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Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS 
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula 
a partir das contribuições de Paulo Freire 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Renata Paschoalino RA: 272078 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Carlos 
 
 
 2009 
 
 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS 
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula 
a partir das contribuições de Paulo Freire 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Renata Paschoalino RA: 272078 
 
 
 
 
São Carlos 
 
 
 2009 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao curso de Licenciatura Plena em Pedagogia 
pela Universidade Federal de São Carlos, 
orientado pela Professora Dra. Maria Waldenez 
de Oliveira. 
 3
Agradecimentos 
 
 
Ao Daniel e ao Heitor, pelo carinho, apóio e incentivo. 
 
À minha mãe Maria José, com carinho. 
 
À minha professora orientadora Maria Waldenez de Oliveira, por ter 
representado uma referência importante durante minha formação universitária. 
 
 Agradeço gentilmente a Fabiana e a Raquel, que muito contribuíram para a 
realização deste trabalho. 
 
 Agradeço à Rosa e a Elenice, pela participação na banca. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4
Resumo 
 
Este trabalho teve como objetivo compreender a construção de relações 
dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir da teoria da ação dialógica de 
Paulo Freire. 
Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica de trabalhos que tratam sobre o 
tema e também entrevistas com duas professoras que tiveram formação e atuam na 
perspectiva do referencial teórico da dialogicidade de Paulo Freire. Os resultados 
mostram a dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também oferece 
propostas para a construção de ações dialógicas que visam à humanização das pessoas, a 
transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo, 
solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida. 
 
Palavras chaves: relação professor-aluno, sala de aula, diálogo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5
Sumário 
 
 
Apresentação..................................................................................................... 
Trajetória da estudante.................................................................................. 
Quem foi Paulo Freire.................................................................................... 
Revisão bibliográfica (2007-2008/09)............................................................ 
Questão da pesquisa e objetivos................................................................. 
 
6 
6 
 
7 
8 
13 
 
Referencial teórico.................................................................................................. 
Ação dialógica......................................................................................................... 
Ação anti-dialógica................................................................................................. 
Relação professor aluno na sala de aula................................................................. 
 
14 
 
15 
 
18 
 
20 
Metodologia...................................................................................................... 
 
 
24 
Análise dos dados............................................................................................... 
 
26 
Considerações finais....................................................................................................... 
 
36 
Referências bibliográficas.............................................................................................. 
 
38 
Anexos................................................................................................................ 
Resultados da revisão bibliográfica. .............................................................. 
Modelo de Termo de consentimento das professoras.................................. 
Roteiro de Entrevista...................................................................................... 
 
40 
 
41 
 
44 
 
45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 6
Apresentação 
 
Este tema de pesquisa originou-se em experiências que vivenciei durante 
estágios no curso de Pedagogia em escolas da rede municipal junto às crianças de 
diferentes faixas etárias, podendo perceber a dificuldade de entendimento, de diálogo e 
respeito que havia entre elas e seus professores. 
Essas relações entre professores e alunos se mostravam conflituosas, nas quais 
ambos eram desrespeitados enquanto seres humanos. Alguns professores verbalizavam 
que para educar era necessário estabelecer uma prática autoritária, traduzido como falar 
com as crianças em voz alta, brava, estabelecer uma hierarquia entre eles e os alunos. 
Alguns profissionais lidavam com os alunos a partir de uma categorização das 
crianças entre aquelas que já sabiam e eram consideradas capazes de aprender e aquelas 
que eram excluídas. Ao comentarem sobre estas situações, os professores com os quais 
pude conversar diziam que muitas crianças tinham “famílias desestruturadas”. Durante 
uma conversa informal houve o seguinte relato: “fulano é repetente, já foi para o NAI 
(Núcleo de Atendimento Integrado), a professora do ano passado não alfabetizou, agora 
não dá mais tempo; tenho que ensinar as outras crianças e ele não vai conseguir 
aprender mesmo”. 
 Esse quadro me inquietava por se tratar de relações conflituosas e me trazia a 
questão sobre porque as crianças eram tratadas dessa forma? Seria por serem menos 
favorecidas economicamente? Buscava interagir considerando o que já havia estudado 
sobre a dialogicidade de Paulo Freire que traz considerações sobre relações mais 
humanas, democráticas e dialógicas, podendo perceber a dificuldade de entendimento e 
compreensão que estava sendo estabelecida na sala de aula. Qual o impacto de uma 
prática pedagógica que corrobora com a negação do respeito, do diálogo? Quais as 
conseqüências de uma relação professor-aluno em que há desqualificação, como se 
algumas, crianças significassem menos que outras. 
A partir dessas experiências o presente Trabalho de Conclusão de Curso tornou-
se uma oportunidade para estudar a dialogicidade baseada em Paulo Freire a fim de 
aprofundar meus estudos acerca da construção de outros tipos de relações que valorizem 
a humanização das pessoas. A escolha do referencial teórico de Paulo Freire está 
atrelada às considerações que este autor oferece sobre a ação dialógica durante sua 
carreira como educador, tornando-se uma referência muito importante, nacional e 
internacionalmente, pelas suas grandes contribuições à educação em geral. 
 7
A partir das informações obtidas no site1 do Instituto Paulo Freire torna-se 
possível expor uma breve apresentação acerca do autor. Paulo Freire nasceu em Recife 
no dia 19 de setembro de 1921. Destacou-se por seu trabalho na área da educação 
popular, voltado tanto para a escolarização como para a tomada de consciência crítica 
da realidade. Publicou várias obras que foram traduzidas e comentadas em vários 
países. 
Suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em 
Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores que se alfabetizaram em 45 
dias. Suas atividades foram interrompidas com o golpe militar de 1964, que determinou 
sua prisão. Exilou-se por 14 anos no Chile. Com sua participação, o Chile recebeu uma 
distinção da UNESCO, por ser um dos países que mais contribuíu para a superação do 
analfabetismo. Em 1970, junto a outros brasileiros exilados, em Genebra, Suíça, cria o 
IDAC (Instituto de Ação Cultural), que assessora diversos movimentos populares, em 
vários locaisdo mundo. 
Retornando do exílio, Paulo Freire continuou com suas atividades de escritor e 
debatedor, assumiu cargos em universidades, como também ocupou o cargo de 
secretário Municipal de Educação da prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza 
Erundina, do Partido dos Trabalhadores (PT). Faleceu em 1997 deixando grandes 
contribuições para a educação nacional e internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Centro de referência Paulo Freire: http://www.paulofreire.org/Crpf/WebHome. 
 8
Revisão bibliográfica 
 
Para buscar informações sobre outros trabalhos científicos que tratam sobre a 
temática desta pesquisa, foi realizado um breve levantamento acerca da produção 
científica sobre o tema: “A construção de relações dialógicas na relação professor-aluno 
na sala de aula”, sobretudo na área da educação. 
Este estudo recorreu às publicações de 2007 a 2008 disponíveis nas seguintes 
fontes: RBE - Revista Brasileira de Educação, na ANPED - Associação Nacional de 
Pesquisa em Educação a partir do Grupo de Trabalho GT/06 de Educação Popular e no 
Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores e no banco de teses e 
dissertações vinculado ao IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e 
Tecnologia. 
A busca se orientou pelas seguintes palavras chaves: relação professor-aluno em 
sala de aula, diálogo/dialogicidade e Paulo Freire, considerando o ensino infantil e as 
séries iniciais do ensino fundamental na RBE, ANPED e IBICT. 
Os artigos oferecem elementos para compreender o cotidiano escolar e a partir 
deles refletir acerca da construção de relações dialógicas na sala de aula. 
Na Revista Brasileira de Educação, considerando o ano de 2007, encontra-se um 
total de 39 artigos publicados. Em dois destes, encontra-se o tema relação professor-
aluno em sala de aula. O primeiro artigo, de Sommer (2007) trata da relação professor 
aluno visando problematizar conceitos que circulam na escola de ensino fundamental 
nos últimos anos, a fim de identificar as implicações no ordenamento das salas e na 
regulação das práticas docentes sendo fundamentado pelo discurso foucaultiano. Fischer 
(2007) expõe a relação professor-aluno atrelada à mídia, às máquinas de imagens e 
práticas pedagógicas na prática escolar, visando criar um saber fazer como ferramenta 
diferenciadora para pensar de outro modo a realidade que vivemos. Um dos artigos 
analisados refere-se ao diálogo, no qual Souza e Motta (2007) tratam sobre o espaço 
destinado à oralidade na pedagogia da EJA - Educação de Jovens e Adultos; estudam 
até que ponto o discurso pedagógico promove ou reprime o diálogo – interação. 
 Nas referências bibliográficas, Paulo Freire aparece em 4 dos 39 artigos 
analisados e estão em anexo na página 42, que não tratam do tema desta pesquisa. 
Considerando a RBE referente ao ano de 2008, há 34 artigos disponíveis. Entre 
os 34 artigos pesquisados, há quatro que tratam sobre relação professor aluno em sala de 
aula. O primeiro trabalho de Pais (2008) lança a hipótese sobre a violência 
 9
protagonizada por alguns alunos nas escolas como sendo máscara, dado a ocultar 
formas de violência a que esses jovens se encontram sujeitos cotidianamente, 
oferecendo elementos para a reflexão da relação professor-aluno na sala de aula. O 
artigo de Albuquerque, Morais e Ferreira (2008) trazem contribuições para reflexões 
acerca da relação professor-aluno por analisar como as práticas de leitura e escrita se 
concretizam atualmente na sala de aula, tendo como eixo a investigação da fabricação 
do cotidiano escolar por professoras alfabetizadoras. Silva (2008) investiga a questão da 
relação do professor-aluno acerca do saber matemático atrelado às práticas educativas e 
da importância da didática na formação de professores do ensino fundamental de 1º a 4º 
série. 
Entre os 34 artigos, dois tratam sobre o diálogo: Fleuri (2008) ressalta o diálogo 
de Freire. O autor retoma conceitos de Michel Foucault para indicar como os processos 
de resistência podem se configurar como formas de rebeldia ou delinqüências. Trata da 
construção da democracia na escola e indica, por fim, as propostas pedagógicas de 
Freire e Freinet para a superação dos dispositivos disciplinares. Junior (2008) traz o 
estudo acerca do cinema na conquista da América sobre um filme e seus diálogos com a 
história, referindo ao diálogo, mas não baseado em Freire. 
 Paulo Freire aparece em 5 dos 34 trabalhos considerando as referências 
bibliográficas que estão anexadas na página 42, já que não tratam sobre o tema desta 
pesquisa. 
Pode-se concluir através da pesquisa realizada na Revista Brasileira de Educação 
durante o ano de 2007 e 2008, que dos 73 artigos analisados, seis tratam da relação 
professor-aluno na sala de aula e três tratam sobre diálogo. Destes 73 artigos 
analisados, nove utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas. 
Na ANPED, a busca se orientou a partir da reunião anual do Grupo de Trabalho 
GT/06 de Educação Popular e no Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de 
Professores. No GT/06 de Educação Popular, na 30º reunião anual de 2007, de 19 
artigos analisados, quatro tratam sobre o tema diálogo. 
Brayner (2007) oferece apresentações de diferentes concepções do diálogo a 
partir de diferentes autores, entre eles Paulo Freire. Em seguida faz uma breve avaliação 
pedagógica em torno do diálogo. Kavaya (2007) aborda uma discussão mirando a 
experiência de Freire com o mundo africano. Refere-se ao ato dialógico na busca de 
caminhos que levem a tomada de consciência. Neves (2007) expõe uma experiência em 
uma escola pública rural da cidade do Rio de Janeiro avaliada pelo seu bom 
 10
desempenho das notas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Aponta 
questionamentos sobre o ofício docente e conduz reflexões sobre a cultura escolar, nas 
maneiras de ensinar de seus professores e de aprender de seus alunos visando 
compreender o cotidiano escolar. Pinheiro (2007) trata da universidade e das camadas 
populares como sendo um diálogo necessário, sem recorrer às contribuições de Freire. 
Quatro entre os 19 trabalhos analisados, tratam da relação professor aluno em 
sala de aula. Oliveira e Santos (2007), oferecem contribuições acerca da cultura 
amazônica em práticas de educação popular. Neves (2007), que faz uma pesquisa 
atrelada ao trabalho do professor em um contexto rural. Bedin (2007), que expõe a 
escola como magia da criação ressaltando as éticas que sustentam a escola pública. 
Menezes (2007), que levanta questionamentos sobre a interdição que fazem com nossas 
crianças. Trata sobre o poder sobre as vidas e o discurso que dele nasce. 
Entre os 19 trabalhos, dez usam Paulo Freire nas referências bibliográficas que 
estão em anexo na página 43 já que não tratam do tema desta pesquisa. 
No GT/06 de Educação Popular, na 31º reunião anual de 2008, de 10 artigos 
analisados, um trata sobre a relação professor-aluno na sala de aula: Silva (2008) parte 
de uma visão de educação numa perspectiva freireana articulando com o conceito de 
cidadania. Visa compreender como educadores e educandos se educam para o 
reconhecimento e respeito das diferenças e potencialidades. 
Entre os 10 artigos, um trata sobre diálogo: Sampaio (2008) analisa as relações 
de poder e a possibilidade de diálogo, visando trazer contribuições para a prática 
pedagógica. 
Seis entre os 10 artigos analisados, utilizam Paulo Freire nas referências 
bibliográficas que estão disponíveis em anexo na página 43. 
Pode-se concluir através da pesquisa realizada na ANPED durante o ano de 2007 
e 2008 no GT-06 de Educação Popular, a qual soma-se um total de 29 artigos 
analisados, temos entre eles, cinco que tratam diálogo. Cinco tratam da relação 
professor-aluno em sala de aula. Entre os 29 trabalhos, 16 utilizam Paulo Freire nas 
referências bibliográficas. 
No Grupo de Trabalho GT/08 de Formaçãode Professores, a 30º reunião anual 
de 2007, encontra-se um total de 24 artigos, sendo que 3 tratam o tema relação 
professor-aluno na sala de aula que foram os seguintes: Araújo (2007) expõe discussões 
acerca do corpo na condição docente, pelas interações entre docentes e discentes, nos 
espaços da escola e da sala de aula. Albuquerque (2007) apresenta razões da 
 11
(im)possibilidade de inovações na prática pedagógica de alfabetização em decorrência 
da participação dos docentes em formação continuada. Araújo (2007) aponta para uma 
investigação a fim de tornar evidente o processo do pensamento do professor atrelado a 
ação pedagógica em sua atuação na sala de aula. 
Entre os 24 artigos, um trata do diálogo, no qual Miranda (2007) investiga o mal 
estar do professor frente à criança tida como problema. Ressalta que existe na realidade 
escolar um conflito produtor do mal estar, o que induz as professoras a aprisionar alguns 
alunos no estatuto das impossibilidades escolares nomeados pelos professores como os 
desinteressados, indisciplinados, agressivos e sem limites. A autora indaga sobre as 
competências destes mestres. 
Entre os 24 artigos analisados, Paulo Freire aparece em quatro referências 
bibliográficas que estão em anexo na página 43, porém, não tratam do tema desta 
pesquisa. 
No Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores, a 31º reunião anual 
de 2008, encontra-se um total de 18 artigos, sendo que 2 tratam da relação professor-
aluno na sala de aula, no qual um entre esses dois também se refere ao diálogo: Chaluh 
(2008) trata do processo de formação na escola de ensino fundamental, colaborando 
com o trabalho pedagógico de duas professoras em sala de aula. Discute a complexidade 
do cotidiano escolar. Pensa na formação do outro como desencadeador do processo 
formativo pautado na importância do diálogo e da alteridade baseada em Bakhtin 
(1992). Monteiro e Nunes (2008), analisam o trabalho docente em escola do campo em 
classes multisseriadas. 
Entre os 18 artigos analisados, dois utilizam Paulo Freire nas referências 
bibliográficas que estão anexados na página 43 e não tratam do tema desta pesquisa. 
Vale ressaltar através da pesquisa realizada no GT-08 de Formação de 
Professores referentes ao ano de 2007 e 2008 as seguintes conclusões: soma-se um total 
de 42 artigos analisados, quatro tratam da relação professor-aluno na sala de aula. Dois 
tratam sobre o diálogo. Seis utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas. 
Pode-se concluir que o índice de trabalhos que utilizam Paulo Freire nas 
referências bibliográficas entre os anos de 2007 e 2008 no GT de educação popular é 
maior que no GT de formação de professores, pois entre os 29 artigos analisado no GT 
06, 16 usam Freire nas referências bibliográficas, enquanto no GT de formação de 
professores Freire aparece em seis trabalhos entre os 42 trabalhos analisados. 
 12
A pesquisa realizada no banco de teses e dissertações vinculado ao IBICT - 
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia durante os anos de 2007 a 
2009 oferece contribuições para o tema desta pesquisa. Sua realização guiou-se por 
grupos temáticos contendo três palavras chaves em nível de pesquisa avançada que 
foram as seguintes: Sala de aula (resumo), relação professor-aluno (resumo) e ensino 
fundamental (resumo). Encontram-se 23 trabalhos disponíveis. 
Entre eles, quatro tratam sobre sala de aula. Poffo (2007) refere-se à construção 
de autorias acerca de olhares para os movimentos de produção textual em sala de aula. 
Wilerich (2007) traz reflexões acerca da autoridade na sala de aula no ensino superior. 
Machado (2007) oferece contribuições sobre a produção escrita na sala de aula. Pereira 
(2007) trata sobre a interação na sala de aula a partir de conceitos baseados no 
letramento e na alfabetização no primeiro ciclo do ensino fundamental. 
Dois trabalhos tratam sobre a relação professor-aluno: Pacheco (2008) expõe o 
processo de ensino-aprendizagem de matemática e a relação entre professores e alunos 
no ensino fundamental. Medeiros (2008) trata sobre a afetividade na prática educativa 
entre professores e alunos. 
Entre os 23 trabalhos, 11 artigos utilizam Freire nas referências bibliográficas 
que estão anexados na página 43 por que não trazem relações com o tema desta 
pesquisa. 
Outra pesquisa realizou-se pelas seguintes palavras chaves: Sala de aula 
(resumo), relação professor-aluno (resumo) e ensino infantil (resumo). 
Encontram-se dois trabalhos disponíveis sobre a busca e ambos tratam da sala de 
aula. O primeiro refere-se a uma dissertação de mestrado de Luz (2008). Tal pesquisa 
versa sobre a relação professor aluno em sala de aula e foi realizada em uma escola 
particular de Goiás no contexto de duas turmas de jardim de infância. Teve por objetivo 
obter indicadores das subjetividades envolvidas na relação professor-aluno vinculado ao 
processo de ensino e aprendizagem como um todo. Tassoni (2008) visa identificar a 
afetividade na dinâmica interativa da sala de aula, envolvendo alunos em quatro 
diferentes momentos do processo de escolarização. A intenção é discutir o papel da 
afetividade neste processo, identificando suas diferentes formas de manifestação, 
demonstrando o processo de transformação pelo qual ela passa. Fundamenta-se na 
abordagem histórico-cultural, discutindo a natureza social dos processos psíquicos, o 
entrelaçamento entre processos afetivos e cognitivos, como também a perspectiva de 
desenvolvimento que os acompanha. 
 13
Entre os dois trabalhos encontrados, nenhum dos trabalhos analisados faz 
referências a Paulo Freire. 
 O próximo grupo temático foi pesquisado a partir das seguintes palavras chaves: 
Paulo Freire (Resumo), diálogo (resumo) e sala de aula (resumo). 
 Encontram-se sete trabalhos disponíveis. Entre eles, quatro tratam sobre o 
diálogo: Lomar (2007) em sua dissertação de mestrado estuda o diálogo na prática 
docente buscando conhecer como o diálogo situado na prática educativa em sala de aula 
é compreendido por professoras de uma escola pública do município de São Paulo, na 
qual está sendo implementado um projeto de educação em tempo integral, segundo a 
perspectiva dialógica de ensino. Gicoreano (2008) faz um estudo acerca da 
caracterização do diálogo significativo na sala de aula. Santos (2008) salienta o 
dialogismo e o letramento para perspectivas para a leitura significativa na educação de 
jovens e adultos. Batista (2008) ressalta a mediação do diálogo e da reflexão na prática 
do supervisor pedagógico no município de São Bernardo do Campo. 
Após a revisão bibliográfica, com o estudo na íntegra de artigos, dissertações e 
teses selecionados que estavam mais relacionados à pesquisa, foi possível identificar 
que há uma carência de estudos que tratam sobre a relação professor aluno em sala de 
aula a partir da perspectiva dialógica pautada na perspectiva de Paulo Freire. 
Considerando um total de 149 trabalhos analisados na RBE, ANPED e IBICT, 
apenas 42 tratam acerca das palavras chaves vinculadas ao tema desta pesquisa. 
 Um entre os 149 trabalhos analisados refere-se ao tema de construções 
dialógicas na sala da aula a partir das contribuições de Paulo Freire. O trabalho é de 
Lomar (2007) que estuda o diálogo na sala de aula em uma escola pública. 
Frente aos dados encontrados no decorrer da pesquisa, pode-se concluir que 
Paulo Freire está citado em 49 referências bibliográficas considerado os 149 trabalhos 
estudados. 
Cabe ressaltar que os estudos de Paulo Freire oferecem uma aplicabilidade muito 
grande acerca de diferentes temas, podendo perceber que o autor é muito citado em 
diferentes trabalhos. 
Espera-se que este estudo possa contribuir para a reflexão acerca da 
dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também oferecer propostas 
para a construção de ações dialógicas que visam à humanização das pessoas, a 
transformaçãode relações de opressão em relações democráticas, de diálogo, 
solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida. 
 14
Referencial teórico: 
 
Este capítulo tem por finalidade oferecer contribuições teóricas para que se 
possa compreender a construção do diálogo na relação entre professor e aluno na sala de 
aula a partir de uma educação problematizadora, que visa à humanização das pessoas, a 
transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo, 
solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida. 
Compreender como o diálogo pode ser construído na relação professor-aluno na 
sala de aula implica ressaltar a concepção de educação para Freire. Para o autor (1987), 
a finalidade da educação está atrelada ao desenvolvimento do processo de humanização 
das pessoas, que se efetiva através do diálogo, já que este se constitui como elemento 
fundamental para a humanização. 
Para Freire (1987) o diálogo torna-se a essência de uma educação humanizadora2 
e se constitui como um fenômeno essencialmente humano, realizado pelas pessoas por 
meio da palavra, a partir de duas dimensões: a ação, para a transformação e não 
alienação e a reflexão, atrelada à conscientização crítica e não alienante. Assim, a 
palavra não deve ser um privilégio de poucas pessoas, mas direito de todos os homens e 
mulheres, já que como diz o autor: “Os homens se fazem pela palavra, no trabalho, na 
ação-reflexão” (FREIRE, 1987, p.78). 
A seguir, haverá a análise de duas possibilidades de relações: a dialógica e a 
anti-dialógica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 Freire (1996) expõe duas viabilidades possíveis de estar no mundo: a humanização e a desumanização 
como possibilidades do seres humanos, inconclusos e conscientes de sua inconclusão. A Humanização é a 
vocação inata das pessoas como ser mais, às vezes negada pela injustiça, exploração, opressão e violência 
dos opressores e a desumanização como a distorção da humanização, não como destino dado, mas como 
resultado de uma ordem injusta que gera muitas desigualdades. 
 
 15
Ação Dialógica 
 
Freire (1987, p.93) ressalta o diálogo como “o encontro entre os homens, 
mediatizados pelo mundo para pronunciá-lo”, Desenvolve uma pedagogia baseada no 
processo de conscientização crítica da realidade. 
 Para o autor, a essência de uma educação problematizadora, humanista e crítica 
pode ser construída pelo compromisso entre as pessoas, que se efetiva pelo amor, pela 
humildade, pela fé nos homens, pela esperança, pelo pensar crítico, pela conscientização 
crítica da realidade. 
Dessa forma, Paulo Freire refere-se ao amor: ao próximo, à vida, ao mundo 
como elemento fundamental para que haja o diálogo, essencialmente realizado na tarefa 
entre os sujeitos, pautado por uma relação harmoniosa, livre de qualquer tipo de 
dominação, opressão, injustiça e de manipulação. 
 Trata a humildade para aprender com os outros. Assim, valoriza os saberes 
escolarizados e não escolarizados de todas as pessoas, já que todas sabem muitas coisas, 
sendo necessário para isto, romper com valores estereotipados como de superioridade, 
de dono de verdades e de saberes, que por vezes, se relaciona com as pessoas como ser 
superior, auto-suficiente, de maneira anti-dialógica, dominadora e opressora. 
Propõe uma relação horizontal entre companheiros para a pronúncia e 
transformação do mundo. Trata da necessária fé nos homens, em seu poder de fazer e 
refazer-se, em sua vocação para ser mais. Por isso salienta o diálogo como uma 
ferramenta imprescindível nas relações humanas, que atrelada à esperança se pautam em 
uma eterna busca de restaurar a humanidade esmagada pelas injustiças sociais, 
econômicas, educativas, entre outras. 
Significa participar e fazer a própria história como ser histórico, capaz de 
reconhecer os condicionamentos que estão postos na realidade, buscando transformá-los 
criticamente. 
Refere-se ao ser humano - homem e mulher, dialógico, crítico, capaz de fazer, 
criar, transformar como um poder dos homens, mesmo que por vezes negado em 
situações concretas. O pensar crítico não aceita a dicotomia mundo/pessoas, pois capta a 
realidade como processo em constante devenir e não como algo pré-estabelecido. 
Opõe-se criticamente ao pensar ingênuo que vê o tempo histórico como um 
peso, pré-dado pelo destino já escrito, pautado na acomodação e adaptação. Já o pensar 
 16
crítico requer a transformação permanente da realidade para a permanente humanização 
das pessoas. 
Frente a isso, Freire (1996) expõe um grande desafio a tarefa humanista e 
histórica: superar a contradição entre opressor-oprimido, já que muitas vezes, o 
oprimido tende a hospedar em si a ideologia do opressor, de um dia se parecer com ele, 
aderir seus costumes, gostos, etc. 
Ressalta a necessidade de uma conscientização crítica da realidade, na qual o 
oprimido precisa descobrir-se nessa relação e entender que o opressor é quem mantém 
essa dicotomia de desumanização, de injustiças e exclusões, sendo necessário superá-las 
a partir de uma relação humana, dialógica e democrática. 
Essa conscientização permite colocar em discussão o status quo, abrindo o 
caminho à expressão das insatisfações sociais, econômicas, culturais, das situações de 
opressões, etc. 
A teoria da ação dialógica supõe uma conscientização da realidade para combater 
o naturalismo que desconhece a historicidade do ser humano como fazedor de sua 
própria história. Implica a convicção de que a mudança é possível e necessária para a 
transformação das inúmeras desigualdades que nos cercam. 
 
“A construção de relações dialógicas sob os fundamentos da ética 
universal dos seres humanos, enquanto prática especifica humana 
implica a conscientização dos seres humanos, para que possam de 
fato inserir-se no processo histórico como sujeitos fazedores de sua 
própria história”. (FREIRE, 1996, p10.) 
 
Com essa descoberta crítica da realidade torna-se viável reconhecer a 
desumanização como realidade histórica. 
 
“A conscientização é um compromisso histórico (...), implica que os 
homens assumam seu papel de sujeitos que fazem e refazem o 
mundo. Exige que os homens criem sua existência com um material 
que a vida lhes oferece (...), está baseada na relação consciência-
mundo,”. (FREIRE, 1996, p.12) 
 
Como salienta Freire (1996, p19) “Só torna viável o homem novo pela superação 
da contradição entre opressor-oprimido, que significa a libertação de todos”. 
 17
Dessa forma, uma relação dialógica entre professores e alunos na sala de aula 
está vinculada à concepção de educação humanizadora que permite a tomada de 
consciência crítica da realidade como seres históricos. 
Para Freire, (1996), ser dialógico implica “tornar-se ético para uma verdadeira 
dialogicidade”, faz parte da natureza humana e supõe uma escolha política entre as 
pessoas, que unidas, compartilham de um mesmo sonho, de uma mesma utopia, de 
interesse comum para que juntas possam construir uma sociedade justa e igualitária. 
Implica a luta pela restauração dos direitos roubados, pela humanização, pelo trabalho 
livre, pela desalienação. 
Lomar (2007) a partir de seus estudos em Freire salienta que através do diálogo 
o homem ultrapassa sua condição de objeto e realiza-se plenamente como sujeito crítico 
frente aos condicionamentos sociais, culturais, econômicos, entre outros, porém, 
consciente de suas possibilidades enquanto ser histórico, fazedor ativo de seu destino. 
Assim, a teoria da ação dialógica mostra o papel fundamental do diálogo como 
elemento norteador para uma educação que visa à humanização das pessoas. 
Oliveira e Santos (2007) tratam sobre o conceito do diálogo a partir das práticas 
pedagógicas de educação popular que desenvolveram na cultura amazônica. Está 
associada ao contexto social e emerge da expressão oral e escrita dos educandos 
apontando para a utilização do diálogoe da autonomia do sujeito na perspectiva 
freireana que norteia a prática alfabetizadora dos educadores. 
 
“O diálogo em Paulo Freire está relacionado à autonomia dos sujeitos. Ele tem 
significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam 
sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro. O diálogo, por 
isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz ao 
outro. Nem é tática manhosa, envolvente, que um usa para confundir o outro. 
Implica, ao contrário, um respeito aos sujeitos nele engajados (Oliveira e Santos 
2007, p. 118)”. 
 
 
 
 
 
 
 
 18
Ação anti-dialógica 
 
Para Freire (1996) a teoria da ação anti-dialógica está atrelada à concepção de 
opressores que negam a humanização e a vocação ontológica de algumas pessoas Ser 
Mais, mantendo um sistema manutenção de dominação e exploração entre dominadores 
e dominados. 
Freire parte da concepção de mundo considerando a existência de uma dicotomia 
entre opressores e oprimidos, na qual uma minoria, ou seja, os opressores detêm o poder 
econômico, cultural, social, etc. e também os meios para mantê-los intactos. E os 
outros, os oprimidos, que se vêem obrigados a se submeterem aos opressores que não 
valorizam seus trabalhos pagando-lhes misérias. 
Para Freire (1996), esta realidade é extremamente desumanizadora, nega o 
acesso aos direitos essenciais das pessoas para com a vida. 
O autor critica a concepção bancária da educação que considera os educandos 
meros receptores, sujeitos passivos de suas aprendizagens. 
Essa realidade doutrina e adapta a realidade como algo dado, pré-determinado 
que deva permanecer intocado, realizado por uma relação de opressor/oprimido, na qual 
o aluno torna-se mero objeto de sua aprendizagem, na qual o professor é considerado o 
detentor do conhecimento e os transfere aos seus alunos como um depósito. 
O professor, nesta concepção é o detentor da palavra, é aquele que pensa e tudo 
sabe para depositar nos alunos, os quais devem permanecer calados para tal recepção de 
informações, que deve escutar docilmente a palavra sem contestar. 
Esse professor não considera o conhecimento que os alunos trazem de suas 
experiências já vividas, o que para Freire (1996) é fundamental já que aprendemos 
muito por meio de nossas vivências, sendo que todas as pessoas, alunos ou professores 
sabem muitas coisas, diferentes e juntos podem aprofundar maiores conhecimentos. 
No diálogo, deve-se valorizar os conhecimentos dos educandos, considerar suas 
visões de mundo e jamais opor-se como dono dos saberes. 
A educação problematizadora fundamentada pelo diálogo tem por objetivo 
superar a contradição da relação de opressor-oprimido entre aluno e professor já que é 
chamado a conhecer e a participar da elaboração dos conhecimentos. 
Assim, significa que não existe um saber acabado e definitivo, mas construído 
junto, entre o professor e o aluno. 
 19
A educação problematizadora desafia o aluno a compreender criticamente o 
contexto em que vive, já que a educação possui papel imprescindível para a libertação 
consciente e crítica da realidade. 
 Segundo Freire (1983, p79) “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si 
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. 
O autor considera o ser inacabado, que consciente de sua inconclusão busca 
aprimorar-se para se tornar ser mais. Ser mais, nesta concepção só é possível quando 
uma pessoa reconhece a outra como ser livre, responsável, ético, esperançoso, capaz de 
inventar e recriar o cotidiano e não se adaptar a ele, mas se inserindo e intervindo 
ativamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20
Relação professor-aluno em sala de aula 
 
 Muitos fatores influenciam as relações entre os alunos e o professor no cotidiano 
da sala de aula. 
A visão sobre o papel da educação que o professor e os alunos possuem torna-se 
uma orientação primordial para o trabalho desenvolvido na sala de aula. Para Freire 
(1987), a educação deve estar a serviço da humanização das pessoas, já que a educação 
é uma forma de intervenção no mundo. 
 
“Nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente 
determinados nem tampouco livres de condicionamentos sociais, 
econômicos, genéticos, culturais, históricos, de classe, gênero.” 
(FREIRE, 1996, p.38). 
 
Sommer (2007) salienta concepções postas no cotidiano escolar e traz reflexões 
sobre o papel do professor, como sendo o responsável por organizar o ambiente de 
aprendizagem, por administrar as aprendizagens dos alunos e garantir a produção da 
aprendizagem. 
Para Freire (1996), o papel do professor é de desafiador, capaz de promover a 
educação como prática de liberdade tem como função combater um naturalismo 
histórico que desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua própria 
história. O professor é aquele que possui uma prática progressista que tende a 
desenvolver junto aos alunos uma capacidade crítica, a curiosidade para perguntar, 
conhecer, atuar, reconhecer, estimular a insubmissão, a indocilidade. 
Esse professor caminha por uma direção emancipadora, consciente de constituir-
se constantemente a partir de uma curiosidade epistemológica3 construída pela 
superação de sua curiosidade ingênua4, capaz de compreender sua função e o mundo 
criticamente, visando romper com “verdades” rotuladas socialmente que podem gerar 
preconceitos, discriminações e estereótipos. Sua postura ética deve ser compatível com 
suas palavras e práticas na sala de aula, já que aprendemos uns com os outros, pelo 
próprio exemplo. 
 
3 Curiosidade epistemológica, para Freire (1996) é quando a curiosidade oriunda do senso comum se 
reconstrói tornando-se crítica. 
4 Curiosidade ingênua, para Freire (1996) são as concepções de mundo oriundas do senso comum. 
 21
O papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar não é transferir 
conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa reconhecer que 
juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos trazem muitos 
conhecimentos das experiências que vivenciaram durante a existência. 
O papel do aluno, nesta perspectiva é assumir-se como ser histórico e social, 
como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias. Cabe 
reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que 
representam na luta contra a negação da existência humana. 
Juntos, professores e alunos podem perceber criticamente as razões que 
condicionam as situações nas quais se encontram como caminho para decisões, escolhas 
e intervenções. 
Juntos, professor e alunos ensinam e aprendem simultaneamente, conhecem o 
mundo em que vivem criticamente e constroem relações de respeito mútuo, de justiça, 
constituindo um clima real de disciplina, por relações dialógicas, tornando a sala de aula 
um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos. “Quem ensina aprende ao 
ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (Freire, 1996, p.38). 
A prática educativa na sala de aula está vinculada à afetividade, a alegrias, ao 
domínio de conscientização acerca dos condicionamentos, assim como de suas possíveis 
transformações. 
 Outro fator imprescindível é a comunicação dialógica na sala de aula: que 
implica também no silêncio. Quem tem o que dizer deve saber que não é o único que 
tem, de forma a sempre incentivar, questionar e desafiar o outro que digam, respondam, 
participem. Implica disponibilidade para a escuta, com pleno direito de discordar, de se 
opor, de se posicionar e debater por meio de argumentos. 
O diálogo não reduz um ao outro, nem se torna um favor que um faz ao outro, ao 
contrário, implica respeito fundamental dos sujeitos neles engajados. Para Freire (1992), 
o diálogo, enquanto relação democrática é a possibilidade que dispomos de interagir ao 
pensar dosoutros, para não fenecer no isolamento, já que o diálogo tem significação 
quando estamos juntos uns com os outros. 
Durante a pesquisa bibliográfica realizada no IBICT, encontra-se uma tese de 
Gicoreano (2008) que traz muitas contribuições para entender a relação professor-aluno 
em sala de aula. 
O autor expõe as dificuldades que encontrava enquanto professor de física no 
ensino médio. Relata as dificuldades do dia a dia na sala de aula, como falta de 
 22
interesse, indisciplina, falta de participação, alto índice de reprovação, etc., levando-o a 
desenvolver sua tese intitulada “uma caracterização do diálogo significativo na sala de 
aula”, a fim de trazer contribuições para essa relação dialógica entre professor aluno na 
sala de aula. 
Este autor tomou como base uma perspectiva de análise construtivista, 
fundamentada nas idéias de Vygotsky sobre o desenvolvimento e a construção sócio-
histórica do saber e de Paulo Freire sobre a construção e constituição do saber e do 
trabalho docente. Identificou em diferentes momentos a construção desse diálogo/não 
diálogo, as dimensões do trabalho docente: a conduta do professor frente ao seu 
trabalho, a conduta do professor frente ao aluno, avaliação do ensino e fatores externos 
intervenientes. 
Gicoreano (2008), a partir de seus estudos sobre o dialógo, propõe a construção 
de uma nova identidade ao professor na sala de aula: focaliza-o como sendo um alguém 
em constante construção, alguém que aprende enquanto ensina, já que considera que a 
docência vai além do diploma da graduação, como um processo continuo e eterno. 
Precisa torna-se criterioso acerca do conteúdo, do que pretende ensinar, de sua 
concepção sobre o assunto; deve criar condições para o diálogo, incentivar e valorizar 
ações para a participação dos alunos. 
O professor deve estar preparado para lidar com as idéias que trazem seus 
alunos, coordená-las e ajudá-los na construção de uma linguagem comum, que, no caso, 
é a da ciência. 
Para Gicoreano (2008) o aluno também precisa reconstruir seu papel enquanto 
estudante: o aluno, de receptor e passivo deve passar a ser sujeito ativo e consciente de 
sua aprendizagem, que interage com seu professor na construção de seu saber. 
Precisa ir, buscar, perceber e descobrir. Tende a assumir e ter um compromisso 
com seu aprendizado e acreditar que a escola é importante para sua formação, 
consciente que aprender demanda muito esforço e dedicação. 
A compreensão de diálogo adotado pelo autor fundamenta-se nos pensamentos 
de Paulo Freire e Martin Buber. Segundo estes dois autores, a educação, estando a 
serviço do processo de humanização, não pode se fazer sem diálogo, já que este 
consistiria na atitude essencial humanizadora, por meio da qual o homem ultrapassa a 
condição de objeto e realiza-se plenamente como sujeito. 
O trabalho de Lomar (2007) indica a necessidade de se aprofundar a concepção 
de educação dialógica junto a professores, reafirmando seu caráter ao mesmo tempo 
 23
libertário e calcado em uma autoridade responsável e responsabilizadora em relação aos 
educandos. O trabalho está inserido num contexto de ensino-aprendizagem onde 
sobressaem de início a falta de interesse, falta de participação e de motivação, a 
indisciplina e, principalmente, a aprendizagem insuficiente por parte dos alunos. 
Participando de um projeto de formação contínua de proposta construtivista há cerca de 
seis anos, o autor pode acompanhar a evolução das professoras participantes e suas 
dificuldades na sala de aula. Foi adotada uma perspectiva de análise construtivista, 
fundamentada nas idéias de Vygotsky sobre o desenvolvimento e a construção sócio-
histórica do saber e de Paulo Freire sobre a construção e constituição do saber e do 
trabalho docente. Assim, o autor identifica em diferentes momentos na construção desse 
diálogo/não-diálogo, dimensões do trabalho docente: a conduta do professor frente ao 
seu trabalho, a conduta do professor frente ao aluno, avaliação do ensino e fatores 
externos intervenientes. Suas conclusões apontam para uma instabilidade no 
estabelecimento e manutenção do diálogo por parte das professoras, sendo que os 
fatores sociais e organizacionais a que os protagonistas do processo de ensino-
aprendizagem estão sujeitos contribuem de forma decisiva para a manutenção ou a 
quebra da dialogicidade na sala de aula. 
Oliveira e Santos (2007) tratam sobre o conceito do diálogo a partir das práticas 
pedagógicas. O diálogo com os educandos adquire uma dimensão metodológica no trato 
pedagógico da cultura amazônica. O papel do educador é compartilhar o conhecimento 
e a cultura de forma interdisciplinar, respeitando os saberes e as manifestações culturais 
dos educandos. A metodologia utilizada pelos educadores está centrada no diálogo, no 
incentivo às expressões orais e escritas dos educandos por meio de temas sociais e de 
interesses dos educandos e, também, por meio de músicas, de dramatizações, poemas, 
leituras de textos e passeios a pontos turísticos da cidade de Belém. 
Cabe salientar através dos estudos em Paulo Freire e também das leituras 
oriundas da revisão bibliográfica que tratam mais especificamente sobre o tema deste 
trabalho, a contribuição que a construção de relações dialógicas oferecem para obter 
melhorias na relação professor-aluno na sala de aula, como possibilidades de 
participação acerca de uma relação mais humanizadora. 
 
 
 
 
 24
Metodologia 
 
O procedimento metodológico utilizado foi a entrevistas sendo realizadas com 
duas professoras da rede de ensino publico a partir do referencial teórico de Paulo 
Freire. 
A entrevista esteve vinculada a um roteiro estruturado com 25 questões que 
foram conversadas entre as professoras e a pesquisadora que está em anexo na página 
46. O registro da entrevista deu-se pelo uso de um gravador. As entrevistas foram 
transcritas pela pesquisadora para a análise dos dados tendo como base o referencial 
teórico de Paulo Freire. 
As professoras entrevistadas foram as seguintes: uma trabalha junto a uma turma 
de terceiro ano do ensino fundamental, a outra professora trabalha com educação de 
jovens e adultos, também equivalente ao primeiro e segundo ano do ensino 
fundamental. As duas são professoras da rede de ensino de uma escola de periferia da 
cidade de São Carlos. 
 O critério para a escolha das professoras guiou-se pelas que trabalhassem na 
perspectiva da teoria da ação dialógica de Paulo Freire na sala de aula. 
A primeira professora foi indicada por uma colega que trabalha com o 
referencial teórico de Paulo Freire no NIASE - Núcleo de investigação social e 
educativa, sendo um grupo de pesquisa vinculado a Universidade Federal de São Carlos 
que trabalha, entre outros, com a teoria da ação dialógica de Freire. Contatei a 
professora e expliquei sobre o trabalho que estou desenvolvendo, convidando-a para 
participar de uma entrevista. 
A segunda professora entrevistada foi indicada por minha professora orientadora 
do trabalho de conclusão de curso vinculada ao grupo de pesquisa Praticas Sociais e 
Processos Educativos, que tem entre outros autores de fundamentação teórica, a do 
Paulo Freire. A professora entrevistada tem formação no referencial teórico de Paulo 
Freire e o utiliza em sua dissertação de mestrado e também atualmente em sua pesquisa 
de doutorado. 
 Para a realização da pesquisa foi utilizado um Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido assinado em comum acordo entre cada uma das professoras e a 
pesquisadora. 
 25
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido prevê que medidas de proteção 
e sigilo das informações coletadas, na medida em que as duas professoras terão as 
informações que as identificam preservadas, sendo utilizados nomes fictícios de Daiana 
e Janaina. O Termo explicita que as participantes são convidadas e aceitaram participar 
da pesquisa, com direito a verificar a análise dos dados, a sinalizarse está de acordo ou 
não, sendo possível modificá-lo. 
As entrevistas foram realizadas no dia 19.10.2009 com a professora Janaina na 
escola onde é professora em uma sala que estava disponível com duração de 1:30 
minutos e no dia 21.10.2009 com a professora Daiana na Universidade de São Paulo – 
USP, campus São Carlos, em frente à biblioteca com duração de 1:30 minutos. 
Após a transcrição das entrevistas, as professoras leram as análises feitas pela 
pesquisadora e as aceitaram. As duas professoras contribuíram na revisão do texto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26
Análise dos dados 
 
A análise de dados foi feita com base em entrevistas realizadas com duas 
professoras. Uma delas chamaremos pelo nome fictício de Janaina. Sua formação 
escolar ocorreu sempre em escola pública desde o ensino fundamental, depois pelo 
curso de magistério CEFAM - Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do 
Magistério, graduação em Pedagogia e o mestrado. 
 Sua experiência como docente iniciou-se logo que terminou o CEFAM. Durante 
o primeiro ano da faculdade fez estágio no primeiro e segundo ano do ensino 
fundamental em uma escola pública de uma escola particular. 
Durante a graduação, participou de atividades de contação de história na 
biblioteca da UFSCar - Universidade Federal de São Carlos. Também desenvolveu 
atividade de tertúlia dialógica. Foi onde começou a conhecer Freire e a buscar relações 
mais dialógicas. No final do ano de 2005 começou a fazer estágio no NIASE – Núcleo 
de Investigação Social e Educativa vinculado a UFSCar, onde aprofundou os estudos 
em Paulo Freire. Em 2007 trabalhou como professora na educação de jovens e adultos. 
Durante o mestrado trabalha com o tema da diversidade cultural e as práticas de ensino 
e aprendizagem. 
Desde o início de 2009, a professora Janaina trabalha com uma turma do terceiro 
ano de uma escola pública de ensino fundamental. Atualmente é aluna do curso de 
mestrado da UFSCar. 
A outra professora entrevistada será identificada pelo nome fictício de Daiana. 
Sua formação escolar ocorreu sempre em escola pública. Fez o ensino 
fundamental em uma escola municipal na periferia de São Paulo e o ensino médio em 
uma escola estadual bem próxima de São Paulo, em Itapecerica da Serra. Fez graduação 
em pedagogia na UFSCar com formação na área das séries iniciais. Fez curso de 
mestrado em educação no PPGE/UFSCar. Atualmente é aluna do curso de doutorado da 
mesma universidade. 
Suas experiências como docente iniciaram-se na graduação. Desenvolveu um 
trabalho de extensão realizado em casas noturnas, no qual conversava com prostitutas 
sobre educação, direitos humanos e direitos da mulher, sendo esse seu primeiro contato 
com o referencial de educação dialógica para estudar essa temática da prostituição. 
 27
Daiana trabalhou na escola CAASO – Centro Acadêmico Armando Salles de 
Oliveira, como professora de educação de jovens e adultos. Também trabalhou como 
professora de língua portuguesa no cursinho popular chamado Palmares. 
É professora efetiva de educação de jovens e adultos com uma turma em 
processo de alfabetização. Atualmente está afastada da atividade docente por estar 
cursando pós-graduação no curso de doutorado. 
A partir da análise dos dados da pesquisa é possível ressaltar alguns fatores que 
possibilitam a construção de relações dialógicas em sala de aula nas relações entre 
professores e alunos. 
Um fator importante que favorece a construção de uma prática dialógica na sala 
de aula está vinculado com a visão que o professor atribui ao papel da educação. 
Na perspectiva dialógica, segundo Freire (1987), o papel da educação deve estar 
a serviço da humanização das pessoas, já que a educação é uma forma de intervenção no 
mundo. O diálogo é a essência dessa educação humanizadora que se constitui como um 
fenômeno essencialmente humano, realizado pelas pessoas por meio da palavra. Essa 
educação problematizadora desafia o aluno a compreender criticamente o contexto em 
que vive, já que a educação possui papel imprescindível para a conscientização crítica 
da realidade para promover a libertação. 
A professora Daiana ressalta sua visão de educação como sendo um processo 
contínuo: 
 “a gente aprende ao longo da vida, a gente tá sempre ensinando e sempre 
aprendendo, um com o outro. Então as histórias de vidas, as estratégias 
que eles criam, para decodificar os números, como eles fazem para pegar 
um ônibus se não sabem ler. Acho que a educação é isso, é a gente 
aprender com o outro e você (a) se dispor a isso. É o que move o ser 
humano, desde que a gente nasce”. 
 
A visão que o professor atribui ao papel da educação como um processo em 
constante formação e aprendizagens possibilita compreender a maneira de se relacionar 
e desenvolver o trabalho em sala de aula junto com os alunos, implicando uma postura 
dialógica. 
A análise dos dados explicita que outro fato que se mostra importante para a 
construção de uma prática dialógica está atrelado à concepção que o professor tem sobre 
o papel político de ser docente. 
 28
A professora Daiana relata: 
 
“O que me motiva é buscar um pouco dessa idéia da transformação 
mesmo. Por que é tão difícil a gente tentar transformar o mundo, o país. 
A gente sempre pensa no macro, né. A gente acaba caindo na idéia da 
impotência mesmo. Ser professor é uma forma que tenho de tentar buscar 
essa minha transformação ali, na minha relação com os alunos mesmo. 
Quando eles começam a ler as primeiras palavras, isso é uma coisa que 
me motiva. De estar ali e auxiliar o aluno nesse processo de 
aprendizagem, de descoberta, da palavra, da escrita, dos números. Eu 
acho que então, ali, no dia a dia da escola, se a gente não consegue 
transformar o mundo, a gente consegue pelo menos transformar aquele 
micro. Aquele espaço que a gente tem ali. Se a gente se relaciona com o 
outro só tentando ensinar, ou, se propondo a aprender, por que isso é 
fundamental, quando você se coloca para aprender com o outro, você 
percebe que a relação melhora, se você ta ali só para ensinar, você 
percebe que o aluno se distancia, também. Estabelecer essas relações de 
uma forma mais tranqüila é uma coisa que me motiva. Na escola com os 
alunos do EJA eu tento estabelecer esse vínculo, de conhecer o outro e 
também se mostrar. Por que você também aprende muito com eles”. 
 
A professora Janaina explicita sua visão política de ser educadora: 
 
“Acho que é o sentido, gosto muito da profissão, de estar junto com as 
crianças, de poder trocar experiências, da gente poder construir algumas 
coisas juntos, poder estudar, rever, e acho que deslumbrar que um dia eles 
tenham elementos para sair dessa situação social desfavorável. Muitos 
têm dificuldades para sonhar, pensar o que quer ser quando crescer. É 
muito complicado pensar que uma criança de 7 e 8 anos não tem 
perspectiva de vida. Claro, eu acho que sozinhos eles não vão fazer 
nada… mas posso contribuir de alguma maneira e essa é uma forma 
como eu me realizo pessoalmente porque é uma profissão que eu gosto, e 
uma forma de estar ajudando eles, também um papel social que posso 
cumprir e fazer. Pensando que posso estar facilitando alguns caminhos”. 
 
É possível refletir sobre o impacto da ação do professor enquanto mediador do 
processo de ensino e aprendizagem, consciente de seu papel político responsável por 
desenvolver uma prática dialógica e esperançosa capaz de promover transformações 
como forma de intervenção no mundo. Significa optar pela luta (que é fundamental) em 
exercer seu ofício, seu dever, consciente dos condicionantes sociais, econômicos, etc., 
mas esperançoso enquanto ser histórico fazedor de sua própria ação. 
 Paulo Freire nos alerta sobre isso: “Nem somos, mulheres e homens, seres 
simplesmente determinados, nem tampouco livres dos condicionamentos genéticos, 
culturais, sociais, históricos, de classe, gênero, etc” (1996,p.38). 
 29
Outra questão analisada refere-se à concepção que o professor atribui à função 
de ser professor, sendo uma consideração relevante na construção de uma prática 
dialógica na sala de aula. 
Para Freire (1996) o papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar 
não é transferir conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa 
reconhecer que juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos 
trazem muitos conhecimentos das experiências escolares e não escolares que 
vivenciaram durante a existência. 
O papel do professor é de desafiador (Freire, 1996), capaz de promover a 
educação como prática de liberdade, de combater o naturalismo histórico que 
desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua própria história. O professor 
é aquele que possui uma prática progressista que tende a desenvolver junto aos alunos 
uma capacidade crítica, a curiosidade para: perguntar, conhecer, atuar, reconhecer, 
estimular a insubmissão, a indocilidade. 
A professora Janaina atribui um significado sobre esta perspectiva de sua visão 
sobre o papel do professor: 
 
“cabe a ele, apresentar, conduzir algumas coisas, como também tentar 
vincular com o que ela (criança) pensa. Por exemplo, vamos estudar 
mamífero, e pensar, o que vocês acham que seja? Conhecer o 
conhecimento das crianças. Não basta dizer se está certo ou errado, mas 
ver o porquê a criança acha aquilo, ver como está no livro, e no fim fazer 
uma própria definição do que entendeu, construir juntos o próprio 
conceito. Para que aprendam, dominem isso e ao mesmo tempo que a 
gente construa coisas novas. Eles precisam ter domínio do que foi 
construído historicamente, do domínio do cálculo, da leitura, da escrita… 
Assim, é um papel político, nas suas escolhas, nas prioridades. De pensar 
que preciso dar os conteúdos mais pensando na vida em que vivemos, de 
mundo, de vida”. 
 
A professora Daiana, acrescenta sua visão sobre o papel do professor: 
 
“O papel do professor é do despertar a motivação no aluno para que 
esteja sempre buscando aprender e repassar. Na sala do EJA tem muito 
isso, eles se ajudam, cooperam bastante. Mas na sala de EJA o aluno que 
sabe sempre quer ensinar o outro. E como na sala tem níveis diferentes, o 
que tá mais adiantado ajuda o outro. Existe uma cooperação bem forte 
entre eles. Talvez por terem passado por momentos de preconceitos, 
exclusão. Acho que o papel do professor é isso, é criar essa cooperação 
na sala de aula e motivar os alunos pra que eles estejam sempre buscando 
mais conhecimento”. 
 
 30
 
A visão sobre o papel que o professor tem de sua função favorece a construção 
de uma prática dialógica, já que o professor se reconhece como parte do processo e não 
como o detentor do saber. Nesta concepção professor é aquele que faz a mediação para 
a construção do conhecimento. 
Nesta perspectiva, tende a combater uma prática autoritária que perpassa pela 
visão de que tudo sabe pautado pela crença de depositar o conhecimento aos seus 
alunos, que devem permanecer calados sem contestar. 
Para Freire (1996), esta realidade é extremamente desumanizadora, pois nega o 
acesso aos direitos essenciais das pessoas para com a vida. 
Outro fator preponderante na relação professor e aluno está atrelado à concepção 
que o professor tem sobre o papel do aluno. 
 Para Freire (1996) o papel do aluno está em assumir-se como ser histórico e 
social, como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias. 
Capaz de reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que 
representam na luta contra a negação da existência humana. 
Na mesma perspectiva a professora Janaina reconhece o papel do aluno como 
sendo: 
“Um agente, não é passivo. Ele tem que estar ali o tempo todo. E esse 
estar ali não é de falar, por que tem crianças que são tímidas, que você vê 
que elas interagem de uma outra forma. Mas de sentir, de perceber que 
eles estão ali. Muitos só vão dizer dependendo da postura que a gente 
tem”. Eu procuro sempre me policiar para tentar compreender que ele é 
um ser muito amplo, do que ele traz, de suas experiências, da vida dele 
que podem ajudar na sala de aula. Claro, claro que eu os vejo como 
estudantes e como companheiros também, por que quando a gente fica 
junto, senta junto, quando pergunta, a gente percebe que eles sabem 
muitas coisas, muitas coisas“. 
 
A professora Daiana, acrescenta sua visão sobre o papel do aluno: 
 
“O papel do aluno é dos dois lados. É também motivar o professor. 
Porque quando o professor prepara uma aula e chega à sala de aula e 
percebe que os alunos se envolvem, se motivam, ele também se sente 
motivado para continuar fazendo isso. Agora, quando o professor chega 
na sala de aula e os alunos não se envolvem, não participa, ai o professor 
vai desanimando também. Acho que o papel do professor e do aluno é um 
motivar o outro. Estarem junto procurando conhecer mais, um com o 
outro“. 
 
 31
O papel do educando nesta perspectiva dialógica é assumir-se como sujeito ativo 
de sua aprendizagem, consciente da possibilidade de inserir-se no processo histórico e 
promover transformações. 
A professora Daiana exemplificou uma situação que vivenciou com um aluno: 
 
“Eu sempre tento dar esse apoio, para que eles possam expressar o que 
eles pensam. Acho que a idéia é fazer com que o aluno participe um 
pouco mais nas diferentes instituições, que consiga verbalizar seus 
sentimentos, sua relação dia-a-dia, com a família, com os amigos. Alguns 
retornam e falam, olha professora, foi bom falar daquele assunto, a minha 
mulher tava querendo trabalhar e eu achava que não era bom. Mas talvez 
seja bom sim. Acho que nesse diálogo eles vão conseguindo ver, e a 
transformação é isso, a gente não transforma o mundo, mas a gente 
transforma a relação na família, são essas pequenas coisas mesmo. Para 
além dos conteúdos de português, matemática, ciências, mas todos os 
conteúdos que a gente trabalha, são uma forma que a gente tem de 
melhorar o dia-a-dia deles. Por exemplo, muitas alunas que são 
empregadas domésticas, elas falam, olha professora vindo na escola e 
conversando a gente consegue até conversar e dialogar com a patroa, que 
as vezes oprime a empregada.” 
 
O papel do aluno, nesta perspectiva, demonstra-se fundamental para a 
construção de práticas dialógicas na sala de aula. Paulo Freire (1996) ressalta que é 
possível que, juntos, professor e alunos ensinem e aprendam simultaneamente, 
conheçam o mundo em que vivem criticamente e construam relações de respeito mútuo, 
de justiça, constituindo um clima real de disciplina, por relações dialógicas, tornando a 
sala de aula um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos. 
Outra questão analisada trata das dificuldades encontradas no cotidiano escolar. 
A construção de práticas dialógicas é feita diariamente e perpassada por momentos de 
tensões, dúvidas, já que se trata de um processo em contínua construção. 
Para a professora Janaina, o mais difícil é a questão da disciplina. 
 
“Com as crianças é pensar que agora eu sou o adulto da relação. Eles são 
muito pela forma que eu me comporto. Eles não são daquele jeito, mas é 
o jeito que eles estão sendo. Então eu tenho que me policiar, não posso 
me alterar, tenho que ser o menos contraditória possível. Por mais que eu 
pense em uma educação libertadora, às vezes eu tenho práticas que estão 
ligadas às práticas que as minhas professoras tiveram comigo. Então 
tenho que me desprender disso, é um exercício e quando me dou conta, já 
estou fazendo isso, e me pego falando e como se elas tivessem que só 
ficar ouvindo, caladas”. 
 
Outro exemplo de dificuldade que a professora Janaina expõe é o seguinte: 
 
 32
“Por que você só consegue fazer diálogo com quem quer fazer diálogo. 
Por exemplo, uma menina achou alguma coisa e o menino dizia que era 
dele. Ai ela falava que achou no chão e que achado não éroubado. Então, 
mas achado é quando você não encontrou o dono e ele ta dizendo que é 
dele e ela não queria devolver. E ela não tinha razão, mas não entendia. 
Ela disse, mas daqui a pouco você vai querer que eu de minhas coisas 
para os outros. Mas nossa, eu não disse isso”. 
 
As dificuldades encontradas pela professora Daiana estão relacionadas com a 
questão das faltas: 
 
“Os alunos são pessoas com idade acima de 40 anos. E não tem problema 
de indisciplina. Eles são bem disciplinados, não tem aquela euforia, 
correria que tem com as crianças. Eles chegam sentam lá e ficam 
quietinhos. Quando terminam a atividade começam a contar contos da 
vivência, da infância. Acho que faz parte desse processo de estimular a 
verbalização, a participação. No geral sai muitas histórias que a gente dá 
risada. Alguns dizem que já viram o lobisomem, histórias fantásticas. Um 
começa a falar e o outro complementa e fala o que pensa. Acho que faz 
parte da aprendizagem deles e minha. Consigo perceber um tema que 
posso trabalhar a partir dessas histórias”. 
 
 “Muitos alunos trabalham e muitas vezes eles têm que deixar a escola. 
Por exemplo, arrumam um bico e voltam depois de três meses. Existe 
muito essa mobilidade. Isso é uma dificuldade. Outra dificuldade é a 
diversidade de níveis. Preparar atividade quase que individualmente. O 
aluno da EJA não tá muito preocupado com o diploma, mas preocupado 
em aprender a ler e escrever, então, tudo bem, professora, eu já estourei 
de falta, mas vou continuar vindo”. 
. 
A construção de práticas dialógicas entre os professores e alunos na sala de aula 
é feita no dia a dia, sempre frente a novos desafios e conflitos a serem resolvidos. Para 
isso, a possibilidade de diálogo contribui significativamente para o entendimento ético 
entre as pessoas envolvidas. O diálogo tem sua significação não apenas com sua 
identidade, mas a defendem e aprendem um com o outro. Freire (1992) ressalta que o 
diálogo por isso mesmo não nivela e não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz 
para o outro, implica, ao contrário, um respeito fundamental dos sujeitos neles 
envolvidos. 
A professora Janaina expôs o seguinte ponto de vista: 
 
“Então eu saio da classe, eu saio da sala, sabe… No começo eu tentei 
conversar com eles. Então no começo eu via quando não estava bem, eu 
entreva na relação e eles respondiam do jeito que eu entrava na relação. 
Eu me via assim, querendo impor, por que perdia a paciência. Não você 
vai devolver para o menino, dai as crianças choravam, fazem manha, se 
 33
joga no chão, perde o controle da situação. Por que são 20 contra 1. 
Então, normalmente eu saio da sala”. 
 
A professora Janaina relata que às vezes é difícil: 
“Às vezes eu fico muito (tensa). Por exemplo, um menino que está bem 
atrasado em relação aos outros, ele me olhou e me disse, 
- to cansado de você, você só pega no meu pé. 
-Puxa vida, fiquei em casa um tempão, preparando, hoje ele vai sair 
(dessa situação) e ele me da uma dessa. 
Acho que nesse momento o mais importante é poder contar com minhas 
colegas de trabalho, de poder no intervalo sentar e conversar. Tem 
professores muito mais experientes. Dai elas dizem, não liga, é assim 
mesmo, ele fez isso pra te provocar. Ele já ta cansado”. 
 
Nas práticas dialógicas, as dificuldades serão resolvidas por argumentos e não 
por relações de opressão. Mesmo frente a situações conflituosas, de dificuldades, o 
dialogo é a ferramenta que possibilita a busca pelo entendimento, pelo esclarecimento 
dos pontos de vista, passa por reflexões, que se transformam em novas ações, em novos 
conhecimentos, em novas formas de resolver as situações do cotidiano. 
 Outro fator relevante para a construção de práticas dialógicas entre professor e 
alunos na sala de aula está atrelado aos impactos dos condicionantes sociais, 
econômicos, culturais, entre outros, no cotidiano escolar. 
A professora Janaina ressalta o impacto dos condicionamentos sociais, 
econômicos, políticos, entre outros e salienta a necessidade do professor não focar a 
atenção para essas dificuldades, mas trabalhar no sentido de promover transformações: 
 
“Claro que eles passam por muitas dificuldades, mas eu não posso fazer 
com que isso seja minha maior preocupação. Mas essa minha maior 
preocupação tem que ser assim, que eu posso ajudar eles a superar isso se 
eu puder que eles tenham outras possibilidades, por exemplo, se eles 
tiverem domínio de leitura e escrita, eles podem optar por outras coisas, 
outros caminhos, outras profissões, outras saídas, do que ficar sem saída 
né. Por que às vezes a gente cai no discurso assim, a falta de carinho, do 
cuidado… nisso, não desenvolve outras coisas. Acho que é muito difícil 
assim, saber, acho que às vezes eles precisam de carinho, sim, que você 
passe a mão na cabeça, que ele sinta que eu estou do lado dele. E, acho 
que é importante ele saber dessa questão social mesmo, que eu também 
venho de uma classe baixa, que eu também passei por muitas 
dificuldades, que eu consegui superar muitas coisas e que eles também 
podem, por que às vezes eles não têm uma referencia. Existem médicos 
que saíram da classe baixa, trazer estudantes da universidade. Dizer que 
não influencia, influencia, não tem como, eles trazem isso para o 
cotidiano. Muitas das visões que eles têm, das interpretações que eles têm 
da coisa vêm do ambiente que eles vivem”. 
 
 34
Pela análise dos dados, pode-se perceber que a professora Daiana reconhece os 
condicionamentos e suas implicações na sala de aula. Atribui importância ao fato de 
usar esses conhecimentos que eles trazem a partir de suas experiências para a 
construção de uma prática que os aproxime. 
 
“Desde o início eles já contam das histórias deles, das dificuldades que 
eles passaram. Então você conhece a história deles. Fica mais fácil você 
estabelecer uma proximidade. E uma coisa que eu acho importante nessa 
relação é a gente tentar se trazer próximo. Pelo fato de eu também ser 
migrante, filha de nordestinos, é uma coisa que me aproxima da vivência 
deles. O que ajuda a relação é buscar esses vínculos que nos aproximam. 
O que tem na minha experiência que também tem na vida desses alunos, 
que posso pegar como um fio condutor. Se você coloca muito o aluno 
como o outro, o aluno é o diferente, isso dificulta um pouco a relação, por 
que fica muito em pólo, eu tô do lado do professor e ele do lado do aluno. 
Eu sou daqui e ele é de fora, eu sou branco e ele é negro. Acho que tem 
que tentar buscar aproximações e não rotular o aluno como muito 
diferente da gente, por que ai fica difícil procurar essa esta aproximação”. 
 
 Os condicionamentos trazem implicações em nossa vida cotidiana, porém, a 
maneira como lidamos com eles podem possibilitar transformações. Freire (1996) trata 
sobre o conceito de conscientização como possibilidade de abrir caminhos para as 
insatisfações sociais, da situação de opressão. Nesse sentido, o aluno passa a perceber 
que não é o culpado pela sua situação de pobreza, de preconceito, de discriminação. 
Começa a compreender os condicionamentos, porém, consciente de possíveis 
modificações, com olhares críticos e não mais ingênuos. 
Outra questão relevante para a construção de relações dialógicas na sala de aula 
está relacionada com a questão do tempo. 
A professora Janaina salienta sobre a organização do tempo e sobre o seu 
impacto na sua prática pedagógica: 
“Tem tanta coisa para passar, são tantas coisas, que nessa pressa, são 
tantas as coisas, os conteúdos, que às vezes a gente tenta fazer um 
caminho mais curto, né….e não é bem por ai. Um caminho que é mais 
duro, que leva um pouco mais de tempo em cima daquele conteúdo, o 
resultado é outro”. 
 
 Traz um exemplo para justificar seu ponto de vista: 
 
“Por exemplo, uma coisa que me irritava… eles adoram bater figurinha... 
-Olha o que é que a gente vai fazer, a gente tem um problema. 
-Vocês adoram bater figurinha, por mim vocês poderiam, mas a gentetem que cumprir com algumas regras, alguns conteúdos, né. 
E ai fomos conversando e isso já tinha passado quase uma hora de aula, 
né. E se você pensar que ainda tem um aluno que não lê e que não 
 35
escreve corretamente, não produz texto, é muito tempo perdido para 
quem ta precisando recuperar uma defasagem de aprendizagem. Mas 
depois da gente conversar muito e a gente fazer combinações, resolveu o 
problema. Por exemplo, eles já chegam e já vão guardar as figurinhas no 
armário. Quem não vai almoçar, tudo bem, pode ficar na sala e bater 
figurinha. Voltou, vai começar a aula, eles abrem o armário e guardam a 
figurinha. Eles mesmos sabem que se deixar a figurinha na mesa, eles não 
vão resistir, por exemplo, igual deixar um bombom em cima da mesa, a 
gente também não vai resistir. 
Então tem vários acordos que é no diálogo. E é assim, se eu for impor 
alguma coisa a eles, ai não dá certo mesmo. Então tem que ser na 
conversa mesmo, eu tento explicar por que estou fazendo aquilo, procurar 
deixar claro para que eles entendam, né”. 
 
 A construção de práticas dialógicas são feitas no cotidiano, por isso, trata-se de 
um processo contínuo realizado dia após dia, no modo de se relacionar, de conversar, de 
pensar, a prática deve ser coerente com o discurso, sem imposições, sem relações de 
opressão. Muito rapidamente as pessoas envolvidas podem perceber mudanças que 
colaboram para as relações na sala de aula. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações finais 
 36
 
É possível salientar como a fala das professoras Janaina e Daiana estão 
relacionadas com a teoria da ação dialógica de Paulo Freire. 
A partir dos dados analisados pode-se concluir sobre alguns fatores que 
possibilitam práticas dialógicas na sala de aula, realizadas entre o professor e os alunos. 
Entre eles é importante que o professor conheça e estude sobre a teoria da ação 
dialógica de Paulo Freire, já que traz contribuições para a prática docente. 
Entre os fatores que contribuem para a construção de relações dialógicas na sala 
de aula pode-se ressaltar: 
• A reflexão do professor sobre o papel da educação, já que na perspectiva 
da teoria da ação dialógica, o professor caminha por uma direção 
emancipadora, consciente de constituir-se constantemente, capaz de 
compreender sua função e o mundo criticamente, visando romper com 
“verdades” rotuladas socialmente que podem gerar preconceitos, 
discriminações e estereótipos. Sua postura ética deve ser compatível com 
suas palavras e práticas na sala de aula, já que aprendemos uns com os 
outros, pelo próprio exemplo. 
• A visão sobre o papel do professor e do aluno na sua prática cotidiana, já 
que essa visão terá conseqüências positivas ou negativas na maneira 
como se relaciona com o outro. 
• Outro fato está relacionado com a maneira que encontra para resolver os 
conflitos e dificuldades do dia a dia na sala de aula, já que na perspectiva 
dialógica, o diálogo é a ferramenta imprescindível nas relações humanas, 
que atrelada à esperança pauta-se na eterna busca de restaurar a 
humanidade esmagada e roubada. 
• A maneira como o professor lida com os condicionamentos sociais, 
econômicos, políticos, etc implica em sua prática, já que é capaz de 
conceber esses condicionamentos como possibilidades para a 
transformação da realidade. Dessa forma, como afirma a professora 
Daiana, “os condicionamentos não devem ser percebidos como entrave 
para o diálogo, como algo que distancia o professor do aluno, pois o 
professor que almeja dialogar com o aluno, deve buscar uma 
proximidade, uma maneira de pronunciar o mundo junto”. 
 37
• Outra questão que interfere nessa construção é a organização do tempo, 
já que a sala de aula exige muito diálogo, muita troca, respeito, ouvir o 
outro, argumentar, participar. 
A construção de relações dialógicas são alternativas viáveis que possibilitam 
transformar as relações de opressão por relações dialógicas que visam à humanização 
das pessoas na sala de aula, como alternativa possível para superar dificuldades do 
cotidiano. 
Assim, essa construção torna-se um desafio diante do contexto atual em que 
vivemos, já que muitas relações na sala de aula são construídas por relações de 
opressão, expressas por diferentes maneiras através de comportamentos, gestos, 
maneiras de ver o aluno em sala de aula, sobre o papel que o professor atribui acerca da 
educação, o papel do professor e suas responsabilidades enquanto um educador. 
O professor junto com seus alunos são os responsáveis por modificar estas 
relações de opressão no contexto diário da sala de aula, para um bem comum que 
proporcione uma educação humanizadora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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