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Nº11 - Ano 2008 - 4€ | Julho/Agosto/Setembro
Revista trimestral de ciência e investigação em saúde
Abordagem autónoma
do enfermeiro na dor
Neuromodulação 
cerebral
Tratamento Médico da Epilepsia
A evolução na 
Farmacoterapia
2
AF Anuncio 2 ISAVE 2008 path 13/06/2008 14:59 Page 1 
Composite
C M Y CM MY CY CMY K
1
Editorial
«Quem tem coragem, é;
Quem sabe, actua;
Quem acredita, inova».
 Agostinho da Silva
Foi com coragem que o ISAVE e a Ser Saúde ganharam esta forma, 
cresceram em vida, experiência e humanidade.
Foi actuando diariamente, com paixão, em respeito pelos valores e pela 
ética que transformamos a educação em desenvolvimento e o trabalho em 
liberdade.
Foi a acreditar que inovamos. No ensino, na ciência, nas pessoas, na Ser 
Saúde. Inovamos nos meios com a construção de um dos mais modernos 
institutos portugueses na área da saúde, inserido em meio rural, equipado 
com as últimas tecnologias. Inovamos no futuro ao proporcionarmos aos 
nossos alunos o ensino de valores e da excelência. Acreditamos e inovamos 
em múltiplos momentos, em todos, e será sempre esta a nossa forma de 
actuar, de ser, de estar… continuamos a sonhar, a acreditar nas pessoas, em 
Portugal e no mundo.
A saber e a actuar. Sabemos que o nosso caminho, criado em bases sólidas 
e que se estendem pelo mundo, tem amanhã e perdura pela qualidade dos 
valores humanos que estruturam toda a nossa razão de ser e estar.
Acreditamos que o saber não tem fronteiras e é na junção de saberes que 
a ciência se descobre nessa humildade de uma sabedoria de incerteza 
constante.
Entregamos o prémio Ser Saúde/ISAVE de ciência e investigação em 
saúde.
Queremos deste modo contribuir para o desenvolvimento do 
conhecimento de Portugal e do mundo.
Neste caminho, sempre connosco, um Homem: Monsenhor Cónego 
Doutor Eduardo de Melo Peixoto.
“Quando a perda se reporta aos afectos, resta-nos a memória de um 
Homem único, maravilhoso…
Obrigado Monsenhor.
Adeus Amigo, até à Eternidade…”.
José Manuel dos Santos Henriques
Presidente do ISAVE
2
16
Ramiro Délio Borges de Meneses
Juramento de Hipócrates
Entre o sentido e o valor
O ethos médico foi, desde longa data, expresso 
em juramentos e códigos, que ao mesmo 
tempo orientavam e protegiam o médico, 
proporcionavam confiança ao doente e à 
sociedade. Entre eles, merece especial relevo o 
célebre Juramento de Hipócrates, verdadeiro 
programa de inúmeras gerações de médicos 
e que, ainda hoje, é usado em algumas 
universidades, adaptado sob o nome de 
Declaração de Genebra.
32
Paulo Linhares
Neuromodulação cerebral
A neuromodulação cerebral é uma área em 
desenvolvimento crescente havendo cada 
vez mais indicações para a sua utilização. 
Perfeitamente estabelecida nalgumas 
patologias, permanece ainda em fase 
experimental em muitas das novas indicações. 
O melhor conhecimento da fisiopatologia 
das doenças e a melhoria das técnicas 
cirúrgicas têm-na tornado numa cirurgia 
segura e eficaz, sendo uma ferramenta 
fundamental na neurocirurgia moderna.
42
Entrevista a Mário Simões
Para o cérebro, pensar e 
imaginar é o mesmo que 
fazer
Somos capazes, hoje, utilizando somente 
estados hipnoidais, de fazer realmente 
projectos de cura, por exemplo, na dor 
crónica, fobias, problemas de relações 
interpessoais, diminuir alguns sintomas de 
doenças graves, que não curamos, como 
cancros, neoplasias, mas melhoramos a 
qualidade de vida, aumentamos a sobrevida, 
porque vamos estimular no imaginário, 
através de visualização, defesas do indivíduo, 
tipo imunológico, através do ponto de vista 
imaginário.
56
Gilberto Alves, Nulita Lourenço, Amílcar Falcão
Tratamento Médico da 
Epilepsia (Parte I)
A evolução na 
Farmacoterapia
A epilepsia não é uma condição patológica 
única, mas antes uma família de diversas 
perturbações do cérebro, de etiologias 
variadas, que têm em comum uma 
predisposição aumentada para interrupções 
recorrentes e imprevisíveis da função cerebral 
normal, designadas crises epilépticas.
Poster
Carla Susana Oliveira, Eduarda Bastos,
Flávia Silva
Onde está o exemplo?
Reunião de Formação de Pediatria: Nutrição
3
68
Ana Azevedo, Isabel Maia, João Pedro, Jorge 
Ribeiro, Marta Barbosa
Abordagem autónoma do 
enfermeiro na dor
A singularidade e individualidade de cada 
pessoa confere ao fenómeno dor um 
carácter subjectivo e único que depende da 
percepção individual, da percepção do utente, 
influenciada por vários factores mas, também, 
da percepção do enfermeiro, sendo, mais 
uma vez, fundamental salientar a importância 
da sensibilização para este fenómeno e do 
desenvolvimento de uma relação terapêutica 
que irá consolidar a comunicação e a 
confiança entre enfermeiro/utente, pilar 
preponderante para o estabelecimento do 
plano terapêutico.
86
Felipe José Aidar, André Carneiro, António 
Silva, Victor Reis, Nuno Garrido, Rui Vieira
Paralisia Cerebral e 
actividades aquáticas: 
aspectos ligados à saúde e 
função social
A Paralisia Cerebral, segundo a World Health 
Organization, é denominada também como 
encefalopatia crónica não progressiva da 
infância. Os distúrbios caracterizam-se pela 
falta de controlo sobre os movimentos, 
isto devido a modificações adaptativas 
musculares, comprimento muscular e até 
com deformações ósseas. O quadro tende 
a comprometer o processo de aquisição de 
habilidades, com possibilidade de prejudicar 
actividades quotidianas realizadas por crianças 
durante o seu desenvolvimento.
96
Carla Cristina Alves da Silva, Sandra Maria Alves 
Branco Miguel
Exercícios físicos no 
pós‑parto
O período de puerpério, também conhecido 
como período pós-parto, dura cerca de seis 
semanas. Em nenhuma outra fase da vida da 
mulher as modificações físicas são tão grandes 
e acontecem em tão curto espaço de tempo.
106
Carlos Manuel de Sousa Albuquerque, Ana 
Paula Soares de Matos
Área de formação e 
dimensões psicológicas:
Um estudo com jovens 
estudantes universitários
Reportando-nos aos resultados obtidos 
na nossa investigação, numa tentativa 
de elaborar o perfil dos estudantes com 
formação académica superior na área da 
saúde (comparativamente com os que não 
a têm) podemos dizer que, duma forma 
geral, se caracterizam por serem jovens para 
quem a vida faz sentido a nível cognitivo 
e emocional, que aceitam e dão sentido às 
experiências negativas tentando ultrapassá-
las, que acham que vale a pena investir nos 
problemas e exigências do dia a dia (que 
são desafios bem vindos e não ameaças 
a ser evitadas) e que acreditam que os 
resultados relacionados com a saúde não são 
contingentes à acção de outras pessoas mas 
que dependem sobretudo deles próprios, 
revelando-se mais autónomos e mais 
independentes de terceiros (familiares, amigos, 
etc.) na manutenção da sua saúde.
4
ISAVE desenvolve protector bucal
Para além do desenvolvimento de trabalhos 
em prótese removível e fixa, o Laboratório de 
Prótese Dentária do ISAVE trabalha na criação de 
dispositivos desportivos para modalidades de forte 
contacto físico, os protectores bucais.
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ct
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O protector bucal é um dispositivo utili-
zado em algumas modalidades desportivas 
e que, pela sua importância, deveria ser mais 
valorizado e consequentemente mais utili-
zado. Quando se fala em protectores bucais, 
normalmente associamos sempre a sua utiliza-
ção ao Boxe, Kick-boxing e Rugby, mas para 
além destas actividades desportivas existem 
outras modalidades em que os atletas estão 
sujeitos a grandes impactos físicos, como é o 
caso do hóquei em patins e do andebol.
A realidade de uso destes dispositivos 
noutros países é muito diferente em relação à 
utilização em Portugal, que é muito baixa ou 
quase inexistente.
No Reino Unido, todo o desporto univer-
sitário em que o contacto físico entre atletas 
esteja presente, o uso deste equipamento é 
obrigatório. Em Portugal, a falta de informa-
ção e motivação sobre a prática de utilização 
de protectores bucais, faz com que o uso 
desses dispositivos não esteja tão patente nas 
nossasmodalidades, dado que os atletas não 
estão sensibilizados para os perigos que podem 
ocorrer e desconhecem os riscos que alguns 
desportos oferecem.
A saúde deve começar pela prevenção e não 
pelo tratamento e, em Portugal, não existe esta 
cultura. É necessário divulgar e o desporto é 
uma boa maneira de promover a saúde, não 
só para os participantes como para os seus 
simpatizantes.
Um estudo feito nos Estados Unidos 
demonstra resultados impressionantes. Mais de 
5 milhões de dentes são perdidos todos os anos 
em actividades desportivas naquele país. São 
mais de 13 700 dentes por dia. A American 
Dental Association estima ainda que mais de 
200 000 traumas orais são prevenidos anual-
mente devido ao uso de protectores bucais. 
Para além de protegerem os dentes, os 
protectores bucais redistribuem as forças de 
impacto evitando fracturas do ângulo ou 
côndilo da mandíbula, hemorragias cerebrais, 
desmaios e lesões do pescoço, sendo que o 
grande papel destes protectores é evitar que o 
maxilar inferior choque com violência contra 
o maxilar superior. As características referidas 
anteriormente são as mais importantes, mas 
é importante salientar o factor psicológico 
do atleta quando o está a utilizar, o que faz 
com que se sinta mais seguro e com confian-
ça reforçada para o confronto e impacto do 
choque durante o tempo de competição.
Licenciada em Prótese Dentária, pós-graduação em Ciências da Educação,Coordenadora do 
Curso de Prótese Dentária do ISAVE, Instituto Superior de Saúde do Alto Ave
Marisa Oliveira
6
Evidentemente, este objecto não apresenta 
apenas vantagens, tem algumas limitações. A 
dificuldade de comunicação com os compa-
nheiros de equipa e um desconforto sentido 
pelo atleta numa região um pouco sensível 
são as principais limitações destes dispositivos, 
mas que são facilmente ultrapassadas. Desta 
forma, treinadores, médicos e fisioterapeutas 
de uma equipa devem incentivar o uso deste 
equipamento.
Quando um atleta usa um protector bucal 
tem de ter alguns cuidados. Deve ser lavado 
em água corrente, fria, pois o calor danifica o 
material, deve ser guardado em caixas perfu-
radas, e antes de uma nova utilização, deve 
ser novamente passado por água corrente 
fria. Quando o atleta usa este tipo de protec-
tor, sendo criança ou adolescente, deve ser 
controlado periodicamente a sua adaptação 
na boca, devido ao seu crescimento e erupção 
dentária.
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e
Tipos de Protector Bucal
O protector bucal tem diversas formas de 
comercialização, sendo uns encontrados em 
lojas de desporto e outros confeccionados em 
laboratório de Prótese Dentária. Estima-se que 
cerca de 90% dos protectores bucais utilizados 
são adquiridos nas lojas de desporto, sendo 
apenas 10% diagnosticados, encomendados e 
confeccionados por um profissional de saúde 
nos referidos laboratórios. Esta discrepância 
de valores deve-se à falta de divulgação nos 
departamentos médicos dos clubes e aos 
próprios atletas. 
Podemos encontrar, três tipos de protectores 
bucais disponíveis no mercado: standard ou 
pré-fabricado, termoplásticos e individuais.
7
Protector Bucal Standard ou 
Pré‑fabricado
Este tipo de protector poderá ser encon-
trado em lojas de desporto, e disponível em 
três tamanhos: pequeno, médio e grande. 
De todos os tipos de protectores é o que 
tem menor retenção e é fixado na boca sob 
pressão oclusal. É desconfortável, exerce fraca 
protecção, interfere na respiração e na fala do 
atleta, são extremamente volumosos e têm 
uma retenção mínima, fazendo com que este 
protector bucal seja o menos aceitável e o 
menos protector.
A principal vantagem é o seu preço acessível 
e está pronto a ser usado após a compra, pois 
não necessita de preparação adicional.
Protector Bucal Termoplástico
O protector bucal termoplástico é molda-
do e ajustável pelo utilizador. É de qualidade 
superior ao protector standard ou pré-fabri-
cado, pois tem maior retenção e o seu valor 
comercial é de igual modo reduzido.
Sendo constituído por um material termo-
plástico, deve ser previamente aquecido e 
depois moldado na boca do atleta. À primeira 
vista pode ser interpretada como sendo uma 
vantagem, mas muitas vezes torna-se incó-
modo, pois o atleta pode sofrer queimaduras 
na mucosa durante a adaptação do material. 
Outra grande desvantagem é o facto de 
poder ser feita uma má moldagem à boca o 
que implicará futuros problemas oclusais e 
a maior parte deste tipo de protectores não 
cobre por completo a arcada do indivíduo, 
mais precisamente a zona posterior. Este tipo 
de protector bucal é o mais procurado no 
mercado e encontra-se disponível por tama-
nhos base.
Uma característica que se mantém, compa-
rando com o protector anteriormente referido, 
é o facto de serem alteradas as propriedades 
do material por modificações feitas pelos seus 
utilizadores. São estes tipos de protectores que 
proporcionam um sentido falso de protecção, 
devido à diminuição significativa da espessura 
oclusal do equipamento, quando moldado à 
boca do atleta.
Para além de protegerem os dentes, 
os protectores bucais redistribuem as 
forças de impacto evitando fracturas 
do ângulo ou côndilo da mandíbula, 
hemorragias cerebrais, desmaios e 
lesões do pescoço.
8
Protector Bucal Individual
Dentro dos protectores bucais individuais há 
dois modelos de protectores confeccionados, 
os protectores bucais individuais realizados em 
sistema de vácuo e individuais realizados em 
sistema de vácuo sob baixa pressão.
O protector bucal individual é confeccio-
nado em silicone e pode ser feito com várias 
espessuras, quanto maior esta espessura maior 
será a protecção. Este tipo de dispositivo já 
pode ser adaptado a pacientes sujeitos a trata-
mento ortodôntico e com dentes em erupção. 
É considerado o mais elaborado e de melhor 
qualidade disponível no mercado, pois recobre 
todas as superfícies oclusais, previne lesões na 
ATM e a fractura mandibular.
Este dispositivo é confeccionado num 
modelo de gesso, réplica da boca do atleta, 
a confecção é feita por adaptação de uma 
ou mais placas de silicone ao modelo numa 
máquina de vácuo. Tem a vantagem de poder 
ser modificado por adição de placas até que 
tenha uma espessura desejada para o atleta e a 
modalidade em questão.
Máxima protecção 
Protector para desportos de alto impacto 
e/ou que envolvam a utilização de stiks. 
Constituído por 3 camadas: 1ª - 2 mm flexí-
vel, 2ª - 0,8 mm rígida, 3ª - 4 mm flexível. 
Exemplo: Rugby, kickboxing, boxe, hóquei, 
squash, etc. 
Excelente protecção/máximo conforto. 
Protector para desportos de alto impacto 
e/ou que envolvam a utilização de stiks. 
Constituído por 3 camadas: 1ª - 2 mm flexí-
vel, 2ª - 0,8 mm rígida, 3ª - 2 mm flexível. 
Exemplo: Rugby, kickboxing, hóquei, karaté, 
basquetebol, andebol, etc. 
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Medium – média protecção 
Protector para a generalidade dos desportos 
onde haja risco de impacto com superfícies 
largas (braços, cabeças, etc.). Constituído por 
2 camadas: 1ª - 2 mm Flexível, 2ª - 4 mm 
flexível.
Exemplo: Basquetebol, andebol, luta livre, 
judo, etc.
Light – leve protecção 
Protector para crianças com idade inferior 
a 10 anos e/ou desportos onde haja risco de 
impactos dos dentes inferiores com os supe-
riores. Constituído por 2 camadas: 1ª - 2 mm 
flexível, 2ª - 2 mm flexível.
Exemplo: Motocross, btt, etc.
A criar, a inovar, o Laboratório de Prótese 
Dentária do ISAVE assume-se como pioneiro 
na criação de protectores bucais desenvol-
vidos conforme as necessidades de cada 
atleta. Feitos à medida, o Laboratório sabe que 
protege e cria um elemento fundamental para 
a protecção e saúde de atletas. O Laboratório 
de Prótese Dentária do ISAVE é único em 
Portugal no desenvolvimento de protectores 
bucais à medida de cada atleta.
O protector bucal individual 
é confeccionado em silicone 
e pode ser feito com 
várias espessuras… pode 
ser adaptado a pacientes 
sujeitos a tratamento 
ortodôntico e com dentes 
em erupção.
É considerado o mais 
elaborado ede melhor 
qualidade disponível no 
mercado, pois recobre 
todas as superfícies oclusais, 
previne lesões na ATM e a 
fractura mandibular.
Revista Trim
estral de ciência e investigação em
 saúde
4
15
15
Colégio 7 Fontes
Quinta do Cedro - Sete Fontes
S. Victor
4710-348 Braga
Telefone - 253.263.096/097
Fax - 253.263.098
colegio7fontes@gmail.com
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Colégio 7 Fontes Academias:
Do Berço à Universidade,
a Educar o seu Filho.
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12
Conselho Científico Ser Saúde
Adelino Correia
Adília Rebelo
Adrian Llerena
A. Fernandes da Fonseca
Alberto Salgado
Albina Silva
Alexandre Antunes
Alexandre Castro Caldas
Alexandre Quintanilha
Almerinda Pereira
Alves de Matos
Amílcar Falcão
Ana Preto
António Miranda
António Paiva
António Rosete
Armando Almeida
Arminda Mendes Costa
Artur Manuel Ferreira
Berta Nunes
Carla Matos
Carlos Alberto Bastos Ribeiro
Carlos Albuquerque
Carlos Pedro Castro
Carlos Pereira Alves
Carlos Valério
Carmen de la Cuesta
Catarina Tavares
Célia Cruz
Célia Franco
Constança Paúl
Daniel Montanelli
Daniel Pereira da Silva
Daniel Serrão
Delminda Lopes de Magalhães
Dinora Fantasia
Duarte Pignatelli
Eduarda Abreu
Elsa Pinto
Eurico Monteiro
Fátima Francisco Faria
Fátima Martel
Fernando Azevedo
Fernando Duarte
Fernando Schmitt
Fernando Ventura
Freire Soares
Guilherme Macedo
Gustavo Afonso
Gustavo Valdigem
Helena Alves
Helena Martins
Henrique de Almeida
Henrique Lecour
Isabela Vieira
João Costa
João Luís Silva Carvalho
João Pedro Marcelino
João Queiroz
João Ramalho Santos
Joaquim Faias
Jónatas Pego
Jorge Correia Pinto
Jorge Delgado
Jorge Ferreira
Jorge Marques
13
Jorge Soares
Jorge Sousa Pinto
José Amarante
José Carlos Lemos Machado
José Eduardo Cavaco
José Eduardo Lima Pinto da Costa
José Luís Dória
José Manuel Araújo
José Matos Cruz
José M. Schiappa
José Rueff
Laura Simão
Liliana Osório
Lisete Madeira
Lucília Norton
Luís Basto
Luís Cunha
Luís Martins
Luiza Kent-Smith
Madalena Nunes
Manuel Antunes
Manuel Domingos
Manuel Mendes Silva
Manuel Teixeira Veríssimo
Manuela Vieira da Silva
Marco Oliveira
Margarida Soveral Gonçalves
Mari Mesquita
Maria Júlia Silva Lopes
Maria Manuela Rojão
Maria Margarida Dias
Marina Pereira Pires
Mário Rui Araújo
Mário Simões
Marta Marques
Marta Pinto
Miguel Álvares Pereira
Paulo Daniel Mendes
Pedro Azevedo
Pedro Vendeira
Piedade Barros
Querubim Ferreira
Ramiro Délio Borges de Menezes
Ramiro Veríssimo
Raquel Andrade
Regina Gonçalves
Rosa Martins
Rui L. Reis
Rui de Melo Pato
Rui Nunes
Sandra Cardoso
Sandra Clara Soares
Sérgia Rocha
Sérgio Branco
Sérgio Gonçalves
Sérgio Nabais
Sónia Magalhães
Susana Magadán
Tiago Barros
Tiago Osório de Barros
Wilson Abreu
Veloso Gomes
Victor Machado Reis
Virgílio Alves
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S T Q Q S S D
The 25th International Literature and 
Psychology Conference
02 de Julho
Lisboa
Genetic manipulations in the fruit fly 
fight club: love and war in a single 
gene and other stories
04 de Julho
Lisboa
18º Congresso Internacional de 
Szondi
10 de Julho
Faculdade de Psicologia e de Ciências 
da Educação da Universidade de Lisboa
Na Fronteira da Ciência – Na fronteira 
do universo – Em busca do fim da 
idade das trevas
16 de Julho
Fundação Calouste Gulbenkian
Julho
AG 
EN 
DA
Julho - Agosto - Setembro
14
Director
Eugénio Pinto
sersaude@isave.pt
revistasersaude@gmail.com
Editores
Isabela Vieira
Rui Castelar
Joana Sousa Dias
Director de arte e grafismo
Ângelo Mendes
angelo.silva.mendes@gmail.com
Fotografia entrevista
Jorge Gomes
Publicidade
Celmira Dias
Propriedade
Ensinave
Educação e Ensino Superior do Alto Ave, SA
Campus Académico do ISAVE 
Quinta de Matos – Geraz do Minho
4830-316 Póvoa de Lanhoso
NIF – 504 983 300
Impressão
Orgal, impressores
Rua do Godim, 272
4300-236 Porto
Tiragem
5 mil exemplares / trimestral
Nº de Registo na ERC 124994
ISSN 1646‑5229
Depósito Legal 246971/06
Contactos
Ser Saúde
Campus Académico do ISAVE
Instituto Superior de Saúde do Alto Ave
Quinta de Matos – Geraz do Minho
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Fax – 253 639 801
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epinto@isave.pt
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_____________________________________
Os artigos publicados nesta edição da Ser 
Saúde são da responsabilidade dos autores. 
Proibida a reprodução parcial ou total, sob 
qualquer forma, sem prévia autorização 
escrita.
Caminhos de futuro novos mapas 
para as ciências sociais e humanas
19 de Agosto
Coimbra
6th Intenational Congress on 
Autoimmunity
03 de Setembro
Centro de Congressos e Exposições 
Alfândega, Porto
7th International Conference On 
Disability, Virtual Reality And 
Associated Technologies
08 de Setembro
Fórum Maia
Transportes Transmembranares
10 de Setembro
FMUP
9th International Symposium on 
Aeromonas and Plesiomonas
10 de Setembro
UTAD e Hotel Miracorgo
5.ª Conferência de Actualização em 
Farmacoterapia
12 de Setembro
Auditório do Hospital Fernando da 
Fonseca, Amadora/Sintra
6.ª Conferência de Actualização em 
Farmacoterapia
19 de Setembro
Auditório do Hospital Fernando da 
Fonseca, Amadora/Sintra
Centros de competência e redes de 
referência para as doenças raras 
na UE: estaremos nós à altura das 
expectativas?
25 de Setembro
Auditório do INSA, Lisboa
Feridas Crónicas 
26 de Setembro
Setúbal 
AGOSTO
SETEMBRO
15
Ramiro Délio Borges de Meneses Professor do Instituto Politécnico de Saúde do Norte, Gandra; 
Investigador do Instituto de Bioética, Universidade Católica 
Portuguesa, Porto
Juramento de Hipócrates
Entre o sentido e o valor
17
Desde Hipócrates que os médicos vêm 
fazendo o juramento, que é o acto mais sole-
ne e importante da sua actividade clínica. Será 
apresentado como Código Deontológico, que 
inclui valores da ética e do humanismo.
A prática sanitária planeia exemplos 
reais como a relação profissional/doente, a 
confidencialidade e o segredo profissional, 
o consentimento informado, a aceitação de 
participar em ensaios clínicos, a justa distri-
buição de recursos e o esforço para evitar a 
massificação na assistência.
As deficiências éticas, nestas situações, são 
tão habituais que no final são credíveis como 
normais, porque dos costumes se fazem as 
leis.
A palavra ética significa, na sua origem, 
costume, e chegou a designar a ciência que 
trata dos ideais das correlações humanas, sendo 
uma reflexão categoricamente normativa 
sobre o agir humano. Com o tempo, mudam 
os costumes, muito embora seja a essência da 
ética a mesma, a sua relação com a conduta 
dos indivíduos, na sociedade actual, é distinta, 
porque os valores sociais se modificam.
Tais mudanças históricas denominam-se 
dinâmica dos valores sociais ou ética dinâ-
mica. Esta transforma o nível intelectual, ao 
mesmo tempo que diminui a flexibilidade. As 
causas são múltiplas, mas entre elas está a nova 
mentalidade da cidadania, que mudou esta 
auréola em normas morais. López-Aranguren 
refere-se à moral como ética vivida e à ética 
uma moral pensada.
A conduta do médico deverá pautar-se 
por um conjunto de valores, que norteiam 
a relação médico/doente, com nova leitura 
axiológica e sentido estético, que classificam a 
nossa conduta normativa do agir humano.
O Juramento de Hipócrates contém uma 
afirmação e uma negação testemunhada. 
É a afirmação do compromisso de assumir 
determinadas condutas morais e a negação de 
realizar acções punitivas. A reprovação estará 
na consciência e na perda da auto-estima e 
consideração pelos demais.
No juramento evidencia-se a dignidade 
profissional, o respeito ao mestre, a veneração 
pela pessoa total, particularmente a sua saúde 
e a sua vida e o segredo médico. O Juramento 
Hipocrático é um código deontológico, 
pelo qual o médico faz promessa clínica,que 
embora rotineiro não deixa de ser algo mais 
importante do seu serviço como acto, cuja 
simbologia só é verdadeiramente compreen-
dida pelos mais humanistas.
19
1. Hipócrates (460 a.C. – 360 a.C.) foi 
um médico grego, neto e filho de médicos, 
que eliminou as explicações sobrenaturais da 
origem das doenças e desenvolveu um sistema 
racional baseado na observação. Atribui-se-
lhe o Iusiurandum Hippocraticum, que era um 
código profissional de ética, que praticavam os 
iniciados na confraria de Asclépio.
O Juramento contém uma afirmação ética 
testemunhada. Refere o compromisso de 
assumir determinadas condutas morais e a 
negação de realizar acções maléficas, filoso-
ficamente a reprovação estava na consciência 
pela perda de auto-estima.
No juramento, evidencia-se a dignidade 
profissional, o respeito pelo médico e pelo 
doente, em especial pela saúde e pela sua vida, 
bem como o “segredo médico”.
2. Juro pelo Apolo Médico (Deus do Sol, 
da razão e da Medicina), Asclépio, Higea, 
Panaceia e por todos os deuses e deusas, 
tomando-os por testemunhas, que cumprirei 
este juramento e ofereço a cumprir com todas 
as minhas forças e entendimento.
Tributarei ao meu mestre de Medicina o 
mesmo respeito que aos meus pais, partilhan-
do a minha vida com ele e socorrendo-os se 
necessário seja. Tratarei os seus filhos como 
meus irmãos, se quiserem aprender a ciência, 
ensiná-los-ei, quando estiver falto de meios, eu 
lhes porei à disposição, estimarei a sua família 
como se meus irmãos fossem; e lhes ensinarei 
a arte, se carecerem de apreendê-la sem salário 
e nem contrato; proporcionarei ensinamentos 
escritos, orais e de toda a outra espécie, aos 
meus filhos e aos do meu mestre e aos alunos 
inscritos, que prestam juramento segundo a 
lei médica e a mais ninguém.
Instruirei com preceitos, lições orais e 
demais modos de ensino os meus filhos, os do 
meu mestre e os discípulos, que se me unam 
sob o convénio e juramento, que determina a 
lei médica e a mais ninguém.
Usarei tratamentos para ajudar os que 
sofrem, segundo as minhas forças e o meu 
entender, evitando toda a injúria e toda a 
injustiça.
Não darei veneno mortal algum a quem mo 
pedir, nem fornecerei tal conselho, abstendo-
me igualmente de aplicar às mulheres pessários 
abortivos. Passarei a minha vida e exercerei a 
minha profissão com inocência e pureza. Não 
matarei e operarei os calculosos, deixando tal 
operação aos que se dedicam a praticá-la.
Em qualquer casa que entre, vindo para 
auxiliar os doentes, livrando-me de cometer 
voluntariamente faltas injuriosas ou acções 
corruptas e evitando, sobretudo, abusar dos 
corpos de mulheres ou jovens, livres ou 
escravos.
20
Aquilo que eu vir e ouvir no exercício da 
minha profissão, ou mesmo fora dela, na vida 
corrente, que não convier divulgar, calá-lo-ei, 
entendendo que se não deve dizer, conside-
rando o segredo como um dever sagrado.
Se eu cumprir, com rigor, este juramento 
e não o violar, seja-me concedido que ganhe, 
para sempre, fama, pela minha vida e pela 
minha arte, entre os homens. Se quebrar, sou 
perjuro, e caia sobre mim a sorte contrária1.
3. O ethos médico foi, desde longa data, 
expresso em juramentos e códigos, que ao 
mesmo tempo orientavam e protegiam o 
médico, proporcionavam confiança ao doen-
te e à sociedade. Entre eles, merece especial 
relevo o célebre Juramento de Hipócrates, 
verdadeiro programa de inúmeras gerações de 
médicos e que, ainda hoje, é usado em algu-
mas universidades, adaptado sob o nome de 
Declaração de Genebra (1948). O Juramento 
de Hipócrates reflecte os princípios universais 
da ética profissional médica. Foi apresentado 
como a primeira síntese deontológica para a 
classe dos médicos.
Esta síntese de ética profissional não se sabe 
se terá sido influenciada pelo pensamento 
moral de Aristóteles, particularmente, porque 
o filósofo cita, numa obra, o fundador da 
Escola de Cós.
21
A Declaração de Genebra foi aprovada 
pela Assembleia-Geral da Associação Médica 
Mundial (1948) e referenciada em Sidney 
(1968), podendo enunciar-se da forma 
seguinte:
Prometo solenemente consagrar a minha 
vida ao serviço da humanidade, outorgar aos 
meus mestre o respeito e a beatitude que mere-
cem; exercer a minha profissão dignamente e 
com consciência; velar solicitamente, antes de 
tudo, pela saúde do meu doente; guardar e 
respeitar o segredo profissional; manter incó-
lume, por todos os meios ao meu alcance, a 
honra e as nobres tradições da profissão médi-
ca; considerar como irmãos os meus colegas; 
não fazer caso de credos políticos e religiosos, 
nacionalidades, raças, posição social e econó-
mica, evitando que se entreponham entre os 
meus serviços profissionais e o meu doente; 
manter o máximo respeito pela vida humana, 
desde o mesmo momento da concepção e 
não utilizar – incluso por ameaça – os meus 
conhecimentos médicos para infringir as leis 
da humanidade.
Solene e espontaneamente, sob a minha 
palavra de honra, prometo cumprir tudo 
aquilo que foi dito anteriormente. Tratou-se, 
assim, de uma generalização do Iusiurandum 
Hippocraticum.
4. Este pequeno, mas profundo documento 
hipocrático, é um hino à vida, tal como referiu 
João Paulo II, “sicut iam, illud semperque validum 
confirmavit Hippocratis Iusiurandum, secundum 
quod cuique medico est ad laborandum pro absoluta 
vitae humanae reverentia eiusque sacra índole.”2, e 
que contribuiu para fazer da Medicina uma 
das mais nobres profissões, porque se apresen-
ta, hoje e sempre, como a arte e a ciência do 
curar.
Outros ditames morais terão influen-
ciado este texto, nomeadamente os 
provenientes de Pitágoras (Samos, 570-489 
a.C.) e de Aristóteles (Estagira, 384-322 a.C.), 
que os discípulos ou anteriores a Hipócrates 
utilizaram na redacção do Juramento. Segundo 
Ackernecht, Hipócrates foi o símbolo do 
primeiro período criativo da Medicina Grega, 
rompendo com a Medicina Sacerdotal, dos 
Asclepíades, seguindo-se, após a sua morte, a 
Medicina Diagnóstica.
O Juramento de Hipócrates 
contém uma afirmação e uma 
negação testemunhada. É a 
afirmação do compromisso 
de assumir determinadas 
condutas morais e a negação 
de realizar acções punitivas. 
A reprovação estará na 
consciência e na perda da 
auto-estima e consideração 
pelos demais.
22
5. Alguns dos princípios éticos funda-
mentais, que constituem a principiologia 
contemporânea, encontram-se a fundamentar 
códigos médicos, no domínio ético, como é o 
caso do Iusiurandum.
O princípio da beneficência vem referen-
ciado na conclusão ou cláusula final. O bonum 
est faciendum, que encontramos na Ética a 
Nicómaco, será o princípio ético primeiro 
das actuações médicas. Tal como se vincula 
moralmente, neste Iusiurandum, o princípio 
da beneficência obriga o profissional de saúde 
a usar a máxima ao atender o doente e fazer 
tudo quanto possa para melhorar a saúde. 
Trata-se, desde Hipócrates, em sentido etimo-
lógico, de um princípio básico, que se aplica 
não só ao doente, como também a outros, que 
poderão beneficiar do progresso clínico. Este 
tem como obrigação a “confidencialidade”.
A designação hipocrática, que vem no 
Corpus Hippocraticum é: primum non nocere, 
na versão latina de Anuntius Frösius, de 
Frankfurt-am-Main, em 1624, que hoje em 
dia se qualifica como não-malificência, segun-
do Beauchamp e Childress. Estes consideram 
este princípio distinto do da “beneficência”, 
já que o dever de não causar dano é mais 
obrigatório do que a exigência de promover 
o bem. Para Hipócrates, o primum non nocere 
vem integrado no anterior princípio, tal como 
se refere nos Aforismos, seguindo o sentido da 
aretologia nicomaqueia: bonum est faciendum 
malumque vitandum (… e nunca para o seu 
mal, ao aplicar medicamentos), daqui teremos 
como obrigação a “fidelidade”3.
O princípio da autonomia, não se encontra 
expresso no hipoeratismo ético, já que ele 
surgiu com I. Kant e passou, nos nossos dias, 
para a principiologia clínica. O paternalismo, 
na sociedade grega do tempo de Hipócrates,era um modo natural de tratar os doentes. 
Este paternalismo surge, sobretudo, nos escri-
tos tardios do Corpus Hippocraticum.
Segundo o pensamento hipocrático, o 
médico deve querer o maior bem para o 
doente, mas sem contar com a sua vontade, 
dado que ao doente falta, em princípio, a 
autonomia moral. Assim, surgem, na obra 
hipocrática – Decência – e, em muitas outras, 
os variados sentidos.
A atitude do médico hipocrático é paterna-
lista, no sentido em que considera os doentes 
como incapazes mentais, sendo pessoas que 
não podem nem devem decidir sobre a sua 
própria doença.
Tal como se caracteriza no livro – Epidemia 
–, o paternalismo assume-se como algo de 
materno. K. Deichgraeber definiu o médico 
hipocrático com o título de medicus gratiosus, 
em virtude do termo grego, na obra referida.
Segundo o pensamento kantiano, o princí-
pio da autonomia baseia-se na convicção de 
que o ser humano deve ser livre do controlo 
exterior e ser respeitado nas suas decisões 
vitais. Trata-se de um princípio ético, enrai-
zado na cultura ocidental, que tarda em ter 
repercussão na actividade clínica4.
23
6. O conceito de justiça, analisado por 
Aristóteles, no quinto livro da “Ética a 
Nicómaco”, definida como “equidade”, foi 
sistematizada, no século III, por Ulpiano, insti-
tia est constans at perpetua voluntas ius suum cuique 
tribuere, atravessa, como fundamento, todo o 
Iusiurandum Hippocraticum, tendo como obri-
gação a privacidade, da qual se fala, aquando 
do siggilum. Para Hipócrates, a justiça será um 
modo de ser da physis (natura per se), sendo esta 
um bem através da operação do médico, quer 
pela theoretica quer pela practica do Jusiurandum.
A justiça é um conceito natural e ético, 
dado que a saúde é um estado vital justo. A 
justiça apresenta-se como elemento que defi-
ne a condição da physis do homem. O médico 
sabe conduzir de novo ao que no corpo é 
natureza e justiça. Para o médico hipocrático, 
a doença é, de algum modo, uma injustiça. A 
justiça, no Juramento, abarca a distributiva, a 
cumulativa e a legal, tal como se verifica na 
aretologia teleológica.
Para um grego, o bem moral não é possível 
sem a saúde. Olhando para o ajustamento das 
qualidades físicas, a equidade adequada deter-
mina a justiça moral.
Pelo sentido hipocrático, a justiça consiste, 
segundo o pensamento socrático, no ajusta-
mento da ordem da natureza, seja física, seja 
moral. O médico deve abster-se de causar 
um dano ou uma injustiça. O conceito de 
justiça surge em muitas obras do Corpus 
Hippocraticum.
No Juramento hipocrático, a justiça insere-se 
na terceira parte, denominada habitus, porque, 
no serviço clínico, está sempre presente a 
virtude. Sem esta, nem a phrônesis funciona, 
surgindo um mau exercício da Medicina5.
O ethos médico foi, desde 
longa data, expresso em 
juramentos e códigos, que 
ao mesmo tempo orientavam 
e protegiam o médico, 
proporcionavam confiança 
ao doente e à sociedade. 
Entre eles, merece especial 
relevo o célebre Juramento 
de Hipócrates, verdadeiro 
programa de inúmeras 
gerações de médicos e 
que, ainda hoje, é usado 
em algumas universidades, 
adaptado sob o nome de 
Declaração de Genebra.
24
7. O Juramento de Hipócrates enumera 
alguns procedimentos clínicos, que carecem 
de reflexão ética, correspondendo àquilo a 
que chamamos Bioética, nos dias de hoje (Van 
Potter) e estando integrados na vida hospitalar, 
e são eles:
• Farmacovigilância e Farmacodinamia, 
em ordem à cura da doença, não provocando 
outras, desde um remédio mortal (veneno), 
segundo a toxicologia, aos fármacos;
• O planeamento familiar, segundo a prática 
de substâncias não abortivas, para não permi-
tir a morte fetal, seguindo-se métodos, que 
se conheciam desde a civilização egípcia (os 
métodos mecânicos e os químicos sugerem a 
condenação do aborto);
• Há uma referência à eutanásia activa e 
indirectamente à forma passiva (conselho que 
leve o doente à morte): “não darei qualquer 
droga fatal a uma pessoa”.
Desta forma, a escola hipocrática já se 
posicionou contra o que hoje denominamos 
como eutanásia e suicídio assistido.
A mesma posição assumiram Pitágoras e 
Aristóteles. Não se referencia a distanásia e a 
cacotanásia.
Era natural que estas referências não surjam 
nos Conselhos de Asclépio, mas estariam 
presentes em civilizações circunvizinhas.
A cirurgia nunca foi grande apanágio da 
Escola de Cós, até porque muito se perdeu 
sobre os escritos hipocráticos, em virtude da 
extracção de cálculos, deixando a alguém que 
saiba cirurgia.
Na interpelação deste ponto, surge a 
promessa de não praticar a cirurgia da litíase 
vesicular. Assim, Edelstein refere a aversão dos 
pitagóricos e da Escola de Cós à Cirurgia6.
8. No Juramento, múltiplas são as refe-
rências, quer directas, quer indirectas no 
âmbito da ética profissional, a começar pela 
responsabilidade. O termo spondere (spondeo) 
define etimologicamente um compromisso 
com alguém, possuindo um carácter religio-
so. No idioma grego, significa a “obrigação”, 
que deriva do rito. Segundo Hipócrates, 
as ocupações (cirurgia) estavam sujeitas à 
responsabilidade jurídica, enquanto as profis-
sões (a arte de curar) estão sob orientação da 
responsabilidade moral. O profissionalismo 
responsável, na altura, era impune. Mas, o 
médico exerce, profissionalmente, uma procla-
mação e promete um sacerdócio fisiológico.
O Juramento, no domínio da ética profis-
sional, refere-se ao segredo, que poderá ter 
vários sentidos, desde o segredo religioso ou 
sacerdotal até ao familiar. Assim diz o texto: 
“tudo o que vir e ouvir no exercício da minha 
profissão e no comércio da vida comum e que 
não deva ser divulgado, conservar-se-á como 
segredo”.
25
No exercício da sua profissão, o médico 
terá de cumprir deveres perante o doente, 
em relação com os outros médicos e frente 
à physis, que estão indirectamente expressos 
no Juramento e escritos noutros textos do 
Corpus Hippocraticum, que são matéria de Ética 
Profissional.
O médico favorece o doente, quando, para 
tratar dele, escolhe os melhores recursos tera-
pêuticos, ao seu alcance, e assim executa recta 
e belamente, quando é assíduo nas visitas e 
sabe respeitar o decoro do doente.
A intuição do terapeuta terá em conta, 
além da saúde, a – euskhemosyne – do doente, 
porque na boa aparência resplandece a perfei-
ção da physis.
Logo, procedendo assim, o médico obser-
va, com reverência, um decreto inabalável da 
divina natureza ao aceitar os limites da sua arte 
e o seu próprio limite, evitando um pecado da 
Hybris.
Um ponto fundamental da relação ética, 
entre o médico e o doente, no aspecto profis-
sional, refere-se aos “honorários”.
Nos escritos hipocráticos, vitupera-se o 
lucro desonesto (diskhrokerdeie) e afirmam-se 
os riscos ao acreditar na força do dinheiro 
para comprar a cura.
Segundo os “Preceitos” a relação económica 
entre o médico hipocrático e os seus doentes 
teve de se ajustar às seguintes normas:
• Para o médico hipocrático, servidor da 
natureza, os honorários só se justificarão etica-
mente, quando a conduta profissional procura 
a perfeição na arte, que pratica. Não se pensa 
no salário, sem o desejo de buscar instruções. 
O bom médico deverá ser sempre aprendiz da 
sua arte, isto é, o que, em última análise, justifi-
caria a sua ganância;
• O médico honrado, segundo a rapidez do 
mal, não deverá buscar o que lhe dá proveito, 
mas aquilo que lhe dá glória;
• O médico deverá ter em conta, ao estabe-
lecer a quantia dos seus honorários, a situação 
económica do doente, sem abusar na exigên-
cia e na ausência de humanidade;
• Muitas vezes, o médico prestará serviços 
gratuitamente, ora na recordação de um favor 
recebido, ora para conseguir fama. Assim, 
deverá proceder o médico, quando o doente 
for estrangeiro ou pobre. É neste contexto 
que surge a frase: onde há amor ao homem, 
surgirá o amor à arte7.
Segundo a ética profissional hipocrática, 
a assistência gratuita, ao doente, tinha dois 
motivos fundamentais: ânsia de fama e o amorao homem-doente. E, através deste, o amor 
à natureza. Resumidamente, diríamos que se 
trata de uma “filantropia fisiológica”.
26
9. O Juramento começa, desde logo, com 
uma evocação mitológica, na qual se define 
o “apolinischer Artz” e se apela aos deuses da 
saúde, para que o clínico cumpra, ora, segundo 
a norma objectiva da moralidade (recta ratio), 
ora, de acordo com a norma subjectiva, as 
virtudes noéticas. Já de si o preâmbulo, como 
cláusula inicial, inclui uma pedagogia e antro-
pologia clínicas.
O sentido pedagógico e antropológico do 
Juramento encontra-se delineado no empe-
nho. Estimarei, como meus pais, aqueles que 
me ensinaram esta arte… e ensinar-lhe-ei 
a mesma, sem retribuição e sem promessa 
escrita.
Aqui se refere ao ensino da Medicina, muito 
particularmente à Semiologia e Semióptica 
clínicas, apanágio do prognóstico da Escola 
de Cós, em oposição ao método de ensino da 
Escola de Cnide.
No Iusiurandum, encontramos os três níveis 
de conhecimento clínico de P. Entralgo, isto 
é, conhecimento expositivo, conhecimento 
etiológico e conhecimento interpretativo.
Assim surge a preocupação e a obrigação 
de ensinar e transmitir conhecimentos sobre 
a arte de curar. A saúde e a doença, na arte 
de curar, serão uma obrigação, não jurídica, 
mas religiosa e moral. O texto hipocrático 
cria uma obrigação, sendo uma espécie de 
promessa solene. Daqui se traduz o sentido da 
primeira parte do compromisso8.
10. O Juramento, um dos mais célebres 
textos médicos de todos os tempos, contém os 
preceitos essenciais da deontologia profissio-
nal e clínica. Naturalmente, J. Jouanna salienta 
que este texto alia a elevação das ideias da 
arte de curar e a sobriedade da forma, onde a 
moral pagã atingiu de uma só vez o cume. Por 
isso, segundo este especialista da História da 
Medicina Grega, foi integralmente retomado 
pelos árabes e pelos cristãos, que se conten-
taram em substituir as divindades invocadas 
(Apolo Médico, Asclépio, Higeia e Panaceia, 
bem como todos os deuses e deusas) pelo seu 
Deus, uno e trino.
Este texto, que marcou, durante dois mil 
trezentos e cinquenta anos, a civilização 
ocidental, é uma summula tão perfeita que 
continua na base dos juramentos dos gradu-
ados em Medicina, em uso, em vários países, 
incluindo o nosso.
Com efeito, qualquer alteração substancial, 
que se faça na sua deontologia, logo denun-
cia uma mudança no paradigma de uma 
civilização.
27
Com o Jusiurandum, que se completa com 
outros escritos do Corpus Hippocraticum, 
fica bem clara a existência de escolas, onde se 
fazem estudos conducentes a uma profissão 
específica. Contudo, não fica esclarecida a 
exigência de qualificações legalmente reco-
nhecidas. Tudo parece indicar que a frequência 
de centros, como Cós ou Cnide, era uma 
condição de preferência para a escolha no 
concurso ao lugar de médico da cidade/esta-
do, auto-governada.
Logo, comprovaram-no, como observou 
G. R. Lloyd, as inscrições a partir da época 
helenística. Note-se, pois, que já no século IV 
a.C., existiam decretos honoríficos, promul-
gados pelas cidades, em honra dos vencedores: 
médicos da cidade ou médicos públicos. Aqui 
surge um cargo que apresenta algumas seme-
lhanças com as práticas hodiernas.
Entretanto, era a Assembleia do Povo, onde 
estavam representadas várias profissões, que 
procedia à escolha. Assim se revela num texto 
de Platão-Geórgias (514 a.C.), que compro-
va, quando Sócrates dialoga com Cálicles: o 
mesmo se dirá de todas as outras coisas, por 
exemplo, se ambos decidíssemos candidatar-se 
a um lugar público como médicos compe-
tentes, não deixaríamos de nos examinar 
mutuamente. Pelos deuses, dirias ter, vejamos, 
que tal está Sócrates a respeito da saúde e 
se, além disso, já curou alguém, escravo ou 
homem livre. Eu procederia, certamente, da 
mesma maneira contigo. E se não achássemos 
ninguém, estrangeiro ou ateniense, homem 
Segundo o pensamento 
kantiano, o princípio da 
autonomia baseia-se na 
convicção de que o ser 
humano deve ser livre 
do controlo exterior e ser 
respeitado nas suas decisões 
vitais. Trata-se de um princípio 
ético, enraizado na cultura 
ocidental, que tarda em ter 
repercussão na actividade 
clínica.
28
ou mulher, que tivesse recuperado a saúde por 
nosso intermédio, então Cácicles, por Deus, 
não seria verdadeiramente ridículo conceber 
uma pretensão tão insensata.
Propriamente, mais do que especificar, 
sugerem-se aqui algumas das condições da 
aceitação. Uma era a saúde do candidato, 
como prova da sua capacidade de saber 
mantê-la, outra o êxito da sua terapêutica.
Ao exemplificar com alguns doentes (escra-
vos ou homens atenienses) eliminam-se muitos 
possíveis equívocos que, com a tendência para 
transferir para épocas passadas, as preocupa-
ções da nossa, chamaríamos discriminação 
social, do género ou de raça. A simples leitura 
das obras do Corpus Hippocraticum, como 
os tratados sobre as Epidemias, mostra que tais 
distinções não existiam.
Recordemos ainda outro lado importante 
que nos é fornecido casualmente por um 
discurso do orador Antifone: ao médico não 
era imputada responsabilidade criminal, se o 
doente falecesse.
Estes médicos da cidade estavam portanto, 
até certo ponto, dependentes da arte oratória, 
como se existissem. Esta circunstância explica 
que tenham redigido obras que ensinavam, 
também, a arte de refutar, como a retórica.
Na verdade, havia outras oportunidades em 
que o médico deveria mostrar publicamente a 
sua capacidade de persuasão. Assim, era numa 
outra forma do exercício da Medicina, a dos 
chamados médicos itinerantes, que iam, de 
terra em terra, por conveniência ou para se 
tornarem conhecidos ou, ainda, para observa-
rem os climas e as doenças locais.
O exemplo mais clarividente deste último 
tipo de interesse será aquele que nos revela 
o tratado – Ares, Águas e Lugares –, onde se 
contrastam os povos da Europa com os da Ásia, 
relacionando as suas características e aptidões, 
com a influência do meio ambiente, como 
29
No exercício da sua profissão, o 
médico terá de cumprir deveres 
perante o doente, em relação com 
os outros médicos e frente à physis, 
que estão indirectamente expressos 
no Juramento e escritos noutros 
textos do Corpus Hippocraticum, 
que são matéria de Ética Profissional.
30
Bibliografia
1. Cf. M. HELENA DA ROCHA PEREIRA – Helade, 
tradução e adaptação de textos, 7ª edição, Imprensa Coimbra, 
Coimbra, 1998, pp. 225-226.
2. Cf. R. LUCAS (direc.) – Comentario Interdisciplinar a la 
Evangelium Vitae, B.A.C., Madrid, 1996, pp.185-186.
3. Cf. T. L. BEAUCHAMP; J. F. CHILDRESS – Principles 
of Biomedical Ethics, Oxford University Press, Oxford, 1994, 
pp. 150-230.
4. Cf. I. KANT – Fundamentação de Metafísica dos Costumes, 
Edições 70, Lisboa, 1995, pp. 85-87.
5.Cf. D. GARCIA – Fundamentos de Bioética, Eudema, 
Madrid, 1989, pp. 30-60.
6. Cf. R. D. BORGES DE MENESES – “Juramento de 
Hipócrates: implicações éticas e pedagógicas”, in: Medicina e 
Morale, 6 (2005, Roma), p. 120.
7. Cf. É. LITTRÉ – Ouvres Complètes d’Hippocrate, I volume, 
Belles Lettres, Paris, 1839, pp. 30-75.
8. Cf. J. A. ESPERANÇA PINA – A Responsabilidade dos 
Médicos, 2ª edição, Lidel, Lisboa, 1998, pp. 21-26.
9. Cf. P. L. ENTRALGO – La Medicina Hipocrática, Alianza 
Editorial, Madrid, 1987, pp. 380-390.
10. Cf. J. JOUANNES – Hippocrate, Belles Lettres, Paris, 
1969, p. 184.
11. Cf. D. SERRÃO; R. NUNES (coord.) – Ética em 
Cuidados de Saúde, 3ª edição, Porto Editora, Porto, 1990, pp. 
11-20.
31
se refere numa das obras célebres do Corpus 
Hippocraticum. Outros textos descrevem os 
cuidados que o médico deve ter com a sua 
apresentação, vestuário e gestos, bem como o 
modo de falar ou de lidar com o doente9.
11. O Juramento de Hipócrates delimita-
se como documento sacerdotal, não típico 
dos conselhos de Esculápio das Asclépiades, 
com um conteúdo moral, que vai do espírito 
apolíneo (Deichgraeber), não se limitando ao 
pitagórico (Edelstein). O Juramento confron-
ta-secom o espírito dionisíaco das práticas 
médicas, segundo F. Nietzsche. O médico é 
o homem distinto – Origem da Tragédia –, 
no exercício da arte de curar, guiado pelos 
ditames éticos, aqui professados. Este jura-
mento constitui o paradigma, não só de ética 
clínica, como também de ética profissional. 
O médico hipocrático surge, ao abrigo deste 
documento, e por força da sociedade grega 
da época, como um sacerdote da natureza e 
não como sacerdote religioso. O Juramento 
deverá colocar-se mais ao nível da Medicina/
profissão, do que da Medicina/sacerdócio10.
O ideal moral do Juramento atinge o seu 
ápice, quando, no primeiro parágrafo, se diz 
que a actividade do médico será Kalos kai 
Kagathos. Trata-se de um texto de ética racio-
nal e humanista. A excelência do homem, no 
mundo homérico, pela Kalokagathía, não será 
o aspecto físico ou moral das classes nobres; 
mas, antes, a virtude acessível, daqueles que 
praticam uma arte, no caso a arte de curar.
O Iusiurandum é a expressão ética de 
uma axiologia humanista e de uma areto-
logia racional11. Revela-se na dualidade do 
espírito apolíneo e no espírito dionisíaco, 
pela leitura do pensamento de Nietzsche, na 
Origem da Tragédia. O médico, no processo 
de humanização, poderá associar o sentido e o 
valor pela besta loira e o homem distinto, no 
“Uebermensch”.
Após esta reflexão sobre os elementos 
morais do Iusiurandum, poderemos afirmar, 
com Veatch, que nenhuma profissão foi tão 
consciente, desde a antiguidade, dos proble-
mas éticos no seu exercício, como a arte e a 
ciência do curar.
O ethos médico foi assinalado, ao longo 
de séculos, em códigos, sendo o seu mais 
lídimo representante dado no Juramento 
de Hipócrates. O ethos do Juramento situa-
se na consciência moral do médico como 
plena Vontade de Poder, segundo a leitura de 
Nietzshe. Pelo Juramento de Hipócrates, está 
presente de um lado, o espírito apolíneo e, de 
outro, o espírito dionisíaco. 
32
Neuromodulação cerebral
Assistente hospitalar de Neurocirurgia, Serviço de Neurocirurgia, 
Hospital de São João, Porto; Assistente da Faculdade de 
Medicina da Universidade do Porto
Paulo Linhares
A neuromodulação cerebral 
é a modificação reversível 
e ajustável da actividade 
cerebral por estímulos 
eléctricos externos. Evoluiu 
das técnicas ablativas, que foi 
substituindo progressivamente 
baseando-se no conceito de 
áreas cerebrais responsáveis 
por funções específicas, 
cujo funcionamento pode 
ser ajustado por estímulos 
excitatórios ou inibitórios.
33
Introdução
A neuromodulação cerebral é a modifica-
ção reversível e ajustável da actividade cerebral 
por estímulos eléctricos externos. Evoluiu 
das técnicas ablativas, que foi substituindo 
progressivamente baseando-se no conceito de 
áreas cerebrais responsáveis por funções espe-
cíficas, cujo funcionamento pode ser ajustado 
por estímulos excitatórios ou inibitórios. A 
alteração anatómica irreversível das neuroto-
mias foi substituída pela alteração funcional 
com preservação anatómica da neuromodu-
lação. Os progressos constantes levam à sua 
utilização num número cada vez maior de 
patologias com resultados bastante encoraja-
dores e desempenham um papel fundamental 
na medicina moderna.
34
A história e as patologias
As doenças do movimento foram uma das 
primeiras patologias a ser alvo do interesse da 
modulação cerebral. As técnicas ablativas inicia-
ram-se nos anos 30 com a excisão de partes 
do córtex motor para controlo do tremor e 
dos movimentos distónicos nos doentes com 
doença de Parkinson, mas foram rapidamente 
abandonadas pela pouca eficácia e elevadas 
complicações, com taxas de mortalidade signi-
ficativas. O aprofundamento do conhecimento 
das estruturas cerebrais ligadas aos movimen-
tos involuntários, com o reconhecimento da 
importância dos núcleos cinzentos da base, 
acrescentou novos alvos de lesão, determi-
nados por técnicas de localização puramente 
anatómicas até à introdução da estereotaxia. 
A utilização dos núcleos cinzentos da base 
surgiu em 1953 quando Cooper durante uma 
pedunculotomia num doente pós-encefalítico 
lesou acidentalmente uma artéria coroideia 
anterior necessitando de a laquear. Do conse-
quente enfarte do pallidum resultou uma 
melhoria considerável dos sintomas motores da 
doença. Daí ao início da lesão destas estruturas 
foi um pequeno passo; primeiro por acesso 
intraventricular, depois por acesso transcortical, 
e posteriormente, por técnicas estereotáxicas. 
Concomitantemente com os estudos efectua-
dos na doença de Parkinson, outras doenças do 
movimento foram sendo alvo da atenção dos 
investigadores e a neuromodulação cerebral 
passou a ser utilizada no tremor essencial e na 
distonia, nos anos 90.
A neuromodulação não parou nas doenças 
do movimento. Nos anos 50 começou a ser 
usada no tratamento da dor crónica, com 
Heath, em 1954, a reportar o alívio doloroso 
por estimulação directa da região septal. Tal 
como nas doenças do movimento, também 
na dor, não estão cabalmente esclarecidos os 
mecanismos fisiopatológicos envolvidos difi-
cultando a determinação da melhor técnica e 
do melhor alvo.
Se não existe afinidade entre as doenças do 
movimento e a dor, excepto no seu tratamento, 
também só a mesma afinidade se encontra no 
terceiro grupo de doenças passíveis de neuro-
modulação cerebral, as doenças psiquiátricas, 
onde tem havido um crescente entusiasmo na 
sua aplicação. A doença obsessivo-compulsiva e 
a depressão grave são duas áreas onde a psicoci-
rurgia tem rejuvenescido. Apesar dos substratos 
patológicos destas doenças serem bem compre-
endidos e as suas manifestações geralmente 
incluírem achados físicos e neurológicos, as 
bases biológicas de muitas das doenças psiqui-
átricas permanecem pouco compreendidas e 
a sua expressão envolve sintomas mentais sem 
sinais físicos objectivos. 10% dos doentes com 
35
doença obsessivo-compulsiva apresentam um 
curso progressivo independente, apesar dos 
tratamentos farmacológicos. Baseado em estu-
dos experimentais com cães, Bueckhardt, nos 
fins do século XIX, reportou uma série cirúr-
gica em que efectuou orifícios na cabeça de seis 
doentes psiquiátricos agitados graves. Apesar de 
ter sucesso em três casos e sucesso parcial em 
dois, a pressão dos colegas obrigou-o a aban-
donar esta técnica. Baseando-se no conceito 
de que malius anceps quem nullum, melhor um 
tratamento desconhecido do que nada, iniciou 
a guerra da psicocirurgia. No início do século 
XX, Fulton e Jacobsen mostraram alterações 
do comportamento com diminuição dos esta-
dos de ansiedade em chimpanzés após ablação 
de áreas frontais e Moniz, após análise crítica 
desta ideia, associou os comportamentos dos 
doentes psiquiátricos com substratos neurais 
anatomicamente normais mas funcionalmen-
te desajustados, o que poderia ser corrigido 
cirurgicamente, desenvolvendo com Almeida 
Lima a leucotomia pré-frontal. Também 
uma pequena percentagem de doentes com 
depressão crónica major permanece mal apesar 
do tratamento médico e psicoterapêutico, o 
que levou à extensão da psicocirurgia a esta 
patologia cada vez mais prevalente. Estas são 
as duas entidades particulares em que a neuro-
modulação cerebral tem ganho terreno com 
resultados cada vez mais promissores.
Se não existe afinidade entre 
as doenças do movimento 
e a dor, excepto no seu 
tratamento, também só a 
mesma afinidade se encontra 
no terceiro grupo de doenças 
passíveis de neuromodulação 
cerebral, as doenças 
psiquiátricas, onde tem havido 
um crescente entusiasmo na 
sua aplicação.
36
Os alvos
Tão importante como a técnica cirúrgica 
é o estabelecimento do melhor alvo. Dois 
factores são cruciais, o controlo dos sintomas 
e a redução dos efeitos laterais e mortalidade. 
Lesões bilaterais estavam associadas a compli-
cações severas e, se o controlo do tremor era 
facilmente conseguido, o mesmo não aconte-
cia com os outros sintomas motores da doença 
de Parkinson. O alvo talâmico inicial, o VIM, 
conseguia um controlo do tremor em mais de 
70% doscasos, mas os efeitos na rigidez e na 
bradicinésia eram muito limitados. Também a 
talamotomia bilateral estava associada a graves 
complicações numa percentagem elevada de 
casos, tendo a maior parte dos tratamentos 
que ser unilateral. Os estudos efectuados por 
Leksell e, posteriormente, adoptados por 
Laitinen e Hariz, levaram à adopção do globo 
pálido interno como novo alvo terapêutico na 
doença de Parkinson. Não só era controlado 
o tremor como existia um claro benefício 
no controlo das discinésias, muito frequentes 
nestes doentes, passando a ser o alvo de eleição. 
Contudo, a palidotomia bilateral apresentava 
riscos reportando-se alterações da fala, do 
equilíbrio e da marcha, alterações dos campos 
visuais e défices cognitivos, continuando a 
necessidade de encontrar alvos e técnicas mais 
seguros. Nos anos 90 Benabid introduziu o 
núcleo subtalâmico, mostrando um benefício 
maior com menos efeitos laterais, tornando-se 
o principal alvo actualmente.
Historicamente referem-se três alvos para 
o tratamento da dor. A substância cinzenta 
periaquedutal e que pelos seus efeitos late-
rais evoluiu para a estimulação do tálamo 
medial adjacente. O tálamo somato-sensitivo 
(VPM-VPL), estimulado inicialmente por 
Hosobuchi num caso de anestesia dolorosa e a 
estimulação talâmica ventrobasal intermitente 
para o tratamento da dor central. A multipli-
cidade de origens da dor e dos mecanismos 
envolvidos quer na sua génese quer na sua 
percepção tornam difícil a sua classificação e 
tratamento. A dor neuropática resultante da 
lesão primário ou da disfunção do sistema 
nervoso e a dor nociceptiva resultante da 
activação dos receptores periféricos parece 
serem os dois principais candidatos à neuro-
modulação cerebral. Em 1991 Tsubokawa 
introduziu a estimulação cortical para o 
tratamento da dor. Mais uma vez permanece 
incerto o mecanismo de acção, parecendo o 
efeito terapêutico dever-se à activação dos 
neurónios sensitivos não-nociceptivos que se 
crê exercerem um efeito inibitório nos noci-
ceptivos e que persiste após a desactivação do 
neuroestimulador. 
Tão importante como 
a técnica cirúrgica é o 
estabelecimento do melhor 
alvo. Dois factores são 
cruciais, o controlo dos 
sintomas e a redução dos 
efeitos laterais e mortalidade.
37
As doenças psiquiátricas continuam em 
acesa discussão quer quanto à real indicação 
para cirurgia quer quanto aos alvos cerebrais 
envolvidos. O braço anterior da cápsula inter-
na, o núcleo accumbens e zonas intermédias 
têm sido tentados para o tratamento da 
doença obcessivo-compulsiva grave. Também 
a depressão major resistente ao tratamento 
médico parece ter benefício com a esti-
mulação destas áreas, mas a este momento 
ainda não existe o alvo ideal, permanecendo 
este tratamento em fase experimental. Pelo 
menos dois grupos europeus, um belga e um 
sueco e um grupo canadiano têm trabalhado 
em estreita colaboração na determinação do 
melhor alvo a estimular.
A neuromodulação cerebral é 
uma área em desenvolvimento 
crescente havendo cada vez 
mais indicações para a sua 
utilização. Perfeitamente 
estabelecida nalgumas 
patologias, permanece ainda 
em fase experimental em 
muitas das novas indicações. 
O melhor conhecimento da 
fisiopatologia das doenças 
e a melhoria das técnicas 
cirúrgicas têm-na tornado 
numa cirurgia segura e 
eficaz, sendo uma ferramenta 
fundamental na neurocirurgia 
moderna.
38
As técnicas
 Não só a técnica cirúrgica foi modificando 
como, e principalmente, o conceito, sendo 
o avanço mais importante a substituição da 
lesão estrutural pela estimulação eléctrica em 
1993. A reversibilidade e a adjustabilidade da 
neuroestimulação transformaram-na na técni-
ca de eleição para o tratamento sintomático 
das doenças do movimento, estendendo-se 
progressivamente a todas as outras patologias.
A leucotomia pré-frontal foi desenvolvida 
e modificada, nem sempre da melhor forma, 
e tal como nas doenças do movimento com 
o aparecimento da DOPA, o surgimento da 
clorpromazina, em 1954, levou ao declínio da 
psicocirurgia. O renascimento surgiu com a 
estereotaxia com Spiegel e Wycis a fazerem 
a primeira talamotomia dorsomedial. Estava 
aberto o caminho para a neuromodulação 
cerebral nas doenças psiquiátricas, sendo a 
estimulação precedida pela cingulotomia, a 
capsulotomia, a tractotomia subcaudada e a 
leucotomia límbica. 
Hoje são as técnicas estereotáxicas que 
predominam na estimulação cerebral profunda 
e as técnicas de neuronavegação na estimula-
ção cortical. Tão importante como a técnica 
cirúrgica em si, é a determinação correcta da 
localização do alvo escolhido. Existem vários 
programas informáticos que facilitam esta tare-
fa, não se justificando, hoje em dia, o recurso 
à velha ventriculografia. Os núcleos da base 
são identificados por dois métodos comple-
mentares. Uma primeira aproximação é feita 
tendo em conta o referencial comissura ante-
rior – comissura posterior e as coordenadas 
estereotáxicas determinadas por atlas anató-
micos sendo corrigidas em pormenor pela 
visualização directa dos núcleos em imagem 
de RMN. Efectuada a colocação do quadro 
estereotáxico, é realizada uma TAC ou RMN 
estereotáxicas. Exame de todo o crânio no 
plano axial com cortes de 2 mm de espessura. 
È feita de seguida a fusão da imagem com a 
de RMN previamente efectuada. È utilizado 
um protocolo de imagem que inclui a reali-
zação de RMN cerebral em aparelho de 1,5 
Tesla nos dias prévios à cirurgia nas sequências 
T1 com GAD axial e T2 axial e coronal. As 
imagens são então introduzidas numa esta-
ção de tratamento com o software Framelink 
onde é realizada a fusão da imagem de TC 
estereotáxico com a imagem de RMN, o que 
permite a obtenção de imagem de RMN 
cerebral de alta resolução com os pontos de 
esterotaxia que vão permitir a determina-
ção da comissura anterior e da comissura 
posterior para a determinação indirecta do 
núcleo e a visualização do núcleo subtalâmico 
para a confirmação directa do alvo. Após a 
39
determinação das coordenadas estereotáxicas 
são introduzidos os eléctrodos para registo 
e estimulação, que permitem a confirmação 
electrofisiológica e clínica do alvo. Novamente 
no bloco operatório e também sob anestesia 
local é realizado um buraco de trépano frontal 
de 14 mm de diâmetro e abertura da dura 
mater. São introduzidos os eléctrodos para a 
realização de micro-registo, electro-fisiológico 
e micro-estimulação. A avaliação clínica intra-
operatória confirma o alvo definitivo. Após 
a verificação do benefício obtido com a 
estimulação é colocado o eléctrodo definitivo 
e a bateria. A colocação do gerador Kinetra 
é efectuada sob anestesia geral, numa bolsa 
subcutânea infraclavicular esquerda.
A estimulação cortical é utilizada especial-
mente no tratamento da dor. A estimulação 
é efectuada na circunvolução pré-central na 
região suprassilviana na dor predominante-
mente da face e membro superior e na região 
paramediana na dor com predomínio no 
tronco e membro inferior. A identificação do 
sulco central é feita com técnicas de neuro-
navegação e monitorização intra-operatória 
dos potenciais evocados somato-sensitivos 
(inversão N20 e P 20) e por estimulação eléc-
trica cortical. É então colocado o eléctrodo 
de estimulação e conectado à bateria. Este 
tipo de estimulação cortical passou também a 
fazer parte das opções cirúrgicas da doença de 
Parkinson nos poucos casos em que a DBS 
está contra-indicada.
A técnica utilizada na estimulação cerebral 
profunda para o tratamento das doenças 
psiquiátricas é similar à das doenças do movi-
mento do movimento.
Outro tipo de neuromodulação cerebral que 
tem ganho adeptos é a estimulação magnética 
transcraniana. Actua de forma transitória e 
não-invasiva e pode servir de teste à eficácia 
da estimulação cortical. Pode ser utilizada em 
casos de dor neuropática e na depressão grave.
40
Os resultados
No tremor essencial o VIM continua a ser 
o alvo de eleição, com melhorias superiores 
a 80%. Casos mais complicados detremor 
como, por exemplo, os associados à esclerose 
múltima ou tremor cerebeloso também têm 
sido submetidos com algum sucesso a esta 
técnica, embora havendo uma maior variabi-
lidade nos resultados.
As formas primárias generalizadas de disto-
nia respondem à estimulação do GPi com 
melhorias médias de 50% relativamente aos 
resultados pré-operatórios avaliados pela escala 
de distonias de Burke-Fahn-Marsden.
Efectuada uma metanálise para avaliação 
dos resultados da estimulação subtalâmica na 
doença de Parkinson verificou-se uma redu-
ção do UPDRS II (actividades da vida diária) 
e III (avaliação motora) sem medicação de 
13,35 e 27,55, respectivamente, ou seja, uma 
melhoria de 50% e 52% relativamente à 
linha de base. A redução da dose de DOPA-
equivalente foi em média de 55,9% e as 
discinésias após a cirurgia reduziram-se em 
69,1% e houve uma redução dos períodos off 
diários de 68,2%.
Na dor uma resposta positiva surge em 44% 
a 100% dos doentes tratados e a principal 
indicação para esta técnica é a dor crónica 
neuropática refractária à analgesia convencio-
nal, estando a tornar-se o tratamento cirúrgico 
preferencial da dor neuropática central.
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de una tomografía computarizada (TC) en las primeras horas tras el 
procedimiento? Neurocirugia 2002; 13: 299-304. 
41
Numa revisão recente de doentes com 
doença obsessivo-compulsiva, a cingulotomia 
foi eficaz em 56% dos doentes, a tractotomia 
subcaudada em 50%, a leucotomia límbica em 
61% e a capsulotomia em 67%.
Nos doentes com alterações afectivas major a 
cingulotomia foi eficaz em 65%, a tractotomia 
subcaudada em 68%, a leucotomia límbica em 
78% e a cápsulotomia em 55%. Não podemos 
esquecer que se tratam de séries pequenas e 
de doentes criteriosamente seleccionados. A 
estimulação da substância branca do cíngulo e 
de áreas adjacentes também tem sido utilizada 
no tratamento da depressão grave resistente à 
terapêutica médica e a lesão tem sido progres-
sivamente substituída pela estimulação, sendo 
que 25 a 50% dos doentes poderão beneficiar 
com esta técnica, com resultados ainda inci-
pientes mas promissores. Esta é uma área onde 
as questões éticas se põem de forma marca-
da e os avanços são lentos e cautelosos. No 
presente, os resultados ainda são limitados e 
existe também uma indefinição relativamente 
aos alvos como a cápsula interna, o núcleo 
accumbens ou a base anterior.
Há ainda evidência de que a estimulação da 
região talâmica adjacente ao núcleo centro-
mediano pode ter benefício nos doentes com 
síndrome de Tourette.
De forma ocasional têm sido reportados 
casos de epilepsia refractária tratados com 
estimulação cerebral profunda com taxas de 
redução das crises da ordem dos 50%, não 
sendo ainda esta uma indicação formal.
As conclusões
A neuromodulação cerebral é uma área 
em desenvolvimento crescente havendo 
cada vez mais indicações para a sua utilização. 
Perfeitamente estabelecida nalgumas patolo-
gias, permanece ainda em fase experimental 
em muitas das novas indicações. O melhor 
conhecimento da fisiopatologia das doenças 
e a melhoria das técnicas cirúrgicas têm-na 
tornado numa cirurgia segura e eficaz, sendo 
uma ferramenta fundamental na neurocirur-
gia moderna.
Mário Simões, 59 anos, director do curso 
de pós-graduação em Hipnose Clínica e 
Experimental, professor de Psiquiatria e de 
Ciências da Consciência na Faculdade de 
Medicina da Universidade de Lisboa. Numa 
das salas da Casa do Médico, no Porto, onde 
decorre o 7º Simpósio da Fundação Bial, 
Aquém e Além do Cérebro, Mário Simões 
fala dos Estados Modificados de Consciência. 
Em gestos que transportam palavras, uma certa 
musicalidade no tempo, diz que o marcou o 
ensino das ciências naturais junto ao mar, na 
serra, nas arribas a ver fósseis. Marcaram-no 
determinados professores que foram exemplo 
para a sua carreira futura. E na vida profis-
sional, quando vai para a Suiça, e contacta 
com as áreas novas de fronteira, os Estados 
Modificados de Consciência, inicia-se nesse 
mundo de novos sonhos, novas naus.
Entrevista a Mário Simões
Os Estados Modificados de Consciência abrem novas 
naus de conhecimento. Num apelo a memórias 
corporais e psicológicas de bem-estar, num imaginário 
vivido, sabe-se que através dos Estados Modificados de 
Consciência não se curam determinadas doenças, mas, 
em mais de 70%, cura-se a totalidade de sintomas e 
melhora-se a qualidade de vida. As próximas grandes 
descobertas em saúde, em ciência, podem nascer 
através desses estados que lidam com a emoção.
Para o cérebro,
pensar e imaginar
é o mesmo que fazer
43
44
E são essas áreas de fronteira que 
definem toda a sua vida?
Escolhi psiquiatria por motivações filosóficas. 
Ouvia histórias contadas pelos pacientes com 
grande veemência, crença noutros mundos. 
Pensei: ou fico louco também ou tento estar 
próximo deles para os perceber na crença 
noutros mundos. Foi isso que me levou para 
psiquiatria. Onde estive, na Suiça, o projecto 
era estudar modelos experimentais da psicose, 
na altura estudava-se os Estados Alterados de 
Consciência, com a utilização de drogas, ficar 
na privação sensorial e silêncio total, ter a esti-
mulação sensorial em sobrecarga, a meditação, 
a hipnose, tudoservia para modificar a cons-
ciência e criar situações semelhantes ao início 
de uma esquizofrenia, de uma psicose. Vi que 
havia um apelo grande como experimentação 
mas também vi o potencial terapêutico.
Como ciência de fronteira, foi essa 
possibilidade de potencial terapêutico 
que o levou a seguir este caminho?
Claro. Fiz doutoramento ligado à esquizo-
frenia, à consciência do eu, que é o reactor 
nuclear da esquizofrenia. Depois a investigação 
que se seguiu sobre os Estados Modificados 
ou Alterados de Consciência, com apoio da 
Fundação Bial, foi um tempo muito cria-
tivo, e continua a ser, embora tenha estado 
mais envolvido na preparação de provas de 
agregação.
O que é um EMC (Estado Modificado 
de Consciência)?
Modificado é em relação a este estado em 
que estamos agora, acordados. Neste momen-
to temos uma consciência vigil. Quando 
modificamos esta consciência achamos que 
está modificado. Se esse estado modificado é 
demasiado profundo, no sentido em que fico 
um pouco sonolento, um pouco desconcen-
trado, a palavra passa a ser mais forte e digo 
Estado Alterado de Consciência. Mas hoje 
prefiro chamar modificado, pois já não se utili-
zam drogas para proporcionar estes estados.
Que descobriu desde que se iniciou 
estes estudos até hoje? O que houve 
de evolução?
Foram abandonados os recursos a químicos 
e o que evolui foi o modo de os provocar, de 
os produzir. Passou a utilizar-se, por exemplo, 
a meditação, a hipnose, a respiração holotró-
pica (respirar profundamente e rapidamente), 
a dança, meios mais suaves para modificar a 
consciência. Outra situação que evoluiu não 
foi só o aspecto experiencial para ver como 
é, o que é isso, mas a utilização deles para 
actividades curativas, isto é, psicoterapia sob 
EMC. Estas foram as grandes evoluções que 
aconteceram nos últimos tempos.
Explique‑me um caso onde possa 
ser utilizado um EMC para fim 
terapêutico.
A utilização da meditação transcendental, 
para estados de relaxamento, de paz, de auto-
descoberta. No sentido da cura, sem recorrer 
45
a drogas alucinogéneas, utilizamos a hipnose. A 
hipnose é um EMC. A pessoa percebe a reali-
dade de outro modo, sente que está diferente, 
mas continua acordada, pode abrir os olhos, 
nota que está a ter percepções diferentes das 
que tinha habitualmente. Somos capazes, 
hoje, utilizando somente estados hipnoidais, 
de fazer realmente projectos de cura, por 
exemplo, na dor crónica, fobias, problemas 
de relações interpessoais, diminuir alguns 
sintomas de doenças graves, que não curamos, 
como cancros, neoplasias, mas melhoramos a 
qualidade de vida, aumentamos a sobrevida, 
porque vamos estimular no imaginário, atra-
vés de visualização, defesas do indivíduo, tipo 
imunológico, através do ponto de vista imagi-
nário. Passamos a utilizar estes EMC para 
algumas situações mais ligadas à psiquiatria e 
psicologia. Quanto à medicina, temos a dor 
crónica, melhoria da qualidade de vida e da 
sobrevida em alguns casos, situações dermato-
lógicas, verrugas, eczemas difíceis de tratar.
Tudo através do imaginário. Como se 
cria esse imaginário?
Primeiro, fazemos apelo a memórias que a 
pessoa tem, não só abstractas, mas corporais, 
de bem-estar. Vamos fazer a pessoa recuar no 
tempo, apelar a memórias corporais e psicoló-
gicas de bem-estar. Vamos recordar ao corpo, 
ao cérebro, esse bem-estar que a pessoa teve. 
Esse é o primeiro passo. Depois, introduzimos 
elementos do imaginário, como, por exemplo, 
uma infusão com soro, com estrelinhas, com 
uma capacidade de anticorpo fabulosa, capaz 
de reconhecer células cancerosas. Pomos um 
Somos capazes, hoje, 
utilizando somente estados 
hipnoidais, de fazer realmente 
projectos de cura, por 
exemplo, na dor crónica, 
fobias, problemas de relações 
interpessoais, diminuir alguns 
sintomas de doenças graves, 
que não curamos, como 
cancros, neoplasias, mas 
melhoramos a qualidade 
de vida, aumentamos a 
sobrevida, porque vamos 
estimular no imaginário, 
através de visualização, 
defesas do indivíduo, tipo 
imunológico, através do 
ponto de vista imaginário.
46
outro soro, tudo imaginário, um imaginário 
que a pessoa vive, uma cor rubra, mesmo 
roxo, que vai ter uma apetência para as células 
cancerosas. No soro vão estrelinhas com capa-
cidade de anticorpo que vão matar as células 
más. É com este imaginário, que a pessoa vive 
intensamente, que este processo decorre.
Outras vezes é à própria pessoa que digo: fale 
com o seu terapeuta interior, ele conhece-a melhor do 
que eu. O que é que ele lhe diz para curar? Estou 
a lembrar-me de uma senhora que tinha uma 
doença auto-imune. Perguntei-lhe o que dizia 
a sua terapeuta interior. Ela responde-me: Ela 
ataca as células porque não sabe que são minhas. 
Sabe? Vou pegar num carimbo e vou carimbar as 
células todas que o lúpus anda a atacar. Deixei-a 
meia hora a carimbar com o nome dela, Sofia. 
Fazia o gesto com a mão, como estivesse a 
carimbar alguma coisa. E já acabou? Ainda 
faltam mais 20 ou 30 células. Até hoje, já se 
passaram mais de 10 meses, não teve mais 
nenhum episódio de lúpus.
É de atribuir à terapia?
Penso que não, provavelmente trata-se da 
evolução da própria doença. O que é certo é 
que a pessoa nunca mais se queixou.
Conte‑me mais casos.
Fiz uma reunião de trabalho para a 
Associação de Doentes com Células 
Falciformes, uma doença do sangue, heredi-
tária, onde as células dos glóbulos vermelhos 
ficam com a forma de foice, alteram-se. E com 
aquela forma de foice não deslizam bem pelos 
vasos, encostam-se umas às outras e causam 
dores terríveis nas extremidades dos ossos 
onde circulam. As pessoas têm de ser tratadas 
com morfina, levam transfusões, é uma doen-
ça gravíssima que não podemos curar.
Os exemplos que me dá podem ser 
considerados especulativos?
Estou a dar exemplos de utilização, que 
diria, especulativa destes EMC para doenças 
que sabemos que não vão ser curadas. O 
que diminuímos foi o número de recaídas, o 
recurso às urgências, o absentismo no trabalho, 
porque comparamos com os anos anteriores e 
as pessoas, a fazer os tratamentos que faziam, 
melhoraram. E então dizia uma pessoa assim: é 
fácil, quando as células começarem a ficar esquisitas, 
logo que sinta que vem aí a crise, elas estão encos-
tadinhas aos vasos, eu pego numa mangueira dos 
bombeiros e lavo o chão junto às artérias para as 
descolar dos vasos. Dizia outra: quando elas ficam 
assim todas paradas, encostadas umas outras, ponho-
as a dançar, ficam quentinhas, e assim sinto-me 
melhor. Outra dizia: o que a gente tem de fazer é 
tirar aquela casca à volta do glóbulo vermelho, pelar 
o glóbulo vermelho, para ele ficar com aquela segun-
da pele, e fica mais móvel. Fizemos estas reuniões 
duas vezes e, porque tínhamos esse controlo, 
o número de vezes de crises e de absentismo, 
diminuiu significativamente.
47
As pessoas estavam num EMC?
As pessoas estiveram num estado de hipnose 
e nesse estado de hipnose viajaram para falar 
com o seu ou sua terapeuta. E nesse estado 
quem lhes diz o que fazer é o terapeuta. A 
partir daí vão por isso em prática em casa 
quando sentem que vem a crise.
É uma subjectividade com um efeito 
objectivo?
Passa a ter. Não cura, mas ajuda, melhora a 
qualidade de vida. Temos visto que em algu-
mas pessoas, não em todas, conseguimos que 
as pessoas deixassem de fumar mas ao fim de 
seis, sete sessões. É como se necessitasse de 
vacinas injectadas psicologicamente.
Como se faz?
Temos de dar um imaginário de um futuro 
imaginado sem tabaco, a respirar bem, e volta 
para casa e os filhos dizem «pai que alegria 
nos deste por teres deixado de fumar», os 
amigos a dizer «podes ficar aqui, não precisas 
de ir para a varanda». Criamos futuros dessa 
imagem, pomos a pessoa a visualizar algo 
que fica como sinal pós-hipnótico. Depois 
da hipnose, se olhar para um maço de tabaco, 
fica com a visão turva, está a pegar no tabaco 
e o tabaco cai-lhe das mãos, e se colocar o 
cigarro na boca fica com o sabor a gasolina na 
boca. Temos de criar muitasimagens de certo 
modo aversivas, por um lado, e, por outro, o 
desejo de um futuro diferente. Leva sete, oito 
sessões até instilar isso com efeito residual 
permanente. Tem de haver uma motivação, a 
pessoa tem de querer, pela família, por questão 
de saúde. Só por ter de ser não chega.
Precisa de uma grande criatividade 
para inventar os imaginários?
É verdade.
Tem de criar para cada pessoa um 
mundo próprio?
Faço um protocolo para cada pessoa, um 
protocolo muito específico. Ouço, escre-
vo tudo o que leva a pessoa a sentir-se mal, 
pergunto sempre se estivesse bem o que faria, 
como se sentiria, o que poderia fazer da sua 
vida. E são essas palavras que ela me diz, que 
lhas vou devolver num EMC. O inconsciente 
não rejeita porque lhe vou dizer as mesmas 
frases que a pessoa me disse, mas num estado 
em que está ampliada a sua percepção das 
coisas, em que está mais concentrada naquilo 
que lhe digo. Dou-lhe aquilo que a própria 
pessoa já me deu antes. Esta parte aqui nem 
tem muita criatividade. Mas durante a sessão 
posso reforçar com música, para criar ambien-
te, posso tocar na pessoa. Há outros meios que 
posso utilizar para reforçar o mal-estar e o 
bem-estar. Existe uma quantidade de situações 
que podemos criar para melhorar a adesão ao 
projecto terapêutico. Dou aquilo que a pessoa 
quer.
Mas num estado mais ampliado…
Tudo começa por um estado de relaxamen-
to. A respiração profunda é o início de tudo. 
Depois, damos sugestões de relaxamento. E 
nesse estado de paz, de grande relaxamento, 
iniciamos o processo. Apesar do estado de 
grande relaxamento corporal, a pessoa está 
com uma mente aguda, atenta, brilhante, as 
capacidades estão ampliadas. Penso que, mas é 
48
49
especulação, neste estado pomos a funcionar 
áreas que geralmente estão adormecidas. Os 
EMC fazem ligações entre áreas que normal-
mente estão adormecidas, áreas cerebrais. É 
como se estivéssemos a criar um estado que 
não é sono nem sonho.
Disse: As novas naus são feitas das 
matérias dos sonhos.
Fernando Pessoa escreveu que os novos 
descobrimentos irão ser feitos com as naus da 
mesma matéria que os sonhos são feitos. É isto. 
Estas são as naus que utilizamos. Relaxamento, 
uma indução para aprofundamento de relaxa-
mento e, depois, passamos a navegar na mente. 
Nos EMC são as novas naus. Fernando Pessoa 
antecipou-se. Se, como Portugueses, vamos 
descobrir alguma coisa de novo, nos mundos 
interiores, porque nos mundos exteriores não 
temos tecnologia para isso, não sei. Acho que 
as grandes descobertas, sobre os mundos inte-
riores, virão pelos EMC.
Pouco percebidas pelas pessoas.
São áreas de fronteira. Se não estudamos, se 
não nos dedicamos, vamos dizer que os EMC 
não passam de um fenómeno de placebo mal 
entendido.
A pessoa não tinha nada e, somente, 
sugeriram‑lhe o contrário.
Os estudos placebo dizem que o modelo 
existe no modelo animal e o animal não vai 
pela sugestão, como no ser humano existem 
estudos que comprovam que a utilização de 
um medicamento placebo vai activar quase 
as mesmas áreas que o medicamento activo, 
Ouço, escrevo tudo o que 
leva a pessoa a sentir-se mal, 
pergunto sempre se estivesse 
bem o que faria, como se 
sentiria, o que poderia fazer 
da sua vida. E são essas 
palavras que ela me diz, que 
lhas vou devolver num Estado 
Modificado de Consciência.
A respiração profunda é o 
início de tudo. Depois, damos 
sugestões de relaxamento. 
E nesse estado de paz, 
de grande relaxamento, 
iniciamos o processo. 
Apesar do estado de grande 
relaxamento corporal, a 
pessoa está com uma mente 
aguda, atenta, brilhante, as 
capacidades estão ampliadas.
50
só que a pessoa não sabe que está a tomar 
medicamento placebo. Sabe-se hoje que são 
activadas as mesmas áreas, o cérebro activa 
quando faz uma acção ou quando pensa nela. 
Pensar e imaginar é o mesmo que fazer.
A pessoa faz, mas o que imaginou é 
diferente, e o que recorda foi o que 
imaginou e não o que fez?
Exactamente. Para o cérebro, imaginar 
ou fazer são áreas idênticas que são postas a 
funcionar. Na hipnose, se é o mesmo para o 
cérebro, ele não sabe, imagina e isso funciona 
como fosse realidade, mas virtual.
Qualquer pessoa pode utilizar esta 
terapia?
Qualquer pessoa, sem dúvida, pode bene-
ficiar destes EMC para uma terapia. Algumas 
pessoas são mais predispostas, é algo que 
nasce connosco. Algumas vão ter muitos mais 
benefícios do que outras, em algumas não se 
consegue nada. Esse grau de adesão a estes 
estados nasce connosco, pode ser um pouqui-
nho modificado mas muito pouco.
E porque é que alguns nascem com 
essa apetência e outros não?
Já se descobriu um gene que, de certo 
modo, está ligado ao grau de adesão a este tipo 
de modificação da consciência. Possivelmente, 
há combinações genéticas que facilitam para 
que umas sejam mais do que outras.
Fernando Pessoa escreveu 
que os novos descobrimentos 
irão ser feitos com as naus 
da mesma matéria que os 
sonhos são feitos. É isto. Estas 
são as naus que utilizamos. 
Relaxamento, uma indução 
para aprofundamento de 
relaxamento e, depois, 
passamos a navegar na 
mente.
51
Mas que futuro para tratamentos 
com EMC?
A nível psicoterapêutico vamos mais 
longe, de forma mais profunda, mais rápido e 
eficazmente, de forma mais duradoura. Não 
estou a rejeitar, estou antes a ampliar o modo 
e o potencial que todas essas psicoterapias já 
estabelecidas têm utilizando os EMC. Será o 
futuro das psicoterapias. Recebemos os casos 
de fim de linha, pessoas que experimentaram 
tudo e nada resultou. Temos os casos mais 
difíceis, e nesses, em dez, ou melhoramos ou 
curamos definitivamente sete. Podemos dizer 
que há um remanescente de 30%, casos muito 
difíceis que, por qualquer motivo, orgânico, por 
exemplo as neoplasias, determinantes genéti-
cos não deixam alterar. Há um remanescente 
que não podemos curar. Há alterações de tipo 
orgânico, estrutural, que não são alteráveis por 
estes métodos ou, filosoficamente, porque 
aquela pessoa teve uma certa experiência de 
vida que por mais boa vontade que tenhamos 
não podemos alterar.
Mas os EMC sempre foram ligados 
a supostas vidas passadas e, talvez, 
tenha nascido esta certa confusão 
destas novas terapias aliadas a um 
certo folclore.
A má imagem dos EMC utilizada em 
psicoterapia vem, sobretudo, de dois aspectos: 
a visibilidade pública destes estados utilizados 
em palco. Se é para diversão, muito bem. Mas 
o local próprio para terapia é o consultório, 
feito por pessoa treinada. Quando sai disso é o 
ridículo. Por outro lado, foi o acesso através de 
livros, ou outros meios, e as pessoas autodeno-
minarem-se com títulos terapêuticos que não 
sabem manejar, levando ao descrédito, pois 
não há sucesso e temos de receber pessoas 
vítimas dessa má utilização. Palco e charlata-
nismo criam um mal-estar, um mau nome, 
uma má visibilidade, uma desconfiança.
Também, com estas técnicas, começou a 
pensar-se que, sobre hipnose, sobre EMC, era 
possível ter acesso a memórias passadas. Temos 
acesso a memórias a partir dos nossos dois 
anos, para trás é muito difícil, quase impossí-
vel obter. Mas sobre hipnose temos atitudes 
próprias de um ano, seis meses, pessoas que 
recordam situações reais no momento de 
parto e, até aí, não temos dúvidas. Mas come-
çaram a surgir pessoas a relatar memórias de 
vida intra-uterina. Seguem todas um certo 
padrão, recordam-se de frases, situações ligadas 
à mãe, ao pai. Não podiam ter conhecimento 
disso. Registamos e as pessoas vão confirmar. 
Começaram ainda a contar coisas mais estra-
nhas ligadas a outros tempos, a outros espaços 
geográficos e personagens, com uma riqueza 
de pormenores tal, nunca tendo lido nada 
sobre isso; e, ainda mais estranho, é que nesse 
estado de hipnose não só assume as perso-
nagens, como gestos, mas tem performances, 
não é uma palavra isolada numa língua, pesso-
as que nunca falaram alemão, inglês, e que 
falam fluentemente essa língua nesses estados. 
Isso começou a por a hipótese que utilizan-
do a hipnose se temacesso a vidas passadas. 
Esta história começou nos anos 70/80 com 
a terapia das vidas passadas. Existem explica-
52
ções alternativas para isso, desde pessoas que 
propõem uma memória genética, outros 
dizem que é fraude, outros que é imaginação, 
um mito. Existem sete ou oito explicações 
alternativas para este tipo de vivências, daí 
que a designação de vidas passadas deve ser 
abandonada. Prefiro dizer que as pessoas vão 
recorrer a mitos pessoais, será um mecanismo 
de censura de mim mesmo, desloco isso para 
outro espaço, para outra época, apetece-me ter 
um mito. É difícil dizer que é vidas passadas, 
e hoje diz-se que são supostas vidas passadas 
e entrega-se isso ao paciente. Para mim não 
me interessa, o que me interessa é o material, 
tudo aquilo que vem vivido, que eu trabalho 
terapeuticamente, se é verdade ou não, não 
me interessa, porque para o cérebro é igual. 
Hoje, faço uma terapia pela reestruturação, 
vou reestruturar aquilo que vem, o que quer 
que seja a explicação que esteja para trás, de 
forma vivencial e cognitiva. Hoje a designa-
ção é Técnica de Reestruturação Vivencial e 
Cognitiva. Há evidências, somente, que existe 
algo que sobrevive à morte física.
Mas que grande indicação para este 
tipo de terapia?
São as relações interpessoais perturbadas, 
familiares, amorosas ou profissionais, o auto-
conhecimento, a potenciação de algo que está 
em nós como, por exemplo, a capacidade de 
desenhar, de falar línguas ou actualizar algo 
que está em potencial dentro da pessoa, as 
doenças psicossomáticas onde o componente 
psicológico no sentido de precipitar, manter 
ou agravar uma doença física está muito 
presente, fobias, crises de pânico. Estas são as 
grandes indicações. Mesmo nas doenças com 
componente mais orgânico, mesmo nessas, 
conseguimos produzir uma melhor aceitação 
e maneira de lidar com o sofrimento, melhora-
mos a qualidade de vida e tentamos aumentar 
a sobrevida nas doenças incapacitantes ou 
mesmo graves, mas isso é apenas um desejo. 
Nestas o importante é fazer do paciente um 
co-terapeuta da sua própria doença.
Nesta terapia há uma operação 
cerebral?
Sim, é uma operação cerebral simbólica. 
É como se nós ao evocarmos algum tipo de 
conhecimento ou informação que a pessoa 
possui, seja de maneira simbólica, imaginal 
no sentido de ter acontecido ou do domínio 
do possível, seja uma criação no momento 
da sessão, esse conhecimento activará áreas 
do cérebro que estavam mudas. A pessoa 
obtém uma determinada informação que 
recontextualiza a anterior. No fundo, quando 
se visualizam novos dados, quaisquer que eles 
sejam, reais, imaginários ou outros, o corpo 
envolve-se, e o corpo inclui o cérebro. Há aí 
qualquer modificação nos estados cerebrais 
e essas visualizações vivenciadas, que estudei 
com o professor Luís Sobrinho, alteram até a 
parte neuroquímica hormonal de acordo com 
as imagens serem ou não serem mais ou menos 
impactantes. Estudamos bastantes doentes no 
IPO e chegamos à conclusão de que as pesso-
as com imagens negativas, de violência, de luta, 
têm uma produção aumentada das hormonas 
ligadas ao stress. Nessa visualização não estamos 
Para o cérebro, imaginar 
ou fazer são áreas idênticas 
que são postas a funcionar. 
Na hipnose, se é o mesmo 
para o cérebro, ele não sabe, 
imagina e isso funciona como 
fosse realidade, mas virtual.
53
apenas a tratar informação, porque se fosse um 
tratamento de informação, só isso, teríamos 
a mesma resposta a um tratamento de uma 
imagem com a mesma qualidade de impres-
são, qualquer que fosse o conteúdo. Imagens 
de um carro ou de uma pessoa a matar outra 
podem ter a mesma qualidade de impressão, 
mas a informação é diferente. Há algo que 
esta ciência dita cognitiva e de processamento 
de informação esquece. Estamos a lidar com 
emoção. É como andássemos só ao nível do 
córtex cerebral. Mas esquecemo-nos de um 
cérebro mais antigo, o cérebro reptliano, que 
dá o colorido à vivência, à cognição, dá cor. 
Capto a imagem impressa de informação, 
mas depois tenho um cérebro mais abaixo do 
cortéx que dá colorido, dá cor, e que diz isto é 
violento, isto é crime.
Como houvesse informação à priori?
Sim. A tal operação trata disso. Ao visuali-
zarmos, o corpo envolve-se nisso, altera-se até 
quimicamente, porque há emoção e vivencia. 
Aí há novas áreas, ou melhor, novas conexões 
neuronais que vão ser activadas com a prática, 
com a submissão a uma, duas, três, dez sessões 
de terapia. Além disso, damos um outro 
contexto àquilo que a pessoa traz. Tenho medo 
de cães porquê? É como se a pessoa tivesse 
um azulejo pequenino que encontrou caído 
no chão de um painel de azulejos, e tem um 
cão a ladrar. E tem medo dos cães. Quando 
a pessoa é colocada em frente desse azulejo 
(reestruturação vivencial) começa a ver que 
à volta do cão há uma outra pessoa que está 
a ser torturada pelo cão, há outras pessoas a 
54
assistir, afinal estou a perceber, a pessoa está ali 
porque era um lutador por uma causa, é um 
mártir (tem a visão do painel). Contextualizou 
aquele azulejozinho que trouxe e criou um 
painel.
Uma operação com regras, bem 
definida…
Sim, trata-se de uma terapia onde se apren-
de a lidar com este tipo de fenómenos. Se for 
feito por uma pessoa que não conheça estes 
estados modificados de consciência pode 
fazer com que a pessoa saia dessa vivência 
ainda pior. Se não limpou, se não tratou, se não 
recontextualizou, se não deu sentido e traz a 
pessoa de novo para o estado vigil e o deixa 
ficar naquela vivência onde esteve, pode andar 
durante dias a vivenciar aquelas cenas como 
se se tratasse de um flash-back. É preciso ter 
cuidado com quem se vai ter para fazer uma 
terapia destas. Os pacientes têm de ser acom-
panhados à posteriori, naquele estado não há 
vontade completa sobre o acontecer, nem o 
terapeuta nem o paciente sabem para onde 
vão durante a sessão. Há um acontecer, um 
fazer-se, um trabalho em progresso. Este tipo 
de terapias têm de ser feitas com um certo 
cuidado, com um certo recato, em contexto 
terapêutico e com pessoas que saibam.
E como se estuda a experiência 
subjectiva?
Primeiro deve ser considerada tão válida 
como qualquer outra como forma de obten-
ção do conhecimento. Conhecimento com 
valor para a ciência? É outra questão. Diz-se, 
em muitas áreas da ciência, que se conhece 
muito, mas sabe-se pouco, para ilustrar o que 
acabo de dizer. Valor como conhecimento 
pessoal não há dúvida. Mas a experiência 
subjectiva tem interesse para a ciência e é 
possível ser validada. A experiência subjectiva 
de 500 pessoas tem pontos comuns. Se há 
pontos comuns, há indícios fortes de que a 
experiência subjectiva que é comum porven-
tura existe, tal e qual como existe a ilusão. A 
ilusão existe. A ilusão tem poder para alterar o 
meu comportamento e não deixa de ser uma 
experiência subjectiva. Se estou desiludido, é 
porque andava iludido e a ilusão fez-me ter 
comportamentos nesse sentido. A experiên-
cia subjectiva pode estar a falar de mundos 
subjectivos que são comuns à humanidade e 
que são capazes de provocar comportamentos. 
Tem uma consistência, talvez não palpável, 
mas tem a consistência da nossa cultura. As 
regras sociais, que não são palpáveis, existem 
e influenciam-nos. A ciência também deve 
recorrer da experiência subjectiva que é 
tratada inter-subjectivamente, ouvindo muitas 
experiências, e a certa altura passamos a ter 
consciência de mundos que diria subjectivos, 
imaginais, mas com capacidade de influenciar 
o nosso estar no mundo actual tal e qual como 
objectos reais.
Esta ciência tem uma carga subjectiva 
imensa…
Sou médico, não rejeito nada, absolutamen-
te nada, das teorias psicoterapêuticas, seja do 
próprio modelo biomédico. Pelo contrário, 
isto é apenas para potenciar, para aumentar 
E em relação a estas novas abordagens e técnicas terapêuticas, 
pelo menos, manter a dúvida, isto é, não dizer isso é 
impossível, isso não resulta, não vale a pena, mas manter uma 
certa sabedoria da incerteza. Porque se passam a tercertezas 
nunca vão descobrir nada de novo. Dizer: não sei, não rejeito, 
vou ver. Viver na incerteza é um acto de sabedoria…
55
o poder terapêutico. Sendo placebo ou não, 
não me interessa. Sei que melhora a qualidade 
de vida das pessoas e, eventualmente, pode 
levar à cura de algumas situações que até ali, 
pelos métodos anteriormente usados, não 
foi possível. É importante manter isto. Não 
é rejeitar de modo nenhum nenhuma das 
outras abordagens, pelo contrário, integro-as e 
potencio-as.
E é nessa integração que se consegue 
criar uma unidade mais válida.
Não estou a tratar uma doença, estou a tratar 
a pessoa. Vejo a pessoa como uma unidade.
Com os EMC consegue‑se ter uma 
melhor vida?
Nas neoplasias, em várias localizações, é o 
tempo de sobrevida que as pessoas têm, é a 
diminuição de dias de mal-estar, o aumento de 
qualidade de vida. A evolução dos marcadores 
tumorais é muito mais lenta, pelo menos em 
alguns casos. Em termos de dor crónica estou 
a lembrar-me de cefaleias resistentes ao trata-
mento, com consumo grande de fármacos, em 
situações agudas. Num estudo que fizemos, 
descobrimos que essa dor vinha sempre de 
humilhação ligadas à infância, não de quedas, 
mas de maus-tratos em público. Tratados e 
trabalhados sobre estado de hipnose, tivemos 
os resultados, e eram todas situações de fim de 
linha, de 1/3 melhorarem francamente, 1/3 
ficou livre, sem mais dores, no outro terço 
nada conseguimos.
Que palavras para profissionais de 
saúde?
Ter uma atitude benevolente querendo bem 
à saúde mental. Não haver uma desconfiança 
apriorística e aceitar que grande parte do 
nosso mal-estar vem exactamente de emoções 
perturbadas muito ligadas à saúde mental, ter 
uma certa aceitação de que existem pessoas 
capazes de lidar com essas situações e não 
ter receio de recomendar quando o próprio 
profissional de saúde não consegue lidar com 
as situações. Encaminhar para o psiquiatra ou 
psicólogo de modo a que pessoa não se sinta 
rejeitada. E em relação a estas novas abordagens 
e técnicas terapêuticas, pelo menos, manter a 
dúvida, isto é, não dizer isso é impossível, isso 
não resulta, não vale a pena, mas manter uma 
certa sabedoria da incerteza. Porque se passam 
a ter certezas nunca vão descobrir nada de 
novo. Dizer: não sei, não rejeito, vou ver. Viver na 
incerteza é um acto de sabedoria, porque se 
há certezas absolutas, vai continuar a dizer que 
a produção da úlcera gástrica, como aprendi, 
era devido ao excesso de ácido, e chupavam-se 
umas pastilhas, davam-se umas papas e bebia-
se muito leite. Mas porque houve alguém que 
não tinha a certeza e veio a descobrir uma 
bactéria, embora quando o disse foi ridicula-
rizado. Vinte e seis anos depois tem o Prémio 
Nobel da Medicina pela descoberta da bacté-
ria. É fundamental manter essa humildade de 
uma sabedoria de incerteza constante.
56
Farmacêutico e Estudante de Doutoramento do Laboratório de Farmacologia; Faculdade de 
Farmácia; Universidade de Coimbra
Médica Interna do Serviço de Medicina Interna; Hospital Amato Lusitano de Castelo Branco
Professor Catedrático do Laboratório de Farmacologia; Faculdade de Farmácia; Universidade 
de Coimbra
Gilberto Alves
Nulita Lourenço
Amílcar Falcão
57
Introdução
O cérebro é talvez o órgão mais admirável 
e enigmático do ser humano e continua a 
inquietar toda a comunidade científica. A 
última década do século passado foi conside-
rada a “Década do Cérebro”. De facto, desde o 
início dos anos 90 que se tem assistido a um 
aumento exponencial da investigação na área 
das neurociências. Os novos conhecimentos 
têm, indubitavelmente, permitido um enten-
dimento crescente das funções cerebrais e dos 
mecanismos fisiopatológicos subjacentes a 
diversos distúrbios neurológicos, porém, muito 
mais estará ainda por desvendar. Na realidade, 
apesar dos avanços recentes na genética e na 
biologia molecular, do desenvolvimento de 
novas técnicas de imagiologia e da descoberta 
de novas estratégias terapêuticas, muitas são as 
doenças neurológicas que continuam a afectar 
a qualidade de vida de milhões de pessoas, 
entre elas a epilepsia.
A epilepsia não é uma condição patológi-
ca única, mas antes uma família de diversas 
perturbações do cérebro, de etiologias varia-
das, que têm em comum uma predisposição 
aumentada para interrupções recorrentes e 
imprevisíveis da função cerebral normal, desig-
nadas crises epilépticas (Fischer et al., 2005). 
A epilepsia compreende, efectivamente, um 
grupo heterogéneo de perturbações neuroló-
gicas com mais de 40 síndromas diferentes e 
cujas manifestações clínicas apresentam grande 
variabilidade (McNamara, 2006). Estima-se 
que afectem cerca de 3% da população em 
algum momento das suas vidas, com maior 
incidência em doentes com menos de 1 ano 
e naqueles com mais de 75 anos (Jarrar e 
Buchhalter, 2003; Berkovic et al., 2006).
Nota 
O artigo Tratamento Médico da Epilepsia é constituído por IV partes. Publicada neste número a Parte I – A Evolução na 
Farmacoterapia, nos próximos três números da Ser Saúde são publicadas as partes II – A Cirurgia (Ser Saúde 12), III – A 
Estimulação Vagal (Ser Saúde 13) e IV – A Dieta Cetogénica (Ser Saúde 14).
A Evolução na 
Farmacoterapia
Tratamento Médico da Epilepsia
(Parte I)
58
Opções terapêuticas
O tratamento das perturbações epilépti-
cas é quase sempre multifacetado, ou seja, é 
orientado em diversas vertentes de forma a 
tratar as condições subjacentes que causam ou 
contribuem para as crises, a evitar os factores 
precipitantes e a suprimir as crises epilépticas, 
sem esquecer alguns aspectos de natureza 
psicológica e social. A terapia farmacológica 
com os antiepilépticos disponíveis está estabe-
lecida como a primeira opção terapêutica para 
o controlo e prevenção das crises epilépticas, 
porém, outras terapias não farmacológicas 
como a cirurgia, a estimulação do nervo vago 
e a dieta cetogénica parecem constituir alter-
nativas a considerar nas situações de epilepsia 
fármaco-resistente (Costa, 2002; Sheth, 
Stafstrom e Hsu, 2005; Oijen et al., 2006).
A epilepsia não é uma 
condição patológica única, 
mas antes uma família 
de diversas perturbações 
do cérebro, de etiologias 
variadas, que têm em 
comum uma predisposição 
aumentada para interrupções 
recorrentes e imprevisíveis 
da função cerebral normal, 
designadas crises epilépticas.
59
Fármacos antiepilépticos
Apesar do progresso no entendimento da 
patogénese das crises epilépticas, a base celular 
da epilepsia humana não está ainda totalmen-
te compreendida e, na ausência de uma 
etiologia específica, a terapia farmacológica é 
dirigida directamente ao controlo dos sinto-
mas, ou seja, à abolição das crises (Loscher 
e Schmidt, 2002). De facto, hoje, tal como 
aconteceu no passado, a administração crónica 
de fármacos antiepilépticos continua a ser a 
modalidade de tratamento inicial para a vasta 
maioria dos doentes com epilepsia (Glauser 
et al., 2006). Então, os objectivos do trata-
mento da epilepsia passam por alcançar uma 
condição de completa ausência de crises sem 
originar efeitos adversos significativos, reduzir 
a morbilidade e a mortalidade associada e, 
naturalmente, melhorar a qualidade de vida 
dos doentes (Gidal e Garnett, 2005; Sander, 
2004).
A abordagem farmacológica da epilepsia 
com o intuito de prevenir a ocorrência das 
crises epilépticas iniciou-se há cerca de 150 
anos com a introdução dos brometos. Estes 
compostos mostraram eficácia na redução 
da frequência das crises e, apesar da sua toxi-
cidade, constituíram os únicos compostos 
usados durante cerca de 55 anos. Em 1912, 
casualmente, foi descoberta a actividade antie-
piléptica do fenobarbital (FB), o qual provou 
ser mais eficaz e menos tóxico que os brome-
tos. Mais tarde, em 1938, a fenitoína (FNT) 
foi introduzida na prática clínica depois de ter 
demonstrado actividade anticonvulsivante e 
boa tolerabilidade em animais de laboratório. 
A partir desse momento a indústria farmacêu-
tica e a academia começaram a explorar novosmétodos de indução de crises em animais e a 
testar experimentalmente a potência anticon-
vulsivante das novas moléculas sintetizadas 
(Krall et al., 1978). Desde a descoberta da 
FNT até ao início dos anos 70 muitos foram 
os fármacos antiepilépticos introduzidos na 
clínica, designadamente, a primidona (PRM), 
a etossuccimida (ESM), a carbamazepina 
(CBZ), o ácido valpróico (AVP) e algumas 
benzodiazepinas (BZDs), particularmente o 
diazepam, o clonazepam (CNZ) e o cloraze-
pato (Krall et al., 1978; Bazil e Pedley, 1998; 
Perucca, 2001). O surgimento da maioria 
destes fármacos proporcionou vantagens 
importantes em relação ao FB, especialmente 
uma melhor tolerabilidade e, concretamente 
no caso do AVP, um espectro de eficácia mais 
alargado contra os diferentes tipos de crises 
(Perucca, 2001).
Até ao início da última década do sécu-
lo XX, proclamada a “Década do Cérebro”, 
as opções farmacológicas disponíveis para 
controlar a epilepsia limitavam-se aos princi-
pais antiepilépticos clássicos ou de primeira 
geração tais como o FB, a FNT, a PRM, a 
ESM, a CBZ, o AVP e algumas BZDs. No 
entanto, estes fármacos mostraram-se insu-
ficientes para responder com sucesso ao 
pressuposto mais elementar do tratamento 
da epilepsia, ou seja, ao controlo das crises 
epilépticas. Estes fármacos antiepilépticos de 
primeira geração possibilitam o controlo das 
60
O tratamento das perturbações 
epilépticas é quase sempre 
multifacetado, ou seja, é 
orientado em diversas vertentes 
de forma a tratar as condições 
subjacentes que causam ou 
contribuem para as crises, a 
evitar os factores precipitantes e 
a suprimir as crises epilépticas, 
sem esquecer alguns aspectos de 
natureza psicológica e social.
Tipos de crises
Opções Farmacológicas
1ª Linha 2ª Linha Outras
1. Parciais
 a) Com ou sem generalização
CBZ, LTG, OXC, 
AVP, TPM
GBP, LEV, PGB, 
TGB, ZNS
CNZ, FNT, FB
2. Generalizadas
 a) Tónico-clónicas 
CBZ, LTG, AVP, 
TPM
LEV, OXC, ZNS CNZ, FNT, FB
 b) Ausências ESM, LTG, AVP CNZ, TPM
 c) Mioclónicas AVP, TPM
CNZ, LTG, LEV, 
ZNS
 d) Tónicas LTG, AVP CNZ, TPM, ZNS
FBM, LEV, FB, 
FNT
 e) Atónicas LTG, AVP CNZ, TPM, ZNS
ZNS, FBM, LEV, 
FB
Tabela 1
Tipos de crises epilépticas e principais opções farmacológicas
Adaptado de Ducan et al., 2006.
61
crises epilépticas somente em 50% dos doentes 
que apresentam crises parciais e em 60/70% 
daqueles que desenvolvem crises generali-
zadas (Ducan, 2002). Para além da ausência 
do controlo das crises epilépticas em mais de 
30% dos doentes, estes fármacos exibem uma 
margem terapêutica estreita e uma variabi-
lidade inter-individual pronunciada na sua 
farmacocinética, sendo candidatos à monitori-
zação farmacoterapêutica e à individualização 
da posologia para minimizar a ocorrência de 
efeitos adversos (Gatti et al., 2000; Johannessen 
e Tomson, 2006). Infelizmente, alguns dos 
efeitos indesejáveis são clinicamente relevan-
tes, salientando-se a sedação causada pelo FB, 
PRM e BZDs, as reacções de hipersensibilida-
de induzidas pela CBZ, a hiperplasia gengival 
e o hirsutismo devidos à FNT e o aumento de 
peso provocado pelo AVP (Gatti et al., 2000). 
Estes fármacos muitas vezes podem também 
causar distúrbios cognitivos, hematológicos e 
endócrinos ou mesmo induzir efeitos terato-
génicos (French, 2001; Beghi, 2004; Stefan e 
Feuerstein, 2007). Além dos inconvenientes já 
referidos, a maioria dos fármacos antiepilépti-
cos de primeira geração apresenta um elevado 
potencial para interacções farmacológicas, 
pois são potentes indutores ou inibidores das 
enzimas hepáticas, limitando a sua utilização 
em regimes de politerapia (Brodie e French, 
2000; Gatti et al., 2000; Beghi, 2004).
Face à necessidade de alternativas farma-
cológicas melhoradas e em resultado do 
conhecimento crescente acerca da neuro-
biologia da epileptogénese, desde o início da 
década de 90 que se tem assistido a progressos 
consideráveis na farmacoterapia da epilepsia 
(Bazil e Pedley, 1998; Loscher e Schmidt, 
2002). A partir de então foram introduzidos 
na prática clínica diversos novos fármacos 
antiepiléticos ou de segunda geração, entre 
eles a vigabatrina (VGB), o felbamato (FBM), 
a gabapentina (GBP), a lamotrigina (LTG), 
o topiramato (TPM), a tiagabina (TGB), a 
oxcarbazepina (OXC), o levetiracetam (LEV), 
a zonisamida (ZNS) e a pregabalina (PGB), e 
de formulações melhoradas de alguns antie-
pilépticos de primeira ou de segunda geração 
(Johannessen e Tomson, 2006; Bialer et al., 
2007; Stefan e Feuerstein, 2007).
O aparecimento repentino de uma nova 
geração de fármacos antiepilépticos propor-
cionou um alargamento considerável nas 
opções terapêuticas farmacológicas para 
prevenir a ocorrência das crises epilépticas 
parciais e generalizadas (Tabela 1), consti-
tuindo novas oportunidades para os doentes 
com epilepsia intratável (French, 2001).
Efectivamente, o principal factor que 
impulsionou o desenvolvimento dos antiepi-
62
Mecanismo de acção
Fármacos Antiepilépticos
1ª Geração 2ª Geração
1. Modulação dos canais iónicos 
 a) Bloqueio de canais de Na+ CBZ*, FNT*, AVP†
LTG*, OXC*, FBM#, 
TPM#, ZNS#, GBP†
 b) Bloqueio de canais de Ca2+ ESM*, FB†, AVP†
GBP*, PGB*, TPM#, ZNS#, 
FBM†, LTG†, LEV†
2. Potenciação da neurotransmissão gabérgica FB*, BZDs*, AVP#
TGB*, VGB*, FBM#, GBP#, 
TPM#, LEV†
3. Redução da neurotransmissão glutamatérgica FB†, AVP† FBM#, TPM#, LEV†
4. Ligação à proteína 2A das vesículas sinápticas LEV*
* Mecanismo primário; # Mecanismo provável; † Mecanismo possível.
Tabela 2
Mecanismos de acção dos principais fármacos antiepilépticos
Adaptado de Kwan e Brodie, 2006.
Face à necessidade de 
alternativas farmacológicas 
melhoradas e em resultado 
do conhecimento crescente 
acerca da neurobiologia 
da epileptogénese, desde 
o início da década de 90 
que se tem assistido a 
progressos consideráveis na 
farmacoterapia da epilepsia.
63
lépticos de segunda geração foi a necessidade 
premente de controlar as crises epilépticas nos 
doentes refractários aos antiepilépticos clássi-
cos (Gatti et al., 2000). Contudo, os resultados 
subsequentes não corresponderam às expec-
tativas esperadas. Os estudos de eficácia com 
os novos fármacos antiepilépticos, em terapia 
adjuvante, têm indicado uma redução de 50% 
na frequência das crises apenas em 32/37% 
dos doentes refractários e quando considera-
das as doses mais altas testadas (French, 2007). 
Concretamente, apenas 15/20% dos doentes 
refractários aos antiepilépticos clássicos pare-
cem permanecer livres de crises ao usufruir 
da terapia com os antiepilépticos de segunda 
geração (Perucca, French e Bialer, 2007). 
Em adição, nos doentes com epilepsia não 
tratada ou recém diagnosticada, as evidências 
decorrentes de diversos estudos clínicos em 
monoterapia, não têm demonstrado uma 
eficácia superior dos antiepilépticos de segun-
da geração comparativamente aos da primeira 
geração, considerando vários tipos de crises 
epilépticas em diferentes grupos etários 
(Glauser et al., 2006).
Apesar dos novos fármacos antiepilépticos 
não apresentarem uma eficácia claramente 
superior em relação aos antiepilépticos clássi-
cos, o valor adicional que representam para a 
prática clínica é inquestionável. De facto, para 
além de permitirem a redução na frequência 
das crises em alguns doentes com um impac-
to positivo na qualidade de vida, oferecem 
ainda um espectro de actividade alargado, 
novos mecanismos de acção, um perfil de 
tolerabilidade melhorado, características 
farmacocinéticas favoráveis e menor potencial 
de interacções farmacológicas (French, 2001; 
Deckers et al., 2003).
Atendendo à cronicidade da epilepsia, à 
elevada incidência em idades extremas e aos 
inconvenientes evidenciados pelos antiepilép-
ticos clássicos, as propriedades farmacológicas 
melhoradas dos novos fármacos garantem 
uma maior segurança no tratamento de deter-
minadas populações especiais: crianças, idosos 
e mulheres em idade fértil (Brodie e French, 
2000; Leppik, 2001; Deckerset al., 2003; 
Glauser et al., 2006). Por outro lado, quando 
o tratamento em monoterapia não possibilita 
um controlo adequado das crises epilépticas, 
os regimes de politerapia são uma opção a 
considerar. Efectivamente, os antiepilépticos 
de segunda geração para além de propor-
cionarem um maior espectro de opções 
disponíveis, apresentam ainda características 
farmacológicas benéficas para os regimes de 
terapia combinada. A combinação de fárma-
cos antiepilépticos com mecanismos de acção 
complementares parece ser uma opção bem 
64
sucedida em alguns casos de epilepsia refrac-
tária (Stephan e Brodie, 2002; Kwan e Brodie, 
2006). Os mecanismos de acção propostos 
para os principais fármacos antiepilépticos são 
apresentados na Tabela 2.
Globalmente, perante as evidências cien-
tíficas actuais, os antiepilépticos de segunda 
geração apenas são recomendados como 
primeira escolha em condições clínicas espe-
cíficas em que os antiepilépticos clássicos 
tenham mostrado inefectividade ou estejam 
contra-indicados (Perucca, 2002; Deckers et 
al., 2003; Beghi, 2004; Glauser et al., 2006). 
Porém, alguns dos novos fármacos antiepilép-
ticos já são considerados fármacos de primeira 
linha em diversos tipos de crises epilépticas 
(Tabela 1). Neste momento é importante 
focar que, embora os novos fármacos antie-
pilépticos pertençam a uma mesma geração, 
todos eles são fármacos com características 
próprias em que a relação risco/benefício 
intrínseca a cada um deles deverá ser avaliada 
individualmente e a sua utilização na terapêu-
tica terá sempre que atender à situação clínica 
específica do doente. As únicas propriedades 
que estes fármacos partilham são uma experi-
ência clínica a longo prazo mais limitada e um 
maior custo que os antiepilépticos clássicos 
(Tomson, 2004).
Infelizmente, a recente introdução na práti-
ca clínica de diversos fármacos antiepilépticos 
não foi suficiente para reduzir substancial-
mente o número de doentes com epilepsia 
intratável. De facto, apesar da disponibilidade 
actual de mais de 15 fármacos antiepilépticos, 
cerca de 30% dos doentes mantêm-se refrac-
tários à terapêutica farmacológica (Perucca, 
French e Bialer, 2007). Mesmo nos doentes 
em que a farmacoterapia é eficaz, os fármacos 
antiepilépticos existentes parecem não impe-
dir a progressão da epilepsia e, por vezes, os 
efeitos laterais que apresentam impedem o seu 
uso continuado. Além disso, os antiepilépticos 
actualmente disponíveis parecem não inter-
romper o desenvolvimento da epilepsia após 
determinados danos iniciais, tais como trau-
matismo craniano e acidente vascular cerebral 
(Loscher e Schmidt, 2006).
Neste momento, mais de 20 novos compos-
tos com actividade antiepiléptica potencial 
estão em diferentes fases de desenvolvimento 
clínico e alguns deles parecem ser candida-
tos para a neuroprotecção (Perucca, French 
e Bialer, 2007; Stefan e Feuerstein, 2007). 
Alguns destes novos candidatos a fármacos 
antiepilépticos são análogos estruturais de 
fármacos antiepilépticos já existentes, outros 
visam modular substratos fisiológicos espe-
cíficos implicados na geração e propagação 
das crises epilépticas e outros ainda resultaram 
de processos de screening em vários modelos 
animais apropriados para a identificação de 
compostos com acção anticonvulsivante 
(Bialer, 2006; Perucca, French e Bialer, 2007).
65
Por outro lado, quando o 
tratamento em monoterapia 
não possibilita um controlo 
adequado das crises 
epilépticas, os regimes de 
politerapia são uma opção 
a considerar. Efectivamente, 
os antiepilépticos de 
segunda geração para além 
de proporcionarem um 
maior espectro de opções 
disponíveis, apresentam ainda 
características farmacológicas 
benéficas para os regimes de 
terapia combinada.
66
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67
Conclusão
Perante a situação actual persiste a neces-
sidade de uma terceira geração de fármacos 
antiepilépticos, mais eficazes e melhor tolera-
dos, que para além da prevenção e supressão 
das crises epilépticas exibam propriedades 
antiepileptogénicas e neuroprotectoras que 
permitam modificar a história natural da 
doença e o perfil actual de fármaco-resistência. 
Assim, o número elevado de moléculas com 
actividade antiepiléptica potencial, presente-
mente em ensaios clínicos, é mais um sinal de 
esperança para os doentes com epilepsia não 
controlada.
68
Resumo
A dor é um fenómeno complexo, uma 
realidade com um grau de abstracção e indefi-
nição sujeita a constantes transformações, que 
pode interferir nas vertentes biofisiológicas, 
bioquímicas, psicossociais, comportamentais 
e morais das pessoas. É, portanto, difícil de 
definir. No entanto, esta dificuldade não deve, 
em momento algum, interferir na sua valori-
zação, compreensão e, consequentemente, seu 
controlo.
O controlo da dor é um desafio que deverá 
estar presente no dia-a-dia de qualquer profis-
sional de saúde e que, «pode e deve ser tratada, 
com perspectivas de êxito proporcionais ao 
entendimento que dela temos e fazemos, à 
adequação e preparação científica dos serviços 
e profissionais de saúde envolvidos e ao mane-
jo judicioso de todos os recursos, técnicos 
e humanos disponíveis» (Direcção Geral de 
Saúde, 2001).
Abordagem autónoma do enfermeiro na dor
Licenciada em Enfermagem, Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica,
docente na Escola Superior de Saúde de Bragança, mestranda em Ciências de Enfermagem
Licenciada em Enfermagem, docente no ISAVE, Instituto Superior de Saúde do Alto Ave, 
mestranda em Ciências de Enfermagem
Licenciado em Enfermagem, Enfermeiro Graduado no Serviço de Medicina no Hospital 
Pediátrico de Coimbra, mestrando em Ciências de Enfermagem
Licenciado em Enfermagem, Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica, 
Enfermeiro Graduado no Serviço de Neurocirurgia 1 dos Hospitais da Universidade de 
Coimbra, mestrando em Ciências de Enfermagem
Enfermeira no Serviço de Hemato-oncologia do Instituto de Oncologia do Porto, mestranda 
em Ciências de Enfermagem
Ana Azevedo
Isabel Maia
João Pedro
Jorge Ribeiro
Marta Barbosa
69
A singularidade e individualidade de cada 
pessoa confere ao fenómeno dor um carácter 
subjectivo e único que depende da percepção 
individual, da percepção do utente, influen-
ciada por vários factores mas, também, da 
percepção do enfermeiro, sendo, mais uma 
vez, fundamental salientar a importância da 
sensibilização para este fenómeno e do desen-
volvimento de uma relação terapêutica que irá 
consolidar a comunicação e a confiança entre 
enfermeiro/utente, pilar preponderante para o 
estabelecimento do plano terapêutico.
Com este propósito, iremos, inicialmente, 
referir algumas definições de dor e sua evolu-
ção histórica enquanto preocupação humana, 
bem como abordar questões relacionadas com 
a percepção da dor, actividade neurofisio-
lógica, características e tipos de dor e a sua 
avaliação. De seguida, iremos contextualizar 
as intervenções autónomas dos enfermeiros 
nesta temática e proceder a abordagem de 
intervenções não farmacológicas. Utilizaremos 
como metodologia a pesquisa bibliográfica e a 
reflexão, individual e em grupo.
Abordagem autónoma do enfermeiro na dor
70
Dor 
O conceito dor tem evoluído, fruto de investigações, 
experiências e estudos acerca desta problemática. Vários autores 
debruçaram-se sobre esta temática, dedicaram-se ao estudo 
da dor e tentaram elaborar um conceito que a definisse 
claramente.
A International Association for the Study of Pain, IASP, 
define dor como «uma experiência sensorial e emocional 
desagradável, associada a dano tecidular presente ou potencial, 
ou descrita em termos de tal dano» (CORDEIRO et al, 
2005). Passa a estar implícito o seu carácter subjectivo como 
corroborado por MCCAFFERY (1989) quando diz que dor 
«…é aquilo que a pessoa que está a sentir diz que é…».
Ainda de acordo com a Classificação Internacional para 
a Prática de Enfermagem, CIPE, (2000), «dor é um tipo 
de sensação com as características específicas: aumento 
da percepção sensorial de partes do corpo habitualmente 
acompanhada por experiência subjectiva de sofrimento 
intenso, com expressão facial característica, olhos baços e 
apagados, olhar sofrido, movimento facial fixo ou disperso, 
esgares, alteração do tónus muscular, variação da apatia à 
rigidez, comportamento autoprotector, estreitamento do 
foco de atenção, alteração da percepção do tempo, fuga do 
contacto social, compromisso do processo de pensamento, 
comportamento de distracção marcado por gemidos, choro, 
andar a passos largos, procurar sem descanso outras pessoas ou 
actividades…».
Devido a este carácter subjectivo torna-se praticamente 
inviável uma definição mais objectiva que restrinja o âmbito 
de avaliação da dor. Não há meios objectivos para confirmação 
da existência de dor.
Na tentativa de objectivar o mais possível a abordagem à 
dor, a Direcção Geral de Saúde, em 2003, considera a dor 
como o 5º Sinal Vital e define-a como «…uma experiência 
multidimensional desagradável que envolve não só a 
componente sensorial como uma componente emocional da 
pessoa que a sofre. Por outro lado, a dor associa-se ou é descrita 
como associada a uma lesão tecidular concreta ou potencial».
Assim, e dada a sua complexidade/subjectividade importa 
fazer uma abordagem da pessoa e do seu quadro de dor da 
forma o mais abrangente possível para melhor conhecer o que 
está a ser vivenciado. A partir deste pressuposto será possível 
planear estratégias conjuntas, as mais adequadas possíveis àquela 
pessoa, para controlo eficaz da dor.
71
Percepção da dor
Existe no fenómeno da dor um marcado 
toque pessoal, constituindo uma experiência 
singular, cuja percepção pode ser influenciada 
por vários componentes, segundo Metzger et 
al (2002).
Componente sensório‑discriminativa
Corresponde aos aspectos qualitativos e 
quantitativos da sensação dolorosa, ou seja, 
aquilo que a pessoa sente. Algumas questões 
simples permitem delimitar esta componen-
te. Onde se localiza a dor? Em que sítio? É 
superficial ou profunda? Tem irradiação? A 
que se assemelha? Qual é a sua intensidade? O 
que a alivia ou agrava?
A componente sensório-discriminativa 
tem valor semiológico porque as respostas às 
perguntas feitas permitem evocar possíveis 
causas. Esta componente é a que com mais 
frequência é evidenciada.
Componente afectiva e emocional
Corresponde aos aspectos desagradáveis e 
penosos da dor, isto é, ao modo como a pessoa 
a sente. A dor pode ser descrita como um 
simples mal-estar suportável ou como penosa, 
terrível, fatigante, deprimente e insuportável. 
A componente afectiva e emocional depende 
essencialmente do carácter e da personalidade 
da pessoa que a sente.
Componente cognitiva
Corresponde aos processos mentais postos 
em jogo pela dor, ou seja, aos significados 
(conscientes ou não) que o doente lhe atribui. 
Esta componente depende, eminentemen-
te, de factores sócio-culturais bem como 
da história pessoal e familiar da pessoa. São 
muitos os factores intricados de modo deter-
minante na componente cognitiva. A relação 
que o indivíduo mantém com a dor, depende, 
antes de mais, da sua educação, do meio fami-
liar e social em que cresceu, sendo primordial 
a atenção que esse meio prestou aos acidentes 
dolorosos na infância. Como qualquer dor 
inflige limitação dos movimentos do corpo, a 
A dor é um fenómeno 
complexo, uma realidadecom um grau de abstracção 
e indefinição sujeita a 
constantes transformações, 
que pode interferir nas 
vertentes biofisiológicas, 
bioquímicas, psicossociais, 
comportamentais e morais 
das pessoas. É, portanto, 
difícil de definir. No entanto, 
esta dificuldade não deve, em 
momento algum, interferir na 
sua valorização, compreensão 
e, consequentemente, seu 
controlo.
72
relação com este, que depende da educação e 
da profissão, influencia igualmente os processos 
cognitivos. A natureza da afecção responsável 
pela dor condiciona-a igualmente, porque é 
evidente que o significado não é o mesmo 
consoante se trate de uma afecção de evolução 
aguda, curável, ou de uma afecção grave de 
evolução inelutável. Por fim, as circunstâncias 
em que a dor sobrevém, assim como os even-
tuais benefícios primários (atenção dispensada 
ao doente, isenção de impostos pesados) ou 
secundários (compensação financeira no caso 
de acidente de trabalho) também influenciam 
o significado da experiência dolorosa.
Componente comportamental
Corresponde ao conjunto de todas as 
manifestações da dor, conscientes ou não. 
Entre as manifestações inconscientes existem, 
para além das reacções neuro-endócrinas e 
neurovegetativas, manifestações não verbais, 
ou seja, atitudes e mímicas, bem como mani-
festações verbais, palavras e expressões, que 
podem traduzir muito sobre a origem da dor. 
As dores violentas revelam-se, quase sempre, 
através de manifestações extremas: gritos, 
lamentações, palavrões, choro, palidez, taqui-
cardia ou bradicardia que podem levar à perda 
de consciência.
Atendendo aos elementos evocados pelas 
componentes cognitivas e afectivo-emo-
cionais, compreende-se que, apesar de um 
mesmo mecanismo e de uma mesma causa 
de dor, as pessoas não se queixam todos da 
mesma maneira.
Características e tipos de dor
No que respeita à duração, METZGER et 
al (2002) considera a dor aguda e crónica.
Assim, sistematizando podemos considerar 
a dor aguda aquela que é provocada por 
uma lesão interna ou externa, cuja inten-
sidade se correlaciona com o estímulo 
desencadeante, é claramente localizada e tem, 
como já foi exposto, uma função de advertên-
cia e protecção.
A dor crónica é aquela com duração 
superior a seis meses, que não se associa à 
ocorrência que a provocou, cuja intensidade 
deixa de estar correlacionada com um estí-
mulo causal, sem função de advertência ou 
protecção, e que se tornou por si só numa 
doença, o que representa um desafio terapêu-
tico especial.
A dor nociceptiva surge por estimulação 
dos nociceptores e pode estar relacionada 
com um estímulo sem lesão tecidular como 
no caso do choque eléctrico e, se não alterar o 
funcionamento das vias nociceptivas, provoca 
uma dor passageira; ou derivar de uma lesão 
tecidular real que pode ser aguda, como é o 
caso das queimaduras e fracturas, ou crónica, 
como é o caso do cancro em evolução Nestes 
casos (lesão tecidular real) podem surgir fenó-
menos de sensibilidade periférica ou central.
A dor neuropática surge no decurso 
de uma lesão do sistema nervoso central ou 
periférico, com diminuição dos mecanismos 
73
inibidores nociceptivos, por disfunção das vias 
nociceptivas, ou por irritação/lesão de qual-
quer um dos elementos que as constituem. 
Estas alterações podem ser de origem traumá-
tica, tóxica, metabólica, entre outras.
A dor psicogénica parece não possuir 
uma base fisiológica. Na ausência comprovada 
de qualquer prejuízo orgânico observável, as 
queixas dolorosas referidas podem ser devidas 
a patologia rara desconhecida, patologia quali-
ficada de funcional, enquadrada nas afecções 
psicossomáticas ou uma psicopatologia.
Avaliação da dor
Os profissionais de Enfermagem têm dedi-
cado cada vez mais importância à avaliação e 
controle da dor. A avaliação é uma actividade 
integrante das suas funções, por ser indispen-
sável, de acordo com os padrões de qualidade 
da Ordem dos Enfermeiros, à excelência e 
qualidade dos cuidados de saúde prestados.
Uma avaliação da dor a mais correcta e 
objectiva possível é o ponto de partida para o 
início e optimização das medidas de contro-
lo deste sintoma tão temido. Esta premissa 
levanta algumas questões, como a dificuldade 
em conhecer o desconforto real vivenciado 
pela pessoa com dor, as respostas e adaptações 
orgânicas diferentes relativamente à dor e a 
interpretação de escalas de avaliação da dor 
numa perspectiva que não a das pessoas com 
dor.
A singularidade e 
individualidade de cada 
pessoa confere ao fenómeno 
dor um carácter subjectivo 
e único que depende da 
percepção individual, da 
percepção do utente, 
influenciada por vários 
factores mas, também, da 
percepção do enfermeiro, 
sendo, mais uma vez, 
fundamental salientar a 
importância da sensibilização 
para este fenómeno e do 
desenvolvimento de uma 
relação terapêutica que irá 
consolidar a comunicação e a 
confiança entre enfermeiro/
utente, pilar preponderante 
para o estabelecimento do 
plano terapêutico.
74
Cada pessoa experimenta e expressa a 
dor de forma única, assim como lhe atribui 
significados ou explicações pessoais diferentes. 
Os significados que o enfermeiro atribui à 
dor podem interferir e não corresponder à 
avaliação que o doente esperava. Avaliar a dor 
é muito mais do que tornar objectivo algo 
subjectivo e pessoal. Avaliar a dor é descobrir 
a verdadeira natureza e o significado da expe-
riência e vivência dolorosa, ou seja, engloba 
um conjunto de informações, história de 
dor, que são fundamentais para a identificar e 
quantificar.
METZGER et al (2002), salienta a ideia 
de que para efectuar uma correcta avaliação 
da dor o enfermeiro deve apoiar-se numa 
entrevista e na observação, tendo também em 
consideração os aspectos comportamentais e 
fisiológicos da pessoa, não esquecendo que 
estes não podem ser utilizados como indi-
cadores exclusivos da existência de dor, na 
medida em que, muitas vezes, algumas pessoas 
fazem algum esforço para a tentar ocultar do 
enfermeiro.
A avaliação da dor deve começar por uma 
entrevista destinada a recolher a história da dor 
vivida pelo doente. Não deve ser exaustiva, no 
entanto, de acordo com CARDOSO (1999), 
deve permitir dar uma série de resposta:
• História de vida do doente;
• Circunstâncias em que a dor aparece;
• História da dor;
• Localização da dor;
• Qualidade da dor;
• Frequência da dor;
• Intensidade da dor;
• Repercussões sobre as actividades de vida 
e sobre a qualidade de vida.
A relação que o indivíduo 
mantém com a dor, depende, 
antes de mais, da sua 
educação, do meio familiar e 
social em que cresceu, sendo 
primordial a atenção que esse 
meio prestou aos acidentes 
dolorosos na infância. 
Como qualquer dor inflige 
limitação dos movimentos do 
corpo, a relação com este, 
que depende da educação 
e da profissão, influencia 
igualmente os processos 
cognitivos.
75
Quantificação da dor
O Plano Nacional de Luta Contra a Dor 
(2001) denomina a dor como um verdadeiro 
problema de saúde pública em virtude das inca-
pacidades por ela geradas e a grande influência 
na qualidade de vida de cada um, assim como 
o impacto económico derivado do nível de 
absentismo por ela provocado. Trata-se de uma 
área que importa explorar para melhor conhe-
cer, valorizar e definir actuações ajustadas.
Na avaliação da dor, o auto-relato deve ser 
uma fonte primordial para a avaliação, poden-
do igualmente recorrer-se ao uso de escalas de 
avaliação da dor para melhor a quantificar e 
objectivar.
Para a avaliação da dor existem dois métodos, 
a auto-avaliação, avaliação realizada pelo próprio, 
em que a pessoa quantifica a sua dor com base 
no significado e percepção da sua experiência 
dolorosa, e a hetero-avaliação feita pelo enfer-
meiro, utilizando escalas comportamentais 
ou mistas (contendo itens fisiológicos e itens 
comportamentais). Este método de avaliação 
apenas deve ser realizado quando a auto-avalia-
ção é impossível.
A circular normativa da Direcção Geral de 
Saúde em consonância com a Comissão deAcompanhamento do Plano Nacional de 
Luta contra a Dor considera como norma de 
boa prática a utilização para mensuração da 
intensidade da dor, uma das seguintes escalas 
validadas internacionalmente, Escala Visual 
Analógica convertida em escala numérica para 
efeitos de registo, Escala Numérica, Escala 
Qualitativa ou Escala de faces.
Autonomia do enfermeiro no 
controlo da dor
MCCaffery (1989) salienta que a profis-
são de enfermagem deve interiorizar que a 
avaliação e o controle da dor é uma responsa-
bilidade dos enfermeiros.
É conhecido pelo senso comum que nas 
unidades de saúde são os enfermeiros que 
mais tempo passam com os doentes, com os 
quais estabelecem uma ligação mais directa. 
No dia-a-dia os enfermeiros têm o dever 
de avaliar e controlar a dor dos doentes que 
cuidam, contribuindo para a satisfação das 
suas necessidades.
Sendo assim, o alívio da dor é um direito 
do doente e um dever dos profissionais de 
saúde. Torna-se urgente e eticamente correcto 
o seu alívio, pois é uma experiência negativa 
não só a nível físico, mas também psíquico, 
social e espiritual. Na presença de um doente 
com dor torna-se necessário que o enfermei-
ro conheça o ponto de vista deste em relação 
à sua dor. Por vezes, esta é considerada numa 
perspectiva biológica, sendo o resultado de 
uma doença física, e ignora-se o seu aspecto 
pessoal, ou seja, é imprescindível estabelecer 
com o doente uma relação de empatia e 
compreensão para que o enfermeiro consiga 
ajudar, tendo como objectivo controlar a dor.
O enfermeiro intervém no controlo da dor 
através da sua avaliação, ensinos, intervenções 
farmacológicas e não farmacológicas, moni-
torizando a eficácia das mesmas e os efeitos 
adversos.
76
Os factores intrínsecos ao cuidador, enfer-
meiro, são também para ter em consideração. 
O enfermeiro é também uma pessoa com 
um passado de vivências e com percepções 
próprias. Os juízos que faz enquanto profis-
sional, assim como a sua tomada de decisão, 
são influenciados pela sua subjectividade.
Ao considerar a dor como o 5º sinal vital, 
tentou-se objectivar tanto quanto possível 
a intensidade da dor para que seja percebida 
da mesma forma por todos os cuidadores. O 
mesmo tende a acontecer com as intervenções 
a levar a cabo para o controlo da dor.
Conforme as orientações do Plano Nacional 
de Luta Contra a Dor, se nos debruçarmos 
sobre a vertente do ensino/educação para a 
saúde, o nosso objectivo será a colaboração do 
cliente, de forma esclarecida, no controlo da 
dor.
De acordo com WATSON (2003) é o 
doente quem sabe o que dói e quem presta os 
cuidados deve permitir que a orientação do 
processo terapêutico parta do doente.
Assim a auto-ajuda passa por:
• Ensino sobre a auto-avaliação da dor;
• Ensino sobre as formas de controlo dos 
estímulos desencadeantes da dor e dos sinto-
mas que podem diminuir a sua tolerância;
• Ensino relativo à medicação antiálgica;
• Ensino sobre o auto-controlo da dor 
(técnicas não farmacológicas).
São diversas as oportunidades de actuação 
para o enfermeiro recorrendo a medidas não 
farmacológicas. No âmbito deste tipo de actu-
ação importa ter presente que são um número 
considerável aquelas que podem, com facili-
dade, integrar as intervenções de enfermagem, 
do plano de cuidados de um doente com dor. 
São medidas simples, de conforto e aumento 
do bem-estar que o enfermeiro pode colocar 
em prática. Este tipo de intervenção será mais 
explorado no capítulo seguinte.
Nas questões de saúde, em geral, e no alívio/
controlo da dor, em particular, haverá toda a 
vantagem em aproveitar o que cada vertente 
tem para oferecer. Assim, seria ideal a adopção 
de uma abordagem integral (ou integrada) em 
que o objectivo primordial seria o melhorar 
a qualidade de vida da pessoa, como defende 
CAVALHEIRO citado por MALTA (2003).
As intervenções farmacológicas, resultantes 
da administração de medicação, são também 
áreas de intervenção do enfermeiro. A questão 
da autonomia a elas inerente é ainda alvo de 
discussão.
Assim, as tendências actuais, seja para 
intervenções farmacológicas ou não farma-
cológicas, rumam para a diminuição do juízo 
individual. Tem-se vindo a tentar protocolar 
uma hierarquia de intervenções (farmacológi-
cas e não farmacológicas). Se cada um reflectir 
sobre a sua realidade de trabalho, poucos são 
os que não chegarão à conclusão de que, ainda 
que informal, o seu serviço tem uma forma 
de actuação comum aos vários elementos da 
equipa. São os valores que se perpetuam na 
integração de novos elementos, que se parti-
lham em passagem de turno.
77
Intervenções não farmacológicas no 
controlo da dor
A tolerância à dor é diferente de pessoa para 
pessoa e no próprio indivíduo, a intensidade 
pode variar de acordo com diversos facto-
res, pelo que o seu tratamento constitui um 
desafio para os profissionais de saúde e, em 
particular, para os enfermeiros.
Para Caunt (1993) a dor pode ser contro-
lada com métodos farmacológicos e/ou não 
farmacológicos, estes últimos mais no âmbito 
específico das intervenções autónomas de 
enfermagem.
As actividades autónomas da enfermagem 
no controlo da dor passam pelo uso de técni-
cas que podem não eliminar totalmente a dor, 
mas pelo menos vão actuar como adjuvantes 
de outras medidas terapêuticas.
As técnicas seleccionadas podem ser utiliza-
das em ambiente hospitalar e fazem parte da 
intervenção autónoma do enfermeiro porque, 
como referimos no capítulo anterior, depen-
dem do diagnóstico, prescrição e avaliação 
deste.
Cada pessoa experimenta 
e expressa a dor de 
forma única, assim como 
lhe atribui significados 
ou explicações pessoais 
diferentes. Os significados 
que o enfermeiro atribui à 
dor podem interferir e não 
corresponder à avaliação 
que o doente esperava. 
Avaliar a dor é muito mais 
do que tornar objectivo 
algo subjectivo e pessoal. 
Avaliar a dor é descobrir 
a verdadeira natureza e o 
significado da experiência e 
vivência dolorosa, ou seja, 
engloba um conjunto de 
informações, história de dor, 
que são fundamentais para a 
identificar e quantificar.
78
Ambiente físico
O enfermeiro desenvolve um papel 
fundamental na promoção de um ambiente 
terapêutico, isto é, optimiza todas as vertentes 
do ambiente de forma a proporcionar bem-
estar físico, psicológico, emocional e espiritual 
ao doente.
Ruído
CARR (1990) acrescenta que o nível 
excessivo de ruído pode causar ainda irritação, 
frustração e agressividade, pelo que o enfer-
meiro deve, sempre que possível, promover 
um ambiente isento de ruído (actividades 
desenvolvidas, equipamento utilizado, horário 
de visitas).
Temperatura ambiente
Compreende-se que um quarto extre-
mamente aquecido ou arrefecido possa 
contribuir para um mau-estar que alguns 
doentes referem. Do mesmo modo, vestuário 
limpo, uma mudança de roupa de cama e 
esforços para manter a pessoa fresca são medi-
das que frequentemente aumentam o nível de 
conforto e melhoram a eficácia das medidas 
de controlo da dor.
Termoterapia
Representa a utilização do calor e/ou do 
frio com intuitos terapêuticos. Podem ser 
utilizados sacos específicos (contendo algodão 
e sílica) que provocam uma libertação gradual 
do calor.
79
Iluminação 
É fundamental na concepção dos espaços de 
cuidados incorporar o máximo possível de luz 
natural balanceada com a luz artificial. Nestes 
espaços a iluminação deve ser projectada para 
aumentar a capacidade funcional do indiví-
duo, minimizar o desconforto e potenciar um 
completo bem-estar. O acesso à luz natural 
deve ser promovido por ocorrer estimulação 
dos sistemas circadianos e neuro-endócrino 
que regulam a homeostase do organismo, 
contudo tal exposição requer ponderação de 
acordo com a situação clínica de cada doente.
Odor
Este é provavelmente o mais subestimado 
de todos os sentidos, apesar da sua grande 
influência no bem-estar do cliente, nomeada-
mente na sensação de dor.
Calor
Consiste na aplicação de água quente 
provocando vasodilatação e suavização do 
tecido, o que permitea eliminação do mate-
rial tóxico do corpo com diminuição do 
espasmo muscular e relaxamento dos múscu-
los do tracto gastrointestinal. O calor pode ser 
aplicado em forma de esponja, compressas ou 
panos quentes. Está contra indicado nas situa-
ções de pós trauma, massa tumoral e doença 
vascular periférica.
Frio
O frio estimula a síntese de noradrenalina 
cuja secreção excessiva faz com que uma 
pessoa se sinta controlada, confiante e exci-
tada. O frio também retarda a condução do 
impulso, mantendo o tónus muscular e rela-
xando o músculo. A aplicação de gelo provoca 
vasoconstrição, reduz ou evita o edema, dimi-
nui a inflamação e alivia a dor (pós-traumática 
inicial). Está contra indicado nas seguintes 
situações: doença vascular periférica, doença 
cardíaca, sensibilidade ao frio e aumento da 
dor com a sua aplicação.
Precauções na utilização do calor e 
crioterapia:
• Proteger a pele com toalhas;
• Não exceder os vinte minutos de aplicação;
• Verificar se existem sinais de lesão de cinco 
em cinco minutos;
• Redobrar a atenção em pessoas com a 
sensibilidade diminuída ou com limitações da 
comunicação.
80
Mobilização
Neste contexto o enfermeiro tem um papel 
crucial quando o doente não é independente 
na sua mobilidade. Apresentam-se seguida-
mente as considerações de METZGER et al 
(2002) e de CAMPOS et al (2001) relativas às 
questões da mobilização no controlo da dor.
Factores de atenuação da dor
Para o doente:
• Para evitar qualquer sensação de insegu-
rança (apreensão, medo antes da mobilização, 
medo de cair) e consequentemente reflexos 
de defesa, rigidez e crispações que dificulta-
riam a mobilização, é necessário explicar ao 
doente os objectivos da manobra e a ajuda 
que se espera dele;
• Aquando da mobilização é necessário não 
esquecer a configuração vertebral do doente, 
respeitar e apoiar as articulações e restantes 
partes do corpo. Será igualmente necessário 
atender à fragilidade óssea de alguns doentes 
(idosos, doentes oncológicos com metástases 
ósseas) e à existência de equipamentos tera-
pêuticos (sonda nasal, tubo endotraqueal, sonda 
nasogástrica, sonda vesical, cateteres periféricos 
ou centrais, drenos).
Para o(a) enfermeiro(a):
• Executar gestos precisos, coerentes, 
concertados e sincronizados com os do 
ajudante, sem precipitação;
• Utilizar técnicas de postura correcta (costas 
direitas, joelhos flectidos, braços estendidos);
• Usar calçado anti-derrapante para garantir 
apoio estável e vestuário amplo para facilitar 
os movimentos.
81
Posicionamentos
Consiste em alternar os decúbitos do doente 
(com ou sem a sua colaboração), respeitando a 
posição anatómica, o peso corporal e as zonas 
de proeminência óssea e atendendo à carac-
terização da sua dor, às limitações decorrentes 
da doença ou da intervenção cirúrgica a que 
tenha sido submetido. Tem como objectivos: 
estimular a circulação, respiração, eliminação e 
exercício; facilitar a mobilidade de secreções 
brônquicas; manter a amplitude articular; 
manter a integridade cutânea; prevenir atro-
fias musculares; proporcionar conforto e 
bem-estar; alternar o campo visual e favorecer 
a independência do cliente. O doente pode 
ser posicionado na cama ou num cadeirão, 
quando possível. Por vezes, exige a colabora-
ção de várias pessoas e de algum equipamento 
(almofadas, lençóis, talas ou outros suportes 
ortopédicos).
Toque 
É uma técnica que tem por base a comu-
nicação com a finalidade de compreender 
melhor o empenhamento recíproco na relação 
de intimidade, confidencialidade e confiança 
entre o enfermeiro e o doente. Permite ao 
enfermeiro modelar-se progressivamente 
enquanto indivíduo e profissional e ajustar-se 
continuamente à procura da ética e distân-
cia ideal do gesto nos cuidados (Sociedade 
Francesa de Acompanhamento e de Cuidados 
Paliativos, 1999).
Num caso de experiência de dor, o simples 
estar por parte do enfermeiro pode contribuir 
para a redução da ansiedade com consequente 
diminuição da dor. O toque é também uma 
técnica de comunicação na qual o enfermeiro 
consegue transmitir alguma sensação de tran-
quilidade ao doente, pois muitas vezes este 
gesto tão simples é interpretado pelas pessoas 
como presença se algo acontecer, que a pessoa 
não se encontra só, há alguém que toma conta 
dela.
82
Técnicas de relaxamento
O relaxamento muscular progressivo e o 
relaxamento pela respiração são as duas técni-
cas mais difundidas. 
O relaxamento progressivo dos grupos 
musculares foi desenvolvido pela primeira vez 
por Jacobson, o qual refere que a ansiedade 
e o relaxamento muscular produzem estados 
fisiológicos antagónicos, logo não podem 
coexistir. Este tipo de relaxamento consiste 
num processo gradual de contracção (tensão 
muscular) e relaxamento de todos os grandes 
grupos musculares. No final da técnica espera-
se que todos os músculos estejam relaxados.
O exercício respiratório tem um papel 
fundamental no controle da dor. Inspirações e 
expirações lentas e profundas à medida que a 
dor aumenta até à respiração superficial quan-
do esta atinge o seu máximo. Estes exercícios 
têm especial utilidade em procedimentos 
dolorosos de curta duração.
O treino autógeno, desenvolvido por 
Schutz, é uma técnica de relaxamento e 
controlo fisiológico que usa a auto-sugestão; 
a pessoa repete para si mesma, frases sugerindo 
alterações no sentido do relaxamento e do 
auto-controlo. (METZGER et al 2002). 
Técnica de imaginação guiada
A imaginação é uma forma de aliviar a dor 
através de vários mecanismos e constitui uma 
intervenção semelhante à distracção, excepto 
o facto de que com esta abordagem a pessoa 
concentra-se em tentar reviver as situações 
que tenham ocorrido durante uma experiên-
cia agradável anterior.
83
Sendo assim, o alívio da dor é um direito do doente e um dever 
dos profissionais de saúde. Torna-se urgente e eticamente 
correcto o seu alívio, pois é uma experiência negativa não só a 
nível físico, mas também psíquico, social e espiritual. Na presença 
de um doente com dor torna-se necessário que o enfermeiro 
conheça o ponto de vista deste em relação à sua dor.
Técnicas de distracção
Esta técnica tem como objectivo encorajar 
e incentivar a pessoa com dor a focar a sua 
atenção numa imagem ou estímulo especial, 
«relegando» para segundo plano a dor. Como 
exemplos de técnicas de distracção a serem 
utilizadas temos: jogar jogos; técnicas de respi-
ração; assistir a filmes; ler; cantar mentalmente; 
marcar o compasso de uma música com os 
pés e com as mãos; imaginar cenas agradáveis.
O objectivo é produzir relaxamento, praticar 
o bem-estar, retirar o foco da dor e diminuir a 
sua percepção.
Aromaterapia
A aromaterapia é uma arte antiga. Já há 
mais de 6 mil anos que o valor de óleos de 
plantas naturais foi reconhecido, quer pelas 
suas propriedades curativas, purificadoras e 
de melhoria do estado de espírito, quer pelo 
prazer das suas fragrâncias (McGILVERY et 
al., 1998).
A arte da aromaterapia faz uso das poten-
tes essências puras das plantas, flores e resinas 
aromáticas, actuando nos sentidos do olfacto 
e do tacto, para restabelecer a harmonia do 
corpo e da mente.
84
Bibliografia
BLACK, J. M.; JACOBS, M. E. – LUCKMAN & 
SORENSEM - Enfermagem médico cirúrgica: uma abor-
dagem psicofisiológica. Vol. 1. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Editora 
Guanabara Koogan , 1996. ISBN 85-277-0346-7.
CAMPOS, Ana; [et al] – Manual de normas e procedimen-
tos técnicos de enfermagem: Sistema de classificação de 
doentes baseado em níveis de dependência de cuidados de 
enfermagem. Lisboa: Ministério da Saúde Instituto de Gestão 
Informática e Financeira da Saúde, 2001.
CARDOSO, M. – Manual de tratamento da dor crónica. 
Lisboa: Lidel Edições Técnicas, 1999.
CARR; Eloise – Métodos não físicos no alívio da dor. 
Nursing. ISSN 0871-6196, N.º 31, (1990) 7-9 .
CAUNT, Helen – Reduzindo o impacto psicológico da dor 
pós-operatória. Nursing. ISSN 0871-6196, N.º 71, (1993) 
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– Classificaçãointernacional para a prática da enfermagem 
(CIPE/ICNP). Beta 2. Lisboa: Associação Portuguesa de 
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CORDEIRO, Sara; [et al.] – O Cancro e a Qualidade de 
Vida. 1ª Ed. [S.I.]: Novartis, 2005. ISBN 972-9119-94-5.
CONSELHO INTERNACIONAL DE ENFERMEIROS 
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(CIPE/ICNP). Beta 2. Lisboa: Associação Portuguesa de 
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CORDEIRO, Sara; [et al.] – O Cancro e a Qualidade de 
Vida. 1ª Ed. [S.I.]: Novartis, 2005. ISBN 972-9119-94-5.
Direcção Geral da Saúde – Divisão de Doenças Genéticas, 
Crónicas e Geriátricas – A Dor como 5º sinal vital. Registo 
sistemático da intensidade da Dor. Lisboa: DGS, 2003 
(Circular Normativa n.º9/DGCG/2003).
Direcção Geral da Saúde – Plano nacional de luta contra a 
Dor. Lisboa: DGS, 2001.
METZEGER, Christiane; [et al] – Cuidados de enfermagem 
e dor. Camarate: Lusociência, 2002. ISBN 972-8383-32-0.
SOCIEDADE FRANCESA DE ACOMPANHAMENTO 
E DE CUIDADOS PALIATIVOS – Desafios da enferma-
gem em cuidados paliativos: Cuidar – Ética e práticas. Loures: 
Lusociência, 1999. ISBN 972-8383-17-9.
WATSON, J. – In TOMEY, A., M; ALLIGOOD, M., R. (Ed) 
– Teóricas de enfermagem e a sua obra. (Modelos e teorias 
de enfermagem). 5ª Ed. . Loures: Lusociência, 2003.
Uso da música
Sendo a dor uma experiência pessoal e 
sensorial, a música altera a percepção de dor 
e desvia a atenção do foco doloroso, consti-
tuindo um método de distracção. Diminui 
também a ansiedade, promovendo a qualidade 
do sono. O uso da música pressupõe que o 
doente escolha a que mais lhe agrada (BLACK 
& JACOBS, 1996).
Massagem
É uma técnica terapêutica manual que 
consiste na aplicação de uma série de movi-
mentos que proporcionam um intercâmbio 
entre o emissor (terapeuta) e receptor (doen-
te) cujo objectivo final é a eliminação das 
tensões, é a linguagem do tacto, ou linguagem 
estabelecida através da pele, é uma transmissão 
e uma forma de estabelecer uma comunica-
ção ou conexão sem palavras, é um conjunto 
de toques exercidos sobre o corpo. Segundo 
a Sociedade Francesa de Acompanhamento 
e de Cuidados Paliativos SFAP (1999), é um 
acto privilegiado que permite comunicar 
calor humano, apaziguar e não é invasivo.
85
Conclusão 
A abordagem da percepção da dor como 
experiência singular e pessoal e a importância 
de sensibilizar os enfermeiros o seu controlo, 
bem como da relação terapêutica de funda-
mental estabelecimento, vem dar ênfase à 
nossa visão deste fenómeno.
Igualmente relevante foi o desenvolvimento 
da temática sobre a autonomia/intervenções 
autónomas dos enfermeiros no controlo da 
dor. E, de acordo com a teoria de Watson, os 
enfermeiros podem estabelecer uma colabo-
ração para auxiliar a pessoa a obter controlo, 
conhecimento e saúde.
Desta forma, e após a reflexão efectuada, 
podemos dizer que o enfermeiro assume um 
papel preponderante no reconhecimento e 
avaliação da dor, sendo o elemento da equipa 
multidisciplinar que pode ter grande influên-
cia na decisão das estratégias a aplicar.
… Podemos dizer que o 
enfermeiro assume um 
papel preponderante no 
reconhecimento e avaliação 
da dor, sendo o elemento da 
equipa multidisciplinar que 
pode ter grande influência 
na decisão das estratégias a 
aplicar.
86
Resumo
Fundamentação: Os casos de Paralisia 
Cerebral (PC) têm aumentado nas últimas 
décadas em todo o mundo. No Brasil, estima-
se que existam cerca de 30 mil a 40 mil novos 
casos ano. A PC afecta o sistema nervoso 
central, sendo que a disfunção está predo-
minantemente aliada à parte sensoriomotor, 
com distúrbios de tónus muscular, postura e 
movimentação involuntária.
Objectivo: Avaliar a área da função social 
em portadores de paralisia cerebral submetidos 
a um programa de actividades físicas aquáticas, 
com adopção do Inventário de Avaliação 
Pediátrica de Disfunção (PEDI).
Departamento de Ciências do Desporto, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; 
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais, Gabinete Militar do Governador 
(CEDEC/GMG – MG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil; Corpo de Bombeiros Militar de 
Minas Gerais
Faculdades Unidades do Norte de Minas (FUNORTE), Montes Claros, Minas Gerais, Brasil
Departamento de Ciências do Desporto, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Departamento de Ciências do Desporto, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Departamento de Ciências do Desporto, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
FTCD
Palavras-chave: Paralisia cerebral, exercícios aquáticos, função social
Este artigo foi originalmente publicado na revista Motricidade, vol. 02, n.º 02, Abril 2006
Felipe José Aidar
André Carneiro
António Silva
Victor Reis
Nuno Garrido
Rui Vieira
Paralisia Cerebral
e actividades aquáticas: 
87
aspectos ligados
à saúde e função social
Materiais e métodos: Foram acompa-
nhadas 27 crianças portadoras de PC nas suas 
manifestações, predominantemente, espástica e 
atetosa, com idade variando de um ano e três 
meses a seis anos e sete meses. Foi utilizada 
a avaliação da função social no que se refere 
à assistência do adulto e sua melhoria antes e 
depois da prática de exercícios físicos aquáti-
cos. Foi utilizado para a avaliação o Pediatric 
Evaluation Disability Inventory – PEDI, na parte 
de função social.
Resultado: Houve melhoras significativas 
na parte da função social nos alunos que foram 
submetidos a actividades físicas aquáticas.
Discussão e conclusão: Os resultados 
encontrados no estudo inferem tendências no 
sentido de que a prática de exercícios físicos 
aquáticos demonstram indícios de contribui-
ção na melhoria motora, com consequente 
melhoria na função social, trazendo uma maior 
independência para a criança portadora de 
PC.
88
Introdução
A PC, segundo a World Health 
Organization, WHO32, é denominada também 
como encefalopatia crónica não progressiva 
da infância. Os distúrbios caracterizam-se pela 
falta de controlo sobre os movimentos, isto 
devido a modificações adaptativas musculares, 
comprimento muscular e até com deforma-
ções ósseas 27. O quadro tende a comprometer 
o processo de aquisição de habilidades e com 
possibilidade prejudicar actividades quoti-
dianas realizadas por crianças durante o seu 
desenvolvimento 20, 30.
No Brasil, estima-se que ocorram cerca de 
30 mil a 40 mil novos casos ano8. Noutros 
países considerados em vias de desenvolvi-
mento, a incidência pode chegar a sete casos 
por mil nascimentos10. Nos países conside-
rados desenvolvidos, a PC tem apresentado 
prevalência de casos considerados moderados 
e severos, com incidência indicada de cerca de 
1,5 a 2,5 por grupo de mil nascimentos12, 26. 
A gravidade do comprometimento neuro-
motor de uma criança com PC pode ser 
caracterizada como leve, moderada ou severa, 
e a gravidade apresenta relação directa com 
o meio de locomoção da criança23, 25. Para 
WHO32, a PC pode também resultar em 
incapacidade, como limitações no desempe-
nho de actividades e tarefas quotidianas da 
própria criança e de seus familiares.
Dentro desta premissa, o presente estu-
do tem por objetivo a avaliação na área da 
função social de um programa de actividades 
físicas aquáticas, adotando-se o Inventário de 
Avaliação Pediátrica de Disfunção (PEDI)14. 
A Paralisia Cerebral, segundo 
a World Health Organization, 
é denominada também como 
encefalopatia crónica não 
progressiva da infância.
Os distúrbios caracterizam-se 
pela falta de controlo 
sobre os movimentos, isto 
devido a modificações 
adaptativas musculares, 
comprimento muscular 
e até com deformações 
ósseas. O quadro tende a 
comprometer o processo 
de aquisição de habilidades 
e com possibilidade 
prejudicar actividades 
quotidianas realizadas por 
crianças durante o seu 
desenvolvimento.
89
Metodologia
Amostra
Foram avaliadas 27 crianças com idade 
compreendida entre um ano e três meses e seis 
anos e sete meses, sendo 11 do sexo feminino 
e 16 do sexo masculino, com idade médiade 
4,2 anos ± 3,2, portadoras de PC moderada 
ou severa e, principalmente, na predominância 
das manifestações espática e atetosa (Tabela 1).
Para a recolha de dados foram observados 
os instrumentos éticos com a assinatura de 
consentimento por parte dos responsáveis 
pelos sujeitos. Os responsáveis pelos alunos 
foram informados do estudo que obedeceu 
aos critérios da Declaração de Hensinke 
1975.
Ocorrência
Idade (média ± desvio padrão) 4,2 ± 2,0
Idade (média ± desvio padrão) – masculino 4,4 ± 2,3
Idade (média ± desvio padrão) – feminino 4,0 ± 1,4
Sexo (homens/mulheres) (%) 16 (59,3)/11 (40,7)
Tabela 1
Dados dos Sujeitos
90
Instrumentos
Os materiais utilizados foram uma piscina 
de 25x12,5 m, com profundidade média de 
1,8 m, não aquecida, do Corpo de Bombeiros, 
além de aqua tube, pull bóia, pranchas e outros 
apetrechos destinados à prática de actividades 
aquáticas.
Os alunos forma submetidos ao Pediatric 
Evaluation Disability Inventory – PEDI14, 15. 
Foi utilizada somente a parte do questionário, 
PEDI, relacionada com avaliação da função 
social, com acções relacionados somente 
com assistência por parte do adulto. A avalia-
ção levou em consideração a compreensão 
do significado das palavras, compreensão 
de sentenças complexas, uso funcional da 
comunicação, complexidade da comunicação 
expressiva, resolução de problemas, interacção 
com companheiros, brincadeiras com objec-
tos, auto-informação, orientação temporal, 
tarefas domésticas, funções comunitárias e 
jogos sociais interativos.
No PEDI, quanto maior a pontuação, 
maior a independência, ou seja, menor o nível 
de comprometimento do sujeito. O estudo 
foi realizado no período de Março a Junho de 
2004, tendo a duração de 16 semanas.
A frequência das aulas foi de duas vezes por 
semana com duração máxima de 45 minutos 
cada, os alunos tiveram a opção de fazer os 
exercícios no período das 07h00 às 19h00.
Os sujeitos foram submetidos a avaliação 
antes de iniciarem os trabalhos e após 16 
semanas de actividades físicas aquáticas.
Estatística
O tratamento estatístico foi feito em relação 
ao pré e pós-teste, sendo utilizado o teste t 
para amostra emparelhada. Foi feita a verifica-
ção da homogeneidade da amostra através do 
teste de Shapiro Wilk uma vez que a amostra 
é de 27 sujeitos. Foi considerado um p<0,05, 
sendo a análise feita no programa SPSS for 
Windows versão 12.0.
Resultados
O teste adotado, segundo Haley et al.15, visa 
principalmente três áreas de desempenho, 
auto-cuidado, mobilidade e função social, área 
esta foco do estudo. O teste é utilizado para 
crianças de seis meses a sete anos e meio de 
idade. Os resultados encontrados dentro da 
metodologia propostas estão apresentados na 
tabela 2.
Comparando-se os dados antes e depois do 
início dos exercícios físicos verifica-se estatis-
ticamente uma melhoria no nível da função 
social do grupo como um todo.
91
Discussão e conclusão
A educação física e o desporto, no contexto 
do processo da educação do indivíduo, teriam, 
entre outros objectivos, os de recrear e resgatar 
a infância e o prazer pelo movimento. Isto 
proporcionaria e facilitaria a inserção no meio 
social devido à redução de preconceitos e da 
melhoria na condição de aprendizagem28.
A actividade física seria uma acção feita por 
todos com vista a melhorias motoras, sociais 
e mentais e não como, simplesmente, uma 
actividade que visa a competição e a educa-
ção física de forma elitista21. A educação física 
para todos teria como característica a busca da 
alegria, diversão, prazer, socialização, recreação 
e saúde.
Os portadores de necessidades espe-
ciais tendem a isolar-se1. O indivíduo 
somente trabalha ou mesmo existe satisfato-
riamente dentro de seu ambiente, quase em 
relação directa com a sua habilidade e aceita-
ção de outras pessoas, da capacidade dos outros 
em aceitá-lo e de sua tolerância em aceitar a 
si próprio. A necessidade seria a mesma para 
o portador de necessidades especiais, porém 
o método é que se encontraria alterado para 
este segmento31.
As actividades físicas têm-se demonstrado 
um meio eficaz na melhoria da mobilidade 
em portadores de PC5, 11.
A água, pelo Princípio de Arquimedes, 
exerce uma força de baixo para cima igual 
ao volume deslocado subtraindo o seu peso, 
e isto tende a promover uma flutuação, que 
seria utilizada para proporcionar um maior 
relaxamento e fortalecimento inicial para os 
músculos mais fracos, maior mobilidade arti-
cular, um stress biomecânico menor, auxílio 
e resistência aos movimentos, uma vez que 
diminui a sobrecarga, mas por outro lado tem 
uma resistência maior do que a do ar9, 24. A 
água ainda estimularia a circulação periférica, 
facilitando o retorno venoso e melhoraria a 
respiração, oferecendo um efeito de massagem, 
estimulando uma melhor contração muscular, 
o que promoveria uma melhoria na postura7. 
Variável N Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Antes da prática de exercícios
Depois da prática de exercícios
27
27
15,2
28,1*
3,1
2,3
9
21
20
38
Tabela 2
Análise antes e depois da prática de exercícios físicos
*p<0,05
92
Os resultados apresentados indicam que os exercícios físicos, 
mais especificamente os feitos no ambiente aquático, tendem 
a melhorar a função social em portadores de Paralisia Cerebral, 
permitindo maior participação uma vez que o questionário 
utilizado avalia, entre outros progressos, as melhorias na 
resolução de problemas, interacção com companheiros, 
brincadeiras com objectos, tarefas domésticas, funções 
comunitárias e jogos sociais interactivos, e apresenta-se 
como forma de promover uma maior independência, com 
consequente participação social mais efectiva, e com tendência 
à melhoria na qualidade de vida e na saúde do portador de 
Paralisia Cerebral.
93
O conjunto de respostas cardiovasculares à 
imersão, incluindo bradicardia, vasoconstrição 
periférica e desvio preferencial do sangue para 
áreas vitais, é colectivamente conhecido como 
reflexo de mergulho29. O reflexo de mergu-
lho ocorreria de várias maneiras, inclusive 
durante exercícios e terapias aquáticas. Uma 
resposta imediata à imersão em água fria seria 
o aumento do metabolismo, evidenciado por 
um aumento no consumo de Oxigénio29. A 
água apresentar-se-ia como um meio único 
para a realização de exercícios, e algumas 
respostas ao exercício na água seriam melho-
res do que aquelas em terra para portadores 
de PC18. Durante o exercício dinâmico leve e 
moderado na água, o metabolismo seria basi-
camente aeróbico promovendo uma melhora 
na respiração18.
Actividades com a água na altura do peito 
levariam a um aumento da pressão hidrostáti-
ca nas paredes do peito e abdominais durante 
a respiração3. A água faz resistência à respira-
ção, principalmente em pacientes com baixa 
capacidade vital, entre outros. Actividades 
aquáticas, aliadas a exercícios respiratórios, 
como respiração na água (fazer borbulhas), são 
benéficas aos pacientes que tenham problemas 
respiratórios18.
Durante os exercícios há uma expiração 
forçada13. Isto pode ser potencializado em 
trabalhos na água. O programa de natação 
apresentou respostas melhores que outros 
tipos de actividades físicas para portadores de 
PC consistindo num exercício respiratório 
eficiente17. No mesmo sentido, outros estudos 
têm demonstrado que actividades feitas de 
forma continuada e mais intensa têm demons-
trado melhorias na mobilidade de portadores 
de PC22.
A actividade na água seria a melhor de todas 
as formas de exercícios, sustentando que a 
natação é um exercício excelente para restau-
rar e manter o condicionamento de muitas 
condições, sendo um meio valioso para recre-
ação e desporto, devido aos factores aliados ao 
meio líquido7. Outros facilitadores do meio 
líquido é o facto de a água ser 770 vezes mais 
densa do que o ar, quanto mais imerso está à 
parte do corpo na água menor é a sobrecarga 
acarretada, a frequência cardíaca apresenta-se 
menor do que exercícios em terra, acabando 
por proporcionar uma situaçãode maior 
mobilidade e benéfica para portadores de PC, 
dentre outros benefícios já citados9, 18.
94
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95
Nesta direcção, os resultados apresentados 
tendem a confirmar que em crianças com 
PC a tendência de realizar actividades sociais 
está presente, inclusive com uma rotina diária 
semelhante às das crianças consideradas 
normais33. As evidências sobre o desempenho 
funcional de crianças consideradas normais já 
é bem definido4, 16, e estes mesmos parâmetros 
acabam por nortear o processo de avaliação e 
tratamento de crianças portadoras de PC19, e 
este procedimento baseado em que a sequên-
cia e o tempo de desenvolvimento infantil 
poderia ser semelhante, acaba por induzir a 
uma melhoria em relação ao portador de PC2. 
Por outro lado, a criança com PC tende a ser 
mais dependente e ter menor participação 
social6.
Outro ponto observado relacionado com a 
parte social, é que estudos têm demonstrado 
que actividades físicas tendem a melhorar a 
participação em grupos considerados espe-
ciais, notadamente os portadores de PC11.
Os resultados apresentados indicam que 
os exercícios físicos, mais especificamente 
os feitos no ambiente aquático, tendem a 
melhorar a função social em portadores de 
PC, permitindo maior participação uma vez 
que o questionário utilizado avalia, entre 
outros progressos, as melhorias na resolução 
de problemas, interacção com companheiros, 
brincadeiras com objectos, tarefas domésticas, 
funções comunitárias e jogos sociais interacti-
vos, e apresenta-se como forma de promover 
uma maior independência, com consequen-
te participação social mais efectiva, e com 
tendência à melhoria na qualidade de vida e 
na saúde do portador de PC.
96
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, EPE; Serviço de 
Radiologia, aluna do II Curso de Pós-Licenciatura de Especialidade 
em Enfermagem em Saúde Materna e Obstetrícia
Hospital Geral de Santo António, EPE; Serviço de Neurocirurgia, 
aluna do II Curso de Pós-Licenciatura de Especialidade em 
Enfermagem em Saúde Materna e Obstetrícia
Exercícios físicos
no pós-parto
Carla Cristina Alves da Silva
Sandra Maria Alves Branco Miguel
97
Resumo
O período de puerpério, também conhe-
cido como período pós-parto, dura cerca de 
seis semanas.
Em nenhuma outra fase da vida da mulher 
as modificações físicas são tão grandes e acon-
tecem em tão curto espaço de tempo. Todos 
os órgãos, principalmente os genitais, recu-
peram-se das alterações ocorridas ao longo 
da gravidez e do parto. Nesta fase inicia-se 
também, à partida, a lactação. Não podemos 
descurar também as importantes modificações 
a nível psicológico e de dinâmica familiar e 
relacional.
Desenvolvimento
Logo após o parto dá-se a involução uterina 
(retorno do útero ao tamanho que tinha antesda gravidez), que poderá ser coadjuvada com 
início da amamentação materna.
A fragilidade da vagina e do períneo causada 
pela dilatação dos tecidos e estruturas duran-
te o trabalho de parto, leva à necessidade da 
mulher executar exercícios de fortalecimento 
dos mesmos.
No caso de episiotomia, ter em atenção 
o início das primeiras relações sexuais que 
devem apenas acontecer após a completa 
cicatrização das regiões traumatizadas. Nas 
primeiras relações sexuais, a penetração deve 
ser mais cuidadosa, pois o revestimento da 
vagina está mais fino e menos lubrificado. 
A elasticidade dos ligamentos permanece 
frágil por quatro a cinco meses pelo que a 
mulher deve manter uma boa postura.
A região abdominal também está enfra-
quecida e deve ser fortalecida após o 
fortalecimento do períneo.
No pós-parto a mulher poderá ter dores 
lombares devendo preveni-las com uma boa 
postura e a realização de exercícios físicos.
As pernas podem estar doridas, pesadas e 
edemaciadas, devendo a mulher fazer exer-
cícios com as pernas elevadas. Se se tratar 
de alguém susceptível a tromboembolismo, 
encorajar o uso de meias de descanso.
A incontinência urinária caracterizada pela 
perda involuntária de urina após a mulher 
tossir, espirrar, fazer um esforço, poderá ser 
normal no final da gravidez e nos primeiros 
três meses após o parto. Não será normal após 
este período. Há que manter uma boa postu-
ra para consequentemente haver um bom 
posicionamento dos órgãos internos, fazer 
fortalecimento da musculatura da coluna e 
do períneo, evitando assim a incontinência 
urinária. 
98
Há que activar a circulação sanguínea atra-
vés de uma respiração adequada e exercícios 
recomendados.
A puérpera deve descansar mas deve evitar 
permanecer muito tempo deitada. Deve 
deambular precocemente e tentar manter 
uma boa postura caminhando com os pés 
paralelos.
Os exercícios do pós-parto são muito 
importantes para o mais rápido restabele-
cimento da puérpera. Poderão surgir-nos 
algumas questões tais como Quando?, Onde?, 
Como? e Porquê? a necessidade destes 
exercícios.
Estes exercícios devem ser iniciados logo 
após o parto desde que a mulher tenha 
capacidade para os desempenhar e não tenha 
nenhuma contra-indicação.
Poderão ser executados na sua própria 
casa ou em locais onde existam profissionais 
capacitados para orientar os exercícios nome-
adamente o enfermeiro especialista em saúde 
materna e obstétrica. Também em parques, 
com caminhadas leves, respirando e aprecian-
do a paisagem.
Os exercícios devem ser orientados por 
profissionais capacitados, para segurança da 
puérpera.
Estes exercícios têm como finalidade liber-
tar ou reduzir a ansiedade da puérpera e mãe; 
fazê-la recuperar a silhueta corporal anterior 
à gravidez ou mesmo melhorá-la; melhorar a 
disposição para cuidar do bebé; também tem 
como objectivo reduzir algias nomeadamente 
das costas.
Recuperar a figura anterior à gravidez 
cada vez mais é um desejo da puérpera. O 
exercício físico pode começar logo após o 
nascimento da criança. Deve-se encorajar a 
mulher a iniciar exercícios simples progredin-
do gradualmente para os mais complexos.
Os exercícios para a musculatura que forma 
o revestimento da bacia podem ser iniciados 
no dia seguinte ao parto, realizados várias 
vezes ao dia e praticados por toda a vida. Eles 
reforçam a sustentação da bexiga e do intes-
tino, fortalecendo a vagina e diminuindo o 
risco do aparecimento futuro de problemas 
como perda de urina (incontinência urinária) 
e queda da bexiga. 
Os exercícios físicos para corrigir a flacidez 
abdominal e o contorno corporal podem ser 
iniciados após duas semanas do parto normal, 
iniciando com poucos minutos, até atingir 20 
a 30 minutos por dia. De maneira semelhante, 
pode ser iniciada a prática desportiva. Quando 
o parto tiver sido cesariana, o seu início deve 
aguardar cerca de seis semanas. 
Os seguintes exercícios físicos podem 
melhorar as condições musculares da mulher 
e devem ser iniciadas após avaliação do seu 
estado geral e realizados em local e horário 
adequado. 
Devem ser orientados da seguinte 
maneira: 
O período de puerpério, 
também conhecido como 
período pós-parto, dura cerca 
de seis semanas. Em nenhuma 
outra fase da vida da mulher 
as modificações físicas são tão 
grandes e acontecem em tão 
curto espaço de tempo.
99
Exercício 1 – Respiração abdominal. 
Deitada de costas com os joelhos flectidos, 
inspira profundamente pelo nariz. Mantendo 
as costas fixas, permitir a expansão do abdó-
men. Expirar lenta, mas totalmente, enquanto 
se contrai os músculos abdominais; mantendo-
os contraídos por 3 a 5 segundos enquanto 
expira.
Exercício 2 – Rolar ambos os joelhos. 
Deitada de costas com os joelhos dobrados 
e mantendo os ombros e os pés assentes no 
chão, rolar lenta e suavemente para a esquerda 
até tocar o chão. Mantendo os movimentos 
suaves movimentar os joelhos para a direita até 
tocar o chão. Voltar à posição inicial e relaxar.
Exercício 3 – Rolar um joelho. Deitada de 
costas com a perna direita esticada e a perna 
esquerda dobrada pelo joelho, manter os 
ombros no chão, rodar lenta e suavemente o 
joelho esquerdo por cima do direito até tocar 
no chão, retomar a posição inicial. Inverter a 
posição das pernas. Rodar o joelho direito 
sobre o esquerdo, tocar no chão e voltar à 
posição inicial. Relaxar.
Exercício 4 – Rolar a perna. Deitada 
de costas com as pernas esticadas, manter os 
ombros no chão e as pernas esticadas e levan-
tar lentamente a perna esquerda, rolando-a até 
que toque no chão do lado direito e voltando 
à posição inicial. Repetir com a perna direita 
o mesmo exercício. Relaxar.
100
Exercício 5 – Levantar os braços. Deitada 
de costas com os braços esticados a um ângu-
lo de 90º do corpo, levantar os braços para 
que estes fiquem perpendiculares e as mãos se 
toquem. Descer lentamente.
Exercício 6 – Deitar de costas, sem 
travesseiro, com as pernas esticadas e juntas, e 
os braços ao lado do corpo. Respirar profun-
damente expandindo o peito e contraindo a 
barriga. 
Exercício 7 – Partindo da posição indica-
da no exercício anterior, dobrar a cabeça para 
frente e tocar o peito com o queixo manten-
do relaxado o restante do corpo. 
A fragilidade da vagina e do 
períneo causada pela dilatação 
dos tecidos e estruturas durante 
o trabalho de parto, leva à 
necessidade da mulher executar 
exercícios de fortalecimento dos 
mesmos.
101
Exercício 8 – Partindo da posição indi-
cada no exercício 6 levantar uma das pernas, 
dobrando o joelho até encostar a coxa na 
barriga. Fazer este exercício alternando a 
perna direita com a esquerda. 
Exercício 9 – Partindo da posição indicada 
no exercício 6, levantar uma das pernas o mais 
que puder, sem dobrar o joelho. Após alguns 
segundos, baixar a perna lentamente. Fazer 
este exercício alternando a perna direita com 
a esquerda. 
Exercício 10 – Partindo da posição indica-
da no exercício 6, levantar as duas pernas juntas 
o mais que puder, sem dobrar os joelhos. Após 
alguns segundos, baixar as pernas lentamente 
até retornar à posição inicial. 
Poderão ser executados na 
sua própria casa ou em locais 
onde existam profissionais 
capacitados para orientar os 
exercícios nomeadamente o 
enfermeiro especialista em 
saúde materna e obstétrica. 
Também em parques, com 
caminhadas leves, respirando 
e apreciando a paisagem.
102
Exercício 11 – Deitar-se de costas, sem 
travesseiro, com as pernas esticadas e cruzar os 
braços sobre o peito. Sem mover os pés e as 
pernas, levantar a cabeça e os ombros alguns 
centímetros do chão. Ficar assim por alguns 
instantes e retornar à posição inicial. 
Exercício 14 – Deitar-se de costas, sem 
travesseiro, com as pernas ligeiramente afasta-
das e dobradas, com os pés apoiados no chão, 
e os braços ao longo do corpo. Levantar os 
quadris de modo que o corpo fique apoia-
do somente nos pés e nos ombros. Juntar os 
joelhos e contrair os músculos da vagina, ânus 
e nádegas e retornar à posição inicial.Exercício 12 – Partindo da posição indi-
cada no exercício 11, sem mover os pés e as 
pernas, levantar o tronco até ficar sentada. 
Após alguns instantes retornar à posição 
inicial. Este exercício pode ser realizado com 
as mãos entrelaçadas atrás da cabeça. 
Exercício 13 – Após entrelaçar as mãos 
atrás da cabeça, tentar ficar sentada e inclinar-
se para frente 3 vezes, antes de retornar à 
posição inicial. 
103
Exercício 15 – Apoiar-se sobre os coto-
velos e os joelhos, mantendo as costas rectas, 
e contrair a barriga, mantendo-a assim por 
alguns segundos. Aumentar diariamente esse 
tempo até alguns minutos. 
Existem ainda os exercícios pélvicos de 
Kegel que são extremamente importantes 
para fortalecer a tonicidade muscular, princi-
palmente após um parto vaginal, das estruturas 
que envolvem os órgãos reprodutores, nome-
adamente os utilizados durante as micções e as 
relações sexuais.
Os exercícios de Kegel consistem na 
contracção e relaxamento alternado dos 
músculos da vagina, recto e nádegas. Estes 
exercícios ajudam a adquirir o tónus muscu-
lar, habitualmente perdido com a dilatação 
e estiramento dos tecidos pélvicos durante a 
gravidez e nascimento.
Os exercícios de Kegel previnem o apare-
cimento de prolapso uterino, cistocelo e 
rectocelo bem como incontinência urinária 
de stress em fases mais avançadas da vida. Tem 
também como vantagem, melhorar a circula-
ção sanguínea vaginal, diminuindo o tempo 
de cicatrização das episiorrafias. Potenciam o 
prazer das relações sexuais no pós-parto.
Logo que a mulher saiba localizar correc-
tamente os músculos envolvidos nestes 
exercícios, passa-se a ensinar os seus três 
passos:
1 – Lentamente: contrair o músculo, manter 
a contracção contando até três, e relaxar.
2 – Rapidamente: Contrair o músculo, e 
relaxá-lo o mais rapidamente possível.
Estes exercícios têm como 
finalidade libertar ou reduzir a 
ansiedade da puérpera e mãe; 
fazê-la recuperar a silhueta 
corporal anterior à gravidez 
ou mesmo melhorá-la; 
melhorar a disposição para 
cuidar do bebé; também tem 
como objectivo reduzir algias 
nomeadamente das costas.
104
3 – Empurrar para fora, puxar para dentro. 
Contrair todos os músculos da pelve como se 
estivesse a sugar água para dentro da vagina. 
De seguida fazer força empurrando para baixo 
como se estivesse a tentar deitar para fora a 
água imaginária. Este exercício também deve 
englobar os músculos abdominais.
Deve-se respirar durante os exercícios. 
Idealmente a bexiga deve estar vazia aquando 
da sua realização.
No período de início dos exercícios, não 
se recomenda fazer muitas repetições por dia. 
Deve-se começar por fazer estes exercícios 
poucas vezes por dia. À medida que se vai 
sentindo mais forte, a mulher deve aumentar a 
frequência e duração dos mesmos.
Estes exercícios podem ser executados 
durante todos os dias da vida. Podem efectu-
ar-se em séries de dez, pelo menos três vezes 
por dia ou mais. É recomendado a prática 
destes exercícios em séries de 100, número 
este condicionado pela fadiga dos músculos 
pélvicos.
A mulher deve tornar os exercícios de 
Kegel parte da sua rotina diária. Será mais 
fácil lembrar-se deles se estiver associados a 
uma outra rotina diária, como por exemplo 
quando está a ver televisão.
Conclusão
Num mundo onde cada vez mais se dá 
ênfase à figura física e ao bem-estar da pessoa, 
torna-se essencial que após o período de 
gravidez e após o parto, a mulher recupere 
rapidamente a silhueta habitual ou mesmo 
a melhore, de forma a evitar, entre outras, a 
depressão pós-parto.
Importante é também readquirir as funções 
dos esfíncteres que após a gravidez e princi-
palmente após o parto eutócico, poderão ter 
perdido algumas resistências.
Aqui ficaram explicados e demonstrados 
alguns exercícios que poderão contribuir 
eficazmente para a rápida recuperação física 
da jovem mãe, de forma a voltar ao seu estado 
habitual antes da gravidez.
Bibliografia
BOBAK, Irene M ( 2002) – O cuidado em enfermagem 
materna. 5ª Ed. Porto Alegre: Artemed Editora p 144-145; 
p 490-492.
GRAÇA, Luís Mendes (2004) – Medicina Materno-fetal. 
3ª Ed. Lidel.
www.abcdasaude.com.br/artigo.php?97.
105
Para submeter os trabalhos/artigos para publicação, envie‑os para:
Ser Saúde | Quinta de Matos - Geraz do Minho | 4830-316 Póvoa de Lanhoso
sersaude@isave.pt |revistasersaude@gmail.com
106
Doutorado em Desenvolvimento e Intervenção Psicológica, Docente da 
Escola Superior de Saúde de Viseu, Instituto Politécnico de Viseu
Doutorada em Psicologia da Saúde, Docente da Faculdade de Psicologia 
e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra
Carlos Manuel de Sousa Albuquerque
Ana Paula Soares de Matos
Palavras-chave: Saúde; Formação Académica;
Locus de Controlo de Saúde; Coping; Auto-Conceito
107
Na presente investigação, através de um estudo ex post facto retros-
pectivo, avalia-se a influência da área de formação académica numa série 
de variáveis psicológicas (auto-conceito, locus de controlo de saúde e 
coping). A amostra, constituída por 948 participantes (76.37% mulheres), 
é agrupada em dois grupos de estudantes universitários portugueses: um 
a frequentar o curso de Enfermagem e outro a frequentar outros cursos 
universitários não relacionados com a área da saúde (Português/Inglês, 
Administração, Gestão). Como instrumentos de medida utilizámos 
questionários de auto-avaliação, todos eles aferidos e validados para a 
população portuguesa. Dos resultados obtidos podemos concluir que são 
os estudantes do curso de Enfermagem a apresentar um Sentido Interno 
de Coerência (coping) significativamente mais elevado e a evidenciar-
se mais internos relativamente ao Locus de Controlo de Saúde. Já as 
dimensões do Auto-Conceito não são especialmente relevantes para a 
discriminação entre estes dois grupos.
Área de formação e dimensões psicológicas:
Um estudo com jovens estudantes universitários
108
Introdução
Cada pessoa dá um significado e valor à saúde, tem os seus objectivos em relação à mesma e 
comportamentos de saúde particulares. Para, de uma forma mais eficaz, promovermos a saúde, 
reduzirmos a morbilidade da maior parte das doenças e a mortalidade prematura, teremos certa-
mente que nos centrar no comportamento humano e num conjunto de variáveis psicológicas, 
sociais e biológicas que com ele se relacionam, fazendo uma abordagem interdisciplinar.
Este artigo irá centrar-se, essencialmente, no estudo de um conjunto de variáveis psicológicas 
que podem ser importantes para a saúde, considerando a saúde como um sistema dinâmico e 
a pessoa como activa e participativa no processo de promoção de saúde e prevenção da doença. 
Por outro, subjacente a todo este contexto, está espelhada a possibilidade de, qualquer indivíduo, 
poder modificar padrões de vida e comportamentos.
A modificação comportamental implica 
alterar um conjunto de crenças e avaliações 
que as pessoas fazem, que as motivam para agir 
e que influenciam as suas decisões e acções. 
Nomeadamente, para emitirmos um compor-
tamento positivo que nos permita ter um bom 
resultado de saúde é importante, entre outros 
aspectos, acreditarmos que aquela acção nos 
levará a um resultado pretendido, e que a acção 
requerida passa pelo nosso controlo e é impor-
tante para nós. Os comportamentos de saúde 
são assim influenciados pelo processamento da 
informação sobre saúde que a pessoa faz.
As variáveis de saúde estão relacionadas com 
variáveis mais gerais ou mais específicas. De 
entre essas variáveis gerais, variáveis psicológicas 
como o coping, o auto-conceito e o locus de 
controlo são factores que influenciam a forma 
como lidamos com a saúde e a doença.
Antonovsky (1987) abordou a temática do 
coping, salientando a importância dos estilos 
de significação. Desenvolveu o «modelo salu-
togénico» que considera o estado de saúde 
ao longo de um contínuo (em que um pólo, 
negativo, representa a doença, e o outro pólo, 
positivo, a saúde) tentando perceber sobretudo 
porque há pessoas que se encontramno pólo 
positivo ou se movem para ele. Para este autor, 
é o que denomina de «sentido interno de 
coerência» que determina o controlo pessoal 
de estados de tensão e que acaba por constituir 
um «escudo protector» contra as doenças.
Antonovsky (1987) definiu sentido interno 
de coerência como uma orientação global 
que expressa a extensão em que a pessoa tem 
um sentimento de confiança generalizado e 
estável, embora dinâmico, e que se traduz nos 
seguintes aspectos:
1) O estímulo que deriva dos seus ambientes 
externos e internos, no decurso da sua vida, é 
percepcionado como sendo estruturado, previ-
sível e explicável;
2) A pessoa percebe a existência de recursos 
para fazer face às exigências colocadas por esse 
estímulo;
109
3) Estas exigências constituem desafios, mere-
cedores de investimento e empenho.
Trata-se da pessoa dar um sentido ou uma 
ordem à sua experiência ou existência, e da sua 
convicção de que tem capacidades ou recur-
sos para fazer frente aos desafios da vida. O 
sentimento de coerência é, para Antonovsky 
(1987), um determinante importante do esta-
do de saúde e inclui três componentes:
1) Compreensibilidade – medida em que 
a pessoa percebe o estímulo que deriva dos 
seus ambientes externo e interno como 
fazendo sentido, que tem uma ordem, que é 
consistente, estruturado e claro, em oposição 
a algo percebido como desordenado, caótico, 
aleatório, acidental e inexplicável. Uma pessoa 
com um grau elevado neste componente 
espera que os estímulos futuros sejam previ-
síveis ou, pelo menos, tenham ordem e sejam 
explicáveis. A pessoa consegue dar um sentido 
mesmo aos estímulos indesejáveis.
2) Manejabilidade (controlo) – medida em 
que a pessoa percebe que existem recursos 
adequados para fazer face à adversidade ou 
aos estímulos com que se defronta. São recur-
sos que são percebidos como estando sob o 
controlo pessoal ou sob o controlo de outras 
pessoas que nos podem ajudar – por exemplo, 
cônjuge, amigos, colegas e terapeutas. Uma 
pessoa com um grau elevado neste compo-
nente não se sente vítima dos acontecimentos. 
Ao contrário, sente que tem controlo sobre 
muitos desses acontecimentos.
Neste enquadramento teórico 
e de pesquisa, poderemos 
afirmar que a finalidade 
da presente investigação 
poderá situar-se na procura 
de uma melhor compreensão 
destes estudantes. Com 
efeito, se forem encontradas 
relações entre as dimensões 
estudadas, haverá que 
tê-las em conta quando 
planearmos intervenções para 
promover o desenvolvimento 
psicossocial dos jovens. Por 
outro lado, a falta de estudos 
empíricos nesta área leva-
nos a considerar a presente 
investigação como uma 
pesquisa piloto.
110
3) Significabilidade (significação generalizada) 
- representa o elemento motivacional e refere-
se à extensão em que a pessoa sente que a sua 
vida faz sentido, não apenas a nível cognitivo 
como a nível emocional. Para a pessoa com 
um grau elevado neste componente, vale 
a pena investir nos problemas e exigências 
do dia-a-dia; são desafios bem-vindos e não 
ameaças que devem ser evitadas. Quando uma 
experiência negativa acontece a esta pessoa, ela 
aceita a experiência que lhe sucedeu, mas tenta 
dar-lhe um sentido e fará o seu melhor para a 
ultrapassar. 
Segundo Antonovsky (1987) estes três 
componentes estão intrinsecamente inter-rela-
cionados. Contudo, podem existir pessoas com 
um grau elevado num determinado compo-
nente e baixo noutro.
Outra variável associada ao comportamento 
é o auto-conceito, o qual é um constructo 
multifacetado e hierárquico, que pode ser 
definido como a globalidade de percepções 
que cada indivíduo tem acerca de si próprio 
(Byrne e Shavelson,1986).
Vaz Serra (1986) salientou a importância do 
auto-conceito físico (aptidões e aparência físi-
ca), emocional (estados emocionais particulares 
do indivíduo) e social (que é ainda subdividido 
em áreas específicas variando de acordo com 
as pessoas significativas para o indivíduo).
Para Vaz Serra (1988b), no constructo do 
auto-conceito há ainda que considerar múlti-
plos constituintes como a auto-estima e a 
auto-eficácia.
A auto-estima é entendida como o processo 
avaliativo que o indivíduo faz das suas quali-
dades ou dos seus desempenhos (Vaz Serra, 
1988).
A auto-eficácia refere-se a auto-percepções: 
o indivíduo acredita e confia na sua capacidade 
e eficácia para enfrentar o meio ambiente com 
êxito, levando assim a consequências desejadas 
(Palenzuela,1982).
Mischel (1977), no seu estudo da personali-
dade, refere-se à auto-eficácia percebida como 
sendo um constructo cognitivo motivacional 
em que o indivíduo se auto-avalia como 
eficaz para enfrentar o meio ambiente.
Segundo Vaz Serra (1986), o auto-conceito, 
como constructo hipotético, é construído 
sobre os acontecimentos pessoais e é neces-
sário para a descrição, explicação e predição 
do comportamento humano, além disso é 
importante ter conhecimento de como a 
pessoa se percepciona a si própria.
Este autor, citando Fitts (1972), refere que 
«o conceito que o indivíduo tem de si próprio 
atravessa, condensa, ou captura a essência de 
muitas outras variáveis», permitindo assim 
lidar com uma variável central e simples.
Segundo Shavelson e Bolus (1982), o 
auto-conceito é diferenciável, isto é, o 
auto-conceito pode facilmente diferenciar-se 
de outras variáveis (por exemplo, estado de 
saúde) permitindo compará-las entre si, de 
forma a averiguar possíveis relações.
111
O auto-conceito funciona também como 
impulsionador da motivação. Gecas (1982), 
ao referir-se ao auto-conceito como fonte de 
motivação, indica três motivos que lhe estão 
ligados: o motivo de auto-estima, o motivo de 
auto-consistência e motivo de auto-eficácia.
O motivo de auto-estima é universal, na 
medida em que os aspectos positivos de cada 
indivíduo são geralmente realçados (Vaz 
Serra, 1986). Segundo Gecas (1982), este 
motivo apresenta-se sob uma perspectiva 
de «auto-saliência», tendo como objectivo o 
melhoramento da auto-estima e uma pers-
pectiva de «auto-manutenção», virado para a 
preservação do que a pessoa possui. Estas duas 
perspectivas determinam as seguintes estra-
tégias comportamentais: disputa pelo êxito e 
medo do fracasso. Daí que, geralmente, pessoas 
com auto-estima pobre se identifiquem mais 
com estratégias de auto-manutenção do que 
de auto-saliência.
No que se refere ao motivo de consis-
tência, Markus e Wurf (1986) apresentam 
o auto-conceito como um conjunto de 
«generalizações cognitivas» que estruturam 
a forma como se elabora a informação para 
o indivíduo. «Estes esquemas tornam-se 
progressivamente resistentes à informação que 
lhes é inconsistente. Há assim uma espécie de 
conservadorismo cognitivo, organizador de 
percepções, memórias e esquemas pessoais» 
(Vaz Serra, 1986, p. 65).
O motivo de auto-eficácia foi estudado 
por vários autores, como Bandura (1977), 
Seligman e Altenor (1980) e Rotter (1975).
Bandura (1977), na sua teoria da aprendi-
zagem social, mencionou que os indivíduos 
com boas expectativas de auto-eficácia têm 
crenças de que são capazes de realizar com 
êxito o comportamento requerido e conse-
quentemente obter resultados positivos. Deu 
um relevo especial à mudança de expectativas: 
é importante a pessoa passar a acreditar que 
um comportamento irá permitir obter uma 
consequência desejada e que ela tem a capaci-
dade para atingir o fim em vista.
Seligman, na sua teoria do desespero apren-
dido, referiu a importância da percepção 
de ineficácia ou de fracasso pessoal, devida 
ao facto do indivíduo perceber que o seu 
comportamento não tem influência nas 
consequências do meio em que se insere.
Rotter (1975), relativamente ao Locus de 
controlo interno e externo, defendeu que o 
indivíduo eficaz é aquele que percepciona o 
seu comportamento como sendo influencia-
do por si e não por factores externos.
Rotter (1966) refere-se deste modo ao 
controlo interno e externo:
«Quando o reforço é percebido pelo sujeito 
como seguindo-se a alguma acção sua, mas 
não estandocompletamente dependente dessa 
acção (not being entirely contingent upon his 
action), então, na nossa cultura é tipicamente 
percebido como resultado da sorte, do acaso, 
do destino ou sob o controlo de outros pode-
rosos, ou como imprevisível, dada a grande 
complexidade de forças que o rodeiam. 
Quando o acontecimento é interpretado deste 
112
modo por um indivíduo, trata-se de uma cren-
ça no controlo externo. Se a pessoa percebe 
que o acontecimento depende (is contingent) 
do seu próprio comportamento ou das suas 
características relativamente permanentes, 
trata-se de uma crença no controlo interno».
Por conseguinte, designa-se um indivíduo 
como «interno» quando ele tem a percepção 
ou a crença de que controla a situação ou o 
reforço e por isso tende a percebê-lo como 
resultante das suas próprias acções, enquan-
to o «externo» sente que não controla os 
acontecimentos ou que os resultados não são 
dependentes do seu comportamento e, por 
isso, tende a percebê-los como resultantes 
de factores alheios a si mesmo, como outros 
poderosos, sorte ou acaso. Deste modo, o 
interno normalmente aceita o louvor pelos 
sucessos e as (auto) críticas pelo fracasso, 
enquanto o externo não aceita nem uma nem 
outra coisa (Barros et al., 1992).
A forma como cada pessoa percepciona 
as capacidades de auto-controlo que possui 
designa-se, como vimos, por locus de contro-
lo. Este é a percepção da relação causal entre 
o comportamento e as suas consequências, ou 
em termos mais técnicos, o locus de controlo 
é a percepção pelo indivíduo da relação de 
contingência entre os comportamentos e as 
suas consequências (Dubois, 1987). Em suma, 
resume-se a duas questões com que o indiví-
duo é confrontado:
1) «Sou capaz de controlar o meio?»;
2) «É o meio que se me impõe e me contro-
la?» (ibidem).
Numa perspectiva mais cognitivista pode-
mos considerar o constructo de locus de 
controlo como uma crença ou expectativa do 
controlo percebido, crença que representa um 
importante papel mediacional; ou seja, o indi-
víduo ver-se como um agente activo causal, 
ou ver-se como um «recipiente» passivo das 
influências do meio, influencia a forma como 
ele avalia e responde às situações com que se 
confronta no quotidiano (Mahoney, 1985). 
Por isso, ele é antes de mais uma expectativa 
generalizada, aprendida num contexto social 
que se mantém actuante em variadas circuns-
tâncias, condicionando o modo de actuar 
(ibidem). Podemos também dizer que a inter-
nalidade e a externalidade representam uma 
tendência, dentro de um continuum (Barros 
et al, 1992).
Neste enquadramento teórico e de pesqui-
sa, poderemos afirmar que a finalidade da 
presente investigação poderá situar-se na 
procura de uma melhor compreensão destes 
estudantes. Com efeito, se forem encontradas 
relações entre as dimensões estudadas, haverá 
que tê-las em conta quando planearmos 
intervenções para promover o desenvolvi-
mento psicossocial dos jovens. Por outro lado, 
a falta de estudos empíricos nesta área leva-
nos a considerar a presente investigação como 
uma pesquisa piloto.
113
Método
Amostra
A amostra foi constituída por um grupo 
de estudantes a frequentar o Curso Superior 
de Enfermagem (Grupo de Estudantes do 
Curso de Enfermagem, GECE), isto é com 
formação na área da saúde, e um grupo de 
controlo, constituído por estudantes prove-
nientes de cursos superiores não relacionados 
com a área da saúde. Este grupo de controlo, 
que na investigação foi designado por Grupo 
de Estudantes de Outros Cursos (GEOC), era 
constituído por estudantes provenientes dos 
cursos de Português/Inglês, de Secretariado 
e Administração e de Gestão. Os dois grupos 
são homogéneos em relação a variáveis 
demográficas.
Fazem parte da amostra 948 indivíduos (621 
pertencentes ao GECE e 327 ao GEOC). 
A média de idades é de 19.95 (Dp=2.18). 
Existe um predomínio do número de mulhe-
res sobre o de homens (724 mulheres e 224 
homens), o que corresponde a uma tendência 
natural nestes cursos. A análise comparativa 
entre grupos permite constatar que o GECE 
e GEOC são equivalentes nas variáveis: idade 
(t=-.812, p=.416), estado civil (χ2 =0.340, 
g.l.=1, p=.559), ano lectivo (χ2 =0.331, 
g.l.=1, p=.564), área de residência (χ2 
=0.666, g.l.=1, p=.414) e camada social (2) 
(χ2 =1.057, g.l.=3, p=.787). No que respei-
ta à distribuição por sexo, constatamos que, 
embora seja predominante o sexo feminino 
em ambos os grupos, eles se diferenciam de 
forma ligeiramente significativa (χ2 =4.530, 
g.l.=1, p=.043).
Procedimentos
Os instrumentos de colheita de dados 
foram administrados nos tempos lectivos dos 
estudantes a quem propusemos participar no 
estudo; o tempo necessário ao seu preen-
chimento foi cerca de 60 minutos. Antes da 
administração dos instrumentos foi explicitado 
o objectivo do estudo e o carácter voluntá-
rio e anónimo da participação, podendo os 
sujeitos preencher ou não os questionários, 
não devendo contudo escrever o nome em 
nenhuma das partes do mesmo.
Os resultados obtidos no 
estudo da relação entre a 
área de formação e sexo dos 
estudantes e as notas globais 
das variáveis psicológica 
em estudo sugerem que 
os estudantes do curso de 
Enfermagem (com formação 
em saúde) apresentam valores 
mais elevados de Locus de 
Controlo de Saúde e Sentido 
Interno de Coerência, que se 
traduzem, respectivamente, 
por uma maior internalidade 
e por uma aptidão para 
percepcionar, interpretar e 
dar significado às experiências 
stressantes da vida.
114
Instrumentos 
• Sense of Coherence Questionaire (SOC) 
(Antonovsky, 1987; versão adaptada para a 
população portuguesa por Geada, 1990). O 
SOC permite avaliar os recursos individuais 
de coping definidos pelo autor como uma 
aptidão interna, global, para percepcionar, 
interpretar e dar significado às experiências 
stressantes da vida, que posiciona o indivíduo 
numa orientação de saúde, física e psicológi-
ca. Constituído por 29 itens (numa escala de 
likert com 7 categorias de resposta) compre-
ende três factores/dimensões principais, 
consideradas como fazendo parte do «sentido 
interno de coerência»: compreensibilidade 
(11 itens – por ex.: «Quando fala com outras 
pessoas, tem o sentimento de que elas não o 
compreendem?»); manejabilidade (10 itens 
– por ex.: «Já lhe aconteceu terem-no desa-
pontado pessoas com quem você contava?»); 
e significabilidade (8 itens – por ex.: «Tem o 
sentimento de que não se interessa realmente 
pelo que se passa à sua volta?»). O SOC apre-
senta boa consistência interna. Os valores de 
alpha, para a escala total, têm oscilado entre 
.82 e .95 (Antonovsky, 1987, 1993), valores 
ligeiramente superiores aos apresentados para 
a versão portuguesa, entre .79 e .90 (Geada, 
1996,1997).
• Inventário Clínico de Auto-conceito 
(ICAC) (De Vaz Serra, 1986). É um instru-
mento que avalia os aspectos emocionais e 
sociais do auto-conceito; é fiável (coeficiente 
de Spearman-Brown de .79 para uma amostra 
de 920 indivíduos, e uma correlação teste-re-
teste de .83, para um intervalo de 4 semanas) 
e tem sido extensamente utilizado e validado 
(Vaz Serra, 1995). Os 20 itens (num formato 
tipo likert com 5 categorias de resposta) que o 
constituem estão agrupados em quatro facto-
res (cujo indicador de fiabilidade apresentado 
é o alpha de Cronbach).
Factor 1
Aceitação/rejeição (por ex.: «sou uma usualmen-
te bem aceite pelos outros») – (alpha = .76);
Factor 2
Auto-eficácia (por ex.: «tenho por hábito 
desistir das minhas tarefas quando encontro 
dificuldades») – (alpha = .70);
Factor 3
Maturidade psicológica (por ex.: «costumo 
ser franco e exprimir as minhas opiniões») – 
(alpha = .72);
Factor 4
Impulsividade/actividade (por ex.: «sou uma 
pessoa que gosto muito de fazer o que me 
apetece») – (alpha = .71).
• Inventário de Auto-Conceito Físico 
(IACF) (De Vaz Serra, 1988). O IACF tem 
por objectivo medir os aspectos físicos do 
auto-conceito, mostrando ter uma boa fiabi-
lidade; o seu autor obteve um coeficiente de 
Spearman-Brown de .68, valor particular-mente alto, considerando o quantitativo da 
amostra – 760 indivíduos. É composto por 40 
itens (numa escala de likert com 5 categorias 
de resposta) que se agrupam em cinco facto-
res, com raízes latentes superiores a 1, que 
contribuem com 61,21% para a percentagem 
cumulativa da variância, a saber:
115
Factor 1
As questões que o constituem revelam uma 
dimensão tradutora de boa ou má impressão 
física, produzida nos outros (por ex.: «consi-
dero-me uma pessoas fisicamente atraente») 
– (alpha = .74);
Factor 2
Traduz facilidade ou dificuldade no contac-
to dos olhos, que tem um inegável valor no 
contexto das mensagens não-verbais (por 
ex.: «quando falo com outra pessoa, custa-me 
olhá-lo bem nos olhos») – (alpha = .69);
Factor 3
É tradutor de uma boa ou má vitalidade 
física (por ex.: «considero-me, de modo geral, 
uma pessoa com energia») – (alpha = .72);
Factor 4
Salienta a forma como o indivíduo fala, 
pelo que é outra dimensão relacionada com 
comportamento não verbal (por ex.: «a minha 
voz causa boa impressão nas outras pessoas’) – 
(alpha = .70);
Factor 5 
Traduz a apreciação da morfologia corporal 
(por ex.: «quando me comparo com os outros 
reconheço que tenho usualmente uma postu-
ra mais rígida») – (alpha = .73);
Factor 6
Os itens que o constituem revelam uma 
dimensão tradutora de satisfação ou insa-
tisfação sexual (por ex.: «gostava de ser 
sexualmente mais activo do que realmente 
sou») – (alpha = .69).
• Questionário «O Que Penso da Saúde» 
(OQPS) (De Ribeiro, 1993,1994). Constituído 
por 14 itens (seleccionados das seguintes esca-
las: Health Locus of Control Scale – Wallston 
e cols., 1976; Multidimensional Health Locus 
of Control Scales – Wallston, Wallston & 
DeVellis, 1978; e Health-Specific Locus of 
Control - Lau & Ware, 1981) permite efec-
tuar a avaliação do locus de controlo de saúde. 
Numa amostra de 609 indivíduos portugue-
ses, que serviu para a sua construção, o autor 
obteve, para os dois factores que a integram, 
os seguintes valores de consistência interna, a 
saber: «locus de controlo» - que reflecte o grau 
pelo qual o indivíduo espera que determina-
dos resultados relacionados com a saúde sejam 
contigentes com o seu comportamento ou 
atribuídos à sorte ou acaso (por ex.: «se uma 
pessoa tiver cuidado com o que faz conse-
gue evitar muitas doenças» - (alpha = .75); e 
«outros poderosos» - que reflecte o grau pelo 
qual o indivíduo espera que determinados 
resultados relacionados com a saúde sejam 
contigentes com acções de outras pessoas (por 
ex.: «procurar o médico para fazer check-ups 
regulares é um factor chave para se manter 
saudável») – (alpha = .74), sendo que este 
factor é interpretado no sentido de que esco-
res mais altos significam menor crença nos 
outros poderosos para controlar a saúde.
116
Análise dos resultados
O objectivo do presente estudo era inves-
tigar em que medida a área de formação 
académica dos estudantes estava relacionada 
com determinadas variáveis psicológicas: 
locus de controlo de saúde, sentido interno de 
coerência e auto-conceito.
Colocámos a seguinte hipótese de trabalho: 
os estudantes que frequentam o curso de 
enfermagem diferenciam-se dos estudantes 
que frequentam os cursos superiores sem 
formação na área da saúde ao nível do seu 
locus de controlo de saúde, auto-conceito e 
sentido interno de coerência.
Relação entre a área de formação 
e os índices globais das variáveis 
psicológicas
Para o estudo desta relação realizámos uma 
MANOVA de 2 por 2 por 4 (sexo e área 
de formação sobre os quatro índices: Total 
Auto-Conceito (Social e Emocional) (1), 
Total Auto-Conceito Físico (2), Total Locus 
de Controlo de Saúde (3) e Total Sentido 
Interno de Coerência (4).
O sexo foi incluído nesta análise como 
variável independente, dado que num estudo 
prévio, aplicando o teste-t para amostras inde-
pendentes, tínhamos chegado à conclusão de 
que os dois sexos diferiam significativamente 
quanto ao Total do Auto-Conceito – Social 
e Emocional – (t=2,56; p= .010), quanto 
ao Total do Auto-Conceito Físico (t=2,91; 
p =.004) e quanto ao Total Sentido Interno 
de Coerência (t=2,94; p=.003). Apenas não 
detectámos a existência de diferenças signifi-
cativas ao nível do Total Locus de Controlo de 
Saúde (t=-1,61; p=.108).
A análise dos resultados da MANOVA 
(Quadro 1) mostra existir um efeito principal 
muito significativo da Área de Formação sobre 
os índices globais das variáveis psicológicas 
(Lambda de Wilks(4;941)=.946, p=.000), 
como também um efeito muito significativo 
do Sexo (Lambda de Wilks (4;941)=.979, 
p=.000), não existindo contudo um efeito de 
interacção Sexo x Área de Formação (Lambda 
de Wilks (4;941)=.993, p=.183).
A análise do efeito Área de Formação sobre 
as variáveis psicológicas em estudo, revela que 
os dois grupos de estudantes (com forma-
ção e sem formação na área da saúde) não 
diferem significativamente nas notas globais 
do Auto-Conceito - Social e Emocional - 
(F(1;944)=3.073, p=.079) e Auto-Conceito 
Físico (F(1;944)=2.658, p=.103), mas dife-
renciam-se no Locus de Controlo de Saúde 
(F(1;944)=35.962, p=.000) e no Sentido 
Interno de Coerência (F(1;944)=23.448, 
p=.000).
(1) Avaliado pelo «Inventário Clínico de Auto-Conceito» - ICAC
(2) Avaliado pelo «Inventário de Auto-Conceito Físico» - IACF
(3) Avaliado pelo questionário «O Que Penso da Saúde» - OQPS
(4) Avaliado pelo «Sense of Coherence Questionaire» - SOC
 
Isto significa que os estudantes do primeiro ano do curso de Enfermagem quando comparados com os estudantes que 
frequentam o primeiro ano dos cursos sem formação em saúde, se revelam: mais internos, sugestivo de uma maior independência 
de terceiros para manterem a saúde; mais convictos de que a vida faz sentido e como tal, as experiências e os problemas da vida 
são merecedores do seu empenho e energia; com uma maior percepção de si mesmos como possuindo os recursos suficientes 
quer pessoais quer sociais, para fazer face às exigências das suas situações de vida; e menos «impulsivos/activos».
117
Quadro 1
MANOVA do Sexo e da Área de Formação sobre os índices de Total Auto-Conceito (Social e Emocional), Total Auto-
Conceito Físico, Total Locus de Controlo de Saúde e Total Sentido Interno de Coerência.
Sumário de todos os efeitos:
1 – Sexo 2 – Área de Formação
Efeito Lambda Wilks R de Rao G.L. 1 G.L. 2 p
1 0.979 4.965 4 941 .000
2 0.946 13.279 4 941 .000
1 x 2 0.993 1.558 4 941 .183
Efeito Principal: Sexo
Variáveis Dependentes
Média
Quadrática
Erro da Média
Quadrática
F(g.l. 1,2)
1;944 P
 Total Sentido Int. Coerência 5446.790 430.626 12.648 .000
 Total Auto-Conceito 441.921 56.598 7.807 .005
 Total Auto-Conceito Físico 1586.078 169.472 9.358 .002
 Total Locus de Controlo 185.056 66.514 2.782 .095
Efeito Principal: Área de Formação
Variáveis Dependentes
Média
Quadrática
Erro da Média
Quadrática
F(g.l. 1,2)
1;944 P
 Total Sentido Int. Coerência 10097.69 430.626 23.448 .000
 Total Auto-Conceito 173.94 56.598 3.073 .079
 Total Auto-Conceito Físico 450.57 169.472 2.658 .103
 Total Locus de Controlo 2392.04 66.514 35.962 .000
Isto significa que os estudantes do primeiro ano do curso de Enfermagem quando comparados com os estudantes que 
frequentam o primeiro ano dos cursos sem formação em saúde, se revelam: mais internos, sugestivo de uma maior independência 
de terceiros para manterem a saúde; mais convictos de que a vida faz sentido e como tal, as experiências e os problemas da vida 
são merecedores do seu empenho e energia; com uma maior percepção de si mesmos como possuindo os recursos suficientes 
quer pessoais quer sociais, para fazer face às exigências das suas situações de vida; e menos «impulsivos/activos».
118
Os resultados, ilustrados pela figura 1, reve-
lam que o grupo de estudantes que frequenta 
o curso de Enfermagem apresentou um 
Sentido Interno de Coerência significati-
vamente mais elevado (-x=137,00) que os 
estudantes dos cursos superiores sem formação 
na área da saúde (=129,09). Situação idênticafoi registada quanto ao índice de Locus de 
Controlo de Saúde, no qual os estudantes de 
Enfermagem (=63,40) apresentam um resul-
tado mais elevado que os estudantes dos outros 
Cursos Superiores (=59,55), sugestivo de que 
os primeiros mostram ser mais internos que os 
segundos.
A análise do efeito Sexo sobre os índices 
totais do Sentido Interno de Coerência, 
Auto-Conceito (Social e Emocional), Auto- 
Conceito Físico e Locus de Controlo de 
Saúde, revela que o grupo feminino de estu-
dantes não se diferencia do grupo masculino 
apenas no índice Locus de Controlo de Saúde 
(F1,944)=2.782, p=.095) (Quadro 1).
Figura 1
Efeito principal da área de formação sobre os índices de 
Total Auto-Conceito (Social e Emocional), Total Auto-
Conceito Físico, Total Locus de Controlo de Saúde e Total 
Sentido Interno de Coerência.
ÁREA DE FORMAÇÃO
140
Saúde Não Saúde
ÁREA DE FORMAÇÃO
V
A
R
IÁ
V
EI
S 
D
EP
EN
D
EN
TE
S
EFEITO PRINCIPAL
130
120
110
100
90
80
70
60
50
Sentido I. Coerência
Auto Conceito
Auto Conceito Físico
Locus de Controlo
119
No índice do Sentido Interno de Coerência 
os resultados revelam que os Homens 
(-x=135.95) se distinguem das Mulheres 
(-x=130.14), revelando os primeiros valores 
mais elevados neste índice.
No índice de Auto-Conceito (Social/
Emocional) são novamente os Homens 
(-x=77.70) que revelam apresentar um Auto-
Conceito mais elevado, quando comparados 
com as Mulheres (-x=76.05).
No índice de Auto-Conceito Físico os resul-
tados revelam que uma vez mais os Homens 
se diferenciam das Mulheres no mesmo senti-
do do anteriormente descrito. Isto é, o Grupo 
Masculino (-x=131.24) distingue-se do Grupo 
Feminino (-x=128.10), apresentando valores 
mais elevados de Auto-Conceito Físico.
Resumindo, os resultados obtidos no 
estudo da relação entre a área de formação 
e sexo dos estudantes e as notas globais das 
SEXO
140
Masculino Feminino
SEXO
V
A
R
IÁ
V
EI
S 
D
EP
EN
D
EN
TE
S
EFEITO PRINCIPAL
130
120
110
100
90
80
70
60
50
Sentido I. Coerência
Auto Conceito
Auto Conceito Físico
Locus de Controlo
Figura 2
Efeito principal do sexo sobre os índices de Total Auto-
Conceito (Social e Emocional), Total Auto-Conceito Físico, 
Total Locus de Controlo de Saúde e Total Sentido Interno 
de Coerência.
variáveis psicológica em estudo sugerem 
que os estudantes do curso de Enfermagem 
(com formação em saúde) apresentam valo-
res mais elevados de Locus de Controlo 
de Saúde e Sentido Interno de Coerência, 
que se traduzem, respectivamente, por uma 
maior internalidade e por uma aptidão para 
percepcionar, interpretar e dar significado às 
experiências stressantes da vida. Em relação ao 
sexo, só o índice de Total Locus de Controlo 
de Saúde não se mostra relacionado com ele. 
Nos outros três índices, os homens apresentam 
valores mais elevados do que as mulheres. Em 
relação à interacção Sexo x Área de Formação 
é de salientar que nenhum dos índices totais 
das variáveis psicológicas estudadas se relacio-
na com ela.
Face a estes resultados confirmamos a nossa 
hipótese no que se refere às diferenças entre 
os estudantes do curso de Enfermagem e os 
estudantes dos cursos sem formação na área 
da saúde ao nível do Locus de Controlo 
de Saúde e Sentido Interno de Coerência, 
mas não a confirmamos ao nível do Auto-
Conceito (físico, emocional e social).
Relação entre a área de formação e 
os factores das escalas que avaliam 
o auto‑conceito, o locus de controlo 
de saúde e o sentido interno de 
coerência
A MANOVA anteriormente efectuada 
revelou diferenças ao nível das notas globais 
das escalas que avaliam as variáveis psicológi-
cas, entre os grupos de estudantes em estudo. 
No sentido de se conhecer o conjunto dos 
diversos factores destas escalas que melhor 
discriminavam o grupo de estudantes que 
frequentam o curso de Enfermagem do 
grupo de estudantes que frequentam os cursos 
superiores sem formação na área da saúde 
em estudo, utilizou-se a Análise da Função 
Discriminante. 
De forma a contornarmos o problema da 
multicolinearidade existente entre os factores 
e os totais das escalas que avaliam as variá-
veis psicológicas, notória através das elevadas 
correlações encontradas entre eles, utilizámos 
como variáveis independentes neste modelo 
discriminante apenas as pontuações referentes 
aos factores das escalas.
Nos quadros seguintes apresentam-se os 
resultados das análises discriminantes leva-
das a efeito. Foram efectuadas duas análises 
da função discriminante, porque foi nosso 
objectivo efectuar o estudo das variáveis psico-
lógicas em momentos distintos dos cursos. 
Isto é, efectuámos uma primeira análise com 
os estudantes do terceiro ano e uma posterior 
com os do primeiro ano. Assim, pretendíamos 
investigar, por um lado, se os estudantes com e 
sem formação na área da saúde se diferencia-
vam ou não, entre si, quer no ano inicial quer 
no ano terminal do curso; e, por outro, se os 
factores psicológicos que os diferenciam no 
primeiro ano são eventualmente os mesmos 
que os diferenciam no terceiro ano.
121
Resultados da análise da Função 
Discriminante passo a passo para os 
grupos de estudantes a frequentarem 
o 3º ano do curso de Enfermagem 
versus 3º ano dos cursos superiores 
sem formação em saúde
Como pode ser observado no Quadro 2, 
os resultados evidenciam que a Análise da 
Função Discriminante é estatisticamente 
significativa como um todo ((F4;397)= 16.28, 
p=.000), existindo diferenças multivariadas 
entres os dois grupos de estudantes (com vs 
sem formação na área da saúde).
O valor de Lambda de Wilks, que permi-
te igualmente testar a relevância da função 
discriminante, revelou-nos que a percentagem 
de variância dos valores discriminantes expli-
cada pela pertença ao grupo é de 17.10%.
Face a estes resultados, podemos concluir 
que, apesar dos estudantes deferirem signi-
ficativamente, a percentagem de variância 
explicada pela função é baixa. 
Relativamente à eficiência classificativa 
obtida com a função, podemos afirmar que 
o conjunto das variáveis que entraram no 
modelo permitiu uma classificação correcta 
de 72.39% dos estudantes, com 89.55% de 
acertos no grupo de estudantes do curso de 
Enfermagem e apenas 38.06% no grupo de 
estudantes que frequentam os cursos sem 
formação na área da saúde (Quadro 3).
Variável F p
Significabilidade – SOC 44.87 .000
Outros Poderosos – OQPS 10.96 .001
Factor 6 – IACF 10.43 .001
Manejabilidade – SOC 6.44 .032
Lambda de Wilks =.829
G.L.= 4;397
F= 16.28
p= .000
Quadro 2
Análise da Função Discriminante passo a passo entre os 
grupos de estudantes a frequentar o 3º ano do curso de 
Enfermagem vs 3º ano dos cursos sem formação na área 
da saúde.
Grupo observado
Estudantes 
Enfermagem
Grupo predito 
Estudantes 
Outros Cursos
% Classificação 
correcta
Estudantes Enfermagem (n=268) 240 28 89.55
Estudantes Outros Cursos (n=134) 83 51 38.06
Total 323 79 72.39
Quadro 3
Análise da Função Discriminante entre os grupos de estu-
dantes a frequentar o 3º ano do curso de Enfermagem vs 
estudantes a frequentar o 3º ano dos cursos sem formação 
na área da saúde: eficácia da classificação.
122
A análise da importância relativa das 
dimensões psicológicas para a diferenciação 
dos grupos mostra que quatro dos factores 
contribuem significativamente para a dife-
renciação entre eles (Quadro 2). O maior 
contributo para a diferença entre os grupos é 
dado pelo factor – significabilidade – do SOC, 
seguido dos factores – outros poderosos – do 
questionário OQPS, Factor 6 – satisfação ou 
internos e por isso reflectindo uma maior 
independência de terceiros para manterem a 
saúde;
c) Apresentam médias menos elevadas no 
factor 6 do auto-conceito físico, revelando-se 
mais insatisfeitos sexualmente;
d) Evidenciam valores mais elevados na 
dimensão manejabilidade, demonstrando uma 
maior percepção de si mesmos como possuin-
do os recursos suficientes, quer pessoais quer 
sociais, para fazer face às exigências das suas 
situações de vida.
GRUPOS3º Ano Enfermagem 3º Ano Outros Cursos
VARIÁVEIS Média Dp Média Dp
Sentido Interno Coerência
Significabilidade 44.25 7.04 39.26 7.07
Manejabilidade 50.82 8.15 45.45 7.77
Locus de Controlo de Saúde
Outros Poderosos 21.43 4.13 19.80 4.04
Auto-Conceito Físico
Factor 6 7.10 2.07 7.35 2.12
Quadro 4
Médias e desvio padrões das variáveis psicológicas no 
grupo de estudantes a frequentar o 3º ano do curso de 
Enfermagem vs 3º ano dos cursos sem formação na área 
da saúde.
insatisfação sexual – do IACF e por último 
do factor – manejabilidade – do SOC. Neste 
modelo de discriminação não entrou nenhum 
dos factores do ICAC.
Recorrendo às médias destas variáveis 
discriminadoras, averiguámos em que senti-
dos iam as diferenças entre os grupos (Quadro 
4). Assim, verificamos que os estudantes do 
terceiro ano do curso de Enfermagem, por 
comparação com os do terceiro ano dos 
cursos sem formação na área da saúde:
a) Apresentam valores mais elevados na 
dimensão significabilidade, sugestivo de 
que sentem, mais convictamente, que a vida 
faz sentido e como tal, as experiências e os 
problemas da vida são merecedores do seu 
empenho e energia;
b) Revelam valores mais elevados na dimen-
são outros poderosos, demonstrando-se mais 
123
Resultados da análise da Função 
Discriminante passo a passo para os 
grupos de estudantes a frequentarem 
o 1º ano do curso de Enfermagem 
versus 1º ano dos cursos superiores 
sem formação em saúde
Com o mesmo objectivo da análise anterior 
e na tentativa de verificarmos se os estudantes 
se diferenciavam no primeiro ano, ao nível 
dos factores dos instrumentos que avaliam as 
variáveis psicológicas em estudo, efectuámos 
de novo uma análise da função discriminante 
passo a passo.
Os resultados mostram (Quadro 5) que 
apesar da função obtida ser significativa 
(F(4;541)=9.45, p=.000), a percentagem de 
variância explicada pela mesma, que é tradu-
zida pelo valor de Lambda de Wilks (.919), é 
reduzida (8.10%).
Relativamente à eficácia classificativa da 
Função Discriminante avaliada através da 
matriz de classificação obtida (Quadro 6), 
podemos constatar que esta permite uma 
percentagem de 67.03% de acertos totais, ou 
seja, em 546 estudantes, 366 são classificados 
correctamente. Em relação aos dois grupos 
a eficiência classificativa mostra-se maior 
para o grupo de estudantes que frequenta o 
primeiro ano do curso de Enfermagem, com 
90.65% de acertos correctos neste grupo, o 
que corresponde a 320 estudantes classifi-
cados correctamente contra 33 estudantes 
mal classificados. Para o grupo de estudantes 
que frequentam o primeiro ano dos cursos 
Grupo observado
Estudantes 
Enfermagem
Grupo predito
Estudantes 
Outros Cursos
% Classificação 
correcta
Estudantes Enfermagem (n=353) 320 33 90.65
Estudantes Outros Cursos (n=193) 147 46 23.83
Total 467 79 67.03
Variável F p
Outros Poderosos – OQPS 13.08 .000
Significabilidade – SOC 10.99 .000
Factor 4 – ICAC 10.93 .001
Manejabilidade – SOC 5.58 .021
Lambda de Wilks =.919
G.L.= 4;541
F= 9.45
p= .000
Quadro 6
Análise da Função Discriminante dos estudantes a 
frequentar o 1º ano do curso de Enfermagem vs estudantes 
a frequentar o 1º ano dos cursos sem formação na área da 
saúde: eficácia da classificação.
Quadro 5
Análise da Função Discriminante passo a passo dos 
grupos de estudantes a frequentar o 1º ano do curso de 
Enfermagem vs 1º ano dos cursos sem formação na área 
da saúde.
124
sem formação na área da saúde, a eficiência 
classificativa é muito reduzida, 23.83%, a que 
corresponde a 147 estudantes mal classificados 
contra apenas 46 classificados correctamente. 
Observando os passos seguidos pela análise 
passo a passo (Quadro 5) constatamos que das 
quatro variáveis aceites pelo modelo, a primeira 
e mais importante é o factor – outros pode-
rosos – do questionário OQPS. Em segundo 
lugar entrou o factor – significabilidade – do 
SOC, seguida do factor 4 – impulsividade/
actividade – do ICAC. Aparece depois, ainda 
com valores de p bastante significativos, o 
factor – manejabilidade – do SOC. É de 
salientar que nenhum dos factores relativos ao 
Inventário de Auto-Conceito Físico contri-
buiu para a diferenciação destes grupos de 
estudantes.
A comparação das médias das variáveis 
que melhor discriminam os grupos (Quadro 
7) permite-nos verificar que os estudantes 
que frequentam o primeiro ano do curso de 
Enfermagem se diferenciam dos estudantes 
que frequentam o primeiro ano dos cursos 
sem formação na área da saúde em virtude de 
apresentarem valores mais elevados relativos 
aos factores outros poderosos, significabili-
dade e manejabilidade, como também por 
revelarem valores menos elevados no factor 
4 – impulsividade/actividade – do Auto-
Conceito (Social e Emocional). Isto significa 
que os estudantes do primeiro ano do curso 
de Enfermagem quando comparados com os 
estudantes que frequentam o primeiro ano 
dos cursos sem formação em saúde, se reve-
lam: mais internos, sugestivo de uma maior 
independência de terceiros para manterem a 
saúde; mais convictos de que a vida faz senti-
do e como tal, as experiências e os problemas 
da vida são merecedores do seu empenho 
e energia; com uma maior percepção de si 
mesmos como possuindo os recursos sufi-
cientes quer pessoais quer sociais, para fazer 
face às exigências das suas situações de vida; e 
menos «impulsivos/activos».
GRUPOS 1º Ano Enfermagem 1º Ano Outros Cursos
VARIÁVEIS Média Dp Média Dp
Locus de controlo de Saúde
Outros Poderosos 20.44 3.90 19.12 4.43
Sentido Interno de Coerência
Significabilidade 43.87 6.52 41.87 8.39
Manejabilidade 49.44 7.81 48.76 8.73
Auto-Conceito (Social/Emocional)
F4 “«mpulsividade/actividade» 12.18 1.58 12.87 1.73
Quadro 7
Médias e desvio padrões das variáveis psicológicas no grupo 
de estudantes a frequentar o 1º ano curso de Enfermagem vs 
1º ano dos cursos sem formação na área da saúde.
125
Discussão dos resultados
O efeito da área de formação sobre as 
notas globais das varáveis psicológicas fez-se 
sentir de modo significativo sobre o Sentido 
Interno de Coerência e o Locus de Controlo 
de Saúde. Na nossa amostra os estudantes de 
Enfermagem apresentam um Sentido Interno 
de Coerência mais elevado e mostram-se 
mais internos do que os estudantes dos cursos 
superiores sem formação na área da saúde.
Com a análise da função discriminante 
identificámos do conjunto dos factores dos 
instrumentos que avaliam as variáveis psico-
lógicas, os que melhor discriminavam os 
grupos de estudantes em estudo. Os resul-
tados obtidos, em concordância com os 
anteriormente descritos, revelaram que eram 
os factores «significabilidade» (Sentido Interno 
de Coerência) e «outros poderosos» (Locus de 
Controlo de Saúde) que se mostravam como 
especialmente importantes na discriminação 
dos grupos de estudantes, respectivamente, no 
terceiro e primeiro anos dos cursos.
Não encontrámos outros estudos que 
tivessem investigado a relação entre estas 
variáveis e a área de formação com os quais 
pudéssemos comparar directamente os nossos 
resultados. Os únicos dados a que tivemos 
acesso são descritos por Ribeiro (1993), não 
propriamente em função da área de formação, 
mas sim em função de instituições escolares 
(universidades/escolas secundárias) frequenta-
das por uma amostra de 639 estudantes jovens 
da cidade do Porto. Relativamente ao locus 
de controlo de saúde, o autor constatou que 
eram os alunos da Escola de Nutrição (com 
formação académica superior na área da 
saúde) que apresentavam valores mais eleva-
dos na nota global da escala, correspondendo 
por isso a indivíduos mais internos, e que os 
valores mais baixos eram atribuídos aos alunos 
de uma escola secundária. Para o factor outros 
poderosos, o valor mais elevado, correspon-
dendo à afirmação de maior independência 
de terceiros para a conservação da saúde, era 
igualmente atribuído aos alunos da Escola de 
Nutrição.
Reportando-nos aos resultados 
obtidos na nossa investigação, 
numa tentativa de elaboraro perfil dos estudantes 
com formação académica 
superior na área da saúde 
(comparativamente com os 
que não a têm) podemos dizer 
que, duma forma geral, se 
caracterizam por serem jovens 
para quem a vida faz sentido 
a nível cognitivo e emocional, 
que aceitam e dão sentido às 
experiências negativas tentando 
ultrapassá-las, que acham 
que vale a pena investir nos 
problemas e exigências do dia 
a dia (que são desafios bem 
vindos e não ameaças a ser 
evitadas) e que acreditam que 
os resultados relacionados com 
a saúde não são contingentes 
à acção de outras pessoas mas 
que dependem sobretudo 
deles próprios, revelando-
se mais autónomos e mais 
independentes de terceiros 
(familiares, amigos, etc.) na 
manutenção da sua saúde.
126
Reportando-nos aos resultados obtidos na 
nossa investigação, numa tentativa de elaborar o 
perfil dos estudantes com formação académica 
superior na área da saúde (comparativamente 
com os que não a têm) podemos dizer que, 
duma forma geral, se caracterizam por serem 
jovens para quem a vida faz sentido a nível 
cognitivo e emocional, que aceitam e dão 
sentido às experiências negativas tentando 
ultrapassá-las, que acham que vale a pena 
investir nos problemas e exigências do dia a dia 
(que são desafios bem vindos e não ameaças a 
ser evitadas) e que acreditam que os resultados 
relacionados com a saúde não são contingentes 
à acção de outras pessoas mas que dependem 
sobretudo deles próprios, revelando-se mais 
autónomos e mais independentes de terceiros 
(familiares, amigos, etc.) na manutenção da sua 
saúde. Para estas estratégias de coping, sobre-
tudo a nível da saúde, podem ter contribuído 
as experiências e os conhecimentos teóricos 
adquiridos com a sua formação.
Todavia, é importante referir que a amostra 
que estamos a tratar é maioritariamente consti-
tuída por mulheres, pelo que este facto nos leva 
a encarar alguns dos resultados obtidos como 
preliminares, necessitando de confirmação 
numa amostra mais equilibrada em termos 
de género. Para além deste facto, este estudo 
apresenta outras limitações, nomeadamente: 
não devemos esquecer que se trata de um estu-
do retrospectivo, que apresenta as limitações 
inerentes a este tipo de design; se por um lado 
o número de sujeitos que constitui a amostra 
total nos parece adequado para as análises 
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efectuadas, por outro lado, consideramos ser 
uma limitação do estudo o facto do número 
de sujeitos, do grupo de estudantes dos cursos 
sem formação académica na área da saúde, ser 
substancialmente menor; e por fim, apesar de 
termos feito um esforço para realizar um estudo 
integrador e compreensivo, não nos podemos 
esquecer que outras variáveis também impor-
tantes (por ex.: influência dos pares) devem ser 
estudadas em futuras investigações.
Sugere-se ainda a realização de investiga-
ções que testem e comparem programas de 
promoção das variáveis em estudo que possam 
ser aplicados nas escolas e com a colaboração 
de professores, os quais representariam certa-
mente um importante contributo para o 
enriquecimento de alunos e professores. A este 
propósito, será legítimoentender, por exemplo, 
o desenvolvimento positivo do auto-conceito 
como uma das tarefas principais da Psicologia 
e da Educação (Richman, 1985, conforme 
citado por Dias, 2000; Veiga, 1989; Veiga, 1995), 
e considerar o papel dos professores como 
capaz de um importante impacto no auto-
conceito e na adequação comportamental dos 
alunos (Purkey, 1984, conforme citado por 
Dias, 2000; Veiga, 1995).
128
Próxima edição
Delia Cerviño
A origem fetal da obesidade
Na verdade, o tratamento da obesidade 
infantil é difícil, caro e tem índice de sucesso 
relativamente baixo. Logo, a identificação 
de estratégias para sua efectiva prevenção é 
particularmente interessante. O sucesso é 
visto como factor essencial para a saúde das 
crianças e, assim, para futuras gerações de 
adultos.
Maria Celeste Bastos Almeida, José Luís Pais 
Ribeiro
Internamento em Cuidados 
Intensivos: aspectos 
marcantes
Ao caracterizarmos as Unidades de 
Cuidados Intensivos, temos uma imensidão 
de aspectos emergem na experiência dos 
doentes, para além da doença em si, razão 
primeira do internamento. Nesta perspectiva, 
não podemos isolar a experiência unicamente 
na sua componente física e biológica. 
Estar ou sentir-se doente é um todo, na 
sua componente física, social e psicológica. 
O internamento em cuidados intensivos 
é fortemente marcado pela gravidade da 
doença, pela componente tecnológica que 
caracteriza o ambiente, pelas intervenções 
terapêuticas e de monitorização invasiva, e 
também pelo impacto psicológico.
Maria do Céu de Madureira
A biodiversidade e a 
descoberta de novos 
medicamentos
O uso tradicional de uma planta pode 
ser um indicador da presença de produtos 
químicos importantes para o progresso da 
medicina. Seria extremamente difícil avaliar 
sistematicamente as potencialidades químicas 
das cerca de 500 mil espécies de plantas de 
todo o mundo. Contudo, o conhecimento 
indígena de plantas medicinais pode servir 
para direccionar a pesquisa para as espécies 
que possam realmente conter produtos 
químicos relevantes.
Paula Carvalho, Natacha Gigante
A linguagem na Síndrome de 
Asperger
Segundo os critérios de diagnóstico, não 
é referido como critério a presença de um 
atraso geral da linguagem clinicamente 
significativo. No entanto, estudos na área 
revelam que mais de 50% das crianças com 
Síndroma de Asperger apresentam alterações 
da linguagem. Apesar do ênfase dado à 
componente social e comunicativa, e sendo 
esta a área de maior comprometimento, 
são sentidas, muitas vezes, alterações a 
nível linguístico contrariamente ao que 
é preconizado pelos actuais sistemas 
classificativos e de diagnóstico.
Gilberto Alves, Nulita Lourenço, Amílcar Falcão
Tratamento Médico da 
Epilepsia (parte II)
A Cirurgia
O tratamento cirúrgico da epilepsia é 
hoje largamente aceite e reconhecido e 
pode ser extremamente efectivo em alguns 
doentes, mas pelos riscos que esta opção 
terapêutica envolve só deverá ser considerada 
para aqueles cuja ausência de resposta 
ao tratamento farmacológico tenha sido 
cuidadosamente demonstrada.
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