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Fernando Moreno da Silva COMO ESCREVER BEM Instruções fáceis, rápidas e eficientes 1 SUMÁRIO Apresentação.................................................................................. 2 Por que é importante saber escrever?.............................................3 Parte I: Orientações gerais Reforma Ortográfica.........................................................................5 Dúvidas e erros frequentes.............................................................13 Construção da frase........................................................................22 Qualidades do texto........................................................................25 Parte II: Orientações para estudantes Redação para vestibular e para concurso......................................33 Exemplos de redação com base em provas aplicadas...................40 Propostas de redação.....................................................................44 Parte III: Orientações para profissionais Tipos de texto conforme a finalidade...............................................51 Modelos de documentos..................................................................57 Teste de avaliação...........................................................................70 Considerações finais........................................................................71 Referências bibliográficas................................................................72 2 APRESENTAÇÃO A deficiência na prática da escrita é um grande problema por que passam alunos, profissionais e grande parte das pessoas. Isso é muito fácil de comprovar. Basta olharmos ao nosso redor (placas, propagandas informais, textos por próprio cunho, etc.) para notar que a escrita deixa muito a desejar. O ensino do bom uso de nosso idioma é uma necessidade presente. Diante dessa necessidade, instruções para uma boa escrita é sempre bem-vindo. Nossa proposta não é apresentar noções pesadas ou pedantes para que os leitores não desanimem no aperfeiçoamento da escrita. O objetivo é expor de forma clara, prática e eficiente, com ensinamentos estruturais básicos, o uso da língua para estimular o aperfeiçoamento do texto. Este livro, estruturado em três partes (Orientações gerais, Orientações para estudantes e Orientações para profissionais), se destina àqueles que querem melhorar sua escrita na escola, na faculdade, no trabalho e nas mais diversas situações. 3 POR QUE É IMPORTANTE SABER ESCREVER? Na era da tecnologia A era digital revolucionou a comunicação, quebrando distâncias e barreiras. As novas ferramentas eletrônicas transformaram a comunicação, independentemente do lugar ou das hierarquias, num canal direto entre emissor e receptor. A internet possibilitou o contato direto, sem intermediário. Se a escrita gozava de importância, nesse novo contexto em que ela se transforma numa ferramenta do cotidiano, seu uso se torna indispensável. O relacionamento se tornou instantâneo e direto. E pior, a escrita passou a ser registrada. Seu erro pode ficar gravado. Cuidado! O exemplo está no uso de e-mail, que muitas vezes substitui definitivamente o telefone. Outras ferramentas, como blog, MSN e twitter, invadiram também o mundo corporativo como instrumentos básicos de trabalho. Impossível pensar numa rotina de trabalho sem todo esse aparato. Empresas têm usado inclusive tais ferramentas como meio de publicidade para divulgar produtos e serviços e para promover uma maior aproximação com os consumidores. Até executivos têm aproveitado essas tecnologias para estabelecer um maior vínculo com clientes ou com funcionários. Dessa forma, tecnologias surgem mas não conseguem substituir a língua. Pelo contrário, a era digital recrudesceu a legitimidade da escrita, transformou-a numa forma de exposição. E mais, escrever agora é expor-se maciçamente a milhares ou a milhões de pessoas. INCLUIR CASO SAXA (XUXA) Escrita como vitrine Imagine que você seja o proprietário de uma empresa que vai contratar um funcionário. Para a vaga, aparecem dois candidatos. Como critério de escolha, você pede a ambos que escrevam uma carta de apresentação. O primeiro candidato escreve uma carta primorosa, com letra legível, sem nenhum erro de ortografia, clareza nas ideias e coerência no raciocínio. O segundo, porém, tropeça feio: escreve “essesão” e “felismente”, palavras e frases desconexas e uma letra horrível. Quem você escolheria para a vaga? A escrita, além de funcionar como uma forma de seleção, conforme podemos deduzir com o exemplo acima, funciona também como um reflexo da pessoa. A escrita ou a fala, portanto, é uma vitrine: mostra a imagem de quem escreve ou fala. A forma como você usa a língua pode tanto projetar uma imagem de eficiência como arranhar definitivamente seu potencial. Tenha certeza de uma coisa: a escrita é uma extensão de outras qualidades. Escrever mal passa a imagem de desleixo, incompetência; quem é cuidadoso com o idioma será visto como uma pessoa prudente e capaz. Que imagem você quer ter? Pense nisso e transforme ou melhore sua imagem aproveitando as instruções deste livro. 4 PARTE I: ORIENTAÇÕES GERAIS 5 UMA BOA VIAGEM! Leitores e leitoras, sejam bem-vindos à fantástica viagem ao mundo da escrita! Apertem os cintos, ajeitem a cadeira, aponte o lápis, destampe a caneta e prepare um rascunho. Nossa próxima parada é o aperfeiçoamento do texto. Nessa primeira parte do livro, apresentaremos orientações úteis para qualquer tipo de texto, independentemente da finalidade: acadêmico, técnico ou usual. Passaremos por quatro estações: reforma ortográfica; dúvidas e erros frequentes; construção da frase; e qualidades do texto. REFORMA ORTOGRÁFICA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto no dia 29 de setembro de 2008 validando o acordo da nova reforma ortográfica. A medida decorre do acordo ortográfico internacional estabelecido pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), composto de oito nações: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal. As novas regras estão em vigor desde janeiro de 2009. Esse acordo é meramente ortográfico. Portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. O objetivo é a unificação ortográfica. Confira a seguir as mudanças. ALFABETO “k”, “w” e “y” entram no alfabeto, que passa a ter 26 letras. As letras são usadas sobretudo em símbolos (Km, Kg, W) e nomes estrangeiros (show, kung fu) Alfabeto completo: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z 6 ACENTUAÇÃO Trema O trema desaparece nas palavras em português. Só fica em nomes próprios ou palavras estrangeiras, como Hübner e Müller. Exemplos: agüentar(antigo) aguentar (atual) cinqüenta cinquenta freqüente frequente lingüiça linguiça qüinqüênio quinquênio tranqüilo tranquilo Acento agudo. Desaparece em: 1. Ditongos abertos “éi” e “ói” em palavras paroxítonas: Assembléia (antigo) assembleia (atual) apóio (verbo apoiar) apoio bóia boia Coréia Coreia debilóide debiloide estréia estreia geléia geleia heróico heroico idéia ideia jibóia jiboia jóia joia platéia plateia Atenção: a) Regra válida só para palavras paroxítonas. Continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em “éi”, “oi”. Exemplos: papéis, herói, heróis. b) A regra não é válida quando a paroxítona entra na regrageral das terminadas em –r: Ex. destróier 2. Palavras paroxítonas, com “i” e “u” tônicos, quando precedidos de ditongo. bocaiúva (antigo) bocaiuva (atual) feiúra feiura Atenção: se a palavra for oxítona e o “i” ou o “u” estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí. 3. Nos poucos verbos rizotônicos (acento na raiz) em que há “u” tônico depois de “g” ou “q” e antes de “e” ou “i”. Ex.: averigúe (averigue); argúem (arguem); apazigúe (apazigue) 7 Atenção: Permanece o acento no hiato na sequência ui. Ex. arguí. Acento circunflexo. Desaparece em: 1. Palavras terminadas em duplo “o”. abençôo abençoo dôo (verbo doar) doo enjôo enjoo perdôo (verbo perdoar) perdoo povôo (verbo povoar) povoo vôo voo 2. Formas verbais nas terceiras pessoas do plural terminadas em “eem”, como os verbos “crer, ler, ver e dar. crêem creem lêem leem vêem veem dêem deem Acento diferencial O acento diferencial deixa de ser usado: Pára (verbo parar) ≠ para (preposição) → para Péla (verbo pelar) ≠ pela (combinação de per + la) → pela Pêlo (substantivo) ≠ pélo (verbo pelar) ≠ pelo (combinação de per + lo) → pelo Pólo (substantivo) ≠ polo (combinação antiga de por e lo) → polo Pêra (substantivo) ≠ péra (substantivo arcaico=pedra) → pera Atenção: a) Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3a pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3a pessoa do singular. Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode. b) Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim. c) Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos: Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros. Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba. Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra. Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes. Ele detém o poder. / Eles detêm o poder. Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas. d) É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo? 8 HÍFEN NAS FORMAÇÕES POR PREFIXAÇÃO E SUFIXAÇÃO Usa-se o hífen quando: 1. Diante de palavra iniciada por h: a-histórico anti-higiênico macro-história mini-hotel proto-história sobre-humano super-homem ultra-humano Exceção: Subumano Obs.: Não se usa o hífen nos prefixos des e in quando o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inarmonia, inumano, etc. 2. Quando o prefixo termina pela mesma vogal com que inicia o segundo elemento: anti-inflamatório auto-observação contra-ataque micro-ondas micro-ônibus retro-ocular semi-internato Exceção: Os prefixos co, re, pre e pro, quando seguidos da mesma vogal. Ex. coordenar, cooptar, reeleição, reelaborar, preencher, proótico, etc. 3. Quando o prefixo termina pela mesma consoante com que inicia o segundo elemento: ad-digital hiper-requintado inter-regional sub-base super-resistente Atenção: • Com o prefixo sub, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça, etc. • Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano, etc. 4. Prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice: usa-se sempre. além-mar aquém-mar ex-aluno pós-graduação pré-história pró-europeu recém-casado 9 sem-terra vice-prefeito 5. Sufixação Apenas se usa o hífen nas palavras terminadas por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu anajá-mirim andá-açu capim-açu Ceará-Mirim. Não se usa hífen quando: 1. O prefixo termina por vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. aeroespacial agroindustrial anteontem antiaéreo autoescola autoinstrução coautor coedição extraescolar infraestrutura plurianual 2. O prefixo termina por vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s. anteprojeto antipedagógico autopeça autoproteção coprodução geopolítica microcomputador pseudoprofessor seminovo ultramoderno 3. O prefixo termina por vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Neste caso, duplicam-se essas letras. antissocial contrarregra contrassenso cosseno infrassom microssistema minissaia multissecular neossimbolista semirreta 10 suprarrenal ultrassom 4. O prefixo termina por consoante e o segundo elemento começa por vogal. hiperativo interescolar superaquecimento superinteressante 5. Nos prefixos des, in, co, re, pre e pro: desumano desumidificar inarmonia coerdeiro reeleição reelaborar preencher proótico 11 HÍFEN EM COMPOSTOS E ENCADEAMENTOS VOCABULARES 1. Usa-se o hífen nas palavras compostas por justaposição quando formam uma unidade de sentido e não contêm formas de ligação ano-luz arco-íris decreto-lei médico-cirurgião tenente-coronel tio-avô guarda-noturno mato-grossense norte-americano porto-alegrense afro-asiático azul-escuro primeiro-ministro segunda-feira conta-gotas conta-giros guarda-chuva para-brisa, para-choque, para-chuva, para-estilhaços, para-fios, para-fogo, para-luz, para-muro, para-sol, para-vento, Atenção: a) Nos compostos por justaposição com termo de ligação, não se usa o hífen: pé de moleque, dia a dia, à toa, pé de boi, pau para toda obra, tomara que caia, mula sem cabeça, pôr do sol. b) Compostos que perderam a noção de composição, aglutinam-se: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc. 2. Nome de plantas ou animais Usa-se o hífen nas palavras compostas que nomeiam espécies botânicas e zoológicas, ligadas ou não por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina couve-flor erva-doce benção-de-deus ervilha-de-cheiro fava-de-santo-inâcio andorinha-grande cobra-capelo formiga-branca andorinha-do-mar cobra-d’água bem-te-vi (nome de um pássaro). pé-de-boi (árvore) 12 3. Nas onomatopeias Blá-blá-blá lenga-lenga tique-taque reco-reco zum-zum 4. Advérbios mal e bem Usa-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com outro elemento unidade de sentido, se o segundo elemento começa por vogal ou h. bem-aventurado bem-estar bem-humorado mal-estar mal-humorado Atenção: O advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. bem-criado (cf. malcriado) bem-ditoso (cf. malditoso) bem-falante (cf malfalante) bem-mandado (cf. malmandado) bem-nascido (cf. malnascido) bem-soante (cf. malsoante) bem-visto (cf. malvisto). Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc. 5. Advérbio não Extinguiu-se o uso do hífen na forma prefixal “não-” em substantivos e adjetivos não-engajamento não engajamento não-governamental não governamental 6. Para ligar duas ou mais palavras que formem encadeamentos vocabulares. Ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo. 7. Estética Por uma questão de percepção, na separação silábica ao final da linha, o hífen deve ser repetido na linha seguinte. Sem muita certeza, estima- -se uma boa safra para esse ano. 13 Exercícios Sobre o Novo Acordo Ortográfico a) Acentue quando necessário:odisseia / tramoia / ceu / sagui / apoio (verbo) / asteroide / viuva / papeis / caiu / egoista / bocaiuva / moinho / heroi / androide / perdoo / voo / deem / pelo (cabelo) / piaui / bauru / jau / Coreia / sequestro / tapioca / saida / b) Coloque o hífen quando necessário. A não colocação presume a junção. anti_higienico / contra_ataque / inter_racial / ultra_humano/ super_romantico / ante_ontem / manda_chuva / sub_humano / inter_municipal / pre_historia / pluri_anual / auto_didata / ex_aluno / alem_mar / mini_hotel / geo_politica / anti_aereo / semi_circulo / infra_estrutura / neo_liberal / micro_computador / contra_senso / super_amigo / infra_vermelho / infra_som / inter_estadual / ponta_pe / pe_de_boi (expressão idiomática) / para_quedas / sub_raça 14 DÚVIDAS E ERROS FREQUENTES Quando escrevemos ou falamos, sempre surgem dúvidas quanto à forma correta que deveríamos usar. O mais curioso é que na maioria das vezes as infrações são semelhantes. Pois bem, selecionamos abaixo uma série de instruções para sanar as principais dúvidas entre os usuários da língua. Pronúncia Confira abaixo a pronúncia correta de palavras que costumam confundir: a priori às avessas (ê) canhota (nhó) cateter (tér) clitóris (tó) fluido (úi) gratuito (úi) incesto (cé) intuito (úi) ibero (bé) ileso (é) nesse ínterim (ín) nobel (bél) recorde (có) rubrica (brí) ruim (ím) subsídio (som de “s”, como em “observar”) sui generis (gé) Palavras estrangeiras A forma como as palavras no Brasil devem ser escritas é regulamentada pelo decreto-lei n. 2623, de 21 de outubro de 1955 e simplificada pela lei n. 5765, de 18 de dezembro de 1971. Com isso, a ortografia é uma norma jurídica. A mesma norma estabelece regras à escrita de nomes estrangeiros, chamados de estrangeirismos. Assim, palavras que não foram aportuguesados, ou seja, não pertencem oficialmente ao idioma, devem ser escritas em destaque, em itálico ou entre aspas. Exemplos: software O mesmo vale para expressões latinas, usados sobretudo na linguagem forense. Exemplos: sine qua non, de cujus, ad hoc, Obs.: A expressão comumente usada “a grosso modo” também é uma expressão latina. Mas é preciso que a use de forma correta. O certo é “grosso modo”. Não existe o “a” no início da expressão. 15 ORTOGRAFIA Errado correto Advinhar adivinhar Adimitir admitir Beneficiente beneficente Excessão exceção Pego em fragrante pego em flagrante Fragância fragrância (perfume) Impecilho empecilho Paralizado paralisado Pixar pichar Mussarela muçarela Previlégio privilégio Frustado frustrado Coincindir coincidir Revindicar reivindicar Previlégio privilégio Por que / porque / por quê / porquê Por que / por quê Quando se faz uma pergunta, usam-se os termos separados: Ex.: Por que o meio ambiente é importante? (Por qual razão o meio ambiente...) Se a expressão estiver no final da interrogação, coloca-se acento no “quê”: Ex.: O sol é importante por quê? (O sol é importante por qual razão?) Para confirmar se é separado ou junto, basta trocar a expressão por “por qual razão?”. Se não for possível a troca, não é separado. O “por que” (separado) pode também fazer a função de um pronome relativo. Ex.: Aquela é a rua por que passei Nessa sentença, temos “por” (preposição) mais “que” (pronome relativo). Poderíamos trocar a expressão por “pela qual”. Ex.: Aquela é a rua pela qual passei (Ou seja, que passa, passa por algum lugar) Porque Quando se introduz uma explicação. Ex.: Irei hoje porque preciso Note que neste caso não é possível trocar pela expressão “por qual razão”. Portanto, não pode ser usado “por que”. Porquê Equivale à palavra “motivo”. Em geral, vem precedido de “o”: Ex.: Não sei o porquê da briga (Não sei o motivo da briga) Haja vista Expressão invariável em qualquer contexto Ex.: Tenho certeza que irá bem na prova, haja vista seu empenho nos estudos 16 Em anexo a) É invariável se usar a expressão “em anexo”. Ex: Os documentos seguem em anexo. b) Se usar sem o “em”, haverá variação: Ex.: Encaminhe os arquivos anexos Reenvie as correspondências anexas Boa tarde / boa-tarde... No início de uma carta, uso a expressão “bom dia!” Ex.: Bom dia, meu amigo! Se digo, porém, que “o homem não gosta de dar bom-dia a ninguém”, devo usar com hífen, pois equivale a um substantivo. Se reescrever a mesma frase, ficaria: Ex.: “O homem não gosta de dar saudação a ninguém” O que foi dito acima vale para todas as expressões de cumprimento: “boa noite”, “boa tarde”, etc. Dia a dia Antes da Reforma Ortográfica 2009, havia diferença de grafia entre dia-a-dia e dia a dia. Com a reforma, a expressão é escrita sem hífen em todas as situações. Apenas para relembrar, é bom que façamos a distinção antiga. Ora, é fácil a diferença, embora a maioria confunda. a) Se equivale a “diariamente”, uso sem hífen. Ex.: Ele caminha dia a dia b) Se equivale a apenas “dia”, uso com hífen. Ex.: Como vai seu dia-a-dia Anteontem Costumam dizer: “antes de ontem”, “antiontem”, etc. Tudo errado. O correto é “anteontem”. A junção de ante (anterioridade=antes) mais ontem Mais / mas A expressão “mais” denota adição, acréscimo. Ex. O novo funcionário vendeu mais produto Já o termo “mas” traz a idéia de oposição. Ex.: Ele foi à festa, mas não comeu nada. Mal / mau Mal equivale a bem. Ex.: A aluna foi mal na prova Mau equivale a bom. Ex. Entrou na escola um aluno mau Afim / a fim de Afim = semelhante. Ex. Política e economia são áreas afins (semelhantes) A fim de = para. Ex. Elaborou o relatório a fim de (para) apresentar ao novo gerente. Enfim / em fim Enfim (finalmente). Ex. Enfim, estamos a sós Em fim (no final). Ex.: O executivo está em fim de carreira 17 Senão / se não 1) “se” é uma conjunção condicional: indica uma condição: a) condicional simples “se fizer calor, eu irei à festa” / “se não fizer calor, eu irei à festa” “se viajar amanhã, não beba” / “se não viajar amanhã, não beba” b) condicional com verbo zeugmático (equivale a conjunção “ou”): quando há indicação de imprecisão ou incerteza. Comprarei duas estantes, se não três Comprarei duas estantes, ou três Comprarei duas estantes, se não (comprar) três É rico, se não riquíssimo É rico, ou riquíssimo É rico, se não (for) riquíssimo 2) “senão” pode funcionar como conjunção, preposição e substantivo a) conjunção (equivale às expressões “caso contrário” ou “do contrário”); Não diga nada, senão ficarei triste (Não diga nada, caso contrário ficarei triste) Lute, senão estará perdido Lute; se não, estará perdido b) conjunção (equivale a “mas”, “porém”) Não conseguiu a vitória, senão a derrota (Não conseguiu a vitória, mas a derrota) c) preposição (equivale a “a não ser”, “exceto”) Ninguém senão você pode me ajudar (Ninguém a não ser você pode me ajudar) Todos entraram, senão o capitão (Todos entraram, menos o capitão) d) substantivo masc. (equivale a “falha”, “defeito”) A prova está perfeita; não há ao menos um senão Não há qualquer senão no exame 18 Segundas-feiras São flexionados os dois termos. Fica, portanto, assim: Segundas-feiras, terças-feiras, quartas-feiras, quintas-feiras, sextas-feiras Estado / estado Quando se refere à unidade federativa, usa-se em minúsculo: estado. Ex.: Em qual estado você reside? Se equivale a país, com maiúscula. Ex.: O Estado brasileiro passa por grave crise Desmitificar/ desmistificar Desmitificar: quebrar um mito, derrubar algo fictício Ex. O advogado desmitificou a idéia de que político é ladrão Desmistificar: desmascarar A dançarina desmistificou o dançarino que se apresentava no salão Doutor Apenas para médico (vem do inglês “doctor”) e quem concluiu o curso de doutorado (nível de pós-graduação). Quando me refiro a advogados, fisioterapeutas, nutricionistas e demais profissionais, é incorreto o uso de “doutor” (abreviatura: dr.). Mesmo Não deve ser usado quando equivale a “ele”, como na sentença “Telefonei para Ricardo e disse ao mesmo sobre o caso polêmico” ou “Evite o elevador. O mesmo está quebrado”. Fora desse caso, seu uso é correto: Ex. Mesmo sabendo da regra, não vacilou Ele mesmo já foi preso várias vezes Para mim / para eu Usar “eu” antes do verbo no infinitivo. Funciona como sujeito do infinitivo Ex.: Isso é para eu lembrar Usa “mim” quando não for sujeito: Ex.: Ele trouxe a encomenda para mim. OBS. Quando completa adjetivos como difícil e impossível, usa-se “mim”: Ex.: Fica difícil para mim entender o problema É impossível para mim concluir o relatório agora Este/esta/isto, esse/essa/isso, aquele/aquela/aquilo Há três sentidos para os pronomes demonstrativos 1) Localização espacial a) este, esta, isto: indica o que está perto do falante Ex. Veja aqui, você saber o que é isto que seguro na minha mão? b) esse, essa, isso: o que está perto do ouvinte Ex. O que é isso que está na sua mão? c) aquele, aquela, aquilo: está longe tanto do ouvinte como do falante Ex.: Veja lá longe aquele barco indo embora 2) Localização temporal 19 a) este, esta, isto: indica tempo presente. Ex.: Neste momento eu quero descansar b) esse, essa, isso: tempo passado ou tempo futuro não muito distante Ex.: Nesse mês vou comprar um carro novo Nessa semana estarei livre de contas c) aquele, aquela, aquilo: tempo muito distante. Ex.: Naquele tempo de criança, tudo era diversão 3) Localização dentro de um texto Resume-se a uma bipartição entre “este” (termo mais próximo) e “aquele” (termo mais distante): Ex.: Gosto da natureza, mas também do agito da cidade. Esta me traz as opções de diversão; aquela traz o alívio do descanso. (“esta” se refere à cidade; “aquela” se refere à natureza) Verbo “adequar” Há verbos que não apresentam todas as conjugações. São os defectivos. Um exemplo é o verbo “adequar”. É comum ouvirmos “Ele se adequa a todas as aituações”. Não existe a forma “adequa”. No presente, o verbo “adequar” só apresenta duas formas: “nós adequamos” e “vós adequais”. Nos outros tempos é possível empregar, por exemplo, “ele adequava”, “ele adequou”, “ele adequará”, etc. Quando precisar usar a terceira pessoa do singular, use, por exemplo, “Ele se adapta a todas as situações”. Verbo “vir” Há confusão quando se usa o verbo “ver” no futuro do subjuntivo (precedido de “se” ou “quando”). Tal forma vem do perfeito do indicativo (“viram”), excluindo o “-am” final. (ver) Se você vir o vizinho, fale com ele Se eles virem o resultado, ficarão satisfeitos O mesmo ocorre com outros verbos: (vir) Quando ele vier para casa (haver) Se houver cliente na loja, abrirei (ter) Quando tiver alcançado a cota, ficarei tranquilo Verbo “por” e derivados Tais verbos, quando usados no futuro, também causam estranheza. São verbos irregulares, ou seja, há mudança na estrutura da palavra. Para não perder, basta seguir conjugação do verbo “por”: Ex.: Quando ele supor, quando ele repor, quando ele pressupor (errado) Quando ele supuser, quando ele repuser, quando ele pressupuser(certo) Verbo “fazer” Quando no sentido de tempo, não há flexão. Usa-se sempre no singular: Ex.: Faz 20 anos que canto Se acompanhado de verbo auxiliar, ambos permanecem no singular: Ex.: Deve fazer uns 15 anos que não viajo Obs.: Nos outros usos (como no sentido de “construir”), o verbo é flexionado normalmente: Ex.: Os homens fazem o progresso aparecer 20 Verbo “haver” Quando no sentido de “existir”, não se flexiona. Ex. Há confusões desnecessárias. Quando se usa verbo auxiliar, ambos ficam no singular: Ex.: Vai haver outras festas. Mas somente o verbo “haver” não vai para o plural. Outros verbos, como “existir”, vão para o plural: Ex.: Existem confusões desnecessárias É incorreto quando se acrescenta a expressão “atrás”, pois fica redundante. É o mesmo que dizer “eu olho com meus olhos” Verbo “assistir” Esse verbo apresenta três sentidos conforme a preposição empregada: 1. Ricardo assistiu ao filme (com a preposição “a”, significa ver ou olhar) 2. Ricardo assistiu o colega (sem preposição: dar assistência a, cuidar de alguém) 3. Ricardo assistiu em Penápolis (com a preposição “em”: morar, residir) Cuidado, portanto, na hora de empregar a preposição, pois todo o sentido é alterado. Há cerca de / a cerca de / acerca de Estas três expressões costumam confundir. Vamos explicá-las. a) Há cerca de dois vi um antigo amigo “Há cerca de” indica tempo aproximado. É o mesmo que dizer: ”Faz aproximadamente dois anos que vi um antigo amigo” b) Ele passou a cerca de dois metros do buraco “A cerca de” indica distância aproximada. É o mesmo que: “Ele passou aproximadamente dois metros do buraco” c) Falou tudo acerca do novo desafio “Acerca de” é sinônimo de “sobre” ou “a respeito de”. É o mesmo que: “Falou tudo sobre o novo desafio”. Há / a “Há” sempre faz referência a um tempo passado. Ex.: Há muito tempo não viajo. “A” se refere a um tempo futuro. Ex.: Ele voltará daqui a dez minutos Obs.: Quando se usa o verbo “haver”, não se deve usar em seguida “atrás”. Isso é redundância. É o mesmo que dizer “eu olho com meus olhos”. É um erro porque no verbo “haver” já existe a ideia de passado: “Há 12 anos atrás fiz o projeto” (errado) “Há 12 anos fiz o projeto” (certo) Alugam-se casas / Precisa-se de funcionários A regra é muito fácil. Quando se usa a preposição (“de”), o verbo fica no singular: Ex.: Precisa-se de máquinas. 21 Se não houver preposição, o verbo concorda com a palavra que vem depois. Ex.: Vende-se máquina (equivale a “máquina é vendida”) Vendem-se máquinas (“máquinas são vendidas”) Desculpe-me pelo transtorno Desculpe-me pelo transtorno (certo) Desculpe o transtorno (errado) Sempre que alguém vai pedir desculpas diz: “desculpe o transtorno”. Mas como pode o “transtorno” ser perdoado? “Transtorno” é um ser próprio? Óbvio que não. Pela lógica, desculpa-se alguém por algo. Consequentemente, o correto é dizer: “desculpe o fulano por tal coisa” ou “desculpe-me pelo transtorno”. Imprimido ou impresso / prendido ou preso Há verbos que apresentam duas formas equivalentes no particípio: Matar: matado e morto Acender: acendido e aceso Quando o auxiliar for “ter/haver”, emprega-se a forma longa: “imprimido ou prendido”. Ex.: O gerente havia imprimido toda documentação A polícia tinha prendido os bandidos Quando o auxiliar for “ser/estar”, usa-se a forma curta: “impresso ou preso”. Ex.: A documentação foi impressa pelo gerente Os bandidos foram presos pela polícia. Mais informações Em muitos cartazes se costuma escrever “maiores informações”. Mas não é possível que uma informação seja alta ou baixa, grande ou pequena, maior ou menor. O correto é dizer “mais informações”, ou seja, informações a mais. Risco de morte Perigoso é a morte, não a vida. Portanto, o risco se refere à morte. Se disser “risco de vida” ou “perigo de vida” haverá erro. O correto é dizer “risco de morte”. A nível de Por um vício impregnado, a expressão “a nível de” deve ser evitada. Os jogadores se machucaram a nível de joelho (errado) Os jogadores se machucaram no joelho (certo) Muitas vezes, a expressão é desnecessária, como no caso abaixo: Fez uma pesquisa a nível nacional (errado) Fez uma pesquisa nacional (certa) Nosentido de Outra expressão que deve ser evitada. Em vez de usá-la, simplifique. Troque por “para”: Fizemos a doação no sentido de ajudar (errado) Fizemos a doação para ajudar (certo) 22 De encontro a / ao encontro de De encontro a = contra. Ex. Não concordo. Suas ideias vão de encontro as minhas. Ao encontro de = a favor. Ex. Concordo. Suas ideias vão ao encontro das minhas. Muito Ao lado de adjetivo: não varia. Ex. As metas da empresa são muito desafiadoras. Ao lado de substantivo: concorda com ele: Ex. Tenho muita saudade do concerto. Meio Como numeral, varia. Equivale à metade. Ex. Quero comprar meia melancia. Quando não for numeral, não varia. . Equivale a “mais ou menos”. Ex. Sofia está meio cansada. Sigla 1. Quando desconhecido, nome por extenso seguido de sigla entre parênteses. Univ. Met. De Piracicaba (Unimep) 2. Se conhecido, o inverso. Ex. USP (Univ. de S. Paulo) 3. Siglas com mais de 3 letras, grafadas em minúsculo . (MEC, Unimep). Quando cada letra é pronunciada, permanece em maiúsculo. Ex. BNDES, INSS Sigla de hora Costuma-se escrever “20:30”.Mas o correto é “20h 30min”. Outros usos: “das 5 às 8h” ou “de 5 a 8h”. Numeral 1. Em textos, os numerais devem ser escritos por extenso quando constituem uma só palavra. Quando constituem mais de uma palavra, devem ser grafados em algarismos. Ex.: “Faz vinte anos que alcançamos a marca de 23 vendas no dia.” 2. Usa-se o “e” entre unidades, dezenas e centenas. Nunca entre milhar e centena (Exceto 4089/3500) 123.459.316 (não se usa vírgula apenas entre milhar e centena. O restante sim) 3. Não se inicia frase com numeral. Qdo necessário, por extenso Onde / aonde “Onde” indica lugar. Ex.: Onde estou? O lugar onde moro. “Aonde” indica movimento. Ex.: Aonde você vai. Aonde deseja ir? Podemos entender também o par “onde/aonde” comparando-o com o processo da crase. Ou seja, emprega-se “aonde” quando o verbo exige a preposição “a”. Ex.: Aonde você vai. (Quem vai, vai a algum lugar. Verbo “ir” exige preposição “a”). Onde estou? (Verbo “estar” não exige preposição. Logo, usa-se apenas “onde”) Rima Evite o uso de rima. Uso restrito ao texto literário, quando se torna uma qualidade. a) Rima interna: O trem entrou nos trilhos através da tração b) Rima final: Pude ver, nesta oportunidade, a realidade desta cidade 23 Crase Verifique se há ocorrência de crase abaixo: O uso da vírgula está diretamente ligado a questões sintáticas. O garoto foi a pé O esforço valeu a pena Ele ficou cara a cara com o inimigo A partir de hoje, ninguém voltará a reclamar O diploma foi entregue a alguém que cursou ensino a distância O funcionário não se submete a uma condição subumana: foi a contragosto. A mercadoria foi paga a prazo O respeito a minorias é necessário a esta instituição Crase [do grego krâsis = mistura, fusão] Fusão de 2 (duas) vogais: a) fusão fonética: ing. door [dor] / casa amarela: [ca.za.ma.'rɛ.la] b) fusão gráfica (indicada pelo acento grave “`”): preposição a + artigo a: resistiu à gripe. Para dominar o uso da crase, o requisito principal é saber quais preposições são exigidas pelo verbo e pelos nomes (substantivos e adjetivos): Apologia do socialismo Incompatível com os problemas Apto a dirigir / Apto ao trabalho Adaptado ao trabalho / Adaptado à rotina Ele gosta de chocolate (verbo pede preposição “de”) Andrade mora em São Paulo (verbo pede preposição “em”) Susan viu o trânsito (verbo não pede preposição. A partícula “o” é artigo) Não foi ao cinema / Ele foi à praça No último exemplo, o verbo “ir” pede preposição “a”. a) “Ir ao cinema” A palavra “cinema” é masculina. Temos “ao”: artigo “o” mais preposição “a” exigida pelo verbo. b) “Ir à praça” A palavra “praça” é feminina. Temos “à”, que representa a junção de dois “a” (a + a): artigo “a” (por ser palavra feminina) e preposição “a” (exigência do verbo). Para evitar a repetição de a + a (Ir a a praça), juntam-se as duas partículas “a”, marcando tal junção com o acento “à”. Disso se conclui que a crase ocorre por dois motivos: a) Quando o verbo ou o substantivo exigir a preposição “a”; b) Quando a palavra que está à frente do verbo for feminina para aceitar o artigo “a”. Conhecendo o processo da crase, vamos às regras: 24 1) Quando usar a crase: - Diante de palavras ou locuções femininas: Traz riscos à saúde, às vezes, à beira de, à medida que, etc. - em referência a horas: A festa começa às sete horas - de... a / da... à A festa foi das oito às nove / A festa foi de oito as nove 2) Quando não usar a crase: - Diante de palavras masculinas: a prazo, a pé, saiu a cavalo - Diante de verbo: a partir de hoje, estou a servir, começaram a cantar - Diante de nome de cidades: foi a Catanduva (veio de Catanduva), foram a Belo Horizonte - Diante de alguns pronomes: entregou a mim, a ela, a esta, a ninguém, a quem, a você - Diante de palavras repetidas: cara a cara, face a face - Diante de artigo indefinido “um/uma”: foi a uma festa, foi a um banco - Diante de pronome de tratamento: Falei a Vossa Excelência, disse a você - Diante de palavra no plural se “a” estiver no singular: chegamos a conclusões - Diante das palavras “casa, terra e distância”: foi a casa, foi do mar a terra, ensino a distância. Obs.: Se “casa” possuir complemento, aceita crase: foi à casa de João Se “terra” num sentido figurado, leva acento: chegou à terra natal Se “distância” vier determinado, ocorre acento: fica à distância de 10 km 3) Casos facultativos: - Diante de nome próprio feminino: Ofereceu a Paula / Ofereceu à Paula - Diante de pronome possessivo feminino: Foi a minha e a sua casa / à minha e à sua - Depois da preposição “até”: Enviou até a porta / Enviou até à porta A crase nos pronomes “aquele/aquela/aquilo” O presente foi entregue àquele jovem. (quem entrega, entrega a alguém) O diretor não foi àquela reunião famosa. (quem vai, vai a algum lugar) Não se refere àquilo. (quem se refere, refere-se a algo) A crase pode diferenciar complemento verbal e adjunto adverbial (locução adverbial feminina): Foi caçada a bala (a bala foi caçada). – Foi caçada à bala. Bateu a máquina (deu um choque ou pancada...). – Bateu à máquina. Cortou a faca (cortou-a / cortou a própria faca). – Cortou à faca. Vendeu a vista (vendeu os olhos). – Vendeu à vista. Coloquei a venda (faixa nos olhos). – Sim, coloquei à venda. Tranquei a chave (a chave foi trancada). – Tranquei à chave. Pagou a prestação (pagou-a). – Pagou à prestação (em prestações). Lavar a mão. Lavar à mão. 25 Lavar a máquina. Lavar à máquina. Fazer a mão. Fazer à mão. Veio a tarde. Veio à tarde. UNIFORMIDADE DE TRATAMENTO Veja o texto abaixo: Infelizmente, o país passa por sérios problemas econômicos. Depois de passarmos por dura crise internacional, assistimos agora a uma onda de falência no mercado interno. O que podemos fazer para reverter esse quadro? Sabe-se que hoje não há mais espaço para tanto crescimento. O que se precisa fazer então para que o país volte a crescer? No texto acima, há uma incoerência na forma de tratamento. No primeiro parágrafo, usou-se a primeira pessoa do plural (“nós”). No segundo parágrafo, a terceira pessoa do singular (“ele”). Ou tudo na primeira pessoa ou tudo na terceira. Outro exemplo, retirado de uma livro: Krieger e Finatto, 2017, p. 158 KRIEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José Bocorny. Introdução à Terminologia: teoria e prática. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2017. 224 p. 26 Essa é uma falha muito comum nos textos. Por isso, é necessário que haja uniformidade de tratamento. Se começar o texto em terceira pessoa, faça-o até o final. Se em primeira pessoa, igualmente até o final. Recomenda-se, para a redação dissertativa,o uso de: a) 1ª pessoa do plural (nós): Ex. “Falamos anteriormente a melhor marca”. b) 3ª pessoa do singular (ele): Ex. “Falou-se anteriormente a melhor marca”. c) 3ª pessoa do plural (eles): Ex. “Falaram anteriormente a melhor marca”. Seguindo a uniformidade, deve-se assim respeitar a conjugação, pronomes e verbos em sintonia, como nos exemplos abaixo, usando, respectivamente, 2ª e 3ª pessoas do singular: Dize-me com quem andas (ênclise) e dir-te-ei quem és (mesóclise). Diga-me com quem anda e lhe direi quem é Eu te amo, porque tu és tudo para mim. Eu o amo, porque você é tudo para mim. Outro caso que envolve a uniformidade de tratamento é o uso de "tu" e "você" no Brasil. Em Portugal, o pronome empregado é "tu" ("Foste lá?"). No Brasil, varia conforme a região. Vê-se o emprego de "tu", ora com o verbo na segunda pessoa ("Queres água?"), ora com o verbo na terceira pessoa ("Tu foi lá?"). Em outras regiões, o pronome que predomina é "você". GERUNDISMO Uso exagerado do gerúndio O gerúndio é uma forma nominal do verbo que expressa uma ação em curso, um processo não finalizado: Estou caminhando desde cedo. Correndo, descobriu a dor no joelho. O gerúndio é uma forma disponível e permitida da língua. Quando seu uso é exagerado ou desnecessário, torna-se um defeito de linguagem chamado gerundismo. É preciso tomar o cuidado de não proibir toda forma verbal terminada em “-ndo”. Condenar o gerúndio por causa do gerundismo é um erro.: 27 Casos de gerundismo: "Senhor, esteja aguardando na linha que vamos estar informando quando o senhor vai estar recebendo o produto" Placa de anúncio: "estaremos fazendo entrevista na segunda-feira" Vou estar verificando seu pedido É bom poder estar investindo em educação Nos exemplos acima, há excessos de formas verbais: IR + ESTAR + VERIFICAR Para desfazer esse defeito e melhorando a frase, haveria algumas possibilidades: Verificarei seu pedido Vou verificar seu pedido Verifico seu pedido 28 COLOCAÇÃO PRONOMINAL Parte da sintaxe que trata da colocação dos pronomes oblíquos átonos na frase: PRONOME PESSOAL reto oblíquo átono tônico singular 1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa eu tu ele, ela me te se, lhe, o, a mim, comigo ti, contigo si, consigo, ele, ela plural 1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa nós vós eles, elas nos vos se, lhes, os, as nós, conosco vós, convosco si, consigo, eles, elas Obs.: o pronome "lhe" complementa verbo que rege preposição (sobretudo as preposições "a" e "para"): "Eu não lhe disse?” equivale a " Eu não disse a você?”. O pronome "lhe" funciona como objeto indireto de "dizer" (dizer algo a alguém). O emprego do pronome "lhe" como complemento verbal direto constitui um fenômeno linguístico chamado "lheísmo": "Faz muito tempo que não lhe vejo"; "Eu lhe adoro"; Como ficaria a colocação do pronome abaixo: “O ser humano pode não aceitar-se” ou “O ser humano pode não se aceitar”? “Me diga o que está acontecendo” ou “Diga-me o que está acontecendo” “Por que importa-se tanto com ele?” ou “Por que se importa tanto com ele?” “Ele tinha convidado-me à festa” ou “Ele tinha me convidado à festa” 29 A colocação pronominal é foco da sínclise, que se divide em três tipos de colocação: Próclise (pró=frente + clise=encostar, apoiar): pronome antes do verbo (se foi) Mesóclise (meso=meio): pronome no meio do verbo (dar-se-á) Ênclise (en=em, sobre): pronome depois do verbo (foi-se) 1. Próclise: a) regra geral: usar próclise na maioria dos casos. Joaquim se irritou b) regra específica: usar próclise quando antes do verbo houver atrativos: - palavra negativa (não, nunca, ninguém, jamais...): não se esqueça de mim - advérbio: estuda e assim se sai bem / quem o garantirá? - conjunção: se me chamar - pronome: ele sabe que me ama 2. Mesóclise Só é usada quando: (i) verbo no início de frase (ii) verbo no futuro Repetir-se-á a festa esse ano Mesmo contra a vontade, exigir-me-ia mais Procurá-la-ei amanhã. Obs.: a tendência é evitar a mesóclise. Para isso, altere a estrutura da frase: A festa vai se repetir esse ano Mesmo contra a vontade, eu me exigiria mais Eu a procurarei amanhã / Vou procurá-la amanhã. 3. ênclise a) com verbos no início de frase: Aproximou-se dele. (*Se aproximou dele) b) depois de pausa Se Fulano chegar, diga-me. (*Se Fulano chegar, me diga) c) com verbos no gerúndio e no infinitivo, desde que não haja atrativos de próclise: Não teve tempo de alimentar-se A intenção era machucá-lo Era feliz contentando-se com tudo (Obs.: Em se tratando de dinheiro, ele ouve) Obs.: conjunção aditiva “e” não atrai pronome: Ele saiu e aproximou-se de todos. 30 COLOCAÇÃO PRONOMINAL NO ENCONTRO VERBAL 1. Verbo principal no infinitivo ou no gerúndio: a) usar a ênclise: Vou confessar-lhe o crime José conseguiu soltar-se da corda Ficou triste por estar procurando-me b) quando há palavra que exija a próclise, o pronome poderá vir antes ou depois da locução: - Antes ou depois da locução Ele não me deixou concluir o pensamento / Ele não me deixou concluir o pensamento Isso não o deveria desanimar / Isso não deveria desanimá-lo - A tendência é usar o pronome no meio da locução (sem hífen) Como vou lhe contar? Não vou me lembrar de nada As coisas vão se encaixando / As coisas vão-se encaixando Você precisa me enviar o documento 2. Verbo principal no particípio: O pronome ter ser colocado antes ou no meio da locução. A tendência é usar no meio, ainda que haja exigência da próclise. Nunca usar depois: Ainda que me tenha desagradado / Ainda que tenha me desagradado Se tivesse me escutado Ninguém havia se lembrado disso NOVA MODALIDADE DE “MESÓCLISE” Variantes da colocação pronominal no futuro: No espetáculo apresentar-se-ão algumas músicas No espetáculo se apresentarão algumas músicas No espetáculo serão apresentadas algumas músicas (tornando o sujeito passivo) No espetáculo irão se apresentar algumas músicas A estrutura desse último exemplo (verbo auxiliar + clítico + verbo principal) é a mais usual no PB (português brasileiro) atual. Em virtude dessa tendência, alguns autores apontam essa estrutura, do ponto de vista da colocação pronominal, como uma construção mesoclítica: Vamos nos inscrever no concurso. Vou lhe mostrar a cidade. A indústria vai se instalar na cidade. Dicas para quem vai se produzir nesse verão 31 Virgulino vai se candidatar à direção. EXERCÍCIOS 1. Corrija o texto abaixo, caso existam erros. A decadas que gostaria de perguntar a ministra da educação porque vemos dia-a-dia tantos casos de mal uso da nossa língua, hajam vistos os textos que lemos nas escolas. Porque tanta dificuldade? Porque fazem anos que vemos pessoas que não adequam-se as regras? Em fim, independentemente do ano, seja este, seja outro qualquer, vamos assistir os erros de sempre. As vezes, de tanto ficar a espera de uma solução, desanimamos. Entre as inumeras sugestões talvez a unica vistas até esse momento ─ desculpe a sinceridade ─, haverão neste ano no Estado de São Paulo propostas elaboradas pelo Dr. Demetrios Assunção (graduado em Psicologia pela UNIMEP), mais só entrarão em vigor se aceitas pela Secretaria de Educação. Tais propostas foram elaboradas no sentido de desmistificar a ideia de que o mal uso do idioma é uma prova de que o portugues é uma língua complicada. Tenho aulas as quarta-feiras; é uma constante para eu observar afirmações muitas equivocadas. Antes de ontem, apenas para ilustrar o caso, observei uma jovem meia nervosa na sala de aula. Me aproximei dela e lhe perguntei o por que de tanta impaciência. A mesma, com ironia, me respondeu há cerca de doismetros que daqui há alguns anos, onde quer que ela fosse, jamais sofreria a nível de dúvidas de portugues qualquer tipo de constrangimento. Ainda a distancia, a mesma brincou dizendo que não correria nenhum tipo de risco de vida. Mais se voce ver alguém dizendo mau do nosso idioma ou coisas a fim, tenha certeza de uma coisa: essa mesma pessoa não conhece, se não por outras bocas, sequer o russo ou o mandarim, línguas muitos mais complicadas que a nossa. 32 2. Reescreva os casos em que a colocação pronominal não esteja correta: Luciano cansou de avisar que o caso repetir-se-ia caso não houvesse providências. Infelizmente nunca mais esqueci-a. Isso tem me desagradado muito. Me diga o que se sucede naquele lugar. Em tratando-se de economia, Josias domina. Quando disseram-me o preço, me assustei. Ricardo só interessa-se por aquilo que convém-lhe. Todos se entreolharam com desconfiança: queriam se ausentar logo. Jamais aquele cidadão de cabelos compridos deixou-se levar Como pode alguém me tratar mal se faço tudo que pedem-me. Conceição, na sua eterna meiguice, ter-me-ia beneficiado com honras. Estou cansado de ausentar-me e me esquecer de tudo. Quero me responsabilizar por tudo. Vou lhe confessar um crime; espero que isso não cause-lhe nenhum transtorno. Ninguém havia lembrado-se de fazer a encomenda antes de partir. 33 É uma reforma em que não pode se engajar por motivos de segurança. Eu prefiro lhe dizer agora, afinal, mais tarde talvez eu impedir-lhe-ia de ouvir. Acusaram-me por estar os atrapalhando. Espere um pouco, pois chamam-me neste exato momento. Não quero o iludir; desista agora entregando-me o presente. Enfim, depois de tanto sofrimento, nos encontramos a sós. Repetir-se-á com você o que acontece com todos. Quem garante-o nessa temporada no time? Ou joga-se tudo agora, ou nada poderemos fazer mais tarde. Nada compara-se àquilo que vi naquele dia: inundações se alastrando. 3. Marque a crase quando necessário: O material será destinado a secretaria Tanto a diretora quanto a secretária foram premiadas. Tanto a diretora quanto a secretária os prêmios foram entregues. A loja oferece duas opções: pagamento a vista ou a prazo. Ele não sabe a missão aquilo que foi designado. A distribuição de donativos as igrejas começou ontem Infelizmente não se pode fazer nada as escuras. Felipe assistiu aquela cena do filme A espera de um milagre. Tudo levava a crer que a partir de hoje teríamos nova vida Dê preferência a pessoa idosa na fila Todos viram a casa a qual fiz referência; é a ela que quero dedicar-me. Todos os dias, sempre a tarde, vejo seu Mané indo a praça. A resistência a ataques é exemplar Não adianta levar a força a criança a atividades a contragosto. Ele sabe que os riscos a saúde levam a problemas irreversíveis. 34 Prolifera no país o ensino a distância, sem qualquer intervenção por parte do governo no que diz respeito a qualidade. Mesmo estando a distância de 30 m, o piloto tentou a ultrapassagem. Ele viajou a Angola sem dever nada a ninguém. O mesmo ocorreu quando fora a Londres. Cansou de recorrer a sua Excelência para resolver o caso. Foi pontual: a festa começou as 17h, em comemoração a Nossa Senhora de Aparecida. Os alunos foram submetidos a uma avaliação difícil: sem previsão de retorno a casa, a não ser a casa do professor para reclamar do sistema. Nada foi feito a mim; estou cansado de trazer a esta instituição meus pertences. Ronildo saiu a pé ontem a noite para passear e nunca mais voltou a terra natal Os cantores que estavam a postos começaram a cantar a moda antiga: a noite toda foi a festa. 35 CONSTRUÇÃO DA FRASE Há várias maneiras para ir de São Saulo a Rio de Janeiro: avião, carro, ônibus e, se for um corajoso, bicicleta ou a pé. Da mesma forma, há várias maneiras para aprender a escrever bem. Mas o segredo para quem está determinado a se aprofundar nessa habilidade é seguir o seguinte caminho: estudar sintaxe e ler, analisando a estruturação das frases. Quem domina sintaxe (estudo da relação entre as palavras e entre as frases) escreve bem, porque consegue visualizar a constituição das sentenças. À pergunta “como escrever bem”, responderia isto: estude sintaxe e leia bastante. Mas não ler por ler. Não! Leia aplicando os ensinamentos da sintaxe, analisando a forma como foi construída a frase. Esse é um exercício fantástico, que dá resultados. Tenho certeza de que, quem o fizer, vai se tornar um craque dos textos. Talvez a maior contribuição para quem quer escrever bem esteja na sugestão acima. Por isso, vou repeti-la: estude sintaxe e leia. Guiando-me por esse raciocínio (sintaxe e leitura), podemos combinar o seguinte: farei minha parte apresentando a seguir uma visão sobre a sintaxe; e espero de você, caro leitor, a outra parte, ou seja, a leitura. Feito o acordo, seguimos em frente. A frase Na seção “Dúvidas e erros frequentes”, vimos pontualmente aspectos do texto. Agora, antes de prosseguir no estudo da escrita, é necessário entender a base da estrutura textual: a construção da frase. Embora não seja correto definir o texto como um conjunto de frases, afinal, o texto é um conjunto único de significado, para entendermos a construção do texto é preciso passar primeiro pela construção das frases. Entendendo a estrutura da frase, fica fácil escrever. Como se constrói uma frase? A figura principal: o verbo Em vez de pensarmos na estrutura bipartida tradicional da sintaxe – sujeito e predicado -, vamos imaginar que a frase seja o palco de uma apresentação de teatro. Frase = palco de teatro No palco, estão os atores. Na frase, os atores são as palavras. Assim como na peça há o ator principal (o herói), na frase ele também aparece: é o verbo. Verbo = ator principal 36 Exemplo: O jogador marcou dois gols. (Verbo “marcou” é o ator principal) No exemplo acima, temos uma frase (palco) com quatro palavras (quatro atores): - O jogador - marcou - dois - gols Às vezes, temos peça com um, dois, três ou quatro atores, ou seja, com várias palavras. Quem vai determinar o número de palavras é o verbo. É ele quem pede uma, duas, três ou quatro palavras. O verbo é o elemento central e estruturador da frase. Tudo gira em torno dele. Há basicamente 4 tipos de estruturas de frase: a) Frase com 2 palavras (quando o verbo pede apenas 1 palavra): Ex.: O menino correu. b) Frase com 3 palavras (quando o verbo pede 2 palavras): Ex.: A mulher não gostou do homem. c) Frase com 4 palavras (quando o verbo pede 3 palavras): Ex.: O chefe deu a ordem aos empregados. d) Frase com 5 palavras (quando o verbo pede 4 palavras): Ex.: A transportadora levou a encomenda de São Paulo a Cuibá. Essas são frases com elementos essenciais. Os elementos essenciais transmitem a informação principal de uma mensagem. Chega-se a essa informação respondendo a duas perguntas: “quem?” e “o quê?”. A partir dessas estruturas elementares, com frases de até 5 palavras, outras estruturas podem ser construídas, acrescentando elementos acessórios (informações complementares). As informações complementares respondem a outras perguntas: quando, como, por que, onde. Veja abaixo uma das frases exemplificada acima, mas agora com acréscimo de elementos complementares (informações complementares = não obrigatórias): 1. Elementos essenciais (informação principal): O menino correu. 2. Elementos complementares. Há várias opções de uso: a) Depois da briga, o menino correu. b) Ontem, depois da briga, o menino correu. c) O menino, depois da briga, correu. d) O menino correu depois da briga.Conhecendo as estruturas básicas de frase, é fácil compreender não só como se constrói uma frase mas também como se emprega corretamente a pontuação. Veja o emprego acima dos elementos complementares. Quando colocados antes ou no meio da frase, ficam entre vírgulas. Se vierem depois dos elementos essenciais, não precisam das vírgulas. Disso se conclui que os elementos essenciais de uma frase devem ser escritos direto, sem vírgulas ou ponto. Só haverá vírgulas, como vimos, se houver a inclusão de informações acessórias: - antes dos elementos essenciais. Ex. Depois da briga, o menino correu. - entre os elementos essenciais. Ex. O menino, depois da briga, correu 37 Vamos analisar outra frase: Ex.: Em 1970, no México, o Brasil venceu a Copa do Mundo com muita garra e alegria, derrotando a Itália, grande força no futebol mundial. a) elementos essenciais: “Brasil venceu a Copa do Mundo” b) elementos complementares: - Em 1970 - no México - com muita garra e alegria - derrotando a Itália - grande força no futebol mundial Por que os elementos complementares devem ficar entre vírgulas? Porque, se excluídos da frase, não prejudica o sentido. Por isso, são colocados separadamente, entre vírgulas. Abaixo, reescrevi a frase, excluindo elementos complementares, para provar que eles não afetam o sentido: a) Em 1970, o Brasil venceu a Copa do Mundo com muita garra e alegria, derrotando a Itália, grande força no futebol mundial. b) Em 1970, no México, o Brasil venceu a Copa do Mundo, derrotando a Itália. c) O Brasil venceu a Copa do Mundo com muita garra e alegria. EXERCÍCIOS Para analisar a estrutura das frases abaixo, sublinhe os elementos essenciais e faça a pontuação correta dos elementos complementares da frase. Lembretes: 1. Para encontrar os elementos essenciais (informação principal), pergunte à mensagem da frase “quem?” e “o quê?”; 2. Informações complementares devem ser separadas por vírgulas apenas quando estiverem antes ou no meio das informações essenciais. 1. Nível básico Ontem de manhã João enviou uma carta a Maria por meio do sobrinho dele 2. Nível médio No verde escuro das matas Conceição olhava com atenção os movimentos das plantas e dos animais ainda que tremesse de medo ao ouvir os ruídos para realizar um antigo sonho alimentado desde a mais tenra idade de viver entre os encantos da natureza 3. Nível avançado Desperta-me quando à noite me levanto uma tristeza que há anos carrego comigo sempre relembrada com o canto dos pássaros uma sinfonia mansamente penetrada no meu peito 38 tão intensamente tocada que sem me dar conta do sufoco elevado mal consigo me sustentar em pé arrasto portanto como um fardo desde minha mais tenra idade um desejo de manifestar minha dor que em virtude de sua intensidade muitas vezes me corrói por dentro sem ao menos permitir uma reação por mais indigna que seja capaz de aliviar meu descontentamento QUALIDADES DO TEXTO Dentre as várias incertezas do mundo contemporâneo e globalizado, a única certeza que existe é que as coisas mudarão. Mas, apesar desse cenário instável, há valores humanos que sempre serão exigidos: integridade, educação, fidelidade, amor, etc. Assim é a língua: sempre instável. Primeiro, é afetada por processos de variação; depois, por mudanças. Vira e mexe, tendências aparecem, como internetês, gírias são incorporadas, formas são esquecidas. Como no homem, há valores, ou melhores, qualidades, que sempre serão valorizadas. Qual o principal objetivo de um texto? Independentemente da finalidade (informar, persuadir, impressionar, improvisar, etc.), há qualidades que nunca podem ser esquecidas quando da elaboração de um texto. São elas: 1. Organização e coerência 2. Adaptar o texto ao receptor 3. Objetividade 4. Concisão 5. Clareza 6. Revisão 1. ORGANIZAÇÃO E COERÊNCIA 39 Imagine se num depósito o funcionário da empresa vai jogando todos os materiais sem nenhuma organização. Qual o resultado? Uma bagunça. Se alguém precisar de alguma peça, terá dificuldade para encontrá-la. Num texto, ocorre a mesma coisa. Se o escrevemos sem planejamento, conforme a ideia vai surgindo, há grande possibilidade de se tornar uma confusão. As peças se perdem e se dificulta a compreensão. O texto não pode ser um amontoado de ideias sem nexo. É preciso amarrar um raciocínio ao outro. Não podemos afirmar algo no início e no final desmenti-lo. Informações não podem ser juntadas aleatoriamente. É preciso que tenham uma cadeia lógica. Como conseguir coerência? Planejamento. Antes de começar a escrever, organize as informações e a ordem em que será colocada no papel. Faça um esquema: 1º: definição do objetivo central do texto 2º: relacione as informações referentes ao objetivo ou ao tema principal 1º. Definição do objetivo central do texto O que quer transmitir, qual seu objetivo? Suponhamos que seja o lançamento de novo produto. Conforme a finalidade do texto (informar, argumentar, etc.), há diferentes maneiras de produzi-lo, como veremos mais adiante (Partes I e II). O mais importante na definição do objetivo é conquistar a coerência do texto. Por incrível que pareça, uma das maiores falhas na escrita é perder-se com o objetivo inicial. Não se esqueça de que a intenção principal deve ser o foco ao longo de todo texto. Não se desvie do assunto ou do objetivo para que a coerência não se perca. Há textos que começam discutindo, por exemplo, a candidatura do presidente e terminam falando da nova Copa do Mundo. Embora isso pareça um exagero, é muito comum. Por conta dessa ocorrência, uma das táticas é atribuir um título a seu texto antes de começar a escrever. Isso o fará lembrar sempre o tema abordado. Nunca deixe de dar título ao seu texto. Além de ser útil para quem escreve, o título é importante para quem lê. Pesquisas comprovam a função cognitiva do título. Se leio um texto sem título, a compreensão é mais tardia. Se há título, sobretudo quando é claro, já inicio a leitura sabendo o tema, melhorando a capacidade de compreensão. Dessa forma, o título ativa a compreensão do leitor, diminui a complexidade do assunto abordado e antecipa a compreensão do texto. 2º. Relação das informações referentes ao objetivo ou ao tema principal: Retomando o tema inicialmente sugerido (lançamento do novo produto), poderíamos relacionar a ele as seguintes informações: a) Por que haverá o lançamento b) Quais perspectivas de mercado c) Vantagens do novo produto d) etc. Uma dica: coloque em cada parágrafo, separadamente, as informações relacionadas ao objetivo. Por exemplo: 1º parágrafo: introdução geral; 2º parágrafo: por que haverá o lançamento; 3º parágrafo: quais perspectivas de mercado; 4º parágrafo: vantagens do novo produto. 40 Assim, o parágrafo será elaborado em torno de uma ideia-núcleo. Deixa o parágrafo mais claro e menos confuso. Terminada a abordagem daquela ideia, passe para outro parágrafo, com nova ideia. Passando por essas duas etapas básicas (definição do objetivo central do texto e relação das informações), você terá construído um esquema geral. Basta passar para o papel. Mas antes de escrever, conheça primeiro seu público, assunto do próximo ponto. 2. ADAPTAR O TEXTO AO RECEPTOR Quem vai numa formatura de short? Ou quem usa um termo com gravata na praia? Ora, nossa roupa muda conforme o ambiente em que estamos. O mesmo deve ser o texto: ser escrito conforme o leitor a que se destina. Na escrita, é fundamental considerar a quem se destina o texto, como numa carta de amor: o homem escreve escolhendo as palavras que mais agradará a mulher amada. Quando escreve, imagina seu amor, seus sorrisos, seu encantamento, o que mais gosta. Quando escrever, faça o mesmo. Escreva pensando naquele ou naquela que irá ler a carta. Imagine seu leitor:seu perfil, suas preferências, sua idade, etc. Conforme as pessoas a que nos dirigirmos, falaremos de uma maneira diferente. Se for a um público culto, usaremos uma linguagem apurada. Se for a um público com deficiência na leitura, será preciso duplicar os cuidados. Numa festa, a comida não é preparada de acordo com o paladar do cozinheiro, mas do convidado. A principal regra quando se trata de escrever é saber a quem se destina seu texto, afinal, você vai escrever conforme o seu leitor exige ou melhor entende. Quem não observa o perfil do suposto leitor, pode construir um texto sem eficácia. O texto, por essa razão, deve se adaptar ao receptor. Na Retórica, é o auditório, aquele para quem se destina o discurso, que determina a ação do orador. “O importante, na argumentação, não é saber o que o próprio orador considera verdadeiro ou probatório, mas qual é o parecer daqueles a quem ele se dirige.” (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2002, p. 26-7). O grande mérito de Aristóteles (384-322 a.C.), em sua Arte retórica, foi justamente mostrar a importância do receptor da mensagem, ao classificar o discurso segundo o auditório. O estagirita elencou três gêneros principais de discurso: (i) judiciário, cujo destinatário é o tribunal; (ii) deliberativo, a assembleia ou Senado; e (iii) epidíctico, espectadores em geral, que assistem a discurso de aparato. Por ser levado em conta na construção do texto, afinal, ele é a razão de existir do que você escreve, o leitor faz parte do processo produtivo, sendo não uma entidade passiva mas ativa na relação entre emissor e receptor. Não adaptar-se ao leitor é um erro gravíssimo de comunicação. Essa ressalva não é válida somente aos comunicólogos, como jornalistas e publicitários. Não! A transmissão clara e compreensível de uma mensagem deve ser uma meta de todos. Tive um amigo que conclui o curso de Mestrado em Análise de Dados e Sistemas de Apoio à Decisão - FEP/UP pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Portugal. Fiquei curioso para conhecer um pouco mais de sua pesquisa. Foi então que lhe pedi um resumo do trabalho. Vejam o e-mail que ele me enviou: A avaliação da estabilidade interna dos cluster é o ponto de frucal deste trabalho. Os clusters foram extraídos de um banco de dados real com metodologia CCC´s, que está disponível no SAS Miner. Para esta avaliação foram usados índices de similaridade e distância entre centróides de clusters para verificar a questão da estabilidade interna. É óbvio que não entendi nada do trabalho. 41 Embora o conselho da Retórica de levar em conta o receptor da mensagem já tenha mais de dois mil anos, esse descuido, como se viu acima, ainda é muito comum. Por isso, não é exagero insistir na necessidade de moldar a mensagem (seja escrita, seja verbal) ao repertório do destinatário (quem recebe a mensagem). Afinal, a comunicação precisa satisfazer os dois pólos: emissor e receptor. 3. OBJETIVIDADE Popularmente, ser objetivo é não enrolar, é ir direto ao ponto. Em virtude da herança capitalista, vivemos a ideia de que tempo é dinheiro. Por consequência, não podemos perder tempo ao escrever nem ao ler. A tendência de muitos é a leitura rápida e superficial. Há pessoas que para transmitir uma pequena mensagem escrevem um livro. Não devemos escrever informações desnecessárias. Evite muitos detalhes. Vá direto ao ponto que deseja focar. Em vez de: “Estou muito preocupado com tudo que tenho ouvido ultimamente. No colégio, uns ficam cochichando. Nas ruas, já ouvi até coisas absurdas. Eu pensei, pensei, mas não consigo imaginar como eu poderia lhe ajudar. Mas a verdade é o seguinte: preciso dizer, não tem saída. A crise infelizmente vai cortar alguns cargos. Eu acho que você deveria ficar atento e procurar outro emprego.” Diga: “Em virtude da crise, seu cargo corre perigo.” Em vez de: Contratação de serviços Analisamos exaustivamente esses itens e constatamos, após longos e laboriosos estudos, que os procedimentos adotados, quanto aos quesitos contratações de serviços, estão consoante a legislação vigente. Diga:: Contratação de serviços Os procedimentos estão conforme a legislação 4. CONCISÃO Para ser objetivo é preciso ser conciso. A concisão é um caminho para alcançar a objetividade. Concisão é o poder de síntese. Expor ideias em poucas palavras. Usar palavras exatas e sem excessos. Dizer apenas o necessário. Seguem abaixo algumas dicas: Frase curta Concisão é a palavra-chave. Uma das táticas para alcançar a concisão são frases curtas. O grande poeta Carlos Drummond de Andrade já dizia: “escrever é cortar palavras”. 42 Em vez de: “Solicitamos efetuar a exclusão das pendências...”. Diga: “Solicitamos excluir...” Em vez de: “Durante o ano de 2009.” Diga: “Em 2009, ...” Em vez de: “Servimo-nos da presente para informar que...” Diga: “Informamos que...” Em vez de: “Temos a satisfação de lhe enviar...” Diga: “Enviamos...” Sem excesso de adjetivos ou advérbios Há momentos em que o uso de adjetivo ou de advérbio é necessário. Mas quando se faz uso deles para embelezar o que se escreve, o texto se torna prolixo. “A inesquecível festa foi marcada”. Diga: “A festa foi marcada” “Deseja incansavelmente obter sucesso”. Diga: “Deseja obter sucesso” Sem redundância Redundância ou pleonasmo é a repetição de ideias. São palavras que se tornam inúteis na frase justamente pela semelhança dos significados dos termos: “fortemente armado”. Diga: armado “conviver junto”. Diga: conviver “fato real”. Diga: fato “certeza absoluta”. Diga: certeza “consenso geral”. Diga: consenso “multidão de pessoas”. Diga: multidão excesso de “que” Evite: “Peço que me informe o que quer que eu lhe envie para que o pedido que realizei na semana passada chegue logo” Diga: “Diga-me como agilizar o pedido” 5. CLAREZA É a exposição clara e facilmente compreendida pelo leitor. Em geral, quem escreve não se preocupa muito com o leitor. Esquece-se de que nem todas as pessoas entendem o que ele diz. Por vários motivos: o leitor não domina o tema discutido; texto mal escrito; falta de especificações, etc. Por isso, eis alguns cuidados: Texto mal-estruturado MANDADO DE INTIMAÇÃO Manda, a qualquer Oficial de Justiça de sua jurisdição que, em cumprimento deste, expedido nos autos da ação de Procedimento Ordinário (em geral), processo n. 000/000-000 movida por MARIA FULANA DA SILVA em face de BANCO DINHEIRO S/A, em curso por este JUÍZO DE DIREITO DA SEGUNDA VARA, passado na forma do artigo 25 da Lei 6.830/80, INTIME o(a) MARIA, RG 17.100.100-0, CPF 100.100.100-00, com endereço à R Joaquina, 242 – CEP: 15800-000, Catanduva-SP, para 43 comparecer(em) perante este Juízo, sito à Pq. Américas, 55 – Catanduva/SP – CEP 15800-000, no dia 20 de agosto de 2009, às 13:30 horas, para partcipar(em) daaudiência de instrução, debates e julgamentos, sendo que se presumirão confessados os fatos contra ele(a) alegados caso não compareça, ou, comparecendo e recusandor-se a depor, o juiz lhe aplicará a pena de confissão. O que se percebe nesse texto é que ele foi produzido em cima de um modelo já pronto. O redator teve o trabalho apenas de trocar os nomes e as datas. O resultado não poderia ser satisfatório. Pela estrutura ruim do texto, a compreensão fica comprometida. Seria bem possível que a pessoa intimada não entendesse plenamente o teor da intimação. Melhorando a estrutura do texto acima, com certeza ele se tornaria muito mais claro. Segue abaixo uma sugestão, reelaborando a intimação: MANDADO DE INTIMAÇÃO Manda, a qualquer Oficial de Justiça de sua jurisdição, intimar (1) MARIA FULANA DA SILVA (RG 17.100.100-0 - CPF 100.100.100-00 - Rua Joaquina, 242 – 15800-000 – Catanduva-SP) e (2) BANCO DINHEIRO S.A. para comparecerem no dia 20 de agosto de 2009, às 13h30min, à audiência de instrução, debates e julgamentos.O não comparecimento da parte contrária presume como confessados os fatos contra ela alegada. Se comparecer e recusar-se a depor, o Juiz lhe aplicará a pena de confissão. Mandado em cumprimento dos autos da ação de Procedimento Ordinário (em geral), processo n. 132.01.2008.010185-4000000-000, movida por MARIA FULANA DA SILVA contra o BANCO DINHEIRO S.A, em curso neste Juízo de Direito da Segunda Vara, passado na forma de artigo 25 da Lei 6.830/80 Voz ativa (ou ordem direta) A inversão de termos numa frase pode confundir a leitura. Por isso, procure escrever sempre na ordem direta: sujeito + verbo + complemento (Ricardo visitou a praça) Ordem indireta ou voz passiva dificulta o entendimento da frase: “Ao terminal rodoviário de São Paulo os familiares chegaram ansiosos” (evite) “Os familiares chegaram ao terminal rodoviário de São Paulo ansiosos” (ordem direta) Chegou à redação o novo jornalista” (evite) “O novo jornalista chegou à redação” (certo: sujeito + verbo + complemento) “Duas propostas são oferecidas pela empresa” (evite) “A empresa oferece duas propostas” (certo: sujeito + verbo + complemento) Como dizer “não”? Recomenda-se o uso da ordem indireta (voz passiva) para uma negativa. Nesse caso, recebe o nome de “voz passiva diplomática”. É um recurso usado para reduzir impactos negativos da frase. Diga não, mas de forma elegante. 44 “A empresa não pode realizar o serviço, porque a conta do cliente não foi paga” (evite) Diga: “O serviço não pode ser realizado, pois consta débito em aberto” “O diretor vai dispensar três funcionários no departamento” (evite) Diga: “Três funcionários serão dispensados no departamento” Precisão Não passe a informação pela metade. Não seja vago nem deixe o leitor em dúvida: “Os funcionários foram assistir à palestra ontem. Aprenderam muito e fizeram várias coisas” Onde foi a palestra? Aprenderam o quê? Fizeram o quê? Cuidado com o emprego de “alguns, vários, diversos”: são termos imprecisos que muitas vezes são desnecessários, pois nada acrescentam. Linguagem simples Ainda existe a falsa idéia de que falar difícil é sinônimo de elegância. É uma herança antiga que custa a desaparecer. Em vez de falar carnaval, diz-se “Tríduo de Momo”. Não exija do leitor um dicionário para traduzir os termos complicados do seu texto. É preciso abandonar o falso intelectualismo e usar palavras comuns e familiares. É claro que linguagem simples não significa linguagem chula, grosseira. Isso denigre a imagem do texto Escreva sem erudição. Quem sabe escrever escreve com simplicidade. Quem não sabe, acaba se enrolando. Abaixo, um exemplo de texto pedante, sem familiaridade com o leitor comum: “Abastecendo-se, de contínuo, duma overdose de reminiscências e de peripécias pretéritas, Dona Rosinda olvidava-se dos pesares como dona de casa e ficava a narrar, a neófitos colegas, lapsos de outrora, num doentio retorno ao fugidio passado. Refestelava-se, logo no crepúsculo matutino, numa poltrona surrada, em meio ao espandongamento, que adquirira há trinta anos num estabelecimento de móveis antiqüíssimos” Outro exemplo para ilustrar um texto com linguagem difícil e apurada é o discurso do grande Rui Barbosa (1849-1923), o Águia de Haia, conhecido como “símbolo da eloqüência brasileira. Abaixo, um texto em que ele fala da imagem que os governantes brasileiros teriam de seu povo: O que eles vêem, sucedendo à idade embrionária do colono, dobrado ao jugo dos capitães-mores; o que eles vêem, seguindo-se à época tenebrosa do africano vergalhado pelo relho dos negreiros, é o período banzeiro do autóctone, cedido pela catequese dos missionários à catequese dos politiqueiros, lanzudo ainda na transição mal-amanhada, e susceptível, pelo seu baixo hibridismo, das bestializações mais imprevistas. Eis o que eles enxergam, o que eles têm por averiguado, o que os seus atos dão por líquido, no povo brasileiro: uma ralé semi-animal e semi-humana de escravos de nascença, concebidos e gerados para a obediência, como o muar para a albarda, como o suíno para o chiqueiro, como o gorila para a corrente; uma raça cujo cérebro ainda se não sabe se é de banana, ou de mamão para se empapar de tudo que lhe embutam; uma raça cujo coração 45 ainda não se estudou se é de cortiça, ou de borracha, para não guardar mossa de nada, que o contunda; uma raça, cujo sangue seja de sânie, ou de lodo, para não sair jamais da estagnação do charco, ou do esfacelo da gangrena; uma raça, cuja índole não participe, sequer, por alguns instintos nobres ou úteis, dos graus superiores da animalidade.1 Assim, evite expressões antiquadas, arcaicas, palavras latinas e todo tipo de termos que dificultam a compreensão do texto por parte do leitor. Seja simples e objetivo. Linguagem técnica Não faça do seu texto um código secreto, destinado somente aos especialistas da área. Cuidado com o excesso de termos técnicos. Muitos profissionais, como engenheiro, médico, etc., esquecem que há pessoas que não dominam os termos de sua profissão. A imagem que esses profissionais têm de seus leitores é sempre um companheiro da profissão. Não dão chance para outros entenderem o texto. Por isso, quando escrever sobre um assunto técnico, imagine que seu leitor seja aquela velhinha que mora perto da sua casa, quase analfabeta. Procure ser o mais simples possível para que a velhinha entenda o seu texto. Excesso de vírgula Deixa o texto truncado: “Ele foi morto ontem, em Campinas, depois de ter sido rendido, com a namorada, por dois homens, em Santa Tereza. (ruim) “Ele foi morto ontem em Campinas por dois homens que o tinham sequestrado, com a namorada, em Santa Tereza.” (bom) 6. REVISÃO Embora a revisão não seja exatamente uma qualidade do texto, coloco-a aqui justamente para mostrar sua importância. Até mesmo os melhores escritos precisam revisar seus textos. Quando passamos para o papel nossas ideias, sempre há erros. Mas durante sua escrita, não se preocupe em redigir gramaticalmente tudo certinho. Primeiro, escreva tudo. Depois, volte para corrigir. Escrever se preocupando com as correções pode atrapalhar o raciocínio e a ordenação das idéias. EXERCÍCIOS 1 BARBOSA, Rui. [1919]. A questão social e política no Brasil. In: Pensamento e ação de Rui Barbosa. Fundação Casa de Rui Barbosa (Org.). Brasília: Senado Federal/Conselho Editorial, 1999, p. 369-370. 46 Com base nas seis qualidades discutidas anteriormente (organização e coerência; adaptação ao receptor; objetividade; concisão; clareza; revisão), faça os seguintes exercícios: 1. Sintetizar em até cinco linhas o texto abaixo de Rui Barbosa, que trata da imagem que os governantes teriam do povo brasileiro. O que eles vêem, sucedendo à idade embrionária do colono, dobrado ao jugo dos capitães-mores; o que eles vêem, seguindo-se à época tenebrosa do africano vergalhado pelo relho dos negreiros, é o período banzeiro do autóctone, cedido pela catequese dos missionários à catequese dos politiqueiros, lanzudo ainda na transição mal-amanhada, e susceptível, pelo seu baixo hibridismo, das bestializações mais imprevistas. Eis o que eles enxergam, o que eles têm por averiguado, o que os seus atos dão por líquido, no povo brasileiro: uma ralé semi-animal e semi-humana de escravos de nascença, concebidos e gerados para a obediência, como o muar para a albarda, como o suíno para o chiqueiro, como o gorila para a corrente; uma raça cujo cérebro ainda se não sabe se é de banana, ou de mamão para se empapar de tudo que lhe embutam; uma raça cujo coração ainda não se estudou se é de cortiça, ou de borracha, para não guardar mossa de nada, que o contunda; uma raça, cujo sangue seja de sânie, ou de lodo, para não sair jamais da estagnação do charco, ou do esfacelo da gangrena; uma raça, cuja índole não participe, sequer,
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