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Gestão do conhecimento FABIO MAIA 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Fabio Maia Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 A revolução digital e seus impactos no processo de gestão das empresas............................................. 9 Capítulo 2 Conceitos básicos da Gestão do Conhecimento...............................................................................................16 Capítulo 3 A dinâmica da construção do conhecimento ....................................................................................................29 Capítulo 4 Gestão da diversidade e as barreiras para construção do conhecimento ..............................................37 Capítulo 5 A aprendizagem no ambiente organizacional ..................................................................................................44 Capítulo 6 A importância do conhecimento no processo de inovação .........................................................................51 Referências ..........................................................................................................................................................................58 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução O processo de revolução tecnológica, em especial os computadores e a internet, trazem mudanças significativas em diferentes segmentos: sociais, políticos, culturais e econômicos. Com o estabelecimento de uma socidade digital, faz-se necessário discutir sobre os ganhos, os impactos negativos e os desafios oriundos da presença constante das Tecnologias de Informação e Comunicação no nosso dia a dia. Nesse novo cenário, informação e conhecimento ganham destaque. Esses passam a ser considerados os elementos mais importantes e que trazem impactos significativos nos negócios. Frente a todas essas mudanças, as organizações precisam se adaptar para responder de forma satisfatória às novas demandas do mercado e da sociedade. A Gestão do Conhecimento pode ser uma das estratégias mais adequadas para responder a essas demandas. A forma com que as empresas constroem os conhecimentos e os aplicam no dia a dia pode contribuir no aprimoramento de processos, na melhorias dos produtos e serviços, gerando, assim, diferencial competitivo. O processo de gestão do conhecimento deve levar em consideração tanto os conhecimentos presentes no ambiente interno quanto os conhecimentos externos à organização, incluindo os do mercado, macroambiente e dos clientes. A construção do conhecimento é um processo dinâmico baseado no compartilhamento e na construção conhecimento. Para que esse processo gere frutos positivos para a empresa faz-se necessária a adoção de modelos gerenciais e a construção de ambientes organizacionais que favoreçam e estimulem a socialização e a construção individual e colaborativa de conhecimentos. Apesar da sua importância, o processo de construção do conhecimento apresenta grandes desafios. Esses são constituídos por diferentes barreiras presentes no ambiente organizacional, tais como a visão sobre a diversidade, a cultura e a visão sobre o conhecimento. O desenvolvimento de práticas e políticas que motivem e estimulem os colaboradores a compartilhar os seus saberes e suas experiências pode ser uma estratégia viável para reduzir essas barreiras. As pessoas são os elementos básicos para a gestão baseada no conhecimento, já que as pessoas são responsáveis pela criação, compartilhamento e aplicação dos conhecimentos no dia a dia das empresas. Tendo como base essa premissa, a aprendizagem organizacional torna-se essencial para o desenvolvimento dos colaboradores e o aumento dos conhecimentos da empresa. As ações de aprendizagem no contexto organizacional devem buscar o desenvolvimento de competências e de conhecimentos, tendo como base os objetivos e interesses da empresa a curto, médio e longo prazos. Ela também tem como objetivo desenvolver a capacidade criativa e inovadora das empresas. 7 Objetivos » Discutir a revolução das tecnologias digitais e seus impactos no processo de gestão das empresas. » Apresentar os conceitos básicos relacionados à gestão do conhecimento. » Compreender o processo de construção do conhecimento no contexto organizacional. » Refletir sobre a importância da gestão da diversidade para o sucesso da gestão do conhecimento. » Identificar as diferentes barreiras presentes na empresa que impactam na construção do conhecimento. » Apresentar as diferentes práticas e políticas de gestão de pessoas que podem favorecer a construção do conhecimento. » Refletir sobre o processo de inovação e sua importância para os negócios da empresa. 9 Apresentação Antes de iniciamos o estudo do capítulo 1 da disciplina Gestão do Conhecimento, gostaria de apresentar um visão geral dos assuntos a serem tratados. Neste capítulo discorreremos sobre o processo de revolução tecnológica e seus impactos em diferentes segmentos: sociais, políticos, culturais e econômicos. Na segunda parte do nosso capítulo, nossa atenção se voltará sobre as novas dinâmicas estabelecidas da presença constante das tecnologias na sociedade do século XXI. Teremos oportunidade, nesse momento, de discutir os ganhos, impactos negativos e os desafios oriundos de uma sociedade digital. Encerramos o nosso estudo discorrendo sobre a necessidade de adaptação das organizações frente às necessidades apresentadas pelo mercado na sociedadeatual, devido ao processo constante de informatização. Nesse novo cenário, informação e conhecimento ganham destaque. Esses passam a ser considerados os elementos mais importantes e que trazem impactos significativos no sucesso dos negócios. Objetivos » Compreender os impactos da revolução tecnológica nas aspectos sociais, políticos, culturais e econômicos em diferentes momentos da sociedade. » Conhecer os impactos das tecnologias digitais, em especial os computadores e a internet, no dia a dia da sociedade atual. » Apresentar as transformações nos processos econômicos e no meio empresarial devido à revolução das tecnologias digitais. » Compreender a importância da informação e do conhecimento no campo empresarial para o sucesso dos negócios. 1 CAPÍTULO A REvOLUçãO DIGItAL E SEUS IMPACtOS nO PROCESSO DE GEStãO DAS EMPRESAS 10 CAPÍTULO 1 • A REvOLUçãO DIGItAL E SEUS IMPACtOS nO PROCESSO DE GEStãO DAS EMPRESAS Da era agrícola à era digital A nossa história é constituída de diferentes fases. Em cada uma dessas fases, a humanidade se apresenta em diferentes momentos evolucionários. Tradicionalmente, para compreender melhor a evolução da humanidade, pesquisadores dividem-na em cinco grandes fases: Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Essas fases são denominadas de eras históricas. É por meio destas que podemos compreender a nossa evolução, a constituição dos agrupamentos sociais, as diferentes formas de manifestações artísticas e religiosas, as justificativas motivadoras das guerras e batalhas, o desenvolvimento da economia e das moedas, entre outros elementos. Sendo assim, podemos dizer que, por meio das eras históricas, é possível compreender a complexa evolução da nossa sociedade no que se refere aos aspectos políticos, sociais, econômicos, históricos e culturais. Entretanto, é importante destacar que existem outras formas de classificação. Uma dessas categoriza a evolução da humanidade em três grandes blocos com ênfase no desenvolvimento tecnológico. Diante dessa perspectiva, ela é dividida em Era Agrícola, Era Industrial e Era Digital. A seguir, conheceremos mais detalhadamente as características de cada uma dessas fases. A era agrícola tem início no período anterior ao surgimento da escrita, antes de 4.000 a.C. A população era basicamente rural. Isto é, as pessoas viviam em pequenos agrupamentos nos campos. O processo da educação era baseado na oralidade. Sendo assim, a maior parte da população não era letrada. O conhecimento era baseado em princípios místicos e religiosos. A produção dos bens de consumo era artesanal e, por isso, em baixa escala. A atividade comercial era baseada na troca, não havia presença de moedas e padrões monetários. Transformações ocorridas a partir do século XVI ocasionaram mudanças significativas nos aspectos sociais, políticos e econômicos. Tais transformações deram início ao período denominado era industrial. O seu início coincide com a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, no final do século XVIII e início do século XIX. A Era Industrial pode ser caracterizada pela valorização do conhecimento técnico-científico que ocasiona o surgimento das máquinas a vapor e das industriais. As pessoas saem dos campos para as cidades. A produção deixa de ser manufatureira e passa a ser feita em larga escala por meio das linhas de produção. Há uma forte presença de atividade comercial baseada no Capitalismo. Iniciam-se processos de escolarização da população, voltada para formação de mão de obra para atuar nas fábricas. Após a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o mundo passa por grandes mudanças políticas, sociais e econômicas. A Alemanha é dividida em dois estados independentes, a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã, sob a responsabilidade respectivamente dos 11 A REvOLUçãO DIGItAL E SEUS IMPACtOS nO PROCESSO DE GEStãO DAS EMPRESAS • CAPÍTULO 1 Países Aliados, liderados pelos Estados Unidos e a Inglaterra, e da União Soviética. A economia mundial sofre grandes transformações. Os Estados Unidos e a União Soviética transformam-se nas maiores potências mundiais e estabelecem novos modelos econômicos e sociais, baseados no Capitalismo e no Socialismo. A busca desses dois países pela hegemonia do seu modelo político, econômico e social fez surgir um novo conflito denominado Guerra Fria (1945-1991). A Guerra Fria foi uma luta ideológica, política e econômica entre os Estados Unidos e a União Soviética para estabelecimento do modelo que cada um deles julga ser o mais adequado. Esse foi o período de grande evolução tecnológica. Primeiramente, devido à corrida armamentista que objetiva a construção de um grande arsenal de armas nucleares pelas duas grandes potências. Em um segundo momento, por meio da corrida espacial que objetiva o desenvolvimento de tecnologias aeroespaciais necessárias para o lançamento de mísseis e de foguetes. O setor de telecomunicações também sofreu grandes transformações durante a Guerra Fria, com o surgimento dos computadores e, posteriormente, da internet. Essas grandes evoluções tecnológicas, em especial as Tecnologias de Informação e Comunição (TICs), trouxeram modificações significativas nos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais no final do século XX, por volta da década de 1980, dando início a uma nova fase da sociedade denominada era digital. Possibilidades e desafios da era digital A Revolução das Tecnologias Digitais influencia diretamente diferentes aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da nossa sociedade. Diante disso, podemos afirmar que as Tecnologias de Informação e Comunicação influenciam de forma significativa diferentes setores da nossa sociedade: públicos, privados e pessoais. De acordo com Castells (2007), a era digital pode ser caracterizada pela presença constante de tecnologias digitais mediando nossas ações em diferentes atividades do cotidiano, pois a maior parte das nossas atividades do dia a dia é feita utilizando algum tipo de artefato tecnológico. Elas permitem a interconexão entre áreas (públicas, privadas e pessoais) e segmentos da sociedade. Estamos conectados com diferentes esferas governamentais (governo municipal, estadual e federal), empresas dos mais variados ramos de atividades e com pessoas de diferentes localidades e nacionalidades. Sendo assim, vivemos em uma sociedade interligada em rede, favorecendo o estabelecimento de uma economia globalizada. Nessa sociedade há uma grande difusão e circulação de informações sobre os mais variados assuntos. Atualmente, é possível ter acesso ao um universo ilimitado de informações por meio 12 CAPÍTULO 1 • A REvOLUçãO DIGItAL E SEUS IMPACtOS nO PROCESSO DE GEStãO DAS EMPRESAS da internet. É importante destacar que essas informações estão em constante modificação, exigindo que as pessoas também estejam sempre atualizadas. Na era industrial, máquinas, matéria-prima, instalações e bens produzidos eram considerados os elementos mais importantes. O poder e a relevância de uma organização eram medidos segundo esses itens. Já na era digital, temos um cenário diferente. A informação e o conhecimento passam a ter valor econômico e lugar de destaque no cenário social, político e econômico. Tomemos como exemplo a empresa Facebook. Ela se configura como uma das empresas mais importantes e inovadoras na atualidade. Entretanto, ela não possui grandes instalações, não possui maquinários, não produz matéria-prima e bens. O único elemento com que ela trabalha é a informação, permitindo que as pessoas construam conhecimento por meio destas. Diante da análise das características relacionadas à era da informação, podemos perceber que ela traz transformações significativas aos processos técnicos, organizacionais e administrativos, estabelecendo uma ruptura com o modelo social, político e econômico da era industrial. Agora que já conhecemos as características pertencentes à erada informação, precisamos discutir as suas potencialidades e limites. A estrutura de interconexão em rede e mediação das interfaces tecnológicas nas atividades do cotidiano apresentam potencialidades e favorecem a criatividade, o espírito empreendedor, a inovação e o compartilhamento de informações e conhecimento. Elas também ampliam as possibilidades de expressão dos movimentos sociais, dificultando as suas ações e iniciativas de controle e repressão pelas instâncias governamentais. A grande difusão e a circulação de informação na atualidade exigem cada vez mais o aperfeiçoamento intelectual e técnico constantes. As características referentes à era digital permitem estabelecer estratégias voltadas para a aprendizagem continuada por meio das ferramentas digitais, favorecendo o estabelecimento de comunidades de aprendizagem e a disseminação Para refletir Pensemos em diferentes atividades que você realiza no seu dia a dia como, por exemplo, utilizar o transporte público, comprar uma roupa ou fazer uma retirada de dinheiro no banco. Perceberemos que essas atividades, por mais simples que sejam, são realizadas por meio de algum artefato tecnológico digital. Para refletir Tentem lembrar-se de outras empresas inovadoras e importantes na nossa atualidade. Pesquisem sobre os elementos com que essas empresas produzem ou trabalham. Saiba mais Para saber mais sobre a sociedade da informação, leia o livro de Manuel Castells, intitulado Sociedade em Rede, da Editora Paz e Terra. Para refletir Lembram-se do movimento Primavera Árabe ou Movimento Não é por 20 centavos? Estes são exemplos das possibilidades que a era digital oferece para os movimentos sociais. Pesquisem na internet sobre esses movimentos. 13 A REvOLUçãO DIGItAL E SEUS IMPACtOS nO PROCESSO DE GEStãO DAS EMPRESAS • CAPÍTULO 1 da inteligência coletiva (LEVY, 1996). Um exemplo de estratégias de aprendizagem utilizando tecnologias são os cursos de treinamento ofertados na modalidade a distância. Sabemos que a era digital apresenta diversas potencialidades e facilidades. Entretanto, não podemos deixar de refletir sobre os seus limites e desafios éticos, políticos e sociais que esta apresenta. Apesar da presença constante das TICs no nosso cotidiano, o acesso às tecnologias digitais não é igualitário. A era digital é tão excludente quanto as outras eras. Ela se mostra como uma sociedade dividida em ricos e pobres informacionais, favorecendo, assim, a exclusão digital e, consequentemente, a exclusão social. Para refletir A exclusão digital envolve outros aspectos além do acesso às TICs. Quando uma pessoa não possui acesso às tecnologias digitais, ela não consegue se inserir na era digital, levando-a à exclusão social. Atenção Os ricos informacionais são as pessoas que possuem acesso às tecnologias digitais e sabem utilizar as ferramentas para seu crescimento pessoal e profissional. Já os pobres informacionais não possuem acesso ao computador e à internet e/ou não conseguem fazer uso desses recursos. Dessa forma, podemos concluir que para reverter a exclusão digital são necessárias ações conjuntas que possibilitem a diminuição dos preços dos computadores e de acesso à internet e estratégias de capacitação para utilização desses artefatos tecnológicos. Além da exclusão digital, devemos pensar sobre as questões relacionadas aos crimes virtuais, à proteção da propriedade intelectual e à utilização indevida de imagens na internet. Nesse caso, faz-se necessário rever a legislação atual para que esta possa se adequar às novas demandas. É também importante refletir sobre o desemprego e a desqualificação do trabalho ocasionado pela automação dos processos produtivos. Para minimizar essas questões, é importante o desenvolvimento de políticas de capacitação e formação de mão de obra qualificada. O mundo corporativo no contexto da era digital O advento das tecnologias computacionais e da internet impactaram e trouxeram mudanças significativas para o nosso dia a dia. E no mundo corporativo não seria diferente. A presença massiva das TICs vem proporcionando transformações significativas nos processos econômicos e no meio empresarial. Essas transformações exigem cada vez mais que as organizações 14 CAPÍTULO 1 • A REvOLUçãO DIGItAL E SEUS IMPACtOS nO PROCESSO DE GEStãO DAS EMPRESAS estejam preparadas para lidar com as demandas da era digital, tornando-se mais competitivas e inovadoras. As empresas precisam rever os seus processos produtivos, tornando-os mais racionais, flexíveis e eficientes. Essas demandas estão agrupadas em três blocos: mercado, tecnologia e sociedade. As demandas atreladas ao mercado estão relacionadas ao processo de globalização, natureza mutante da força de trabalho e poder dos consumidores. As tecnologias estão relacionadas à inovação tecnológica, à obsolescência e ao excesso de informação. Já as sociais são responsabilidade social, regulamentação e desregulamentação governamental, gastos com programas sociais, questões éticas e segurança. Para atender às novas demandas, as organizações precisam modificar as suas estruturas e seus processos. Estando, dessa forma, mais bem preparadas para lidar com as demandas e mudanças do mercado, tais como o surgimento de novos negócios e mercados e/ou o desaparecimento de segmentos já consolidados. Para isso, é essencial que as organizações rompam com os modelos de gestão consolidados pela era industrial. A seguir será apresentado um quadro comparativo que mostra as diferenças entre uma organização da sociedade industrial e uma organização da sociedade da informação. Quadro 1. Características das empresas na era industrial e era digitall. Empresa na Era Industrial Empresa na Era Digital Enfoque analítico e atomístico Enfoque macro e holístico Ênfase no individualismo e distanciamento entre as pessoas Ênfase no compartilhamento e na participação Autoridade centralizadora Autoridade facilitadora e democrática Especialização excessiva do trabalho visão generalizada do trabalho Economia de escala, tendência ao gigantismo e à centralização Descentralização, resguardando-se a integração valorização da quantidade valorização da qualidade associada à quantidade Empresário avesso ao risco, voltado para a busca do protecionismo Empresário empreendedor, criativo e competitivo A grande alavanca é o dinheiro A grande alavanca é a informação, o conhecimento e a educação Investimento em máquinas e instalações Investimento nos aspectos humanos tabela: Adaptado de Borges (2000). No contexto da era digital, as respostas tradicionais que as organizações dão às demandas sofridas constantemente podem se mostrar ineficazes em face dessa nova sociedade. É preciso pensar em estratégias que possibilitem trabalhar as informações disponíveis para que possamos gerar conhecimentos, favorecendo o posicionamento estratégico e agregando valor competitivo às organizações. 15 A REvOLUçãO DIGItAL E SEUS IMPACtOS nO PROCESSO DE GEStãO DAS EMPRESAS • CAPÍTULO 1 Atenção Ao longo do capítulo 1 da disciplina Gestão do Conhecimento, discorremos sobre o processo de revolução tecnológica e seus impactos em diferentes segmentos: sociais, políticos, culturais e econômicos. Conhecemos novas dinâmicas estabelecidas da presença constante das tecnologias na sociedade do século XXI. Discorremos sobre os ganhos, impactos negativos e os desafios oriundos de uma sociedade digital. Além disso, discorremos sobre a necessidade de adaptação das organizações frente às necessidades apresentadas pelo mercado na sociedade atual, devido ao processo constante de informatização. Finalizamos o nosso estudo refletindo sobre o papel da informação e conhecimento no contexto organizacional e no sucesso dos negócios. 16 Apresentação No capítulo 1, discorreremos sobre a importância da valorização do conhecimento e da informação para os negócios e o sucesso das empresas. Mas, sabemos diferenciar informação de conhecimento? Teremosa resposta dessa pergunta na primeira parte do nosso capítulo 2. Após a leitura desta, seremos capazes de diferenciar dados, informação e conhecimento. Além disso, conheceremos os diferentes tipos de conhecimentos (tácitos e explícitos) presentes no ambiente organizacional. Na segunda parte deste capítulo, discorrermos sobre a importância do gerenciamento dos conhecimentos presentes na empresa. Perceberemos que o sucesso da empresa depende da forma como ela constrói conhecimentos e os aplica no dia a dia com objetivos de melhorar e aprimorar os processos, produtos e serviços ofertados. Em seguida, perceberemos que o gerenciamento do conhecimento deve levar em consideração tanto os conhecimentos presentes no ambiente interno quanto os conhecimentos externos à organização, incluindo os do mercado, macroambiente e dos clientes. Finalizaremos o nosso capítulo 2, discorrendo sobre como as Tecnologias de Informação e Comunicação podem ser usadas como ferramentas para favorecer a Gestão do Conhecimento. Objetivos » Diferenciar dados, informação e conhecimento. » Identificar os diferentes conhecimentos presentes no ambiente organizacional. » Compreender a importância da Gestão do Conhecimento para o aumento da competitividade das empresas. » Conhecer a importância do gerenciamento dos conhecimentos oriundos do ambiente externo à empresa. » Conheceremos de que forma as Tecnologias de Informação e Comunicação podem favorecer o gerenciamento dos conhecimentos. 2 CAPÍTULO COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO 17 COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 2 Dados, Informação e Conhecimento O capítulo 1 do Livro Didático da disciplina Gestão do Conhecimento levou-nos a refletir sobre a importância da informação e do conhecimento no contexto organizacional e no processo de gestão. Foi possível perceber que a informação rompe o caráter informacional e ganha status econômico e mercadológico. O conhecimento, junto com a informação, passam a ser elementos essenciais para os negócios, gerando inovação, competitividade e diferencial no mercado. Apesar do reconhecimento da importância desses elementos no contexto organizacional, ainda é comum as pessoas confundirem dados, informação e conhecimento. De acordo com os autores Davenport e Prusak (1998), citado por Carvalho (2012): A confusão entre dado, informação e conhecimento gera enormes dispêndios com iniciativas de tecnologia que raramente produzem resultados satisfatórios. [...] Por mais primário que possa soar, é importante frisar que dado, informação e conhecimento não são sinônimos. O sucesso e o fracasso organizacional podem depender de saber qual deles precisamos, com qual deles contamos e o que podemos ou não fazer com cada um deles. Entender o que são esses três elementos e como passar de um para outro é essencial para a realização bem- sucedida do trabalho ligado ao conhecimento. Tendo como base as premissas destacadas pelos autores, é essencial na formação de gestor a seja capacidade de compreender esses três elementos e a diferença entre eles. O que é dado? O dado pode ser considerado como o elemento mais simples de um sistema. Ele é uma unidade quantificada, indivisível e objetiva. Ele pode ser representado por um símbolo, uma letra ou um número. Por causa das suas características, pode ser manipulado, armazenado, transportado e reproduzido. Os elementos processados e armazenados em um computador são considerados dados. Uma questão importante sobre o dado é que esse elemento isoladamente não possui significado inerente. O que pode levar um grupo de pessoas a interpretarem um mesmo dado de forma diferente. Para ajudar na compreensão, vejamos o exemplo a seguir: Para refletir Imagine o número 15. Esse número é um dado e pode ter diferentes significados de acordo com as pessoas que o acessam. Para um aluno pode signficar a nota de uma atividade; para um professor pode significar a quantidade de alunos em uma turma ou a quantidade de aulas que ele ministra em uma semana. Já para um vendedor pode representar a quantidade de clientes ou o número de itens de um pedido. 18 CAPÍTULO 2 • COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO Apesar dessas considerações acerca do dado, não podemos descartar a sua importância no contexto organizacional. No dia a dia das empresas, os dados estarão presentes, seja em cada campo que compõe uma ficha cadastral de um cliente ou uma nota fiscal de uma compra. O que é informação? Agora que já conseguimos compreender o conceito de dado, vamos começar a tratar sobre informação. A informação é constituída por um conjunto de dados. Por exemplo, ao juntar todos os dados que fazem parte da ficha cadastral de um cliente, teremos as informações dele. Entretanto, é de extrema importância destacar que nem sempre um conjunto de dados será uma informação, pois toda informação deve ser constituída de significado para aquele que acessa, ou seja, para a pessoa que recebe a informação. Para refletir Letras, números e símbolos são considerados dados. Ao juntarmos todos esses elementos, criaremos um conjunto de dados. O texto que você está lendo agora é a exemplificação desse conjunto de dados, formados por diferentes letras, números e símbolos. Entretanto, ele somente poderá ser considerado como informação para os leitores que dominam a língua portuguesa. Para um chinês, que não compreende a língua portuguesa, este texto (informação) não terá nenhum tipo de significado. Será somente um conjunto de dados. Por outro lado, ao acessar esse texto (conjunto de dados), nós, nativos da língua porttuguesa, conseguiremos compreender o significado da mensagem transmitida. Sendo assim, para nós esse conjunto de dados é uma informação, pois é dotado de significado. A informação no contexto organizacional pode estar disponível em diferentes formatos: textos, imagens, áudio, animações, vídeo e multimídia. No dia a dia das empresas, as informações podem estar corporificadas em quadros de avisos, memorandos impressos, manuais de instruções, vídeos institucionais, e-mails, comunicados verbais, placas, banco de dados, entre outros. Por isso, ela pode ser facilmente armazenada, transmitida e compartilhada entre diferentes pessoas. Outro ponto importante a ser destacado é que o significado da informação deve estar acessível para todos e não restrita a uma única pessoa ou gupo de pessoas. Sendo assim, todas as pessoas pertencentes ao contexto organizacional devem ser capazes de acessar as informações e compreender os seus significados. O que é o conhecimento? Segundo Setzer (2001), o conhecimento está relacionado aos aspectos subjetivos das pessoas. Ele é resultado da interação entre os indivíduos e as informações que estes acessam. Envolve processo mental e de abstração articulando as experiências já vivenciadas pelo sujeitos em 19 COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 2 situações anteriores. Sendo assim, o conhecimento também possui caráter prático. Além disso, ele está em constante processo de construção e transformação, possuindo, assim, características dinâmicas ao longo do tempo. Devido ao seu caráter subjetivo, sempre teremos difuldade para transmitir e compartilhar conhecimento. Geralmente, há também algum tipo de dificuldade de ser registrado e armazenado. Para refletir Para melhor compreensão do conceito de conhecimento, vamos ver o exemplo a seguir. Imaginemos que tenhamos interesse em culinária. Por isso, compramos diferentes livros relacionados ao tema, consultamos sites especializados na internet e assistimos a vídeos tutorais no YouTube. Entretanto, a ação de acessar informações sobre o assunto não nos tornará você bons cozinheiros, correto? Para isso, é preciso aplicar na prática todas as informações consultadas. Isto é, precisamos colocar a mão na massa, relacionando as informações pesquisadas com as nossas experiências já vivenciadas na cozinha. Dentro dessa dinâmica, quanto mais experiênciana cozinha e mais informações buscarmos sobre o assunto, maiores serão as chances de nos tornarmos excelentes cozinheiros. Resumidamente, podemos considerar que conhecimento é o resultado da busca de novas informações, articulação dessas com as informações anteriores e com as experiências já vivenciadas em situações práticas. Quadro 2. Características básicas de dado, informação e conhecimento. Dado Informação Conhecimento Unidade quantificada Conjunto de dados Resultado do processo mental e reflexo Objetivo é indivisível Contextualizada Baseado na informação e na vivência Sem significado Possui significado Possui significado Fonte: Adaptado de Carvalho (2012). Diferentes tipos de conhecimentos No contexto organizacional, perceberemos que os conhecimentos apresentam-se em diferentes tipos: conhecimentos explícitos e conhecimentos táticos. Os conhecimentos explícitos são aqueles que estão visíveis e podem ser facilmente identificados no ambiente organizacional, por isso possuem um caráter tangível. São apresentados em uma estrutura sistematizada por meio de linguagem formal, o de textos, imagens, números, vídeo, áudio e recurso digital. Por causa do seu caráter tangível, podem ser facilmente armazenados e transmitidos para uma pessoa ou grupo de pessoas. Nas empresas encontraremos o conhecimento explícito em manuais, quadro de avisos, e-mails, vídeos institucionais, banco de dados, intranet, cursos, palestras, entre outros. 20 CAPÍTULO 2 • COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO O conhecimento tácito é muito mais difícil de ser identificado devido ao seus aspectos subjetivos. Ele possui um caráter muito pessoal e atrelado diretamente a experiência, história, crenças, habilidades, emoções, dogmas e valores de cada indivíduo. O conhecimento tácito é intangível e prático, dificil de ser registrado em uma estrutura formal, compartilhado e ensinado. Esse tipo de conhecimento está em constante processo de transformação e é construído por meio da interação entre o sujeito com os seus pares, com o meio ambiente interno e externo e consigo mesmo. Para refletir Para melhor compreensão da diferença entre conhecimento explícito e conhecimento tácito: Imaginemos que uma amiga é uma boa cozinheira e faz sobremesas deliciosas. Sabendo dos seus dotes culinários, pedimos uma receita de bolo. Sempre disponível, a nossa amiga escreveu a receita no papel com a indicação dos ingredientes, quantidades e modo de preparo. Essa receita pode ser considerada como conhecimento explícito, pois ela é objetiva e apresenta uma estrutura formal sistematizada. Mesmo seguindo rigorosamente as orientações da receita, não produzimos um bolo idêntico ou semelhante ao da nossa amiga. Isto é, seguir todas as indicações apresentadas na receita (conhecimento explícito) não é garantia de sucesso. Isso se deve ao fato de que para preparar um bolo é necessário mais do que a reprodução do passo a passo de uma receita. São necessários conhecimentos mais subjetivos (tácitos) construídos ao longo da nossa experiência na cozinha que nos permitam fazer ajustes e adaptações diante dos tipos de produtos utilizados e a textura da massa produzida para chegarmos a um resultado satisfatório. Quadro 3. Conhecimento tácito e conhecimento explícito. Conhecimento explícito Conhecimento tácito Facilmente identificável Difícil de ser identificado Estrutura formal Caráter pessoal e experiencial Objetivo Subjetivo Manuais, livros, sites, banco de dados, cursos e vídeos institucionais Prático, mental e atrelado ao colaborador Exemplos: receita de bolo e roteiro de atendimento ao cliente Exemplos: Andar de bicleta e jogar futebol Fonte: Adaptado de Carvalho (2012). O conhecimento explícito costuma ser mais valorizado no contexto organizacional. Isso se deve ao fato de ele ser objetivo e facilmente identificado e manuseado. Ao contrário do conhecimento tácito, que é subjetivo, difícil de ser identificado no dia a dia e compartilhado entre as pessoas. Porém, o conhecimento tácito ganha lugar de destaque por ser mais dinâmico e fluido, podendo ser adaptado a diferentes contextos e realidades. Cuidado É necessário destacar que o conhecimento organizacional é composto tanto pelos conhecimentos explícitos quanto pelos tácitos. Juntos podem trazer grandes vantagens competitivas para as empresas, permitindo aprimoramento e inovação dos processos, produtos e serviços. 21 COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 2 Gestão do Conhecimento Como já discutido anteriormente, informação e conhecimento ganham destaque no mundo corporativo e são cada vez mais essenciais para os negócios das empresas. Partindo da premissa de que todas as empresas possuem conhecimentos tácitos e explícitos, vamos pensar sobre a Gestão do Conhecimento. A Gestão do Conhecimento pode ser considerada como o processo sistematizado para a identificação, criação, compartilhamento, atualização e aplicação dos conhecimentos explícitos e tácitos dentro do contexto da organização. Esse processo deve envolver todos os colaboradores da empresa (alta gestão, nível gerencial e nível operacional), possibilitando que todos se transformem trabalhadores do conhecimento. O objetivo da Gestão do Conhecimento é possibilitar que as empresas desenvolvam estratégias que permitam a essas identificar os conhecimentos essenciais para os seus negócios, estimular a criação, compartilhamento e aplicação desses nos negócios. Tais estratégias têm como objetivo a melhoria e a inovação de serviços e produtos, o aumento da competitividade, a otimização dos processos, redução dos custos e geração de diferencial da empresa no mercado. A gestão baseada no conhecimento pode ser aplicada em qualquer tipo de empresa e independente do seus segmentos ou ramos de atuação. Sendo assim, podemos aplicar a gestão de conhecimento em pequenas, médias e grandes empresas, tanto do setor privado quanto do setor público que atuam na área de oferta de produtos ou de serviços. A Gestão do Conhecimento não deve ser responsabilidade de um grupo de profissionais da empresa. Ela é de responsabilidade de todos os colaboradores em todos os níveis organizacionais, principalmente daqueles que fazem parte da direção ou da alta gestão da empresa. Atenção Toda a organização é dotada de conhecimentos tácitos e explícitos. Sendo assim, podemos afirmar que o conhecimento é inerente às organizações e à prática de criação do conhecimento já acontece dentro das empresas. Por isso, a Gestão do Conhecimento não deve ser considerada algo totalmente novo. Ela busca gerar consciência sobre a importância do conhecimento e potencializar a criação e aplicação dos conhecimentos no cotidiano das empresas. Um aspecto interessante sobre a questão dos conhecimentos tácitos e explícitos deve ir além da aplicação no cotidiano da empresa para resolver problemas do dia a dia. Os gestores devem compreender que o conhecimento é uma vantagem competitiva tanto para o agora quanto para o futuro. Sendo assim, ele é elemento básico para o planejamento estratégico da empresa. 22 CAPÍTULO 2 • COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO Atenção É importante termos consciência de que muitos dos conhecimentos construídos não são úteis e possuem aplicabilidade para as empresas. Sendo assim, a construção do conhecimento deve estar atrelada e em sintonia com os objetivos estratégicos das empresas em curto, médio e longo prazos. A Gestão do Conhecimento pode contribuir na identificação dos conhecimentos úteis, evitando desperdícios e evasão de conhecimentos. A importância do conhecimento externo às empresas Toda organização sofre influência direta do contexto histórico, social, econômico e ambiental em que está inserida. Isso quer dizer que uma empresa sofre diferentes impactos gerados pelos seus clientes, por outras empresas, pelas políticas e leis implementadas pelos governos e desenvolvimento tecnológico. Dessa forma, as empresas não devem se retringir a seu olharsomente nos conhecimentos presentes no seu ambiente organizacional. É essencial que as empresas estejam atentas ao que ocorre no ambiente externo e como esses conhecimentos advindos desse espaço podem ajudar a melhorar os seus negócios ou comprometer o seu desempenho. Conhecimentos presentes no mercado Para que uma empresa possa fornecer os seus serviços ou produtos, faz-se necessário o estabecimento de uma rede de relações com outras organizações. Essa relação é construída por meio de uma rede de parceria com instituições financeiras, fornecedores, empresas associadas, revendedores, distribuidores e prestadores de serviço. A essa relação damos o nome de rede interorganizacional. Por meio dessa relação, as empresas criam e compartilham conhecimentos objetivando as realizações atreladas ao negócio, estabelecendo, assim, uma troca direta de conhecimentos entre as partes que compõem a rede. Para refletir Para exemplificar uma rede interorganizacional, podemos imaginar um resturante. Para que ele funcione e atenda os seus clientes com qualidade faz-se necessário que o restaurante busque apoio de outras empresas, tais como bancos, fornecedores de alimentos e bebidas, fornecedores de utensílios de restaurantes, operadores de cartão de crédito, empresas terceirizadas de manutenção e limpeza, entre outras. Todas essas empresas criam e compartilham conhecimentos tácitos e explícitos relacionados ao segmento de restaurantes. 23 COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 2 Entretanto, é importante destacar que até mesmo as empresas concorrentes também estabelecem uma rede interorganizacional. Tal relação não seria construída sem o acordo de ambas as partes. Esta se dá porque ambas as empresas atuam no mesmo segmento de mercado e de forma indireta compartilham conhecimentos sobre os seus serviços e produtos. Para refletir Por exemplo, as empresas de tecnologia, como Samsung e Apple, mesmo sendo concorrentes, constituem uma rede interorganizacional, pois ambas atuam no mesmo segmento de mercado: telefones celulares, tablets, computadores e notebooks. Ao lançarem um novo produto no mercado, essas empresas indiretamente disponibilizam conhecimentos relacionados às características técnicas do produto e estratégias de marketing. Todos esses conhecimentos podem ser acessados pelos seus concorrentes. Conhecimentos oriundos do macroambiente O macroambiente está relacionado ao ambiente externo em que as organizações estão inseridas. Os conhecimentos gerados no macroambiente não podem ser controlados pelas empresas. Entretanto, as organizações precisam dar atenção a esses conhecimentos, pois eles causam impactos significativos nos negócios e podem afetá-los tanto de forma positiva quanto negativa. Apesar de a organização não ter o domínio sobre eles, ela deve se adaptar de forma que possa minimizar os efeitos negativos. Os conhecimentos relacionados ao macroambiente podem ser classificados em seis fatores ou categorias: » Fator demográfico: relacionado a informações de determinado grupo ou população, como idade, sexo, etnia, grau de instrução, entre outros. » Fator econômico: está ligado aos indicadores de renda, juros, crescimento econômico, Produto Interno Bruto (PID), entre outros. » Fator sociocultural: está relacionado aos aspectos culturais e sociais de um grupo ou população. Como exemplos, podemos citar: religião, crenças, esteriótipos, valores, normas, datas comemorativas e religiosas. » Fator natural: está ligado aos aspectos geográficos, tais como clima, relevo e vegetação, e aos fenômenos naturais, como enchentes, escassez de matéria-prima, desmatamento, falta de água e queimadas. 24 CAPÍTULO 2 • COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO » Fator tecnológico: fator que se relaciona ao desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas computacionais que trazem impactos e inovações no mundo do trabalho; por exemplo, os sistemas de informação, redes sociais e ferramentas de comunicação. » Fator político-legal: está relacionado à leis, regras e normas governamentais de um país, estado ou município. Podemos incluir os acordos coletivos ligados às categorias de classes profissionais. Conhecimentos dos clientes Antes de discutimos sobre a importância do conhecimento dos clientes, é essencial que consigamos compreender o conceito de cliente. Segundo Carvalho (2012), o cliente pode ser considerado como o sujeito solicita e recebe um produto ou serviço de determinada empresa fornecedora. Há diferentes tipos de clientes e estes são determinados de acordo com a relação estabelecida com a empresa fornecedora. Em linhas gerais, podemos classificar os tipos de clientes em duas categorias básicas: clientes internos e clientes externos. Podemos definir como clientes internos os colaboradores que compõem o quadro de funcionários de determinada empresa. Além disso, fazem parte dessa categoria os setores e/ou as áreas que compõem a estrutura organizacional da empresa. Sendo assim, podemos concluir que esses clientes fazem parte do ambiente interno das empresas. Para refletir Para ajudar na compreensão do conceito de cliente Interno, vejamos os exemplos a seguir: Imagine que um colaborador interno comparece ao departamento de Recursos Humanos para solicitar um determinado documento. Esse colaborador é considerado com cliente do setor de Recursos Humanos. Agora vamos pensar outra situação. O setor de produção de uma fábrica necessita contratar mais dois colaboradores. Para isso, o gestor de produção solicita o setor de Recursos Humanos que realize o processo seletivo para contratação desses funcionários. Nesse caso, o setor de produção assume o papel de cliente interno de departamento de Recursos Humanos. Por sua vez, os clientes externos estão localizados do lado de fora da empresa (ambiente externo). Fazem parte desse grupo o cliente individual final (pessoa ou empresa) que adquire uma série de produtos e serviço de determinada empresa. Ainda podemos considerar como cliente externo as empresas parceiras que atuam como fornecedoras. 25 COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 2 Para refletir Vejamos, agora, mais dois exemplos de clientes externos. Estamos no shopping com a família para fazer compras e almoçar. Sendo assim, assumimos o papel de cliente externo das lojas em que realizamos as compras e do restaurante em que almoçamos com a família. Imaginemos que esse mesmo shopping precisa fazer uma reforma no estacionamento. Para isso, contrata uma empresa da área de construção civil para fazer o trabalho. Nesse momento, o shopping assume o papel de cliente externo da empresa de construção civil. Agora que diferenciamos os tipos de clientes existentes no dia a dia das empresas, podemos começar a discutir a importância do conhecimento oriundo do clientes. Inicialmente, destacamos que o conhecimento dos clientes é essencial para o estabelecimento do planejamento estratégico da empresa, desenvolvimento de novos serviços e produtos e melhoria dos processos. Isso se deve ao fato de o objetivo das empresas ser atender às necessidades dos clientes na oferta de produtos e serviços, de acordo com Carvalho (2012). Diante dos argumentos do autor, torna-se de máxima importância que as empresas busquem conhecer os seus clientes internos e externos, suas necessidades, desejos e demandas. Para isso, as empresas precisam desenvolver canais de escuta e de interação com os seus clientes de forma que possam identificar as suas necessidades e percepções. Isto é, estabelecer estratégias de relacionamento com os seus clientes. O estabelecimento de canais de relacionamento com os clientes pode, segundo Carvalho (2012), se tornar uma importante ferramenta para mapeamento do mercado e suas necessidades, conhecer os seus clientes e identificar potenciais/futuros clientes. Tais informações são essenciais para o direcionamento assertivo das estratégias da organização, evitando minimizar possíveis erros,gastos desnecessários e desperdícios. Os gestores devem ter consciência de que os conhecimentos tácitos dos clientes internos e externos são importantes para a construção do conhecimento organizacional. Esses podem ser usados como insumos de grande relevância para a inovação de processos, serviços e produtos. Atenção Conhecimento organizacional é constituído pela soma de todos os conhecimentos explíticos e tácitos presentes nas empresas. 26 CAPÍTULO 2 • COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO Segundo Nonaka e Takeuchi (1997): A criação do conhecimento não é simplesmente uma questão de processar informações objetivas a respeito de clientes, fornecedores, concorrentes, assinantes de canais, comunidade local e governo. Os membros da equipe também têm que mobilizar o conhecimento tácito dos participantes externos através da interação social. Segundo Carvalho (2012), é necessário romper o paradigma de interação com os clientes baseado em questionários de satisfação e caixinhas de sugestões. As empresas precisam estabelecer meios de interação que permitam a aproximação com os clientes e a criação de espaço de escuta e de conversa, possibilitando que a empresa conheça os clientes, mas, também, que os clientes possam conhecer a empresa. Dessa forma, o cliente assume um papel ativo na relação com a empresa, potencializando a troca e compartilhamento de conhecimentos tácitos e a construção do conhecimento estratégico. As tecnologias de Informação e Comunicação e a Gestão do Conhecimento As Tecnolgias de Informação e Comunicação (TICs), computadores, programas e a internet, têm como principal objetivo auxiliar os gestores na coordenação, controle, análise e suporte à tomada de decisão. As tecnologias favorecem a automatização das tarefas e processos específicos, tais como gestão de projetos, mapeamento de indicadores e levantamento de dados. Apesar disso, é importante termos consciência de que as TICs são ferramentas. Elas não geram o conhecimento. Elas simplesmente facilitam o acesso aos dados armazenados e organização das informações. São as pessoas dotadas das suas competências e habilidades que gerarão conhecimento estratégico e inovação. Mas isso não quer dizer que as TICs não são importantes. Cada vez mais essas ferramentas digitais tornam-se indispensáveis para o apoio na realização das suas funções no dia a dia das empresas. Sendo assim, as empresas devem não somente investir no aprimoramento do seu parque tecnológico. Elas devem também se preocupar com a formação continuada dos seus colaboradores. No quadro a seguir, conheceremos alguns dos sistemas de informação mais comuns no cotidiano das empresas. Quadro 4. Principais sistemas de Informação. Sistema de Informação Descrição Sistema de apoio gerencial Ferramenta indispensável para o apoio aos gerentes na realização das suas funções no dia a dia das empresas 27 COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 2 Sistema de Informação Descrição Sistema de processamento de transações Apoia o processo de todas as transações da organização, tais como faturamento de pedidos, controle de estoque, contas a pagar e a receber, compras, expedição e folha de pagamento Sistema de informações gerenciais voltado para a área funcional, permite a geração de relatórios para auxiliar no planejamento, na organização e no controle de operações Planejamento de recursos empresariais Apoia os processos organizacionais internos nas áreas financeiras e contábil, fabricação e produção, vendas e marketing , recursos humanos e cadeia de suprimentos para fornecedores e clientes Sistemas de suporte ao conhecimento Utilizado por especialistas e profissionais da área de criação do conhecimento, tais como engenheiros, técnicos e economistas Sistema de gestão do relacionamento com o cliente voltado para a gestão dos clientes. Utilizado nas áreas de vendas, marketing e atendimento ao cliente Sistema de gerenciamento da cadeia de suprimentos voltado para o planejamento, organização e otimização das atividades da cadeia de suprimentos Fonte: Adaptado de Carvalho (2012). Nesse contexto, é importante destacar as ferramentas de informação e comunicação denominada Web 2.0. Dotadas de características que favorecem a autoria, colaboração e compartilhamento de informações e conhecimentos, essas ferramentas podem contribuir no desenvolvimento e na ampliação de estratégias voltadas para construção e troca de conhecimento tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo da organização. Quadro 5. Principais ferramentas da Web 2.0 Ferramentas da Web 2.0 Descrição Weblogs (Blog) Página da web que permite a inserção de informações em diferentes formatos: texto, imagem, áudio e vídeo Aplicativos On-line Ferramentas semelhantes aos aplicativos comerciais, tais como editor de texto, planilhas eletrônicas e programa de apresentação Ferramenta Wiki Página da web que possibilita que diversas pessoas separadas geograficamente produzam conteúdos de forma colaborativa SlideShare Funciona com repositório de slides de apresentações eletrônicas YouTube Repositório de vídeos sobre os mais variados assuntos Flickr Banco de imagens alimentado por diferentes pessoas Podcasts Arquivos de áudio sobre diversas temáticas, tais como músicas, opiniões sobre diferentes assuntos, entrevistas e leituras de obras literárias Redes Sociais São ferramentas que possuem como principal objetivo a criação de uma rede de relacionamento ou uma comunidade virtual. Fonte: Adaptado de Machado, Maia e Baltar (2015). Atenção Sugerimos retorno ao Livro Didático da disciplina TICs aplicadas às Informações Gerenciais para rever os conteúdos referentes a Sistema de Informação e Ferramentas da Web 2.0. 28 CAPÍTULO 2 • COnCEItOS BáSICOS DA GEStãO DO COnHECIMEntO Sintetizando Ao longo dos estudos do capítulo 2, discutimos sobre a diferença entre dados, informação e conhecimento. Apresentamos os diferentes tipos de conhecimentos (tácitos e explícitos) presentes no ambiente organizacional. Em seguida, discorremos sobre o gerenciamento dos conhecimentos presentes na empresa. Nesse momento, foi destacado que o sucesso da empresa depende da forma como ela constrói conhecimentos e os aplica no dia a dia com objetivos de melhorar e aprimorar os processos, produtos e serviços ofertados. Foi destacado que a Gestão do Conhecimento deve levar em consideração tanto os conhecimentos presentes no ambiente interno quanto os conhecimentos externos à organização, incluindo os do mercado, macroambiente e dos clientes. Finalizamos os nossos estudos discorrendo sobre como as Tecnologias de Informação e Comunicação podem ser utilizadas como ferramentas para favorecer a Gestão do Conhecimento. 29 Apresentação Nos capítulos anteriores, discutimos sobre a importância da gestão dos conhecimentos internos e externos para os negócios e sucesso das organizações do século XXI. Já no capítulo 3 conheceremos o processo de construção do conhecimento no ambiente organizacional. Perceberemos que esse é um processo dinâmico baseado no compartilhamento e na construção do conhecimento. Esse processo é denominado espiral do conhecimento. Além disso, perceberemos que para que esse processo gere frutos positivos para a empresa faz-se necessária a adoção de modelos gerenciais e a construção de ambientes organizacionais que favoreçam e estimulem a socialização e a construção individual e colaborativa de conhecimentos. Objetivos » Compreender o processo de construção do conhecimento no ambiente organizacional. » Conhecer as diferentes etapas que constituem a espiral do conhecimento. » Identificar os modelos gerenciais mais adequados para a Gestão do Conhecimento. » Identificar as características necessárias para caracterização do ambiente organizacional mais propício para a construção do conhecimento. 3 CAPÍTULO A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO 30 CAPÍTULO 3 • A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO A construçãodo conhecimento no contexto organizacional Nos capítulos anteriores, discutimos sobre a importância da gestão dos conhecimentos internos e externos para os negócios e o sucesso das organizações do século XXI. Seria incorreto afirmar que o conhecimento se torna presente no contexto organizacional devido à Gestão do Conhecimento. Independente da época, todas as empresas possuem documentos nos mais diferentes formatos, como texto, imagem, áudio, digital e vídeo. Além disso, as organizações são formadas por colaboradores diretos e indiretos. E não podemos esquecer o fato de que o conhecimento está diretamente ligado aos seres humanos. Sendo assim, podemos afirmar que o conhecimento faz parte e esteve sempre presente no ambiente organizacional. Partindo dessas premissas, podemos concluir que a gestão do conhecimento não é algo totalmente inovador, conforme afirma Carvalho (2012). A Gestão do Conhecimento tem como principal objetivo levar as empresas a se conscientizarem sobre a importância do conhecimento, ajudando-as a identificar os diferentes tipos de conhecimentos presentes no seu ambiente interno e externo e demonstrar que elas constroem conhecimento a todo o momento. E permitir que essas possam desenvolver estratégias que potencializem e maximizem a produção do conhecimento no seu dia a dia com o propósito de tornar as empresas mais inovadoras, competitivas, trazer melhorias nos seus processos e no próprio ambiente organizacional. De acordo com Nonaka e Takkeuchi (1997): Quando as organizações inovam, elas não só processam informações, de fora para dentro, com o intuito de resolver os problemas existentes e se adaptar ao ambiente em transformação. Elas criam novos conhecimentos e informações, de dentro para fora, a fim de redefinir tanto os problemas quanto as soluções e, nesse processo, recriar o seu meio. Ainda segundo os autores, a principal dinâmica que permite a construção do conhecimento no ambiente organizacional é baseada na interação, troca e compartilhamento dos conhecimentos tácitos e explícitos. 2. Dinâmica da construção do conhecimento O processo de construção do conhecimento é composto por quatro modos que se alternam constantemente em uma dinâmica não linear, mas, sim, em espiral. Esse processo é baseado no Modelo Seci, composto pela sigla das palavras Socialização, Externalização, Combinação e Internalização. Ele também é conhecimento com espiral do conhecimento (NONAKA; TAKKEUCHI, 1997): 31 A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 3 Figura 1. Modelo Seci ou espiral do conhecimento. Fonte: <http://www.ufal.edu.br/gestaodoconhecimento/arquivos/gc/os-quatro-modos-de-conversao-do- conhecimento/@@images/dade6ab9-150a-4a9d-86b4-b409b8707cc8.jpeg. Acesso em 21/4/2017>. Agora, conheceremos cada uma das etapas que constituem o modelo Seci. » Socialização (conhecimento tácito para conhecimento tácito) A socialização ocorrre por meio da troca e compartilhamento do conhecimento tácito no dia a dia das empresas, por meio da exposição oral, observação, imitação ou prática. Como exemplo, podemos citar a realização de uma reunião com diferentes equipes de trabalho para o desenvolvimento de um novo produto a ser lançado pela empresa. » Externalização (conhecimento tácito para conhecimento explícito) A externalização ocorre por meio do registro de um conhecimento tácito em conhecimento explícito. O conhecimento explícito pode ser registrado em diferentes formatos, tais como texto, imagem, áudio, vídeo e digital. Como exemplo, podemos citar a elaboração de uma ata de reunião, de um relatório de uma visita técnica e de um manual de procedimentos. » Combinação (conhecimento explícito para conhecimento explícito) A etapa da combinação envolve o agrupamento do novo conhecimento construído para ser disponibilizado e acessado por todos da empresa. A combinação favorece e facilita a distribuição e o acesso aos conhecimentos explíticos construídos pela empresa. Como exemplo, podemos citar a base de dados dos clientes e fornecedores e documentos armazenados na intranet da empresa. http://www.ufal.edu.br/gestaodoconhecimento/arquivos/gc/os-quatro-modos-de-conversao-do-conhecimento/@@images/dade6ab9-150a-4a9d-86b4-b409b8707cc8.jpeg http://www.ufal.edu.br/gestaodoconhecimento/arquivos/gc/os-quatro-modos-de-conversao-do-conhecimento/@@images/dade6ab9-150a-4a9d-86b4-b409b8707cc8.jpeg 32 CAPÍTULO 3 • A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO » Internalização (conhecimento explícito para conhecimento tácito) O processo de internalização tem como principal objetivo o aumento do conhecimento tácito dos colaboradores por meio dos conhecimentos explícitos presentes no dia a dia das empresas. A internalização poderá ocorrer quando um colaborador realizar a leitura de um documento, ouvir a gravação de uma reunião ou assistir a um vídeo de treinamento. O processo de construção do conhecimento baseado no modelo Seci poderá favorecer a tomada de decisão, minimização dos erros e mensuração com segurança da qualidade, eficiência e eficácia da organização. Sendo assim, o processo de construção do conhecimento pode trazer melhorias dos processos, favorecer a dinâmica de inovação e ganhos no posicionamento estratégico da empresa. Entretanto, para que a construção do conhecimento ocorra é necessário um ambiente organizacional com características propícias para a troca e compartilhamento de modelos de gestão que estimulem a interação e o trabalho colaborativo entre os diferentes membros das empresas. Modelos gerenciais propícios para a construção do conhecimento Como percebemos ao longo da leitura da primeira parte deste capítulo, a construção do conhecimento está presente no dia a dia do contexto empresarial, porém, a grande questão é que muitas empresas e gestores não reconhecem a importância desse processo e os ganhos que ele pode trazer para os negócios. Dessa forma, perde-se a oportunidade de construir novos conhecimentos e aplicação de forma eficaz e eficiente, levando ao desperdício de conhecimentos importantes para os negócios. Diante dessa reflexão, precisamos discutir sobre o modelo gerencial mais adequado para a construção do conhecimento no contexto organizacional. De forma geral, podemos considerar que existem três modelos gerenciais adotados pelas empresas: modelo tradicional (ou Top Down), modelo empreendedor (ou Bottom Up) e modelo participativo (ou Middle Up Down). Agora, conheceremos cada um desses modelos e identificar aquele mais adequado para a construção do conhecimento. » Modelo Tradicional A gestão tradicional (ou Top Down) é baseada na hierarquia, na centralização do poder da alta gerência (direção) da empresa e na especialização do trabalho. A tomada de decisão e a geração do conhecimento são atributos exclusivos da direção. Atenção Dentro desse contexto, as Ferramentas de Informação e Comunicação da Internet assumem papel importante, pois elas potencializam as possibilidades de interação e colaboração entre colaboradores e o compartilhamento e produção de conhecimento. 33 A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 3 Com base nos conhecimentos construídos e nas decisões tomadas são determinadas as ações a serem executadas pelo nível operacional. Esses recebem as ordens da alta gestão e devem executar as ordens sem questionamentos. Não há espaço para o diálogo e os conhecimentos dos colaboradores operacionais não são valorizados. O nível gerencial é responsável pela transmissão das ordens e das ações (conhecimentos) estabelecidas pela direção para o nível operacional. Ele ainda deve se responsabilizar para que as ordens sejam cumpridas e as metas estabelecidas sejam alcançadas. » Modelo Empreendedor A gestão baseada no modelo empreendedor (Bottom up) valoriza a autonomia, a inovação e a criatividade dos colaboradores do nível operacional, rompendo com a centralização do poder, tomada de decisão e geração do conhecimento. Nesse modelo, a alta gestão eo nível gerencial assumem o papel de mediadores e possuem a responsabilidade de estimular o empreendedorismo do nível operacional. Esses, por sua vez, devem desenvolver novos conhecimentos que gerem novas oportunidades de negócios para a empresa. Os autores Carvalho (2012) e Santos et al. (2001) destacam que o modelo empreendedor pode trazer impactos negativos para o processo de construção do conhecimento, já que a valorização da autonomia dos colaboradores pode reduzir as oportunidades de interação entre os membros da equipe e de trabalho em equipe, limitando a trocar de conhecimento e compartilhamento de conhecimento no ambiente organizacional. » Modelo Participativo Esse modelo de gestão participativa tem como princípio-base a participação de todos os membros da empresa pela Gestão do Conhecimento. Sendo assim, a alta gestão, os gerentes e os colaboradores operacionais são responsáveis pela construção do conhecimento organizacional. O nível operacional utiliza os conhecimentos organizacionais para a gestão das tarefas e na resolução do problemas do cotidiano. Por sua vez, a alta gestão utiliza os conhecimentos construídos para planejamento estratégico com foco nos resultados da empresa em médio e longo prazos. Dentro desse contexto, os gerentes assumem papel essencial na dinâmica de construção do conhecimento em empresas baseadas na gestão participativa. Além de ser responsável pela mobilização dos colaboradores no processo participativo de construção do conhecimento. Ele é o agente canalizador que permite e favorece a troca de conhecimento do nível operacional com a direção e vice-versa. 34 CAPÍTULO 3 • A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO Quadro 6. Modelos de Gestão. Tradicional (Top Down) Empreendedor (Bottom Up) Participativo (Middle Up Down) Hierarquização e centralização valorização da autonomia, da inovação e da criatividade Descentralização e estímulo à participação de todos Alta gestão determina os planos de ações Alta gestão tem a responsabilidade de estimular o empreendedorismo dos colaboradores Alta gestão responsável pelo planejamento estratégico de médio e longo prazos Gerentes responsáveis pelo cumprimento das ordens e das metas Gerentes responsáveis por estimular o empreendedorismo dos colaboradores Gerentes são canalizadores da troca de conhecimento do nível operacional com a direção e vice-versa Colaboradores operacionais devem executar as ordens sem questionamento Colaboradores operacionais devem desenvolver as novas oportunidades e negócios Colaboradores operacionais utilizam os conhecimentos para realizar as tarefas e a resolução dos problemas Limitação da interação e compartilhamento de conhecimentos Limitação da interação e do trabalho de colaboração valorização da interação, colaboração e compartilhamento de conhecimentos não valorização dos conhecimentos dos colaboradores valorização dos conhecimentos dos colaboradores valorização do conhecimento de todos os membros: direção, gerência e operacional Fonte: Elaborado pelo autor. Contexto propício para a construção do conhecimento Como destacado anteriormente, todas as empresas constroem conhecimento ao longo da sua existência. Entretanto, é importante destacar que um ambiente organizacional adequado poderá favorecer a troca e o compartilhamento de conhecimento entre os colaboradores internos e externos de uma empresa, potencializando os ganhos que a construção do conhecimento pode proporcionar para os negócios. Sendo assim, é importante que as empresas construam ambientes propícios para a construção do conhecimento organizacional. A esse ambiente damos o nome de Contexto Capacitante para o Conhecimento. Para refletir Considerando os três modelos de gestão apresentados: Tradicional, Empreendedor e Participativo, qual seria o modelo mais adequado para a Gestão do Conhecimento? O modelo tradicional não valoriza o conhecimento do colaborador e não estimula a troca e compartilhamento do conhecimento. O modelo empreendedor reconhece a importância do conhecimento dos colaboradores. Entretanto, a valorização da autonomia reduz a interação e compartilhamento do conhecimento. Por sua vez, o modelo participativo valoriza o conhecimento de todos os colaboradores e reconhece a importância da interação, do trabalho colaborativo e do compartilhamento de conhecimento para o sucesso dos negócios. Partindo do princípio de que a Gestão do Conhecimento tem como premissas básicas a valorização do conhecimento de todos os membros da empresa, a interação e compartilhamento do conhecimento, o modelo participativo (Middle Up Down) torna-se o modelo gerencial mais adequado para favorecer a dinâmica da construção do conhecimento organizacional. 35 A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 3 Um contexto capacitante para a construção do conhecimento deve ser dotado de cinco características: » Confiança É essencial que o ambiente organizacional gere a sensação de confiança mútua entre os colaboradores, de forma que todos não se sintam ameaçados durante o processo de compartilhamento e troca de conhecimento. » Empatia Capacidade de se colocar no lugar do outro de forma a compreender o seu ponto de vista, permitindo que sejamos capazes de compreender os outros por outro ponto de vista. A empatia também nos ajuda a compreender as potencialidades e as limitações dos indivíduos. » Disponibilidade para ajuda Os indivíduos que fazem parte de ambiente organizacional devem ter disponibilidade para acolher e ajudar todos, criando uma atmosfera colaborativa e de ajuda mútua. » Tolerância ao erro O erro faz parte da natureza humana. Somos humanos e, por isso, erramos. Sendo assim, devemos romper com a visão negativa do erro no dia a dia das empresas. O erro deve ser considerado um aspecto positivo que permite o aprimoramento e a melhoria dos processos, produtos e serviços. É por meio do erro que construiremos novos conhecimentos para solução dos problemas. Não devemos ter medo de errar. » Coragem No dia a dia das empresas, não podemos ter medo de apresentar os novos conhecimentos construídos sobre determinado assunto. A coragem é essencial para submeter os nossos conhecimentos ao julgamento e às criticas de terceiros. O contexto capacitante para o conhecimento pode se constituir por meio de três formatos: físico, virtual e mental. O contexto capacitante físico diz respeito à infraestrutura física da empresa que permite criar espaços físicos que permitam a interação, a colaboração e o compartilhamento de conhecimentos. Podemos citar como exemplo de contexto capacitante físico as salas compartilhadas de trabalho, sem divisórias e espaços reservados. Esse tipo de espaços ampliam possibilidades de interação e troca de conhecimento entre os colaboradores. Outro exemplo é a sala de reunião. 36 CAPÍTULO 3 • A DInÂMICA DA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO O contexto capacitante virtual é constituído de espaço de interação e compartilhamento de conhecimento gerado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação. Como exemplos, podemos citar os aplicativos de relacionamento virtual, grupo de e-mails, ferramenta de teleconferência (Skype) e Grupos no Whatsapp. Já os contextos capacitantes mentais são as estratégias que favoreçam a aprendizagem no ambiente de trabalho e a formação continuada dos colaborados. Podemos citar como exemplos as estratégias de Treinamento e Desenvolvimentos (T&D), de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e cursos de capacitação. Sintetizando Ao longo do capítulo 3, discutimos o processo de construção do conhecimento no ambiente organizacional. Foi possível perceber que ele é processo dinâmico baseado no compartilhamento e na construção do conhecimento e denominado espiral do conhecimento. Além disso, aprendemos que para que esse processo gere frutos positivos para a empresa faz-se necessária a adoção de modelos gerenciais e a construção de ambientes organizacionais que favoreçam e estimulem a socializaçãoe a construção individual e colaborativa de conhecimentos. Para refletir De acordo com Carvalho (2012), o conhecimento não deve ser considerado como algo estatístico, imutável e finalizado. O conhecimento está em constante processo de construção. Sendo assim, a validade de um conhecimento está atrelada ao tempo e ao espaço, à cultura, aos valores e à linguagem. Um conhecimento pode ser válido para determinado grupo social e não para outros. Hoje, um conhecimento pode ser válido para explicar determinado fenômeno. Porém, daqui a cinco anos, esse mesmo conhecimento pode não ser mais aceito para explicar esse mesmo fenômeno, pois novos conhecimentos serão construídos. Sendo assim, podemos afirmar que todo conhecimento está atrelado a determinado contexto. E que os valores, a cultura, a linguagem, a temporalidade e a espacialidade irão determinar a validade de um conhecimento para determinado grupo, incluindo as empresas. 37 Apresentação No capítulo 4 do Livro Didático, discutiremos sobre a gestão da diversidade e os ganhos que ela pode trazer para as empresas. Perceberemos que ela é essencial para o processo de construção do conhecimento do ambiente organizacional e para o aumento de competitividade e da capacidade criativa. Em seguida, veremos que, mesmo sabendo da importância da construção do conhecimento, não podemos ignorar que esse processo é constituído de grandes desafios. Um destes está relacionado aos obstáculos existentes no contexto organizacional que impedem a construção e o compartilhamento de conhecimentos. Além disso, perceberemos que uma das formas de minimizar essas barreiras é por meio do desenvolvimento de práticas e políticas que motivem e estimulem os colaboradores a compartilhar os seus saberes e suas experiências. Objetivos » Compreender a importância da gestão da diversidade para o aumento de competitividade e da capacidade criativa das organizações. » Identificar as principais barreiras que impedem a construção e o compartilhamento de conhecimentos no contexto organizacional. » Conhecer as principais práticas e políticas voltadas para a motivação dos colaboradores para o compartilhamento dos conhecimentos. 4 CAPÍTULO GEStãO DA DIvERSIDADE E AS BARREIRAS PARA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO 38 CAPÍTULO 4 • GEStãO DA DIvERSIDADE E AS BARREIRAS PARA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO Diversidade na Gestão do Conhecimento A partir da década de 1990 ocorreram mudanças significativas em diferentes segmentos da sociedade. No campo empresarial, observamos o aumento da diversificação da força de trabalho e o surgimento de um mercado cada vez mais competitivo. É nesse contexto que a temática da diversidade cultural ganha destaque no meio empresarial tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Segundo Thomas (1991), citado por Oliveira e Rodrigues (2004): A diversidade inclui todos, não é algo que seja definido por raça ou gênero. Estende-se a idade, história pessoal e corporativa, formação educacional, função e personalidade. Inclui estilo de vida, preferência sexual, origem geográfica, tempo de serviço na organização, status de privilégio ou de não privilégio e administração ou não administração. Com base nas colocações do autor, podemos perceber que a questão da diversidade é bastante complexa e abrangente. Ela deve considerar que o conceito da diversidade deve ir além das questões relacionadas ao gênero e às raças. Ela envolve diferentes aspectos, tais como sexo, identidade de gênero, idade, grau de instrução, grupo étnico, religião, origem, raça e língua. Saiba mais Que tal recordar os conceitos de diversidade cultural? Sugiro retornarmos à disciplina Diversidade Cultural e Cultura Organizacional. Vamos rever o Livro Didático, o conteúdo on- line e as videoaulas desta disciplina. O aumento da diversidade da força de trabalho exige que as empresas desenvolvam estratégias que permitam a gestão de um ambiente organizacional cada vez mais heterogêneo. A gestão da diversidade vai além do combate à discriminação e ao preconceito no dia a dia das empresas. A gestão da diversidade busca desenvolver um ambiente organizacional que permita o desenvolvimento pleno do potencial de todos os colaboradores, tendo como base os objetivos estratégicos da empresa. Atenção Pesquisa realizada por Oliveira e Rodrigues (2004) mostra a realidade da diversidade nas empresas brasileiras. Nesse estudo, os autores identificam o aumento da participação das mulheres nas equipes de colaboradores das empresas. No que se refere às questões étnico-raciais, foi identificada a ausência de negros ocupando cargos que exigem maiores níveis educacionais. Tal realidade reflete as desigualdades na sociedade brasileira e mostram a existência de barreiras culturais que impedem maior inserção dos negros no mercado de trabalho. 39 GEStãO DA DIvERSIDADE E AS BARREIRAS PARA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO • CAPÍTULO 4 Os autores mostram que a questão da diversidade ainda se encontra restrita aos aspectos de gênero e étnico-raciais, este último ainda são tratadas de forma incipiente. Entretanto, é necessário ampliar a visão sobre a diversidade, incluindo a comunidade LGBT, religião, faixa etária e origem social. Os principais ganhos oriundos das práticas voltadas para a gestão da diversidade estão relacionados à maior capacidade da empresa de atrair e de reter grandes talentos, de ampliar a sua atuação em segmentos diversificados de negócios e mercado, de gerar processos inovadores e de solucionar problemas. Conforme discutimos nos capítulos anteriores, o conhecimento é uma das principais fontes de vantagens competitivas. A gestão da diversidade poderá favorecer o compartilhamento de conhecimento entre os colaboradores ampliando as possibilidades de resolução de problemas e a geração de ideias inovadoras e criativas. As pessoas que pensam igual terão as mesmas ideias. Sendo assim, a criação de um ambiente heterogêneo, constituído por colaboradores com diferentes origens sociais, identidades de gênero, faixas etárias, grau de instrução, religião e raças, ampliam a possibilidade de desenvolvimento de diferentes soluções para um mesmo problema e a geração de propostas inovadoras frente aos desafios encontrados. O desenvolvimento de práticas que valorizam a diversidade favorece a constituição de equipes heterogêneas de trabalho, a interação entre os colaboradores e a troca de conhecimentos no ambiente organizacional. Sendo assim, podemos afirmar que a gestão da diversidade é essencial para o processo de construção do conhecimento do ambiente organizacional, trazendo ganhos significativos para os negócios e gerando aumento de competitividade. Barreiras que impedem o compartilhamento do conhecimento Um dos processos mais críticos da Gestão do Conhecimento é o compartilhamento do conhecimento, já que as pessoas tendem a reter os seus conhecimentos dentro do contexto organizacional. São inúmeras as barreiras que impedem as pessoas de compartilharem conhecimento no dia a dia das empresas. Essas barreiras se intensificam quando estão relacionadas a questões culturais. Uma delas é associar a retenção da informação e do conhecimento como forma de manutenção de poder e/ou estabilidade de vínculo empregatício. Geralmente, observando as organizações, percebemos que as pessoas não compartilham o seu conhecimento por se sentirem inseguras quanto à validade daquelas, não confiarem nos seus 40 CAPÍTULO 4 • GEStãO DA DIvERSIDADE E AS BARREIRAS PARA COnStRUçãO DO COnHECIMEntO colegas e superiores, ou, simplesmente, estão reproduzindo uma atitude comum presente na cultura organizacional. De acordo com Probst et al. (2002), citado por Oliveira (2012), os aspectos que impedem o compartilhamento do conhecimento podem ser classificados em três categorias. A primeira categoria está relacionada ao uso de novos conhecimentos. No dia a dia das empresas é possível observar que muitos colaboradores não compartilham os seus conhecimentos
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