Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2 SUMÁRIO O Que é Psicologia Comportamental – Behaviorismo................................... 03 O Psicólogo Comportamental......................................................................... 13 Teoria de Burrhus Frederic Skinner................................................................ 16 Aprendizagem e Comportamento................................................................... 19 Ciência e Comportamento Humano............................................................... 22 Evento Privado e Evento Interno.................................................................... 28 Comportamento Supersticioso....................................................................... 30 Terapia Cognitivo Comportamental................................................................ 32 Terapia Cognitivo Comportamental – Tratamento Dependência Química..... 34 A Probabilidade do Comportamento.............................................................. 41 Psicologia Animal........................................................................................... 44 Referencias..................................................................................................... 50 3 O QUE É PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL – BEHAVIORISMO Psicologia comportamental, também conhecida como behaviorismo, é uma perspectiva que se tornou dominante durante a primeira metade do século 20, graças a pensadores proeminentes tais como BF Skinner e John B. Watson. A base da psicologia comportamental sugere que todos os comportamentos são aprendidos. Psicologia comportamental sugere que todos os comportamentos são aprendidos, mas como exatamente esse aprendizado acontece? Dois desses processos-chave envolvem a aprendizagem por associação e aprendizagem através de reforço e punição. Aprendizado pode ocorrer através de associações Alguma vez você já ouviu alguém comparar algo com “os cães de Pavlov” e não entendeu a referência? A frase refere-se a uma descoberta acidental feita pelo fisiologista Ivan Pavlov, que descobriu que os cães poderiam ser condicionados a salivar ao som de um sino. Este processo, conhecido como condicionamento clássico, tornou-se uma parte fundamental da psicologia comportamental. Segue abaixo alguns dos princípios básicos do condicionamento clássico. Fenômenos no condicionamento clássico Há um número de diferentes fenômenos que afetam o condicionamento clássico. Estes fatores podem influenciar a rapidez com que um comportamento é adquirido e a força dessa associação. A primeira parte do processo de condicionamento clássico é conhecida como aquisição. Durante esta fase, uma resposta é estabelecida e reforçada. Em outros casos, um processo conhecido como extinção ocorre quando uma associação desaparece; isso faz com que o comportamento enfraqueça gradualmente ou desapareça. Aprendizagem pode ocorrer através de recompensas e punições Além das respostas naturais condicionadas através da associação, o behaviorista BF Skinner descreveu um processo em que a aprendizagem pode 4 ocorrer por meio de reforço e punição. Este processo, conhecido como condicionamento operante, funciona através da formação de uma associação entre um comportamento e as consequências do comportamento. Por exemplo, se uma mãe recompensa seu filho com elogios cada vez que ele pega seus brinquedos, ela está reforçando o comportamento desejado. Como resultado, será mais provável que a criança volte a guardar seus brinquedos. Outro exemplo seria a ação de um pombo bicar uma chave para ganhar uma recompensa. Toda vez que o pássaro bica corretamente na chave, o animal recebe uma bolinha de comida como recompensa. Como resultado, o comportamento de bicadas irá aumentar. Esquemas de reforço são importantes À primeira vista, o processo de condicionamento operante parece bastante simples. Basta observar um comportamento e, em seguida, oferecer uma recompensa ou punição. No entanto, BF Skinner descobriu que o calendário destas recompensas e punições tem uma influência importante sobre a rapidez com que um novo comportamento é adquirido e a força da resposta. Reforço contínuo envolve gratificar cada instância única de um comportamento. Este esquema é frequentemente utilizado no início do processo de condicionamento operante. Como o comportamento é aprendido, o cronograma pode ser ligado a um esquema de reforço parcial. Isto envolve oferecer uma recompensa, após um certo número de respostas ou quando um período de tempo tenha decorrido. Por vezes, o reforço parcial ocorre num horário consistente ou fixo, tal como depois de cada cinco respostas ou depois de cinco minutos 5 terem passado. Em outros casos, um número variável e imprevisível de respostas ou tempo deve ocorrer antes que o reforço seja fornecido. Psicologia Comportamental Psicologia comportamental tem sido influenciada por uma série de proeminentes pensadores. Parte da compreensão da história e do fundamento destes princípios comportamentais envolve aprender mais sobre as pessoas que descobriram e defenderam essas teorias. Ivan Pavlov: O fisiologista russo que descobriu o condicionamento clássico. Edward Thorndike: Um psicólogo pioneiro que descreveu a lei do efeito, que teve uma influência importante sobre o desenvolvimento do movimento behaviorista. John B. Watson: Um psicólogo americano que acreditava que a psicologia deve ser a ciência do comportamento observável. Clark Casco: Um behaviorista que propôs a teoria da unidade de aprendizagem. Burrhus Frederic Skinner: um dos pensadores comportamentais mais conhecidos; mais conhecido por sua teoria do condicionamento operante. Análise comportamental Enquanto o domínio da psicologia comportamental foi corroído depois de 1950, princípios comportamentais continuam a ser importantes hoje. Hoje, a análise do comportamento é frequentemente utilizada como uma técnica terapêutica para ajudar crianças com autismo e atrasos de desenvolvimento a adquirir novas habilidades. Muitas vezes envolve processos como modelagem (recompensar aproximações cada vez mais perto do comportamento desejado) e acorrentar (dividir uma tarefa em partes menores e, em seguida, ensinar e acorrentar os passos subsequentes juntos). Mudança nem sempre é fácil Se você já tentou largar um mau hábito ou iniciar um novo plano de exercícios, então você provavelmente percebeu que a mudança raramente é fácil. Fazer uma mudança duradoura no comportamento pode ser extremamente difícil, se você está tentando perder peso, parar de fumar ou melhorar seus hábitos de estudo. Entretanto, combinando a sua compreensão 6 da psicologia comportamental com outras técnicas psicológicas comprovadas, você pode aprender como efetivamente mudar um comportamento. Principais Termos e Definições da Psicologia Comportamental Estímulo incondicionado No condicionamento clássico, o estímulo incondicionado (EI) é aquele que incondicionalmente, provoca uma resposta natural e automática. Por exemplo, quando você cheira um de seus alimentos favoritos, você pode imediatamente sentir muita fome e salivar. Neste exemplo, o cheiro da comida é o estímulo não condicionado. No experimento clássico de Ivan Pavlov com cães, o cheiro de comida era o estímulo incondicionado. Os cães em seu experimento sentiam o cheiro da comida, e então, naturalmente, começam a salivar em resposta. Esta resposta não requer aprendizagem, ela simplesmente acontece automaticamente. Outro exemplos de estímulo incondicionado • Uma pena que irrita seu nariz faz com que você espirre. A pena que faz cócegas no seu nariz é o estímulo incondicionado. • Pólende flores faz você espirrar. O pólen de flores é o estímulo incondicionado. Em cada um destes exemplos, o estímulo incondicionado naturalmente desencadeia uma resposta incondicionada. Você não tem que aprender para responder. Como a cronometragem impacta a Aquisição de Comportamento A quantidade de tempo que passa entre a apresentação do estímulo inicialmente neutro e o estímulo incondicionado é um dos 7 determinantes mais importantes da aprendizagem que venha a ocorrer. A temporização de como o estímulo neutro e o estímulo incondicionado são apresentados é o que influencia se uma associação será formada ou não, um princípio que é conhecido como a hipótese de congruência. No famoso experimento de Ivan Pavlov, por exemplo, o tom do sino foi inicialmente um estímulo neutro, enquanto o cheiro de comida era o estímulo incondicionado. Fazer o barulho perto da hora da apresentação do cheiro dos alimentos resulta em uma associação mais forte. Apresentar o estímulo neutro muito antes do estímulo incondicionado leva a uma associação muito mais fraca ou mesmo inexistente. Diferentes tipos de condicionamento podem utilizar diferentes relações temporais com o estímulo neutro. Estímulo condicionado No condicionamento clássico, o estímulo condicionado é um estímulo previamente neutro que, após tornar-se associado com o estímulo incondicionado, eventualmente, desencadeia uma resposta condicionada. Exemplos de estímulo condicionado Por exemplo, suponha que o cheiro de comida é um estímulo incondicionado e uma sensação de fome é a resposta incondicionada. Agora, imagine que quando você sentiu o cheiro de uma lasanha maravilhosa, você também ouviu o som de um apito. O apito não está relacionado com o cheiro da comida, mas se o som do apito for emparelhado várias vezes com o cheiro, o som acaba por desencadear a resposta condicionada. Neste caso, o som do apito é o estímulo condicionado. O exemplo é muito semelhante à da primeira experimentação realizada pelo fisiologista russo Ivan Pavlov. Os cães em seu experimento salivavam em resposta à comida, mas depois de emparelhar repetidamente a apresentação de alimentos com o som de um sino, os cães começaram a salivar só com o barulho do sino. Neste exemplo, o som da campainha foi o estímulo condicionado. 8 Resposta incondicionada De fome em resposta ao cheiro da comida é a resposta não condicionada. Mais Exemplos de respostas incondicionadas • Tirar a mão rapidamente depois de tocar em uma panela quente no forno. • Pular ao se assustar com barulho alto. Em cada um dos exemplos acima, a resposta ocorre naturalmente e automaticamente. Ao lado exemplo de reflexo incondicionado: tirar a mão rápido da panela quente Resposta condicionada No condicionamento clássico, a resposta condicionada é a resposta aprendida ao estímulo anteriormente neutro. Por exemplo, vamos supor que o cheiro de comida é um estímulo incondicionado, a sensação de fome em resposta ao cheiro é uma resposta incondicionada, e um som de um apito é o estímulo condicionado. A resposta condicionada estaria em sentir fome quando ouviu o som do apito. O termo reflexo condicionado também é usado. Exemplos de respostas condicionadas Muitas fobias começam depois que uma pessoa teve uma experiência negativa com o objeto de medo. Por exemplo, depois de testemunhar um terrível acidente de carro, uma pessoa pode desenvolver um medo de dirigir. Isto é uma resposta condicionada. Esquema de intervalo fixo No condicionamento operante, um esquema de intervalo fixo é um esquema de reforçamento em que a primeira resposta é recompensada somente após um determinado período de tempo decorrido. Este esquema faz com que grandes quantidades de respostas aconteçam perto do fim do intervalo, mas sejam muito mais lentas imediatamente após a entrega do reforçador. 9 Como você pode lembrar, o condicionamento operante se baseia em reforço ou punição para fortalecer ou enfraquecer uma resposta. Este processo de aprendizagem envolve a formação de uma associação com um comportamento e as consequências desse comportamento. Comportamentos que são seguidos por resultados desejáveis se tornam mais fortes e, portanto, mais prováveis de ocorrer novamente no futuro. Ações que são seguidas por resultados desfavoráveis se tornam menos prováveis que ocorra novamente no futuro. Foi a psicologia de BF Skinner que primeiro descreveu este processo de condicionamento operante. Por ações de reforço, observou ele, essas ações se tornaram mais fortes. Ao punir comportamentos, no entanto, essas ações tornam-se enfraquecidas. Além deste processo básico, ele também observou que a taxa em que os comportamentos foram reforçados ou punidos também desempenhou um papel na forma como rapidamente ocorre uma resposta e a força das respostas. Como funciona o esquema de reforçamento de intervalo fixo? A fim de entender melhor como um esquema de intervalo fixo funciona, vamos começar dando uma olhada no próprio termo. Um esquema refere-se à taxa pela qual o reforço é entregue ou a frequência com que uma resposta é reforçada. Um intervalo refere-se a um período de tempo, o que sugere que a taxa de entrega é dependente de quanto tempo foi decorrido. Finalmente, fixo sugere que o tempo de entrega é definido em uma programação previsível e imutável. Por exemplo, imagine que você está treinando um pombo para bicar uma chave. Você coloca o animal em um esquema de intervalo fixo 30 (FI-30), o que significa que o pássaro vai receber uma bolinha de comida a cada 30 segundos. O pombo pode continuar a bicar a chave durante esse intervalo, mas só receberá reforço para o primeiro beijinho na chave depois que os 30 segundos de intervalo fixo tenham decorrido. Características da do esquema de intervalo fixo • Gera uma pausa nas respostas pós-reforço bastante significativa • As respostas tendem a aumentar gradualmente à medida que o tempo do reforço se aproxima 10 Exemplos de esquema de reforçamento de intervalo fixo Em um ambiente de laboratório: Imagine que você está treinando um rato para pressionar uma alavanca, mas você só reforça a primeira resposta após um intervalo de dez minutos. O rato não pressione a muito a barra durante os primeiros 5 minutos após o reforço, mas começa a pressionar a alavanca mais e mais vezes quanto mais perto chega da marca de dez minutos. No mundo real: Um salário semanal é um bom exemplo de um esquema de intervalo fixo. O empregado recebe reforço a cada sete dias, o que pode resultar numa maior taxa de resposta próximo ao dia de pagamento. Esquema de intervalo variável No condicionamento operante, um esquema de intervalo variável é um esquema de reforço, onde uma resposta é recompensada depois que uma quantidade indeterminada de tempo passou. Este esquema produz um ritmo lento e constante de resposta. Como você provavelmente se lembra, o condicionamento operante pode fortalecer ou enfraquecer comportamentos através do uso de reforço e punição. Este processo de aprendizagem envolve a formação de uma associação com o comportamento e as consequências dessa ação. Ao psicólogo BF Skinner é creditada a introdução do conceito de condicionamento operante. Ele observou que o reforço pode ser usado para aumentar um comportamento, e punição poderia ser utilizada para enfraquecer comportamento. Ele também notou que a velocidade com que um comportamento é reforçado tem um efeito sobre a força e a frequência da resposta. Como funciona um esquema de intervalo variável? Para entender como um esquema de intervalo variável funciona, vamos começar dando uma olhada no próprio termo. Esquema refere-se à taxa de entrega de reforço, ou a frequênciacom que o reforço é fornecido. Variável indica que este tempo não é consistente e pode variar de um ensaio para o 11 seguinte. Finalmente, o intervalo significa que a entrega é controlada por tempo. Assim, um esquema de intervalo variável quer dizer que o reforço é fornecido em diferentes e imprevisíveis intervalos de tempo. Imagine que você está treinando um pombo a bicar uma chave para receber uma bolinha de alimento. Você coloca a ave em um esquema de intervalo variável 30 (VI-30). Isto significa que o pombo receberá uma média de reforço a cada 30 segundos. É importante notar que esta é uma média, no entanto. Às vezes, o pombo pode ser reforçado depois de 10 segundos; às vezes ele pode ter que esperar 45 segundos. A chave é que o tempo é imprevisível. Razão fixa Em um esquema de razão fixa (FR: Fixed Ratio), o reforço é apresentado após um número fixo de respostas. Geralmente, este esquema é representado, colocando-se o número de respostas exigidas para apresentação do reforço, após a sigla FR. Por exemplo: FR-10 significa que a cada 10 respostas emitidas pelo organismo, é apresentado o reforço. O esquema de reforçamento em razão fixa tem como resultado uma freqüência alta e constante de respostas e uma pausa após a apresentação do reforço. A duração desta pausa dependerá da razão; quanto maior a razão, maior será a pausa após o reforçamento. Razão variável No condicionamento operante, um esquema de razão variável é um esquema de reforçamento onde uma resposta é reforçada após um número imprevisível de respostas. Este esquema cria uma alta taxa de resposta constante. Jogos de azar e loterias são bons exemplos de reforços baseados em um esquema de razão variável. Programas de reforço desempenham um papel central no processo de condicionamento operante. A frequência com que um comportamento é reforçado pode ajudar a determinar a rapidez com que uma resposta é aprendida, bem como o quão forte a resposta poderia ser. Cada esquema de reforço tem seu próprio conjunto de características. 12 Características do esquema de razão variável • Leva a a taxa de resposta constante, em um nível elevado • Resultados em apenas uma breve pausa após reforço • As recompensas são fornecidas depois de um número imprevisível de respostas Ao identificar diferentes programas de reforço, pode ser muito útil começar por olhar para o nome do próprio esquema. No caso de esquemas de razão variável, o termo variável indica que o reforço é fornecido depois de um número imprevisível de respostas. Razão sugere que o reforço é dado depois de um determinado número de respostas. Assim, em conjunto, o termo significa que o reforço é fornecido depois de um número variado de respostas. Ele também pode ser útil para ver as diferenças entre esquema de reforço de razão variável e esquema de reforço de razão fixa. Em um esquema reforço de razão fixa o reforço é fornecido após um determinado número de respostas. Assim, por exemplo, em um esquema de razão variável com um cronograma VR 5, um animal pode receber uma recompensa para cada cinco respostas, em média. Isto significa que, por vezes, a recompensa pode vir após três respostas, às vezes, depois de sete respostas, às vezes após cinco respostas e assim por diante. O esquema de reforço, em média, recompensa por cada cinco respostas, mas o cronograma de entrega real permanecerá completamente imprevisível. Num esquema de razão fixa, por outro lado, o esquema de reforço pode ser fixado em um FR 5. Isto significa que, para cada cinco respostas, uma recompensa é apresentada. Enquanto o esquema de razão variável é imprevisível, o esquema de razão fixa é definido a uma taxa fixa. Exemplos de esquema de reforçamento de razão variável na vida real Máquinas caça-níqueis: Os jogadores não têm nenhuma maneira de saber quantas vezes eles têm que jogar antes de ganhar. Tudo o que se sabe é que, eventualmente, alguém vai ganhar. É por isso que máquinas caça- níqueis são tão eficazes, e os jogadores são muitas vezes relutantes em sair. Há sempre a possibilidade de que a próxima moeda que a pessoa colocar trará o prêmio. Bônus de vendas: Call centers muitas vezes oferecem bônus aleatórios para 13 os funcionários. Os trabalhadores nunca sabem quantas chamadas eles precisam fazer para receber o bônus, mas eles sabem que aumentam suas chances ao fazer mais chamadas ou mais vendas. O PSICÓLOGO COMPORTAMENTAL O Psicólogo Comportamental – ou terapeuta comportamental - é o profissional de psicologia que orienta sua intervenção clinica baseado na análise do comportamento de seu paciente aplicando a Análise Experimental do Comportamento. Possibilita ao paciente a identificação dos seus comportamentos disfuncionais, ou seja os comportamentos que causam sofrimento e trazem prejuízos à saúde, prejuízos sociais, emocionais ou comportamentais. Com este protocolo de trabalho o psicólogo comportamental ajuda a desenvolver formas mais adaptativas e positivas de interação a partir da criação da possibilidade de novo repertório de atitudes e comportamentos ao seu paciente. A Terapia Comportamental baseia-se nas propostas do Behaviorismo de Skinner - Os comportamentos disfuncionais que fazem as pessoas sofrerem são aprendidos, e neste sentido a terapia é a “escola” para a aprendizagem de novos comportamentos mais adaptativos. O psicólogo comportamental desenvolve novos repertórios, ensina a identificar o que determinou o aparecimento de tais comportamentos disfuncionais e o quê os mantêm. A Terapia Comportamental faz uso de técnicas específicas, sendo a mais importante a análise funcional , ou seja, identifica como, quando e onde tais comportamentos ocorrem e que função tem estes comportamentos para seu paciente. Que valor determinado comportamento tem para a pessoa. 14 A psicologia comportamental leva em conta que a pessoa tem uma historia de vida e está inserida em uma comunidade. A psicologia comportamental se faz muito eficiente em quadros clínicos de ansiedade, Pânico, fobias, transtornos do afeto como depressão, transtorno bipolar, transtornos de personalidade, etc. O psicólogo comportamental atende crianças, adolescentes e adultos A Psicologia comportamental dá estuda e trabalha as interações entre as emoções, pensamentos, comportamento e estados fisiológicos. O comportamento tende a se repetir, se for recompensado (reforço positivo) ou se for capaz de eliminar um estímulo aversivo (reforço negativo) assim que emitir o comportamento. Por outro lado, o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo for castigado (punição) após sua ocorrência. Pela lei do reforço irá associar essas situações com outras semelhantes, generalizando essa aprendizagem para um contexto mais amplo. O psicólogo comportamental descobre, juntamente com seu cliente, os eventos que determinam seus comportamentos-problema e o que os mantém. Assim, um transtorno como a depressão passa a ser entendido como um conjunto de comportamentos, como por exemplo, alterações no sono e apetite, desesperança, choro excessivo, ideação suicida e outros. Tais comportamentos são analisados e serão identificadas tanto as situações que os determinaram como as situações atuais que os mantém. Para o psicólogo comportamental , pensamentos, sentimentos e comportamentos são acessíveis pelo relato que o paciente faz em terapia. Pensamentos e sentimentos são analisados e passíveis das intervenções do terapeuta comportamental. “Combate-se” os comportamentos-problema, ao mesmo tempo em que busca-se instalar e aumentar a frequência de comportamentos 15 adequados ao contexto, desejáveis, funcionais e geradores de satisfação e felicidade. A terapiacomportamental tem um conjunto considerável de técnicas derivadas de pesquisas, em laboratório ou no próprio consultório. É a soma de pesquisa científica, rigor no levantamento de informações no momento inicial do processo e a utilização de técnicas e intervenções consolidadas que faz com que as pessoas tenham se beneficiado, de forma considerável, quando buscam a Terapia Comportamental. O Psicólogo Comportamental nos mostra que ao promovermos nosso autoconhecimento, é possível aumentar nossa habilidade para agirmos da maneira que queremos. Podemos melhorar nossos pensamentos e sentimentos, em relação aos outros e a nós mesmos. Mesmo que algumas causas dos nossos problemas possam estar na infância, é intervenção em seus comportamentos e sentimentos atuais que fornecerá a possibilidade de mudança que você tanto necessita. O psicólogo comportamental não é um conselheiro como também não apenas ouve e interpreta: ele busca, junto com aquele que procura a ajuda psicoterapêutica, encontrar novas formas de agir, visando produzir mudanças reais em sua vida. A atuação do psicólogo comportamental se faz muito eficiente em transtornos de ansiedade, depressão, stress, doenças psicossomáticas e sexuais, ou diante de problemas difíceis de especificar. O psicólogo comportamental será sempre uma importante fonte de auxílio, sempre que não nos percebemos capazes de lidar sozinhos com questões impostas pelas mais complicadas situações do dia a dia. Já se comprovou haver relação entre a saúde física e o bem-estar psicológico, então sabemos que não faz sentido nos preocuparmos com uma única dimensão do ser humano. O psicólogo comportamental se apoia em um campo da Psicologia denominado Análise do Comportamento - estudo do comportamento humano de maneira cientifica. Não segue crenças, dogmas ou o senso comum, a Análise do Comportamento faz pesquisas criteriosas e conta com pesquisadores academicamente conceituados em diversas Universidades ao redor do mundo inteiro. TEORIA DE BURRHUS FREDERIC SKINNER 16 Biografia Burrhus Frederic Skinner nasceu em Susquehanna, no estado norte americano da Pensilvânia, em 1904. Criado num ambiente de disciplina severa, foi um estudante rebelde, cujos interesses, na adolescência, eram a poesia e a filosofia. Formou-se em língua inglesa na Universidade de Nova York antes de redirecionar a carreira para a psicologia, que cursou em Harvard - onde tomou contato com o behaviorismo. Seguiram-se anos dedicados a experiências com ratos e pombos, paralelamente à produção de livros. O método desenvolvido para observar os animais de laboratório e suas reações aos estímulos levou-o a criar pequenos ambientes fechados que ficaram conhecidos como caixas de Skinner, depois adotadas para experimentos pela indústria farmacêutica. Quando sua filha nasceu, Skinner criou um berço climatizado, o que originou um boato de que a teria submetido a experiências semelhantes às que fazia em laboratório. Em 1948, aceitou o convite para ser professor em Harvard, onde ficou até o fim da vida. Morreu em 1990, em ativa militância a favor do behaviorismo. Burrhus Frederic Skinner é o cientista do comportamento e do aprendizado. Para o psicólogo behaviorista norte americano, a educação deve ser planejada passo a passo, de modo a obter os resultados desejados na "modelagem" do aluno. Nenhum pensador ou cientista do século 20 levou tão longe a crença na possibilidade de controlar e moldar o comportamento humano como o norte- americano Burrhus Frederic Skinner. Sua obra é a expressão mais célebre do behaviorismo, corrente que dominou o pensamento e a prática da psicologia, em escolas e consultórios, 17 até os anos 1950. O behaviorismo restringe seu estudo ao comportamento (behavior, em inglês), tomado como um conjunto de reações dos organismos aos estímulos externos. Seu princípio é que só é possível teorizar e agir sobre o que é cientificamente observável. Com isso, ficam descartados conceitos e categorias centrais para outras correntes teóricas, como consciência, vontade, inteligência, emoção e memória - os estados mentais ou subjetivos. Os adeptos do behaviorismo costumam se interessar pelo processo de aprendizado como um agente de mudança do comportamento. "Skinner revela em várias passagens a confiança no planejamento da educação, com base em uma ciência do comportamento humano, como possibilidade de evolução da cultura", diz Maria de Lourdes Bara Zanotto, professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Condicionamento operante O conceito-chave do pensamento de Skinner é o de condicionamento operante, que ele acrescentou à noção de reflexo condicionado, formulada pelo cientista russo Ivan Pavlov. Os dois conceitos estão essencialmente ligados à fisiologia do organismo, seja animal ou humano. O reflexo condicionado é uma reação a um estímulo casual. O condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe que o acionar de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Ele tenderá a repetir o movimento cada vez que quiser saciar sua fome. A diferença entre o reflexo condicionado e o condicionamento operante é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo; e o segundo, o hábito gerado por uma ação do indivíduo. No comportamento respondente (de Pavlov), a um estímulo segue-se uma resposta. No comportamento operante (de Skinner), o ambiente é modificado e produz conseqüências que agem de novo sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante. O condicionamento operante é um mecanismo de aprendizagem de 18 novo comportamento - um processo que Skinner chamou de modelagem. O instrumento fundamental de modelagem é o reforço - a consequência de uma ação quando ela é percebida por aquele que a pratica. Para o behaviorismo em geral, o reforço pode ser positivo (uma recompensa) ou negativo (ação que evita uma consequência indesejada). Skinner considerava reforço apenas as contingências de estímulo. "No condicionamento operante, um mecanismo é fortalecido no sentido de tornar uma resposta mais provável, ou melhor, mais frequente", escreveu o cientista. Sem livre-arbítrio Segundo Skinner, a ciência psicológica - e também o senso comum - costumava, antes do aparecimento do behaviorismo, apelar para explicações baseadas nos estados subjetivos por causa da dificuldade de verificar as relações de condicionamento operante - ou seja, todas as circunstâncias que produzem e mantêm a maioria dos comportamentos dos seres humanos. Isso porque elas formam cadeias muito complexas, que desafiam as tentativas de análise se elas não forem baseadas em métodos rigorosos de isolamento de variáveis. Nos usos que projetou para suas conclusões científicas - em especial na educação -, Skinner pregou a eficiência do reforço positivo, sendo, em princípio, contrário a punições e esquemas repressivos. Ele escreveu um romance, Walden II, que projeta uma sociedade considerada por ele ideal, em que um amplo planejamento global, incumbido de aplicar os princípios do reforço e do condicionamento, garantiria uma ordem harmônica, pacífica e igualitária. Num de seus livros mais conhecidos, Além da Liberdade e da Dignidade, ele rejeitou noções como a do livre-arbítrio e defendeu que todo comportamento é determinado pelo ambiente, embora a relação do indivíduo com o meio seja de interação, e não passiva. Para Skinner, a cultura humana deveria rever conceitos como os que ele enuncia no título da obra. 19 Máquinas para fazer o aluno estudar A Educação foiuma das preocupações centrais de Skinner, à qual ele se dedicou com seus estudos sobre a aprendizagem e a linguagem. No livro Tecnologia do Ensino, de 1968, o cientista desenvolveu o que chamou de máquinas de aprendizagem - a organização de material didático de maneira que o aluno pudesse utilizar sozinho, recebendo estímulos à medida que avançava no conhecimento. Grande parte dos estímulos se baseava na satisfação de dar respostas corretas aos exercícios propostos. A ideia nunca chegou a ser aplicada de modo sistemático, mas influenciou procedimentos da educação norte- americana. Skinner considerava o sistema escolar um fracasso por se basear na presença obrigatória, sob pena de punição. Ele defendia que se dessem aos alunos "razões positivas" para estudar. "Para Skinner, o ensino deve ser planejado para levar o aluno a emitir comportamentos progressivamente próximos do objetivo final, sem que para isso precise cometer erros", diz Maria de Lourdes Zanotto. "A idéia é que a máquina de aprendizado se ocupe das questões factuais e deixe ao professor a tarefa fundamental de ensinar o aluno a pensar." APRENDIZAGEM E COMPORTAMENTO Entender o comportamento humano (e mesmo o comportamento animal) é de grande utilidade para a sociedade como um todo e de especial importância para a psicologia. Quanto maior o saber da psicologia sobre o comportamento e a aprendizagem de novos comportamentos, maior a possibilidade de mudança, visando o bem-estar de todos. 20 Neste texto, vamos apresentar três conceitos da psicologia comportamental que são muito importantes: 1) o comportamento e condicionamento respondente, 2) o comportamento operante e 3) a modelagem. A psicologia comportamental procura estudar e compreender o comportamento. Em inglês, esta abordagem da psicologia é chamada behaviorismo (behavior + ismo; a palavra inglesa behavior significa comportamento). Neste ponto, podemos nos perguntar: como se dá a aprendizagem de novos comportamentos? A aprendizagem pode se entendida enquanto uma mudança no comportamento, mudança esta que se mantêm relativamente estável no futuro. Ou seja, havia uma série comportamentos, e agora encontramos no repertório um novo comportamento – o organismo aprendeu e manteve um nova possibilidade de alterar o seu meio ambiente. Pode ser dizer que a aprendizagem dos seres humanos, peculiar e com grande potencial, representa a sua possibilidade de evoluir, e ter sucesso em seu processo evolutivo. É esse potencial de aprendizagem que permite as transformações sociais, culturais e tecnológicas, que levam a espécie humana a modificações importantes em seus meio. Condicionamento respondente O condicionamento respondente é particularmente importante no que diz respeito à sobrevivência do organismo, além da manutenção do seu bom funcionamento, pois possibilita uma aprendizagem rápida e relativamente simples. Nos seres humanos, o condicionamento respondente permite ao organismo uma adaptação bem sucedida ao ambiente, como por exemplo, temos o caso de uma pessoa que comeu feijoada, que foi consequenciada por mal-estar. Posteriormente, o leve cheiro de feijoada elicia respostas no organismo de mal-estar, o que lhe permitia se preservar de um possível mal-estar, se comesse aquele prato. 21 Comportamento Operante O comportamento operante – o comportamento que opera no meio e, portanto, o modifica – é controlado principalmente pelas consequência que ocasiona a resposta do organismo no meio. A diferença entre o operante e o respondente é que o primeiro produz comportamento original, ou seja, passível de mudança ao serem mudadas as consequências, enquanto que o respondente apenas coloca o comportamento reflexo sob o controle de novos estímulos. O comportamento operante possui três componentes: 1) O estímulo antecedente 2) Resposta 3) Consequências Ou seja: o estímulo antecedente, que estabelece ocasião para a resposta que por sua vez produzirá consequências. A maior parte dos comportamentos dos seres humanos podem ser descritos como comportamentos operantes. Se há a introdução de uma nova consequência, há mudança na resposta. Ou, ao contrário, se há a retirada de uma determinada consequência, há a probabilidade de que a pessoa não apresente mais a mesma resposta. Por exemplo, um casal de namorados se ama muito. Um belo dia, por uma série de motivos, ela termina com ele. No começo, com a ausência dela (estímulo antecedente), ele liga (resposta) para ela (que o atendia quando namoravam). Como eles terminaram, ela não mais atende suas ligações. O que acontece? Ele passa a ter, aos poucos, um novo comportamento – o de não ligar para ela. Modelagem A modelagem se dá quando uma resposta específica é alcançada com aproximações sucessivas à respostas almejadas. Essas aproximações são semelhantes, embora menos específicas, à resposta final, de modo que ao longo do tempo possibilitam ao organismo atingir aquela resposta última, através do reforçamento positivos daquelas respostas iniciais. 22 Por meio desse processo que ocorre ao longo de um determinado tempo, o novo operante é produzido e inserido no repertório comportamental do organismo. Como exemplo de modelagem, temos a aprendizagem de um instrumento musical, o violão. Inicialmente, o professor exige e reforça resposta simples e um pouco erradas, para posteriormente, ao longo do tempo, passar a não reforçar tais respostas, incidindo o reforço apenas nas respostas desejadas, mais específicas e complexas. Do mesmo modo, se dá a aprendizagem da escrita de uma língua, seja ela materna ou estrangeira, assim como a aprendizagem de um esporte, como o futebol. CIÊNCIA E COMPORTAMENTO HUMANO Seguindo o desenvolvimento da obra de Skinner, cabe questionar se, em 1953, com a publicação de Ciência e Comportamento Humano, suas concepções de ciência e comportamento humano teriam se diferenciado das de seu período inicial. Outras influências sobre o seu pensamento podem ser vislumbradas? Que outras concepções próprias podem ser aí destacadas? Logo nas primeiras páginas do livro, na "Apresentação da edição brasileira", Skinner enfatiza a necessidade de o conhecimento ser útil e ter um significado prático. Para ele, a ciência poderia e deveria ser um "corretivo" para os problemas humanos. Esse argumento é uma constante em toda a obra de Skinner. Suas principais justificativas para o empreendimento de uma ciência do comportamento humano são os resultados práticos para a sociedade - 23 daí a ênfase na predição e no controle. Essa idéia nos serve para, primeiramente, ressaltarmos a importância da ciência para a sociedade no pensamento skinneriano. Cabe indagar, porém, a que ciência ele se refere. Como essa ciência se realizaria, para Skinner? Quais seriam suas características? Sobre ciência Inicialmente, já no primeiro capítulo da obra, Skinner afirma que a ciência seria uma tentativa de descobrir ordem no mundo, de relacionar ordenadamente alguns acontecimentos com outros. A busca de ordem, porém, não seria apenas o objetivo da ciência, seria também um pressuposto seu. Para se buscar relacionar ordenadamente acontecimentos do mundo, tem-se que, primeiro, supor que esses acontecimentos já sejam, de alguma forma, ordenadamente relacionados entre si. Os objetivos da ciência seriam, assim, a descrição, a previsão e o controle. Note-se que Skinner não menciona a explicação como um dos objetivos da ciência - como muitos autores o fazem. Podemos atribuir essa atitude à noção machiana da equivalência entre descrição e explicação. No segundo capítulo do livro ("Uma ciência do comportamento"), Skinner passa a discutir, de modo mais prolongado,as características da ciência como ele a entende. Logo no início, por exemplo, o autor comenta: "Como apontou George Sarton, a ciência é única ao mostrar um progresso acumulativo", isto é, para Skinner, os "resultados tangíveis e imediatos" da ciência poderiam ser comparados de modo a se mostrar, por exemplo, que a eficácia da ciência moderna é muito superior à da ciência grega. Esse caráter acumulativo, no entanto, não parece estar necessariamente associado a nenhuma idéia de aproximação inexorável da "verdade" ou de "desvelamento" de um mundo separado do sujeito conhecedor - próximas de uma posição positivista clássica. De acordo com as concepções de Mach e do pragmatismo - com as quais Skinner efetivamente mais se aproxima - a invenção de conceitos que tivessem por base novas experiências apenas equivaleria à adoção de ações mais adaptativas em relação a um ambiente historicamente determinado, ou seja, se alguma noção de verdade for atribuída a Skinner, a 24 definição mais razoável seria a de verdade como efetividade no agir sobre o mundo. De fato, mais para o fim do capítulo, o próprio Skinner, citando Mach, caracteriza a ciência como a busca de um agir mais eficiente no mundo. Em seguida, Skinner comenta que a ciência produz "acumulações organizadas de informação". O que lemos, quando estudamos física, química ou biologia seriam bons exemplos de tais "acumulações". Ele ressalta, no entanto, que não podemos tomar a presença desses resultados específicos da ciência (conceitos, leis e teorias da Física, da Química ou da Biologia) em outros campos do saber como indicadores fidedignos de que também aí se utilizou o mesmo processo científico de investigação. "Essas acumulações não são a ciência mesma, mas os produtos da ciência", isto é, se a ciência deve visar, sim, à produção de tais acumulações organizadas de informação - o que também nos remete à noção de economia conceitual de Mach - a importação de conceitos de outras disciplinas científicas não pode ser tomada como garantia de cientificidade. Logo a seguir, o autor cita alguns outros aspectos comuns a diversas ciências e importantes para a prática científica, mas que não poderiam ser tomados como características definidoras, essenciais, da ciência: a medida exata, o cálculo matemático e uso de instrumentos (aparelhos de pesquisa ou instrumentos matemáticos). Desses comentários, podemos começar a construir uma imagem da prática científica como um empreendimento singular, acumulativo e capaz de dar conta de todos os fenômenos naturais a partir da mesma abordagem. Essa última ideia - a de que uma mesma abordagem pode dar conta da totalidade dos fenômenos naturais - porém, não deve ser entendida como uma recomendação para o uso dos mesmos métodos - e muito menos dos mesmos conceitos - em todas as disciplinas. As características essenciais da ciência para Skinner, e que deveriam, estas sim, ser 25 adotadas para o estudo de qualquer assunto, não são determinados conceitos, instrumentos ou métodos rígidos, mas, sim, atitudes. Como o próprio Skinner comenta: "A ciência é, antes de tudo, um conjunto de atitudes". Estas poderiam ser resumidas nas três seguintes: • a ênfase nos fatos, nos dados, no empírico - o que deveria levar à rejeição da autoridade e dos desejos do pesquisador quando estes interferem no contato com a natureza; • a honestidade intelectual - ressaltada também por Bridgman (que Skinner cita neste ponto); • e o afastamento de conclusões prematuras. Mais à frente, em outros capítulos, o autor continua a enumerar outras características da sua concepção de ciência. Skinner cita o abandono do conceito de "relação de causa e efeito" em favor do de "relação funcional". Para ele, a ciência estudaria mudanças nas variáveis independentes e dependentes. Os novos termos continuam, não sugerem como uma causa produz um efeito. Nesse ponto, parece novamente clara a influência de Mach. O estudo científico do comportamento humano Uma compreensão mais clara da noção de ciência desenvolvida por Skinner nessa obra pode ser obtida a partir das suas concepções sobre o estudo (científico) do comportamento humano. Ao tratar do tema, Skinner começa enfatizando a extrema complexidade desse objeto de estudo. Ressalta que essa é uma das objeções normalmente levantadas contra a possibilidade de uma ciência do comportamento e descarta-a por considerar que: "da complexidade não se segue a autodeterminação" nada se pode afirmar sobre os limites das investigações desse objeto até que tenhamos tentado, e, mais importante, pode-se simplificar as condições em laboratório ou através de análises estatísticas. A importância das técnicas experimentais e matemáticas para o estudo do comportamento (mesmo sem serem consideradas essenciais), aqui novamente ressaltadas pelo autor, deve ser marcada como uma das características do seu pensamento. O estabelecimento de relações quantitativas entre as variáveis em estudo, obtidas após um adequado controle 26 das condições experimentais, parece ser a via privilegiada de descrição científica para Skinner. No estudo das variáveis que controlam o modo como os organismos se comportam, assim, "qualquer condição ou evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento deve ser considerada". Essas condições (ou eventos) deveriam ser descobertas e analisadas, preferencialmente, de forma quantitativa. Tendo delimitado o tipo de análise que a ciência deveria empreender, o autor passa a especificar mais claramente quais seriam as variáveis das quais o comportamento é função. As variáveis a serem consideradas deveriam ser aquelas ao alcance de uma análise científica, aquelas que estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história ambiental. Aquelas que possuem um status físico para o qual as técnicas usuais da ciência são adequadas e permitem uma explicação do comportamento nos moldes da de outros objetos explicados pelas respectivas ciências. E quanto às variáveis ou condições internas (tanto psicológicas quanto fisiológicas)? Qual o seu papel numa ciência do comportamento? Essa é uma questão fundamental e recorrente na obra de Skinner. Lembramos que uma de suas convicções ao começar a estudar o comportamento, já na década de 1930, era estudar o comportamento do organismo como um todo, sem recorrer a estruturas fisiológicas ou psicológicas mediadoras. Vamos alongar-nos um pouco nesse ponto, tratando do modo como o autor lida com ele em 1953. Seu argumento parte da afirmação de que a relação do organismo com o ambiente pode ser entendida como o encadeamento causal de três elos: uma operação externa ao organismo (por ex., privação de água), uma condição interna (por ex., sede fisiológica ou psicológica) e uma resposta (por ex., beber água). Assim, teoricamente, poderíamos prever o terceiro elo a partir do segundo. Lidar com as condições internas do organismo (que precedem imediatamente ao comportamento) seria inclusive preferível, do ponto de vista da previsão e do controle, por ser essa uma variável temporalmente próxima. O problema com esse tipo de variável é que não temos ainda como obter dados independentes e confiáveis sobre ela. Daí, que, em geral, infere-se o segundo elo ou do primeiro ou do terceiro. Para o autor, esse é o método mais 27 censurável, tanto prática quanto teoricamente. Mesmo que conseguíssemos contornar tal problema e manipular com segurança as condições internas que precedem imediatamente o comportamento, porém, "ainda teríamos de lidar diretamente com aquelas enormes áreas do comportamento humano controladas através da manipulação do primeiro elo". Sua conclusão é que "A objeção aos estados interiores não é a de que eles nãoexistem, mas a de que não são relevantes para uma análise funcional". As informações sobre o segundo elo dessa cadeia podem esclarecer a relação entre os outros dois elos - que é, esta sim, útil para a previsão e o controle - mas não podem alterar essa relação. Em suma, em Ciência e Comportamento Humano, delineia-se uma concepção mais completa de ciência, que apresenta diversas continuidades com as noções do período inicial. A adesão a definições operacionais e a uma concepção de explicação que a iguala à de descrição de relações funcionais entre variáveis permanece como uma herança já daquele período. Skinner também parece manter uma concepção da ciência como um modo de produção de conhecimento que não se restringiria a alguns objetos de estudo, que abarcaria tanto a Física quanto a Biologia e a Psicologia, por exemplo. O que aparece de novo em 1953 é a afirmação mais clara da ciência como meio privilegiado de intervenção na realidade, de resolução de problemas sociais. Uma ciência do comportamento seria uma necessidade para a solução dos problemas sociais - e tiraria daí uma de suas principais justificativas. Aqui, Skinner também aborda mais especificamente o comportamento humano, e aí podemos ver todo um campo de discussão que, pelo menos, não era explícito no início da sua carreira. Um conjunto de concepções próprias utilizadas na abordagem desse objeto torna-se aqui de grande importância: o conceito de comportamento operante é amplamente utilizado e chega a ser predominante no livro; as análises que utilizam o conceito de comportamento verbal também são abundantes; a importância do comportamento social para as ações humanas é destacada (toda uma seção do livro - "O comportamento de pessoas em grupo" -é dedicada ao assunto), e as questões relativas à descrição, evolução e planejamento de culturas ocupam outra grande parte do livro. Skinner ressalta, além do mais, a extrema complexidade desse objeto de estudo - afirmação tantas vezes omitida por seus críticos - e sugere, para lidar com isso, a simplificação experimental das condições envolvidas. Vale a pena notar que, apesar de a ciência do comportamento a que Skinner se refere durante todo o livro ser a Análise Experimental do Comportamento, suas interpretações e comentários extrapolam grandemente o escopo das investigações produzidas nesse âmbito. EVENTO PRIVADO E EVENTO INTERNO 28 Uma grande dificuldade para a psicologia é que muitos comportamentos não são possíveis de serem observados diretamente. Pense na cena: o psicólogo está em seu consultório e o paciente está calado. Como podemos saber o que se passa? Como poderemos saber o que o paciente está sentindo ou pensando? Este problema foi solucionado na psicologia comportamental através do conceito de evento privado. O evento privado é aquele que ocorre na presença de um indivíduo em particular. A partir de agora irá aprender o que é evento privado e evento interno. Além disso, você vai saber como a psicologia pode ser útil para conhecermos a nós mesmos e o comportamento dos outros. Você sabe o que a psicologia pode fazer por você? Na maioria das vezes, o evento privado é um evento interno, por isto é comum que haja confusão entre a ideia de evento interno e evento privado. O evento interno é um evento que está disponível apenas para a própria pessoa (por exemplo, uma sensação corporal como o “frio na barriga”), enquanto o evento privado pode até ser externo, por exemplo, quando estamos sós e falamos algo em voz alta. Se nós podemos perceber o que acontece dentro do nosso corpo, conhecer de forma segura os nossos próprios eventos internos, não podemos conhecer diretamente os eventos internos das outras pessoas. Com isto, surge a pergunta: como é possível ter acesso aos eventos privados de outros? Como podemos conhecer estes eventos e entender melhor o comportamento alheio? A melhor forma talvez seja perguntar para o outro qual é o estímulo interno que ele está sentindo. No caso das relações amorosas, sabemos da importância do diálogo nos relacionamentos. Para os psicólogos e psicólogas, o que o paciente diz (e deixa de dizer) 29 também é extremamente importante. Por isso, pede-se sempre que o paciente relate verbalmente sobre a sua experiência. A razão é simples, os relatos verbais de auto-observação e autodescrição expõe os eventos internos. Em termos mais simples, quando a pessoa conta sobre os seus eventos internos (sentimentos, sensações, pensamentos) ela está se abrindo, se expondo – e com isso, o psicólogo poderá ajudar. Mas o relato verbal, o que o indivíduo conta ou diz, não vai substituir o próprio evento interno. Ou seja, o evento interno é o evento interno e a comunicação do evento interno é uma outra coisa. A comunicação do evento interno, porém, é sempre de extrema importância. Quando nós nos comunicamos, falamos e escrevemos em uma determinada língua. As vezes, nos esquecemos deste fato. Este texto está escrito em português, certo? Ao pensarmos em português, estamos pensando “dentro” de uma língua, que tem sua história e forma particular. Por exemplo, o português é muito diferente do japonês e do árabe. O comportamento verbal é um comportamento que aprendemos na nossa história de vida. Assim como nascemos em uma cultura cuja língua é o português, poderíamos ter nascido em uma cultura árabe. O modo como iríamos expressar os nossos eventos internos seria totalmente diferente. Deste modo, o comportamento verbal é fruto de uma longa aprendizagem. Como podemos saber a diferença entre a saudade e a lembrança? A adrenalina e o medo? A esperança e a ansiedade? Com o tempo, vamos aprendendo a distinguir estas palavras e os eventos internos sobre as quais elas dizem. Em termos técnicos, através de um processo de reforçamento diferencial aprendemos certas respostas verbais (tatos) apresentadas a estímulos internos. O que isto quer dizer? Pense em uma criança com um rosto triste. Nós vamos conversar com ela e perguntar: – “Você está triste? Porque você está com esta tristeza?” A criança vai estar aprendendo que o que ela está sentindo internamente é tristeza. É tristeza e não medo, é tristeza e não dor. Este processo é o que chamamos de reforçamento diferencial para a aquisição de um comportamento verbal. 30 Desta forma, o comportamento verbal é aprendido. A cultura ensina as crianças a dizer sobre os próprios eventos internos. Porém, algumas pessoas não passam por este processo e acabam sem saber direito o que sentem. Nestes casos, a psicologia também é um instrumento para a percepção e compreensão dos eventos internos. À medida em que vamos conhecendo o nosso próprio mundo, podemos alterá-lo para o nosso benefício. Quando o paciente não sabe dizer o que sente, a psicologia também conta com outras técnicas expressivas, como desenhos, expressões corporais, teatro, arte-terapia, entre outros. COMPORTAMENTO SUPERSTICIOSO Muita gente já ouviu falar ou até mesmo acredita que passar por baixo de escadas traz má sorte; que uma vassoura atrás da porta expulsa visitas indesejadas; que se um gato preto cruzar seu caminho trará azar; que beber sem brindar, pois bem, essas são algumas das superstições facilmente encontradas na nossa sociedade e que remetem a ideias de boa ou má sorte. Falar de sorte ou azar na terapia comportamental não faz muito sentido, pois estes comportamentos possuem causa metafísica e não têm relação contingencial com os comportamentos alheios que se propõem a descrever. Todavia, para a nossa ciência, a psicologia comportamental, faz muito sentido falar de superstição ou, melhor, de comportamento supersticioso. Comportamento supersticioso é quando um comportamento qualquer que foi emitido coincide temporalmentecom uma resposta acidental, e esta resposta assume a condição de reforçadora para o comportamento que a antecedeu. No comportamento supersticioso, a relação entre a resposta e o comportamento ocorre temporalmente próxima, mas não existe relação de dependência um com o outro. Por exemplo, sempre que o Bahia entra em campo, Rodrigo usa a mesma “camisa da sorte”, pois acredita que o Bahia só venceu o campeonato do ano passado, porque ele estava usando a mesma camisa que usou quando o time foi campeão brasileiro. 31 Neste caso, utilizar a camisa é um comportamento supersticioso que foi reforçado acidentalmente pelo campeonato conquistado pelo time com o mérito dos jogadores e nada tem a ver com o fato do torcedor estar com a sua “camisa da sorte”. Ele poderia estar com a camisa do Vitória, por exemplo, que não faria a menor diferença. Isso significa dizer que não há uma relação de continuidade entre tal estímulo e tal resposta. Em outras palavras, o que acontece é que atribuímos a um determinado comportamento de nosso ambiente uma causa que nada tem a ver com a resposta que se segue a ele. É como a vassoura atrás da porta, por exemplo. Alguém já contou o tempo que leva para essa “mágica” dar certo? Será que a visita vai embora simplesmente porque uma vassoura foi posta atrás da porta, ou alguém, no passado, ao colocar a vassoura naquele local coincidiu com a ida da visita indesejada? Talvez possamos até pensar por outro caminho. Se um determinado indivíduo coloca a vassoura atrás da porta para expulsar uma visita é porque já está cansado dela, portanto, pode começar a emitir comportamentos como bocejar, responder sem muita empolgação, não dar continuidade ao assunto da conversa, etc. E, agindo assim, provavelmente a visita irá embora mais cedo. Concorda? O comportamento supersticioso foi estruturado por Skinner. Antes dele, o filósofo Hume dizia que uma superstição nasce de um hábito que outrora fizera sentido, mas cujas razões de ser foram perdidas pela repetição mal explicada. Por exemplo, há uma superstição popular que diz que passar por baixo de escada dá azar. Pelos teóricos, poderíamos dizer que, numa ocasião remota, alguém passou por baixo de uma escada e uma lata caiu em sua cabeça. Veja que a passagem coincidiu com a queda! Noutro momento, a informação foi passada da seguinte forma: “a lata caiu porque ele passou por 32 baixo da escada”. Claro que a pessoa teve o “azar” da coincidência, mas não significa que todos que passarem terão o mesmo infortúnio. Trata-se de algo parecido com o que veremos no vídeo abaixo. O comportamento supersticioso foi primeiramente estudado em 1948 por B. F. Skinner, cujo trabalho Superstition in the Pigeon deu início a uma série de pesquisas envolvendo este tema. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de replicar sistematicamente o trabalho de Lee (1996) e investigar se mudanças sistemáticas na disposição de ícones na tela do computador poderiam ter funcionado como estímulos reforçadores condicionados para a resposta de emitir cliques numa mesma localização e, assim, ter contribuído para o padrão de respostas supersticiosas obtido por Lee (1996). TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL É uma abordagem terapêutica estruturada, diretiva, com metas claras e definidas pelo psicólogo e o cliente, focalizada no momento presente e utilizada para tratar desde problemas emocionais diversos (Transtornos Psicológicos), comportamentos, dificuldades relacionais e a aprendizagem de novas habilidades. Seu objetivo principal é obter mudanças nos pensamentos e nos sistemas de significados dos clientes (suas crenças) buscando uma alteração emocional e comportamental consolidada e permanente. A premissa básica da TCC, não é a situação que determina o que as pessoas sentem, mas a maneira como elas interpretam os fatos em determinada situação. Portanto, sua maneira de interpretar um evento ou situação é que te faz sentir ou agir de certa maneira. Um exemplo seria duas pessoas passando pela mesma situação (viram um curso na internet). A primeira pessoa pensou: “muito complicado este curso. Não vou conseguir dar conta desses conteúdos difíceis”; Sentimentos: tristeza e desapontamento; Comportamento: saiu da página (esquiva ou fuga diante de dificuldades); A segunda pessoa pensou: que curso interessante! Parece difícil, mas sei que se eu estudar e me dedicar, darei conta; sentimentos: Entusiasmo e alegria; Comportamento: salvou o link do curso (pensamento realista diante de dificuldades). A primeira pessoa nem sequer tentará fazer o curso para testar suas hipóteses de fracasso; A segunda poderá 33 se inscrever. Este exemplo ilustra como as nossas crenças coordenam o processo de percepção e atribuição de significados possibilitando uma interpretação da experiência. Estas crenças são como uma lente que filtram o mundo e conferem significados. Diante de padrões mal adaptativos (ou disfuncionais) de pensamentos, caberá ao terapeuta auxiliar o cliente a encontrar novas possibilidades de pensamentos alternativos e mais funcionais que possibilitem uma boa adaptação à sua realidade social. Tudo começa na terapia com a identificação dos sentimentos, pensamentos e comportamentos em determinadas situações trazidas pela pessoa. À medida que a pessoa vai expressando suas emoções, o terapeuta ensinará a identificação dos pensamentos e crenças associados a seus sentimentos. Se a crença ou pensamento for mal adaptativo será corrigido e submetido a uma nova avaliação mais realista que será construída pelo cliente no processo de reestruturação cognitiva. Mudando-se o pensamento, muda-se sentimentos e comportamentos. A terapia tem uma função pedagógica de ensinar a pessoa a detectar e reduzir os sintomas e isto a tornará mais apta a estes recursos fora da terapia. Estimula-se o cliente a ter maior autonomia neste processo e não se tornar dependente da terapia. O papel do Psicólogo na TCC O terapeuta tem um papel ativo, colaborativo e educativo. Ele prepara o cliente para mudar pensamentos e crenças. Isto possibilitará mais conhecimento sobre o funcionamento emocional e comportamental da pessoa em terapia. Há uma troca na terapia em que o terapeuta ensina e o cliente pratica e aprende a utilizar esse conhecimento a seu favor. Haverá também tarefas que poderão ser feitas fora da terapia, em ambientes diversos, para sedimentar o aprendizado de novas situações que estimularão autonomia e auto eficácia. 34 Através do processo terapêutico, cliente e terapeuta vão construindo uma convivência através do cuidado, da ética, e do tom amigável do profissional para deixar o cliente à vontade para expor suas crenças, identificar seus pensamentos e examinar suas ações. Esse processo se chama aliança terapêutica. Este é um elo construído pela empatia, ética, acolhimento, reconhecimento e validação da experiência emocional, cognitiva e comportamental da pessoa em terapia. Através deste processo o cliente aprenderá novas possibilidades de lidar com suas questões, fortalecerá suas habilidades, aprenderá novas habilidades e resiliência. A psicoterapia é um caminho para a pessoa encontrar-se, para o autoconhecimento e novas aprendizagens e escolhas, entre várias possibilidades. TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – TRATAMENTO DEPENDÊNCIA QUÍMICA Muitos dependentes químicos acreditam estar no controle da situação, porém o uso recreativo de substâncias entorpecentes pode ser um caminho para o vício. A dependência química é um problema real que aflige várias pessoas no Brasil e no mundo. As causas são as mais diversas possíveis: a morte de uma pessoa próxima, problemas financeiros ou amorosos, más influências, contexto familiarproblemático, entre tantas outras. Lidar com essa situação tão complicada é, na maioria das vezes, um grande desafio e surgem muitas dúvidas quanto às abordagens mais 35 adequadas. Mas a dependência não é impossível de ser superada. Atualmente, existem diferentes métodos de tratamento para alcançar a reabilitação em dependência de drogas. Recentemente, médicos e psicólogos vêm realizando pesquisas para conseguir definir quais perfis de dependentes se adequam melhor a cada alternativa de tratamento. Veja a seguir as principais opções de recuperação existentes: Terapia em grupo Um dos métodos mais conhecidos, os grupos de ajuda mútua reúnem homens e mulheres para trocar experiências (boas e ruins) em relação à dependência. Os encontros são gratuitos e frequentes (normalmente, semanais), e possibilitam que os participantes discutam seus receios, suas expectativas e suas frustrações. Os Alcoólicos Anônimos (AA) e os Narcóticos Anônimos (NA) promovem um clima amistoso e amenizam constrangimentos, já que todos ali presentes possuem histórico de dependência. Mesmo após a recuperação total, frequentar esses grupos pode ser de grande ajuda para a manutenção da sobriedade e para evitar recaídas. Tratamento ambulatorial Essa abordagem permite que o dependente faça o tratamento por meio de medicações quando necessário e seja acompanhado por uma equipe multidisciplinar em um ambulatório especializado. É vantajosa porque mantém o paciente inserido no ambiente familiar, evitando mudanças bruscas em seu contexto social. Pode ser incerta já que o dependente vivenciará situações de risco por não ser monitorado o tempo todo. Mas é também encorajadora porque dá um voto de confiança e mais autocontrole à pessoa em tratamento. 36 Internação involuntária Está voltada para dependentes químicos em estado crítico, pois tem como objetivo impedir que o paciente prejudique ainda mais sua integridade física e mental. É uma decisão que deve ser tomada com muita cautela e o tratamento terapêutico deve ser realizado por profissionais especializados. É um método amparado por lei e os órgãos competentes devem ser notificados quando ocorre a intervenção. Se feita de forma inadequada, a internação involuntária pode causar ainda mais danos ao dependente e à sua família. Comunidade terapêutica As comunidades terapêuticas são centros de recuperação para dependentes químicos que prezam pela reabilitação por meio do trabalho, da religiosidade e do acompanhamento com uma equipe multidisciplinar. O tratamento pode durar de três a nove meses e o dependente passa a conviver cotidianamente com outras pessoas em situação similar à sua. A convivência com outros dependentes é uma proposta interessante em que o paciente consegue perceber sua própria realidade e se espelhar na luta do outro. Com a troca de experiências e o acompanhamento profissional, a recuperação se torna bastante viável e o paciente, após alguns meses, poderá ser reinserido no meio familiar. Esses são os métodos mais conhecidos para a reabilitação em dependência química. Mas também há outras alternativas que vêm sendo cada 37 vez mais difundidas no meio médico. Independentemente do tratamento eleito, é importante ressaltar que nenhuma abordagem será totalmente eficaz se o paciente não for amparado por uma equipe especializada e multidisciplinar. Isso porque, muitas vezes, os dependentes químicos apresentam outros problemas para além do abuso de drogas, como a depressão. Portanto, é muito importante que a família e os amigos das pessoas em recuperação saibam como apoiá-las. Assim, estarão mais próximas de finalmente superar o vício. Cada dependente químico estabelece uma relação diferente com a droga e cada dependente apresenta necessidades diferentes. Isso acontece porque a dependência química resulta da interação de vários aspectos da vida do indivíduo: biológico, psicológico e social. Desse modo, as intervenções devem ser diferenciadas para cada indivíduo e devem considerar todos os aspectos envolvidos. Não existe, assim, um tratamento único para a dependência química. Na maior parte dos casos as técnicas usadas para o tratamento precisam ser constantemente reavaliadas durante o tratamento e adaptadas ao momento do paciente. A dependência química é uma doença que interfere em todos os aspectos da vida do paciente dependente. A interrupção do uso da droga é apenas um primeiro passo de um o processo de tratamento que pode durar em média de 1 a 5 anos. O tratamento do paciente dependente deve ser planejado buscando-se não somente interromper o uso da droga, mas visando a reinserção do paciente em novas atividades sociais, profissionais, familiares e a prevenção de recaídas. Como a dependência afeta vários aspectos da vida 38 do paciente ela demanda uma abordagem multidisciplinar por uma equipe composta ao menos por médicos, enfermeiros, psicólogos, neuropsicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e outros profissionais. Pode-se dividir o tratamento dos dependentes em cinco etapas de acordo com a fase de motivação para a mudança em que o paciente se encontra abaixo. As fases não são necessariamente seqüenciais, e os indivíduos usualmente passam por eles várias vezes durante o tratamento, em ordens aleatórias. A motivação para tratar sua doença varia no paciente com uma dependência. Pode-se encontrar o paciente dependente em uma de seis fases. Fases da motivação para mudança Pré-contemplação O paciente dependente não percebe os malefícios e prejuízos relacionados ao uso da droga. Segue com seu uso e não planeja parar nos próximos seis meses. O que fazer: Convidar ao indivíduo à reflexão; evitar a confrontação, remover barreiras ao tratamento e propor medidas de controle do dano; Contemplação O indivíduo percebe os problemas e prejuízos relacionados ao uso da droga, mas não toma nenhuma ação para interromper o uso da droga. Pensa em parar de usar drogas nos próximos seis meses. O que fazer: Discutir prós e contras do uso das drogas; ajudar o paciente dependente a perceber a incompatibilidade do uso de drogas e seus objetivos de vida. Preparação O paciente dependente continua usando a droga, porém já fez ao menos uma tentativa de parar a droga, no último ano. Pensa em parar o uso da droga (abstinência) nos próximos 30 dias. O que fazer: Remover barreira ao tratamento e ajudar o paciente ativamente a se tratar. Deve-se demonstrar interesse e apoio a atitude do paciente dependente de se tratar. 39 Ação O paciente aceitou e conseguiu parar completamente o uso da droga durante ao menos seis meses; O que fazer: Implementar e ajustar o projeto terapêutico do paciente. Manutenção O paciente mantem-se sem usar a droga por ao menos seis meses. O que fazer: Colaborar na construção de um novo estilo de vida mais responsável e autônomo. Recaída O paciente dependente volta a consumir a droga. O que fazer: Reavaliar o estágio motivacional do paciente 1a etapa – Redução de danos O controle do dano é útil sobretudo quando o paciente está em fase de pré-contemplação e contemplação. Nestas fases, como o paciente dependente não aceita ajuda, os profissionais de saúde podem oferecer medidas de proteção que minimizem os danos causados pela droga, pela situação precária em que se encontram os pacientes. Esta atitude pode abrir portas e aproximar o paciente do sistema de saúde permitindo-lhe perceber que há possibilidades tratamento. 2a etapa – Consulta motivacional Durante as etapas de contemplação e preparação o paciente dependente precisa encontrar suas próprias motivaçõesinternas para interromper o uso da droga. Nestas etapas o uso de uma técnica chamada consulta motivacional ajuda o paciente a sair da dúvida sobre os benefícios e malefícios do uso da droga e a se orientar em direção a uma decisão de interromper o uso. 3a etapa – Tratamento de abstinência e construção de um projeto terapêutico Pacientes na fase de preparação e ação precisam ter acesso a serviços de saúde especializados que irão propiciar condições ideais para que o paciente possa realizar o tratamento de abstinência também conhecido como 40 “desintoxicação”. As drogas causam importantes efeitos no cérebro e no organismo. A interrupção súbita do uso de algumas drogas pode causar efeitos e sensações desagradáveis. Quando da realização do tratamento de abstinência o paciente pode, por vezes, se tornar agitado, irritável e sentir um grande mal estar. O uso de um tratamento adequado permite ao paciente obter alívio e prevenir estas sensações desagradáveis, fazendo com que o início da abstinência seja menos sofrido. Para isto são necessárias equipes especializadas em abstinência e para alguns paciente leitos hospitalares que possam acolher, proteger e tratar estes pacientes. Durante esta etapa deve-se trabalhar com o paciente para que, a partir das suas motivações e objetivos de vida, se construir um projeto terapêutico e de reabilitação cognitiva e social. 4a etapa – Reabilitação cognitiva, social e prevenção de recaídas Uma vez realizada a abstinência, alguns pacientes dependentes que tiveram muitos prejuízos econômicos, sociais, pessoais ou neuropsicológicos, ou que se encontram em situação de marginalização, precisarão de um suporte para realizar a reabilitação cognitiva e social. Este processo passa, por vezes, pela avaliação neuropsicológica para se avaliar problemas na concentração, memória, nas funções executivas ou outros aspectos que possam influenciar na tomada de decisões do paciente. Caso haja algum déficit um tratamento de reabilitação neuropsicológico pode ser indicado. A outra etapa é a preparação para o retorno a uma vida ativa, em sociedade e com a inserção de uma atividade profissional que possam ajudar o paciente a retomar a sua auto-estima e o convívio na sua comunidade. Esta etapa pode ser feita por uma equipe multidisciplinar ou com a ajuda de uma comunidade terapêutica de qualidade. Deve-se lembrar que quanto menos se separar o paciente dependente da sua família e da sua comunidade mais fácil e rápida será a sua reinserção. A instituição onde é feita esta etapa do tratamento deve ser capaz de estabelecer um vínculo com a família, com a comunidade e com os serviços de atenção a saúde próximos da morada do paciente. A prevenção de recaída também é uma etapa importante para a manutenção da abstinência. Esta etapa do tratamento tem como objetivo 41 ajudar o paciente dependente a encontrar um novo estilo de vida e a aprender estratégias que o afastarão do uso de drogas e de possíveis recaídas. Além dos serviços de saúde pública e privada, associações como os Alcoólicos Anônimos, os Narcóticos Anônimos, comunidades terapêuticas e instituições religiosas também podem colaborar para o tratamento dos pacientes com uma dependência. Cabe ao médico e a equipe multidisciplinar ajudar o paciente a se orientar aos tratamentos que possam ser mais eficazes para ele. A PROBABILIDADE DO COMPORTAMENTO Imagine que vamos estudar um comportamento simples: o comportamento de beber um copo de água. Para estudar o comportamento humano, na psicologia comportamental ou behaviorismo (behavior significa comportamento em inglês) temos que retirar algumas possibilidades de resposta que damos no senso comum. Digamos que vamos perguntar para alguém que está bebendo água o porque de estar bebendo água. A pessoa pode responder: “Eu estou bebendo água porque estou com vontade” ou “Eu estou bebendo água porque estou com sede”. Ora, estas duas respostas não respondem de verdade a pergunta. Na psicologia comportamental, a busca pelas causas do comportamento será diferente. Na verdade, ao invés de falarmos de causas falaremos em variáveis que (podem ou não) influenciar o comportamento X. Temos então dois tipos de variáveis: • Variável dependente (o próprio comportamento estudado); • Variáveis independentes (variáveis que podem influenciar na emissão do comportamento). Para entendermos esta terminologia é simples: o que chamamos dependente é o comportamento ou variável que vai estar em função de outras variáveis, ou seja, vai depender de outras variáveis para acontecer. No exemplo de beber água, a variável beber água vai acontecer dependendo de outras variáveis como o calor da sala, a temperatura do corpo, a alimentação salgada, etc. 42 Diz Skinner no Ciência e Comportamento Humano: “Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa variável dependente – o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas variáveis independentes – as causas do comportamento – são as condições externas das quais o comportamento é uma função”. Como a variável dependente vai se dar em função de uma ou outra variável independente falaremos em psicologia comportamental de análise funcional do comportamento. A probabilidade da emissão de um comportamento Voltando ao nosso exemplo, como poderemos saber a probabilidade, a chance, de uma determinada pessoa beber um copo de água? Como podemos estudar as variáveis independentes que vão influenciar? Bem, podemos fazer um experimento em laboratório e estudar – quantitativamente – a influência do aumento da temperatura na probabilidade de alguém beber água. Ou seja, o pesquisador pode estudar com diversas pessoas ou com uma mesma pessoa em vários momentos a influência de uma variável independente (a temperatura da sala, medida através de um ar condicionado) sobre a variável dependente, o comportamento de beber água. Alterando a temperatura do ambiente, o pesquisador vai chegar à conclusão de que, quanto maior a temperatura maior a probabilidade de um sujeito experimental beber água. Este, evidentemente, é um exemplo simples mas serve para demonstrar como é possível estabelecer variáveis independentes e probabilidades estatísticas para o controle, análise e estudo do comportamento dos indivíduos. Como temos notado já há muitas décadas desde as primeiras elaborações de Skinner, a análise do comportamento vem se mostrando útil para a emissão de comportamentos que são benéficos individual e socialmente. Por exemplo, na Universidade Federal de São João del-Rei, havia um programa para treinamento comportamental de autistas graves, ou seja, autistas com um grau tão severo da doença que se auto agrediam de forma 43 violenta. Nestes casos extremos de autismo, a autoagressão é tão séria que o indivíduo pode chegar a se matar batendo frequentemente a cabeça na parede. Ora, utilizando o modelo simples acima (e com as outras elaborações teóricas da psicologia comportamental mais complexas, é claro), os pesquisadores estudavam e interviam no comportamento destes indivíduos autistas graves. Assim, ao invés de analisar um simples comportamento de beber água, eles estudavam a probabilidade de autoagressão, por exemplo. Como fazer com que eles parassem de se auto agredir? Como fazer para que eles, gradualmente, pudessem sair da clínica e andar normalmente de ônibus? Como fazer para que eles ao invés de se auto agredirem para pedir comida começassem a verbalizar, a dizer o que estavam querendo? Evidentemente que há um salto de um comportamento simples para comportamentos complexos nos quais uma série de variáveis estariam presentes. Se o comportamento de sair para dar uma volta estava sendo mantido através
Compartilhar