Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fichamento de AEC André Vizzoni 1 de maio de 2018 1 1 Um modelo científico do comportamento O capítulo começa com uma breve história do pensamento e da metodologia científicos. Em seguida, ele discorre sobre o que diferencia a ciência da filosofia. A ciência não é imediatista, pretende ser crítica, procura as possíveis causas de um acontecimento, tenta compreender ou explicar a realidade, lida com conhecimentos que podem ser generalizados de forma válida para outras situações e divulga seus resultados. Além disso, a ciência moderna não se pretende dogmática e, ao divulgar seus resultados, divulga também como se chegou a eles, apresentando o método científico utilizado. Esse método não é apenas o caminho escolhido numa pesquisa, mas, também, os motivos para a escolha desse caminho, em detrimento aos outros. Ou seja, a questão do método é teórica, porque envolve fatores que precedem a aquisição de dados relacionados ao objeto de estudo. A escolha do método científico é um dos elementos presentes na interação entre o pesquisador e o objeto de pesquisa, que é uma relação importantíssima para a ciência, como um todo. Na epistemologia, são três as correntes quer versam sobre essa interação: a empirista, que defende que o conhecimento deve ser produzido a partir da forma como a realidade se apresenta ao cientista; a racionalista, que toma a capacidade humana de pensar, avaliar e estabelecer relações entre determinados elementos como fonte principal do conhecimento; e a interacionista, para a qual os produtos da ciência seriam os resultados das inter-relações que mantemos com a realidade, a partir de nossas práticas sociais. Adicionalmente, a ciência é um produto das condições históricas de que faz parte, e o conhecimento científico altera a vida social, podendo ajudar na constituição de novas formas de vida e de relações interpessoais. E a revolução tecnológica, assim como as industriais, é um exemplo disso. O conceito de falseabilidade também é muito importante, para a ciência, ao definir que o fato de uma teoria não poder ser testada e refutada não é uma prova de sua veracidade. Ao contrário, a testagem de uma teoria deve implicar em condições similares de se poder confirmá-la ou refutá-la. Diz-se que a Psicologia nasceu como ciência com os trabalhos de Wundt, o criador do primeiro laboratório de Psicologia, e que defendia que seu objeto de estudo deveria ser a experiência subjetiva imediata, e que o método científico utilizado deveria ser o introspectivo, para que se pudesse estar os processos elementares da vida mental. O behaviorismo, contudo, defende uma abordagem diferente. Os behavioristas acreditavam que não deveria ser estudada a vida mental de um indivíduo - especialmente numa perspectiva introspectiva -, e, sim, algo observável, o comportamento. Segundo essa doutrina, os estados mentais são construções lógicas, e, por adotar essa postura empirista, o behaviorismo é comumente visto com uma ciência positivista. Todavia, os behavioristasb admitiam a existência de fatos mentais, apenas não os consideravam seus objetos de estudo. De acordo com a ótica behaviorista, a influência cultural é um dos aspectos importantes da interpretação comportamental, e todos os termos mentalistas são traduzidos na linguagem behaviorista. E esse vocabulário mentalista é visto como algo a ser superado, com a divulgação adequada dos resultados científicos. Apesar de ir de encontro a muitas das crenças sobre psicologia da época em que surgiu, o behaviorismo compartilhava muitas outras, o que lhe possibilitou crescer, como corrente teórica. Dessa forma, quando Watson fala sobre comportamento, ele fala de eventos físicos. Além disso, ele se opunha à ideia de que as pessoas são responsáveis por suas ações, e acreditava que o ambiente determinava os comportamentos dos indivíduos, junto com características biológicas que seriam - para ele - universais e semelhantes. 2 Watson é definido, por Skinner, como o criador do behaviorismo metodológico, em contraposição ao behaviorismo de Skinner, que o próprio chamava de radical. O behaviorismo metodológico é definido como uma corrente que se opunha à mentalista, e que defendia que o comportamento devia ser estudado por si mesmo, que o comportamento animal era mais fundamental que o humano - e que o primeiro devia ser estudado também, como uma forma de entender o segundo -, que os dados deviam ser coletados via métodos objetivos, que se devia realizar uma experimentação controlada, que se devia testar hipóteses e que a observação devia ser consensual. Já no behaviorismo radical, falava-se que a auto-observação e a introspecção podem ser úteis - mas questiona a natureza do que é sentido ou observado -, que o mentalismo tirava a atenção dos acontecimentos externos antecedentes que podem explicar o comportamento e que o behaviorismo radical estabelece uma espécie de equilíbrio que o metodológico tinha quebrado, que o radical não insiste numa verdade por consenso e pode considerar os acontecimentos privados, não tratando-os como inovserváveis e, sim, questionando sua natureza e a fidedignidade das observações. 2 Análise experimental do comportamento A análise científica do comportamento começa pelo isolamento das partes simples de um evento complexo. Em seguida, tenta-se compreender melhor cada uma dessas partes, com o auxílio de experimentos. Os experimentos podem ser refeitos, independentemente, por outros analistas, para que seus resultados sejam verificados, e suas conclusões podem ser confrontadas com os dados registrados, para confirmação de sua validade. Dessarte, a análise experimental do comportamento tenta dividir o complexo com- portamento de um sujeito em partes menores. Fala-se das relações que tal comportamento mantém com outros comportamentos - presentes ou passados -, dos efeitos cumulativos de interações passadas, das interações do organismo com o meio, do mundo privado do sujeito, das características da ocasião em que o comportamento ocorre e dos efeitos que as consequências do comportamento terão sobre o mesmo. De forma mais técnica, pode-se afirmar que a análise experimental se baseia na identificação de relações funcionais, na identificação e descrição do efeito comportamental, na busca de relações ordenadas entre variáveis ambientais e a ação de um organismo, na formulação de predições confiáveis baseadas nas descrições dessas relações e na produção controlada de efeitos previsíveis. Quando se fala do que a análise do comportamento estudará, fala-se de eventos, que podem ser classificados de várias formas. As duas classes mais amplas são as de eventos am- bientais (alterações ambientais) e de eventos comportamentais (ações do sujeito estudado). Quanto à sua localização, os eventos podem ser externos ou internos, conforme ocorram dentro ou fora do corpo do indivíduo cujo comportamento está em estudo. Já quanto ao acesso à observação, os eventos podem ser públicos, quando mais de um observador pode ter acesso a eles, ou privados, quando não podem ser observados por outros. Finalmente, quanto à natureza, os eventos podem ser físicos ou sociais. Assim, a função dos eventos sobre o comportamento pode decorrer estritamente de suas características físicas ou pode decorrer de aspectos sociais e culturais envolvidos no evento em questão. A análise funcional do comportamento é feita sobre situações do cotidiano, nas quais o comportamento do sujeito não é analisada via experimentos. Em relação a análises funcionais, podem ser destacadas as seguintes características: 3 • são mais probabilísticas que deterministas. • são transitórias e podem variar com o tempo (por exemplo, as variáveis relacionadas ao início de um problema podem não ser aquelas relacionadas a seu desenvolvimento posterior ou manutenção atual). • são não excludentes, ou seja, a relação entre duas variáveis não impede a relação entre essas e outras variáveis. • podem ser de nível macro (como etnia ou classe social) ou de nível micro (como frequência de criticismo social). • requeremque as variáveis causais sempre precedam o evento causado, e esta é uma condição necessária, mas não suficiente para causalidade. • eventos privados podem entrar na análise funcional em diferentes vias: podem ser o comportamento-alvo, podem ser antecedentes ou podem ser consequentes. • identificar as variáveis que atualmente causam um problema clínico pode ser muito difícil, já que no ambiente natural há muitas outras variáveis que estão correlacionadas com a causa verdadeira. • podem ter limites. Uma importante limitação é que relações funcionais são difíceis de serem comprovadas. E, além de especificar o comportamento-alvo, uma análise funcional adequada deve: • especificar os comportamentos substitutos, ou seja, os comportamentos adaptativos que podem ser efetivos em servir àquela mesma função. • especificar em termos funcionais as consequências que mantêm o comportamento- alvo (podem incluir tanto reforço positivo como negativo). • especificar as contingências que têm falhado em manter a resposta adaptativa (pode ser que a pessoa nunca tenha aprendido comportamento apropriado; que o compor- tamento apropriado tenha uma frágil história de aprendizagem; ou que atualmente haja pouco reforço ou haja punição para a resposta adaptativa). No Brasil, pesquisas com seres humanos devem seguir certas regras, definidas em 1996 - nas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos, via Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde -, além de seguir quaisquer novas resoluções. E o objetivo principal de quem trata da regulação ética desse tipo de pesquisa é garantir a proteção de quatro princípios básicos: 4 • Princípio da não maleficiência - O pesquisador tem o dever de não causar mal e/ou danos ao indivíduo. • Princípio da beneficência - O pesquisador deve contribuir para o bem-estar dos indivíduos, avaliando a utilidade de seus atos, e pesando os riscos e custos. • Princípio do respeito à autonomia - O pesquisador deve atuar no sentido de preservar os direitos fundamentais do homem, principalmente seu direito a ter seus pontos de vista, opiniões e convicções. • Princípio da justiça - O pesquisador tem o dever de dar aos indivíduos garantias de igualdade de direitos e de liberdade de expressão. 3 A realização de experimentos em psicologia No mundo contemporâneo, a realização de experimentos científicos é uma das principais vias de produção de conhecimento, além de ser um processo com objetivos simples e bem definidos: estabelecer relações causais, compreender fenômenos e promover aplicações práticas. Nele, as variáveis estudadas são divididas em três grupos: variáveis dependentes (ou resposta), que são as variáveis de interesse; variáveis independentes (ou explicativas), que são as variáveis manipuladas pelo experimentador; e variáveis estranhas (ou intervenientes), que são as que interferem nos efeitos das independentes sobre as dependentes. Para que se possa estabelecer as relações que explicam esses efeitos, o controle ex- perimental é imprescindível. Deve-se manejar adequadamente as variáveis, e a realização de um experimento é, por isso, um processo complexo. Depois de definir seu objeto de estudo, sua hipótese, etc., o experimentador deve considerar as seguintes etapas - que não de- vem ser compreendidas isoladamente, visto que todas as decisões dele são interdependentes -: • Como o (s) fenômeno (s) em estudo será (ão) medido (s), garantindo a validade e a confiabilidade dessas medidas. • Como as condições experimentais e controle serão arranjadas para permitir compara- ções entre elas (delineamento experimental). • Como os dados (as medidas obtidas) serão analisados. • Que conclusões são possíveis a partir dos resultados. Todo experimento envolve duas condições básicas: condição controle (ou linha de base) e condição experimental. A condição controle é aquela na qual a VI não está presente, e na condição experimental a VI está presente. Por esta razão, é extremamente importante que o experimentador conheça as características, as possibilidades (os pontos fortes) e os limites (os pontos fracos) dos delineamentos experimentais em geral e dos delineamentos experimentais que planeja. 5 • Quantos sujeitos serão utilizados. • Quantas serão as condições (controle e experimental) utilizadas. • Quando, por quanto tempo e em que ordem as condições serão introduzidas. • Quando e quantas vezes as medidas de interesse serão realizadas. Os dois principais tipos de delineamentos experimentais são os de sujeito único - onde os sujeitos são tratados individualmente, e expostos a uma série de condições, enquanto seu desempenho é avaliado, e as interações entre ele e as condições, estudadas - e os entre grupos - onde cada sujeito é exposto a apenas uma das condições do experimento, além de expostos a elas por um mesmo período de tempo, e seu desempenho é agrupado dentro de cada grupo -. Experimentos com animais podem ser usados com o objetivo de adquirir conheci- mentos relacionados a eles, mas, em geral, são usados em situações em que eles servem como modelos simplificados de humanos. Esse segundo tipo de pesquisa biomédica é cons- tantemente criticado, tanto em aspectos morais quanto científicos. Um dos instrumentos de controle dessas pesquisas que mais tem crescido é a comissão de ética no uso de animais. O primeiro comitê institucional do qual se têm notícia foi estabelecido na Uni- versidade de Harvard em 1907, composto por cientistas envolvidos com experimentos em animais. Os pesquisadores pretendiam lidar com a escassez de animais, embora um dos seus membros tenha sugerido que deveria haver alguma forma de controle sobre a vivissecção. Depois disso, comitês passaram a ser um fórum para diversas discussões. Sua atuação só foi formalmente estabelecida nos EUA a partir da década de 80, devido à crescente pressão social. A partir de então, universidades, instituições de pesquisa e relacionadas à produção comercial estabeleceram comitês cujos objetivos podem ser resumidos como sendo o de assegurar que os animais sob a sua supervisão estejam sendo mantidos e utilizados de uma forma humanitária. Já no Brasil, as comissões de ética no uso de animais surgiram na década de 90, sem qualquer cadastro nacional ou forma de regulamentação vigente, no momento. Sniffy Pro - O Rato Virtual é um programa de computador que tem como pro- posta servir de recurso didático aplicado ao ensino introdutório de Análise Experimental do Comportamento, em especial às atividades práticas normalmente desenvolvidas em laboratório de condicionamento operante, as quais empregam ratos como sujeitos e caixas de Skinner como equipamento experimental. No programa vê-se um rato virtual numa caixa operante, com uma barra que será usada para treiná-lo a obter alimentos e água, além de outros estímulos, e ele permite que o pesquisador prepare e execute uma grande variedade de experimentos de condicionamentos clássico e operante, e lhe permite colher e dispor dados de uma maneira que simula o modo como os psicólogos trabalham em seus laboratórios. Em termos de possibilidades apresentadas pelo programa, o Sniffy pode simular os seguintes tipos de aprendizagem: • Aquisição, extinção, recuperação espontânea. 6 • Habituação, condicionamento de primeira e segundas ordens. • Reforço, modelagem, punição. 7 Um modelo científico do comportamento Análise experimental do comportamento A realização de experimentos em psicologia
Compartilhar