento sexual sem queixas); Generalizadas (apresentadas em todas as atividades sexuais, independentemente da estimulação, situações ou de parceiros); Situacionais (ocorremapenas em certas circunstâncias situacionais). É através dos subtipos que é possível identificar o início de uma disfunção sexual, assim como sua etiopatogenia e manutenção. As disfunções sexuais incluem ejaculação retardada, transtorno erétil, transtorno do orgasmo feminino, transtorno do interesse/excitação sexual feminino, transtorno da dor gênito-pélvica/penetração, transtorno do desejo sexual masculino hipoativo, ejaculação prematura (precoce), disfunção sexual induzida por substância/medicamento, outras disfunções sexuais especificadas e não especificadas (APA, 2014). O diagnóstico das disfunções sexuais é realizado segundo os critérios do DSM-V (critérios de diagnóstico das disfunções sexuais em Anexo A; Anexo B; Anexo C; Anexo D; Anexo E; Anexo F; Anexo G; e Anexo H.), juntamente com a história médica e sexual do/a paciente ou casal (exames físicos, laboratoriais, reações adversas de medicamentos), investigação da história de vida (a fim de avaliar se há uma disfunção sexual ou apenas estímulos insuficientes ou inadequados), devendo levar em consideração os fatores sociais, biológicos e psicológicos (APA, 2014). Neste sentido, é preciso que haja uma persistência dos sinais e sintomas (apresentados há pelo menos seis meses), e que estes causem problemas e aflições significativas para o indivíduo ou o casal. Cabe ressaltar que, conceitos como os de adequação e inadequação sexual sejam considerados, visto que, adequado é aquele indivíduo ou casal que funcional ou disfuncional atingem uma 11 satisfação em sua relação sexual, enquanto inadequado é aquele que está insatisfeito com sua interação na relação sexual (Marques, Chedid & Eizerik, 2008). Epidemiologia Existem poucos dados epidemiológicos quanto às disfunções sexuais, isso porque é difícil definir a prevalência exata devido às limitações metodológicas, tais como, diagnóstico errôneo, amostra inadequada e problemas de mensuração (Tess & Savoia, 2007). Contudo, Marques, Chedid e Eizerik (2008) apontam que as dificuldades sexuais têm alta prevalência, uma vez que afetam 43% das mulheres e 31% dos homens. Fatores demográficos como gênero e idade são preditivos. Enquanto, em homens mais velhos é mais comum a redução do desejo sexual e dificuldades de ter/manter ereções (Tess & Savoia, 2007). Quanto aos fatores que impulsionam as disfunções sexuais, as mudanças fisiológicas e os fatores físicos relacionados ao envelhecimento, justificam com maior frequência as dificuldades sexuais em homens. Enquanto nas mulheres são os fatores emocionais que predominam incidência, já para os fatores psicossociais não há uma discrepância entre ambos os sexos, pois as características de uma melhor qualidade de vida diminuem as chances de queixas nas repostas sexuais (Tess & Savoia, 2007). Etiopatogenia 12 A etiopatogenia das disfunções sexuais é multifatorial. Isto é, o estudo das causas e/ou dos mecanismos patogênicos que desenvolvem as disfunções sexuais está ligado diretamente às perspectivas biológicas, psicológicas e sociais. Classificados como vulnerabilidade individual, relacionamento, parceiro/a, doença, cultura e religião (Marques, Chedid & Eizerik, 2008). Já a patogenia das disfunções sexuais, por sua vez refere-se aos acontecimentos que se desencadeiam a partir dos fatores etiológicos, estão direcionados aos fatores de riscos psicossociais. Dentre eles: os transtornos psicológicos, pensamentos disfuncionais, sentimento de culpa e/ou ansiedade, fatores culturais, déficit na educação sexual, déficit nas habilidades sociais, ausência de atração física e repertorio sexual restrito (Marques, Chedid & Eizerik, 2008). Carey (2011) aponta que embora as pesquisas sobre a etiopatogenia das dificuldades sexuais ainda precisam de maiores investigações, suas influências e contribuições são indispensáveis para a formulação teórica/prática das disfunções sexuais. Assim, ao se tratar de dificuldades sexuais é imprescindível compreender o papel da fisiologia humana, do enfoque biopsicossocial e dos fatores de risco, pois interferem diretamente na predisposição, no desencadeamento e manutenção das disfunções sexuais. Embora seja vivenciada em uma conjuntura entre intrapessoal, interpessoal e cultural, a resposta sexual humana tem como primórdio a base biológica, por isso identificar seus fatores se faz bastante relevante (APA, 2014). É importante ressaltar que a orientação sexual não é um fator determinante para as dificuldades sexuais, ou seja, tanto indivíduos heterossexuais, homossexuais e bissexuais 13 podem apresentar uma dificuldade ou disfunção sexual em qualquer período da vida (Becker & Stinson, 2012). Quando identificada uma disfunção sexual, deve-se caracterizar o tipo da etiopatogenia, ou seja, ela pode ser relacionada apenas a fatores psicológicos ou relacionada a fatores psicológicos e a outros fatores combinados, de modo que, as causas podem ser orgânicas, psicológicas ou até mesmo mistas. Dinis e Luz (2007) acrescentam que as disfunções sexuais podem ser desencadeadas pelas causas orgânicas e agravadas por fatores emocionais, como por exemplo, casos que envolvem fatores econômicos, profissionais, traumas sexuais, falta de conhecimento do corpo e falta de experiência sexual. Psicoterapia Terapia comportamental A Terapia Comportamental é designada para orientar teoricamente um grupo de abordagens que visam modificar o comportamento. Ela tornou-se um movimento visível no início dos anos 60 devido ao contributo dos trabalhos de: Pavlov sobre o condicionamento clássico, Watson sobre o comportamentalismo, Thorndike sobre a aprendizagem e Skinner sobre o condicionamento operante (Tavares, 2005). Sua fundamentação se dá através da aprendizagem dos comportamentos, assim, se um comportamento disfuncional foi aprendido, pode ser desencadeado por meio de sinais externos e internos associados a ele. Deste modo, a Terapia Comportamental vai justamente ajudar o indivíduo a alterar os comportamentos 14 que estão lhe prejudicando no cotidiano por comportamentos mais satisfatórios, isto é feito através de técnicas comportamentais específicas para cada caso clínico (Tavares, 2005). Uma forma sucinta de explanar como a terapia comportamental se postula é pautada em: 1) Uma ênfase nos determinantes atuais do comportamento, em vez de nos determinantes históricos; 2) Uma ênfase na mudança do comportamento manifesto como o principal critério pelo qual se avalia o tratamento; 3) Especificação do tratamento em termos objetivos, de modo que seja possível a réplica do mesmo; 4) Confiança na investigação básica em Psicologia, com o objetivo de gerar hipóteses gerais sobre o tratamento e as técnicas terapêuticas específicas; 5) Especificidade nas definições e explicações no tratamento e na medição (Tavares, 2005, pp. 7-8). Desta maneira, pode se dizer que, a Terapia Comportamental dá relevante importância ao “estimulo e resposta” (E-R), uma vez que emprega métodos multidimensionais sobre procedimentos verbais e de ação, empregando tanto a importância do/a terapeuta quanto do/a paciente. Foca no tratamento da disfunção clínica e no comportamento desadaptativo, baseando-se no presente, porém não descarta os determinantes históricos. Aplica-se a todas as classes de transtornos e pacientes, além de ser válida, confiável e mesclar-se entre avaliação e intervenção (Tavares, 2005). Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) Entende-se por psicoterapia Cognitivo-Comportamental a prática de ajuda psicológica, da qual se baseia na ciência e filosofia do comportamento que tem concepções naturalista e determinista do comportamento humano, adjunto a um 15 empirismo, metodologia experimental e atitude pragmática frente aos problemas psicológicos (Rangé, 2001). A TCC surgiu após um marco da TerapiaComportamental em 1960, iniciada com Aaron Beck como seu fundador, além dos principais percussores George Kelly, Albert Ellis, Cautela, Mahoney e Meichenbaum (Tavares, 2005; Knapp, 2007). Beck (2013) aponta que o termo “Terapia Cognitiva” foi originalmente empregado por Aaron Beck, mas atualmente a expressão “Terapia Cognitivo- Comportamental” é utilizada como sinônimo após a junção da Terapia Cognitiva com a Terapia Comportamental. A Terapia Cognitiva é uma metodologia de psicoterapia, que por sua vez tem demostrado um significativo sucesso no tratamento de diversos transtornos e patologias clínicas. A cognição “se refere ao conteúdo dos pensamentos e aos processos envolvidos no ato de pensar” (Tavares, 2005, p. 8); e a Terapia Cognitiva pressupõe que o indivíduo se comporta de acordo com o modo que ele estrutura o mundo, isto é, a visão que a pessoa constrói através de processos cognitivos vai influenciar na maneira que ela pensa, sente e age. Assim, esta abordagem foca-se em identificar os pensamentos, sejam eles conscientes ou não (Knapp, 2007). A TCC é uma área de conhecimento da Psicologia que foca no estudo das interações humanas em relação à capacidade de aprender, lembrar, perceber e pensar em situações cotidianas. Spinillo e Roazzi (1989) apontam que a TCC: Considera o modelo linear ER limitante, insuficiente e consequentemente inadequado para explicar o comportamento humano, procurando substituí-lo por um esquema mais complexo e elaborado que considera de forma circular esta relação didática entre organismo e estímulos. O organismo tem papel relevante e ativo, um sistema capaz de elaborações complexas, tais como: efetuar escolhas dentre os elementos relevantes de uma dada situação, utilizar estratégias 16 alternativas, armazenar seletivamente informações, operar transformações sobre os elementos de forma a elaborá-los apropriadamente, operando os resultados dessas elaborações e não apenas operações ligadas e determinadas, aprioristicamente, pelos estímulos de entrada (Spinillo & Roazzi,1989, p21). Devido a isto, Beck formulou a terapia cognitiva, e priorizou como diretrizes de seu novo sistema: construir uma teoria que abrangesse a psicopatologia e se entrosasse de maneira satisfatória com a abordagem psicoterápica; pesquisar de forma empírica para favorecer a teoria; e testar a eficácia da terapia (Spinillo & Roazzi,1989). Seu intuito era tornar a psicoterapia mais estruturada e com um resultado mais objetivo e eficaz. Esta, por sua vez, resultou em um modelo de psicoterapia teórico-prático, que propõe aos/as seus/suas pacientes uma forma de como lidar com problemas cotidianos através da tríade cognitiva, isto é, a partir do princípio sobre o que o indivíduo pensa de si mesmo, do mundo e do futuro, assim como, na identificação dos pensamentos distorcidos, na mensuração de sua realidade e da correção dos mesmos (Beck, 2013). A TCC interpreta que, a maneira como o indivíduo pensa, influência diretamente nos seus sentimentos e tem como resposta, os seus comportamentos. Esses comportamentos podem trazer algum mal-estar ao/à paciente de maneira que interfira em seu padrão cotidiano, ou seja, traz um incomodo em sua relação com ele/a próprio/a, com o mundo (e os outros) ou para com o futuro (Sudack, 2008). Essa concepção da valorização do pensamento e do significado atribuído a ele se dá pelas crenças que o/a paciente adquire ao longo da vida. Beck (2013) aponta que as crenças começam a ser construídas na infância, quando as crianças desenvolvem suas percepções acerca do mundo, de si própria e do futuro. Assim, 17 essas crenças são ideias que os indivíduos têm como verdades e caracterizando- se habitualmente como globais, rígidas e supergeneralizadas. Com isso, a TCC visa o sucesso através de sessões estruturadas que por meio de um sistema de empirismo colaborativo auxilia a identificar a origem, os precipitantes e os mecanismos de manutenção dessas dificuldades (Tess & Savoia, 2007). Deste modo, fica claro que esta teoria vai justamente trabalhar a partir do viés de um empirismo colaborativo no qual, paciente e terapeuta vão juntos/as traçarem os objetivos da terapia e suas finalidades. Para isso, são utilizadas técnicas cognitivas e comportamentais que se adequam para cada caso no intuito de que o/a paciente sinta-se à vontade e capaz de realizar tais atividades para o progresso de sua evolução terapêutica (Beck, 2013). O processo terapêutico da TCC, objetiva averiguar os pensamentos desadaptativos de seus/suas pacientes, descobrir através de recursos maneiras mais realistas e assertivas de como esse/a paciente deve pensar, e assim, conseguir o controle de seus sentimentos desagradáveis que interferem em seu bem-estar biopsicossocial. Por fim, busca-se empoderar o indivíduo para que tudo que foi elaborado e trabalhado durante esse processo, venha a sanar seus problemas atuais, mas também gerando um aprendizado que se propague e seja passível de aplicação em situações futuras, tornando o paciente no seu próprio terapeuta (Beck, 2013). Terapia sexual segundo uma abordagem Cognitivo-Comportamental Segundo Tess e Savoia (2007), a história da terapia sexual é recente. Seu objetivo é promover a satisfação sexual, assim à relevância da psicoterapia no 18 domínio das dificuldades sexuais se faz significante através de estudos epidemiológicos que indicam o alto índice de casos na população. A compreensão da terapia sexual na abordagem Cognitivo-Comportamental vem desenvolvendo-se a partir do percursor Albert Ellis, com seus trabalhos pioneiros sobre sexologia e a formulação da Terapia Racional Emotiva Comportamental (TREC), que foi uma percussora desta abordagem. A TCC diante das disfunções sexuais empenha se em ajudar o/a paciente ou o casal a ter uma vida sexual mais assertiva dentro de suas possibilidades, isto é, alcançar um nível satisfatório de bem-estar sexual (Tess & Savoia, 2007). Isso se faz possível através de uma avaliação cuidadosa de caráter biopsicossocial, que pode (e em alguns casos deve) contar com o suporte de uma equipe multidisciplinar. A TCC é um tipo de psicoterapia que se aplica tanto a homens como a mulheres, individual ou em casais hétero e homoafetivos. Outra consideração preliminar é que, se o/a paciente mantém uma relação íntima, é preferível que se trabalhe com o casal, ao invés de apenas uma das partes, pois o progresso será mais efetivo e duradouro (Carey, 2011). A terapia sexual Cognitivo-Comportamental deve ter como procedimentos primordiais a psicoeducação do/a paciente ou casal, no intuito de instruir e ampliar o conhecimento sobre o problema. É igualmente importante, uma reestruturação cognitiva que propõe objetivos e metas realistas para a terapia, para que se trabalhe a diminuição de crenças mal adaptativas (Carey, 2011). Posteriormente, busca-se fazer o treinamento de habilidades comportamentais que visem melhorar o repertório sexual e a superação de experiências desadaptativas, e logo em seguida, uma focalização sensorial para a diminuição da ansiedade ante a atuação, o treino das habilidades de comunicação 19 dos problemas e situações identificados, a idealização do roteiro sexual (reconhecer e negociar as preferências sexuais), e por fim, trabalhar a prevenção de recaídas (Tess & Savoia, 2007). Nota-se que, a aplicabilidade da TCC tem sido uma forma eficaz de ajudar o indivíduo, ou até mesmo o casal com dificuldades e disfunções sexuais. Isso deve à sua metodologia estruturada, que por sua vez, orienta que o/a terapeuta deve investigar a origem e mecanismos de manutenção do problema, os medos e ansiedades; psicoeducar a respeito do problema e incluir a sugestão de exercícios e técnicas com a finalidade de viabilizar cognições e comportamentos mais assertivos em relação à resposta sexual (Tess & Savoia,2007). Contudo, é fundamental que o/a paciente sinta-se disposto e confortável em todo o processo terapêutico, assim como, compreendido e acolhido pelo/a terapeuta, resultando no empirismo colaborativo (Carey, 2011). Avaliação Avalição Psicológica A avaliação psicológica é um processo de coleta de dados, através de diversas fontes e métodos científicos, tais como entrevistas, análises de documentos, observações, técnicas e instrumentos psicológicos. É por meio desta avaliação que se torna possível investigar características psicossociais do/a paciente ou casal, como: personalidade, cognição, afeto, emoção, motivação, inteligência, percepção, memória, atenção, dentre outros (Anache & Reppold, 2010). 20 O/a psicoterapeuta deve ser rigoroso no emprego das técnicas, pois o êxito da avalição deve-se à observância do processo avaliativo e da escolha dos procedimentos específicos para cada caso (Anache & Reppold, 2010). Neste sentindo, o/a psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental tem como objetivo na avaliação psicológica a formulação do caso, o diagnóstico e o planejamento da intervenção (Carey, 2011). Para chegar ao diagnóstico, é imprescindível que se investigue a natureza do problema em questão, a história, os antecedentes, a frequência, os fatores etiológicos, predisposições biológicas e psicológicas, consequências, mecanismos de manutenção dos problemas e precipitantes. Assim que definida uma disfunção sexual e seus aspectos, é determinado o contexto do tratamento (Walen & Wolfe, 2003). Setting O setting é o espaço/tempo onde ocorre o processo psicoterapêutico. É formado pelo conjunto de características que constituem o enquadramento de cada proposta de intervenção, sendo um elemento dinâmico e constante entre terapeuta- cliente (Ribeiro, 2010). Tais características englobam a estrutura física do consultório, o/a terapeuta deve manter uma postura ética e profissional, as vestimentas adequadas, uma apresentação cordial, assegurar a privacidade e o sigilo (assim como, explicar quando podem ser quebrados), a linguagem corporal adequada, o senso de humor e interesse nos assuntos abordados. É fundamental psicoeducar sobre como será 21 o tratamento e quaisquer outros aspetos relevantes da terapia (Barros, 2004; Ribeiro, 2010). Neste sentido, o setting é um fator importante para o sucesso da psicoterapia, pois interfere diretamente na relação da aliança e vínculo terapêutico. Esse cuidado deve-se redobrar, principalmente quando as queixas são relacionadas às dificuldades sexuais, isso porque é bem característico de pacientes que buscam atendimento nesta área, sentirem-se apreensivos e desconfortáveis, uma vez que é algo íntimo e pessoal, podendo ser até um tabu para o indivíduo (Barros, 2004). Wincze, Bach e Barlow (1999) apontam que nas últimas décadas a mídia promoveu a representação social dos problemas sexuais no intuito de que as pessoas busquem ajuda. De modo geral, os indivíduos com queixas sexuais procuram, à priori, o atendimento médico de atenção primária (clínicos gerais), depois urologistas, ginecologistas, e por fim, os/as psicoterapeutas. O trabalho conjunto desses/as profissionais é efetivo e indispensável em alguns casos, pois visa uma avaliação e tratamento multidisciplinar. Frequência das sessões e duração da terapia O primeiro modelo de terapia sexual formulado Masters e Johnson serviu de padrão por duas décadas, a terapia era diária durante o período de duas a três semanas. Logo após, Heiman e LoPiccolo (1983), testaram um novo método do qual faziam 15 sessões durante 15 semanas. Em um comparativo, ambos os modelos foram eficazes e demostraram poucas diferenças nos resultados, embora o fato do segundo método ter uma sessão por semana dá a vantagem ao/à paciente 22 ou casal de mais tempo para praticar os exercícios e técnicas empregadas durante o tratamento (Wincze, Bach & Barlow, 1999). Carey (2011) ressalta que quanto à frequência, a TCC visa inicialmente atender uma vez por semana, a menos que se tenha necessidade de reduzir ou aumentar esta assiduidade conforme as avaliações progressivas de cada caso. Quanto à duração do tratamento é instável, pois varia consoante a especificidade de cada caso. Pacientes que necessitam apenas de uma psicoeducação chegam ao término do tratamento com três a quatro sessões. Comumente, os/as pacientes levam de 8 a 16 sessões para obter o sucesso e fim da psicoterapia, dentro deste parâmetro é eficaz que ao alcançar esta quantidade de sessões, o/a paciente ou casal juntamente com o/a terapeuta, façam uma reavaliação das metas e da necessidade de continuar o tratamento. O objetivo deste feedback é que, os/as pacientes ou casal que ainda não estão preparados para a alta, não se sintam desestimulados, mas visualizem seus progressos (Carey, 2011). Trabalhando individualmente ou com casais As vantagens e desvantagens de trabalhar individualmente ou com o casal na TCC focada nas disfunções sexuais é fundamentada em bases empíricas. Assim, constata-se que, 84% dos/as pacientes que realizaram o tratamento em casal não desistem da terapia e obtêm sucesso (Wincze, Bach & Barlow, 1999). Embora não seja uma regra, é preferível que ao fazer o tratamento caso haja um/a parceiro/a, a avaliação e tratamento seja com o casal. Isso se justifica pelo fato de que, com o casal a investigação das dificuldades sexuais e dos fatores 23 psicossociais podem ser investigadas com mais clareza, de modo que oportuniza a avaliação da interação do casal, propicia o processo colaborativo de ambas as partes durante a psicoterapia, e por fim, ressalta que a dificuldade é um problema do casal e não de que uma das partes deve ser “consertado” (Walen & Wolfe, 2003). Em pacientes que não tem um/a parceiro/a, o tratamento não deixa de ser efetivo. Nestes casos, a TCC foca-se principalmente em realizar uma psicoeducação sobre as dificuldades apresentadas por estes/as pacientes, além de focar-se em questionar os pensamentos desadaptativos e irrealistas ao funcionamento sexual, no intuito de trabalhar o processo terapêutico através de exercícios comportamentais e cognitivos que possam ser realizados de forma individual (Wincze, Bach & Barlow, 1999). Assim, a psicoterapia individual tende a ter uma periodicidade mais curta, pois alguns exercícios e questionamentos só podem ser realizados com o auxílio de um/a parceiro/a, mas tenta-se tratar ao máximo as dificuldades e disfunções sexuais por meio de um plano que vise resolver problemas e preocupações atuais, assim como de questões futuras, dando a opção de que quando estes/as tiverem em um relacionamento, possam retomar ao tratamento caso sintam necessidade (Whitbourne & Halgin, 2015). Outra forma de psicoterapia utilizada para as disfunções sexuais pode ser a inclusão recorrente do/a parceiro/a, isto é, em algumas sessões quando necessário, convidar esse/a como um recurso do processo terapêutico. Esse tipo de tratamento é proposto tanto para pacientes que tem um relacionamento estável ou casual, assim cabe a ele, por meio de um método colaborativo com o psicoterapeuta, decidir se esta forma de psicoterapia vai compreender melhor a 24 necessidade da avaliação e do tratamento. Tal possibilidade beneficia o/a paciente em compartilhar algumas informações e aspectos de sua intimidade sexual, mas garante-se sempre o sigilo e privacidade do indivíduo abordando-se apenas os assuntos que ele permite (Whitbourne & Halgin, 2015). Variáveis do/a paciente São diversas as variáveis que influenciam os/as pacientes durante a avaliação e processo de tratamento. Neste sentido o/a terapeuta deve se atentar a conhecer as singularidades relevantes de cada caso, assim como estar preparado para buscar informações assessorias necessárias (Wincze, Bach & Barlow, 1999). Estudoscomprovam que, as principais variáveis apresentadas para o sucesso da psicoterapia sexual são norteadas pela motivação do/da paciente durante as sessões e do cumprimento das tarefas de casa, além da qualidade sexual e geral da relação do casal, como por exemplo, a qualidade da comunicação pré-tratamento, o ajuste sexual, o envolvimento precoce e a situação socioeconômica. Outro dado constatado e bastante significativo é que, quando realizados exercícios de foco sensorial na última semana de tratamento, o prognóstico do/a paciente ou casal era mais efetivo, ou seja, as chances retornar as queixas diminuíam (Hawton & Catalan, 1986; Hawton, Catalan & Fagg, 1992; Sarwer & Durlak, 1997; citado por Wincze, Bach & Barlow, 1999). Carey (2011) aponta que as variáveis que se designam das questões religiosas, étnicas e culturais em alguns casos têm um papel fundamental, pois tais fatores influenciam direta e indiretamente nos valores e crenças dos/as pacientes em relação aos comportamentos sexuais. Cabe ressaltar que o psicoterapeuta 25 deve respeitar essa subcultura, porém quando ocorre uma oposição cultural ou religiosa durante a avaliação ou tratamento é necessário psicoeducar sobre a importância desse desafio no processo terapêutico, a exemplo: Alguns pacientes acreditam que a masturbação é suja ou pecaminosa, ou que não é algo que uma pessoa casada devesse fazer. Uma forma de ajudar os pacientes a se sentir cômodos com a ideia de exercícios masturbatórios é explicar que eles cumprem um papel. O terapeuta deve explicar que a masturbação não é uma atividade que o indivíduo deva adotar de forma permanente, e sim uma técnica que pode ser usada no curto prazo para ajudar o paciente a atingir seus objetivos no tratamento (Wincz, Bach& Barlow, 1999. p.638). Outro desafio para a TCC surge quando pacientes apostam em uma melhora através de medicamentos, desacreditando assim na eficácia da terapia. Nesta perspectiva, cabe ao/à psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental salientar sobre os tipos de tratamento (incluindo medicação e a terapia sexual), da importância do empirismo colaborativo, e de todas as vantagens e desvantagens. O/a paciente ou casal deve avaliar os custos e benefícios e optar pelo que mais lhes favorecem (Carey, 2011). Variáveis do/a terapeuta São escassos os dados relacionados às variáveis do/a terapeuta nas bibliografias. O que pode constatar é que embora o gênero do/a terapeuta não influencie no resultado da terapia, nota-se que os/as pacientes ou casal têm uma preferência quanto ao terapeuta ser do sexo masculino ou feminino, nestes casos eles/as tendem a procurar um/a profissional que esteja dentro do seu favoritismo para que sintam-se confortáveis e colaborativos/as (Wincze, Bach & Barlow, 1999). 26 O psicoterapeuta deve se atentar ao não cumprimento das tarefas de casa, pois, muitos exercícios da terapia sexual, não podem ser realizados durante a sessão (foco sensorial, por exemplo), atrasando assim o progresso do tratamento se os/as pacientes não as realizarem. As variáveis que implicam neste quesito estão relacionadas ao/à paciente ou casal, isto é possível ter medo ou evitar uma tarefa especifica, por não ser compatível com a rotina do casal ou por causar desconforto ou constrangimento. Assim, é obrigação do/a terapeuta preocupar-se em propor tarefas que visem o bem estar do/a paciente de modo que este se sinta seguro e confortável para realizá-la, negociando todos os desacordos e esclarecendo todas as dúvidas (Parisotto, 2008). Em suma, é eficaz um/a terapeuta com uma postura apoiadora e diretiva, que ao mesmo tempo seja sensível, sem preconceitos e julgamentos aos problemas relatados (Parisotto, 2008). Tratamento Objetivos do tratamento Cognitivo-Comportamental das dificuldades sexuais O objetivo primordial do tratamento Cognitivo-Comportamental das disfunções sexuais é propiciar a satisfação sexual, ao/à paciente ou casal, englobando uma visão multidimensional que abrange tanto o relacionamento quanto a relação sexual, levando assim a uma vida sexual mais satisfatória (Walen & Wolfe, 2003). 27 Neste sentido, a TCC visa por meio de sessões estruturadas possibilitar gradativamente que o/a paciente ou casal a terem uma comunicação verbal mais assertiva, sentirem-se mais confiantes e seguros de suas opções, aprenderem a otimizar o contato físico, melhorar e/ou aumentar o repertório sexual (ou seja, os comportamentos que o indivíduo têm antes, durante e após o engajamento de uma atividade sexual, eles são estabelecidos através da influência de fatores ambientais, genéticos e práticas culturais), conhecerem-se a si mesmos e ao outro sem medo da intimidade e assumirem responsabilidade pelo próprio prazer (Tess & Savoia, 2007). Além disso, psicoeducar sobre a terapia e o transtorno, de modo que estes/as venham identificar os fatores que causam e mantêm o problema, no intuito de propor técnicas adaptativas a realidade do indivíduo para que este sinta-se à vontade e seguro para realizá-las (Tess & Savoia, 2007). A fim de alcançar o sucesso da terapia, o psicoterapeuta deve juntamente com o/a paciente ou casal revisar os objetivos traçados periodicamente durante o tratamento, isso se faz fundamental, uma vez que permite avaliar os avanços dos objetivos, modificá-los caso haja necessidade e averiguar novas metas que possam ter surgido. Deste modo, psicoterapeuta e paciente estarão trabalhando colaborativamente com o mesmo foco, evitando assim, a frustação com a terapia e com o/a profissional Cognitivo-Comportamental (Sudak, 2008). Formulação cognitiva A formulação cognitiva é um recurso da TCC que objetiva ter uma visão detalhada do/da paciente e de seu problema. Com isso, tem-se uma compreensão 28 do que está sendo apresentado, tornando mais fácil o planejamento da terapia a fim de atingir os objetivos. O processo da formulação inicia-se na coleta de dados da anamnese no primeiro contato com o/a paciente e encerra depois da alta (Araújo & Shinohara, 2002). A anamnese consiste em uma entrevista realizada por diversos profissionais de saúde no processo de exame clínico, inclusive pelo psicoterapeuta. O objetivo desta entrevista é garimpar as informações necessárias para o tratamento, e assim, permitir o desenvolvimento de um banco de dados do caso para a elaboração da formulação cognitiva (Barros, 2004; Araújo & Shinohara, 2002). É preciso considerar que, geralmente este é o primeiro contato com o/a paciente, e para o sucesso da aliança da relação terapêutica deve-se adaptar a entrevista de acordo com o perfil sociocultural do/a entrevistado/a, considerar que todo/a paciente aumenta o nível de estresse (ansiedade) ao ser consultado/a, ter paciência diante de respostas pouco claras e instigá-las sem intimidar (Barros, 2004). Tess e Savoia (2007) descrevem um modelo de questionamentos básicos e essenciais a serem investigados na anamnese sexual, tais como: a queixa sexual, que busca a natureza e o desenvolvimento do problema sexual. Do mesmo modo que, o desenvolvimento sexual incluem pontos como a educação sexual do indivíduo, as influências culturais e religiosas, em que momento houve o início de ereções e ejaculação para os homens, início da menarca para mulheres, investigar sobre as crenças, práticas e frequência da masturbação, como é o ambiente familiar, quais as atitudes dos pais em relação ao sexo, se houve algum antecedente sexual traumático, investigar as relações amorosas (namoros) e as experiências sexuais. 29 No intuito de compreender a dinâmica de relacionamento ao longo da vida do/a paciente, é necessário preocupar-se com a averiguação de seus relacionamentos sexuais, isto é, de como constituiu a primeira relação sexual e como foi com outros/as parceiros/as sexuais. Quanto ao relacionamento atual é útil serinvestigada a qualidade da comunicação entre o casal, das práticas e preferências sexuais, de suas crenças e expectativas sexuais, dos espaços do casal e atividades de lazer, da frequência da atividade sexual (real/ideal), de suas fantasias e erotismos, do método contraceptivo e dos eventos estressores (Tess & Savoia, 2007). Outras informações também devem ser reunidas como parte da entrevista inicial, como a coleta de dados sobre os antecedentes clínicos e psiquiátricos (uso de medicamentos), bem como se necessário for, recorrer às informações de exames laboratoriais, exame físico geral e genital, além do uso/abuso de álcool e drogas (Tess & Savoia, 2007). Quanto ao uso/abuso de álcool e drogas, quando constatado um problema relacionado a esses fatores que afete as respostas sexuais, deve-se primeiro tratá-los, para só depois trabalhar as dificuldades sexuais, pois raramente é eficaz a maneira inversa de tratamento (Carey, 2011). É a partir do acesso a estes dados que o/a psicoterapeuta buscará identificar as crenças intermediárias e centrais que norteiam as intepretações e comportamentos apresentados pelo/a paciente ou casal. O processo da formulação cognitiva do caso é bem mais que o diagnóstico, é um mapeamento do indivíduo no momento atual, ao longo de sua vida, do desenvolvimento de suas habilidades e forma como se relaciona com os outros. Tornando-se assim, essencial para o tratamento Cognitivo-Comportamental e o sucesso deste (Araújo & Shinohara, 2002). 30 Na terapia sexual, é comum perceber como origem das dificuldades sexuais os fatores predisponentes, uma educação rígida, informações sexuais errôneas, conflitos na relação familiar e nas experiências traumáticas. Quanto aos precipitantes observa-se, a idade, problemas conjugais, partos, falhas ocasionais, infidelidade, experiência sexual traumática, disfunção sexual do/a parceiro/a, reações a fatores orgânicos, depressão e ansiedade (Tess & Savoia, 2007). Os mecanismos de manutenção dos problemas sexuais mais apresentados são as crenças irracionais, os sentimentos de culpa, medo de intimidade, antecipação do fracasso, comunicação deficiente entre os/as parceiros/as, falta de preâmbulos sexuais, problemas conjugais, autoimagem distorcida, perda de atração sexual entre os/as parceiros/as e distúrbios psiquiátricos (Tess & Savoia, 2007). Técnicas cognitivas e comportamentais Segundo os/as autores/as explorados/as, pode-se constatar que vários procedimentos cognitivos e comportamentais da TCC têm sido úteis para auxiliar no tratamento das dificuldades sexuais. As técnicas, sejam elas cognitivas ou comportamentais, podem ser utilizadas para um ou mais de um transtorno, cabe ao/à psicoterapeuta decidir qual ou quais delas, mais se adaptam a disfunção em questão (Carey, 2011). Uma das técnicas que mais se adequa a diversos tratamentos é a psicoeducação, ela consiste em diminuir a ignorância e melhora o conhecimento do/a paciente ou casal a respeito de suas queixas, assim como, da fisiologia e anatomia sexual. Aconselha-se que o/a terapeuta busque fontes científicas, como 31 livros e artigos, para indicar ao/a paciente. É importante que as indicações dessas leituras sejam realizadas como tarefas de casa e discutidas na sessão seguinte. Assim, o/a terapeuta também deve estar inteirado do conteúdo para desmistificar as dúvidas (Carey, 2011). A reestruturação cognitiva é uma técnica fundamental, pois visa dois momentos relevantes: salientar os objetivos mais realistas para a terapia e trabalhar a diminuição das crenças desadaptativas. O primeiro momento foca-se em orientar o/a paciente ou casal a respeito de suas metas, pois é comum que estes/as cheguem à terapia com fantasias a respeito do resultado (Carey, 2011). Trabalhar este quesito se faz fundamental para não gerar ou aumentar o nível de ansiedade de atuação. Uma vez que, a ansiedade relacionada ao sexo é um fator que provoca impedimento psicofisiológico no desempenho da atividade sexual. LucenaI e AbdoII (2013, p. 96) apontam que “do ponto de vista cognitivo, a ansiedade elevada interfere negativamente no funcionamento sexual porque o indivíduo está “enviezado” para perceber uma situação como ameaçadora. Assim, ele se “distrai” de estímulos sexualmente excitantes e assume interpretações sobre esses estímulos.” Outra perspectiva da ansiedade relacionada ao sexo é que o sistema nervoso simpático adiciona-se ao sistema nervoso parassimpático. Em resposta, ocorre a vasoconstrição sanguínea que diminui a irrigação dos órgãos genitais, interferindo consideravelmente na atividade sexual. Portanto, as mudanças psicofisiológicas necessárias para um bom desempenho no ciclo de respostas sexuais não conseguem ser acompanhadas pelo corpo, de modo que, caracteriza a dificuldade ou disfunção sexual (LucenaI & AbdoII, 2013). 32 Assim, o/a psicoterapeuta tem a difícil tarefa de instruir a reformulação do que se almeja, além de que “o casal deve ser estimulado a reconhecer as variabilidades inerentes às experiências sexuais e compreender que esta variabilidade não é normalmente um sinal de fracasso ou de incompatibilidade.” (Carey, 2011, p. 280). Tess e Savoia (2007) afirmam que, a segunda etapa da restruturação cognitiva deve ser realizada antes das intervenções comportamentais, ao mesmo tempo em que, deve ser um processo contínuo ao longo do tratamento, pois em todas as sessões é possível identificar e corrigir cognições distorcidas. É comum que a disfunção sexual esteja ligada a pensamentos e emoções negativas em relação ao sexo (de modo geral), a si mesmo ou ao casal, ou até mesmo mitos e tabus impostos pela sociedade. “A preocupação leva a cognições de automenosprezo e desvia a atenção das cognições agradáveis e excitantes, criando um círculo vicioso de disfunção, como: preocupação, pensamentos de menosprezo para consigo, aumento da disfunção, etc.” (Carey, 2011, p. 287). Neste sentido, Masters e Johnson desenvolveram a técnica da focalização sensorial com a finalidade de promover mais percepção e menos ansiedade ao indivíduo ou casal com dificuldades sexuais. A técnica consiste em um conjunto de práticas elaboradas de forma gradual para estimular a focalização da percepção das sensações ao invés de fazê-lo sobre a atuação. As técnicas comportamentais têm uma aplicabilidade bastante efetiva em diversos tratamentos, incluindo o das dificuldades sexuais. Diante disso, o treinamento de habilidades comportamentais é a técnica que mais propicia ao sucesso terapêutico, pois ela é facilmente associada a técnicas cognitivas, fazendo com que aumente as chances de progresso clínico, de modo que primeiro 33 investigue as crenças negativas e logo após propõe a intervenção comportamental (Carey, 2011). O objetivo deste método é fomentar o aumento do repertório sexual do/a paciente ou casal e superar as experiências negativas que foram vivenciadas. Desta maneira, buscar materiais audiovisuais eróticos podem contribuir com pacientes que tiveram experiências de modelos sexuais limitados; propor o treino da masturbação, estimulação clitoriana e técnica de stop-start (consiste em exercícios para exercitar o autocontrole ejaculatório, na maioria das vezes surte resultados favoráveis no tratamento da ejaculação precoce através do auto aprendizado), tais recursos beneficiam no aumento do desejo, autoconfiança e experiências positivas (Bressan & Lorrenzzetti, 2009; Carey, 2011). Carey (2011), aponta que quanto à superação de experiências mal adaptativas, é comum que os/as pacientes relatem sobre experiências negativas, e assim ao se trabalhar as cognições a respeito destas situações dá se abertura para propor técnicas como dilatação progressiva (principalmente para casos de transtorno da dor gênito-pélvica/penetração), pompoarismo, compressão para a ejaculação precoce, dentreoutras. A técnica da dilatação progressiva consiste em dessensibilizar gradativamente a penetração vaginal, assim é realizada uma psicoeducação acerca da anatomia vaginal (pode orientar a paciente a olhar o próprio órgão com um espelho). Com o desenvolvimento da técnica, a paciente vai se sentindo à vontade para estar estimulando e introduzindo gradativamente cones até alcançar a etapa em que se sinta confortável para a penetração do pênis de seu parceiro sexual (Bressan & Lorrenzzetti, 2009). 34 O treinamento da comunicação é essencial, principalmente na terapia para casais. A finalidade dessa técnica é estimular de forma assertiva a expressão dos pensamentos e emoções contribuindo para que o comportamento de falar e ouvir efetivamente, se torne algo recíproco. A/O psicoterapeuta deve criar estratégias para que ambas as partes trabalhem os pontos falhos da comunicação, assim como: estimular pontos fortes como falar/ouvir atentamente, não interromper o outro, aceitar o silêncio, refletir sobre o que fala/ouve e saber esclarecer o que ouviu através de questionamentos significativos (Dattilio, 2011). Técnicas como registro de pensamentos automáticos, seta descendente, tomada de decisão, cartão de enfrentamento, técnicas de relaxamento, treino da assertividade e solução de problemas, podem e devem auxiliar as intervenções cognitivas e comportamentais diante das dificuldades sexuais. Além de que, complementam que é importante trabalhar o treino das habilidades sociais, questões relativas à autoimagem, tomar a decisão para escolher os prazeres sexuais que lhe agradam (reconhecer e negociar preferencias sexuais), buscar como recurso parceiros/as mais carinhosos/as e compreensivos/as (Oliveira, 2013; Carey, 2011). Por fim, a parte fundamental da TCC, a prevenção de recaídas. Nesta etapa do tratamento, paciente e terapeuta revisam tudo que já foi trabalhado no intuito de que estes/as sintam-se seguros para a alta, assim como, para utilizar tudo que foi construído ao longo do tratamento para prevenir recaídas e saber como lidar com situações futuras que possam vir a acontecer (Oliveira, 2013). Para tanto, combinar sessões de follow-up após o término do tratamento é indispensável, isto é, o follow-up é um conceito utilizado em TCC que se direciona a uma sessão de terapia um mês ou mais após a alta do tratamento. O intuito é 35 avaliar os resultados alcançados e reforçar os comportamentos positivos. Ademais, estimular que os casais tenham um momento dedicado a eles/as e indicar exercícios de focalização sensorial pelo menos uma vez ao mês, ajuda ao casal ou indivíduo a desenvolver um estilo sexual mais satisfatório e resistente no futuro, tornando-se seu próprio terapeuta (Sudak, 2008; Carey, 2011). Integração entre a Psicoterapia e a Psicofarmacologia nos Transtornos Sexuais Integrar a TCC nas disfunções sexuais ao tratamento psicofarmacológico não é obrigatório, mas em alguns casos esta associação se torna uma ferramenta coadjuvante ao tratamento, assim deve ser algo a considerar. Os conhecimentos da psiquiatria, farmacologia e medicina a favor do tratamento das disfunções sexuais têm se mostrado bastante efetivos, principalmente em diagnósticos de ejaculação precoce e disfunção erétil (Parisotto, 2008). No que diz respeito às vantagens dessa conjuntura, pode-se constatar que auxilia nos desfechos e reduz bloqueios no tratamento. Já em relação às desvantagens, alguns fármacos podem desempenhar alguma reação adversa, e assim, incomodar a satisfação sexual. Outro ponto, a ser pontuado é o uso de medicamentos sem a indicação médica, de modo que, o efeito farmacológico do remédio pode ser alcançado, mas ele não atinge os parâmetros da satisfação sexual, fazendo assim necessária a psicoterapia, como por exemplo, no uso de Viagra, Levitra, Cialis, dentre outros (Marangell, Silver, Martinez & Yudoksky, 2008; Sugur & Gündüz, 2015). 36 Basso (2004) afirma que, embora não existam estudos científicos que comprovem os reais poderes da medicina natural e alimentos afrodisíacos, eles são considerados estimulantes psicofisiológicos. Entretanto, deve-se apontar que algumas dessas substâncias podem causar euforia e inibir a performance sexual e depender do organismo de cada sujeito. De modo geral, sexólogos/as afirmam que o efeito dos afrodisíacos e fitoterápicos está ligado diretamente ao pensamento, isto é, a substância afrodisíaca em si pode não causar efeitos sexuais e sim alterar o humor, a partir disso o indivíduo se sente melhor em relação ao desejo e disposição sexual. Assim, as expectativas a respeito do poder da substância assumem o controle das fantasias, e ao pensar no que pode acontecer, o indivíduo gera o desejo e os resultados tem maior probabilidade de ocorrer (Basso, 2004). Considerações Finais O presente artigo teve como objetivo investigar a práxis do/a psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental diante das disfunções sexuais de seus/suas pacientes. Pôde-se verificar que, a sexualidade e os padrões de comportamentos sexuais tem um viés biopsicossocial, e a TCC trabalha com tais enfoques de modo que, no aspecto biológico aplica técnicas de controle da ansiedade, psicoeducando os/as pacientes sobre os seus corpos e as reações destes; no aspeto psicológico por meio, principalmente, de uma boa reestruturação cognitiva; e no social, levando-os a compreender que a sexualidade está muitas vezes relacionada ao contato com o outro, e com os padrões sociais, trabalhando assim, melhoras nas competências 37 de habilidades sociais dos/as pacientes como, por exemplo, a assertividade (Gherpelli, 1996; Beck, 2013; Carey, 2011). Partindo deste pressuposto, observou-se que o/a psicoterapeuta Cognitivo- Comportamental analisa as disfunções sexuais a partir de sua etiopatogenia, epidemiologia, fatores de risco, fatores psicológicos, fatores biológicos, diagnóstico e formulação cognitiva. Todos estes fatores permitem assim adquirir, conhecimentos para saber elaborar um plano de tratamento com base empírica, mas com especificidades para cada paciente de acordo com as características individuais do/a mesmo/a (Carey, 2011; Wincze, Bach & Barlow, 1999; Tess & Savoia, 2007; Araújo & Shinohara, 2002). Cabe ressaltar, que a atuação da psicologia no campo das disfunções sexuais é regida pela esfera das variáveis de natureza comportamental, emocional e/ou cognitiva, que determinam o funcionamento sexual. Sendo que, cada abordagem desta, vai trabalhar de acordo com suas convicções. Assim, em alguns casos, é necessário contar com um trabalho multidisciplinar, principalmente quando integra a psicofarmacologia clínica, visando sempre o melhor desfecho para o/a paciente/casal e psicoterapeuta (Sugur & Gündüz, 2015). Como tal, pressupõe-se que a psicoterapia Cognitivo-Comportamental voltada para as disfunções sexuais promove mudanças cognitivas e comportamentais, dentre elas: trabalhar a assertividade e estimular a comunicação ao falar sobre sexualidade, superar bloqueios emocionais e cognições distorcidas (como por exemplo: raiva, culpa, autodesvalorização e ansiedade); promover o autoconhecimento da anatomia e fisiologia do corpo humano e sentir-se mais confortável com ele; psicoeducar e questionar sobre mitos e papeis de gêneros errôneos que interferem na afirmação da sexualidade; estimular a ampliação do 38 repertório sexual e sensações prazerosas; reforçar comportamentos positivos; e formular estratégias para potencializar o que foi trabalhado na terapia e que pode ser útil após o término do tratamento para evitar recaídas (Walen & Wolfe, 2003). Denota-se que ainda há dificuldades em coletar os conteúdos produzidos sobre a temática. Carey (2011) aponta que a psicoterapia cognitivo- comportamental tem muitas áreas para pesquisar e verificar sua aplicabilidade, mas ressalta que oconsiderável progresso em termos de tratamento das dificuldades e disfunções sexuais é notório, fazendo-se possível através dos recursos teórico-prático desta abordagem. Estudos consideram que a TCC têm sido uma abordagem bastante eficaz no tratamento deste âmbito por se basear na aquisição de conhecimentos e habilidades, além de focar nos problemas. Ademais, algumas questões são relativamente importantes para a pesquisa e prática do tratamento das dificuldades e disfunções sexuais, carecendo assim, de mais estudos. Especialmente, a etiopatogenia e epidemiologia, uma vez que são esses dados que colaboram para os critérios de diagnóstico, avaliação do impacto global de uma condição clínica em uma localidade específica, taxas de prevalência, duração, gravidade etc. De modo que, seus resultados interferem diretamente no saber/fazer da prática clínica, médica e farmacológica, além do planejamento das políticas públicas direcionadas as questões sexuais (Sugur & Gündüz, 2015). Uma vez que, a Organização Mundial de Saúde afirma que ter uma vida sexual satisfatória é um dos principais indicadores de saúde, pois traz benefícios biopsicossocial como melhorar a autoestima, fortalece a musculatura pélvica, melhora no sono, estimula a imunidade, queima calorias, alivia o estresse, reduz o risco de câncer de próstata, melhora a intimidade entre o casal, melhora a saúde 39 cardíaca, além de prevenir e/ou ajudar no tratamento de doenças como a depressão, diabetes e hipertensão (Bressan & Lorrenzzetti, 2009). Por fim, este artigo visa contribuir para o reconhecimento da importância das intervenções cognitivas e comportamentais nas práxis do papel do/a profissional psicólogo/a Cognitivo-Comportamental, enquanto terapeuta diante das dificuldades sexuais de seus/as pacientes seja esta terapia individual ou de casais. Referências American Psychiatric Association. (2014). DSM-V: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. (5º ed.). Porto Alegre: Artmed. Anache, A. A. & Reppold, C. T. (2010). Avaliação Psicológica: implicações éticas. In: CFP. Avaliação Psicológica: Diretrizes na Regulamentação da Profissão. Brasília: Conselho federal de psicologia. Araújo, C. F. & Shinohara, H. (2002). Avaliação e diagnóstico em terapia cognitivo- comportamental. Interação em Psicologia, 6(1), 37-43. Barros, I. C. (2004). Examinando pacientes - a anamnese. A história clínica, 1-19. Recuperado em: http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1332097453Anamnese.pdf Basso, M. R. (2004). 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Qualquer um dos seguintes sintomas deve ser vivenciado em quase todas ou em todas as ocasiões (aproximadamente 75 a 100%) da atividade sexual com parceira (em contextos situacionais identificados ou, se generalizada, em todos os contextos), sem que o indivíduo deseje o retardo: 1. Retardo acentuado na ejaculação. 2. Baixa frequência marcante ou ausência de ejaculação. B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo ao indivíduo. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância/medicamento ou a outra condição médica. Anexo B – Transtorno erétil. Critérios de diagnóstico 302.72 [F52.21] A. Pelo menos um dos três sintomas a seguir deve ser vivenciado em quase todas ou em todas as ocasiões (aproximadamente 75 a 100%) de atividade sexual (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos): 1. Dificuldade acentuada em obter ereção durante a atividade sexual. 2. Dificuldade acentuada em manter uma ereção até o fim da atividade sexual. 3. Diminuição acentuada na rigidez erétil. B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância/medicamento ou a outra condição médica. Anexo C – Transtorno do orgasmo feminino. Critérios de diagnóstico 302.73 [F52.31] 44 A. Presença de qualquer um dos sintomas a seguir, vivenciado em quase todas ou em todas as ocasiões (aproximadamente 75 a 100%) de atividade sexual (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos): 1. Retardo acentuado, infrequência acentuada ou ausência de orgasmo. 2. Intensidade muito reduzida de sensações orgásmicas. B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo no indivíduo. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento (p. ex., violência do parceiro) ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância/medicamento ou a outra condição médica. Anexo D – Transtorno do interesse/excitação sexual feminino. Critérios de diagnóstico 302.72 [F52.22] A. Ausência ou redução significativa do interesse ou da excitação sexual, manifestada por pelo menos três dos seguintes: 1. Ausência ou redução do interesse pela atividade sexual. 2. Ausência ou redução dos pensamentos ou fantasias sexuais/eróticas. 3. Nenhuma iniciativa ou iniciativa reduzida de atividade sexual e, geralmente, ausência de receptividade às tentativas de iniciativa feitas pelo parceiro. 4. Ausência ou redução na excitação/prazer sexual durante a atividade sexual em quase todos ou em todos (aproximadamente 75 a 100%) os encontros sexuais (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos). 5. Ausência ou redução do interesse/excitação sexual em resposta a quaisquer indicações sexuais ou eróticas, internas ou externas (p. ex., escritas, verbais, visuais). 6. Ausência ou redução de sensações genitais ou não genitais durante a atividade sexual em quase todos ou em todos (aproximadamente 75 a 100%) os encontros sexuais (em contextos situacionais identificados ou, se generalizado, em todos os contextos). B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo para a mulher. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento (p. ex., violência do parceiro) ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância/medicamento ou a outra condição médica. 45 Anexo E – Transtorno da dor gênito-pélvica/penetração. Critérios de diagnóstico 302.76 [F52.6] A. Dificuldades persistentes ou recorrentes com um (ou mais) dos seguintes: 1. Penetração vaginal durante a relação sexual. 2. Dor vulvovaginal ou pélvica intensa durante a relação sexual vaginal ou nas tentativas de penetração. 3. Medo ou ansiedade intensa de dor vulvovaginal ou pélvica em antecipação a, durante ou como resultado de penetração vaginal. 4. Tensão ou contração acentuada dos músculos do assoalho pélvico durante tentativas de penetração vaginal. B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo para a mulher. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento (p. ex., violência do parceiro) ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância ou medicamento ou a outra condição médica. Anexo F – Transtorno do desejo sexual masculino hipoativo. Critérios de diagnóstico 302.71 [F52.0] A. Pensamentos ou fantasias sexuais/eróticas e desejo para atividade sexual deficientes (ou ausentes) de forma persistente ou recorrente. O julgamento da deficiência é feito pelo clínico, levando em conta fatores que afetam o funcionamento sexual, tais como idade e contextos gerais e socioculturais da vida do indivíduo. B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo para o indivíduo. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância ou medicamento ou a outra condição médica. Anexo G – Ejaculação prematura (precoce). 46 Critérios de diagnóstico 302.72 [F52.4] A. Padrão persistente ou recorrente de ejaculação que ocorre durante a atividade sexual com parceira dentro de aproximadamente um minuto após a penetração vaginal e antes do momento desejado pelo indivíduo. Nota: Embora o diagnóstico de ejaculação prematura (precoce) também possa ser aplicado a indivíduos envolvidos em atividades sexuais não vaginais, não foram estabelecidos critérios específicos para o tempo de duração dessas atividades. B. Os sintomas do Critério A devem estar presentes por pelo menos seis meses e devem ser experimentados em quase todas ou todas as ocasiões (aproximadamente 75 a 100%) de atividade sexual (em contextos situacionais identificados
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