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EFEITOS DA DECISÃO EM CONROLE DIFUSO E A COMUNICAÇÃO AO SENADO

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6 EFEITOS DA DECISÃO EM CONTROLE DIFUSO E A COMUNICAÇÃO AO SENADO
 É de conhecimento geral que uma Constituição na qual os atos e as leis que são denominadas inconstitucionais e permanecem válidos não é obrigatória. Assim, necessita de um mecanismo para anular os atos inconstitucionais para a garantia da Constituição. Quando refere-se ao ordenamento jurídico brasileiro esses atos inconstitucionais estão, via de regra, sujeitos à nulidade absoluta, podendo resultar na desconstituição ex tunc de todos os seus efeitos e, excepcionalmente, à nulidade mitigada, com eficácia ex nunc ou prospectiva. Devido a essa relação direta entre sociedade e Constituição, é que decorre a necessidade de o mesmo texto legal dispor os métodos que deverão ser aplicados para a sua modificação, a fim de que possa acompanhar, de forma igualitária, a evolução da sociedade, sob pena de se tornar obsoleto.
 Assim, os efeitos causados na decisão referente ao controle difuso pode ocorrer de algumas maneiras podendo ser inter partes, ex tunc e erga omnes e ex nunc.
6.1 OS EFEITOS INTER PARTES
 É de conhecimento geral que o controle difuso pode ser considerado incidental ou concreto, e que, via de regra, os efeitos causados da decisão são validos apenas entre as partes que estão envolvidas. Sendo assim o efeito é considerado inter partes.
 Dessa maneira, a aplicação da lei que é declarada incidentalmente inconstitucional será afastada entre ambas as partes, visto que essa decisão só alcança para elas e não produz efeitos vinculantes para outros a exemplo da sociedade.
 Assim, de acordo com MORAES (200, p.716), quando declarada a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo pelo STF, é desfeito o ato declarado inconstitucional, desde suas origens, bem como todas as consequências que dele derivaram, pois os atos inconstitucionais são considerados nulos sendo, portanto, destituídos de qualquer carga de eficácia jurídica. Desse modo, alcança a declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo, este que poderá caber, inclusive, aos atos pretéritos que foram praticados baseados por ela. Assim, os efeitos retroativos só poderá ter eficácia para as partes no processo quando existiu a citada declaração. 
6. 2 OS EFEITOS EX TUNC
Embora visto que os efeitos retroativos só poderão ter eficácia para as partes no processo quando existiu a citada declaração, a tese supramencionada não pode ser considerada absoluta, como dispõe PAULO e ALEXANDRINO (2007, p. 738):
“Embora a regra seja a pronúncia de inconstitucionalidade no controle concreto ter eficácia retroativa (ex tunc), poderá o Supremo Tribunal Federal, por dois terços dos seus membros, em situações excepcionais, tendo em vista razões de segurança jurídica ou relevante interesse social, outorgar efeitos meramente prospectivos (ex nunc) à sua decisão, ou mesmo fixar outro momento para o início da eficácia de sua decisão.”
 Dessa maneira, o STF já decidiu a respeito dessa seara em relação à limitação temporal de efeitos no controle difuso ou modulação (STF, AgRegAI 495.826-6/RJ; STF, Ação Cautelar 189-7/SP; STF AI 529694/RS), na qual dispõe que em regra “não se aplica o efeito ex nunc à declaração de inconstitucionalidade em processo de controle difuso”. Porém, como salienta o Ministro Gilmar Mendes, é possível a aplicação da limitação temporal de efeitos no sistema difuso, apontando, inclusive, a “impossibilidade de declaração de efeitos retroativos para o caso de declaração de nulidade de contratos trabalhistas”.
6.3 OS EFEITOS ERGA OMNES
 Como visto, tratando-se do controle difuso de constitucionalidade, poderá existir uma atuação repressiva partindo tanto do juiz de primeiro grau, quanto de qualquer tribunal. Dessa maneira, se houver afastamento de inconstitucionalidade de ato normativo ou de lei por um juiz monocrático, a lide poderá alcançar também o Supremo Tribunal Federal, que será por meio de um recurso extraordinário, com base no art. 102, III, da CF. 
 Via de regra, nos casos onde a Corte Maior decida em manter a inconstitucionalidade, no tocante a controle concreto, os efeitos serão a princípio inter partes e ex tunc. Porem, a Constituição Federal (artigo 52, X) dispõe de um mecanismo de ampliação dos efeitos da declaração incidental de inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal “compete privativamente ao Senado Federal: suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”. Assim, quando uma decisão que já tenha transitado em julgado pela Suprema Corte, poderá esta oficiar o Senado Federal que, de acordo com o artigo supracitado, suspenda, através de resolução, e execução, podendo ser toda ou em parte, da lei ou do ato normativo que fora declarado inconstitucional, com efeitos erga omnes, que atingirá toda a sociedade, mas também ex tunc. Desse modo, mesmo no controle difuso, tal decisão definitiva poderá ter seus efeitos ampliados.
 Contudo, existe uma discussão doutrinária a respeito da natureza jurídica da decisão do Senado Federal se ela é vinculada ou discricionária, ou seja, se existe a possibilidade do Senado Federal não suspender a executoriedade de uma norma que fora declarada inconstitucional, de maneira incidental pelo Supremo. assim, a doutrina majoritária e até mesmo o STF e o Senado Federal, de acordo com MORAES (2009, p. 714) entendem que o Senado Federal não será obrigado a proceder edição de resolução que seja suspensiva a norma. Dessa maneira, o ato discricionário que pertence ao Poder Legislativo, será classificado por deliberação essencialmente política que tem alcance normativo.
 Nesta seara, MORAES (2009, p. 715) nos diz que:
“ao Senado Federal não só cumpre examinar o aspecto forma da decisão declaratória de inconstitucionalidade, verificando se ela foi tomada por quorum suficiente e é definitiva, mas também indagar da conveniência dessa suspensão”.
Importante ressaltar que de acordo com a Emenda Constitucional nº 45/2004, as questões que são constitucionais de repercussão geral, quando o STF analisar incidentalmente a inconstitucionalidade de determinado ato normativo ou lei, poderá editar Sumula Vinculante, de acordo com os requisitos dispostos no artigo 103-A da CF, que deverá guardar relação de pertinência com ao assunto tratado. 
Assim, percebe-se que quando existir a ampliação dos efeitos da decisão definitiva, no tocante da inconstitucionalidade de norma, ainda que em sede de controle difuso,esta poderá ser efetivada pelo Supremo, sem que exista a necessidade consentimento do Senado Federal, pois é o que se depreende ao analisar detidamente a Lei Maior quanto aos interesses da sociedade.
9 CONCLUSÃO
 Como visto, o controle de constitucionalidade repressivo realizado pelos órgãos pertencentes ao Poder Judiciário poderá atuar através de um controle concentrado, este que é exercido pelo Supremo Tribunal Federal de maneira abstrata de acordo com a Constituição Federal (art.102, I, a), como também por meio de um controle difuso que se dá através de juiz de primeiro grau ou por qualquer tribunal, com a finalidade de alcançar um direito subjetivo que fora posto concretamente em juízo como dispõe também a Constituição Federal (artigo 97). Assim, só poderá ser declarada a inconstitucionalidade no controle difuso, pelos tribunais, por voto de maioria absoluta dos membros ou de órgão especial como dispõe o artigo supramencionado.
 No tocante dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade em controle difuso, via de regra os efeitos alcançam as partes, como chamado de efeito inter partes, e de modo ex tunc que desfaz o ato declarado inconstitucional desde a sua origem, haja vista que são nulos não tendo, portanto, eficácia jurídica, porém pode existir uma modulação pelo Supremo tornando esses efeitos prospectivos, chamados de ex nunc. Dessa maneira, os efeitos podem, ainda, ser ampliados e atingir a terceiros,o chamado efeito erga omnes que se dá através de resolução do Senado Federal após decisão proferida de modo definitivo pelo Supremo.
 Vale ressaltar, que o Senado Federal não está vinculado para dar amplitude de efeitos da decisão do Supremo, como retro visto em jurisprudência e doutrina majoritária. Importante salientar, ainda, que a Corte Maior poderá editar Súmula Vinculante afastando a constitucionalidade do ato normativo ou lei, a partir de repercussão geral do caso em lide em prol da sociedade.
 Dessa maneira, percebe-se que o controle difuso de constitucionalidade é um instrumento constitucional de grande valia da sociedade, pois poderá atuar em qualquer processo, tanto de juiz monocrático, quanto do tribunal, afim de salvaguardar o direito em litígio mesmo quando de inicio atinja apenas as partes envolvidas , pois, percebe-se que a partir de repercussão geral poderá se estender a terceiros.
10 REFERENCIAS
OLIVEIRA, Fabricio Ferreira. Efeito "erga omnes" no controle difuso (ou aberto) de constitucionalidade. 2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/39249/efeito-erga-omnes-no-controle-difuso-ou-aberto-de-constitucionalidade. Acesso em: 25 maio 2020.
 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Janeiro: Impetus, 2007.

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