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1 INGRID ALENCAR – MED XXXV – DHPN Doença Hemolítica Perinatal – Resumo MedCurso Introdução • Definição: também conhecida como eritroblastose fetal, é decorrente da produção de anticorpos maternos contra antígenos presentes no sangue fetal, devido a algum tipo de incompatibilidade sanguínea materno-fetal. Os antígenos ABO e Rh são os principais responsáveis por este processo (98% dos casos). • Aloimunização Rh → maior relevância devido a gravidade. Responsável por cerca de 80% dos casos de doença clinicamente detectáveis. Sistema ABO • Incompatibilidade ABO: ⎯ Mãe deve ser O ⎯ Feto: A, B ou AB ⎯ Pai: A, B ou Ab (nunca O) ⎯ Atc no sangue materno produzem hemólise quando entram em contato com o sangue fetal. ⎯ Protege contra incompatibilidade Rh • Não existe necessidade de exposição prévia da mãe a sangue A, B ou AB para o desenvolvimento de atc (anti-A ou anti-B) – já são naturalmente encontrados devido exposição a bactérias no decorrer da vida. • Incompatibilidade ABO é a mais comum → incidência de 25 a 30% das gestações • Porém, somente 2-5% dos fetos apresentam sintomas clínicos da hemólise: Branda em geral Icterícia de início precoce (<24h após o parto) ⎯ Placenta é capaz de retirar Bi sérica transportando-a para a mãe ⎯ Existem menos sítios antigênicos anti-A e anti-B nas hemácias → Menor resposta imunológica ⎯ Maioria dos stc anti-A e anti-B são do tipo IgM – não atravessam a placenta • CONDUTA PRECONIZADA: fototerapia, raramente necessária a exsanguineotransfusão. • Incompatibilidade ABO protege feto parcialmente contra incompatibilidade Rh • PROFILAXIA: Não tem disponível, pois os atc são naturais • Pesquisa de Coombs indireto → NÃO tem utilidade Sistema Rh • Antígenos do sistema Rh = produto de 2 pares de genes (RhD e RhCE) – braço curto do cromossomo 1. • Antígeno D → mais comum nos casos de aloimunização (poder antigênico) • Presença do antígeno D = Rh+ • Ausência antígeno D = Rh- • Indivíduos Rh+ ⎯ Homozigotos (DD) ⎯ Heterozigotos (Dd) ⎯ Encontrados apenas nas membranas das hemácias • Melhor a expressão “D positivo” • 2° maior causa → anti-C • Mãe Rh- → tem o fator Du • Se for Du+ (expressão fenotípica fraca do antígeno D) → se comportará como Rh+ • Antígeno está na superfície das hemácias e já está desenvolvido e expresso a partir 6° semana de gestação. Antígenos Atípicos • Antígenos eritrocitários (não pertence Rh ou ABO) → denominados antígenos atípicos ou irregulares. • Responsáveis por 2% dos casos de DHPN • Sensibilização: geralmente associada a história prévia de transfusão sanguínea • Alguns podem produzir doença grave: anti-Kell, anti-Duffy, anti-M, anti-N. 2 INGRID ALENCAR – MED XXXV – DHPN Fisiopatologia e Clínica • Preenchimento dos critérios: 1. Incompatibilidade sanguínea materno- fetal 2. Aloimunização materna 3. Passagem de anticorpos da gestante para o organismo do feto 4. Ação de atc no concepto ALOIMUNIZAÇÃO MATERNA • Aparecimento de atc circulantes anti-D (IgG) na circulação de gestantes Rh-, em resposta aos antígens D provenientes da circulação do feto Rh+ • Sensibilização da gestante: hemorragias fetomaternas que ocorrem durante a gestação (sangramento do 1° trimestre, parto) • Apenas 1 em cada 23 gestantes Rh- são sensibilizadas pelos fetos Rh+ • Estima-se hemorragia fetomaterna ocorra em 75% das gestantes • Volume mínimo para que sensibilize: 0,25ml • Cerca de 1/3 gestantes Rh- sensibilizadas não desenvolve resposta imunológica primária • Pode encontrar hemácias fetais no sangue da mãe a partir de 8 – 10 semanas de gestação • Teste de Kleihauer: ⎯ Identifica a quantidade de hemácias fetais no sangue da mãe. ⎯ NÃO é capaz de confirmar a aloimunização materna • Resposta imunológica primária: atc fetais → fagocitados por macrófagos → linfócitos → memória linfocitária → formação atc IgM (alto peso molecular) • Segunda exposição: nova passagem de hemácias Rh+ do feto para o sangue materno → devido a memória linfocitária → reconhecimento antigênico → produção atc IgG (memória imunológica definitiva) → atravessa a placenta ⎯ Pode ser classificado com teste de Coombs indireto (detecta IgG) • Tipos de IgG: 4 (IgG 1, 2, 3, 4) → tipo 1 maior gravidade. Hemorragias fetomaternas e Transfusões Incompatíveis 0,25ml de sangue fetal no sangue materno Macrófagos Ly → IgM (memória linfocitária → Resposta Imunológica primária) Linfócitos → IgG (Memória Imunológica Definitiva PASSAGEM DE ANTICORPOS DA GESTANTE PARA O ORGANISMO DO FETO • Pode gerar hemólise e instalação de hematopoiese extramedular no fígado e baço → resulta em anemia fetal (leve, moderada ou grave) – dependendo da intensidade da hemólise e da quantidade de eritroblastos apenas na forma jovem. • Aloimunização Rh → anticorpos IgG – maior gravidade • Aloimunização ABO → anticorpos IgM – manifesta tipicamente após o parto AÇÃO DE ATC MATERNOS NO CONCEPTO • Hemólise → aumenta produção de eritropoetina e eritropoese medular → medula não é capaz de manter eritropoiese → hematopoiese extramedular (*fígado e baço) → ANEMIA FETAL • Anemia ⎯ Diminuição da viscosidade sanguínea ⎯ Hipóxia tissular e posterior vasodilatação periférica 3 INGRID ALENCAR – MED XXXV – DHPN ⎯ Estimulação quimiorreceptores → aumenta a contratilidade do coração → aumenta DC → Hipercinesia ⎯ IC → falência miocárdica • Hematopoiese extramedular → Hipertensão porta e hipoproteinemia • Hidropsia fetal= extravasamento de líquido para 3° espaço • Kernicterus no RN → impregnação de Bi-I no cérebro • Bi-I atravessa BHE → letargia, hipertonicidade, perda auditiva, paralisia cerebral e retardo mental. Propedêutica • 1° passo pré-natal → avaliar incompatibilidade sanguínea entre casal • DHPN: Mãe Rh- Feto Rh+ Pati Rh+ 1 - DIAGNÓSTICO • História clínica da mulher – suspeita de incompatibilidade • Anamnese • Antecedentes de 1 ou 2 filhos normais, seguidos de RN com icterícia grave e persistente (manifestada nas primeiras horas após parto) associada à anemia, hidropsia e morte em casos graves→ suspeita de incompatibilidade Rh. • História de natimorto • Incompatibilidade ABO → ocorre na 1° gravidez em 40 – 50% dos caos; quadro em geral é branco e gravidade não costuma ser maior em gestações posteriores • Desconhecido: ⎯ Tipagem sanguínea por cordocentese ⎯ Técnicas de PCR no plasma materno (identifica DNA fetais livres) • Incompatibilidade ABO: ⎯ Mãe deve ser O ⎯ Feto: A, B ou AB ⎯ Pai: A, B ou Ab (nunca O) ⎯ Protege contra incompatibilidade Rh • Acompanhamento pré-natal • Parceiros Rh+ → fazer genotipagem ⎯ DD → todos os filhos serão Rh+ ⎯ Dd → chance de 50% • Coombs indireto: ⎯ Identifica atc no plasma materno ⎯ Marcado de risco da doença e não para definir a gravidade ⎯ Sua elevação aumenta risco em relação ao antígeno D • Observa-se: ⎯ Doenças graves – pct com baixos níveis coombs indireto ⎯ Doenças menos graves – pct com títulos mais elevados Teste de coombs indireto + significa que há risco de DHPN, porém não indica se a mesma já ocorreu ou ocorrerá • Teste coomb indireto - → deve repetir com 28, 32, 36 e 40 semanas de gestação • Teste coombs direto + e titulação < ou = 8 → repetir mensalmente até o parto • Coombs indireto < ou = a 1:8 não exige investigação fetal, apenas seguimento com repetição da titulação. • Pesquisa de atc irregulares mesmo em mãe Rh+ → pct com história de aborto provocado, transfusão sanguínea, e/ou filhos anteriores ictéricos, natimortos ou hidrópicos sem etiologia conhecida. 4 INGRID ALENCAR – MED XXXV – DHPN 2 - PROFILAXIA • Prevenir Rh → imunoglobulina anti-D (dose de 10microg para cada mililitro de sangue fetalRh+) Profilaxia: • Toda pct Rh- com coombs indireto negativo (não foi sensibilizada): ⎯ após o parto (até 72h) ⎯ qualquer caso de hemorragia na gestação ⎯ interrupção gravidez ⎯ procedimentos invasivos • Dose única:300 mcg IM • Se disponível: recomenda-se administrar imunoglobulina 28° semana de gestação na mãe com coombs indireto – • Imunoglobulina: não deve ser administradas fases mais precoces da gestação Após a dose da imunoglobulina é esperado que o teste do coombs indireto se torne + (presença de atc da imunoglobulina). Com 35 semanas esse teste seja no máximo 1:4 • Se a profilaxia com imunoglobulina anti-D foi efetiva o teste de Kleihauer será – 3 – AVALIAÇÃO DA ANEMIA FETAL • Métodos invasivos: Amniocentese (espectrofotometria0 Cordocentese • Métodos não invasivos Cardiotocografia USG Dopplervelocimetria Amniocentese (espectrofotometria) • Só usa na ausência de examinador experiente para dopplerfluxometria • Curva de Liley • Zona 1: fetos com doença leve ou são Rh-; repetir exame com 3 a 4 semanas. • Zona 2: doença moderada • Zona 3: grave; repetir exame em 1-2 semanas Cordocentese • Método padrão-ouro de avaliação da anemia fetal • Permite dosar Ht e Hb, confirma tipagem sanguínea • Coombs direto (quantifica atc maternos na circulação fetal) • Permite fazer transfusão intrauterina • Uso restrito casos de forte suspeita de anemia fetal pela dopplerfluxometria ou espectrofometria. • Melhor exame de rastreamento de anemia fetal: dopplerfluxometria de ACM • Cerca de 50% das corcocenteses ocorre hemorragia fetal Cardiotocografia • Oscilação sinusoide: padrão característico de fase terminal da doença • Esse exame não define conduta • Só altera fases avançadas da doença USG • Alterações morfológicas do feto (anemia fetal): ⎯ Sinal duplo contorna da bexiga fetal – ascite inicial ⎯ Aumento circunferência abdominal – hepatoesplenomegalia e derrames ⎯ Alterações placentárias – espessamento parede placenta → edema. Sinal mais tardio ⎯ Polidramnia (vol líquido amniótico aumentado) 5 INGRID ALENCAR – MED XXXV – DHPN • USG: só detecta alterações tardias • Auxilia processos invasivos Dopplervelocimetria • Maior sensibilidade e especificidade que amniocentese para detectar anemia grave • Melhor exame de rastreamento de anemia fetal: dopplerfluxometria de ACM (reponde mais rápido à hipoxemia) • Iniciar a partir 20-24 semanas em gestante com Coombs Indireto > 1:8 (> ou = 1:16) • Feto anêmico tende a apresentar valores de velocidade máxima do pico sistólico acima do limite esperado para determinada IG. • Curva de Mari ⎯ Zona A: Vmax da ACM > 0,8 Todos os fetos nessa fase devem fazer corsocentese ⎯ Zona B: entre 0,8 e 0 Repetir em 5-10d ⎯ Zona C: entre 0 e -0,5 ⎯ Zona D: < -0,5 -→ repetir 2-3 semanas • Curva de Mari modificada: ⎯ Vmax < mediana para IG → não há hipercinesia nem anemia fetal Repetir exame em 2-3 semanas ⎯ Vmax: entre mediana e 1,5 MoM → pode haver anemia fetal Repetir em 5-10 dias ⎯ Vmax: > 1,5 MoM → feto com Ht < 30% Fazer cordocentese para confirmar anemia e fazer transfusão intravascular Tratamento TRATAMENTO DO FETO • Depende da IG • Antecipação parto caos feto termo ou próximo termo • Doença grave → TIU (Ht < 30% ou Hb < 10 ou hidropsia fetal) • Via de parto: controversa (entre 36-38 sem) • Transfusão Intrauterina ⎯ Através da cordocentese ⎯ A partir 20 semanas de gestação ⎯ Infundir sempre O- ⎯ Objetivo: Ht entre 40 – 50% ⎯ Queda do Ht é 1% ao dia após cada transfusão ⎯ Via: umbilical TRATAMENTO DO RN • Determina grupo sanguíneo e fator Rh do RN → cordocentese ou após parto. • Coombs direto → fazer em todos os Rn filhos de mães Rh- • Se tiver incompatibilidade ABO → Coombs Direto e Indireto = negativos Coombs direto: identifica o atc materno ligado na superfície da hemácia do RN • Bilirrubinemia: fototerapia
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