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P ág in a1 © U n iv er si d ad e A b er ta │ U C P si co lo g ia d o D es en vo lv im en to I │ M at er ia is d e tr ab al h o • P lá g io │ 2 0 13 2013 Psicologia do Desenvolvimento 1 Como evitar fazer plágio? O que é o plágio? A integridade do conhecimento é um valor primordial não só para a comunidade académica, mas também para a humanidade em geral. Honrar este princípio implica que o trabalho aca- démico seja original, elaborado por quem o assina, sem ajuda não autorizada de qualquer tipo. O plágio e/ou cópia é um comportamento fraudulento com consequências graves, para o pró- prio e para a instituição a que pertence. Em 2005, a Universidade de Helsínquia cortou rela- ções com a Universidade do Porto, recusando-se a receber estudantes ao abrigo do Programa Erasmus desta universidade devido a um aluno tentar copiar num exame. Em 2010, pela pri- meira vez em Portugal, foi anulado um doutoramento por motivo de plágio. Além da anula- ção, este comportamento de fraude é considerado crime punível por lei, uma vez que um tra- balho académico implica um compromisso de honra que declara a sua originalidade. Há um tempo atrás, o jornal Público, noticiava que um elemento do governo alemão enfrenta- va uma acusação de plágio por, alegadamente, ter apresentado passagens inteiras da sua dissertação de doutoramento sem identificar os respectivos autores. Em Portugal existem vários estudos sobre plágio no ensino superior. O mais alargado deles foi publicado em 2011 e inclui uma amostra de 5403 estudantes de mais de 400 cursos. O estudo é coordenado por Aurora Teixeira, investigadora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, e revela um panorama preocupante. Por exemplo, cerca de 42% dos estudantes afirma ter entregado trabalhos sem apresentar as referências bibliográficas ou 45,6% admitiu ter usado o mesmo trabalho em mais do que uma disciplina1. Estes dados mostram que, por um lado, se deve incrementar a reflexão, discussão e trabalho sobre a integridade académica, tal como sobre as concepções de aprendizagem que estão incorrectamente interiorizadas pelos estudantes. Torna-se também imperativo o reforço dos códigos académicos de honra e de conduta. Por outro, que deve ser mostrado, com clareza, o que constitui prática de plágio já que alguns deles o cometem por ignorância. Estes comportamentos são ainda preocupantes uma vez que muitos estudos têm mostrado que as pessoas que «fazem batota» na universidade mais facilmente terão comportamentos desonestos na sua prática profissional. Trata-se então de uma questão de valores éticos e sociais, sendo urgente a mudança de uma cultura de sucesso a qualquer preço para uma cultu- ra de integridade. 1 O estudo intitula-se Integridade académica em Portugal, e um relatório síntese está acessível em: 11.09.11 Integri- dade Académica em Portugal relatório síntese.pdf P ág in a2 © U n iv er si d ad e A b er ta │ U C P si co lo g ia d o D es en vo lv im en to I │ M at er ia is d e tr ab al h o • P lá g io │ 2 0 13 Sob o nome de plágio encontra-se uma série de comportamentos inadequados e desonestos. A desonestidade académica implica qualquer tipo de «batota» que ocorra face a uma prova académica formal e pode ser classificada do seguinte modo (e.g. Decco, 2002): Plágio A adopção ou reprodução de ideias, palavras ou afirmações de outra pessoa sem uma referên- cia adequada. Copiar um texto de determinada fonte sem a respectiva referência. Desta for- ma, o estudante tem acesso a um livro, a um artigo de revista ou de uma enciclopédia, e copia directamente a informação. Alguns estudantes não identificam este comportamento como cópia fraudulenta uma vez que afirmam que era assim que faziam investigação na escola secundária e que nunca foram ensinados a fazer de outro modo. Comprar ou adquirir, por exemplo através de sites na Internet, um trabalho realizado por outro. Sites como, por exemplo, o trabalhosfeitos.com disponibilizam trabalhos dos mais variados tipos, realizados para certas matérias ou disciplinas, às vezes até de universidades e de cursos específicos, gratuitamente. Embora seja referido que não devem ser utilizados na íntegra, mas apenas constituir-se como fonte de inspiração. Usar o trabalho de um colega, com ou sem a sua autorização. Parafrasear material de uma fonte sem referência adequada. Conduta desonesta Roubar ou tentar roubar um exame ou a respectiva resolução. Alterar ou tentar alterar os registos académicos de classificação. Entregar partes substanciais do mesmo trabalho em mais do que uma unidade curricular sem consultar os professores em causa. Trapaça/mentira Trata-se de dar informações falsas a um professor, por exemplo dar uma desculpa falsa para justificar a entrega tardia de um trabalho ou afirmar ter entregado um trabalho sem ser ver- dade. Copiar Qualquer tentativa de dar ou de obter informações de outro, ou de documentos não autoriza- dos, numa prova presencial. Comunicar respostas de exames a outro estudante durante uma prova presencial. Entregar um trabalho de outra pessoa como se fosse seu. Fazer um exame por outra pessoa ou persuadir alguém a fazê-lo por si. Usar material não autorizado, respostas preparadas ou notas escritas durante o exame. Utilizar os serviços de uma empresa para com- prar um trabalho já feito. Sabotagem Impedir outros de realizar ou de completar um trabalho. Isto implica cortar páginas de um livro numa biblioteca ou deliberadamente estragar o trabalho de alguém. Conluio Qualquer estudante que, com conhecimento ou intencionalmente, ajude outro a realizar qualquer dos actos descritos anteriormente é acusado de conluio. P ág in a3 © U n iv er si d ad e A b er ta │ U C P si co lo g ia d o D es en vo lv im en to I │ M at er ia is d e tr ab al h o • P lá g io │ 2 0 13 Embora existam pessoas desonestas, muitos casos de plágio resultam de confusões sobre as exigências das regras e do discurso académico. Por que razão os estudantes usam o plágio? Valores pessoais Os estudantes podem pensar que a fraude e as suas consequências não são assuntos sérios ou que nunca serão «apanhados». Podem, também, não se importarem ser «apanhados» ou, numa análise pouco adequada de custo-benefício, acreditarem que vale a pena correr o risco. Alguns gabam-se mesmo de serem capazes de enganar o sistema. Concepção de aprendizagem Os estudantes podem ter uma concepção de aprendizagem superficial, no sentido da mera reprodução do conhecimento. Em vez de construírem ideias próprias acerca do que estudam, utilizando textos originais e informação de qualidade, reproduzem as ideias de apontamentos de outras pessoas, de «sebentas» ou de outros textos de síntese. Falta de preparação Os estudantes podem não estar preparados (não terem desenvolvido as competências neces- sárias) para frequentar determinada unidade curricular e não terem consciência disso e/ou não serem capazes de pedir ajuda. Falta de informação sobre o que é o plágio e como evitá-lo Os estudantes podem simplesmente desconhecer, ou ter dúvidas, sobre as práticas académi- cas relativas à produção de um discurso próprio e às referências de autoria. Dificuldades na gestão do tempo Os estudantes podem não ter hábitos de estudo adequados ou não serem capazes de planifi- car adequadamente quanto tempo determinado trabalho vai levar a realizar. Podem, ainda, serem estudantes trabalhadores e pensarem poder obter um grau académico com qualidade no mesmo período que um estudante a tempo inteiro. O excesso de trabalho ou a dificuldade em enfrentar um professor que não admite atrasos, podem conduzir à cópia. A procrastinação é também um comportamento que dificulta a organização adequadado trabalho. A consciên- cia de que se está permanentemente a adiar a resolução de um problema e de que o esforço não é suficiente, aumenta a pressão e pode conduzir a uma solução «fácil». Falta de investimento Os estudantes podem considerar que certas unidades curriculares são mais relevantes para o seu curso ou para si próprios do que outras. Podem não relacionar essas unidades curriculares com a aprendizagem ou objectivos profissionais. Portanto, sentem-nas como um obstáculo que deve ser superado «de qualquer maneira». Medo de falhar Os estudantes podem ter falta de confiança em si próprios e nas suas capacidades, por exem- plo pensarem que não são capazes de se expressar convenientemente por escrito. Uma auto- P ág in a4 © U n iv er si d ad e A b er ta │ U C P si co lo g ia d o D es en vo lv im en to I │ M at er ia is d e tr ab al h o • P lá g io │ 2 0 13 estima baixa pode perturbar o processo de aprendizagem e contribuir para comportamentos de fraude. Pressões externas e internas Os estudantes podem estar sujeitos a grande pressão para terem classificações altas ou para realizarem determinado número de unidades curriculares num período de tempo inadequado. Ter sucesso a qualquer custo começa a tornar-se um valor recorrente em termos sociais que é necessário combater. A racionalização é um mecanismo psicológico utilizado nestas situações para justificar a ideia de que «fazer batota» compensa mais do que ser honesto. Exemplo de justificações são «copiar não prejudica ninguém», «só copio em unidades curriculares que não são importan- tes», «nunca ninguém é apanhado», «toda a gente copia». Quem prevarica pode acreditar que não está a fazer nada de mal, especialmente se usa a tecnologia para plagiar. Pode não passar pela cabeça de uma pessoa roubar um programa de software de uma loja, mas considera legal copiar o mesmo programa de um amigo. Outro aspecto importante é que os estudantes percebem que existe uma oportunidade para copiar quando vislumbram um meio para o fazer. Por exemplo, existem sites «de ajuda» à fraude. www.cheathouse.com ou o www.essayfind.com são alguns dos mais procurados em língua inglesa. Em alguns casos pode mesmo submeter-se um trabalho copiado onde são introduzidos erros deliberados para não parecer demasiado perfeito. Como prevenir o plágio? Tirar dúvidas com o professor As dúvidas sobre o que é ou não plágio devem ser colocadas ao professor. Planificar o trabalho Planificar adequadamente um trabalho é o primeiro passo, e provavelmente o mais importan- te, para prevenir o plágio. Saber tirar notas Uma prática imprescindível quando se está a elaborar um trabalho é ir tirando notas de todas as fontes que estamos a pesquisar de modo a ter a informação organizada antes de começar a escrever. Citar as fontes Um trabalho original deve, obviamente, ter ideias próprias que são baseadas ou sustentadas nas ideias dos autores consultados. Deixar claro quem disse o quê Mesmo citando as fontes, pode acontecer haver alguma ambiguidade que dificulta a distinção entre aquilo que é da fonte e aquilo que é do próprio. Saber parafrasear Uma paráfrase é colocar por palavras nossas aquilo que um autor escreveu. http://www.cheathouse.com/ http://www.essayfind.com/ P ág in a5 © U n iv er si d ad e A b er ta │ U C P si co lo g ia d o D es en vo lv im en to I │ M at er ia is d e tr ab al h o • P lá g io │ 2 0 13 Saber avaliar as fontes Nem todos os documentos disponíveis na Internet têm qualidade nem estão adequadamente referenciados. Glossário de termos relativos ao plágio Referência: a atribuição de uma obra ou de uma ideia a um determinado autor. Citação: o acto de citar directamente ou dar crédito intelectual de um trabalho ou ideia a um autor. Colaboração: trabalhar em conjunto, nomeadamente na realização de um esforço intelectual partilhado. Direitos de autor [Copyright]: são os direitos legais concedidos a um autor, compositor, dramaturgo, editor ou distribuidor exclusivo de publicação, produção, venda ou distribuição de uma obra musical, dramática, artística ou literária. O copyright é a protecção jurídica deste tipo de obras e proporciona aos criadores o direito legal de serem pagos e de controlar o uso das suas criações. O copyright prevê, igualmente, excepções aos direitos dos autores para determinados utilizadores como instituições de ensino, que querem ter acesso a material pro- tegido por direitos de autor. O copyright protege apenas as informações de forma expressa, e não a própria informação. Utilizar ideias, factos ou informações por palavras próprias não é violação de direitos autorais, mas pode, contudo, constituir plágio se não forem devidamente referenciadas. Conhecimento geral: pode ser definido como os factos que são conhecidos por um grande número de pessoas. Por exemplo, «a psicologia é a ciência que estuda a mente». Estes factos não têm que ser citados. Cyber-plágio: cópia ou download, em parte ou na íntegra, de artigos ou trabalhos de investi- gação encontrados na Internet ou cópia de ideias encontradas na Web sem a referência ade- quada. Plágio deliberado: Waltman descreve o plágio intencional como «a cópia de material de um outro com a intenção de apresentá-lo como próprio». Além disso, a definição de plágio inten- cional ou deliberada inclui o roubo de ideias de outra pessoa. Propriedade Intelectual: um produto criativo pode ser protegido através de uma marca, direitos de autor ou de uma patente. Parafrasear: a) uma afirmação ou passagem de um texto escrita por outras palavras, muitas vezes para clarificar o significado; b) a utilização de textos por outras palavras, como um meio de estudo ou de ensino. P ág in a6 © U n iv er si d ad e A b er ta │ U C P si co lo g ia d o D es en vo lv im en to I │ M at er ia is d e tr ab al h o • P lá g io │ 2 0 13 Fábrica de artigos [paper mill]: um termo aplicado aos prestadores de serviços de escrita e de outros materiais como «ferramentas educacionais» através da Internet. Alguns sites oferecem milhares de documentos online. Plagiar: roubar ou passar como próprio (a ideia ou as palavras de outro), uso (uma produção criadas) sem creditar a fonte; apresentar como novo e original de uma ideia ou produto deri- vado de uma fonte existente. Domínio Público: uma obra em domínio público é gratuita, para uso de qualquer pessoa sem ser necessário pedir permissão ou pagar direitos. As obras podem ser de domínio público por várias razões: porque o prazo de protecção dos direitos de autor já expirou, porque a obra não estava sujeita a direitos de autor ou porque o proprietário dos direitos de autor os ofereceu ao domínio público. O proprietário deve especificamente licenciar o seu trabalho para todos os usos, ou apenas para determinados. Para isso, presta informação sobre que trabalhos se podem utilizar, por exemplo, que determinado trabalho pode ser reproduzido, transmitido ou utilizado para fins educacionais, sem autorização ou pagamento. Plágio involuntário: pode ser descrito como a paráfrase ou a citação descuidada de material com autoria sem a referência adequada da fonte. Este glossário foi adaptado de Terminology. University of Alberta Libraries http://guides.library.ualberta.ca/content.php?pid=62200&sid=457953 [Acedido a 4 Janeiro 2011] http://guides.library.ualberta.ca/content.php?pid=62200&sid=457953
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