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P á g i n a | 1 É uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, na qual muitas células e elementos celulares têm participação. A inflamação crônica está associada à hiperresponsividade das vias aéreas, que leva a episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse, particularmente à noite ou no início da manhã. Esses episódios são uma consequência da obstrução ao fluxo aéreo intrapulmonar generalizada e variável, reversível espontaneamente ou com tratamento. Vamos notar algumas coisas dessa definição: • Principal mecanismo fisiopatológico envolvido: inflamação crônica. • Hiperresponsividade das vias aéreas quer dizer que diante de estímulos que normalmente não causariam sintomas em pessoas não asmáticas, nos asmáticos esses estímulos causam sintomas. • A grande característica funcional da asma: ela tem obstrução ou limitação ao fluxo aéreo expiratório VARIÁVEL e REVERSÍVEL. • Portanto, pacientes asmáticos podem demonstrar função pulmonar totalmente normal no período intercrise. A asma é uma doença que vem aumentando sua prevalência. • Prevalência mundial crescente / atualmente estima-se 7-10%, que equivale a 500-600 milhões de asmáticos no mundo. • Prevalência no Brasil 10% da população o 20 milhões de asmáticos o 150-200 mil hospitalizações/ano o 5-8 óbitos por dia • É uma doença bem subdiagnosticada. • Nos últimos 20 anos, com a implementação de políticas públicas, o numero de internações por asma tem reduzido absurdamente (50%), como vemos no gráfico. Isso porque é perfeitamente possível manejar o paciente asmático na Unidade Básica de Saúde. Isabela Terra Raupp P á g i n a | 2 Para desenvolver a doença, é necessário que o indivíduo tenha predisposição genética e seja exposto a fatores de risco. Sensibilizantes ocupacionais causam a asma ocupacional. O uso de paracetamol em demasia na primeira infância parece estar associado. Os gatilhos desencadeiam a crise. Os alérgenos são todos os fatores de risco para asma, porque por si só eles já podem causar a crise. • Hipótese da urbanização e hipótese da higiene: Esse incremento na prevalência de asma na população mundial foi coincidente com as taxas de urbanização e isso, já temos alguns estudos mostrando que crianças que se expõe a diversos tipos de alérgenos (bactérias, fungos, vírus, ácaros...) no primeiro ano de vida, terão menor chance de desenvolver doenças alérgicas, incluindo a asma. Hoje em dia, as crianças nascem e pouco saem de casa, pouco são expostas aos animais e isso provavelmente isso atrasa a exposição das crianças à alérgenos que naturalmente elas se expões e provavelmente gera reações de cunho alérgico quando elas se expõem no futuro. É a famosa “Síndrome do bebê limpinho” – quando a gente não tem essa exposição no primeiro ano de vida existe um risco aumentado de desenvolver a doença. O mais importante grupo de linfócitos que participa da gênese da asma, são os linfócitos Th2. Por algum motivo, alguma predisposição genética, quando o paciente se expõe a alguns alérgenos, não acontece a resposta Th1 que seria naturalmente esperada e em detrimento disso ocorre uma hiperexpressão de Th2. Esses linfócitos Th2, quando em contato com alérgenos, eles acabam expressando interleucinas que ativam linfócitos B e estimulam esses linfócitos B a produzir IgE. Essa IgE acaba se acoplando com os alérgenos em uma reexposição futura e estimulando os mastócitos principalmente a se degranularem e liberar citocinas inflamatórias, leucotrineos e histamina. P á g i n a | 3 Esses agentes inflamatórios acabam desencadeando a sintomatologia do paciente asmático – broncoespasmo, edema da via aérea e logo acaba culminando com obstrução da via aérea. Vejam que esses alérgenos podem ser qualquer coisa: vírus, bactérias, fungos, ácaros, mofo e no futuro isso pode gerar essas crises. Esse esquema compara a via aérea do paciente sem asma com o paciente asmático controlado e o em crise asmática. • Observe que a camada muscular dos brônquios já é naturalmente hipertrofiada e inflamada. • A mucosa da via aérea também é mais espessa no paciente asmático mesmo sem crise, e muito mais no paciente com crise. • Quando o paciente asmático entra em contato com um alérgeno, ai sim o músculo liso vai ficar mais contraído, vai ocorrer uma inflamação ainda mais intensa, um recrutamento ainda mais intenso de células inflamatórias desencadeando uma liberação de mediadores inflamatórios nessa via aérea que vai acabar com contração da musculatura lisa brônquica, com produção ainda mais acentuada de muco e esse muco vai ser liberado na via aérea que acaba fazendo o broncoespasmo (crise da asma). Se faz em busca de fazer tratamentos cada vez mais específicos para cada fenótipo. O grande problema é que ainda não existe um consenso. Mas os 3 mais clássicos são: • Asma extrínseca alérgica: o IgE mediada. o Maioria das crianças e adolescentes. o Relacionada a alérgenos (ácaros, baratas, animais domésticos, fungos, pólen). • Asma extrínseca não-alérgica: o Não IgE mediada. Inflamação Intensa Recrutamento de cél. inflamatórias Mediadores inflçamatórios Contração da musculatura lisa + produção excessiva de muco BRONCOESPASMO P á g i n a | 4 o Irritação direta da mucosa brônquica. o Frequentemente ocupacional. o De segunda a sexta-feira o paciente está mal compensado, em feriados e final de semana ele melhora. • Asma intrínseca: o Não relacionada com mecanismo alérgico. o Mais comumente surge na idade adulta. o Com alguma frequência pode surgir em idosos. o Não tem explicação bem definida. o Clínico: ▪ Quadro clássico: • Episódios de dispneia, tosse, sibilância e aperto no peito. • Caracteristicamente durante a noite ou início da manhã. ▪ Sintomas desencadeados por gatilhos: • Infecções virais, alérgenos, fumaça, odores, mudanças climáticas, exercício físico, estresse, fumo, fármacos, ... o Funcional: corrobora o diagnóstico clínico ▪ Limitação reversível ao fluxo aéreo (espirometria) – clássica da asma. Perceba que o paciente tem uma relação VEF1/FVC de 68 no pré broncodilatador e o limite inferior da normalidade para ele seria 75. No pós broncodilatador essa relação se normaliza, passa para 77, acima do limite mínimo. Portanto aqui temos um distúrbio ventilatório obstrutivo que normaliza no pós broncodilatador. OBSTRUÇÃO + NORMALIZAÇÃO DA FUNÇÃO PULMONAR. Se a função melhorar mas não normalizar, pode ser característico de outras doenças obstrutivas, mas se normalizar é asma. ▪ Variação diurna do pico de fluxo expiratório (peak flow) – variação temporal do pico da doença, porque alguns dias o paciente vai estar P á g i n a | 5 muito bem e ter um bom pico de fluxo e outros ele vai ter broncoespasmo e vai ter pico de fluxo diminuído. Observe que o paciente vai fazendo picos de fluxo variantes todos os dias em 2 períodos diferentes: de manhã e a tarde. Acompanha por 7 ou 14 dias. Se ocorrer uma variação > 20% entre o menor e o maior valor, existe uma grande variabilidade do fluxo aéreo nesse paciente. ▪ Hiper-responsividade brônquica (broncoprovocação) – diante de estímulos que normalmente não gerariam broncoespasmo, no paciente asmático eles causam broncoespasmo. Tenta desencadear o broncoespasmo. Na maioria das vezes se usa metacolina, mas também pode se usar manitol ou carbatol e o que buscamos é a linha azul (paciente vai ter redução de 20% do VEF1 de base, vai aumentando a dose de metacolina e analisando o VEF1). Não precisa esperar os exames complementares para iniciar as medicações. Esses exames servem para corroborar com o diagnóstico. – Não servem para confirmar o diagnóstico de asma. • Afastar diagnósticos alternativos o Rx tórax – no paciente asmático o raio x tem queser normal P á g i n a | 6 Se houver alguma alteração pode não se tratar de asma, e existem doenças que cursam com distúrbio ventilatório obstrutivo (DPOC, Firbose cística, bronquiectasias). • Auxiliar no diagnóstico de alergia o Testes cutâneos por puntura (prick test). Sensível a uma série de alérgenos e nos ajuda a dizer se tem fundo alérgico e associação com dermatite atópica. o IgE sérica total e específica. o Eosinofilia no plasma e no escarro induzido. • Medir atividade inflamatória na via aérea o Óxido nítrico exalado (FENO) – avalia o controle da doença. Nosso objetivo no manejo da asma é controlar a doença. Mas de que maneira? Tendo o controle atual da doença e reduzindo os riscos futuros da doença. O controle atual a gente define por redução dos sintomas, da necessidade medicações de resgate, reduzindo sintomas durante atividades físicas (proporcionando ao paciente a possibilidade de desempenhar atividade física) e normalizando a atividade pulmonar. Nos objetivos futuros, buscamos reduzir a instabilidade da doença (recorrência das crises de broncoespasmo), porque é nas crises que o paciente pode morrer, reduzir perda progressiva de função pulmonar, reduzir exacerbações e minimizar os efeitos adversos aos medicamentos. Farmacológico: • Corticoesteróides – melhor tratamento P á g i n a | 7 o Inalatórios e sistêmicos • Broncodilatadores o Beta-2 agonistas e anticolinérgicos ▪ Curta ação ▪ Longa ação • Antileucotrienos • Anticorpos monoclonais o Anti-IgE o Anti-IL-5 • Xantinas • Estabilizadores de membrana de mastócitos CORTICOSTEROIDES INALATÓRIOS: o Pedra angular do tratamento. o Potentes anti-inflamatórios. o Beclometasona, budesonida, ciclesonida, fluticasona, mometasona. o Administrados via MDI (aerossol) e DPI (pó seco e capsula). o Início de ação após alguns dias; platô ~2 meses → Portanto não são medicações boas para exacerbações, são controladores da doença e não na crise. Alterações de tratamento só devem ser feitos após 2 meses de tratamento ou em caso de crise. o Efeitos colaterais: rouquidão e monilíase oral (higiene oral após inalação). CORTICOSTEROIDES SISTÊMICOS o Excelente medicação para controle da doença. o Não utilizados por inúmeros efeitos colaterais. o Papel principal na crise. BETA-2 AGONISTAS o Relaxam musculatura lisa. o Curta ação (SABA): salbutamol, fenoterol, terbutalina (Parenteral) o Longa ação (LABA): formoterol, salmeterol, indacaterol, vilanterol, olodaterol o Administrados via MDI (aerossol dosimetrado), DPI (pó seco) e SMI (névoa suave). o Início de ação variável (3-30min) o Efeitos colaterais: palpitações, tremores ANTICOLINÉRGICOS o Relaxam musculatura lisa (não tão potente quanto b2a) e reduzem secreção mucosa (bom em asmáticos porque eles justamente estão inflamados e precisam da redução da secreção mucosa e relaxamento da musculatura lisa). o Curta ação (SAMA): ipratrópio. o Longa ação (LAMA): tiotrópio, glicopirrônio, umeclidínio, aclidínio. o Administrados via MDI, DPI e SMI o Efeitos colaterais: boca seca, retenção urinário (prostáticos), glaucoma (idosos). – especialmente de longa ação. ANTILEUCOTRIENOS o Montelucaste, zafirlucaste. o Boa tolerância / baixa eficácia. P á g i n a | 8 o Interessantes nos pacientes com rinite alérgica associada. ANTICORPOS MONOCLONAIS o Casos selecionados de asma não controlada. o Anti-IgE ➢ Omalizumabe. o Anti-IL-5 ➢ Benralizumabe, mepolizumabe, reslizumabe. XANTINAS o Aminofilina, teofilina, bamifilina. o Baixo poder broncodilatador / pouco usados. ESTABILIZADORES DE MEMBRANA DE MASTÓCITOS o Cromoglicato, nedocromil. o Pouco efetivos / pouco usados. – – P á g i n a | 9 Objetivo Asma controlada: pelo menos 21 pontos do ACT. Maior a pontuação, melhor o paciente. Step 1 (asma leve): apenas medicações de resgate – só tem sintomas eventualmente quando se expõe ao alérgeno. Step 2 (sintomas mais frequentes): baixas doses de CI se não for suficiente para controlar a doença, passamos para step 3. Step 3: associação de Beta 2 agonista de longa duração ao corticoide inalatório em dose baixa. Step 4: CI em dose moderada a alta + LABA. Step 5: ainda não foi controlado, então usamos tratamentos adicionais como tiotrópicos, anticorpos monoclonais. Devem receber orientação de medicação de resgate em todos os pacientes. Para step 1 e 2 é beta 2 agonista de curta (SABA), para casos mais graves tem a possibilidade de usas formoterol com corticoide inalatório para resgate, além do SABA. P á g i n a | 10 Normalmente se usa SABA ou fenoterol + ipatrópico (duovent). Veja que as xantinas e os antileucotrienos ficam como segundo plano de tratamento. Quando LABA + CI não estão sendo eficientes, recomenda-se o uso de imunoglobulinas ou anticolinérgico de longa ação (step 5). É importante que o paciente tenha orientação para automanejo, o paciente tem que conhecer a própria doença, saber os efeitos que podem causar no corpo dele e de que forma proceder em caso de exacerbação da doença. Fatores de risco modificáveis e comorbidades, a exemplo do tabagismo, obesidade, ansiedade. Atividade física, perda de peso. Evitar alérgenos. Não deve ter cortina e tapete de pano, porque concentram ácaros. Se mora em casa úmida, procurar deixar a casa aberta para que tenha ventilação de ar para minimizar a umidade, porque a umidade gera mofos e mofo gera crise. Imunoterapia subçlingual (só nos EUA) Reavaliação frequente – a cada 3 meses até acertar step terapêutico do paciente. Se o paciente está controlado a pelo menos 3 meses, estamos autorizados a dar um step down. Se após fazer o step down, o paciente descompensou, vamos fazer um step up, sem precisar esperar os 3 mess. o Tratar comorbidades o Rinite alérgica / rinossinusite o Obesidade o DRGE o SAOS o Ansiedade o Evitar tabagismo ativo e passivo. o Identificar exposições domiciliares e ocupacionais e tentar evita-las. o Alérgenos, mofo, umidade, produtos químicos, ... o Evitar medicações que possam piorar controle / sintomas. o AAS, AINEs, beta-bloqueadores o Orientar vacinações anti-influenza e anti-pneumococo. o Atividade física regular. o Perda ponderal para obesos. P á g i n a | 11 Baseado no tratamento – arsenal terapêutico necessário para controlar a patologia. • Instituir quando piora sintomática ou quando PFE reduzir 20% > 2 dias ▪ Aumentar medicações inalatórias (resgate e controle) – step up ▪ Corticoesteroide oral ▪ PFE < 60% basal do paciente ▪ Ausência de melhora após 48 horas Pode ser que o paciente tenha um broncoespasmo em menos de 48h, mas não é o mais comum. Se não melhorar com essas medidas e precisar de - deve-se avaliar a gravidade do quadro: Visita ao médico / emergência Plano de ação escrito (executado pelo paciente) Visita ao médico / emergência Hospitalização para manejo (enfermaria ou UTI) P á g i n a | 12 Impressão clínica caracteriza a crise. o Broncodilatação de curta ação (SABA e SAMA) – PRIMEIRO PASSO – FUNDAMENTAL – nebulização ou aerossol com espassador. o Corticoterapia sistêmica mais precoce possível mas não deve preceder o broncodilatador. o Oxigenoterapia hipoxêmicos. o Sulfato de magnésio nos casos refratários. No momento que começamos a manejar o paciente com broncoespasmo na emergência, a gente avalia a resposta terapêutica conforme os minutos vão passando: • Avaliar resposta terapêutica ao manejo inicial. o Boa resposta (SpO2 > 95% e PFE > 70% do basal do paciente). ▪ Alta para casa com corticoterapia sistêmica 5-10 dias e step-up terapêutico. o Resposta parcial. ▪ Internação hospitalar. o Manutenção de critérios de crise muito grave oudeterioração progressiva após manejo inicial. ▪ Internação em UTI. Insuf. respiratória P á g i n a | 13
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