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MEDIÇÃO DE RIGIDEZ TORCIONAL DE CHASSIS AUTOMOTIVO POR MÉTODO NUMÉRICO E EXPERIMENTAL RESUMO No primeiro semestre de 2011, o Laboratório de Engenharia Automotiva da ULBRA propôs aos alunos do curso o desenvolvimento de um veículo elétrico de pequeno porte, para um ocupante, destinado a trafegar em separado das vias urbanas, em ambiente universitário ou empresarial. Com foco em leveza e simplicidade, suspensão, sistema de direção e chassi foram desenvolvidos paralelamente. O chassi do protótipo, objeto de estudo deste trabalho, foi dimensionado com auxílio de programa de análise estrutural. O objetivo é avaliar a exatidão das análises que levaram à geometria final da estrutura, através de comparação com ensaio experimental do chassi real, concluindo assim a fase de projeto. Como propriedade comparativa, se utilizou a rigidez torcional da estrutura, parâmetro de eficiência clássico na avaliação de chassis veiculares. A rigidez foi medida experimentalmente e através de modelo numérico, a partir dos deslocamentos angulares gerados por torques conhecidos. Palavras chave: rigidez torcional, modelagem numérica, comparação entre resultados numéricos e experimentais. ABSTRACT On the first semester of 2011, ULBRA’s Laboratory of Automotive Engineering invited the students of the course to develop a small size electric vehicle, for one occupant, to be driven in separated of urbane roads, inside university environment or industrial complex. With focus in lightness and simplicity, suspension, steering system and chassis were developed in parallel. The prototype’s chassis, this work’s object of study, was dimensioned with help of structural analysis software. To evaluate the exactness of the analyses that led to the final geometry of the structure, through comparison with experimental test of the real chassis, finishes the project faze. Like comparative property, the structure’s torcional stiffness was took, classic efficiency parameter in the evaluation of automotive chassis. The stiffness was measured experimentally and through numerical model, based on angular displacements produced by known torques. Key words: Torcional stiffness, numerical modeling, comparison between numerical and experimental results. 1 INTRODUÇÃO No desenvolvimento de chassis veiculares, a utilização de modelos numéricos para análises de distribuição de tensões e rigidez tem se tornado prática amplamente difundida. Isto se deve a possibilidade de obter resultados que servem de parâmetro durante a fase de projeto, verificando as propriedades da geometria dimensionada e a influência de modificações, com rapidez e baixo custo. Entretanto, é necessária a validação do modelo numérico utilizado através de comparação com propriedades medidas experimentalmente na estrutura real. Na conclusão da etapa de projeto, o grau de concordância entre as propriedades da estrutura real e os resultados numéricos que orientaram seu dimensionamento deve ser avaliado. Neste trabalho, este processo é realizado para o chassis de um veículo automotor de pequeno porte, desenvolvido no Laboratório de Engenharia Automotiva da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). As análises procedidas têm em foco a propriedade de rigidez torcional, verificada a partir dos deslocamentos provocados por aplicação de torques conhecidos ao chassis. 2 OBJETIVOS O objetivo geral desse trabalho é avaliar o grau de concordância entre os resultados das medições de rigidez torcional do chassis real e os resultados obtidos através de modelo numérico. 3 JUSTIFICATIVA O Grupo de Engenharia Mecânica Automotiva da Universidade Luterana do Brasil, visando a construção de conhecimento e desenvolvimento tecnológico no ambiente universitário, desenvolve protótipos automotivos para diferentes aplicações, contemplando a teoria clássica e métodos atuais nas atividades de projeto. As atividades desenvolvidas neste trabalho iniciam os estudos do Grupo referentes à exatidão e aplicabilidade dos programas de modelagem numérica no projeto estrutural automobilístico. Avaliar as propriedades deste método é de fundamental importância para orientar a aplicação da ferramenta em atividades futuras. 4 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO Com o aumento dos padrões de exigência sobre chassis veiculares, referentes a rigidez, leveza e segurança, estas estruturas alcançaram formas construtivas complexas ao tornarem-se mais eficientes. No desenvolvimento de chassis veiculares modernos, os programas de análise estrutural por modelagem numérica são amplamente utilizados. Esta ferramenta não elimina a necessidade dos testes em protótipos, mas reduz custos e acelera a fase de projeto ao gerar protótipos mais eficientes. Para aplicação correta deste método, cabe ao projetista conhecer as características de operação e limitações dos modelos numéricos. A comparação entre medições experimentais e resultados numéricos é a prática adotada na validação das análises estruturais computacionais. Al Hakeem, 1991, aplica a modelagem numérica ao estudo da distribuição de tensões em longarinas de chassis de veículo comercial, solicitadas por carregamentos longitudinais. O autor valida as análises numéricas através de medições experimentais, com extensômetros(strain gages), em chassis de igual geometria sob condições de contorno apropriadas. Ao final são apresentadas sugestões para melhor posicionamento das fixações da suspensão ao chassis, pontos de entrada de carregamentos, segundo análise longitudinal. Castro, 2008, usou segmentos de longarina de estrutura veicular do tipo monobloco, simplificando sua geometria por razões práticas. O autor compara valores de tensão obtidos numericamente e experimentalmente através de extensômetros(strain gages). No processo foram ensaiados segmentos com diferente número de regiões soldadas, verificando a variação do grau de concordância entre resultados experimentais e numéricos. Silva, 2001, analisa distribuição de tensões em chassis de veículo comercial pesado através de modelo numérico, verificando a influência do tipo de elemento finito, utilizado na discretização da estrutura, nos resultados da análise. O autor aplica elementos de viga (unidimensionais), placa (bidimensionais) e sólidos (tridimensionais). Thompson, 1998, desenvolveu uma plataforma para medição de rigidez torcional em chassis da categoria NASCAR e compara valores de rigidez obtidos numericamente e experimentalmente para a estrutura, sob condições de contorno adequadamente reproduzidas no programa de análise estrutural. A fundamentação teórica sobre propriedades mecânicas e solicitações em chassis veiculares foi desenvolvida a partir de Brown (2002), Gillespie (1992) e Milliken (1995). Teoria e estudos referentes à modelagem numérica pelo método de elementos finitos foram desenvolvidos com base em Gamboa (2009), Souza (2003) e os guias Femap Structural (2002) e MSC Nastran (2003). 5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CHASSIS O chassis é o elemento primário do veículo, ele receberá todos os demais componentes e deverá suportar solicitações mecânicas diversas, mantendo suas características geométricas de forma a garantir a segurança dos ocupantes, o fechamento correto de portas e tampas e o funcionamento adequado dos sistemas de suspensão e direção (Milliken, 1995). Devido aos diferentes tipos de carregamento a que um automóvel é submetido durante uso, as propriedades mecânicas de um chassis são definidas por diferentes conceitos de rigidez (Brown, 2002). As solicitações mecânicas básicas em chassis automotivos podem ser classificadas como segue, com referênciaà Figura 1: - Tração e compressão no sentido x, devido a esforços de frenagem e aceleração; - Tração e compressão no sentido y, devidos as forças reativas dos pneus durante curvas, ocorrendo tração nas fixações da suspensão no lado interno e compressão no lado externa à curva, supondo os quatro pneus em contato com a pista; - Flexão em torno de y, durante frenagens e acelerações quando há transferência longitudinal de carregamento, ou ao trafegar sobre obstáculos (lombadas); - Flexão em torno de x, durante curvas, quando a aceleração centrípeta da carroceria provoca transferência lateral de carregamento; - Torção em torno de x, ao percorrer curvas ou trafegar em terreno irregular, por exemplo, sob condição ilustrada na Figura 2. Figura 1 – Sistema de coordenadas fixas do veículo, Gillespie, 1992. Figura 2 – Exemplo de solicitação por torção, Brown, 2002. A Figura 2 retrata exemplo de pista de teste, onde o veículo é submetido a condições extremas para verificar a resistência da carroceria à fadiga. Na avaliação da eficiência de chassis automotivos, adota-se como padrão de referência as propriedades de: - Rigidez à flexão (em torno de y) que relaciona o deslocamento sofrido pela carroceria fixa em uma extremidade e submetida na outra a carga estática simétrica em relação ao plano z-x. - Rigidez à torção (em torno de x) que relaciona o deslocamento angular sofrido pela carroceria fixa em uma extremidade e submetida na outra a um torque puro em torno de seu eixo longitudinal. A finalidade da rigidez torcional é proporcionar uma plataforma rígida para o funcionamento da suspensão. A suspensão de um automóvel oferece resistências à rolagem da carroceria diferentes nos dois eixos. Por conseqüência, as transferências laterais de carga típicas em curvas são diferentes na traseira e na dianteira, o que gera momentos torçores sobre o chassis. Este é o fenômeno dinâmico da torção em estruturas veiculares durante curvas (Milliken, 1995). Na Figura 3, um veículo esportivo percorrendo curva, onde a roda dianteira suspensa torna clara a diferença entre as transferências laterais de carregamento nos dois eixos. A Figura 3 ilustra o fenômeno da solicitação por torção durante curva. Figura 3 – Torção durante curva, www.booklandspeed.com. O chassis adequadamente rígido transfere esforços entre os eixos sem deformar-se significativamente, o que proporciona ao veículo comportamento dinâmico estável e previsível. A rigidez deve ser dimensionada em função das características do veículo, considerando a magnitude das forças agindo sobre este nas condições de uso projetadas. Rigidez extra é interessante, mas torna- se pouco desejável a partir do ponto em que agrega massa desnecessária ao chassis (Milliken, 1995). Na maioria dos casos, a rigidez torcional é especialmente difícil de alcançar, principalmente em veículos que necessitam amplos vãos livres para acomodar passageiros e carga. Desse modo, a relação entre massa e rigidez torcional de um chassi é o fator que determina, de forma simples, a eficiência da estrutura (Brown, 2002). 5.2 MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS O projeto automobilístico moderno atinge elevado nível de complexidade, estando sujeito a rigorosos padrões de confiabilidade, segurança e desempenho. Para estudo das características do projeto, é necessária utilização de modelos matemáticos que simulem a estrutura a ser analisada. Com essa finalidade, o Método de Elementos Finitos tem sido utilizado com sucesso (Al Hakeem, 1991). O Método dos Elementos Finitos, MEF, consiste em uma aproximação numérica para a resolução de equações diferenciais por integração. Tal método é aplicado a partir da divisão de um sistema ou conjunto físico a ser analisado em partes discretas menores (discretização do modelo), denominadas elementos finitos. Na seqüência, as equações diferenciais inerentes ao tipo de análise desenvolvida, correspondentes a cada elemento, são resolvidas a partir de rotinas numéricas. Dessa forma, tem-se a origem do nome deste método numérico (Silva, 2001). Os elementos são conectados através de pontos denominados pontos nodais (nós), mas não somente haverá pontos nodais nas conexões, estes podem existir também dentro dos elementos. O conjunto de elementos finitos e pontos nodais é denominado malha. (Souza, 2003). As variáveis do problema agindo sobre os elementos (força, calor, etc.) são aproximadas por funções lineares de interpolação. O comportamento de cada elemento é determinado por uma relação entre os valores nodais das variáveis e os parâmetros a serem determinados (tensão, deslocamento, temperatura, etc.) (Silva, 2001). Outro fator determinante no comportamento dos elementos finitos é o grau de liberdade dos nós. Os graus de liberdade dos nós correspondem aos possíveis movimentos que estes podem sofrer. A divisão do domínio (sistema estrutural) em estudo em elementos menores soluciona um problema referente à dificuldade de se escolher funções de interpolação que descrevam o comportamento das variáveis do problema ao longo de toda a geometria (Silva, 2001). De modo geral, o aumento do número de elementos ou pontos nodais na discretização de um sistema físico tende a aumentar a exatidão do modelo até um certo ponto, a partir do qual os resultados tendem a valores constantes, independentes de maiores refinamentos da malha. Com o aumento do número de nós ou elementos, o tempo computacional necessário à resolução da análise aumenta exponencialmente (Femap Structural, 2002). 5.3 ELEMENTOS BIDIMENSIONAIS Em análises estruturais através de modelagem numérica, a discretização do domínio em elementos bidimensionais é a prática mais amplamente utilizada. Isto se deve a drástica redução do tempo computacional necessário, decorrente das simplificações de cálculo características desse tipo de elemento (Castro, 2008). Para a análise estrutural aqui discutida, foi utilizado o grupo de elementos bidimensionais CQUAD4 (quadrado) e CTRIA3 (triangular), comumente referidos como elementos de placas e cascas, apresentando um nó por vértice (MD Nastran User´s Guide, 2003). Por motivos de exatidão, recomenda-se a discrertização da estrutura em elementos quadrilaterais. Elementos triangulares são utilizados em transições de malha ou em porções da estrutura onde elementos quadrados não são práticos (MD Nastran User´s Guide, 2003). O cálculo de tensões, deformações e deslocamentos para os elementos bidimensionais baseia-se na teoria da flexão para placas finas, de acordo com as hipóteses de Kirchhoff, a seguir, relacionadas à Figura 4 (Gamboa, 2009): - Placas finas onde a razão entre a espessura e o menor lado é igual ou inferior a 1/20; - A deflexão da superfície média é pequena comparada com a espessura da placa. O declive da superfície defletida é, portanto, muito pequeno; - O plano médio (paralelo a superfície), coincidente com o centróide das secções transversais, permanece sem extensão após a flexão; - Secções planas inicialmente normais à superfície média permanecem planas e normais à superfície após a flexão. Isto indica que as deformações decorrentes das tensões de cisalhamento nos planos xz e yz são desprezíveis. A deflexão da placa está, assim, principalmente associada às deformações de flexão. Conclui-se que a deformação normal 𝜀𝑧 resultante do carregamento transversal pode ser omitida; - A tensão normal ao plano médio, 𝜎𝑧, é pequena comparada com as outras componentes e pode ser desprezada. Figura 4 – Deslocamentos pontuais em placas finas, Gamboa, 2009. As forças, momentos e tensões agindo nos elementos de placa são ilustrados na Figura 5.Figura 5 – Forças, momentos e tensões agindo nos elementos bidimensionais, Nastran User´s Guide, 2003. Onde: Fx, Fy = Forças normais agindo nas faces x e y [N]; Fxy = Esforço cisalhante paralelo ao plano médio [N]; Vx, Vy = Esforços cisalhantes perpendiculares ao plano médio; Mx, My = Momentos fletores nas faces x e y; Mxy = Momento torçor; σx, σy = Tensões normais nas faces x e y; τxy = Tensão de cisalhamento na face xy. A partir do pressuposto nas hipóteses de Kirchhoff, as deformações nos três eixos para os elementos bidimensionais podem ser escritas: 𝜀𝑥 = 𝜕𝑢 𝜕𝑥 ; 𝜀𝑦 = 𝜕𝑣 𝜕𝑦 ; 𝜀𝑧 = 𝜕𝑤 𝜕𝑧 = 0 (1) 𝛾𝑥𝑦 = 𝜕𝑢 𝜕𝑦 + 𝜕𝑣 𝜕𝑥 ; 𝛾𝑥𝑧 = 𝜕𝑤 𝜕𝑥 + 𝜕𝑢 𝜕𝑧 = 0 ; 𝛾𝑦𝑧 = 𝜕𝑤 𝜕𝑦 + 𝜕𝑣 𝜕𝑧 = 0 (2) Integrando as expressões de 𝛾𝑥𝑧 e 𝛾𝑦𝑧 se obtêm: 𝑢 = −𝑧 𝜕𝑤 𝜕𝑥 + 𝑢0(𝑥, 𝑦); 𝑣 = −𝑧 𝜕𝑤 𝜕𝑦 + 𝑣0(𝑥, 𝑦) (3) Onde 𝑢 e 𝑣 são os deslocamentos lineares nas direções x e y, respectivamente, de um determinado ponto a uma distância z do plano médio da placa. Os termos 𝜕𝑤 𝜕𝑥⁄ e 𝜕𝑤 𝜕𝑦⁄ correspondem às curvaturas da placa nos planos xz e yz, definidos pela taxa de variação do deslocamento 𝑤 (na direção de z), ao longo dos eixos x e y. Os termos 𝑢0(𝑥, 𝑦) e 𝑣0(𝑥, 𝑦) representam os valores de 𝑢 e 𝑣 na superfície média. Assim, conforme o terceiro pressuposto de Kirchhoff que indica 𝑢0 e 𝑣0 nulos, as expressões de 𝑢 e 𝑣 são reescritas: 𝑢 = −𝑧 𝜕𝑤 𝜕𝑥 ; 𝑣 = −𝑧 𝜕𝑤 𝜕𝑦 (4) Substituindo nas equações de deformação, se obtêm: 𝜀𝑥 = −𝑧 𝜕2𝑤 𝜕𝑥2 ; 𝜀𝑦 = −𝑧 𝜕2𝑤 𝜕𝑦2 ; 𝛾𝑥𝑦 = −2𝑧 𝜕2𝑤 𝜕𝑥𝜕𝑦 (5) Onde 𝐸 é o módulo de elasticidade longitudinal, 𝜈 é o coeficiente de Poisson e 𝐺 é o módulo de elasticidade transversal do material, dado pela equação: 𝐺 = 𝐸 2(1 + 𝜈) (8) Substituindo 𝜀𝑧 = 𝛾𝑥𝑧 = 𝛾𝑦𝑧 = 0, se obtêm as relações tensão deformação para placas finas: 𝜎𝑥 = 𝐸 1 − 𝜈2 (𝜀𝑥 − 𝜈𝜀𝑦); 𝜎𝑦 = 𝐸 1 − 𝜈2 (𝜀𝑦 − 𝜈𝜀𝑥); 𝜏𝑥𝑦 = 𝐺𝛾𝑥𝑦 (9) Introduzindo as curvaturas das placas, as equações terão a seguinte forma: 𝜎𝑥 = − 𝐸𝑧 1 − 𝜈2 ( 𝜕2𝑤 𝜕𝑥2 + 𝜈 𝜕2𝑤 𝜕𝑦2 ) (10) 𝜎𝑦 = − 𝐸𝑧 1 − 𝜈2 ( 𝜕2𝑤 𝜕𝑦2 + 𝜈 𝜕2𝑤 𝜕𝑥2 ) (11) 𝜏𝑥𝑦 = − 𝐸𝑧 1 − 𝜈 ∙ 𝜕2𝑤 𝜕𝑥𝜕𝑦 (12) As incógnitas dos modelos numéricos são os deslocamentos na estrutura, calculados a partir das condições de contorno do modelo. Através dos deslocamentos nodais, as tensões e deformações em cada elemento são calculadas conforme as equações aqui apresentadas. Deslocamentos, tensões e deformações constituem os principais resultados de saída das análises numéricas pelo método de elementos finitos. 6. O PROTÓTIPO No primeiro semestre de 2011 o Laboratório de Engenharia Automotiva da ULBRA propôs aos alunos do curso o desenvolvimento de um veículo elétrico de pequeno porte, para um ocupante, destinado a trafegar em separado das vias urbanas, em ambiente universitário ou empresarial. Alimentado por bateria automotiva, o peso total do veículo com condutor é estimado em 1500 N e sua velocidade máxima em aproximadamente 30 km/h. Concebido para receber suspensão do tipo “Braço em Balanço” (Swing Arm) na dianteira e “Braço Semi-arrastado” (Semi Trailing Arm) na traseira, o chassis é construído em tubos de aço e apresenta geometria simples. O vão sob o acento aloja a bateria. Na Figura 6, montagem em programa de CAD da proposta de chassis desenvolvida com elementos mecânicos básicos e na Figura 7 o chassis individualmente. Figura 6 – Desenho em CAD do chassis com elementos básicos. Figura 7 – Desenho em CAD do chassis individualmente. Os braços da suspensão dianteira são montados coaxialmente aos tubos do chassis, o que confere melhores propriedades estéticas ao protótipo mas gera a necessidade de um quadro frontal estrutural montado após as balanças e fixo com parafusos. A estrutura real analisada neste trabalho não conta com as esperas para bateria e assoalho visualizadas na Figura 8, para análise computacional será utilizada geometria idêntica ao chassis real. Na Figura 8, o chassis com suspensão dianteira e sistema de direção montados e na Figura 9, o chassis individualmente. Figura 8 – Chassis com suspensão dianteira e sistema de direção montados. Figura 9 – Chassis do protótipo elétrico. Como verificado na Figura 9, o chassis apresenta geometria simples, de forma a manter-se tão leve quanto possível. Os arranjos quadrados formados pelos tubos que se interceptam são pouco favoráveis a rigidez torcional, entretanto, devido às reduzidas dimensões, massa e velocidade do veículo, se prevê que este seja adequadamente rígido às solicitações mecânicas típicas de tráfego. O chassis é construído em tubos de aço AISI 1020 com costura, 32 mm de diâmetro e 2 mm de espessura de parede. As fixações da suspensão traseira são chapas planas com 6,5 mm de espessura e os tubos onde são montadas as balanças da suspensão dianteira tem 24 mm de diâmetro e 1,5 mm de parede. Os tubos constituintes do quadro frontal tem 20 mm de diâmetro e 2 mm de espessura. MÉTODO E RESULTADOS EXPERIMENTAIS A medição da rigidez à torção de um chassis consiste na medição dos deslocamentos angulares (ângulo de torção) da estrutura submetida a um torque puro ao redor de seu eixo longitudinal. (Torque puro é o torque gerado por forças verticais de igual magnitude aplicadas em sentidos opostos nas fixações traseiras e dianteiras da suspensão). Usualmente, o chassis é preso pelas fixações da suspensão traseira e o carregamento ou deslocamento é aplicado às fixações da suspensão dianteira. Portanto, a rigidez torcional da estrutura é medida na porção situada entre as fixações da suspensão. Thompson (1998), ao trabalhar com chassis tubular de carro da categoria NASCAR, desenvolveu uma plataforma para medição de rigidez torcional de chassis que consiste em quatro suportes montados nas fixações da suspensão e parafusados ao chão, dois dos quais com regulagem de altura. No modelo desenvolvido neste trabalho, os suportes são fixos ao chassis através de juntas esféricas, que restringem translação em todas as direções mas mantém rotação livre. Enquanto os suportes traseiros são engastados no chão, os dianteiros tem giro livre ao redor de y. Na Figura 10, esquema da plataforma utilizada por Thompson. Figura 10 – Plataforma para ensaio de torção, Thompson, 1998. No método adotado por Thompson, os suportes dianteiros que possuem regulagem de altura são utilizados para gerar deslocamento da estrutura, e a força de reação produzida é medida por balanças localizadas sob ambos os suportes. O fato de o deslocamento ser controlado nos dois lados garante a aplicação de torção pura e viabiliza a análise de chassis robustos sem necessidade de atuadores hidráulicos, para aplicação de forças elevadas. Para a medição da rigidez torcional do chassis aqui abordado, a estrutura foi montada sobre bancada com as esperas da suspensão traseira fixas por parafusos e a porção dianteira apoiada ao centro sobre cantoneira de aço. A bancada de testes, mesa metálica de estrutura robusta, foi parafusada ao chão, aumentando sua rigidez e minimizando possíveis influências nas medições. Forças verticais de igual magnitude e sentidos opostos foram então aplicadas ao chassis através de cabos de aço e roldana, onde massas semelhantes foram penduradas. Os deslocamentos verticais da estrutura foram medidos através de comparadores, com resolução de centésimo de milímetro, localizados em três posições distintas. Os comparadores foram fixados em estruturas independentesda bancada de teste, a fim de evitar influência de possíveis deslocamentos da bancada nas medições. A bancada de testes, o chassis com torque aplicado e suas fixações traseiras são verificados nas Figuras 11, 12 e 13 respectivamente. Figura11 – Bancada de testes. Figura 124 – Chassis montado sobre bancada com pesos aplicados. Figura 13 – Fixações do chassis à bancada de teste. A utilização de massas como fonte de força para gerar torque é adequada neste caso devido às dimensões reduzidas e flexibilidade do chassis, projetado para solicitações mecânicas pequenas em comparação a veículos mais pesados e velozes. As massas consistem em chapas de chumbo enroladas, penduradas aos cabos de aço através de suportes. Na Figura 14, suporte com diferentes combinações de massas aplicadas. Fixações da suspensão traseira. Apoio central. Roldana. Roldana. Figura 14– Diferentes quantidades de massa para aplicação. Os deslocamentos da estrutura foram medidos em três pontos diferentes, estando dois comparadores localizados na extremidade dianteira e um localizado sobre fixação traseira. O propósito do terceiro comparador é verificar deslocamentos nas fixações do chassis à bancada, possibilitando então subtrair o ângulo de torção traseiro do dianteiro e obter o ângulo de torção real da estrutura. A localização dos comparadores é verificada nas Figuras 15 e 16. Figura 15 – Comparadores dianteiros (C1 e C2). Figura 56 – Comparador traseiro (C3). Os torques gerados pela aplicação de pesos e os deslocamentos angulares do chassis são calculados conforme as equações 13 e 14, respectivamente: 𝑇 = 𝑔(𝑚1 + 𝑚2) ∙ 𝑙 (13) 𝛼 = sin−1 [ (𝑑1 + 𝑑2 2⁄ ) 𝑙𝑑 − 𝑑3 𝑙𝑡 ] (14) Onde: 𝑇 = Torque aplicado ao chassi [Nm]; 𝑔 = Aceleração da gravidade [m/s²]; 𝑚1, 𝑚2 = Massas semelhantes (diferença máxima de 0,3%) penduradas em lados opostos do chassi [kg]; 𝑙𝑑 = Braço de alavanca do centro do chassi até o ponto de aplicação do peso [m]; 𝑙𝑡 = Braço de alavanca do centro do chassi até o ponto de apoio do comparador traseiro [m]. 𝛼 = Deslocamento angular do chassi [º]; 𝑑1, 𝑑2 = Deslocamentos verticais da extremidade dianteira do chassi [m]. 𝑑3 = Deslocamento vertical junto a fixação traseira do chassi [m]. C1 C2 C3 Com 𝑙𝑑 = 0,165 𝑚, 𝑙𝑡 = 0,265 𝑚 e 𝑔 = 9,81 𝑚/𝑠², os torques aplicados, deslocamentos verticais medidos e ângulos de torção calculados são verificados na Tabela 1. Tabela 1 – Torques aplicados, deslocamentos e ângulos de torção medidos. M e d iç ã o Torq ue [Nm] Deslo came nto C1 [mm] (desc enden te) Deslo came nto C2 [mm] (asce ndent e) Deslo came nto C3 [mm] (asce ndent e) Âng ulo de Torç ão Calc ulad o [°] 1 ª 29,8 -0,22 0,21 0,0 0,08 2 ª 57,8 -0,42 0,43 0,01 0,15 3 ª 85,5 -0,66 0,66 0,01 0,23 4 ª 112, 5 -0,90 0,93 0,02 0,32 5 ª 142, 6 -1,15 1,20 0,02 0,40 Com os dados da Tabela 1 foi gerado o gráfico de rigidez torcional do chassis, verificado na Figura 17, com linha de tendência. Figura 17 – Rigidez torcional medida e linha de tendência. A equação resultante da linha de tendência traz a inclinação: 𝛼 = 0,0028 ∙ 𝑇 Que permite calcular a rigidez torcional linear: 𝑘 = ∆𝑇 ∆𝛼 = 𝑇5 − 𝑇1 𝛼5 − 𝛼1 = 1 0,0028 𝑘 ≅ 357 𝑁𝑚/° Na seção seguinte, apresenta-se os deslocamentos e a rigidez torcional obtidos numericamente e comparação com os dados das medições experimentais. 5.4 CONDIÇÕES DE CONTORNO E RESULTADOS NUMÉRICOS Buscando obter resultados com bom nível de exatidão em tempo hábil, com os recursos de hardware disponíveis, o chassis objeto de estudo deste trabalho foi desenhado em programa de CAD como corpo de superfícies com espessura nula. A geometria obtida foi discretizada, através do programa de modelagem numérica, em elementos 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0 50 100 150 Â n g u lo [ °] Torque [Nm] finitos bidimensionais. O desenho CAD é verificado na Figura 18. Figura 186 – Desenho CAD do chassis em superfície. A comparação correta entre os resultados obtidos pelo método experimental e numérico requer que as condições de contorno aplicadas ao modelo numérico reproduzam as condições da medição experimental tão exatamente quanto possível. Também as propriedades geométricas da estrutura devem ser fielmente reproduzidas. Desse modo, baseado nos deslocamentos verificados experimentalmente, o modelo de chassis teve as superfícies das fixações da suspensão traseira engastadas e foi apoiado ao centro do tubo transversal inferior dianteiro. O apoio se da na forma de restrição dos movimentos de translação do ponto mais inferior da seção central do tubo. Na Figura 19, as superfícies engastadas destacadas em amarelo e na Figura 20, o ponto de apoio destacado na mesma cor. Figura 19 – Superfícies engastadas. Figura 20 – Ponto de apoio. As forças foram aplicadas em arestas coincidentes com as regiões de apoio dos cabos de aço no chassis, localizadas a 30 mm de distância do quadro frontal por questões de espaço na medição experimental. As arestas de aplicação das forças são visualizadas na Figura 21, onde a força descendente é aplicada no lado esquerdo e a ascendente no lado direito da figura. Figura 21 – Arestas de aplicação das forças. A partir do diâmetro e comprimento da superfície a ser discretizada, o programa calcula o tamanho mínimo indicado aos elementos constituintes da malha. Quanto menor a razão diâmetro/comprimento, menores deverão ser os elementos constituintes da superfície. Ao atribuir propriedades as superfícies constituintes do chassis, como a espessura das paredes dos tubos, o tamanho indicado aos elementos de cada superfície foi mantido para o primeiro conjunto de análises. As superfícies de fixação da suspensão traseira foram discretizadas em elementos triangulares devido ao fato destes formarem malha mais homogênea. O restante do chassis foi discretizado em elementos de placa quadrados, observando recomendação anteriormente citada. Após o primeiro conjunto de análises, com tamanhos de elemento indicados pelo software, o procedimento foi repetido com a geometria discretizada em elementos quadrados com 4 e 2 mm de aresta. Foi verificada diferença de 1,5% entre os deslocamentos calculados, o que indica independência de malha. Na Figura 22, a malha gerada com elementos de 4 mm e na Figura 23, a malha das fixações da suspensão traseira em detalhe. Figura 22 – Malha do modelo numérico. Figura 23 – Malha nas fixações da suspensão traseira. Para simular contato entre o quadro frontal e os tubos dianteiros do chassis, as arestas das superfícies de contato tiveram seus pontos nodais conectados por elementos unidimensionais indeformáveis, viabilizando a transmissão de esforços entre as estruturas. A mesma estratégia foi aplicada na simulação do contato entre os tubos dianteiros de menor diâmetro, onde se encaixa a suspensão, e os tubos de diâmetro maior do chassis. Na Figura 24, as conexões por elementos unidimensionais indeformáveis, onde estes são visualizados como linhas brancas conectando arestas às superfícies adjacentes. Figura 24 – Conexão por elementos unidimensionais. Partindo do pressuposto de que elementos menores geram resultados mais exatos, os resultados da análise estrutural numérica com elementos de 2 mm de aresta são visualizados na Tabela 2. Os deslocamentos nas fixações traseiras do chassis são nulos devido ao engaste aplicado. Tabela 2 – Torques aplicados, deslocamentos e ângulos obtidos numericamente. Medi ção Torqu e [Nm] Desl oca men to 1 [mm ] Desloc ament o 2 [mm]Ângulo de Torção Calcula do [°] 1ª 29,8 - 0,20 0,20 0,07 2ª 57,8 - 0,39 0,39 0,13 3ª 85,5 - 0,57 0,57 0,20 4ª 112,5 - 0,75 0,75 0,26 5ª 142,6 - 0,95 0,95 0,33 Os dados da Tabela 2 geram o gráfico da rigidez obtida numericamente, verificado na Figura 25. Figura 25 – Rigidez obtida numericamente. Observa-se na Figura 26 o comportamento linear da rigidez torcional do modelo, cuja equação da reta indica: 𝛼 = 0,0023 ∙ 𝑇 Que resulta na rigidez torcional: 𝑘 = 1 0,0023 𝑘 ≅ 435 𝑁𝑚/° Na Figura 28, a sobreposição das curvas de rigidez obtidas experimental e numericamente. Figura 26 - Sobreposição dos resultados numéricos e experimentais. A rigidez obtida a partir do modelo numérico é aproximadamente 22% maior que a rigidez medida experimentalmente. Esta diferença é atribuída às tensões residuais nas regiões soldadas, como as próprias costuras dos tubos, omitidas na 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0 50 100 150 Â n g u lo [ °] Torque [Nm] 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0 50 100 150 Â n g u lo [ °] Torque [Nm] Rigidez Experimental Rigidez Numérica simulação, e também à dificuldade de reproduzir exatamente as condições de contorno do processo experimental, como a parcela de força sustentada pelo eixo da roldana, que não é transmitida ao chassis. Para motivos de dimensionamento estrutural, o grau de concordância verificado entre os valores de rigidez, considerando a rapidez de obtenção dos resultados numéricos e a acessibilidade dos recursos de hardware utilizados, indica adequação razoável do modelo gerado. 6 CONCLUSÃO No projeto automobilístico moderno, os programas de modelagem numérica pelo método de elementos finitos se tornam ferramentas de grande valor por proporcionar resultados rápidos, acelerando as atividades de projeto. Compreendendo as hipóteses sobre as quais o método de elementos finitos se fundamenta, o projetista é capaz de avaliar criticamente os resultados das análises estruturais, verificando a validade de um modelo a partir de comparação com ensaio experimental. Os procedimentos aqui apresentados possibilitaram avaliar o grau de concordância entre a rigidez torcional medida no chassis real e a rigidez obtida numericamente. A diferença de 22% entre os valores de rigidez obtidos é atribuída à componente da força sustentada pela roldana (desconsiderada durante ensaio experimental) e às tensões residuais das regiões soldadas, omitidas na hipótese dos meios contínuos. Os resultados obtidos durante este trabalho indicam a modelagem numérica por elementos bidimensionais como ferramenta de exatidão razoável no dimensionamento estrutural veicular, indicada especialmente na avaliação comparativa entre estruturas diferentes. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL HAKEEM, Ali Hashim. 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