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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA CURSO DE DIREITO CAMPUS GOIÂNIA DIREITO PROCESSUAL PENAL I – TURMA N1 PROF.º SILVIO ARAÚJO DE OLIVEIRA QUESTIONÁRIO Pedro Luiz Pereira de Macedo MATRÍCULA: 600090165 Goiânia – Goiás 2020 Pedro Luiz Pereira de Macedo DENÚNCIA/QUEIXA/AÇÃO PENAL 1 - Quais são os elementos ou requisitos essenciais da denúncia ou queixa? Conforme aduz o Art. 41, do Código de Processo Penal: “Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. 2 - Quais os prazos para o oferecimento da denúncia? Os prazos estão definidos no Art. 46, primeira parte, do Código de Processo Penal, in verbis: “O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado”. 3 - A denúncia poderá ser rejeitada? Quais os motivos legais? Da referida decisão caberá recurso? Sim. A denúncia pode ser rejeitada, conforme aduz o Art. 395, do CPP: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II- faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.” O recurso cabível para combater a rejeição da denúncia ou queixa, como se lê do artigo 581, I, do Código de Processo Penal, é o recurso em sentido estrito. Se for recebido, caberá da parte do réu a impetração de habeas corpus, se for o caso, objetivando trancar o processo. 4 - O Ministério Público poderá aditar a queixa para acrescentar pessoas? Justifique! Há duas correntes doutrinárias que se debruçam sobre o Art. 45, do Código de Processo Penal, que estabelece: “A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo”. Tal debate doutrinário se dá no sentido em que “o Ministério Público não pode aditar a queixa- crime e incluir outro autor” ou “o Ministério Público pode aditar a queixa-crime e incluir outro autor”. A doutrina majoritária se opõe à intervenção do Ministério Público aditando a queixa-crime. 5 - Quais os princípios da ação penal púbica incondicionada? A ação penal pública é aquela cujo titular é o Ministério Público, na figura dos promotores de justiça ou dos Procuradores da República, que exercem seu direito de ação por meio da denúncia (peça inicial da ação penal pública). Pedro Luiz Pereira de Macedo A Ação Penal Pública Incondicionada se conceitua como aquela que não depende da satisfação de nenhuma condição para que o Ministério Público exerça sua titularidade oferecendo a denúncia. Tal modalidade de ação penal pública não depende de representação. Os princípios que regem as Ações Penais Públicas são: Princípio da Oficialidade, Princípio da Indisponibilidade, Princípio da Obrigatoriedade, Princípio da Indivisibilidade e Princípio da Transcendência. 6 - Comente acerca do princípio da (in)divisibilidade da denúncia? O Princípio da Indivisibilidade alude que o Ministério Público deve denunciar todos os envolvidos do crime. 7 – É possível haver retratação da representação? Justifique! Após o oferecimento da denúncia, a representação é irretratável (art. 25 do CPP e art. 102 do CP). Somente é cabível a retratação antes de a denúncia ser oferecida, isto é, antes de ela ser protocolada na Justiça. Quem representou é que pode se retratar. Note que a retratação da representação somente pode acontecer até o oferecimento da denúncia. É até o oferecimento, e não até o recebimento da denúncia. 8 - Quais os princípios da ação penal privada? São quatro os princípios que regem a Ação Penal Privada: o Princípio da Conveniência ou Oportunidade; o Princípio da Disponibilidade; o Princípio da Intranscendência e o Princípio da Indivisibilidade. 9 - O querelante poderá desistir ou abandonar a queixa uma vez proposta? Justifique! O ofendido pode desistir ou abandonar a ação penal privada até o trânsito em julgado da sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção, conforme disposto nos artigos 51 e 60 do Código de Processo Penal: Art. 51 - O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar. [...] Art. 60 - Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar- se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 (trinta) dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no Art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Deve-se recordar que a desistência com a aceitação do ofendido equivale ao perdão. Pedro Luiz Pereira de Macedo Há, porém, ressalvas que devem ser observadas quanto a este princípio, como leciona Vicente Greco Filho: “Não pode, porém, transigir, porque a transação envolveria o próprio jus puniendi, que não é seu, mas do Estado. Aliás o querelante é substituto processual do Estado, porque age em nome próprio sobre direito de terceiro. O querelante tem disponibilidade sobre a ação, não sobre o direito de punir.” Portanto, entende-se que não há a possibilidade de o querelante optar por transacionar o conteúdo da punição ou, após sentença condenatória, desistir de punir o querelado. 10 – Quais os prazos previstos para a ação penal privada exclusiva, ação penal privada personalíssima, ação penal privada subsidiária da pública e ação penal pública condicionada à representação? Via de regra, consoante artigo 103 do Código Penal e artigo 38 do Código de Processo Penal, o prazo decadencial é de 6 (seis) meses, contados da seguinte forma: a) da data em que o ofendido veio a saber quem é o autor do crime (ciência inequívoca da autoria), no caso de ação penal privada e ação penal pública condicionada à representação; b) do dia em que se esgota o prazo para o oferecimento da denúncia, nos demais casos. 11 – Os institutos do perdão e da perempção poderão ser utilizados na ação penal privada subsidiária da pública? Justifique! Perempção é uma previsão penal e processual penal, onde o primeiro está insculpido no Artigo 107, inciso IV e no segundo, está insculpido no Artigo 60. Esta modalidade de extinção de punibilidade é definida como a perda do direito de prosseguir na ação privada, ou seja, a sanção jurídica cominada ao querelante em decorrência de sua inércia ou negligência. E na ação subsidiária, a negligência do querelante não causa a perempção, devendo o Ministério Público retomar a ação como parte principal. Não existe perempção na Ação Penal Pública Incondicionada e Condicionada. Perdão é a manifestação do desinteresse em prosseguir com a ação penal privada. Perdoar significa: desculpar ou absolver e ocorre somente depois de iniciada a ação penal. O instituto do perdão é ato bilateral, exigindo, pois, a concordância do querelado (agressor). Salientando que não comporta perdão na ação penal privada subsidiária da pública, pois o titular, em última análise, é o Ministério Público (art. 29, do CPP). Pedro Luiz Pereira de Macedo 12- Qual o marco inicial para que o contraente enganado ingresse com a queixa-crimena ação penal privada personalíssima? Com a morte do contraente enganado alguém poderá ingressar com a queixa ou substitui-lo? Há somente uma hipótese de ação penal privada personalíssima, que é a do art. 236 do CP (induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento), in verbis: “Art. 236 – Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena – detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único – A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.” Nesse caso, não se admite sucessão processual, isto é, se a vítima falecer, o processo não poderá iniciar ou prosseguir por meio das pessoas mencionadas no art. 31 do CPP. Trata-se de uma interpretação do art. 236, parágrafo único, do Código Penal, que menciona a exigência de “queixa do contraente enganado”. Pedro Luiz Pereira de Macedo COMPETÊNCIA 1 – De que forma está dividida a competência material? No que se refere à competência material, tem-se que esta é a própria divisão dos órgãos jurisdicionais, sabendo que todas as suas funções e atribuições estão dispostas na Constituição Federal de 1988. Vale salientar que os órgãos jurisdicionais de competência militar, eleitoral, trabalhista e o senado federal integram os órgãos jurisdicionais especiais ou Justiça Especial, ao passo que a Justiça Estadual e do Distrito Federal e Territórios são designados à exceção da Justiça Especial. A competência material é delimitada por três componentes básicos, são eles: a) em razão da natureza da relação de direito (“ratione materiae”): ocorre quando um determinado crime ocorre, e, na maioria das vezes, este se encontra previsto em lei, bem como a competência para que ele seja julgado; b) em razão da qualidade da pessoa do réu (“ratione personae”): os Juízes de Direito que se encontram distribuídos em diversas comarcas possuem a incumbência de julgar determinado sujeito por ter cometido determinado delito. Ressalva-se que, determinados indivíduos não podem ser julgados pelo mesmo Tribunal onde todos são julgados, tendo em vista que ocupam algum cargo; c) em razão do território: um delito sempre será conduzido na localidade onde este foi cometido. Caso não se tenha conhecimento de onde o delito ocorreu, este deverá ser julgado no foro do domicílio do réu. 02 - Comente acerca da Súmula 704 do STF. Súmula 704 do STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. A regra geral é de que haja o desmembramento dos processos quando houver corréus sem prerrogativa de foro no STF. A competência penal do STF é de direito estrito, estando prevista taxativamente na CF/88. Logo, não pode ser ampliada indevidamente por normas de direito infraconstitucional, como é o caso dos dispositivos do CPP que tratam sobre a reunião de processos em caso de conexão. Em outras palavras, não se pode ampliar a competência constitucional do STF por força de uma lei ordinária (CPP) que determina o julgamento em conjunto. O STF definiu, no dia 13/02, que a regra geral passa a ser o desmembramento. No entanto, em casos excepcionais, será possível que os demais réus que não têm foro por prerrogativa de função também sejam julgados pelo STF em um único processo. Isso se justifica quando o julgamento em separado puder trazer algum prejuízo relevante à prestação jurisdicional. 03 – Comente acerca da Súmula 721 do STF. ● A Súmula 721 foi convertida em Súmula Vinculante 45. Uma súmula do STF que merece uma explicação adicional é a 721, que cuida do alcance da competência constitucional do Tribunal do Júri, nestes termos: Súmula 721 – “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.” Há muito, o STF entende que a competência do foro especial estabelecido na Constituição Federal prevalece sobre a competência do Tribunal do Júri, no julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Assim, se um governador de Estado praticar um crime doloso contra a vida, será ele julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), e não pelo Tribunal do Júri, haja vista que o governador dispõe de foro especial por prerrogativa de função estabelecido na Constituição Federal (CF, art. 105, I, “a”). Acontece que o STF entende que, além das hipóteses já previstas na Constituição Federal (explícita ou implicitamente), a Constituição Estadual pode outorgar foro especial por prerrogativa de função a autoridades locais, desde que essa medida não implique prejuízo ao exercício das atribuições Pedro Luiz Pereira de Macedo da autoridade. Observe que tal foro especial será estabelecido EXCLUSIVAMENTE na Constituição Estadual (já que não é previsto explicitamente na Constituição Federal, tampouco é decorrente desta, por força da simetria). Ah, quer dizer que a Constituição Estadual pode estabelecer outras hipóteses de foro especial por prerrogativas de função além daquelas previstas na Constituição Federal? Sim, segundo o STF, pode! Porém, nesse caso, tal foro especial estabelecido EXCLUSIVAMENTE na Constituição Estadual NÃO prevalecerá sobre a competência do Tribunal do Júri, isto é, se uma autoridade detentora de foro especial estabelecido EXCLUSIVAMENTE na Constituição Estadual praticar um crime doloso contra a vida, será ela julgada pelo Tribunal do Júri, e não pelo foro especial. É exatamente isto que reza a transcrita Súmula 721 do STF. 04 – Qual a teoria adotada pelo C.P.P em relação ao lugar da infração para crimes praticados dentro do território brasileiro? E entre países diferentes? A Teoria Mista ou da Ubiquidade é adotada pelo Código Penal Brasileiro, de acordo com o Art. 6º: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.” Por considerar tanto o local da conduta como o local do resultado, essa teoria consegue solucionar o problema dos crimes à distância e também os conflitos de Direitos Penal Internacional, fazendo com que o Direito Brasileiro tome a frente de questões que apesar de serem começadas ou terminadas em outros países, sejam resolvidas e decididas de acordo com as normas do nosso país. De acordo com essa teoria, uma pessoa que estão em Madri, mas tem a animus novandi (intenção de matar) uma vítima que reside no Brasil. Dessa forma, ele envia de Madri uma carta-bomba ao destino. Assim, ao chegar ao Brasil, a vítima recebe a carta-bomba e, ao abri-la, detona o seu mecanismo de funcionamento, explodindo a bomba, provocando a morte da vítima. Portanto, mesmo estando em Madri, o agente da ação poderá responder pelo seu dolo. Isso se não houver convenções, tratados e regras internacionais que o Brasil seja signatário, deixando de aplicar sua lei penal. 05 – Para os crimes dolosos contra a vida qual a teoria adotada? O crime em sua forma dolosa está previsto no Código Penal com a seguinte redação: Art. 18 - Diz-se o crime: I - Doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; Dessa maneira, segundo o Código, há crime doloso quando o agente quer o resultado (dolo direto) ou quando assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). Portanto, na hipótese do dolo direto, o legislador adotou a teoria da vontade e, no dolo eventual, a teoria adotada é a do assentimento. 06 – Qual o primeiro critério adotado pelo CPP para determinar a competência? O Código de Processo Penal (CPP), discrimina nos incisos de seu artigo 69 os critérios para fixação de competência,sendo eles: I – o lugar da infração; II – o domicílio ou residência do réu; III – a natureza da infração; IV – a distribuição; V – a conexão ou a continência; VI – a prevenção e a VII – prerrogativa de função. Portanto, o primeiro critério a ser adotada é o lugar da infração. Pedro Luiz Pereira de Macedo 07 – De que forma está dividida a conexão intersubjetiva? De acordo com a doutrina, a conexão se divide em três espécies: a) intersubjetiva; b) objetiva e c) instrumental. Fala-se em conexão intersubjetiva quando houver necessariamente vários crimes e vários agentes, pouco importando se esses se uniram em concurso, reciprocidade ou simultaneidade. a) Conexão intersubjetiva por concurso: duas ou mais infrações penais praticadas por várias pessoas em concurso; b) Conexão intersubjetiva por reciprocidade: duas ou mais infrações penais cometidas por duas ou mais pessoas, umas contra as outras; c) Conexão intersubjetiva por simultaneidade: duas ou mais infrações penais praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, sem qualquer ajusto prévio, sem uma saber da outra. Falas-se em conexão intersubjetiva ocasional. 08 – Um crime de roubo praticado por duas pessoas – existe conexão ou continência? Qual? Justifique! Por tratar-se de um mesmo crime (neste caso, o crime de roubo, Art. 157, do CP), existe continência. Verifica-se a competência por continência no artigo 77 do Código de Processo Penal que estabelece a ocorrência desta quando houver concurso de pessoas acusadas pela prática do mesmo crime, ou nos casos de crime continuado, aberratio ictus e concurso formal, razão pela qual o julgamento deve ocorrer em um único processo. É a chamada vis atractiva. Veja-se: Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I - Duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; II - No caso de infração cometida nas condições previstas nos artigos 70, 73 e 74 do Código Penal. 09 - Quando houver conexão ou continência entre crimes do Tribunal do Júri e a jurisdição comum, qual deles prevalecerá? O foro prevalente (art. 78, CPP) ocorre quando houver competência do júri e do foro comum, vai tudo para o júri e informa que quem julga é o juiz da comarca em que ocorreu a infração mais grave. Se ambas forem de igual gravidade (ex. Furto e furto), julga e o juiz da comarca com mais crimes é quem julga. Se tiver a mesma gravidade e o mesmo número de crimes, escolhe o juiz por prevenção. Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: I - No concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; Il - No concurso de jurisdições da mesma categoria: Pedro Luiz Pereira de Macedo a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; III - No concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; IV - No concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. 10 – Em quais situações haverá a separação obrigatória dos processos? São hipóteses de separação obrigatória de processos: a) Concurso entre a jurisdição comum e a militar; b) Concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores; c) Doença mental superveniente à prática delituosa; d) Citação por edital de um dos corréus, seguida de seu não-comparecimento e não-constituição de defensor; e) Recusas peremptórias no júri. OBS: Com a Lei nº 11.689/08, que alterou o procedimento do júri, a hipótese de separação obrigatória de processos na ausência de intimação da pronúncia ou de não-comparecimento do acusado à sessão de julgamento do júri, em se tratando de crime inafiançável, deixou de existir. Pedro Luiz Pereira de Macedo PROVA NO PROCESSO PENAL 01 – O que significa ônus da prova? A palavra ônus, segundo o dicionário, significa encargo. Ônus da prova, portanto, é o encargo de trazer elementos capazes de certificar uma situação. Ou seja, de comprová-la. No entanto, não pode ser confundido com dever, porquanto o dever implica em um direito de outrem. Assim, uma relação é caracterizada pela existência de um dever de uma parte em contraposição ao direito de outra. Enquanto o descumprimento de um dever implica em uma sanção e interfere no direito de outros, o descumprimento do ônus desfavorece a própria parte. Isto porque significa o encargo que ela possui em prol do alcance de um interesse. Desse modo, no Direito, o indivíduo que possui o ônus da prova está incumbido do dever de comprovar o seu interesse e os fatos que o favorecem em um processo. A princípio, aquele que afirma tem dever de sustentar suas alegações. Ou seja, de reforçar sua tese com as provas necessárias. O art. 319, Novo CPC, por exemplo, já indica, em seu indico VI, que a petição inicial deverá ser instruída das provas que demonstrem a verdade dos fatos alegados pelo autor. No entanto, como se observará, existem exceções à regra. Há casos, então, em que a veracidade das alegações é presumida. E, portanto, cabe ao demandado apresentar prova em contrário, no que se conhece por inversão do ônus da prova. 02 – Defina meio de prova. Meio de prova é tudo aquilo que liga a fonte de prova ao processo judicial, isto é, o meio funciona como uma ponte, ao passo de trabalhar como um conector entre as provas e processo judicial, quais sejam: meio de prova documental, meio de prova pericial, meio de testemunhal etc. 03 - Quais os fatos que não necessitam ser provados? Prova é todo elemento pelo qual se procura mostrar a existência e a veracidade de um fato. Sua finalidade, no processo, é influenciar no convencimento do julgador. No processo penal, somente no que diz respeito ao estado de pessoa é que se observará a restrição à prova, imposta pela lei civil (art. 155, CPP), no mais, tem-se plena liberdade para a sua produção, principalmente pela necessidade da busca da verdade real. Alguns fatos independem de prova, isto é, não necessitam ser provados. São eles: a) fatos axiomáticos ou intuitivos: aqueles que são evidentes. Se o fato é evidente, se a convicção já está formada, não necessita de prova. Exemplo: um ciclista atropelado por um caminhão e tem o corpo dilacerado. O exame cadavérico interno é dispensado para provar a morte, pois sua causa é evidente, nos termos do parágrafo único do art. 162, CPP. b) fatos notórios: são os de conhecimento geral, a “verdade sabida”. Exemplo: não é necessário provar que no dia 7 de setembro comemora-se a Independência do Brasil. c) presunções legais: conclusões decorrentes da própria lei. Exemplo: menor de 18 anos é inimputável. d) fatos inúteis: são os que não influenciam na decisão da causa. Exemplo: saber a cor preferida da testemunha. Pedro Luiz Pereira de Macedo O direito em regra independe de prova, segundo o brocardo jura novit curia, ou seja, presume- se que o juiz o conhece. Há exceções, porém, quanto a: a) leis estaduais e municipais; b) normas administrativas; c) costumes; d) leis estrangeiras. Cumpre lembrar que o fato incontroverso (admitido pela outra parte) necessita de prova, pois, como já dito, em nosso Direito Processual Penal vigora o princípio da “verdade real” e não o da “verdade formal”, não devendo o juiz se conformar com a verdade admitida pelas partes. 04 – O que são fatos incontroversos? Torna-se incontroverso o fato quando a parte que tinha o ônus de se manifestar sobre determinada declaração, silencia. Ou seja, é o silêncio da parte que tinha a incumbência denão silenciar que torna o fato incontroverso. Previsto no art. 334, inciso III, do Código de Processo Civil (12), o fato incontroverso pode recair tanto em desfavor do autor como do réu, sempre quando um silenciar quando tinha o ônus de se manifestar quanto à declaração do outro. Embora não esteja previsto em nenhum dispositivo do Código de Processo Civil, o silêncio ganha relevância quando se fala de fatos incontroversos, inclusive sendo considerado um meio de prova. Isso ocorre porque ele é capaz de influenciar e convencer o juiz em suas decisões, tanto quanto qualquer outro tipo de prova.(13)Imaginemos uma situação onde o autor de uma ação refere na sua petição inicial que o réu lhe pagou determinado título após o prazo de vencimento, exigindo, assim, os competentes encargos moratórios. Em contestação, o réu afirma apenas que o valor principal não estaria correto, silenciando quanto ao atraso no pagamento. O fato "pagamento após o vencimento" fica considerado como incontroverso. No entanto, importante esclarecer que, sobre os fatos incontroversos, podem recair provas em contrário. No caso acima exemplificado, na fase de instrução processual poderia sobrevir um ofício do banco, em que se comprovaria nos autos mediante o extrato bancário que, em verdade, o título foi pago no dia do vencimento, prejudicando aquilo que se tinha como incontroverso. Quer-se dizer que o silêncio de quem tinha o ônus de se manifestar gera uma presunção iuris tantum, passível, portanto, de prova em contrário. Muitas vezes questiona-se se, na réplica, o autor tem o ônus de se manifestar em relação aos fatos arrolados pelo réu na sua contestação. Afinal, o silêncio na réplica tornaria incontroversos os fatos deduzidos pelo réu na contestação? Acreditamos que seria de rigor excessivo admitir esta hipótese, pois, em verdade, o autor não tem o ônus de "não silenciar" em réplica; mas, por cautela, prima pelo razoável impugnar na primeira oportunidade as manifestações fáticas trazidas pela contraparte. 05 – O que vem a ser prova emprestada? Para Nelson Nery Jr. prova emprestada é "aquela que, embora produzida em outro processo, se pretende produza efeitos no processo em questão. Sua validade como documento e meio de prova, desde que reconhecida sua existência por sentença transitada em julgado, é admitida pelo sistema brasileiro." Pedro Luiz Pereira de Macedo 06 – Quais os sistemas de apreciação das provas? Qual deles é o vigente no processo penal? São três os principais sistemas probatórios catalogados até então, quais sejam, sistema legal de provas (prova tarifada), sistema da intima convicção e sistema do livre convencimento motivado (persuasão racional). o Brasil adota o sistema do livre convencimento motivado (Art. 155, do CPP), bem como o sistema da íntima convicção (apenas para o júri). Pedro Luiz Pereira de Macedo DO EXAME DO CORPO DE DELITO E CORPO DE DELITO 1 - Diferencie corpo de delito de exame de corpo de delito. Denomina-se materialidade a prova da existência do crime. Para haver condenação, é imprescindível a prova da materialidade e da autoria. Algumas infrações penais deixam vestígios reais, ou seja, rastros que podem ser visualizados (ex.: o cadáver, no crime de homicídio). Por isso, quando o delito deixar esse tipo de vestígio material é indispensável o exame de corpo de delito (art.158, do CPP). Ocorre que há uma confusão gerada na doutrina acerca das denominações, que implicam coisas diversas. Corpo de delito é a materialidade do crime. Exame de corpo de delito é a perícia que se faz para apontar a referida materialidade. Logo, não são sinônimos. 02 – O que significa exame de corpo de delito direto e indireto? Corpo de delito direto e indireto. De forma direta, realiza-se por perícia, a forma científica mais próxima de se atestar a existência ou inexistência de algo (ex.: drogas). De forma indireta, o corpo de delito advém da prova testemunhal (art. 167, CPP). Não é a forma correta e ideal, mas um escape para evitar a impunidade de certos delitos (ex.: testemunhas veem o agente desferir vários tiros na vítima, jogando-a, depois, de um penhasco nas águas do mar, onde desaparece). A possibilidade de atestar a morte de alguém por testemunhas é capaz de gerar erro, mas, conforme o exemplo dado, o percentual é muito baixo. Diante disso, aceita-se o corpo de delito indireto para a condenação. 03 – Quais os requisitos para a realização do exame de corpo de delito? Sabemos que determinados crimes, dada a sua natureza, deixam vestígios materiais (facta permanentes), ao passo que outros, sem resultado naturalístico, não permitem que se constatem vestígios (facta transeuntes). Em relação aos primeiros, por força de expressa disposição do art. 158 do CPP, há necessidade da realização do exame de corpo de delito: “Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.” 04 – A quem caberá a iniciativa do exame de corpo de delito? Quando deverá ser realizada? O exame de corpo de delito diferencia-se de outras periciais porque ele maneja o resultado do crime, enquanto as demais provas técnicas vão dar conta das circunstancias do delito, quer dizer: “Essas são as perícias realizadas para a demonstração de circunstâncias do crime (modo, tempo de execução etc.), que, inclusive, poderão ser úteis na identificação da autoria, como ocorre com o exame de balística, bem como de todos aqueles realizados sobre o instrumento do delito, como a autópsia (art. 162), a perícia realizada no local do crime (em caso de incêndio, por exemplo) e, por fim, com os exames laboratoriais (art. 170)”. Como dito, é um meio de prova elaborado por pessoas com conhecimentos técnicos ou científicos, preferencialmente pelo perito oficial, portador de diploma de curso superior na área, e, na ausência deste, será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, que detenham de diploma de curso superior, com preferência no campo específico ou ligado à natureza do exame (CPP, art. 159, § 1º). A realização do exame de corpo de delito pode ser realizada em qualquer dia e hora (CPP, art. 161), e ser determinado pela Autoridade Policial e pelo juízo a requerimento da acusação, contudo, em que pese detentores de tal poder, nunca podem determinar qual a conclusão que o perito deverá Pedro Luiz Pereira de Macedo chegar, pois, ao exercer a atividade de perito oficial de natureza penal, é assegurado ao expert a autonomia técnica, cientifica a funcional para firmar sua conclusão (Lei nº 12.030/09, art. 2º). 05 – A confissão do acusado supre a necessidade do exame de corpo de delito? Com fundamento no art. 158 do Código de Processo Penal (in verbis: “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.”), inclusive confundindo-se o exame de corpo de delito indireto com a prova testemunhal, esta, a última hipótese. 06 – A prova testemunhal poderá substituir o exame de corpo de direto? Justifique! O art. 167 do CPP é taxativo em prever que a prova testemunhal poderá suprir a falta do exame de corpo de delito por haverem desaparecido os vestígios quando pretendida a prova em tempo. Não se fala em desídia, ou em faculdade, mas apenas em desaparecimento dos vestígios por força maior. Não diz o texto do dispositivo legal “porque demandada em destempo”. Pedro Luiz Pereira de Macedo INTERROGATÓRIO 01 – Qual a natureza jurídica do interrogatório? Acalorada discussão surge acerca da natureza jurídica de tal ato processual: seria um meio de prova ou um meio de defesa? Trata-se de meio de defesa, nalição de Ada, Scarance e Magalhães, para quem “ainda que se quisesse ver o interrogatório como meio de prova, só o seria em sentido meramente eventual, em face da faculdade de o acusado não responder. A autoridade estatal não pode dispor dele, mas deve respeitar sua liberdade no sentido de defender-se como entender melhor, falando ou calando-se. O direito ao silêncio é o selo que garante o enfoque do interrogatório como meio de defesa e que assegura a liberdade de consciência ao acusado”. 02 – Quais as características do interrogatório? Apontam-se algumas características próprias do interrogatório. Assim, ele é marcado pela publicidade, isto é, tal qual os demais atos judiciais, ele é público, realizado de portas abertas, ressalvada a exceção tratada no § 1º, do art. 792, do Código. É também um ato personalíssimo, na medida em que somente o próprio réu pode a ele submeter-se, vedada, assim, a possibilidade de sua realização através de representação. A oralidade é outra característica do interrogatório. Consiste o interrogatório no único ato processual no qual o réu pode, de viva voz, dar ao juiz sua explicação para os fatos que se lhe imputam. O interrogatório ainda se caracterizava pela judicialidade, pois não admitia o contraditório, cabendo somente ao juiz dele participar, com a formulação de perguntas ao acusado. Saliente-se, porém, que a atual redação do art. 188 autoriza que as partes intervenham no ato, a fim de que algum fato seja esclarecido. Não há mais que se falar, portanto, em judicialidade, afastada quer pela possibilidade de participação das partes, quer porque obrigatória a presença delas ao ato. 03 - Qual a consequência da ausência do interrogatório? O não acatamento dos pressupostos elencados nos Art. 185 a 196, ferirá o princípio da ampla defesa, direito constitucional assegurado. Ausência de interrogatório no curso da ação: há dois posicionamentos, a nulidade relativa e a nulidade absoluta. Este último é prevalecente, pois que viola a ordem constitucional da ampla defesa. 04– Qual o conteúdo do interrogatório? Conteúdo: O interrogatório será constituído por duas partes (art.187, CPP): I - Versará sobre a pessoa do acusado (interrogatório de classificação); II - Trará questões sobre os fatos apurados (interrogatório de mérito). 05 – Qual o momento processual em que ocorrerá o interrogatório? Sabemos que a persecução criminal se divide em duas fases, a fase de investigação e a fase processual. O interrogatório se dará nessas duas fases da persecução criminal. Em sede de investigação criminal, aquela fase onde será angariando os elementos de convicção que irão respaldar a denúncia/queixa, ou seja, juntar elementos de convicção de materialidade e autoria. juntar provas e suspeito por, supostamente, cometer crime. Ocorrerá o interrogatório do suspeito ou indiciado que será conduzido pela autoridade policial. Já na fase processual teremos o interrogatório do acusado e será conduzido pela autoridade judicial que presidirá a audiência, o juiz. Pedro Luiz Pereira de Macedo Dentro do desenvolvimento do processo o interrogatório do réu ocorrerá, como regra, ao final da instrução, ou seja, após ouvir todos participantes (peritos, vitima, testemunhas, etc.) então, o juiz ouvirá o réu. O réu está na posição passiva, está na retranca, é o sujeito passivo, pois ele precisa saber tudo que está acontecendo no processo e tudo que foi dito pelos outros atores processuais para, então, exercer plenamente seu direito de defesa. Por outro lado, tratando-se do procedimento especial da lei de drogas, lei 11.343/06, e da lei 4898/65, lei do abuso de autoridade, o réu, nesses dois casos, será ouvido primeiro e não ao fim da instrução. Segundo o STJ NÃO trata-se de violação a ampla defesa pois são duas leis especiais e que tem previsão em seu texto, o exato momento em que o réu será ouvido. Esse fato derroga a previsão do Código de Processo Penal que é uma lei geral. O interrogatório também poderá ser realizado, a priori ou novamente, em sede de Tribunal de Justiça. (art. 616, CPP). Pedro Luiz Pereira de Macedo CONFISSÃO 01 – O que vem a ser confissão qualificada? Confissão Qualificada: Confirma o fato que lhes foi atribuído, porém, o réu opõe-se devido a um fato impeditivo ou modificativo, procurando uma excludente de antijuridicidade, culpabilidade ou eximentes de pena. P. ex. O réu confessa ter emitido cheque sem provisão de fundos, porém alegou que a vítima já sabia e que iria descontá-lo posteriormente; 02 – Quais as características da confissão? Com vista à validade da confissão, aponta a doutrina a necessidade da presença de requisitos intrínsecos e de requisitos formais. Como requisitos intrínsecos, destacam-se a verossimilhança, que se traduz como a probabilidade de o fato efetivamente ter ocorrido da forma como confessada pelo réu; a clareza, caracterizada por meio de uma narrativa compreensível e com sentido inequívoco; a persistência, que se revela por meio da repetição dos mesmos aspectos e circunstâncias, sem modificação no relato quanto aos detalhes principais da ação delituosa; e a coincidência entre o relato do confitente e os demais meios de prova angariados ao processo. Por outro lado, como requisitos formais estão a pessoalidade, devendo a confissão ser realizada pelo próprio réu, não se admitindo seja feita por interposta pessoa, como o defensor e o mandatário; o caráter expresso, pois deve ser reduzida a termo; oferecimento perante o juiz competente, qual seja, o que está oficiando no processo criminal; a espontaneidade, impondo-se que seja oferecida sem qualquer coação; e a saúde mental, possibilitando-se o convencimento do juízo de que o relato não está sendo fruto da imaginação ou de alucinações do acusado. Desses requisitos, convém destacar a pessoalidade e a espontaneidade. O primeiro se refere ao caráter personalíssimo da confissão: somente o acusado pode confessar o fato delituoso, sendo vedada a confissão por procuração, fato esse que diferencia da confissão do processo civil. A propósito, confira-se o magistério de TOURINHO FILHO (p. 293): ‘No Processo Civil, admite-se, até a confissão por intermédio de mandatário com poderes especiais, conforme prescreve o art. 349, parágrafo único do CPC. No Processo Penal, isso não é possível, não só porque a confissão, no campo penal, é um ato processual personalíssimo, como também porque há em jogo interesse público e, por isso mesmo, indisponível. Não é possível, pois, confessar por intermédio de procurador, por mais extensos e especiais que sejam os poderes a ele conferidos.’ Já a espontaneidade, que também se confunde com uma característica da confissão, nas palavras de Renato Brasileiro de LIMA, significa que “não pode haver qualquer forma de constrangimento físico e/ou moral para que o acusado confesse a prática do fato delituoso. Aliás (...) constitui crime de tortura constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa” (p. 982). Portanto, para que a confissão seja válida é necessário o preenchimento dos requisitos formais e intrínsecos. Pedro Luiz Pereira de Macedo Além da pessoalidade e da espontaneidade, duas outras características são de extrema relevância na figura da confissão. É a divisibilidade e a retratabilidade, consoante regra do artigo 200 do CPP. A divisibilidade, segundo Edilson Mougenot BONFIM, “traduz-se na possibilidade, fundada na vigência do princípio do livre convencimento motivado, de que o juiz aceite a confissão parcialmente, repudiando, ao mesmo tempo, a parte que reputar inverossímil” (p. 347). Já a retratabilidade consiste na possibilidade do confessado de se retratar,ou seja, de desdizer a sua afirmação anterior, a qualquer momento. Nesse raciocínio, Norberto AVENA informa que “a retratabilidade quer dizer que se o réu, mesmo confesso em juízo, voltar atrás, caberá ao magistrado confrontar a confissão e a retratação que lhe sucedeu com os demais meios de prova incorporados ao processo, verificando, então, qual delas deve prevalecer. Assim, tal circunstância não significa que uma vez retratada a confissão de um crime, perca ela seu valor como prova. Nada impede, assim, que venha o juiz, a partir de seu livre convencimento, considerar como verdadeira a confissão e falsa a retratação” (p. 493). Ainda sobre esse tema, convém destacar o posicionamento de Aury LOPES JR (p. 647): (...) A questão mais relevante diz respeito à confissão obtida na fase policial e, posteriormente, retratada em juízo. Seguindo a linha de pensamento desenvolvida, somente a confissão feita em juízo poderia ser utilizada no julgamento (junto com as demais provas, é claro). Assim, quando houver confissão na fase pré-processual e retratação na fase processual, não existiu confissão alguma a ser valorada na sentença. Advertimos, contudo, que ainda predomina o entendimento na jurisprudência que o juiz pode formar seu convencimento a partir da confissão feita na fase policial, o que nos parece um absurdo. (...) Assim, pode-se concluir que a confissão tem como características principais, além da pessoalidade e da espontaneidade, a divisibilidade e a retratabilidade. Pedro Luiz Pereira de Macedo PROVA TESTEMUNHAL 01 – Quais as características da prova testemunhal? a) Judicialidade: só é prova testemunhal aquela produzida em juízo. b) Oralidade: deve ser colhida por meio de uma narrativa verbal prestada em contato direto com o magistrado e as partes e seus representantes. c) Objetividade: a testemunha deve depor sobre os fatos sem externar opiniões ou emitir juízo de valor. d) Retrospectividade: a testemunha deverá falar sobre os fatos em que assistiu. e) Imediação: a testemunha deverá dizer em juízo aquilo que captou imediatamente por meio de seus sentidos. f) Individualidade: cada qual prestará seu depoimento isoladamente da outra. 02 – Quais as testemunhas dispensadas de depor? Estão dispensados o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, e os afins em linha reta do acusado. 03 – Quais as testemunhas proibidas de depor? Art. 207, do CPP - São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. “Trata-se de norma ditada por razões de conveniência ou de moralidade. A proteção ao segredo profissional, segundo Tornaghi, decorre do interesse de todos, da necessidade que cada um tem de confiar e de estar seguro de que seu segredo não será revelado, e sua revelação poderá até constituir crime, nos termos do art. 154 do CP”. Função é o encargo que cabe a uma pessoa por força de lei, decisão judicial ou convenção (tutor, curador, diretor de banco ...); Ministério o encargo que pressupõe um estado ou condição individual de fato (padre, irmão de caridade ...); Ofício a ocupação habitual consistente em prestação de serviços manuais (mecânico, eletricista, digitador ...); Profissão é toda e qualquer forma de atividade habitual com fim de lucro (advogado, médico, engenheiro ...)” 04 – O que vem a ser contradita e em qual momento processual deverá ocorrer? “Contradita é impugnação, contestação. Ora, se a contradita ocorre antes da tomada do depoimento da testemunha (RT, 744/518), isto é, antes de o Juiz indagar-lhe sobre o que sabe a respeito dos fatos, é evidente que deve versar sobre o que foi por ela declarado até então. Isto é, a testemunha forneceu a sua identidade, disse não ter parentesco nem com o réu nem com a vítima e prestou o compromisso. Logo, a contradita deve referir-se a esses dados. Poder-se-á alegar sua falsa identidade, seu parentesco ou relação de amizade com qualquer das partes, ou, então, a impossibilidade de depor, por se tratar de pessoa cujo depoimento é proibido, nos termos do art. 207.” Pedro Luiz Pereira de Macedo 05 – Qual o número de testemunhas previsto para os procedimentos comum ordinário e sumário? O número máximo de testemunhas que podem ser arroladas pelas depende do procedimento. • Procedimento ordinário – máximo 8 (oito) • Procedimento sumário – máximo 5 (cinco) • Procedimento sumaríssimo – máximo 3 (três) 06 – O que são testemunhas impróprias? Na lição do emérito jurista, Dr. Luiz Flávio Gomes, a testemunha imprópria, instrumentária ou fedatária é a que "depõe sobre a regularidade de um ato, ou seja, são as testemunhas que confirmam a autenticidade de um ato processual realizado. Depõem, portanto, sobre a regularidade de atos que presenciaram, não sobre os fatos que constituem o objeto principal do julgamento". Cite-se como exemplo, as testemunhas instrumentárias do interrogatório extrajudicial (art. 6º, V, parte final, do CPP), do auto de prisão em flagrante (art. 304, § 2º e 3º, do CPP) entre outras hipóteses. 07 – Qual o momento processual para a oitiva das testemunhas? O art. 414, § 1º, do Código de Processo Civil, dispõe que o momento oportuno para contraditar a testemunha é durante a audiência instrutória, devendo a arguição de incapacidade, impedimento ou suspeição anteceder o seu depoimento. Passada a oportunidade sem a comprovação da contradita pela parte, resta preclusa a questão, não sendo lícito discuti-la em momento processual posterior”. TJERJ, Apelação no Processo 0012744-22.2005.8.19.0204 – Desembargadora Letícia Sardas, 20ª Câmara Cível. Pedro Luiz Pereira de Macedo RESOLUÇÃO DE CASOS CASO I – Um policial civil (estadual) e um policial militar (estadual), em atividade conjunta das duas polícias, cometeram o delito de lesões corporais dolosas e de abuso de autoridade na cidade de Goiânia. Supondo esteja presente uma das situações de conexão previstas no art., 78 do CPP, qual será a justiça e órgão competente para o julgamento dos réus? Seguindo a regra geral, haveria a necessidade de reunião para julgamento simultâneo. Contudo, especificamente no caso de militar, não haverá essa reunião de processos, pois o art. 79, I, faz com que se opere uma cisão processual (Militar e Civil não se misturam). Diante da cisão imposta pelo art. 79, I, o policial militar será julgado na Justiça Militar Estadual pelo delito de lesões corporais (crime militar, praticado por militar em atividade militar) e o policial civil, na Justiça Estadual pelos dois crimes praticados. Mas e o abuso de autoridade praticado pelo militar? Não, esse não é crime militar, logo, não será julgado na Justiça Militar. Pelo crime de abuso de autoridade, o policial militar será julgado na Justiça Comum Estadual (pois não é crime militar) juntamente com o policial civil (união por força da conexão). Incide, no caso, a conjugação das Súmulas ns. 172 e 90 do STJ, que definem: 172. “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.” 90. “Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática de crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo a aquele.” CASO 2 – E se, hipoteticamente, além desses dois delitos (lesões corporais dolosas e abuso de autoridade), na mesma operação policial, esses mesmos agentes cometessem ainda um delito de homicídio doloso contra um civil, como ficaria a situação processual? Partindo da premissa de que os crimes são conexos (art. 78 do CPP) e de que está presente o peculiar interesse militar em relação aos crimes praticados pelo policial militar, a competência para o julgamento ficará assim: Policial Militar:será julgado pelo delito de lesões corporais na Justiça Militar estadual. Mas essa Justiça não tem competência para julgá-lo pelos delitos de abuso de autoridade (pois não é crime militar) e tampouco pelo delito de homicídio doloso praticado contra um civil (pois a Lei n. 9.299, já incorporada à Constituição, determina que os crimes dolosos contra a vida, cometidos por militares contra civis, serão julgados na Justiça Comum, mesmo quando praticados em serviço, com arma militar etc. Sendo praticado por militar contra militar, segue a competência da Justiça Militar). Logo, como fica o processo e julgamento por esses dois delitos (homicídio doloso e abuso de autoridade)? Serão julgados na Justiça Comum estadual, junto com o policial civil, conforme será explicado abaixo. Policial Civil: será julgado na Justiça Comum Estadual, no Tribunal do Júri (a competência do Júri atrai o julgamento de todos os delitos), pelos três crimes (homicídio doloso + lesões corporais dolosas + abuso de autoridade). A reunião dos processos para julgamento simultâneo decorre da conexão (art. 78, I). Juntamente com o policial civil \u2013 também na Justiça Comum Estadual, no Tribunal do Júri \u2013 será julgado o policial militar, pelos delitos de homicídio doloso e abuso de autoridade. O primeiro por imposição constitucional e o segundo por não ser um crime militar. Pedro Luiz Pereira de Macedo CASO 3 – Arnaldo, Sebastião e Alex, previamente ajustados, subtraem em Porto Alegre três veículos com os quais, na cidade gaúcha de Guaíba, cometem um roubo a banco, atingindo na fuga um policial militar que reagiu, causando-lhe a morte. No outro dia, na cidade de São Lourenço, abordam um rapaz e, para subtrair o veículo que ele conduzia, matam-no. Finalmente, semana após, em Camaquã, são presos em cumprimento de mandado de prisão preventiva decretada pelo juiz estadual de São Lourenço (todas as cidades estão no mesmo estado). No momento da prisão, também é lavrado o flagrante pelo porte de 800 g de maconha, comprada com o dinheiro do roubo e destinada a venda. O flagrante é homologado e, dez dias depois, o juiz de direito da comarca de Camaquã recebe a denúncia por tráfico de substância entorpecente. a) – Explique se existe e qual a modalidade de conexão ou continência. b) - Qual a justiça será competente para julgá-lo? c) – Qual será o órgão? d) – Onde (foro) serão julgados? e) – O que deverá fazer o juiz com competência prevalente quando receber a denúncia e verificar a instauração de processo-crime na cidade de Camaquã? a) Existe conexão intersubjetiva concursal, art. 76, I, do CPP, devendo todos os crimes e pessoas ser reunidos para julgamento simultâneo. b) João, Mané e Bráulio serão julgados, por todos os delitos, na Justiça Comum Estadual. Atenção: não é de competência da Justiça Militar Estadual, ainda que um dos crimes tenha sido cometido contra militar, pois a Justiça Militar Estadual nunca julga civis, só militares (art. 125, § 4º, da Constituição). c) Os crimes praticados são: furto (art. 155, do CP), dois latrocínios (art. 157, §§ 1 º e 3º, do CP) e tráfico de substâncias entorpecentes (art. 14 da Lei n. 11. 343, Lei de Drogas). Não há crime de homicídio (Art. 121, do CP), mas sim de latrocínio (roubo impróprio, pois a violência é empregada após a subtração para assegurar a posse ou impunidade), por isso serão julgados pelo Juiz de Direito e não pelo Tribunal do Júri. Se, ao invés de latrocínio, fosse homicídio, a situação se alteraria completamente, sendo todos os fatos e réus julgados no Tribunal do Júri. d) Quanto ao foro, será competente o juiz da comarca de São Lourenço, local da infração mais grave (latrocínio), art. 78, II, “a”, do CPP, e prevento (art. 78, II, “c”, do CPP). Existe um “empate” no critério local da infração mais grave entre São Lourenço e Guaíba. O desempate se dá pela utilização da alínea “c”, ou seja, a prevenção, pois na primeira cidade existe um mandado de prisão expedido pelo juiz. e) Caso o processo tenha sido instaurado em diversas comarcas, o juiz de São Lourenço (competência prevalente), deverá avocar os demais processos, nos termos do art. 82, do CPP.
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