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Letramento Informacional na Biblioteconomia

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LETRAMENTO INFORMACIONAL
1. INTRODUÇÃO :
 O trabalho apresentado aborda o tema letramento informacional, a fim de compreender o papel do bibliotecário no processo educacional decrescendo origem do tema e os principais autores na construção da base teórica voltada nas áreas de biblioteconomia, 
2.1 ORIGEM DO LETRAMENTO INFORMACIONAL 
 O Termo letramento informacional surgiu na década de 70 nos Estados Unidos com o propósito de avaliar a competência necessária para se utilizar as fontes eletrônicas que estavam sendo comercializadas no país. Na ocasião Paul Zurkowsk(1974,citado por DUDZIAK,2001), presidente da information industry Association, apresentou relatório à National Commission on Libraries and Information Science2 no qual defende a necessidade de preparar as pessoas para utilizar adequadamente base de dados visto que o produto haveria de crescer. O Bibliotecário nesse contexto fazia o papel de um administrador cuja função era promover a disseminação do conhecimento através da conexão entre a informação e o usuário
 Na década de 80 houve grande avanço tecnológico no mundo afetando diretamente os sistemas de informação e bibliotecas. Segundo Bernadete Campello:
 Foi na década de 80 que o profissional da área de biblioteconomia apropriou - se do termo em reação ao documento A nation at risk, que ignorava inteiramente a contribuição da biblioteca ao ensino e papel educativo do bibliotecário. Dessa forma utilizando o conceito de letramento informacional com base para argumentações, os praticantes da área iniciaram um movimento de reação, em que tentavam provar sua capacidade de influir no processo de aprendizagem. (CAMPELLO, 2009, p.12)
 Em 1988 a American school librarian em parceria com conjunto com Association for educational communications and techhnology elabora “information Power” que é o programa educacional em bibliotecas para aluno de ensino médio. Esse documento foi muito importante para áreas de biblioteconomia, pois a partir dele que o bibliotecário começa a ser inserido ativamente no processo de aprendizado em cooperação com corpo docente.
Segundo Duzdia (2001), Information Power contém as seguintes diretrizes;
· Acesso à informação em todos os formatos
· Instrução a fim de expandir a habilidade e estimular o interesse pelo e uso da informação e de idéias;
· Cooperação entre bibliotecários e educadores no planejamento de estratégias de aprendizagem, indo ao encontro das necessidades dos estudantes através information power.
Varias publicações foram surgindo e reforçando a importância do bibliotecário nas áreas educativa. Publicações como livro information literacy: revolution in the library escrito por Breivik e Gee e relatório da American Library Association,Presential committe on information Literacy:final Report feito por um grupo de bibliotecários e educadores .
 Nos anos 90 começa a implementação do programa educacional atingindo principalmente as universidades. 
 No Brasil, a teoria letramento informacional foi bem aceita na área da biblioteconomia. Dudzia (2001), afirma em sua tese que os precursores do conceito no Brasil estão entre aqueles bibliotecários que desenvolveram projeto e estudo relacionando a educação de usuário. São citados:
Terezine Arantes Ferraz foi a primeira a organizar um curso referente a educação do usuário em 1955 e Neusa dias de Macedo ministrava em 1972 um curso “A Orientação bibliográfica”.
Apesar das inúmeras pesquisas brasileiras sobre letramento e função do bibliotecário na educação o conceito é pouco praticado nas bibliotecas escola.
3. BASES TEÓRICAS DO LETRAMENTO INFORMACIONAL 
 Um dos pioneiros na fundamentação do letramento informacional foi Jessé Shera(1903-1982,citado por CAMPELLO,2009), o qual era diretor e professor da escola de biblioteconomia na Wester reverve univesity ,no estado americano da Califórnia. Ele entendia o bibliotecário como mediador entre conhecimento e usuário. Defendia a idéia da criação de uma base de conhecimento para compreender e saber a forma como o usuário aprende com informação. Dessa forma poderia descobrir os fatores, além de influenciar os usuários a entender informação. Esse processo é o que hoje se denomina “estudo de usuário”
Segundo Campello :
 O estudo de usuário está consolidado na biblioteconomia e na ciência da informação, e as enumeras pesquisas sobre o tema têm ajudado a entender melhor o processo de aprendizagem baseado na busca e no uso da informação. A utilização do conceito de letramento informacional tem sido significativamente beneficiada pelos resultados desses estudos, os quais propiciaram um fundamento teórico para as propostas de aplicação ao mesmo tempo em que lançavam as bases para o avanço de estudos cognitivos na ciência da informação. (CAMPELLO, 2009, p.33)
Seguindo essa linha de pesquisa, Carol Kuhlthau(1987, citado por DUDZIAK,2001) também foi uma das pioneiras na fundamentação do conceito de letramento. Seu fundamento era voltado a dois eixos:
· A integração do letramento informacional ao currículo
· O amplo acesso aos recursos informacionais
Com esses fundamentos ela direciona a teoria a um novo rumo, pois a competência informacional passa a ser vista além das bibliotecas e dos bibliográficos científicos.
Em 1990, Cristina s. Doyle (1990) apud Dudziak (2001, p.36) apresenta uma nova vertente para teoria de letramento:
 Todo mundo usa informação enquanto cidadão, trabalhador, na resolução de problemas ou para o aprendizado ao longo da vida. Tradicionalmente as escolas promovem o conceito “aprender a aprender”. As competências mais elevadas de aprendizados incluem: a formulação de questões, a avaliação de informação de acordo com sua pertinência e exatidão, a organização da informação e finalmente, a aplicação da informação para responder as questões originais – a ultima e mais valiosa no processo. Não se trata unicamente de encontrar a informação, mas usá-la para motivar o Aprendiz.. (1994, p.21e 22)
Nessa nova vertente o trabalho bibliotecário vai além de ensinar como se busca a informação. O Resultado das pesquisas feita por Doyle aponta para a habilidade de acessar, avaliar e usar informações de fontes variadas.
Doyle (1994) apud Campello(2009,p.36) afirma que uma pessoa competente em informação é capaz de:
· Reconhecer a necessidade de informação;
· Reconhecer que informações corretas e completas são bases para a tomada de decisão;
· Formular questões baseadas na necessidade de informação;
· Identificar prováveis fontes de informação
· Desenvolver estratégias de busca;
· Acessar fontes de informação em qualquer suporte inclusive eletrônicas;
· Avaliar informações;
· Organizar informações para aplicações práticas;
· Integrar novas informações ao corpo de conhecimentos existente;
· Usar informações para pensar criticamente e solucionar problemas
Cristiane Bruce (1997) apud Campello (2009,37), também seguindo essa vertente, criou um processo no qual classifica o letramento como fenômeno informacional cujos seguintes conceitos estão presentes:
· Experiência da tecnologia da informação;
· Experiência das fontes de conhecimento;
· Experiência do processo de informação;
· Experiência do controle da informação;
· Experiência de construção do conhecimento;
· Experiência da extensão do conhecimento
· Experiência da sabedoria
O conceito de letramento foi construído por pesquisas distintas executadas por diferentes pesquisadores, os quais passaram a utilizá - lo em inúmeras instituições e principalmente nas escolas através do modelo de didática.
3.1 MODELOS 
 Foram construídos vários modelos com o objetivo de ensinar aos alunos a buscar a informação adequadamente e a desenvolver suas habilidades informacionais. Em seu livro Campello (2009) apresenta os modelos de Michael Heisenberg e Michael Marland que são mais conhecidos cuja estruturação segue o formato abaixo:
1. Definir a tarefa
1.1 Definir o problemade informação
1.2 Identificar a informação necessária
2. Estratégias de busca informacional
2.1 Determinar todas as possíveis fontes
3. Localização e acesso
3.1 Localizar fontes (intelectual e fisicamente)
3.2 encontrar a informação nas fontes
4. Uso de informação
4.1 envolver-se
4.2 Extrair informações relevantes
5. Síntese
5.1 organizar a informação das várias fontes
5.2 Apresentar a informação
6. Avaliação
6.1 julgar o produto
6.2 julgar o processo
Propostas do Inglês Michael Marland para processo de pesquisa:
· O que preciso fazer?(formulação e analise de necessidade);
· Aonde posso ir?(identificação e avaliação de recursos adequados);
· Onde consigo a informação?(localização de recursos adequados);
· Que recursos devo usar?(exame, seleção e rejeição de recursos)
· Como devo usar os recursos? (interrogação dos recursos);
· O que devo registrar?(registro e armazenamento de informação)
· Tenho a informação que preciso?(interpretação, análise, síntese, avaliação);
· Como devo fazer a apresentação?(apresentação comunicação);
· O que obtive (avaliação)
No Brasil os modelos não se encontram em prática escolar, embora se reconheça sua importância para a formação dos alunos. Alguns pesquisadores acreditam que o desempenho de atividades de pesquisa requer aprendizagem de competência, busca e uso de informação.
Para que esse modelo seja praticado no Brasil é necessário superar as seguintes dificuldades:
· Dificuldade de mudar padrões pedagógicos
· Formação inadequada do corpo docente
· A concepção de ensino - aprendizagem e a organização do currículo
· A falta de estrutura adequada de informação
· O bibliotecário é visto no corpo docente apenas como um organizador de acervo e dirigido por documentos cujo objetivo é controlar a execução de suas funções.
Dessa forma a implantação dos modelos de letramento terá não apenas a colaboração do bibliotecário como também do corpo docente. Afinal os modelos devem ser parte da política pedagógica das escolas.
4. PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO NA EDUCAÇÃO 
 De acordo com Dudziak (2001), o modelo educacional voltado para o letramento informacional passa necessariamente pela definição do papel modificador do bibliotecário ao longo da história, exercido como: Intermediador da informação, mediador do conhecimento e educador.
4.1BIBLIOTECÁRIO COMO INTERMEDIADOR
Tradicionalmente o bibliotecário atuava em bibliotecas. Isso muda com o aparecimento da sociedade da informação, após o início das modificações do contexto informacional e de atuação do bibliotecário.
Dessa forma diversos pesquisadores começaram a pesquisar qual seria o perfil do bibliotecário no contexto da tecnologia e constataram que uma das novas interfaces do bibliotecário era a intermediação da informação, pois possuir habilidade para realizar todos os procedimentos intelectivos e técnicos necessários à seleção, aquisição, organização, disponibilização e recuperação de informações requeridas pelos usuários. Além de habilidades no uso das fontes, recursos e tecnologias de informação.
Segundo Dudziak:
 Enquanto intermediário, o bibliotecário liga-se inevitavelmente à informação enquanto produto direcionado a determinado consumidor, e às tecnologias da informação, importantes ferramentas de recuperação e comunicação. Se de um lado o bibliotecário deve necessariamente ter habilidades e apropriar-se cada vez mais da tecnologia, de outro lado é ameaçado por ela, em função dos avanços científicos proporcionados pela inteligência artificial, os agentes inteligentes, etc.. Supostamente capazes de substituir seu trabalho.
 (DUDZIAK, 2001, p.122)
Apesar da importância do bibliotecário como intermediário da informação seu papel na educação e bastante restrito, atuando principalmente em ambiente profissionais.
4.2 BIBLIOTECÁRIO MEDIADOR DA INFORMAÇÃO 
 Com a popularização da internet o fluxo de informações se intensificou, porém ainda não foi encontrada uma forma processual que permitisse selecionar toda esta informação disponível.
Segundo Dudziak:
 Os bibliotecários e educadores começaram a direcionar seus esforços ao estudo das atividades cognitivas. O foco, anteriormente direcionado aos sistemas começava a se alterar na direção das pessoas e suas necessidades, considerando a construção de conhecimento resultado de um processo reflexivo que se inicia na busca de informações. A ênfase recai sobre os processos de busca da informação para a satisfação das necessidades ou resolução de problemas dos usuários. 
 (DUDZIAK, 2001, p.123)
Dessa forma, não apenas como intermediário, o bibliotecário é chamado a assumir o papel de mediador do conhecimento cuja função é mediar os processos de busca da informação.
Seguindo essa linha de pesquisa Kuhthau (1993) apud Dudziak (2001, p124 a 127) apresenta níveis de intervenção possíveis para o bibliotecário nos processos de busca de informação. Esses níveis são;
4.2.1NÍVEL ORGANIZADOR 
O bibliotecário tem função de organizar a informação e tornar a biblioteca auto-suficiente. Sua intervenção se dá em nível do sistema de informação. Isso significa que o bibliotecário se limita a fornecer instruções para o uso dos recursos bibliográficos.
 4.2.2NÍVEL LOCALIZADO 
Nesse nível o bibliotecário tem função de localizar a informação e ficar atento a inovações para melhor atender ao usuário.
4.2.3NÍVEL IDENTIFICADOR /INSTRUTOR
Como instrutor o bibliotecário deve ensinar ao usuário como utilizar de forma adequada a informação e determinados recursos e ferramentas informacionais.
4.2.4NÍVEL ORIENTADO
Como orientador o bibliotecário não só identifica fontes apropriadas como também pode recomendar uso de fontes de pesquisa, logo esse nível seria como uma orientação bibliográfica.
4.2.5 NÍVEL TUTOR
O bibliotecário deve estar atento ao usuário e em seu processo de busca e uso da informação. Nesse nível ele estaria ativamente envolvido com o currículo, estudantes e professores.
4.3 O BIBLIOTECÁRIO COMO EDUCADOR 
O papel do bibliotecário como educador é notado a partir do momento que ele convence o aprendiz de sua própria competência dando autonomia de aprendizado ao sujeito. De acordo Dudziak:
 O bibliotecário - educador não apenas deve conhecer sua área de atuação, como também deve considerar a dimensão didático – pedagógica e o projeto educacional da instituição /comunidade na qual age, afinal ser educador significa apropriar – se dos processos de ensino-aprendizagem segundo uma perspectiva transformadora enquanto sujeito bibliotecário, docente, ,estudante em constante processo dialógico (ao mesmo tempo aprendizes e mestres), também em relação aos conteúdos- conceituais ,factuais procedimentais ,atitude (os objetos de conhecimento). (DUDZIAK, 2001, p.130)
Como educador o bibliotecário deve viabilizar a pratica informacional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Com o avanço tecnológico o bibliotecário ampliou seu papel na sociedade. Isso aconteceu principalmente na área da educação quando a biblioteconomia acolheu o conceito de letramento informacional para aumentar seu espaço no mundo acadêmico e pelo fato de possuir metodologias para organizar a informação.
 O conceito letramento informacional tem como um dos objetivos ensinar às pessoas a lidar com informação em qualquer meio ensinando ao usuário a definir suas necessidades informacionais. Dessa forma são feitas várias pesquisas e projetos acadêmicos de cooperação entre professores e bibliotecários, afim de transmitir esse ensinamento e avaliar a competência informacional necessária para se utilizar ferramentas e fontes de informação.
No Brasil o termo letramento é reconhecido e bem aceito na área de biblioteconomia contando com diversos campos de pesquisa e projetos. Porém o conceito de letramento é pouco praticado nas bibliotecas brasileiras, pois ainda se encontram dificuldades para sua legitimação.
6. REFERÊNCIAS:
BRUCE,c.The seven faces of information literacy.Adelaide: Auslibpress,1997.203p.
CAMPELLO, Bernadete Santos. A escolarização da competência informacional. Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v.2,n.2,p.03-37,dez. 2006.
CAMPELLO, Bernadete Santos. Letramento informacional: função educativa do bibliotecário na escola. Belo horizonte; Autentica 2009.79 p.
CAMPELLO, Bernadete Santos. LETRAMENTO INFORMACIONAL NO BRASIL: práticas educativas de bibliotecário em escolas de ensino básico. 2009.204 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação)- Escola de Ciência da Informação ,Universidade Federal de Minas Gerais ,Belo horizonte,2009.
CAMPELLO, Bernadete Santos. O movimento da competência informacional uma perspectiva para o letramento informacional. Ciência da Informação, Brasília, v.32,n.3,p.28-37,2003
DOYLE,C.Outcome measures for information literacy within the national education of 1990:final report of the National Forum on Information Literacy.Summary of findings.Washington,DC:Us Department of Education,1992.(ERIC document no;ED 351033).Disponível em :<http:/ / www.ed.gov/databases /Eric_Digests /ed372756.html>Acesso em 09jan.2006.
DOYLE,C.S(1994) Information Literacy in an Information Society: a concept for information age.New York: Syracuse University.
KUHLTHAU,C.C(1991) Inside the search process:information seeking from the user’s perpective.Journal of the American Society for Information Science,v.42,n.5,p.361-71.
DUDZIZK, Elisabeth Adriana. A information literacy e o papel educacional das bibliotecas. 2001.173f.Dissertação( Mestrado em Ciências da Comunicação)-Escola de comunicações e artes ,Universidade de São Paulo ,2001.
DUDZIZK,Elisabeth Adriana.Information literacy: princípios,filosofia e prática,Ciência da Informação,Brasília,v.32,n.1,p.23-35,jan/abr,2003 .
SHERA,J.H.knowing books and men: Knowing computers,too.Littleton,colo.: Libraries Unlimited,1973.
SHERA,J.H.The foundations of education for librarianship.New York: Becker and Hayes,1973.
ZURKOWSKI,P.G.(1974) Information services environment relationships and priorities.Washington D.C.: National Commission on Libraries .
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