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CAPÍTULO 3 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Conhecer os princípios básicos que norteiam a atuação docente: planejamento, metodologia e avaliação; 3 Discutir desafios e situações-problema que permeiam o fazer docente em sala de aula; 3 Debater soluções para um fazer docente dinâmico e eficiente em busca do conhecimento científico. 64 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação 65 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 Contextualização No primeiro Capítulo deste módulo tratamos da formação do professor, seja ele do ensino básico ou superior. Delineamos, em seguida, uma apresentação sobre a aprendizagem e as teorias que a desejam explicar, evidenciando que cabe ao profissional de ensino buscar saber como as pessoas aprendem para aprimorar ainda mais sua prática pedagógica, pois “é preciso ‘aprender como se aprende’ para ‘aprender como ensinar’” (RANGEL, 2010, p. 35). Dessa forma, caro estudante, você já tem em mãos subsídios que lhe permitem entender a profissão professor e seu maior desafio: ensinar de maneira que os envolvidos no processo aprendam. Assim, pensados e discutidos os aspectos teóricos que abraçam a profissão professor, a proposta do Capítulo que se inicia é a de analisar a sala de aula, a programação do cotidiano da vida acadêmica, a rotina dos atores que atuam nesse cenário tão familiar e ao mesmo tempo tão repleto de particularidades. O objetivo agora é buscar uma reflexão sobre a relação entre os três eixos que coexistem em sala de aula: professor X conhecimento X aluno, conhecendo os papéis que desempenham através dos scripts que preparam as cenas e delineiam as ações desses atores. Scripts que antecedem os atos, os planejam considerando os meios mais adequados de executá-los e as mais diversas formas de conferir o seu desenrolar. Atores que ganham os papéis de professores e alunos, nos quais ambos atuam como personagens principais, planejando, agindo, avaliando, refazendo. A questão agora é conhecer os princípios básicos que norteiam a atuação docente: planejamento, metodologia e avaliação, bem como suas peculiaridades. Ainda não vamos tratar das partes práticas, das sugestões de ações pedagógicas. A motivação nesse momento é conhecer para entender melhor do que se trata a programação do cotidiano acadêmico. Vejamos, então, como se apresentam o antes e o durante desse espetáculo sem fim que é o ensinar e o aprender! Bem-vindos ao ensaio geral e bons estudos! 66 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação Planejar é uma ação sine qua non para a prática pedagógica, ou seja, Planejar é condição indispensável no exercício da docência. Planejar é uma atividade constantemente presente no nosso cotidiano. 1º ato = Planejar A maioria das atividades que realizamos no nosso dia-a-dia requer um mínimo de planejamento – que fazemos, muitas vezes, até inconscientemente. Seja uma festa de casamento ou uma ida rápida ao supermercado – atividades simples do cotidiano ou situações maiores se configuram e se organizam num esquema de memorização, ou são registrados em papel, ou numa página definida de agenda, com o simples desejo de se planejar. Não importa. Planejar é uma atividade constantemente presente no nosso cotidiano. Ao lado das nossas atividades pessoais e corriqueiras, estão nossas atividades profissionais e acadêmicas, entre outras que envolvem a participação de mais pessoas com uma série de objetivos em comum. Nesse momento, o planejamento se torna uma ação, digamos, formalizada, racional. E exige um pouco mais de instrumentalização e organização que a memória pode reter ou uma simples lista em uma mera página em branco na agenda. No âmbito escolar, especialmente, seja ele básico ou superior, Planejar é uma ação sine qua non para a prática pedagógica, ou seja, Planejar é condição indispensável no exercício da docência. O Planejamento requer um envolvimento profundo do professor que idealiza suas aulas com vistas ao que deseja realizar e consequentemente ensinar aos seus alunos. Sendo assim, nesse momento, vamos estudar o que é o Planejamento, quem o faz e como, e que desafios são encontrados ao elaborá-lo. Podemos afirmar que o trabalho do professor começa muito antes de ele entrar em sala de aula. Suas tarefas começam com o planejamento, que se inicia algumas semanas ou alguns meses antes, dependendo da experiência do professor com a disciplina que pretende lecionar. Por mais erudito e experiente que seja, ele não pode dispensar essa etapa, pois graças a ela é que seu trabalho assume racionalidade e permite que seja avaliado. (GIL, 2011b, p. 94 – sem grifo no original) Maiores detalhes e orientações práticas sobre como organizar e montar um planejamento serão abordadas no Capítulo 4 deste Caderno de Estudos. 67 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 As referências bibliográficas escolhidas pelo professor precisam ser atuais e revisadas, contemplando tanto autores de renome e os clássicos, quanto pesquisas e trabalhos científicos acadêmicos recentes. O Planejamento Curricular apresentará ao professor uma ementa da disciplina que ele irá lecionar. A ementa apresenta de forma bastante resumida os conteúdos básicos a serem trabalhados naquela disciplina. Ao assumir uma disciplina em um Curso Superior, antes de elaborar o Planejamento de Ensino da Disciplina, o professor deve conhecer o Planejamento Curricular do curso no qual irá lecionar. Esse Planejamento Curricular é elaborado pela Coordenação do Curso em questão, amparado nas Diretrizes Curriculares Gerais que são definidas pelo Conselho Nacional de Educação. “Elas indicam os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino-aprendizagem que irão compor os currículos, mas evitam ao máximo a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias predeterminadas, que não poderão exceder 50% da carga horária total dos cursos” (GIL, 2011b, p. 98). Conhecendo o Planejamento Curricular, o professor passa a ter em mãos uma série de informações sobre quais disciplinas e quando as mesmas serão estudadas no curso em questão. Esse conhecimento pode promover uma maior integração com outros professores de outras disciplinas, possibilitando assim o exercício de ações interdisciplinares. O Planejamento Curricular apresentará ao professor uma ementa da disciplina que ele irá lecionar. A ementa apresenta de forma bastante resumida os conteúdos básicos a serem trabalhados naquela disciplina. Geralmente, as instituições de ensino superior dão certa flexibilidade para o professor fazer ajustes na ementa, principalmente porque ela pode se encontrar desatualizada ou descontextualizada, no entanto é necessário que o cerne central da disciplina seja preservado, que não haja uma descaracterização da mesma e que os conteúdos básicos obrigatórios sejam mantidos. De posse da ementa, o professor, além de poder fazer os ajustes que ele considera necessários, precisa definir os objetivos de aprendizagem e incluir os conteúdos. Ou seja, precisa definir onde ele quer chegar, precisa ter claro para si que habilidades e competências ele deseja desenvolver nos alunos que atenderão àquelas aulas da disciplina a ele incumbida e, então, selecionar os conteúdos. Assim, ele traça os objetivos a serem conquistadosatravés do trabalho com essa disciplina, investigando igualmente os conteúdos que darão conta de suprir o que está na ementa. Ao definir os objetivos e selecionar os conteúdos, o professor elenca uma série de referências bibliográficas que dão suporte à sua ação educativa e promovem uma ampliação do repertório bibliográfico que os alunos já podem trazer consigo ao iniciarem determinada disciplina. As referências bibliográficas escolhidas pelo professor precisam ser atuais e revisadas, contemplando tanto autores de renome e os clássicos, quanto pesquisas e trabalhos científicos acadêmicos recentes – o que leva à valorização da pesquisa feita em seu próprio meio e estimula a produção de mais conhecimento com 68 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação Um cronograma previamente definido também contribui para a efetiva organização da disciplina. vistas à publicação. É importante também que as referências indicadas sejam facilmente encontradas pelos acadêmicos e, caso não o sejam, cabe ao professor providenciar o acesso a elas. Definido o que será estudado e o porquê, o professor precisa planejar como e quando isso será realizado. Inclui-se no Planejamento de Ensino da Disciplina a metodologia que será aplicada, de modo a atingir os objetivos propostos e o cronograma devidamente organizado, fazendo a distribuição, ao longo de um período de estudos, de quando as ações serão realizadas. Os métodos de ensino precisam constar no Planejamento para que o professor possa se organizar de maneira a efetivamente fazer acontecer o que foi planejado. Definindo diferentes estratégias de ensino, o professor foge da armadilha de cair em uma única maneira de expor os conteúdos, e deixa atividades didáticas previamente organizadas e planejadas, mas ainda abertas a adaptações para atender às demandas da turma de alunos com a qual irá trabalhar. Um plano de ensino representa uma organização sequencial de decisões sobre a ação do professor, visando influenciar o processo de aprendizagem dos alunos, para que seja mais eficiente; um plano deve ser claro e completo, mas flexível, em função de feedbacks advindos de sua própria concretização. (ABREU e MASETTO, 1990, p. 16) Um cronograma previamente definido também contribui para a efetiva organização da disciplina. Assim, além de saber o que será ensinado e como, através de um cronograma o professor consegue estabelecer uma ordem de estudos que pode vir a favorecer tanto a organização de seu trabalho quanto a vida acadêmica de seus alunos. O arranjo da distribuição do tempo investido na disciplina permite acordos entre professores e alunos quanto à entrega de materiais, datas de exercícios avaliativos específicos ou até definição de atividades acadêmicas que envolvam outras áreas de ensino, estudantes de outros cursos e até mesmo a própria instituição – ações que se tornam facilmente possíveis se o professor efetivamente planejar um cronograma. No Planejamento de Ensino da Disciplina, além de o professor definir os objetivos a serem alcançados, determinar os conteúdos, organizar os métodos e o cronograma do seu trabalho acadêmico, ele ainda precisa deixar claro como será exercida a avaliação. Estando definidos no Planejamento os objetivos que se pretende alcançar com aquela disciplina, em algum momento do processo será necessária a aplicação de recursos avaliativos a fim de verificar se objetivos estão sendo alcançados. Planejar a avaliação implica organizar meios diversificados de acompanhar o desenvolvimento dos alunos, evitando utilizar apenas uma única forma avaliativa e promovendo uma abrangência maior dessa ação pedagógica de grande valor. 69 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 Esse diagnóstico dos alunos que compõem a turma vem fornecer dados para melhorar e corrigir o que já havia sido previamente organizado. Um plano de ensino, portanto, é a apresentação, sob forma organizada, do conjunto de decisões tomadas pelo professor em relação à disciplina que se propôs a lecionar (ABREU e MASETTO, 1990, p. 16). Assim, caro estudante, observamos que o fazer docente já se antecipa com um cuidadoso planejamento, o qual contempla ementa, objetivos, conteúdos, referências bibliográficas, metodologia, cronograma e avaliação. A partir do exposto, podemos afirmar que “um plano de ensino, portanto, é a apresentação, sob forma organizada, do conjunto de decisões tomadas pelo professor em relação à disciplina que se propôs a lecionar” (ABREU e MASETTO, 1990, p. 16). E, “à medida que as ações docentes são planejadas, evita-se a improvisação, garante-se maior probabilidade de alcance dos objetivos, obtém-se maior segurança na direção do ensino e também maior economia de tempo e de energia” (GIL, 2011, p. 99). Desta forma, o professor chega à sala de aula tendo em mãos um repertório organizado de conhecimentos e conteúdos que deseja trabalhar com seus alunos. Ele chega com expectativas reais em torno dos objetivos de aprendizagem a serem alcançados pela turma. Ele chega seguro do que fazer, como e quando. Ele chega com o script montado! Mas, como já vimos no Capítulo 1 deste Caderno de Estudos, ainda é preciso conhecer também quem são os atores com os quais o professor irá atuar – o alunos. O professor ainda precisa diagnosticar o “domínio prévio dos objetivos” (GIL, 2011b, p.52) da disciplina que os alunos trazem consigo e verificar as expectativas que os mesmos têm em relação ao curso. Esse diagnóstico dos alunos que compõem a turma vem fornecer dados para melhorar e corrigir o que já havia sido previamente organizado. Conhecer quem são os sujeitos que estão naquela sala de aula pode ser de fundamental importância para garantir uma relação de ensino e aprendizagem mais fecunda e válida. Constatar o que os alunos já sabem e o que querem pode influenciar, e muito, o trabalho do professor. Dessa maneira, ele pode suprimir, ou diminuir a carga horária destinada a um conhecimento específico que os alunos praticamente dominam, e investir mais tempo em conteúdos que os estudantes têm pouco conhecimento ou nos quais desejam se aprofundar. “Dessa forma, os estudantes vão se tornando coparticipantes desse processo, caracterizando-o, de certa forma, como planejamento participativo” (GIL, 2011b, p. 99). Outra função concedida ao Planejamento é a de informar à instituição como o trabalho do professor está sendo organizado. É função do profissional de ensino apresentar ao coordenador do seu curso, ou ao chefe do seu departamento, ou à pessoa responsável, como ele vem organizando seu trabalho, quais seus objetivos, o que pretende realizar com os alunos que estão estudando aquela disciplina com ele. 70 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação Investir tempo e dedicação à elaboração do Plano, sem se render apenas aos conteúdos e cronogramas ditados em um único livro didático, ou manter- se apenas na ementa da disciplina, confundindo-a com planejamento. Conseguir se organizar de tal maneira que o Plano da Disciplina inclua tanto seus desejos como profissional do ensino quanto as necessidades dos alunos envolvidos e as obrigações atreladas à instituição de ensino. É a forma de mostrar a orientação que dá ao seu trabalho, permitindo uma verificação da adequação entre este e os objetivos da instituição de ensino. É também uma maneira de se evitar duplicação de programações, de se chegar a uma possível integração de disciplinas e de se evitar que alguns conhecimentos essenciais deixem de ser tratados junto aos alunos, por nenhumprofessor ter se proposto a isso. (ABREU e MASETTO, 1990, p. 16-17) A partir do exposto, podemos considerar que os maiores desafios que se impõem ao fazer docente, enquanto ato de planejar, podem ser divididos em dois. O primeiro deles é de o professor realmente investir tempo e dedicação à elaboração do Plano, sem se render apenas aos conteúdos e cronogramas ditados em um único livro didático, ou manter-se apenas na ementa da disciplina, confundindo-a com planejamento. O segundo grande desafio é o de justamente conseguir se organizar de tal maneira que o Plano da Disciplina inclua tanto seus desejos como profissional do ensino quanto as necessidades dos alunos envolvidos e as obrigações atreladas à instituição de ensino. Caro estudante, o Plano de Ensino da Disciplina é um documento importante no contexto acadêmico. Como vimos, é a princípio rigorosamente organizado pelo professor, mas flexível, aberto às mudanças que indubitavelmente surgirão à medida que os alunos entrem também em contato com ele. Pode até começar pela coordenação do curso e passar pelas adequações do professor, mas é ao atravessar a sala de aula que o planejamento se faz presente, se torna ação e mostra sua real função. Transforma o script em cena, e a cena em espetáculo! Atividade de Estudos: 1) Delineamos nesse primeiro momento do Capítulo 3 as partes que compõem o Plano de Ensino da Disciplina. A título de registro e baseando-se no que foi apresentado, escreva qual o objetivo de cada parte do Planejamento: Ementa: __________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Objetivos: _________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ 71 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 Conteúdos: ________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Referências Bibliográficas: ____________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Metodologia: _______________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Cronograma: _______________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Avaliação: _________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ 2º ato = Fazer Como observamos anteriormente, o Plano de Ensino da Disciplina constitui-se em um documento que orienta o fazer docente do professor, se reconstrói à medida que se articula com os alunos, e ainda comunica à instituição de ensino como é pensada e realizada a ação educativa por aquele profissional de ensino em suas aulas. Todo esse planejamento visa antecipar como ocorrerá todo um processo educativo – desde a definição dos conteúdos à avaliação. Sem desmerecer nenhum de seus componentes, pois é sabido que toda a sua confecção auxilia o fazer docente em sala de aula, vamos destacar agora uma das partes do planejamento que mais exige atenção e cuidado do professor no preparo do plano de ensino: a Metodologia. É justamente nesse tópico do Plano que o educador apresentará como ele fará para atingir os objetivos que ele mesmo propôs no planejamento. O professor conhece tanto os conteúdos que vai trabalhar com seus alunos quanto os objetivos que pretende alcançar através deles, o mote agora é desenvolver modos, meios, estratégias que possibilitem o alcance desses objetivos. 72 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação Métodos de ensino são aquelas estratégias de que os professores fazem uso ao dar aula. Pensar num horizonte possível – nos objetivos que se pretende atingir – já traz implícito que para atingi-los são necessários alguns instrumentos, num âmbito mais concreto de intervenção, no interior da sala de aula, no espaço onde se realiza a vivência das intencionalidades e dos objetivos da educação. Dessa forma, o que se pretende alcançar supõe definir o que (conteúdo) ensinar, o como (metodologia) e a avaliação. (VIELLA, 2001, p. 118-119) Sendo assim, o texto que apresentamos agora procura extrair do Plano de Ensino um dos princípios básicos norteadores do trabalho acadêmico: a Metodologia de Ensino, definindo seu conceito historicamente falando, delineando sua organização e apontando os desafios que o professor encontra ao elaborar o seu fazer docente. Maiores detalhes e orientações práticas com sugestões de métodos e estratégias de ensino serão abordados no Capítulo 5 deste Caderno de Estudos. Métodos de ensino são aquelas estratégias de que os professores fazem uso ao dar aula. Grosso modo, quando olhamos ao nosso redor e prestamos atenção em como os professores dão aulas, chegamos à conclusão que quase todas as aulas são iguais. É muito provável que você, acadêmico que lê essas linhas, tenha em seu histórico escolar um grande número, considerável mesmo, de professores que simplesmente chegavam à sala de aula, expunham sua matéria oralmente fazendo algumas anotações no quadro negro e lendo um trecho ou outro do livro didático. Exigindo ao mesmo tempo silêncio e concentração, ordenando que atividades ou exercícios de fixação fossem realizados em sala ou em casa, culminando com uma prova escrita sobre o assunto. Pronto. Dar aula poderia ser resumido nesses simples passos: dominar o conteúdo, apresentá- lo oralmente usando um quadro negro e giz como recursos didáticos, promover o estudo individualizado, avaliar no final do processo. Você já parou para pensar de onde vem essa maneira de dar aula? Por que durante tanto tempo fomos expostos a aulas assim? Por que dar aula ainda é assim em tantas instituições de ensino, sejam elas básicas ou superiores? 73 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 Aulas expositivas não são as grandes vilãs do processo de ensino-aprendizagem! O grande problema reside em manter-se apenas nesse tipo de estratégia de ensino. Muito simples. Faz parte da história da didática. Faz parte da história da educação e ainda está fortemente enraizado nos nossos dias porque continuamos tendo professores que continuam dando aulas assim – e como numa progressão geométrica continuamos repetindo esse gesto simplesmente por desconhecermos outras maneiras de promover aprendizagem que sejam diferentes das aulas expositivas. Vale lembrar que aulas expositivas não são as grandes vilãs do processo de ensino-aprendizagem! O grande problema reside em manter-se apenas nesse tipo de estratégia de ensino. É querer ensinar diferentes conteúdos, promover a aprendizagem de diferentes conhecimentos para pessoas completamente distintas utilizando sempre a mesma estratégia! No Brasil, a história dos métodos de ensino na educação superior pode nos explicar porque ainda predominam em nossas salas de aula uma mesma rotina de trabalho. Vamos lembrar que os jesuítas foram os primeiros educadores formais que se instalaram no nosso país, fosse com a missão de catequizarem os indígenas ou de ensinarem as primeiras letras aos filhos daqueles que se instalavam em terras tupiniquins. Os jesuítas já traziam na bagagem uma grande experiência educativa que predominava na Europa, com um método de ensino chamado de escolástico. Um método que visa um ciclo – domais fácil para o mais difícil – e que considera que o conhecimento é “algo posto, indiscutível, pronto e acabado e, consequentemente, deve ser assim repassado” (ANASTASIOU, 2001, p. 60). Destacam-se: a figura do professor repassador desse conteúdo indiscutível a ser memorizado; o modelo da exposição (aula expositiva – quase palestra) acompanhado de exercícios a serem resolvidos pelos alunos; a avaliação/ emulação/castigos; o controle rígido dentro e fora da sala de aula; a hierarquia de organização dos estudos; um aluno passivo e obediente, que memoriza o conteúdo para a avaliação – enfim, uma estrutura rígida de funcionamento do processo de ensino-aprendizagem [...]. (ANASTASIOU, 2001, p. 60) Alguma semelhança com o que ainda encontramos em muitas salas de aula não é mera coincidência – faz parte da nossa história. Enfim, o ensino superior nasce no Brasil em 1808, com pequenas escolas isoladas. Nesse momento e para esse tipo de educação – diferente daquela voltada às primeiras letras – adotou-se “o modelo francês- napoleônico, que caracterizava-se por uma organização não-universitária, mas profissionalizante, centrada nos cursos/faculdades, visando a formação de burocratas para o desempenho das funções do Estado” (ANASTASIOU, 74 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação 2001, p. 61-62). O método escolástico continua presente, mas com o ingresso do objetivo de formação profissional. A universidade brasileira ainda recebeu também influências da metodologia aplicada nas universidades alemãs. No início do século XIX, a Alemanha encontrava-se atrás da Inglaterra e da França na corrida da revolução industrial e, no desejo de atingir uma renovação tecnológica, comprometeu- se “com as tarefas de integração nacional e incorporação da cultura alemã à civilização industrial” (ANASTASIOU, 2001, p. 63). Constitui-se, assim, o modelo humboldtiano de ensino. Nesta proposta, surge uma universidade voltada para a resolução dos problemas nacionais por meio de construção científica, unindo professores – entre si e aos alunos – por meio da pesquisa, em dois espaços de atuação: os institutos – visando à formação profissional – e os centros de pesquisa – que seriam regidos por situações essencialmente opostas ao modelo francês. (ANASTASIOU, 2001, p. 63) Nesse contexto, professores e alunos ganham diferentes papéis dos convencionalmente marcados pela herança jesuítica e pelo modelo napoleônico de ensino. Na proposta alemã, “não caberia à figura do professor como simples repassador [...]. Fica estabelecida uma forma de relação em parceria na direção da construção do conhecimento. A metodologia tradicional autoritária, centrada no saber a ser transmitido pelo professor, não prevalece. O papel do aluno se altera, na direção da construção do conhecimento” (ANASTASIOU, 2001, p. 64). Embora a implementação desse conceito da universidade alemã tenha sido iniciada no Brasil em meados de 1950, com toda uma efervescência científica do período, com a Ditadura Militar de 1964 houve um grande fechamento no país, inclusive no que tange às inovações educacionais. Como vimos no Capítulo 2 desse Caderno de Estudos, as concepções de aprendizagem, e consequentemente de ensino, estão fortemente ligadas à visão de sujeito e de sociedade. Sendo assim, “no período da ditadura militar há uma estagnação desse processo de criticidade no que se refere à formação na graduação, havendo todo um reforço numa pedagogia calcada na transmissão de saberes, num papel docente centralizador” (ANASTASIOU, 2001, p. 67). Até foi sistematizada a pesquisa no ensino superior, mas apenas em âmbito de Pós-Graduação – especialização, com limites bastante restritos nos idos dos anos de 1960, ou seja, comparados aos números atuais, era baixo o número de pessoas que poderia fazer um curso nesse nível. 75 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 Diante destes dois importantes pressupostos – atenção aos objetivos e percepção de concepções de aprendizagem – é que o professor orientará a sua prática pedagógica, desenvolvendo métodos e estratégias de ensino. É válido relembrar que, ao criar as estratégias de trabalho, ao desenvolver as metodologias de ensino, o professor leva em consideração, além dos objetivos a serem alcançados, a sua concepção de aprendizagem. Como é importante a construção de métodos de ensino amparados nos objetivos de aprendizagem que se deseja alcançar e não meramente nos conteúdos que serão apresentados aos alunos. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/96) volta a conferir ao ensino superior a construção do conhecimento calcado no tripé ensino-pesquisa-extensão, seguindo um modelo humboldtiano. Mas, como foi visto no Capítulo 1, a formação dos professores universitários ainda apresenta lacunas no tocante à instrumentalização desses profissionais que acabam continuando a repetição, em sala de aula, das mesas atividades acadêmicas das quais eles venham a ter participado. As palavras de Antonio Chizzotti (2001, p. 111) ilustram bem esse fato quando ele afirma que “se persistir um modelo de ensino meramente gerencial da sala de aula, ele se degrada e a profissão docente expõe-se ao risco de se tornar um exercício caduco”. Desenhamos um breve esboço do trajeto que a metodologia de ensino percorreu nos âmbitos escolares de nosso país. Uma metodologia predominantemente centrada nos saberes dos professores e na sua fala. Essa trajetória nos permite observar com um olhar mais crítico como é importante a construção de métodos de ensino amparados nos objetivos de aprendizagem que se deseja alcançar e não meramente nos conteúdos que serão apresentados aos alunos. “São os objetivos que se constituem no critério de escolha das estratégias. É aonde o professor pretende que seus alunos cheguem que se torna o ponto orientador das decisões tomadas em relação ao como chegar lá” (ABREU e MASETTO, 1990, p. 50). É válido relembrar que, ao criar as estratégias de trabalho, ao desenvolver as metodologias de ensino, o professor leva em consideração, além dos objetivos a serem alcançados, a sua concepção de aprendizagem. Por trás de qualquer prática [...] está uma resposta sobre o entendimento da forma como se processa a aprendizagem. Quando pedimos ao aluno que faça isto ou aquilo, estamos materializando na prática o marco teórico que tem orientado nossa ação, esteja ele explícito ou não. A prática acaba sendo um critério de verdade, uma resposta ao “por que ensinar?” e ao “como aprender?” (VIELLA, 2001, p. 118). Diante destes dois importantes pressupostos – atenção aos objetivos e percepção de concepções de aprendizagem – é que o professor orientará a sua prática pedagógica, desenvolvendo métodos e estratégias de ensino. Mas não é suficiente escrever no Plano de Ensino que a metodologia será voltada ao alcance dos objetivos visando que os alunos aprendem na interação, por exemplo. A redação da Metodologia e das estratégias deve ser minuciosa, cuidadosa, não sendo possível deixar para “ver na hora” o que se vai fazer. 76 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação O que se defende é a mudança de postura do professor ‘ensinante’ para o professor ‘que está com’ o aluno para que ele possa aprender (MASETTO, 2001, p. 89). Estratégias incluem toda a organização de sala de aula que vise facilitar a aprendizagem do aluno; abrangem a arrumação dos móveis da classe, o material a ser utilizado [...] Numa palavra, incluem todas as atividades que serão pedidas aos alunos, e as do professorque serão necessárias para complementar, iniciar, organizar ou sintetizar essas atividades dos alunos, tendo em vista sua aprendizagem. (ABREU e MASETTO, 1990, p. 51) Os desafios que se abrem ao pensar nos métodos e estratégias de trabalho são muito grandes frente à história que se apresenta em relação ao dar aula. “O que se defende é a mudança de postura do professor ‘ensinante’ para o professor ‘que está com’ o aluno para que ele possa aprender” (MASETTO, 2001, p. 89). Atuar frente ao cenário da educação implica estar disposto a encenar diferentes ações no dia-a-dia da sala de aula – e estar devidamente preparado para elas. Implica ser ator principal e coadjuvante ao mesmo tempo, buscando sempre o Oscar! Enfim, “trata-se de buscar atividades pedagógicas que sejam mais eficientes e mais eficazes para colaborar com a aprendizagem de nossos alunos e melhorar a qualidade de nossos cursos de graduação” (MASETTO, 2001, p. 86). Que se abram as cortinas para uma atuação digna de aplausos! Atividade de Estudos: 1) Ao conhecer um pouco da origem dos métodos de ensino aplicados no Ensino Superior, foi possível perceber que há muito da herança do modelo escolástico em nossas salas de aula, muito embora se deseje aplicar o modelo humboldtiano que sinaliza a pesquisa como ação determinante no processo de ensino-aprendizagem. De posse das informações prestadas, sintetize o que foi estudado preenchendo a tabela a seguir com as características de cada modelo de ensino apresentado, definindo papel do professor e conhecimento. Características Modelos Metodológicos Do papel do professor Da visão de conhecimento Escolástico Francês-Napoleônico Humboldtiano 77 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 2) Diante do que foi estudado, quais são os dois principais pressupostos que devem ser levados em conta ao se elaborar a Metodologia de ensino? Defina-os e explique o porquê da importância de levá-los em consideração. _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ 3º Ato = Avaliar Estamos observando neste Capítulo a importância de planejar as ações educativas que serão realizadas em sala de aula. De posse dos itens que compõem o Plano de Ensino da Disciplina, analisamos com mais ênfase como se dá o planejamento da metodologia de ensino, observando um breve histórico dos métodos em nível superior e os desafios de elaborá-los a fim de atingir os objetivos propostos. Outra parte do Plano de Ensino que merece destaque, sem desmerecer nenhuma outra, é a Avaliação. O avaliar compreendido como parte do processo de ensino precisa ser analisado com um olhar bastante crítico. Assim, veremos a seguir como definir a avaliação no ensino superior, discutir seus procedimentos e conhecer os desafios a serem enfrentados ao olhar a avaliação como mais um momento constituinte dos princípios básicos que norteiam o fazer docente. Maiores detalhes e orientações práticas com sugestões de avaliações serão abordados no Capítulo 6 deste Caderno de Estudos. 78 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação Geralmente a avaliação é vista como o “bicho papão” da educação! Os professores nem sempre sabem como aplicá-la adequadamente e os alunos nem sempre se sentem preparados para enfrentá-la. É comum termos a avaliação como atividade final do processo educativo, atividade de conclusão, fechamento, com o poder de permitir que o aluno siga adiante em seu curso ou permaneça na mesma disciplina até alcançar os saberes considerados necessários para que possa avançar. Há, assim, uma concepção reducionista e autoritária do processo de avaliação. Reducionista por predominar uma visão quantitativa de avaliação, centrada no aluno. A nota reflete apenas o desempenho cognitivo do aluno e é um momento estanque do processo, servindo para decidir se ele deve ser aprovado ou não. É autoritária, pois o poder de avaliar é do professor, que determina se o aluno deve ou não ser aprovado. (VEIGA, 2010, p. 155) Da mesma forma como observamos uma manutenção sobre a aplicação de métodos de ensino, podemos ver que a configuração da avaliação também se apresenta nos meios escolares com uma permanência na figura da autoridade do professor que avalia e classifica os alunos. Muitas vezes, a falta de uma formação adequada do professor o leva a repetir uma avaliação à qual ele mesmo era submetido em seu processo de escolarização – como já apontamos várias vezes nos textos apresentados nesse material de estudo, nossas vivências como alunos se repetem nas nossas ações como educadores. Mas é preciso ir além. E, neste caso, é preciso ampliar a ideia de avaliar. Avaliação não é “uma atividade que tem por finalidade apenas medir e controlar os resultados de um processo de aprendizagem, verificar o que foi aprendido e fazer um julgamento sobre os resultados” (MASETTO, 2001, p. 100). Se já conferimos ao ato de ensinar, de dar aula, o título de uma ação que deve ser meticulosamente preparada com vistas a atingir os objetivos propostos, precisamos conferir também ao avaliar uma nova conotação. “O primeiro passo para a transformação é dar ao processo de avaliação um novo sentido, isto é, transformá-lo em oportunidade para o aluno ler, refletir, relacionar, operar mentalmente e demonstrar que tem recursos para abordar situações complexas” (MORETTO, 2010, p. 11). Voltemos ao início para repensarmos a avaliação desde a concepção do Plano de Ensino. Ao elaborar seu planejamento, o professor define quais os conteúdos serão estudados – esses conteúdos têm um propósito: promover que os objetivos, previamente selecionados, sejam alcançados. O professor não definirá conteúdos sem ter um porquê, certo? Já discutimos que um planejamento pode ser reconstruído e repensado através de um diagnóstico que o professor faz da turma com a qual vai trabalhar. Nesse momento de Geralmente a avaliação é vista como o “bicho papão” da educação! Os professores nem sempre sabem como aplicá-la adequadamente e os alunos nem sempre se sentem preparados para enfrentá-la Muitas vezes, a falta de uma formação adequada do professor o leva a repetir uma avaliação à qual ele mesmo era submetido em seu processo de escolarização 79 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 É preciso entender o avaliar como uma atitude presente continuamente no processo ensino- aprendizagem – os instrumentos avaliativos é que devem ser pensados, organizados e planejados, amparados nessa visão contínua de avaliar e com a finalidade de investigar se está havendo aprendizagem, se os objetivos estão sendo atingidos. elaboração do Plano de Ensino da Disciplina, já é possível inserir a avaliação como um instrumento a favor dos alunos e do professor! Sabendo que há uma série de objetivos a serem alcançados e o quão ligados à metodologia eles estão, nada mais justo, então, que conectá-los também à avaliação! Ao decidir quais habilidadese competências os conteúdos definidos devem desenvolver nos alunos, temos a definição de parâmetros de avaliação. Ao apresentarmos aos alunos quais objetivos pretendemos atingir com determinada disciplina, já deixamos claro àquele grupo de estudantes o que se espera dele – consequentemente a avaliação passa a fazer parte do processo. À medida que se tem claro onde se quer chegar, fica mais fácil avaliar o caminho que se está percorrendo. Assim, podemos definir que a avaliação é a capacidade de refletir sobre o processo de aprendizagem, buscando informações (feedback) para nossos alunos que o ajudem a perceber o que estão aprendendo, o que está faltando, o que merece ser corrigido, o que é importante ser ampliado ou completado, como eles poderão fazer melhor isto ou aquilo. Avaliação, em poucas palavras, é a capacidade de motivar nossos alunos para desenvolverem seu processo de aprendizagem. (MASETTO, 2001, p. 100) Por isso é preciso entender o avaliar como uma atitude presente continuamente no processo ensino-aprendizagem – os instrumentos avaliativos é que devem ser pensados, organizados e planejados, amparados nessa visão contínua de avaliar e com a finalidade de investigar se está havendo aprendizagem, se os objetivos estão sendo atingidos. No Capítulo 6 serão apresentados modelos de instrumentos de avaliação. Abreu e Masetto (1990, p. 91-97) sistematizaram oito pontos sobre a avaliação “que nos permitem uma visão de conjunto sobre ela”, buscando “fornecer diretrizes para uma reflexão sobre a nossa prática pedagógica, revendo-a.” Vejamos quais são esses oito pontos, cada um com uma adaptação das explicações dos autores: 80 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação A avaliação, como um processo contínuo, permite um contínuo reiniciar do processo de aprendizagem, até atingir os objetivos finais. O processo de avaliação está relacionado ao processo de aprendizagem. 1 – O processo de avaliação está relacionado ao processo de aprendizagem: ou seja, se o professor e o aluno estão empenhados em atingir os objetivos propostos, ambos decidem se estão no caminho certo ou se precisam fazer redirecionamentos a fim de conseguirem uma aprendizagem. “Trata-se, portanto, de um processo de aprendizagem que, para ser levado a bom termo, conta com um processo de avaliação” (1990, p. 92). 2 – O processo de avaliação deve ser pensado, planejado e realizado de forma coerente e consequente com os objetivos propostos para a aprendizagem: uma vez deixado claro no planejamento quais os objetivos que se pretende atingir com determinada disciplina e seus conteúdos, tem-se definidos os critérios de avaliação. Objetivos e processo de avaliação, estando definidos claramente, são de pleno conhecimento tanto do professor como do aluno, dando segurança ao comportamento de ambos: o aluno sabendo aonde deverá chegar e que passos deverá percorrer para isso; o professor, sabendo quais as aprendizagens a serem adquiridas pelo aluno e através de que referenciais se poderá determinar se foram ou não de fato conseguidas. (1990, p. 93) 3 – O processo de avaliação, para acompanhar o processo de aprendizagem, é contínuo: isso significa que a avaliação não pode ser concentrada apenas no final do processo de aprendizagem, como comumente se faz. É como se a avaliação se alimentasse do processo de aprendizagem, ou seja, ao avaliar continuamente como os alunos vêm atingindo os objetivos, tanto o professor como os estudantes têm um feedback de como o processo está se realizando – podendo ou não sugerir mudanças, alterar instrumentos e estratégias para que a aprendizagem efetivamente ocorra. 4 – A avaliação, como um processo contínuo, permite um contínuo reiniciar do processo de aprendizagem, até atingir os objetivos finais: assim, de posse dos objetivos e avaliando continuamente o processo de aprendizagem, professor e alunos têm noção se estão ou não atingindo os objetivos, decidindo em conjunto se podem seguir para o próximo passo. “Um plano de aprendizagem adequadamente elaborado, incluindo, portanto, um processo contínuo de avaliação, levará o aluno à consecução dos objetivos e, por conseguinte, à aprovação final” (1990, p. 94). 5 – O processo de avaliação deverá estar voltado para o desempenho do aluno: quer dizer que “é importante acompanharmos seu desenvolvimento, a partir do desempenho concreto em cada uma das atividades e procurarmos, com máximo de objetividade, colaborar com a evolução do próprio aluno em direção aos objetivos” (1990, p.95). 81 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 O avaliar deve incidir sobre todos os aspectos, não recaindo apenas sobre os alunos, mas também sobre o desempenho do professor e a adequação do planejamento. Porque a não-aprendizagem pode ocorrer não apenas pela falha do aluno, mas também pela falta de preparação do professor ou pela falha no plano de ensino. 6 – O processo de avaliação deverá incidir também sobre o desempenho do professor e a adequação do plano: se levarmos em conta que o processo de aprendizagem envolve três pilares – ou seja, o professor, o aluno e o conhecimento – temos em mãos os três elementos que se articulam em sala de aula: o professor, o planejamento (que contém, entre outras vertentes, o conhecimento definido) e o aluno. Dessa forma, o avaliar deve incidir sobre todos os aspectos, não recaindo apenas sobre os alunos, mas também sobre o desempenho do professor e a adequação do planejamento. Porque a não-aprendizagem pode ocorrer não apenas pela falha do aluno, mas também pela falta de preparação do professor ou pela falha no plano de ensino. A avaliação de todos os aspectos que envolvem a rotina da sala de aula pode levar a retomadas e redefinições, contribuindo para uma significativa melhora no processo ensino-aprendizagem. 7 – Em todo processo de avaliação requer-se uma capacidade de observação e de registro por parte do professor e, se possível, por parte do aluno também: para que a avaliação se faça realmente presente como um processo contínuo, é necessário que o professor desempenhe uma cuidadosa observação de seus alunos no tocante à aprendizagem dos mesmos, ou seja, cabe ao professor observar como ela vem ocorrendo. Como instrumento de observação, há o registro. Mesmo que seja breve, com poucas palavras, o professor precisa registrar como ele vem acompanhando o desempenho de seus alunos – ou ficará muito difícil orientar e fazer os encaminhamentos necessários para que os alunos atinjam os objetivos propostos. 8 – Dependendo dos seus participantes, podemos ter apenas uma heteroavaliação [avaliação realizada pelo professor] ou contar também com a autoavaliação: se autoavaliar “exige o desenvolvimento de habilidades como a de observar a si mesmo, comparar e relacionar seu desempenho com os objetivos propostos, honestidade pessoal para reconhecer tanto seus sucessos como suas falhas” (1990, p. 96). A autoavaliação é uma atividade que requer aprendizagem e treino para não virar desculpa, e exige um ambiente de cooperação e confiança entre professor e aluno. “Se constitui num dos instrumentos mais preciosos para que o aprendiz tome consciência do processo de aprendizagem e assuma sua participação no mesmo” (1990, p. 97). Observada uma definição de avaliação como atitude permanente e constante no processo educativo, que envolve tanto o professor quanto os alunos, podemos apontar que seu maior desafio se concentra em ser encarada como “um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas”, como 82 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula:Planejamento, Metodologia e Avaliação Que não é acabando com a prova escrita ou oral que melhoraremos o processo de avaliação da aprendizagem, mas ressignificando o instrumento e elaborando-o dentro de uma nova perspectiva pedagógica (MORETTO, 2010, p. 9). afirma Vasco Pedro Moretto (2010). O mesmo autor nos desafia, afirmando que “não é acabando com a prova escrita ou oral que melhoraremos o processo de avaliação da aprendizagem, mas ressignificando o instrumento e elaborando-o dentro de uma nova perspectiva pedagógica” (MORETTO, 2010, p. 9). Uma perspectiva que tem alunos e professores como atores de um processo de ensino e aprendizagem contínuo. Assim sendo, ao elaborar nosso Plano de Ensino da Disciplina, precisamos estar cientes dos objetivos que desejamos atingir. Dessa maneira, poderemos elaborar Metodologias mais apropriadas para promover o aprendizado, tendo como pano de fundo um Avaliar que permita construções e reconstruções, encaminhamentos mais significativos, motivação e, consequentemente, a aprendizagem. Que o planejar e o agir em sala de aula sejam um ensaio e uma atuação continuamente observados por um olhar crítico na constante busca do aprender. Atividade de Estudos: 1) Considerando o avaliar como uma atividade contínua no processo de ensino-aprendizagem, diferencie Avaliação de Instrumentos de Avaliação. _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ 2) A título de síntese e com o objetivo de preparar-se para uma melhor compreensão do Capítulo 6, que trata de Instrumentos de Avaliação, defina a função da Avaliação no Ensino Superior. _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ 83 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior Capítulo 3 Algumas Considerações Ser professor é estar ciente da sua função de promover aprendizagem. Mas, para tal, é preciso organizar-se, é preciso definir o que será ensinado, por que isso será feito, como e quando. É dirigir a própria ação com a construção de um Plano de Ensino que lhe permita agir, comunicar e até reinventar suas atitudes à medida que ele entra em contato com os outros atores que irremediavelmente estão envolvidos nesse planejamento: os alunos. Prezado estudante, a título de contextualização desse Capítulo, afirmamos que o ensinar e o aprender constituem um espetáculo sem fim. Pode haver um antes, quando planejamos nossas ações, quando ensaiamos nossas atuações. Há um durante, quando colocamos em práticas as ações tão cuidadosamente planejadas. Mas é impensável considerar que o ensinar e o aprender cheguem a um fim, que culminem em uma avaliação que aprove ou desaprove. É certo que há ciclos que se concluem, mas o que se deseja é que todo o fazer docente, com seu planejamento, suas estratégias e seu avaliar contínuo, motivem constantemente os envolvidos no processo a uma constante busca pelo conhecer, pelo aprender. Que aqueles que atuam nesse espetáculo se sintam motivados a buscar outras plateias, mas a manterem-se nesse palco de constante aprendizado. Referências ABREU, Maria Celia; MASETTO, Marcos Tarciso. O professor universitário em aula. 11ª ed. São Paulo: MG Ed. Associados, 1990. ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Metodologia de ensino na universidade brasileira: elementos de uma trajetória. In: CASTANHO, Sérgio; CASTANHO, Maria Eugênia (orgs.). Temas e textos em metodologia do ensino superior. 7ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p.57-69. CHIZZOTTI, Antonio. Metodologia do ensino superior: o ensino com pesquisa. In: CASTANHO, Sérgio; CASTANHO, Maria Eugênia (orgs.). Temas e textos em metodologia do ensino superior. 7ªed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p.103-112. GIL, Antonio Carlos. Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2011b. 84 Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação MASETTO, Marcos Tarciso. Atividades pedagógicas no cotidiano da sala de aula universitária: reflexões e sugestões práticas. In: CASTANHO, Sérgio; CASTANHO, Maria Eugênia (orgs.). Temas e textos em metodologia do ensino superior. 7ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p.83-102. MORETTO, Vasco Pedro. Prova: um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010. RANGEL, Mary. Métodos de ensino para aprendizagem e a dinamização das aulas. 5ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2010. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Ensino e avaliação: uma relação intrínseca à organização do trabalho pedagógico. In: _____ (org.) Didática: o ensino e suas relações. 17ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2010. p.149-169. VIELLA, Maria dos Anjos Lopes. 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