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Andre Junior de Oliveira Análise das Demonstrações Financeiras Sumário 03 CAPÍTULO 1 – Qual a importância das demonstrações contábeis e quais demonstrações podem ser analisadas? ...................................................................................................01 Introdução ...................................................................................................................01 1.1 Demonstrações Contábeis .........................................................................................01 1.1.1 Balanço Patrimonial .........................................................................................02 1.1.2 Demonstração do Resultado do Exercício ...........................................................03 1.1.3 Demonstração do Fluxo de Caixa ......................................................................03 1.1.4 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido ...........................................04 1.1.5 Demonstração do Valor Adicionado ..................................................................04 1.1.6 Notas Explicativas............................................................................................05 1.2 Apresentação legal das Demonstrações Financeiras e Demonstrações Contábeis Consolidadas ...............................................................................................................06 1.2.1 Apresentação do Balanço Patrimonial ................................................................06 1.2.2 Apresentação da Demonstração do Resultado do Exercício .................................09 1.2.3 Apresentação da Demonstração do Fluxo de Caixa .............................................10 1.2.4 Apresentação da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido ...................11 1.2.5 Apresentação das Demonstrações do Valor Adicionado .......................................12 1.2.6 Características Qualitativas das Demonstrações Contábeis ..................................13 1.3 Usuários interessados na análise econômico-financeira ................................................14 1.3.1 Usuários Internos .............................................................................................15 1.3.2 Usuários Externos ............................................................................................15 Síntese ..........................................................................................................................17 Referências Bibliográficas ................................................................................................18 01 Capítulo 1 Introdução Prezado estudante, você já parou para pensar sobre a importância dos demonstrativos contábeis? Qual a sua finalidade? Qual a obrigatoriedade destes? É possível afirmar que os demonstrativos contábeis são, nada mais, do que o reflexo das operações das organizações, onde são expostos os valores referentes às dinâmicas das transações das mesmas. As demonstrações contábeis são essenciais para que os usuários dessas informações possam tomar decisões. Por meio do pronunciamento CPC 00-R1, emitido pelo Comitê dos Pronunciamentos Contábeis (CPC), são tratados os conceitos e as definições fundamentais para elaboração e apresentação das demonstrações contábeis, que devem ser adotados tanto no registro das transações das em- presas como na declaração dos próprios demonstrativos. Tendo isso em mente, saiba que as demonstrações contábeis são compostas pelo Balanço Patri- monial, que é um resumo da posição patrimonial da empresa, dos direitos, deveres, dos bens e dos lucros e/ou prejuízos acumulados, pela Demonstração de Resultado do Exercício, que é um relatório da apuração dos lucros/prejuízos de determinado período, pela Demonstração do Fluxo de Caixa, Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, Demonstração do Valor Adiciona- do (quando se tratar de companhia de capital aberto), Notas Explicativas e Quadros Analíticos, ou quaisquer outros relatórios que sirvam para ilustrar a situação patrimonial. De forma geral, podemos falar que as demonstrações contábeis são, então, os principais meios de informação da saúde de uma empresa, pois permitem uma verdadeira análise financeira da mesma, e, consequentemente, possibilitam que portas sejam abertas, novos investimentos sejam efetuados ou até mesmo ajustes e alterações sejam feitos na condução dos negócios realizados. Vamos iniciar os estudos? 1.1 Demonstrações Contábeis Como você já viu, as principais demonstrações contábeis são o Balanço Patrimonial, a Demonstra- ção do Resultado do Exercício, a Demonstração do Fluxo de Caixa, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração do Valor Adicionado e as Notas Explicativas. Compreenda que a principal característica dessas demonstrações é que elas refletem a posição patrimonial ou a movimentação das contas de determinado período, sendo que o mais comum é o período anual para a apresentação dessas informações, que é o obrigatório pela legislação. O objetivo principal desses relatórios é fornecer informações para os seus usuários e, ao estudar o conteúdo apresenta- do nos itens a seguir, você vai compreender mais sobre alguns deles. Fique atento! Qual a importância das demonstrações contábeis e quais demonstrações podem ser analisadas? 02 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras 1.1.1 Balanço Patrimonial O Balanço Patrimonial é a principal demonstração financeira, visto que apresenta como de fato está composto o patrimônio da empresa, refletindo, assim, a posição financeira em determinado momento. Esse relatório é equacionado de acordo com o equilíbrio das contas representativas dos bens, dos direitos e das obrigações, tanto para com os sócios ou para com os terceiros, que podem ser chamados de capital próprio (sócios) ou capital de terceiros (fornecedores, bancos, funcionários, governo, entre outros). Você sabe o porquê do nome Balanço Patrimonial? Esse termo surgiu por referir-se ao equilíbrio, pois de um lado estão os bens e direitos e no outro as obrigações. A ideia que se tem é de uma balança que evidencia a equação patrimonial, não podendo o total do ativo (bens e direitos) ser maior que total do passivo (obrigações). VOCÊ SABIA? É importante que você saiba que o Balanço Patrimonial demonstra o patrimônio das empre- sas tanto qualitativa como quantitativamente, visto que são demonstradas quais são as contas que representam os bens, direitos e obrigações e o valor correspondente a cada item. Se essa totalidade não for igual a das obrigações, pode indicar erro nos procedimentos contábeis das empresas. Essa demonstração contábil é destinada a evidenciar de forma organizada, numa de- terminada data, a posição financeira e financeira da entidade. Nesse contexto, os bens e os direitos (ativo) podem ser especificados tanto no curto quanto no longo prazo, pois o que vai mudar sua classificação é o grau de realização relacionado ao prazo, ou seja, refere-se à realização de acordo com o seu grau de liquidez. Por exemplo, observe uma aplicação financeira com prazo de resgate para até 12 meses (1 ano): o exercício social será classificado no curto prazo. Caso fosse uma aplicação de 36 meses, as 12 primeiras parcelas seriam classificadas no curto prazo e as demais no longo prazo. Grave bem: a empresa vendeu mercadorias por R$ 36 mil, totalmente a prazo, sendo que o saldo dos clientes fica em 36 parce- las de R$ 1,0 mil. Porém, 12 parcelas devem estar classificadas no curto prazo, ou circulante, e as 24 parcelas restantes no realizável em longo prazo, no ativo não circulante. O mesmo acon- tece com as obrigações registradas no passivo, como é o caso de um financiamento de veículo realizado em 48 meses: as 12 primeiras parcelas são classificadas nopassivo circulante e as demais no passivo exigível em longo prazo. O professor Clóvis Luis Padoveze, Professor Doutor em contabilidade, Mestre em Ci- ências Contábeis, recebeu, em 2005, a medalha Horácio Berlink da Ordem do Mérito Contábil do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, que é dada somente àqueles que se distinguem na área acadêmica exercendo o magistério do se- gundo ou terceiro grau da ciência contábil ou área correlata por mais de dez anos. Ele possui um grande número de livros publicados nas áreas de contabilidade, sistemas de informações contábeis, contabilidade gerencial, controladoria, finanças, orçamento, custos e gerenciamento de risco e análise das demonstrações contábeis. VOCÊ O CONHECE? 03 Neste ponto, é importante ressaltar que o grau de liquidez, ou seja, a capacidade da empresa em pagar suas obrigações, é maior ou menor de acordo com o nível de realização dos bens e direitos, uma vez que quanto mais rápidos puderem ser transformados em dinheiro, maior será o grau de liquidez. Como exemplo, podemos citar a conta Caixa, que por ser o próprio dinheiro em espécie, mais líquido do que os estoques, que demandam mais tempo para a sua realização. O mesmo acontece com as obrigações, que quanto mais exigíveis, menor será o prazo dado pelos credores para o pagamento das mesmas. Dessa forma, podemos afirmar que a classificação e a apresentação das contas no Balanço Patrimonial são ordenadas de maneira decrescente do grau de liquidez (contas do ativo) e de exigibilidade (contas do passivo). Entenda da seguinte forma: quanto mais exigível for a obrigação, ou seja, de maior liquidez e exigibilidade, mais aparecem antes no topo do balanço, sendo as contas consideradas com menor liquidez e menor exigibili- dade classificadas mais abaixo no demonstrativo. É importante ressaltar também que as obrigações podem ser para com terceiros ou para com os sócios, onde temos o conceito de capital próprio e capital de terceiros. As de curto prazo são classificáveis no grupo passivo circulante, sendo estas exigíveis até o término do exercício social seguinte, ou seja, quanto mais exigíveis mais circulantes são estas obrigações, devendo a empre- sa efetuar o pagamento para liquidação das mesmas. 1.1.2 Demonstração do Resultado do Exercício A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é uma peça contábil que apresenta a gestão econômica e financeira de uma empresa e que tem por objetivo fornecer, de maneira esquema- tizada, os resultados, que por sua vez podem ser lucros ou prejuízos auferidos pela empresa em determinado exercício social. A DRE é um resumo ordenado das receitas e despesas da empresa e é apresentada de forma vertical, onde as receitas subtraem as deduções, os custos e as despesas, resultando, assim, em lucro ou prejuízo. 1.1.3 Demonstração do Fluxo de Caixa Para iniciar o estudo desse item, você deve entender que, atualmente, a administração das empresas, por conta das necessidades de caixa das organizações, precisa de ferramentas ade- quadas. Isso acontece porque as mudanças dos cenários propostos são cada vez mais rápidas, e muitas organizações sofrem com uma ineficiente administração de caixa. Nesse sentido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é uma valiosa ferramenta para analisar os efeitos das atividades operacionais, de investimentos e de financiamento na movimentação financeira das disponibilidades de um determinado período. Esse relatório vem sendo adotado em diversos países há muitos anos. No Brasil, isso ocorre desde 2007, com orientações advindas da lei 11.638/2007, onde foi proposta a substituição da obrigatoriedade da divulgação da Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela DFC. A estrutura da Demonstração dos Fluxos de Caixa abrange três classes: Fluxos Operacionais, Fluxo de Investimentos e Fluxo de Financiamentos. Observe na relação a seguir: • as atividades operacionais são as principais atividades geradoras de receita da empresa, bem como outras atividades diferentes de investimento e financeiras; • as atividades de investimento são as aquisições e vendas de ativos de longo prazo e outros investimentos não inclusos nos equivalentes a caixa; • as atividades de financiamento, por sua vez, são aquelas que resultam em mudanças no tamanho e na composição do capital e empréstimos a pagar da empresa; 04 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras Você sabe por que a DFC substituiu a DOAR? A principal justificativa para tal subs- tituição foi seguir uma tendência internacional e suprir necessidades de analistas de mercado e investidores. A DFC é um instrumento com utilização de nível mundial e mostra o montante de recursos financeiros disponíveis na empresa, evitando que fi- quem ociosos e auxiliando em suas aplicações. Além disso, revela melhor a habilidade da empresa de gerar caixa suficiente das operações para arcar com suas dívidas, rein- vestir o lucro e remunerar o acionista. VOCÊ SABIA? De acordo com Marques e Silva (2013), a Demonstração do Fluxo de Caixa tem por finalidade apresentar informações sobre os fluxos das transações e dos eventos que venham, no decor- rer das atividades da empresa, a afetar o caixa da empresa. Contudo, essas informações são apresentadas de forma organizada, sendo estruturadas por fluxo de atividades, para que assim o usuário da informação contábil tenha melhor compreensão da articulação entre as diversas demonstrações contábeis. 1.1.4 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) é facultativa e, de acordo com o artigo 186 (parágrafo 2º) da lei 6404/1976, pode incluir os dados referentes à Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados (DLPA), que descreve os elementos que provocaram modifica- ção para mais ou para menos no saldo das contas, lucros ou prejuízos acumulados. A DMPL é uma demonstração mais completa e abrangente, pois evidencia a movimentação de todas as contas do patrimônio líquido durante o exercício social, inclusive a formação e a utili- zação das reservas não derivadas do lucro. Importante salientar que caso a DMPL seja elabora- da, as empresas estão dispensadas da elaboração da DLPA, pois as informações constantes na última estão inseridas na primeira. Embora a lei 11.638/2007 altere a lei 6404/1976 e tenha extinguido a conta de lucros acumu- lados, a DLPA continua sendo levantada. Caso seja apurado lucro, este deve ter um destino o mais rápido possível, como dividendos, aumentos de capital ou reservas. A DMLP é mais com- pleta que a DLPA, porque além de demonstrar o lucro, demonstra todo o patrimônio líquido, que é a riqueza da companhia. 1.1.5 Demonstração do Valor Adicionado A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é o informe contábil que evidencia, de forma sin- tética, os valores que são correspondentes à formação da riqueza gerada pela empresa em um determinado período e sua distribuição, respectivamente. As informações desse demonstrativo deverão ser extraídas da escrituração, com base nas normas contábeis vigentes e, mais especifi- camente, com base no principio contábil da competência. De acordo com Assaf Neto (2010, p. 100), “a riqueza gerada pela empresa, medida no conceito de valor adicionado, é calculada a partir da diferença entre o valor produzido pela empresa e dos bens e serviços produzidos por terceiros utilizados no processo de produção”. Ou seja, é a demonstração da receita deduzida dos custos dos recursos adquiridos de terceiros. 05 O artigo “A importância da demonstração do valor adicionado como instrumento in- formativo da riqueza gerada e distribuída pelas organizações: um estudo de caso”, de Albuquerque e Boya (2010), tem por objetivo evidenciar a importância da DVA como instrumento informativo da riqueza gerada e distribuída pelas organizações.Acesse: <http://sudamerica.edu.br/argumentandum/artigos/argumentandum_volume_2/A_ importancia_da_demonstracao_do_valor_adicionado_como_instrumento_informati- vo_da_riqueza_gerada_e_distribuida_pelas_organizacoes_um_estudo_de_caso.pdf> VOCÊ QUER LER? A DVA é uma demonstração que foi criada com a finalidade de tornar pública a responsabilidade social das organizações, sendo este instrumento uma importante ferramenta para os usuários da informação contábil sobre a formação e distribuição da riqueza. Sua elaboração se tornou obrigatória por meio da lei 11.638/2007, porem é necessária somente para as sociedades anônimas. Quanto ao modelo a ser utilizado, não existe um pré-estabelecido: o que consta na referida lei são somente os elementos que a demonstração deverá indicar. VOCÊ QUER VER? O documentário “Enron: os mais espertos da sala”, dirigido por Alex Gibney (2005), aborda um dos maiores escândalos corporativos das ultimas décadas. A Enron foi uma das maiores companhias energéticas dos Estados Unidos, sendo líder em distribuição de energia, com faturamento anual que chegou a ultrapassar a casa dos US$ 100 bilhões no início dos anos 2000. A crescente desconfiança com relação aos números da empresa levou à abertura de diversas investigações para averiguar a veracidade das demonstrações financeiras e dos altos lucros declarados. O Caso Enron teve como resultado a lei Sarbanes-Oxley, de 2002, que tem como objetivo principal assegurar a governança adequada no mundo corporativo. De acordo com Padoveze e Benedicto (2010), é importante destacar que o conteúdo dessas de- monstrações é apresentado de forma sintética, ou seja, com características de agregação de valo- res. Dessa forma, os dados não são apresentados em grandes detalhes, não sendo considerados como analíticos. As contas representativas dos diversos elementos patrimoniais e das operações da empresa são evidenciadas em grandes números, já que o formato oficial tem apenas essa exigência. Para maior detalhamento das informações, é preciso ter acesso ao sistema de conta- bilidade gerencial das empresas, o que, para o usuário externo, é algo totalmente improvável. 1.1.6 Notas Explicativas A lei 6404, no parágrafo 4º do artigo 176, exige a publicação das Demonstrações Contábeis. No entanto, ela deixa bem claro que os referidos demonstrativos serão complementados por notas explicativas, por outros quadros analíticos ou demonstrações que se fizerem necessários para es- clarecimento da situação patrimonial e dos resultados apurados no período aos quais se referem. As Notas Explicativas têm, portanto, a finalidade de fornecer as informações necessárias para o esclarecimento da situação patrimonial, de determinada conta ou transação, ou ainda de valores relativos ao resultado dessas transações ou mesmo para menção de fatos que podem vir a afetar futuramente a situação patrimonial das empresas. É importante que você entenda, nesse ponto, que as Notas Explicativas podem estar relacionadas a qualquer outra demonstração contábil. Nesse tipo de relatório devem conter informações acerca das práticas contábeis adotadas, cri- térios de avaliação utilizados, informações sobre os ajustes de exercícios anteriores e os eventos subsequentes à data e encerramento do exercício que tenham ou que possam vir a afetar relati- vamente a situação financeira e os resultados das empresas. 06 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras 1.2 Apresentação legal das Demonstrações Financeiras e Demonstrações Contábeis Consolidadas O formato oficial da apresentação das demonstrações contábeis no Brasil foi estabelecido por meio da lei 6404/1976, mais especificamente no capitulo XV, art. 175 – 188. A referida lei estipulou que as seguintes demonstrações fossem obrigatórias para as sociedades anônimas (posteriormente estendida paras as demais sociedades): • Balanço Patrimonial; • Demonstração do Resultado do Exercício; • Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos, que fora substituída pela Demonstração do Fluxo de Caixa por meio da lei 11.638/2007; • Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, que inclui a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados; • Demonstração do Valor Adicionado (sendo obrigatória para as companhias abertas por meio da lei 11.638/2007); • Notas Explicativas para a complementação das demonstrações financeiras. Que a lei 6404/1976 sofreu alterações devido à harmonização contábil? Isso mesmo, tais alterações ocorreram por meio das leis 11.638/2007 e 11.941/2009, quando foram acrescentadas uma série de modificações. Essas mudanças são referentes à es- trutura de apresentação das Demonstrações Contábeis, bem como na obrigatoriedade do conjunto dessas demonstrações a serem apresentadas. VOCÊ SABIA? Compreenda que uma das mudanças mais significativas advindas das Leis 11.638/2007 e 11.941/2009 foi a substituição da DOAR pela DFC, podendo a última ser apresentada tanto pelo método direto como indireto, sendo obrigatória para empresas com patrimônio liquido su- perior a R$ 2,0 milhões Outra mudança significativa foi a obrigatoriedade de apresentação da DVA pelas companhias abertas. 1.2.1 Apresentação do Balanço Patrimonial Para iniciar o estudo deste item, compreenda que grandes mudanças foram introduzidas no coti- diano dos contabilistas no Brasil, devido às harmonizações das demonstrações contábeis com o International Standard Board (IASB) e por meio da lei 11.638/2007, que impactaram fortemente na cultura contábil brasileira. Paralelo a essas mudanças, foi criado o Comitê dos Pronunciamentos Contábeis, que tem por finalidade emitir os pronunciamentos brasileiros de contabilidade, e fora publicada a deliberação nº 488 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), buscando a conver- gência das práticas contábeis brasileiras com as práticas contábeis internacionais, visando, com isso, o aumento da transparência e da segurança das informações contábeis. 07 O artigo “Principais alterações na estrutura das demonstrações contábeis a lei 11.638/2007”, um estudo feito pelos autores Eliane Sayuri Takahashi, Geraldo Viana, Priscila Juliana Batista e Ricardo Pereira Rios, foi publicado na revista eletrônica Gestão e Negócios (2010), e tem por objetivo entender melhor as mudanças advin- das das harmonizações contábeis nos demonstrativos contábeis. Para ler mais, acesse: <http://www.facsaoroque.br/novo/publicacoes/pdfs/ricardo_eliane.pdf> VOCÊ QUER LER? Tendo isso em mente, saiba que o Balanço Patrimonial é um demonstrativo contábil constituído por duas partes e composto por três elementos básicos, sendo os ativos (bens e direitos), os passivos (obrigações) e o Patrimônio Líquido, que tem por finalidade apresentar a posição fi- nanceira e patrimonial das organizações. Acompanhe no Quadro 1 como ocorre a apresentação do Balanço Patrimonial atualmente. ATIVO EM R$ PASSIVO EM R$ ATIVO CIRCULANTE 49.500,00 PASSIVO CIRCULANTE 75.950,00 Caixas 50.000,00 Títulos a pagar a fornecedores 32.000,00 Duplicadas a receber 12.500,00 Impostos a recolher sobre mer- cadorias 12.000,00 (-) Títulos Descontados 9.000,00 Salários a pagar 7.800,00 (-) Créditos de Liquidação Duvidosa 5.000,00 Impostos a recolher sobre lucros 8.000,00 Estoques de mercadorias INSS a pagar 2.900,00 Adiantamento a fornecedores 1.000,00 Contas a pagar (água, luz, tele- fone) 950,00 Adiantamento de clientes 1.500,00 Empréstimos e financiamentos 5.800,00 Dividendos a pagar 5.000,00 ATIVO NÃO CIRCULANTE 329.650,00 PASSIVO NÃO CIRCULANTE 30.000,00 Realizável a longo prazo 94.250,00 Empréstimos e financiamentos 18.000,00 Títulos a receber 78.000,00 Títulos parcelados 12.000,00 Créditos em empresas ligadas 8.500,00 PATRIMONIO LIQUIDO 273.200,00 Títulos Mobiliários 2.400,00 Capital Social 229.000,00 Investimentosmobiliários 4.300,00 (-) Ações em Tesouraria 5.800,00 Investimentos Temporários 1.050,00 Reservas de capital 20.000,00 Investimentos 150.000,00 Ajustes de Avaliação Patrimonial 5.000,00 Ações ou Cotas de Empresas Coligadas 50.000,00 Reservas de Lucros 25.000,00 Ações ou Cotas de Empresas Controladas 100.000,00 08 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras ATIVO EM R$ PASSIVO EM R$ ATIVO NÃO CIRCULANTE 329.650,00 PASSIVO NÃO CIRCULANTE 30.000,00 Imobilizado 72.000,00 Máquinas e Equipamentos 80.000,00 (-) Depreciação e Exaustão Acumulada 8.000,00 Intangível 13.400,00 Marcas, patentes, goodwill 13.400,00 ATIVO TOTAL 379.150,00 PASSIVO TOTAL 379.150,00 Quadro 1 - Apresentação do Balanço Patrimonial. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em PADOVEZE e BENEDICTO, 2010. Para elaborar e apresentar esse demonstrativo, os fechamentos necessários devem ser efetua- dos ao longo do exercício, visto que o relatório, conforme mencionado anteriormente, tem por finalidade demonstrar a situação patrimonial da empresa por meio da dinâmica existente entre os fatos contábeis e das variações das contas dos bens, direitos e obrigações. Ao fim do exer- cício, são apurados os resultados, fazendo-se os lançamentos de encerramento, debitando-se as contas de receitas e creditando a uma conta transitória, chamada de apuração do resultado do exercício. Inversamente, são realizadas as contas de despesas e custos, debitando-se a conta transitória anteriormente mencionada. Receita Despesa Ativo Passivo Patrimônio Líquido Resultado ( - ) ( = ) BALANÇO PATRIMONIAL Figura 1 – A relação existente no momento da apuração do Lucro entre a DRE e o Balanço Patrimonial. Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. Por fim, o saldo da conta Apuração do Resultado do Exercício será transferido para a conta de resultados a destinar, sendo posteriormente distribuída para outras contas patrimoniais, conforme a proposta da administração. Após os ajustes pertinentes e lançamentos de encerramento das contas de resultado, as contas que permanecerão com saldo são apenas as contas patrimoniais, que deve- rão ser separadas e classificadas de acordo com sua ordem de liquidez e nos grupos componentes do balanço patrimonial. Ao final, o saldo do grupo do ativo deve ser igual ao grupo do passivo. 09 1.2.2 Apresentação da Demonstração do Resultado do Exercício A Lei 6404/1976 instituiu, por meio do artigo 187, a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), que se trata de uma demonstração contábil dinâmica e que tem por finalidade evidenciar a formação do resultado líquido em determinado exercício social por meio do confronto das re- ceitas, custos e despesas. Esses dados devem ser apurados de acordo com o principio contábil do regime da competência, gerando, assim, informações significativas para a tomada de decisões. Acompanhe no Quadro 2 o modelo atual de apresentação de DRE. DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO Receita Operacional Bruta 300.000,00 (-) Impostos Incidentes sobre as vendas 25.000,00 (-) Devoluções e Abatimentos 10.000,00 (=) Receita Operacional Líquida 265.000,00 (-) Custo dos Produtos e Serviços Vendidos 150.000,00 (=) Lucro Bruto 115.000,00 (-) despesas Operacionais 30.000,00 (-) Com vendas 10.000,00 (-) Administrativas 20.000,00 (=) Lucro Operacional Antes do Imposto de Renda 85.000 Despesas Financeiras 1.800,00 (=) Resultado do Exercício antes dos impostos sobre o lucro e as participações 83.200 Provisão para impostos sobre o lucro (Imposto de Renda e Contribuição Social) 3.400,00 (=) Lucro/ Prejuizo Liquido do Exercício 79.800 Quadro 2 - Apresentação da Demonstração do Resultado do Exercício. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em PADOVEZE e BENEDICTO, 2010. Perceba que é importante observar que a DRE tem como objetivo principal apresentar, de forma vertical resumida, o resultado apurado em relação ao conjunto de operações realizadas em de- terminado período, que normalmente é de doze meses. As informações obtidas por meio da DRE são destinadas a evidenciar a formação do resultado líquido do exercício que, diante do confron- to das receitas, custos e despesas, oferece uma síntese econômica dos resultados operacionais de uma empresa. A obrigatoriedade de divulgação desse demonstrativo é anual, porém algumas organizações optam por divulgar trimestralmente para fins fiscais. A Demonstração do Resultado do Exercício pode ser utilizada também como um indicador de auxílio para decisões financeiras, pois a medida de eficiência das empresas é o lucro. 10 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras 1.2.3 Apresentação da Demonstração do Fluxo de Caixa A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) passou a ser obrigatória para todas as socieda- des de capital aberto ou com patrimônio líquido superior a R$ 2,0 milhões por meio da lei 11.638/2007, se tornando, desde então, o relatório mais importante na tomada de decisão, substituindo a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR). O objetivo da DFC é condensar toda a movimentação dos recursos financeiros de uma empresa, inde- pendente do seu tamanho, complexidade ou ramo de atuação. Por meio dessa demonstração é pos- sível identificar a política financeira da administração, permitindo medir a eficácia de seus diretores. A diferença básica entre a DFC e DOAR consiste no fato de que a DOAR é mais voltada para o regime de competência do que para o regime de caixa. Para entender melhor, pense na seguinte situação: a empresa X tem um ativo circulante no valor de R$ 505 mil e um passivo circulante no valor de R$ 110 mil sendo compostos da seguinte forma: • disponível: R$ 50 mil; • clientes: R$ 155 mil; • estoques: R$ 300 mil; • fornecedores: R$ 90 mil; • contas a pagar: R$ 20 mil; Para calcularmos o Capital Circulante Liquido (CCL), teremos o valor de R$ 395 mil, ou seja, se pe- garmos o total do ativo circulante e diminuirmos o total do passivo circulante temos como resultado em um bom capital de giro, demonstrando que a situação financeira da empresa está ótima. Po- rém, se observamos que nem todas as contas que compõem o ativo circulante representam recursos em caixa, perceberemos que, na verdade, o recurso que existe é somente R$ 50 mil e que as outras contas são menos disponíveis, ou seja, demorariam mais tempo para se converterem em dinheiro. Perceba, assim, que a DOAR é mais abrangente no sentido de analisar a posição financeira da empresa, pois considera fatos além do caixa, enquanto que a DFC está mais preocupada com os valores que afetam as disponibilidades de uma empresa, algo que está mais de acordo com a administração e com os investidores que, diante das exigências atuais, buscam empresas que trazem mais ganhos em menos tempo. DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA Método Indireto Método Direto 1 - Fluxo das atividades operacionais 1 - Fluxo das atividades operacionais Resultado do exercício 70.000,00 Recebimento das vendas 150.000,00 (+) depreciação 2.000,00 (-) pagamento das compras 75.000,00 (-) aumento das duplicatas a re- ceber 5.000,00 (-) pagamento das despesas operacionais 12.500,00 (+) diminuição dos estoques 2.500,00 (=) caixa gerado pelas operações 62.500,00 (-) diminuição dos fornecedores 22.000,00 (+) aumento de contas a pagar 15.000,00 (=) caixa gerado pelas operações 62.500,00 11 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 2 - Fluxo dos Investimentos 2 - Fluxo dos Investimentos (-) aquisição de imobilizado/in- vestimentos 70.000,00 (-) aquisição de imobilizado/in- vestimentos 70.000,00 (+) vendas de investimento/imo- bilizado 20.000,00 (+) vendas de investimento/imo- bilizado 20.000,00 (=) caixa gerado pelos investi- mentos (50.000,00) (=) caixa gerado pelosinvesti- mentos (50.000,00) 3 - Fluxo dos Financiamentos 3 - Fluxo dos Financiamentos (+) integralização de capital 300.000,00 (+) integralização de capital 300.000,00 (+) empréstimos bancários 250.000,00 (+) empréstimos bancários 250.000,00 (-) amortização de financiamentos 0,00 (-) amortização de financiamentos 0,00 (-) pagamentos de dividendos 0,00 (-) pagamentos de dividendos 0,00 (=) caixa gerado pelos finan- ciamentos 550.000,00 (=) caixa gerado pelos finan- ciamentos 550.000,00 Variação total das disponibilida- des (I +II+ III) 562.500,00 Variação total das disponibilida- des (i +II+ III) 562.500,00 Saldo inicial das disponibilidades 0,00 Saldo inicial das disponibilidades 0,00 Saldo final das disponibilidades 562.500,00 Saldo final das disponibilidades 562.500,00 Quadro 3 - Apresentação da Demonstração de Caixa – método direto e indireto. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em PADOVEZE e BENEDICTO, 2010. A estrutura da DFC abrange três fluxos diferentes, que são o das Atividades Operacionais, das Atividades de Investimentos e das Atividades de Financiamentos. Esse demonstrativo pode ser elaborado por meio de dois métodos: o direto e o indireto, sendo que a diferença entre eles consiste nas atividades operacionais. No método direto, elas são elaboradas utilizando os reais recebimentos dos clientes, pagamento dos fornecedores e pagamentos de despesas. Já no mé- todo indireto, a elaboração toma como base o lucro líquido apurado na DRE, considerando as variações das contas patrimoniais relacionadas. Nas atividades de investimento e de financia- mento, serão idênticas ao método direto. 1.2.4 Apresentação da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Você sabia que a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) é um demonstrativo de grande importância? Isso se dá pelo fato de que ele mostra toda a movimentação ocorrida no patrimônio líquido em determinado período, além da formação das reservas. As empresas devem apresentar na DMPL algumas informações que afetam o patrimônio total, tais como o acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo liquido do exercício, a redução dos dividendos, o acréscimo por reavaliação de ativos, o acréscimo por integralização de capital social, entre outros. Além disso, devem apresentar também informações que não afetam o patrimônio total, como o aumento do capital social, com a utilização dos lucros e reservas, e as apropriações do lucro líquido do exercício, reduzindo a conta de lucros acumulados na formação de reservas, como reserva legal e reserva de lucros, , e reversões de reservas patrimoniais para a conta de lucros ou prejuízos acumulados, bem como a compensação de prejuízos com reservas. 12 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital Social Reservas Lucros Acumulados Total Saldo em 31/12/X1 300.000,00 15.000,00 0,00 315.000,00 Ajustes de exercícios Anteriores 0,00 0,00 0,00 0,00 Aumento de capital 15.000,00 (15.000,00) 0,00 0,00 Apuração de lucros no período 0,00 0,00 55.000,00 55.000,00 Constituição de Reservas 0,00 55.000,00 (55.000,00) 0,00 Saldo em 31/12/X2 315.000,00 55.000,00 0,00 370.000,00 Quadro 4 - Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em PADOVEZE e BENEDICTO, 2010. Aqui, perceba que a preparação e apresentação da DMPL são baseadas nas mudanças ocorridas nas contas ou nos grupos que compõem o Patrimônio Líquido, sendo que todas essas informa- ções podem ser obtidas por meio do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício fechados anteriormente. No exemplo do Quadro 04, temos itens que afetam ou não o patrimônio, como você pode acompanhar na relação a seguir: • afetam: apuração do lucro do período; • não afetam: aumento de capital social com o saldo advindo das reservas e a constituição de novas reservas advindos do lucro do período. 1.2.5 Apresentação das Demonstrações do Valor Adicionado A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) tem por objetivo mostrar o montante da riqueza gerada pela empresa e a forma como foi distribuída entre os diversos setores que contribuíram direta ou in- diretamente para a sua geração em determinado período. No Brasil, a apresentação da DVA é obri- gatória somente para as companhias abertas, muito embora, assim como os outros demonstrativos, pode ser elaborada pelas companhias de capital fechado e sociedade limitada para fins gerenciais. A DVA está fundamentada em conceitos macroeconômicos, pois busca apresentar a parcela de contribuição que a entidade tem na formação do Produto Interno Bruto (PIB). Por meio desse relatório, apresenta-se o quanto a empresa agrega de valor aos insumos adquiridos de terceiros e que são vendidos ou consumidos durante determinado período. A Demonstração de Valor Adi- cionado é formada por duas partes: formação de riqueza e distribuição de riquezas, sendo que primeira deve apresentar de forma detalhada a riqueza criada pela empresa e a segunda a forma como a riqueza obtida pela entidade foi distribuída. DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Descrição 20X1 1 - RECEITAS 10.000,00 1.1 – Venda de Mercadorias, produtos ou serviços 10.000,00 1.2 – Provisão para devedores duvidosos (reversão/constituição) 0,00 1.3 – Não operacionais 0,00 13 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Descrição 20X1 2 – INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (incluindo ICMS e IPI) 5.100,00 2.1 – Matérias-Primas consumidas 0,00 2.2 – Custos das mercadorias e serviços vendidos 5.000,00 2.3 – Materiais, energia, serviços de terceiros e outros 100,00 2.4 – Perda/Recuperação de valores ativos 0,00 3 – VALOR ADICIONADO BRUTO 4.900,00 4 – RETENÇÕES 300,00 4.1 – Depreciação, amortização e exaustão 300,00 5 – VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE 4.600,00 6 – VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA 150,00 6.1 – Resultado de Equivalência Patrimonial 100,00 6.2 – Receitas Financeiras 50,00 7 – VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6) 4.750,00 8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 8.1 – pessoal e encargos 2.500,00 8.2 – impostos, taxas e contribuições 150,00 8.3 – Juros e Alugueis 500,00 8.4 – Juros s/capital próprio e dividendos 0,00 8.5 – Lucros retidos/prejuízo do exercício 1.600,00 Quadro 5 - Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Fonte: Elaborado pelo autor baseado em PADOVEZE e BENEDICTO, 2010. A DVA proporciona para os investidores e outros usuários o conhecimento de informações de natureza econômica e social, oferecendo a possibilidade de melhor avaliação das atividades da empresa. Importante ressaltar que, por meio da DVA, um município, estado ou até mes- mo a própria federação pode ter um instrumento de extrema utilidade, com informações sobre como a empresa administra a riqueza adquirida, o que facilita a decisão quanto recebimento de investimentos. Essas informações não são fornecidas por demonstrações como a DRE, por exemplo. Observe, no Quadro 5, que o item 8.5 trata dos lucros retidos/prejuízos do exercício: é importante ressaltar que o valor correspondente a este item deve bater com a soma do valor adicionado a distribuir do período apurado. 1.2.6 Características Qualitativas das Demonstrações Contábeis As informações contábeis são geradas mediante a utilização de um sistema contábil organizado e, para serem úteis à gestão empresarial, requerem que sua elaboração seja de acordo com o exigido pelas Normas Brasileiras de Contabilidade, que estabelecem os princípios fundamentais de contabilidade, sendo, assim, a maior referência no tocante aos procedimentos a serem usados quando dos registros e fatos contábeis e elaboração das demonstrações contábeis. Contudo, as demonstrações contábeis possuem características qualitativas que, em conjuntocom os prin- 14 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras cípios, elevam o seu grau de importância. Essas caraterísticas são dívidas em dois grupos: as fundamentais, que compreendem a Representação Fidedigna e a Relevância; e as de melhoria, compreendendo a Verificabilidade, Compreensibilidade, Comparabilidade e Tempestividade. Características Qualitativas Fundamentais Representação Fidedigna A representação fidedigna retrata o fato de que a informação não basta ser relevante, ou seja, não somente faça a diferença no processo de tomada de decisão e sim deve ser fidedigna, isto é, con- dizente com a realidade. Para que isso aconteça, ela deve ser completa, neutra e livre de erros. Relevância A relevância consiste no fato de que a informação faz diferença no processo de tomada de decisão. Características Qualitativas de melhoria Verificabilidade A verificabilidade implica em diversos observa- dores independentes poderem chegar a um con- senso sobre o fenômeno econômico, retratado na informação contábil financeira. Compreensibilidade A informação apresentada na demonstração con- tábil deve ser compreensível a todos os usuários, embora essa compreensibilidade não permita que informações relevantes sejam omitidas com a jus- tificativa de que o entendimento é difícil para al- guns usuários. Comparabilidade Característica que permite aos usuários serem ca- pazes de comparar as demonstrações da entidade ao longo do tempo, com a finalidade de identifi- car tendências em sua posição patrimonial ou fi- nanceira e no seu desempenho e fluxos de caixas. Tempestividade A informação é tempestiva quando é oferecida dentro do tempo de execução da decisão. Caso exista algum atraso injustificado na divulgação da informação, ela pode perder sua relevância. A administração precisa ponderar a necessidade da elaboração dos relatórios em época oportuna com a necessidade de oferecer informações confiáveis. Quadro 6 - Características Qualitativas das Demonstrações Contábeis. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em CPC 00, 2012. Perceba que as características qualitativas determinam a utilidade das informações contidas nas demonstrações contábeis, sendo os atributos que tornam as demonstrações contábeis para os seus usuários. 1.3 Usuários interessados na análise econômico-financeira Neste tópico, você vai compreender que as demonstrações contábeis são elaboradas e apre- sentadas visando atender as necessidades dos usuários das informações contábeis, que podem ser divididos em dois grupos: usuários internos, que administram o negócio e participam dele, 15 e usuários externos, com interesses financeiros diretos. Entre os usuários, podemos dividir entre os que estariam diretamente vinculados a partir do ambiente em que se localizam e aqueles que estariam vinculados à entidade, participando dela ou não. 1.3.1 Usuários Internos Os usuários internos das demonstrações contábeis, com a finalidade de administração das enti- dades de forma a garantir uma ação mais eficiente, podem ser: • proprietários da empresa, ou seja, os indivíduos que detêm a posse de seu Capital Social, o titular da firma individual, denominado “empresário”, os sócios e os acionistas; • diretores, gerentes e administradores de todos os níveis; • demais empregados das empresas. Esses usuários, além das informações contidas nos demonstrativos contábeis que são divulgados pela entidade, podem ter acesso a dados históricos e informações internas, sendo estes mais precisos para determinadas análises comparativas. Diante desse cenário, podemos afirmar que eles possuem uma posição privilegiada em relação aos usuários externos. Quanto mais a análise detiver na constatação do passado e do presente, mais essas informações serão instrumentos muito importantes na avaliação de performance das empresas analisadas. Os interesses dos usuários internos são os mais diversos, entre os quais podemos destacar o con- trole, a coordenação e planejamento; a previsão de falta ou excesso de caixa; manter ou aumen- tar os níveis de ganho; oferecer produtos de maior qualidade e menor custo e criar e inovar na oferta de um novo produto. A partir desses interesses, eles podem tomar decisões como avaliar o desempenho de cada funcionário, promover o crescimento da empresa, obter maior participação no mercado, aumentar a produtividade, e maximizar os resultar, minimizando os custos e au- mentando a lucratividade e liquidez das organizações, atendendo às necessidades dos clientes. 1.3.2 Usuários Externos Os usuários externos podem ser os investidores atuais e potenciais, credores por empréstimos, fornecedores e outros credores comerciais, clientes, entidades governamentais e os empregados que, por meio das informações contábeis, têm interesses de preservar o emprego, ter seu traba- lho reconhecido e ser remunerado de forma justa e condizente com suas funções. Assim como os usuários internos, eles possuem múltiplos interesses nas informações contábeis. Os acionistas, por exemplo, ao analisar as informações contábeis disponibilizadas, têm interesse na lucratividade e liquidez da organização, no sucesso obtido em exercícios anteriores, nos ga- nhos potenciais, na politica de distribuição de lucros e dividendos, com a finalidade de otimizar as decisões de investimentos e viabilidade dos mesmos, julgando possíveis riscos. Os credores, por sua vez, têm interesse na solvência, na liquidez e na lucratividade da empresa. Para tanto, conhecem o fluxo de caixa e a posição financeira com a finalidade de evitar a inadimplência e ter como clientes empresas éticas que honram seus compromissos. Já o governo e suas entidades possuem interesse nas informações contábeis com a finalidade de recolher os devidos impostos e taxas ou de banir as fraudes e sonegações dos contribuintes e punir os que estivem com irregularidades. Até mesmo os clientes demonstram interesse nessas informações, visto que o produto/serviço deverá obter qualidade e preço compatível com a exi- gência destes, e certificação da ética da organização empresarial. A comunidade local também pode ser classificada como um usuário externo, pois, por meio das informações, observará as ofertas regionais de empregos bem como a expansão das atividades comerciais, além de conferir o impedimento de problemas como poluição e congestionamento. 16 Laureate- International Universities Análise das Demonstrações Financeiras A informação contábil é voltada ao usuário desta, portanto podem ser divergentes ou conver- gentes de acordo com os interesses destes. A partir dos atributos da contabilidade gerencial (vin- culadas aos usuários internos) e da contabilidade financeira (vinculadas aos usuários externos), o profissional deve se atentar ao conteúdo das informações uma vez que os usuários externos possuem finalidades distintas. CASO A empresa Venezuela S/A, atuante do ramo de logística, está em fase de expansão e pretende abrir uma filial em cada região do Brasil. Para tanto, foi até o Banco Precisão S/A, visando adquirir um empréstimo bancário em valor que desse para subsidiar as novas implantações. Ao ser consul- tado, o gerente exigiu demonstrativos contábeis para que a aquisição fosse viabilizada. Os de- monstrativos exigidos foram: o Balanço Patrimonial, a Demonstração de Resultado do Exercício, a Demonstração do Fluxo de Caixa, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido e as notas explicativas referentes aos demonstrativos apresentados. A empresa, no entanto, possuía somente o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício. O contador, ao ser questionado, informou ao gestor que essas obrigações eram somente exigidas para as empresas que possuíam capital aberto no mercado, o que não era o caso, mas que a as referidasdemonstrações comple- mentares poderiam ser elaboradas para que a mesma obtivesse o empréstimo almejado. Para que essa análise seja útil aos usuários, é necessário que a informação contábil seja confiá- vel, de forma a refletir a realidade da situação da empresa, ou seja, é preciso que os demonstra- tivos tenham sido elaborados de forma correta e de acordo com os requisitos legais. Aqui, com- preenda que nas grandes empresas, as demonstrações contábeis são conferidas pelos auditores internos ou externos. Já nas pequenas e médias empresas da atualidade, o empresário tem uma preocupação maior em atender ao fisco. Dessa forma, nem sempre a contabilidade efetuada é condizente com a realidade das organizações. Grave bem: a análise das demonstrações contábeis fornece informações de modo a proporcio- nar aos usuários condições para a tomada de decisões, pois poderão comparar o desempenho da empresa com o desempenho de outras do mesmo setor de atividade e avaliar as tendências das operações no decorrer do tempo, permitindo, assim, uma análise econômica e financeira. 17 Síntese No primeiro capítulo da disciplina Análise das Demonstrações Financeiras, você aprendeu sobre as demonstrações contábeis, sua forma de apresentação, seus usuários e suas características qualitativas. De forma resumida, você pôde: • Entender que os demonstrativos contábeis são o reflexo das operações das organizações, onde são expostos os valores referentes às dinâmicas das transações das mesmas, sendo essenciais para que os usuários das informações contábeis possam tomar decisões; • Compreender que o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações para os seus usuários por meio do Balanço patrimonial; • Aprender que as demonstrações contábeis são elaboradas e apresentadas visando atender às necessidades dos usuários das informações contábeis, que podem ser internos ou externos, com interesses financeiros diretos; • Perceber que as demonstrações contábeis possuem características qualitativas que, em conjunto com os princípios, elevam o grau de importância destes demonstrativos. Essas caraterísticas são divididas em fundamentais e de melhoria; • Entender que as características qualitativas determinam a utilidade das informações contidas nas demonstrações contábeis, sendo os atributos que tornam as demonstrações contábeis para os seus usuários; • Compreender que a análise das demonstrações contábeis fornece informações de modo a proporcionar aos usuários condições para a tomada de decisões. Síntese 18 Laureate- International Universities Referências ALBUQUERQUE, Neusa Rachel Costa de; BOYA, Valéria Lobo Archete. A Importância da Demonstração do Valor Adicionado como Instrumento Informativo da Riqueza Gera- da e Distribuída Pelas Organizações: Um Estudo de Caso. Argumentadum, v. 02, p. 01, 2010. Disponível em: <http://sudamerica.edu.br/argumentandum/artigos/argumentandum_ volume_2/A_importancia_da_demonstracao_do_valor_adicionado_como_instrumento_informa- tivo_da_riqueza_gerada_e_distribuida_pelas_organizacoes_um_estudo_de_caso.pdf>. Acesso em: 08 de jun. 2016. 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