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TRAB PROC PENAL EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO DO JUIZ (Salvo Automaticamente)

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO - UNIAN/SP
EXEÇÃO DE SUSPEIÇÃO DO JUIZ
DIREITO PROCESSUAL PENAL II
SÃO PAULO
MARCO/2017
UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO - UNIAN/SP
MEIRE PAMPLONA – RA. 1586966106
Trabalho entregue ao Professor e Dr. Fernando Fávaro, ministrante da disciplina de Direito Processual Penal II, 7ºsemestre na Universidade Anhanguera de São Paulo. Campos Marte
SÃO PAULO
MARÇO/2017
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................04
BREVE CONCEITO......................................................................................................05
CONCLUSÃO................................................................................................................10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................11
PEÇA PROCESSUAL................................................................................................... 12
PESQUISA DE JURISPRUDENCIA............................................................................ 14
INTRODUÇÃO
Exceção de incompetência no processo penal
O presente artigo tem como objetivo o estudo e comparação acerca do tema Exceção de Incompetência no Processo Penal.
Podemos encontrar este tema no Código de Processo Penal, em seus respectivos artigos:
95 - “Poderão ser opostas as exceções de”:
I - incompetência de juízo
108 – “A exceção de incompetência do juízo poderá ser oposta, verbalmente ou por escrito, no prazo de defesa.”
109 – “Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, perseguindo-se na formado artigo anterior.”
Para aprofundar e entender mais sobre o assunto, analisaremos quatro autores distintos e de grande relevância para o processo penal, sendo eles: Fernando da Costa Tourinho Filho, Eugênio Pacelli, Luis Fernando de Moraes Manzano e Júlio Babbrini Mirabete
Observaremos, além da doutrina, como a jurisprudência se posiciona em relação à este assunto e além disto a sua evolução, tendo como base diferentes períodos.
Trata-se de um tema de extrema relevância no mundo atual, e sua utilização deve ser quando necessária, já que o objetivo é ser uma medida de exceção, e não regra. Visamos aqui, além de conceituar este princípio, esclarecer as possibilidades de sua aplicação.
Breve conceito
A exceção de incompetência ocorre, de uma forma simplista, quando o juiz não é competente para julgar determinado processo. Esta competência pode ser absoluta ou relativa.
O artigo 95 do Código de Processo Penal coloca em seu rol de possíveis exceções a serem opostas a incompetência de juízo. O procedimento desta exceção se encontra descrito nos artigos 108 e 109 do mesmo dispositivo e é relevante lembrar que há possibilidade de ser alegado pelas partes ou pelo próprio juiz, de oficio.
Primeiramente vale lembrar que, ao alegar incompetência de juízo, o que está sendo colocado em tela é a incapacidade do órgão julgador de conhecer e processar determinado caso.
Isto se dá quando, as regras atinentes à competência, estabelecidas no título V, a partir do artigo 69 do Código De Processo Penal, são feridas, levando a um julgamento que pode ser inclusive imparcial, prejudicando alguma das Partes envolvidas.
Vejamos a seguir como se posiciona a doutrina à respeito do assunto.
Doutrina
A seguir analisaremos como cada doutrinador esclarece e entende sobre o tema exceção de incompetência.
Como citado anteriormente, os autores colocados em tela serão: Fernando da Costa Tourinho Filho, Eugênio Pacceli, Júlio Babbrini Mirabete e Luis Fernando de Moraes Manzano.
Fernando da Costa Tourinho Filho
Em seu livro “Manual de Processo Penal” Tourinho explica inicialmente que, por se tratar de pressuposto processual, a competência leva à validade ou não de um processo. Por conta disto, quando percebida incompetência do julgador, deverá o processo ser afastado juiz incompetente, sendo isto possível pela exceção.
Em qualquer fase do processo, pode o juiz alegar de oficio a sua incompetência, reconhecendo o motivo que o leve a isto. Deverá remeter o processo ao juiz competente.
As partes, após serem intimadas, podendo inclusive entrar com recurso, conforme artigo 581, II, CPP.
Tourinho aponta que, pode ocorrer também o caso em que o juiz que recebe o processo não se julga competente para tal. Acontecendo isto, os autos serão remetidos para um outro juiz, que entende ter a jurisdição necessária. Ou poderá ainda haver conflito negativo de jurisdição, conforme o artigo 113 CPP.
Quando o juiz que reconhece ser competente aceita o processo, ratificará os atos probatórios praticados pelo juiz anterior e anular os decisórios.
Conforme apontado pelos outros autores aqui estudados, se o juiz se mantiver inerte em relação à alegação de incompetência e a parte entender ser existente este vício, pode e deve, propor a “exceptio incompetentiae”, como nomeia Tourinho. A alegação será feita verbalmente ou por escrito no prazo da defesa, se a incompetência for relativa, ou seja, de foro.
Supondo que a incompetência seja absoluta, ela poderá ser alegada a qualquer tempo durante o curso do processo.
Fazendo o papel de fiscal da lei, ao Ministério Público será determinada a abertura de vista da exceptio incompetentiae e, após os autos serão conclusos ao Juiz.
Tourinho cita o princípio da competência sobre competência que o juiz tem. Neste sentido, caso haja a propositura da exceção e o juiz se julgue competente mesmo assim, ele continuará no feito. Poderá inclusive, dependendo do caso, ser impetrado habeas corpus.
Eugênio Pacceli
Segundo a doutrina de Eugênio Pacceli, em seu livro “Curso de Processo Penal”, a competência relativa é determinada pelas regras infraconstitucionais e, por isso mesmo, é denominada competência territorial. Já a competência absoluta é a do juiz natural, ou seja, tem origem em norma constitucional e por sua vez, poderá ser reconhecida a qualquer momento, mesmo após o trânsito em julgado, como esclarece Pacceli “em função da relevância do interesse público na correta e adequada distribuição da justiça.”
Portanto, quando se tratar de competência absoluta, reconhecida ou não pelo juiz, o processo poderá ser anulado a qualquer tempo.
Ao falar de competência relativa, ou seja, territorial, Pacceli ressalta que, apesar do interesse público ser importante aqui por se tratar de Poder Público, o interesse das partes prevalece. Com essa afirmação diz que “o interesse prevalecente é o das partes envolvidas na disputa judicial, em função de se atribuir a elas, como regra, o ônus da prova de suas alegações (artigo 156CPP).”
Diferentemente do processo civil, o processo penal “tão cioso da necessidade de proteção de seu secular dogma da verdade real, que atribui ao juiz ampla iniciativa probatória, permite que mesmo a incompetência relativa seja reconhecida de ofício e a qualquer tempo”. A explicação para isso ocorrer, segundo Pacceli, é que “se a competência territorial, determinada em razão do lugar, busca atender às preocupações com a qualidade da prova ser produzida, nada mais coerente que permitir a participação do juiz na fixação do foro, dado que ele se reserve a iniciativa probatória e livre a formação de seu convencimento.”
A crítica de Pacceli a respeito do juiz poder a qualquer tempo reconhecer a sua incompetência relativa é a qualidade da jurisdição penal que, segundo ele, deve realizar-se em tempo mais breve possível, desde que respeitadas as garantias constitucionais do acusado. “É preciso, sempre que possível, evitar-se a repetição e o não aproveitamento de atividade jurisdicional já realizada, o que resta irremediavelmente comprometido com a possibilidade de reconhecimento de incompetência após a realização da instrução criminal.”
O artigo 399, parágrafo 2, do CPP diz sobre a identidade física do juiz, ou seja, “o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença” e Pacceliafirma ser “muitíssimo bem vinda a inserção expressa do princípio”, pois impõem um limite ao reconhecimento ao da incompetência relativa pelo juiz. Assim essa questão estará resolvida até no máximo a fase de instrução.
Por fim, de acordo com artigo 581, III, CPP, caberá recurso no sentido estrito se reconhecida a incompetência.
Se recusada a exceção, “a regra é o não cabimento de qualquer recurso nominado, isto é, previsto em lei.” E Pacceli finaliza dizendo que nesse caso caberia o Habeas Corpus, com fundamento no artigo 648, II, do CPP.
Luis Fernando de Moraes Manzano
De acordo com Manzano, eu seu livro "Curso de Processo Penal", a exceção de incompetência é considerada dilatória, ou seja, ela dilata, estende, alonga a relação jurídico-processual, sem extirpá-la. Deixa claro que existem as exceções peremptórias (aquela que extingue o processo sem resolução do mérito) e critica o artigo 95 do CPP ao dizer que o legislador “não apenas aglutinou as exceções dilatórias e peremptórias, como também deixou de relacionar todas elas, dizendo menos do que queria, pelo que cumpre dar interpretação extensiva ao dispositivo legal.”
Manzano cita as conseqüências da procedência da exceção e começa com o artigo 108, parágrafo primeiro, que “o feito será remetido ao juízo competente, onde ratificados os atos anteriores, o processo prosseguirá.”
Manzano trata das diferenças entre as exceções no processo civil e no penal. Cita como divergências principais que ocorrem no processo civil e não no âmbito penal, a suspensão do processo quando imposta alguma exceção e a declaração de ofício do juiz quando há alguma exceção de incompetência relativa.
Júlio Babbrini Mirabete
Para Mirabete, a Incompetência em juízo é conseqüência da não observação dos preceitos determinantes da competência e, logo, a falta de jurisdição do juiz para o caso.
No primeiro momento, acredita Mirabete, que cabe ao próprio juiz, julgar a sua competência, declinando o feito se assim entender devido. Assim, deve remeter os autos ao juiz que supõe ter competência para o processamento de tal ato.
Se, não ocorrer este procedimento inicialmente, caberá então a exceção de incompetência, também chamada por Mirabete e outros doutrinadores de “declinatória fori”, tema aqui tratado.
Apesar do Código levar a crer que somente o acusado pode propor esta exceção no prazo definido, Mirabete defende que, a doutrina é pacífica ao entender que, mesmo durante o curso do processo o Ministério Público pode reconhecer a incompetência e oferecer a declaratória fori.
Temos competência relativa e absoluta. Relativa é, por exemplo, aquela em razão do lugar, e sendo assim sua relevância é secundária. Neste sentido, no caso da sua inobservância não levará a nulidade do processo.
Uma vez oferecida a exceção não há suspensão do processo. Caso a alegação seja deferida, os autos serão remetidos ao juízo competentes aonde o processo prosseguirá.
No entanto, se for recusada, o juiz inicial continuará no caso, não cabendo recurso. O processo continuará, mas os atos anteriores, se probatórios, deverão ser ratificados, confirmando a sua validade. Já atos decisórios serão refeitos.
Apesar da ratificação, caberá ao juiz decidir se haverá necessidade de repetição do interrogatório de testemunhas e do ofendido.
Conclusão
Este artigo é de grande importância, pois ajuda na compreensão, sobre vários pontos de vista, de diferentes autores, como cada um enxerga a exceção de incompetência no processo penal. Além disso, a pesquisa de jurisprudência é de grande relevância para o entendimento do assunto na prática, que muitas vezes diverge de como é tratado na teoria.
Dos autores analisados, todos explicam de uma forma muito didática a diferença entre a competência relativa e absoluta, o procedimento para a incompetência ser proposta e até mesmo as diferenças existentes entre a exceção de incompetência no processo civil e no processo penal.
Pode-se notar que a exceção de incompetência no processo penal é, de certa forma, menos formal que a do processo civil, levando em conta que para a primeira o juiz pode agir de ofício. Também no processo penal, se houver exceção de incompetência o processo não será suspenso, o que não ocorre no processo civil.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICAS
Site: https://leticiaaidar.jusbrasil.com.br/artigos/390844559/excecao-de-incompetencia-no-processo-penal
EDILSON MOUGENOT BONFIM, Código de processo penal anotado, 3ª Edição, Ed. Saraiva, p. 270
Site:https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/411982982/apelacao-apl-38806420138260577-sp-0003880-6420138260577/inteiro-teor-411983001
Peça Processual
Exmo. Sr.Dr Juiz de Direito da Vara Criminal do cidade de São Paulo - SP
Proc. n.º XXXX.XXXXXXXXXX
VALDECIR COSTA DE MELO, Motorista, residente e domiciliado na Rua, XXXXXX, nº XX – São Paulo e CPF XXX.XXX.XXX -XX, por seu advogado infra-assinado, DR SIDNEI DE OLIVEIRA OAB. XXX.XXX com escritório a Rua XXXXXXXXX, nº XXX, nesta cidade, onde recebe intimações e avisos, vêm a presença de V.Exa., requerer com amparo no art. 95 do Código de Processo Penal, a presente EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO, em vista das seguintes razões de fato e direito:
1. O suplicante figura como réu na ação de Suspeição do Processo que por esse MM. Juízo lhe move
2. Inobstante o demonstrado brilhantismo de V.Exa., ilustre magistrado, o que se afirma por sua inteligência, cultura e honestidade, teve o suplicante conhecimento que V.Exa., é amigo íntimo do autor da presente ação, sendo também, seu padrinho de casamento.
3. A imparcialidade do juiz é uma garantia dada às partes litigantes, razão pela qual, há permissibilidade de ser argüida a suspeição contra o juiz da causa, uma vez evidente qualquer dos motivos estabelecidos no art.95 do Código de Processo Penal e seus incisos. Na eventualidade de ocorrer qualquer desses motivos, o juiz tornar-se-á suspeito para funcionar no processo.
EDILSON MOUGENOT BONFIM, Código de processo penal anotado, 3ª Edição, Ed. Saraiva, p. 270, ensina que: “O juiz deverá, de ofício, afirmar sua suspeição por escrito, declarando o motivo legal e remetendo imediatamente o processo ao seu substituto, intimadas as partes”.
O fato de V.Exa., ser amigo íntimo e padrinho de casamento do autor, autoriza vossa saída dos autos, para o processo ser julgado por vosso substituto.
4. Quer o suplicante registrar que as presentes considerações estão sendo feitas com todas as vênias, com respeito à V.Exa., pela vossa já alegada idoneidade moral, mas estão sendo feitas na preservação do direito do suplicante, em seu sagrado direito de defesa.
Assim, evitando-se aborrecimentos e consequências indesejáveis, é a presente para respeitosamente requerer, se digne V.Exa., reconhecer vossa SUSPEIÇÃO para o presente feito, remetendo-se os autos a vosso ilustre substituto legal.
Por cautela, caso não entenda V.Exa., de acolher o presente pedido, protesta-se por provar o alegado por todos os meios de provas admitidas pelo Direito, impondo-se assim observância ao art. 97 do Código de Processo Penal, com a remessa dos autos ao Tribunal, para decisão, onde com certeza se reconhecerá a suspeição, o que se pede como medida de Direito e de Justiça.
Pede deferimento.
São Paulo, XX de XXXXX de XXXX
Dr Sidnei de Oliveira
OAB: XXX XXX XX
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo
Registro: 2016.0000871813
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0003880-64.2013.8.26.0577, da Comarca de São José dos Campos, em que é apelante VALDECIR VIEIRA DE MELO, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM , em 8ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO ao recurso. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALCIDES MALOSSI JUNIOR (Presidente), CARLOS MONNERAT E MARCO ANTÔNIO COGAN.
São Paulo, 24 de novembro de 2016
ALCIDES MALOSSI JUNIOR
RELATOR
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0003880-64.2013.8.26.0577Apelante: VALDECIR VIEIRA DE MELO (Advogado, Dr. Warley Vieira de Melo OAB/SP nº 219.653 ).
Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo.
Comarca: São José dos Campos.
Magistrado: Exma. Sra. Juíza de Direito Dra. Márcia Faria MatheyLoureiro.
VOTO nº 6502.
PENAL. APELAÇÃO. INCÊNDIO NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA FAMILIAR E DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. NEGADA. MANTIDA COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA VARA DA VIOLÊNCIADOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER. RECURSO DA DEFESA.
Pretendido reconhecimento de incompetência e concessão de sursis processual, com anulação da denúncia. Impossibilidade. Ante a imputação vertente, por incêndio no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher, inviável, em vista da pena mínima prevista e da natureza delito, suspensão condicional do processo. Decisão de reconhecimento e manutenção de competência que não possui recurso previsto em lei. Recurso desprovido. Não deve ser provido o recurso de apelação, ora recebido, excepcionalmente, para se garantir acesso constitucional à Justiça, que visa à anulação do recebimento da denúncia e, principalmente, ao deferimento do sursis processual ao acusado , contra quem se imputa a prática de incêndio no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher. Além da pena mínima prevista para a forma dolosa, muito superior ao limite do artigo 89 da Lei nº 9.099/95, incabível a benesse visada em vista da natureza do delito, em tese, praticado, vez que a Lei nº 11.340/06 claramente segue um viés bastante acautelatório em relação à suposta vítima, coibindo pelo cipoal de medidas legais, uma peculiar proteção cautelar. Na suspeita de crime ligado a esse contexto, incabível o sursis, enquanto instituto despenalizante, ex vi do artigo 41 da antedita Lei nº 11.340/06. Por tais motivos, perfeitamente legal, conforme a legislação processual, o recebimento da denúncia, que resta aqui mantido, e a não concessão do sursis processual.
Negado provimento.
VISTO .
Trata-se de um recurso de “APELAÇÃO
CRIMINAL” , interposto por VALDECIR VIEIRA DE MELO ,
contra decisão que homologou o parecer ministerial contrário
ao deferimento do sursis processual, proferida pelo Juízo da
Vara de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher da
Comarca de São José dos Campos (dos autos não consta certidão de publicação da decisão de fls. 135).
Consta dos autos que o réu Valdemar (qualificado a fls. 40) foi, inicialmente, denunciado por incêndio no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher, porque, em 17 de novembro de 2012 , por volta das 17h30min, em via pública, Rua Jaguari, nº 1525, bairro Vila Dirce, na cidade e Comarca de São José dos Campos, prevalecendo-se das relações domésticas e familiares e com violência contra a mulher, causou incêndio, expondo a perigo a vida e a integridade da vítima, sua ex-mulher, Vivian Maria da Conceição (conforme denúncia, fls. 1i/3i, recebida na data de 30 de maio de 2014 , fls. 84).
Segundo o Ministério Público, Valdecir e Vivian foram casados por dezesseis anos, tendo-se separado dois anos antes dos fatos. O réu , inconformado com o rompimento do liame patrimonial, procurou pela vítima na atual residência desta, pouco antes do horário do crime. Lá chegando, pediu que ela descesse, dizendo que precisar conversar com ela. Vivian aceitou a proposta e, ao sair de casa, entrou no automóvel de Valdecir , que, dando partida, conduziu-o por cerca de duzentos metros, até a Rua Jaguari, nº 1525, Vila Dirce, São José dos Campos. Assim que parou o veículo, Valdecir tornou a inquirir a ex-mulher sobre a possibilidade de reate do relacionamento. A vítima declinou a proposta. Ato contínuo, oincrepado travou-lhe as portas e, munindo-se de um vidro de álcool, despejou o conteúdo no veículo, chegando a espirrar parte do líquido em Vivian, para, em seguida, acender um isqueiro e atear fogo. A ofendida conseguiu sair do veículo antes que o fogo se alastrasse, ao passo queValdecir , atingido pela camisa, chegou a ferir-se, sendo socorrido de modo eficaz por um transeunte, Richard Valerio Isaias.
Instilada pelo medo, Vivian lavrou ocorrência policial (v. B.O. nº 2893/2012, fls. 03/06 aparentemente a denúncia traz erro material, ao apontar, como data dos fatos, 17 de novembro de 2013 , já que a respectiva ocorrência foi lavrada em 22 de novembro de 2012 ), prestando declarações e representando criminalmente contra Valdecir (fls. 07/09), além de receber medidas cautelares protetivas, em conformidade com o artigo 22 da Lei nº 11.340/06 (fls. 10/11). Após ouvir diversas testemunhas não presenciais (fls. 13/16 e fls. 49), além do próprio acusado (fls. 40/41), a autoridade policial relatou o inquérito respectivo (fls. 26/28), conferindo suporte probatório mínimo para o oferecimento da denúncia, que foi recebida. Escorando-se, dentre outros elementos de convicção, no laudo pericial realizado no veículo carbonizado que pertencia ao réu (fls. 86/87), o Ministério Público, que nunca se antecipou em oferecer o sursis processual, manifestou-se claramente pela inviabilidade do benefício em parecer específico (fls. 90/93).
A Defesa, contudo, opôs exceção de
incompetência (fls. 123/127), que foi devidamente
contrarrazoada pelo Ministério Público (fls. 134), nos seguintes
termos:
“Decorrendo da matéria [violência doméstica e familiar contra a mulher], à evidência tal é de caráter absoluto, pelo que não é aplicável a regra da perpetuatio jurisdictionis.
Assim, com a criação e instalação de uma Vara especializada nesta matéria, não há que se falar em incompetência deste Juízo, razão pela qual requeiro seja referido pleito indeferido, prosseguindo-se o feito aos seus ulteriores termos, até mesmo porque não está presente qualquer uma das hipóteses que permita a absolvição sumária do denunciado”.
A autoridade judicial, escorando-se no
parecer de fls. 134, ora parcialmente reproduzido, julgou improcedente a exceção nos seguintes termos (fls. 135):
O acusado arguiu exceção de incompetência do Juízo (fls. 123/127). Alegou que foi denunciado por incêndio culposo e que faz jus aos benefícios da Lei9099/95, até porque é primário, tem boa conduta social e antecedentes favoráveis. O processo não ingressou na competência do Júri, haja vista que o próprio MP, concordou que não houve dolo. Requereu a declaração de nulidade do processo a partir do recebimento da denúncia e a remessa dos autos ao Juizado Especial Criminal local.
O titular da ação penal manifestou-se em contrariedade (fls. 134).
Decido.
A exceção é improcedente.
Não há motivo para decretar a nulidade do processo. O acusado não foi denunciado na forma culposa como afirmou a defesa, mas sim no art. 250 doCódigo Penal, portanto, na forma dolosa.
O que foi reconhecido nos autos é que não houve dolo de matar, o que não obsta o dolo de causar incêndio, expondo a perigo a vida ou a integridade física de outrem, o que é justamente o caso dos autos.
A narrativa da denúncia e dos elementos de informações colhidos na fase policial bem demonstraram (sic) que o acusado praticou os fatos motivado pela negativa da vítima de reatar o relacionamento amoroso que outrora tiveram.
Logo, resta claro tratar-se de crime que se enquadra na Lei 11340/06 que proíbe a aplicação dos institutos despenalizadores da Lei 9099/95.
Anote-se, por derradeiro, que a vida pregressa do acusado e a quantidade de pena, em nada influenciam na marcha processual, no caso em tela.
Com supedâneo no exposto, julgo improcedente a exceção de incompetência arguida pela defesa.
Int.
Em razões de apelo, a Defesa, reiterando os argumentos da própria exceção, clama pelo deferimento do sursis processual, com reconhecimento, nesse passo, da competência do Juizado Especial Criminal por meio da declinatoria fori, e anulação da decisão de recebimento da denúncia (fls. 149/154).
Contrarrazões a fls. 169/172, com parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça pelo desprovimento do recurso de apelação (fls. 174/181).
É o relatório .
O recurso não comporta provimento.
De proêmio, duas questões preliminaresmostram-se necessárias.
Primeiro, as razões recursais, como bem observado pela diligente Serventia, foram oferecidas fora do prazo legal (fls. 165). No entanto, diferentemente do próprio prazo para interposição do recurso, a apresentação serôdia das razões não vulnera o pressuposto objetivo de tempestividade , vez que se caracteriza, na aludida
Apelação nº 0003880-64.2013.8.26.0577 - São José dos Campos - VOTO Nº 6502 – 8/13
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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extemporaneidade, uma simples irregularidade formal que não deve obstar a consecução da garantia constitucional de acesso à Justiça (CR/88, artigo 5º, LV).
Segundo, necessário apontar que, à luz da melhor técnica, não existiria recurso cabível contra decisão que concluiu pela competência do Juízo (não é terminativa, o que autorizaria “apelação”; e nem teria julgado procedente a exceção, o que autorizaria “recurso em sentido estrito”, no rol taxativo do artigo 581 do CPP, no caso, inciso III), sendo que surgiria possível, em tese, apenas o “habeas corpus” (ou uso de Mandado de Segurança, caso não se vislumbrasse ofensa ao direito de ir e vir do interessado), logicamente se a decisão fosse de flagrante ilegalidade, garantindo-se processamento pelo Juízo natural.
De qualquer forma, como se verifica, na verdade, recurso visando, de forma mais contundente, a concessão do benefício de suspensão condicional do processo, que ensejaria, em caso de deferimento, por poder ser entendida como “terminativa”, haja vista colocar fim à relação processual (eventualmente), “apelação”, possível aceitála, também aqui, por analogia favorável e pelo princípio da fungibilidade recursal, além de se tratar de tema controverso com evidente lacuna legal, com vistas a assegurar ao
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acusado a garantia fundamental de acesso à Justiça (artigo 5º, inciso LV, daCR/88), que ora se prestigia.
No mérito, contudo, a decisão impugnada é irretocável e deve ser mantida.
Do libelo vertido na incoativa, restou claro que o apelante foi denunciado por incêndio na modalidade dolosa (artigo 250, caput , c/c artigo 61, inciso II, “f ”, ambos do Código Penal), cuja pena mínima abstratamente prevista, trêsanos de reclusão, é muito superior ao limite de um ano, insculpido no artigo89 da Lei nº 9.099/95.
Evidente o descabimento da benesse visada apenas por essa perspectiva já, dispensando-se, portanto, maiores meandros argumentativos, pois, do contrário, produzir-se-ia decisão judicial contrária à lei.
D' outra banda, igualmente inadequada a suspensão condicional do processo em vista da natureza do delito, em tese, praticado, vez que a Lei nº 11.340/06 claramente segue um viés marcadamente acautelatório em relação à suposta vítima, coibindo pelo cipoal de medidas legais, uma peculiar proteção cautelar.
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Conforme já apontado, na presente fase processual, não há considerações definitivas sobre o mérito. No entanto, havendo suspeita de crime ligado a esse contexto, incabível o sursis, enquanto instituto despenalizante, conforme claramente dispõe o artigo 41 da antedita Lei nº 11.340/06, sob pena de absoluta ineficácia da legislação específica concebida para melhorresguardar a mulher, como potencial vítima de violência doméstica e familiar, de reiterados atos de violência , em suas múltiplas formas, descritas no artigo 7º do diploma legal específico.
Vale observar, no caso concreto, que o dominus litis, titular legítimo e exclusivo da ação penal na atual arquitetura constitucional (CR/88, artigo129, inciso I), não se convenceu de crime doloso contra a vida, ainda que as peças de instrução, sobretudo, as declarações da vítima (fls. 07/09) e a ocorrência policial lavrada pelo atual marido dela (v. B.O. nº 7116/2012, fls. 36/38), além de acenarem a uma possível periculosidade extremada doapelante , com riscos de novas incursões, em tese, delitivas, poderiam até levar a presumir, ao contrário do próprio parecer ministerial de fls. 90/93, pela prática de conduta bem mais grave.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
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De fato, poder-se-ia até mesmo conjecturar pela efetiva prática de crime doloso contra a vida , por homicídio triplamente qualificado : pelo motivo torpe (vingança contra a ex-mulher, recalcitrante em reatar com o réu), pelo emprego de fogo e por recurso que dificultou a defesa da vítima, surpreendida com as chamas repentinas dentro do automóvel em que estava com o ex-marido, sempre com base no artigo 121, § 2º, incisos I, III e IV,ainda que na forma tentada e, até mesmo, seguida de uma tentativa de suicídio pelo apelante .
Todavia, se tais considerações representam uma divagação sobre o mérito, aqui sem qualquer efeito prático, por outro lado, elas incrementam a tônica acautelatória que se estabeleceu em favor da vítima, desde a concessão das medidas cautelares protetivas (fls. 10/11), não comportando lógico o deferimento de sursis no caso, medida que, além de ser de lege ferenda, mitigaria por completo o efeito prático visado por meio das providências supracitadas.
Por tais motivos, perfeitamente legal, conforme a legislação processual específica (artigos 395, 396 e 396-A, todos do Código de Processo Penal), da mesma forma, o recebimento da denúncia, que resta aqui mantido.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
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Em vista do quanto exposto, o apelo não deve prosperar, integrando-se a decisão de fls. 135 como parte integrante do voto, como permite, mutatis mutandis, o artigo 252 do Regimento Interno dessa E. Corte de Justiça.
Do exposto, por meu voto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.
Alcides Malossi Junior
DESEMBARGADOR RELATOR

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