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PERGUNTAS E RESPOSTAS 1. Que é o Júri? O Tribunal do Júri, cuja palavra Jury deriva da língua inglesa, com origem etimológica no latim - Jurare, juramento que outrora se fazia, é conhecido, entre nós, como um tribunal denominado popular, composto por um Juiz de Direito que o preside, sem direito a voto, sete jurados que integram o Conselho de Sentença, sorteados entre 25, podendo ser leigos em Direito, tanto que denominados Juizes de Fato, com competência restrita para julgar os crimes dolosos contra a vida (homicídio - art. 121; induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio - art. 122; infanticídio - art. 123 e aborto - arts. 124, 126 e 127), bem como qualquer delito a eles conexo. 2. Como são tomadas as decisões do Júri? As decisões do Júri são tomadas pelo sistema de maioria de votos. 3. Qual o tipo da competência do Júri? A competência do Júri é ratione materiae. 4. Quando surgiu o Júri no Brasil? A origem do Júri no Brasil data do decreto de 18 de junho de 1822, anterior à nossa independência política, que determinava sua competência somente para os crimes políticos. 5. O Júri somente teve competência para atuar em matéria criminal? Não. Com a promulgação da Constituição Imperial de 1824, o Júri foi elevado a uma categoria muito importante, assim previsto no seu artigo 151: "O poder judicial é independente, será composto de Juizes e Jurados, os quais terão lugar assim no cível como no crime, no caso e pelo modo que os Códigos determinarem." Apesar da previsão constitucional, o Júri jamais funcionou em matéria cível. 6. Qual foi a primeira lei ordinária que disciplinou o Júri? Foi o Código de Processo Criminal, de 29 de novembro de 1832, que seguindo os princípios das leis inglesas, norte-americanas e francesas, ampliou as atribuições do Júri. 7. Como foi visto o Júri pela Constituição Republicana de 1891? Em princípio, ao ser elaborada a primeira Constituição da República, discutiu-se em plenário a supressão do Júri. Porém, por maioria, ficou deliberada a manutenção da instituição do Júri, prevista expressamente na seção sobre a Declaração de Direitos, no § 31, do artigo 72, nos seguintes termos: "É mantida a instituição do Júri." 8. Como foi o Júri aceito naquela época? Campos Sales, então Ministro da Justiça, ressaltou na exposição de motivos ao texto legal que teve por fim organizar pela vez primeira a Justiça Federal de primeira instância do Brasil, que o Júri, em matéria penal, "era a mais alta expressão da consciência popular". 9. Como viu o Júri a Constituição de 1934? A Constituição de 1934, no seu artigo 72, deslocando o Júri do capítulo das garantias individuais para o Poder Judiciário, assim disciplinava: "É mantida a instituição do Júri, com a organização e as atribuições que lhe der a lei." 10. A Constituição de 1937 contemplou o Júri? Não. Nada dizia sobre o Júri. Somente em 5 de janeiro de 1938, foi que o Decreto 167, alterando profundamente a instituição do Júri, regulamentou-a, subtraindo a soberania das suas decisões. Foi instituída a apelação sobre o mérito, dando poder ao Tribunal de Apelação para reformar a decisão do Júri, podendo aplicar a pena justa, condenar ou absolver o réu. 11. O Decreto 167, de 1938, foi bem aceito no meio forense? Evidentemente que não. Foi a época negra do Júri. Houve insurgimento contra os termos do Decreto 167, sob a alegação de que nos moldes em que o Júri foi regulamentado poderia ser considerado como que abolido. 12. Como ficou o Júri na Constituição de 1946? Foi a Constituição que mais prestigiou a instituição do Júri. Após o período do Estado Novo, a Constituição de 1946 reviveu constitucionalmente o Júri, restabelecendo a soberania dos seus vereditos. Ditava o artigo 141, § 28: "É mantida a instituição do Júri, com a organização que lhe der a lei, contanto que seja sempre ímpar o número dos seus membros e garantido o sigilo das votações, a plenitude da defesa do réu e a soberania dos vereditos. Será obrigatoriamente da sua competência, o julgamento dos crimes dolosos contra a vida." 13. Como viu o Júri a Constituição de 1969? A Emenda Constitucional nº 1, de 17.10.69, em seu artigo 153, § 18, mantendo a redação original de 1967, limita a competência do Júri para os crimes dolosos contra a vida, sem falar expressamente na sua soberania. 13.a. A atual Constituição o que fala sobre o Tribunal do Júri? No capítulo destinado aos "Direitos e Deveres Individuais e Coletivos", em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, diz a nossa atual Constituição: "é reconhecida a instituição do Júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigiIo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida." Contrariamente ao que dispunha a Constituição anterior, a atual volta a se referir expressamente à soberania do Júri. 14. Acabou, então, a soberania do Júri? Não. A soberania das decisões do Tribunal do Júri encontra amparo na regra do § 3º, do artigo 593, do Código de Processo Penal, que enseja ao Tribunal de Justiça, em caso de decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos e apreciando recurso de apelação, unicamente determinar seja o acusado submetido a novo julgamento, não se admitindo, pelo mesmo motivo, urna segunda apelação. 15. O Júri tem origem na história antiga? A instituição do Júri existe desde os primórdios da humanidade e, se pesquisarmos na história, iremos encontrar na Grécia os heliastas que presididos por um magistrado, decidiam de fato e de direito, pois em Atenas, a Justiça se administrava por meio dos tribunais populares. Ao Tribunal dos Heliastas competia julgar todos os crimes, com exceção daqueles cuja apreciação devesse ser feita pelo Areópago ou Efetas. Em Roma existiram os tribunais populares, sendo que o processo se distinguia em duas formas: a cognitio e a accusatio. O título de glória dos heliastas, como antepassados dos jurados, é o de haverem exilado Aristides, e condenado Sócrates a beber cicuta. 16. Como instituição, onde nasceu o Júri? Na Inglaterra, onde recebeu características definidas, feito à semelhança do antigo Júri greco-romano. Não tardou muito para que, da Inglaterra, passasse a instituição para o Continente, indo atingir a França, com a Revolução de 1789. 17. Quais os sistemas predominantes sobre o Júri? Dois sistemas, então, perfeitamente definidos, passaram a coexistir no mundo: o sistema britânico, no qual os jurados decidiam de fato e de direito, respondendo a um único quesito para declarar ser o réu culpado ou inocente, e o sistema francês, pelo qual os jurados só decidiam de fato, cabendo ao Juiz togado, Presidente do Júri, proferir a decisão de direito, face às respostas dadas pelos quesitos formulados aos jurados. 18. Em quantas fases se desdobram os processos de competência do Tribunal do Júri? Trata-se de procedimento de duas fases. A primeira fase, denominada "Juízo de acusação", compreende a instrução criminal propriamente dita, contendo uma decisão que a encerra. A segunda fase decorre do trânsito em julgado da pronúncia, iniciando-se com o libelo, que é o marco fundamental da acusação. Esta fase termina com a leitura da sentença em plenário. 19. Que é pronúncia? Entende-se por pronúncia a decisão pela qual o Juiz chega à conclusão da existência de um crime doloso contra a vida, bem como, se existente, de delito a ele conexo, consumado ou não, com certeza provisória da autoria (indícios), remetendo os autos, pela competência, para julgamento pelo Tribunal do Júri. 20. A pronúncia deve ferir o mérito da causa? Não. A finalidade da pronúncia, declaratória que é, visa fixar a competência do Tribunal do Júri. A pronúncia é uma arma terrível contra o réu, por isso o Juiz que a prolata deve ser o mais sucinto possível, tendo a cautela de não externar um ponto de vista pessoal - contra ou a favor do réu - fato que em muito influenciará ou até mesmo viciará a conduta do jurado. 21. A pronúnciaé sentença ou despacho? Muitos processualistas debatem a respeito. Predomina a corrente que entende ser a pronúncia uma sentença. Em verdade, quando o Juiz togado se pronuncia nesta fase do processo, não deixa tal pronunciamento de se traduzir em um julgamento, muito embora sujeito a recurso e até mesmo modificação em plenário. Aliás, a respeito, o Código de Processo Penal, em seu artigo 413, expressamente se refere à sentença de pronúncia. 22. Quais as conseqüências da pronúncia? A pronúncia gera as seguintes conseqüências: Submeter o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. Se estiver preso, quer por flagrante, quer preventivamente, será recomendado na prisão onde se achar recolhido. Se estiver solto, contra ele será expedido mandado de prisão para recolhê-lo, salvo se o réu for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido expressamente na sentença da pronúncia, face a nova redação dada ao artigo 408, § 2º, pela Lei nº 5.941, de 22.11.73, que tornou facultativa a prisão por pronúncia, até então compulsória. Arbitrar fiança se for o caso, devendo o arbitramento constar do mandado de prisão expedido. Lançar o nome do réu no rol dos culpados. Intimá-lo pessoalmente. 23. A sentença fica vinculada aos termos da denúncia? Não. O Juiz, ao prolatar a sentença da pronúncia, pode discordar da denúncia, dando classificação diversa ao crime, ainda que ao réu seja imputada pena mais grave. Não pode o Juiz, entretanto, pronunciar o réu por fato que não esteja descrito na denúncia. 24. Que deve conter a pronúncia? A sentença de pronúncia deve especificar as circunstâncias qualificadoras do crime, bem como declarar o dispositivo da lei penal em que está incurso o réu. 25. O Juiz pode mudar a sentença de pronúncia? A sentença de pronúncia é imutável rebus sic stantibus. "somente poderá ser alterada pela verificação superveniente de circunstância que modifique a classificação do delito". Exemplo: A morte da vítima que altera a situação preliminar de tentativa para crime consumado. 26. A pronúncia constitui um ato de julgamento? Não. A pronúncia, em si, não constitui um julgamento, mas um ato preventivo de preparação e segurança de ingresso na fase do julgamento final. 27. O réu pode ser julgado à revelia pelo Tribunal do Júri? Sim. 28. Como se dá a intimação da sentença de pronúncia? I - Se o crime for inafiançável, a intimação da pronúncia será sempre feita ao réu, pessoalmente. II - Se o crime for afiançável, a intimação da pronúncia será feita ao réu: a) pessoalmente, se estiver preso; b) pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, se tiver prestado fiança antes ou depois da sentença; c) ao defensor por ele constituído, se, não tendo prestado fiança, expedido o mandado de prisão, não for encontrado e assim o certificar o Oficial de Justiça; d) mediante edital, no caso do inciso II, se o réu e o defensor não forem encontrados e assim o certificar o Oficial de Justiça; e) mediante edital, no caso do inciso III, se o defensor que o réu houver constituído também não for encontrado e assim o certificar o Oficial de Justiça; f) mediante edital, sempre que o réu, não tendo constituído defensor, não for encontrado. 29. Qual o prazo do edital? O prazo será de trinta dias. 30. Que é impronúncia? A impronúncia é, pois, uma sentença, na qual o Juiz chega à conclusão de não haver resultado provado o fato típico e nem haver indícios suficientes de autoria, julgando, assim, improcedente a denúncia ou a queixa. 31. A impronúncia é uma decisão definitiva? A impronúncia não se traduz em uma decisão definitiva em favor do réu, somente o absolve da instância. O processo, entretanto, poderá retornar a Juízo, se novas provas surgirem, evidentemente desde que não ocorra a prescrição pena em abstrato (art. 409, parágrafo único, do C.P.P.). 32. Em que hipótese terá a impronúncia força de uma decisão definitiva? A impronúncia terá força de uma decisão definitiva, quando o Juiz, ao prolatá-la, concluir pela inexistência do fato imputado ao acusado, bem como a falta de tipicidade. 33. A impronúncia gera efeitos de coisa julgada? A impronúncia não se confunde com causa de extinção de punibilidade, tanto que os seus efeitos geram coisa julgada meramente formal. Em verdade, a sentença sempre posterga a norma legal e a coisa depois de julgada se substitui à coisa antes de julgada. Se houver coincidência entre a sentença e a norma legal, problema algum existirá. Entretanto, se entre elas houver divergência, prevalecerá sempre a decisão do Juiz. A decisão judicial modifica ou traz modificação para o próprio direito substancial. Por isso a decisão de impronúncia gera coisa julgada formal e não substancial ou material, tendo em vista que a coisa julgada formal indica a imutabilidade da sentença como ato processual, enquanto que a coisa julgada material ou substancial indica a mesma imutabilidade, em relação ao seu conteúdo e, mormente, aos seus efeitos. 34. Existindo mais de um réu, a impronúncia atingirá a todos? Não. O Juiz ao prolatar a decisão de impronúncia poderá estender a decisão para todos ou de alguns dos acusados, não estando impedido de, com relação a alguns dos réus, quando a prova demonstra posição diversa na relação processual, para eles decretar a pronúncia. Ocorrendo esta hipótese, a denúncia será admitida em parte. 35. Que Juízo representa a impronúncia diante da acusação? A impronúncia representa um Juízo de inadmissibilidade da remessa da imputação feita ao réu para ser apreciada pelo Tribunal do Júri. 36. Havendo crime conexo, será ele atingido pela impronúncia? Não. Da mesma forma quando o Juiz prolata decisão absolutória, em havendo impronúncia com relação ao crime da competência do Júri, após o seu trânsito em julgado, competirá ao Juiz singular, aquele que couber por distribuição, em caso de comarcas com mais de um Juiz de igual competência, apreciar e julgar o crime conexo, sendo-lhe remetido traslado dos autos do processo. 37. Que é decisão desclassificatória? Dá-se a decisão desclassificatória, toda vez que o Juiz, discordando da denúncia, afasta da acusação o dolo de matar, admitindo uma nova figura penal da competência do Juiz singular, para o qual os autos deverão ser remetidos após o trânsito em julgado. 38. Qual o recurso que pode ser interposto contra a decisão desclassificatória? O recurso cabível é o em sentido estrito, nos termos do artigo 581, II, do Código de Processo Penal. 39. Qual o efeito desse recurso? Seu efeito será meramente devolutivo, segundo os artigos 583 e 584 da Lei Processual Penal, tanto que não subirá nos próprios autos. 40. Quando o Juiz da pronúncia desclassifica o delito, que passa a ser de natureza afiançável, qual a autoridade competente para arbitrar a fiança? Será o próprio Juiz que prolatar a decisão desclassificatória. Ora, sendo a decisão desclassificatória meramente opinativa, posto que não prejulga a causa e nem obriga o outro Juízo que dela vai conhecer, o qual poderá dar-se por incompetente, suscitando conflito negativo de jurisdição, não seria justo que o réu, respondendo então por uma infração afiançável, ainda que em tese, permanecesse preso. Tem ele o direito de livrar-se solto, imediatamente. Não se fere, neste caso, o princípio processual da competência ratione materiae. 41. O réu, em caso de decisão desclassificatória, ficará à disposição de que Juízo? Segundo dispõe o parágrafo único do artigo 410 do Código de Processo Penal, "tendo o processo de ser remetido a outro Juízo, à disposição deste passará o réu, se estiver preso". 42. Que é decisão de absolvição liminar ou sumária? É a decisão pela qual o Juiz, analisando o Juízo de admissibilidade da acusação, deixa de reconhecer a competência do Tribunal do Júri para, analisando o mérito, concluir pela absolvição do réu, sempre que a prova dos autos revelar a existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena (arts. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1º, do C.P.). A prova, paratanto, deve ser segura e escoimada de qualquer dúvida. 43. Qual a razão de ser da decisão que profere absolvição sumária? O jurista Moura Bittencourt, em sua obra A Instituição do Júri, preleciona com sabedoria que "segundo a uniforme jurisprudência dos nossos tribunais, a absolvição no sumário de culpa é uma medida que a lei adotou para libertar inocentes das delongas do julgamento perante o Júri". 44. A parte pode impetrar ordem de habeas-corpus para obter uma absolvição sumária? Não. A jurisprudência é pacífica a respeito. "O exame profundo das provas para obter a absolvição sumária não é permitido no campo do habeas-corpus." (H.C. nº 97.245, 8.10.68, T.J.S.P., Rel. Des. Octavio Lacôrte.) 45. O Ministério Público pode recorrer da decisão absolutória. Sim, poderá o Ministério Público interpor recurso em sentido estrito, nos termos do artigo 581, VI, do Código de Processo Penal. A Constituição de 1937 contemplou o Júri? Como viu o Júri a Constituição de 1969? O Júri tem origem na história antiga? Quais os sistemas predominantes sobre o Júri? A pronúncia deve ferir o mérito da causa? A sentença fica vinculada aos termos da denúncia? Existindo mais de um réu, a impronúncia atingirá a todos? Qual a razão de ser da decisão que profere absolvição sumária? Em quantas fases se desdobram os processos de competência do Tribunal do Júri? A pronúncia deve ferir o mérito da causa? 1
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