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EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DE LIBERDADE -FICHAMENTO

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FICHAMENTO – EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DE LIBERDADE
Em Educação Como Prática de Liberdade, Paulo Freire mostra o processo de alfabetização de adultos de forma precisa e minuciosa, colocando em contexto histórico a sua proposta de aprendizagem e expondo hipóteses políticas e filosóficas.
Francisco Weffort, que escreveu a introdução do livro, destaca as experiências do método aplicado na cidade de Angicos, estado do Rio Grande do Norte no ano de 1962, onde cerca de 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em um tempo recorde de 45 dias.
Entre junho de 1963 e março de 1964, foram desenvolvidos cursos de capacitação de coordenadores em várias capitais brasileiras. No começo do ano de 1964, havia a previsão de instalar 20.000 círculos de cultura, a fim de instruir dois milhões de analfabetos. O golpe militar promulgado em 31 de março de 1964 interrompeu esse trabalho e censurou as mobilizações populares já existentes. Com isso, Freire ficou detido por 70 dias e logo após, exilado.
Weffort compreende e analisa os reflexos do golpe militar nos ambientes educacionais e culturais, os desestruturando-os e rompendo qualquer manifestação democrática cultural. Apesar disso, a essência da obra de Freire permaneceu e transcendeu, marcando o período repressor e as próprias fronteiras educacionais brasileiras.
“Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio. O esforço educativo que desenvolveu o Autor e que pretende expor neste ensaio, ainda que tenha validade em outros espaços e em outro tempo, foi todo marcado pelas condições especiais da sociedade brasileira. Sociedade intensamente cambiante e dramaticamente contraditória.”
 (p. 43)
Durante o exílio, Paulo Freire participou de vários projetos que tinham como objetivo desenvolver os métodos de alfabetização de adultos, e como resultado literário dessas experiências, escreveu algumas obras, entre elas, o livro em questão.
Educação como prática de liberdade está dividido em quatro capítulos:
1. A Sociedade Brasileira em Transição
2. Sociedade Fechada e Inexperiência Democrática
3. Educação “Versus” Massificação
4. Educação e Conscientização
Em A Sociedade Brasileira em Transição, o autor apresenta a sua interpretação sobre as forças políticas que estavam presentes na disputa eleitoral no ano de 1960, esclarecendo pressupostos filosóficos. Ele define como uma filosofia de caráter existencial, porque para ele, existir ultrapassa o viver, porque existir é muito mais do que estar presente no mundo, é estar nele e com ele, é a individualidade. Enquanto dialogar, divergir e transcender são questões exclusivas da existência. Os seres humanos herdam experiencias e as integram as suas condições de vida, e assim, se lança o homem em um domínio exclusivo, o da história e o da cultura.
Freire entende que integrar não significa acomodar, a integração é resultado da capacidade de se ajudar a realidade com o acréscimo da possibilidade de transformação. O homem integrado é um homem Sujeito, e a adaptação é um conceito passivo, que cria, recria e decide a participação do sujeito nas épocas. 
Porém, na visão de Freire, o cotidiano é feito de homens simples, acomodados, esmagados, minimizados e comandados pelo poder dos mitos que as forças sociais de maior poder criam para envolvê-lo. Este homem com medo, teme a prática da convivência e duvida da sua possibilidade, fomentando o “medo da liberdade”.
“A sua grande luta vem sendo, através dos tempos, a de superar os fatores que o fazem acomodado ou ajustado. É a luta por sua humanização, ameaçada constantemente pela opressão que o esmaga, quase sempre até sendo feita – e isso é o mais doloroso – em nome de sua própria libertação.” (p. 51)
Paulo Freire relata que o país vivia uma situação transitória, ou seja, a transição de uma época para outra, e o ponto de partida dessa situação foi uma sociedade fechada e comandada pelo mercado externo. Dessa forma, a população apresentava altos índices de analfabetismo e outras precariedades. Freire avalia esse momento como uma rachadura, as forças que disputavam o poder eram contraditórias e provocaram no brasileiro um ideal que tendia a radicalizar suas opções.
A educação nessa fase transitória era um fazer de extrema importância, pois apenas através de uma pratica educacional ativa, dialógica e voltada para políticas e responsabilidades sociais que chegaríamos a transitividade crítica, que era caracterizada pela interpretação profunda dos problemas sociais, abrindo espaço para a real face da democracia.
Paulo Freire queria que todos os indivíduos acreditassem no homem, cujo o caminho era se humanizar, e não se coisificar.
“Uma das grandes, se não a maior, tragédia do homem moderno, está em que é hoje dominado pela força dos mitos e comandado pela publicidade organizada, ideológica ou não, e por isso vem renunciando cada vez, sem o saber, à sua capacidade de decidir. Vem sendo expulso da órbita das decisões. As tarefas de seu tempo não são captadas pelo homem simples, mas a ele apresentadas por uma ‘elite’ que as interpreta e lhes entrega em forma de receita, de prescrição a ser seguida. E, quando julga que se salva seguindo as prescrições, afoga-se no anonimato nivelador da massificação, sem esperança e sem fé, domesticado e acomodado: já não é sujeito. Rebaixa-se a puro objeto. Coisifica-se.” (p. 51)
No segundo capítulo, Sociedade Fechada e Inexperiência Democrática, o autor busca resgatar a história e as características do Brasil Colônia e Império, deixando claro que nunca existiu participação popular, inclusive na transição para a República. Pois, não é possível compreender as transições e os seus avanços e recuos, e assim como também não é possível entender o seu sentido sem uma visão do passado.
O Brasil surgiu, nasceu e se desenvolveu sem a experiência do diálogo, a dialogicidade exige responsabilidades sociais e políticas dos homens.
Uma das caraterísticas desse período, se não a maior delas, foi o uso exacerbado e repressivo do poder, que se associava a um estado social de submissão. A submissão era imposta como forma de acomodação, e não integração, os homens se acomodaram as repressões que lhe eram impostas. 
A democracia vai além de uma prática política, ela é uma forma de vida, que se caracteriza pela viabilidade da consciência nas ações dos homens. Com raras exceções, a população sempre estava à margem dos acontecimentos.
 “De modo geral, porém, quando o oprimido legitimamente se levanta contra o opressor, em quem identifica a opressão, é a ele que se chama de violento, de bárbaro, de desumano, de frio. É que, entre os incontáveis direitos que se admite a si a consciência dominadora tem mais estes: o de definir a violência. O de caracterizá-la. O de localizá-la. E se este direito lhe assiste, com exclusividade, não será nela mesma que irá encontrar a violência. Não será a si própria que chamará de violenta. Na verdade, a violência do oprimido, ademais de ser mera resposta em que revela intento de recuperar sua humanidade, é, no fundo, ainda, a lição que recebeu do opressor. Com ele, desde cedo, como salienta Fanon, é que o oprimido aprende a torturar. Com uma sutil diferença neste aprendizado – o opressor aprende a torturar, torturando o oprimido. O oprimido, sendo torturado pelo opressor.” (p. 58)
Foi no século XX que o Brasil iniciou grandes desenvolvimentos e avanços. Um deles foi o desenvolvimento da urbanização, o país estava se encontrando com ele mesmo e seu povo, até então, emerso, iniciava sua participação social. Todas essas experiencias estão envolvidas nos embates entre os velhos e novos temas, a superação da falta de experiencia democrática, e uma novidade, a participação. 
“A transitividade crítica por outro lado, a que chegaríamos com uma educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política, se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas. Pela substituição de explicações mágicas por princípios causais. Por procurar testar os ‘achados’ e se dispor sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitosna análise dos problemas e, na sua apreensão, esforçar-se por evitar deformações. Por negar a transferência de responsabilidade. Pela recusa a posições quietistas. Por segurança na argumentação. Pela prática do diálogo e não da polêmica. Pela receptividade ao novo, não apenas porque novo e pela não-recusa ao velho, só porque velho, mas pela aceitação de ambos, enquanto válidos. Por se inclinar sempre a arguições.
Esta posição transitivamente crítica implica num retorno à matriz verdadeira da democracia.” (p. 69)
Em Educação Versus Massificação, o terceiro capítulo, Paulo Freire critica a prática pedagógica tradicional, que era a utilizada nas escolas á época. Ele observa e pontua que para a superação dessa fórmula defasada, precisava se desenvolver a crença na pessoa e sua capacidade de se educar, como um sujeito que está presente na história.
Sua preocupação em encontrar uma resposta dentro do campo da pedagogia para as condições da transição brasileira, ele entendia que o educador poderia contribuir para esse momento seria a de desenvolver uma educação crítica, uma pratica educativa que tentasse fazer a transição de estados, da transitividade ingênua á transitividade crítica. O educador compreendia que seria preciso uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e para a política. A educação que colocasse diálogos constantes entre esses tópicos, pois o desenvolvimento da democracia implicava mudanças.
“O País começava a encontrar-se consigo mesmo. Seu povo emerso iniciava as suas experiências de participação... A superação da inexperiência democrática por uma nova experiência: a da participação, está à espera, ela que se iniciara, da superação também do clima de irracionalidade que vive hoje o Brasil, agravado pela situação internacional.” (p.91)
O autor faz uma ressalva sobre as práticas pedagógicas que resistem à teoria. A educação escolar vigente à época não era teórica, porque faltava a comprovação, a pesquisa e as invenções, ela não era comunicativa, dialógica. Ele enfatiza que quase nada ou nada existe na educação formal que incite no educando o gosto pela pesquisa e pelo pensamento crítico, o que implica no desenvolvimento da consciência “transitivo-crítica”.
Quanto menor o pensamento e desenvolvimento crítico nos educadores, de forma mais rasa e ingênua serão tratados e discutidos os problemas. E esta parecia ser uma das maiores características da educação escolar no Brasil na época da sociedade fechada.
Freire analisa que somente após alguns anos, vem se sentindo a preocupação em identificar as realidades do país em um caráter sistemático. É o clima causado pela transição, pelo racha social. A oportunidade de uma intervenção pedagógica crítica estava posta á mesa e tinha como perspectiva a superação das posições que revelavam descrenças nas práticas educadoras e no seu poder de incentivar discussões e suas consequências no desenvolvimento dos seres.
A democracia e a educação democráticas se fundam na crença no ser humano, e na crença que ele não só pode, mas deve discutir seus problemas, e os de todos que o cerca. Em todos os ambientes que ele transita.
“Estávamos convencidos, e estamos, de que a contribuição a ser trazida pelo educador brasileiro à sua sociedade em ‘partejamento’, ao lado dos economistas, dos sociólogos, como de todos os especialistas voltados para a melhoria dos seus padrões, haveria de ser a de uma educação crítica e criticadora. De uma educação que tentasse a passagem da transitividade crítica, somente como poderíamos, ampliando e alargando a capacidade de captar os desafios do tempo, colocar o homem brasileiro em condições de resistir aos poderes da emocionalidade da própria transição. Armá-lo contra a força dos irracionalismos, de que era presa fácil, na emersão que fazia, em posição transitiva ingênua.” (p. 94)
Em seu quarto e último capítulo, Educação e Conscientização, Paulo Freire explica de forma minuciosa o método de alfabetização de adultos, citando exemplos dessa experiencia no Brasil, considerando-se que o plano elaborado no governo João Goulart (1964), indicava a implementação de cerca de 20 mil Círculos de Cultura em todo território brasileiro. 
O golpe militar que incidiu pouco tempo depois da posse de Goulart, impediu a continuidade da aplicação do método em todo país, porém, mesmo em exilio, Freire estabeleceu trabalhos da mesma natureza em outros países.
Freire mostrou que na década de 1960, no Brasil, o número de crianças em idade escolar, sem participar de ambientes escolares se aproximava-se de 4.000.000, e o de analfabetos, a partir da faixa etária de 14 anos, 16.000.000. Um dado que expunha a gravidade da situação à época.
O autor narra que a equipe que participava acumulava experiências no campo de alfabetização de adultos a mais de 15 anos, os professores deste grupo eram chamados de “coordenadores” e instituíam grupos de debates através de entrevistas que mantinham com eles e que resultava no conhecimento e enumeração dos problemas que os educandos gostariam de debater.
Segundo Freire, os resultados eram surpreendentes, “em uma das experiências, um dos participantes escreveu com segurança : “Eu já estou espantado comigo mesmo”. 
Via-se que ninguém ignora tudo, e ninguém sabe tudo.
Weffort afirmou que a prática pedagógica de Freire, o respeito a liberdade individual dos alunos, que não eram chamados de analfabetos, mas sim de alfabetizandos foi crucial para o sucesso desse método. Ao educador cabe apenas fazer o registro fiel dos alfabetizandos e fazer a seleção de palavras recorrentes, básicas e termos frequentes e relevantes. 
Os dados e os resultados do método de alfabetização e das experiencias que passara, a ser feitas no Brasil e tinha a intenção de se estender e se aprofundar através do Programa Nacional de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura que coordenava até ser extinto pelo regime militar, foram devidamente verificadas.

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