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Lições preliminares de direito penal Prof. Esp. Gabriel Souza (gabriellucasms@hotmail.com) SUMÁRIO DA AULA 1) PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DO SISTEMA PENAL SISTEMA PENAL CRIMINOSO E CRIMINALIZAÇÃO CONTROLE SOCIAL INTERVENÇÃO PENAL 2) INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL CONCEITO FINALIDADE E LEGITIMIDADE TENDENCIAS CONTEMPORÂNEAS 3) A CIÊNCIA CONJUNTA DO DIREITO PENAL DIREITO PENAL (DOGMÁTICA) POLÍTICA CRIMINAL CRIMINOLOGIA EXECUÇÃO PENAL 4) INTRODUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL ANTIGUIDADE IDADE MÉDIA A MODERNIDADE E A PRISÃO O PAPEL DA VINGANÇA NA HISTÓRIA DO DIR. PENAL PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DO DIREITO PENAL SISTEMA PENAL: grupo de instituições que, segundo as regras jurídicas pertinentes, se incumbe de realizar o direito penal. Para Zaffaroni, sistema penal é o controle social punitivo institucionalizado (legalidade + ilegalidade tolerada). CRIMINOSO E CRIMINALIZAÇÃO: o sistema penal apresenta algumas características, quais sejam i) seletivo ; ii) repressivo ; iii) estigmatizante. Portanto, não vigora no sistema penal o paradigma da igualdade, havendo, ao contrário, um processo de criminalização de determinadas figuras sociais. CONTROLE SOCIAL: como afirma Muñoz Conde, o controle social determina “os limites da liberdade humana na sociedade, constituindo, simultaneamente, instrumento de socialização de seus membros. É inimaginável uma sociedade sem controle social”. Esse controle pode ser formal ou informal. PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DO DIREITO PENAL CONTROLE SOCIAL INFORMAL E FORMAL INFORMAL: o primeiro mecanismo de controle que atua na regulação das relações sociais não recorre às normas legais. Faz-se, como o próprio nome diz, “informalmente”. É uma adaptação sutil e difuso. Exemplos: FORMAL: além do controle das instituições não estatais, o disciplinamento humano em sociedade ainda é realizado através do controle social formal ou institucionalizado. Essa instância de controle é composta por um engendro de regras jurídicas e princípios. Exemplos: PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DO DIREITO PENAL CONTROLE SOCIAL PELO DIREITO PENAL Embora desempenhe um papel no processo de convivência entre os indivíduos, o sistema penal tem importância apenas secundária ou, como diz Miguel Reale Júnior, “residual, pois só atua diante do fracasso dos instrumentos informais de controle”. Impõe-se considerar o direito penal como continuação dos demais controles e nada mais. Não é a norma penal “não matar” que impede o desenho do tipo de homicídio. A existência do sistema penal e do direito penal seria completamente indiferente caso fossem ignoradas as formas de controle social formal ou se não fossem respeitados alguns fatores inibidores de condutas proibidas. Ensina-nos Muñoz Conde que “um direito penal sem uma base social prévia é ineficaz e insuportável, resultando vazio de conteúdo e somente apresentando eficácia como um instrumento de terror”. PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DO DIREITO PENAL INTERVENÇÃO PENAL E A BUSCA POR UM PONTO DE EQUILÍBRIO SIMBOLISMO PENAL: além de se preocupar somente com alguns tipos de delito e de infratores, introduz disposições inúteis ou de impossível cumprimento, desacreditando o próprio sistema penal. A promulgação de novas leis penais – mais criminalização e punição – constitui apenas uma resposta política e pontual. Reprimir é muito mais econômico que buscar a prevenção por outros recursos. E dessa economia resulta o conhecido fenômeno do populismo penal. ABOLICIONISMO PENAL: o sistema penal não é racional, e é partindo desse paradigma que os abolicionistas entendem que não se deve recorrer ao direito penal quando da prática de uma infração. Essa máquina de controle social deveria ser eliminada, posto ser inútil. Cuidado! PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DO DIREITO PENAL Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil (Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890) Capítulo XIII -- Dos vadios e capoeiras Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal; Pena de prisão celular de dois a seis meses. Parágrafo único. É considerado circunstância agravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças, se imporá a pena em dobro. Art. 403. No caso de reincidência será aplicada ao capoeira, no grau máximo, a pena do art. 400. Com a pena de um a três anos. PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA DO DIREITO PENAL 1ª. Um homem furta ou se apropria indevidamente de um televisor, mas repara o dano, restituindo a coisa subtraída ou apropriada, antes do recebimento da denúncia. Resultado: ele será condenado por furto, com uma redução de pena de 1/3 a 2/3 (art. 16 do Código Penal). Se a reparação for após o recebimento da denúncia, será condenado por furto ou apropriação indébita, mas vai ter sua pena atenuada em razão da reparação do dano posterior (art. 65, III, b, do Código Penal). 2ª. Um empresário se apropria indevidamente dos valores recolhidos dos seus empregados e que deveriam ser repassados à Previdência Social, mas paga todo o débito antes da ação fiscal e do recebimento da denúncia. Resultado: é extinta a punibilidade (arts. 168-A, § 2º, do Código Penal). Se, após o recebimento da denúncia, pagar todo o débito, com direito ao parcelamento durante até 15 anos, extingue-se a punibilidade (arts. 68 e 69 da lei 11.941/2009). INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL (conceito) Modernamente, a disciplina pode ser conceituada sob duas vertentes: a dinâmica e a estática. Para a primeira, Direito Penal é o mais intenso mecanismo de controle social formal, por intermédio do qual o Estado, mediante um determinado sistema normativo, castiga com sanções negativas de particular gravidade as condutas desviadas mais nocivas para a convivência, objetivando, desse modo, a necessária disciplina social e a correta socialização dos membros do grupo. Sob a vertente estática, considera-se Direito Penal como sendo o conjunto de normas jurídico-públicas que definem certas condutas como delito e associam às mesmas penas e medidas de segurança, além de prever outras consequências jurídicas Art. 63. Servir bebidas alcoólicas: I – a menor de dezoito anos; (Revogado pela Lei nº 13.106, de 2015) II – a quem se acha em estado de embriaguez; III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades mentais; IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proibida de frequentar lugares onde se consome bebida de tal natureza: Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL (finalidade e legitimidade) Silva Sánchez categoriza em três níveis as funções do Direito Penal. O primeiro nível ocupa-se da função ético social, isto é, a busca em satisfazer as necessidades da psicologia social. Em um segundo nível, faz-se alusão à função simbólica ou retórica, na medida em que as normas penais produzem na opinião pública a impressão tranquilizadora de um legislador atento e decidido. Por fim, apresenta a função repressiva e preventiva de delitos INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL (finalidade e legitimidade) Ressalte-se, todavia, que, de maneira geral, a justificação do Direito Penal tem sido feita a partir da justificação da pena. Os doutrinadores têm procurado explicar o fundamento da pena por meio das chamadas correntes absolutas, relativas e mistas ou unitárias. Sinteticamente, essas teorias gravitam em torno de duas premissas: a retribuição e a prevenção. Segundo as teorias absolutas, a pena é exigência de justiça. Quem pratica um mal deve sofrer um mal. A pena se funda na justa retribuição, é um fim em si mesma e não serve a qualquer outro propósito que não seja o de recompensar o mal com o mal. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL (finalidade e legitimidade) As teorias relativas justificam-na por seus efeitospreventivos. Significa dizer que a finalidade da pena não seria punir todos os crimes, mas prevenir todos os crimes. O que se quer dizer é que a sociedade ideal é aquela em que não ocorrem crimes e não aquela em que todos os crimes são punidos e é isso o que o Estado deve perseguir. Prevenção geral é a intimidação que se supõe alcançar por meio da ameaça da pena e de sua efetiva imposição, atemorizando os possíveis infratores. A prevenção especial atua sobre o autor do crime, para que não volte a delinquir. Há, ainda, as teorias mistas ou unitárias, que combinam as teorias absolutas e as relativas, que não seriam excludentes entre si. Parte-se, portanto, do entendimento segundo o qual a pena é retribuição, mas deve, por igual, perseguir os fins de prevenção geral e especial. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL (tendência contemporânea?) A proposta garantista surgiu para fazer frente à decepção acerca da capacidade do ideal ressocializador. Propugna fundamentalmente as garantias formais, buscando conciliar a prevenção geral dos delitos com exigências formais dos princípios de proporcionalidade e humanidade, limitando a intervenção penal ao estritamente necessário, não violando valores fundamentais consagrados em quase todas as sociedades modernas. Nessa linha de pensamento, o Direito Penal Mínimo buscou reconhecer um núcleo rígido de infrações para as quais não se pode flexibilizar o sistema de penas, sob o risco de cairmos no anarquismo e na prevalência dos argumentos do mais forte. Ressalvado esse núcleo, o esforço deveria ser no sentido de descriminalizar e despenalizar os fatos. A CIÊNCIA CONJUNTA DO DIREITO PENAL DOGMÁTICA PENAL: A ciência do Direito Penal, também chamada dogmática jurídico penal, é a disciplina que estuda o crime como fato jurídico, para determinar as características do fato punível e suas formas especiais de aparecimento. Pode ser definida como sendo a disciplina que se encarrega da interpretação, sistematização e desenvolvimento das normas contidas na lei, bem como das opiniões doutrinárias no âmbito do Direito Penal A CIÊNCIA CONJUNTA DO DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA: A Criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar que objetiva apresentar uma informação válida, contrastada e confiável sobre o surgimento, a dinâmica e as variáveis do crime, contemplando-o como fenômeno individual e como problema social.39 Pode-se, ainda, acrescentar que ela não se limita ao estudo empírico do crime, cabendo-lhe, igualmente, o estudo do criminoso, da vítima e dos mecanismos de reação social Em síntese, há uma frase de Jescheck que bem resume as relações e o significado entre ambas: “o Direito Penal sem a Criminologia é cego e esta sem aquele carece de limites”.48 A CIÊNCIA CONJUNTA DO DIREITO PENAL POLÍTICA CRIMINAL: política criminal é estratégia de combate à criminalidade e serve à aferição da eficácia do Direito Penal – isto é, das normas penais – no que diz respeito à distribuição da Justiça e aos interesses sociais. Pode-se, assim, dizer que a Política Criminal tem por objetivo a melhora e a racionalização do direito vigente, por intermédio de fórmulas legislativas adaptáveis às necessidades sociais. Cumpre observar, porém, que há autores que negam caráter científico à Política Criminal. Para Serrano Gómez, todavia, há consenso doutrinário no sentido de cumprir à Política Criminal a missão de crítica e de reforma das leis penais.36 Semelhantemente, Silva Sánchez afirma que a PolíticaCriminal desincumbe da tarefa de orientar a evolução da legislação penal – perspectiva de lege ferenda – ou sua própria aplicação no presente – perspectiva de lege lata –, conectando-as “às finalidades materiais do Direito Penal” A CIÊNCIA CONJUNTA DO DIREITO PENAL EXECUÇÃO PENAL: O Direito da Execução Penal, de maneira geral, engloba o que se convencionou chamar de Direito Penitenciário, que é expressão mais antiga. O Direito Penitenciário corresponde ao funcionamento dos estabelecimentos penitenciários, descreve as condições de detenção, os direitos e deveres do condenado, o seu regime disciplinar, a manutenção de seus laços familiares etc. O Direito Penitenciário é, desta maneira, mais restrito que o Direito da Execução Penal, já que trata apenas da questão do cárcere
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