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Direito e Legislação Tributária Sumário 03 CAPÍTULO 4 – Constituição do Crédito Tributário ..............................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 4.1 Obrigação tributária .................................................................................................05 4.1.1 Fato gerador da obrigação tributária .................................................................06 4.1.2 Sujeitos da obrigação tributária ........................................................................06 4.1.3 Domicílio tributário ..........................................................................................08 4.2 Crédito tributário .....................................................................................................09 4.2.1 Constituição do crédito tributário ......................................................................09 4.2.2 Modalidades de lançamento .............................................................................10 4.2.3 Suspensão da exigibilidade do crédito tributário .................................................11 4.2.4 Extinção do crédito tributário ............................................................................13 4.2.5 Exclusão do crédito tributário ............................................................................17 4.3 Administração tributária ............................................................................................18 4.3.1 Fiscalização ....................................................................................................20 4.3.2 Dever de sigilo ................................................................................................21 4.3.3 Inscrição em dívida ativa ..................................................................................22 4.3.4 Ilícito tributário................................................................................................24 Síntese ..........................................................................................................................25 Referências Bibliográficas ................................................................................................26 Capítulo 4 05 Introdução Você já se perguntou quem é o responsável por aplicar a lei, abstrata, ao fato gerador de um tribu- to? Como se dá a relação, na prática, entre quem paga e quem recebe? Quais os limites da relação entre o sujeito ativo e o sujeito passivo? Estas perguntas serão esclarecidas com a definição da constituição do crédito tributário e a sua extinção. Para isso, você estudará as normas orientadoras da obrigação tributária, os elementos que a compõem e verá, ainda, que existem alguns que são incomuns às demais obrigações conhecidas pelo Direito. No decorrer deste estudo, serão tratados também o fato gerador e as partes na relação jurídico- -tributária, abordando a questão da responsabilidade tributária e as hipóteses contempladas no Código Tributário Nacional (CTN). Veja a seguir como funciona a obrigação tributária. 4.1 Obrigação tributária Quando a obrigação tributária se efetiva? E, ainda, quem efetiva a obrigação tributária? A res- posta para estas questões passa, necessariamente, pela compreensão do conceito de obrigação tributária. Hugo de Brito Machado (2012, p. 125) assim a define: [...] podemos tentar definir a obrigação tributária. Diríamos que ela é a relação jurídica em virtude da qual o particular (sujeito passivo) tem o dever de prestar dinheiro ao Estado (sujeito ativo), ou de fazer, não fazer ou tolerar algo no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos, e o Estado tem o direito de constituir contra o particular um crédito. O artigo 113 do CTN classifica a obrigação tributária em principal e acessória. É obrigação principal aquela que surge com o fato gerador e que tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Por sua vez, a obrigação acessória é aquela decorrente da legislação tributária no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos e tem por objeto as presta- ções previstas de fazer ou não fazer. Nesse sentido, Hugo de Brito Machado (2012, p. 127) assevera: Quanto ao objeto, as obrigações em geral podem ser de dar e fazer, compreendidas nestas últimas as positivas e as negativas, isto é, as obrigações de fazer, não fazer e tolerar. Esta é a classificação feita pela doutrina dos privatistas. A obrigação tributária principal corresponde a uma obrigação de dar. Seu objeto é o pagamento do tributo, ou da penalidade pecuniária. Já as obrigações acessórias correspondem a obrigações de fazer (emitir uma nota fiscal), de não fazer (não receber mercadoria sem a documentação legalmente exigida), de tolerar (admitir a fiscalização de livros e documentos). A inobservância da obrigação acessória pode ser fundamento de uma multa que, enquanto pe- nalidade pecuniária, é considerada obrigação principal. Constituição do Crédito Tributário 06 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária 4.1.1 Fato gerador da obrigação tributária O fato gerador ou “fato imponível” é, nas palavras de Geraldo Ataliba (2002, p. 68), “a con- cretização da hipótese de incidência que representa o momento concreto de sua realização. É o fato que justificará a obrigação”. José Geraldo de Ataliba Nogueira, ou Geraldo Ataliba, foi um importante advogado tributarista e, ainda, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na qual ocupou também o cargo de reitor. Além de sua obra mais influente, Hipótese de incidência tributária, é também reconhecido pelas publicações Natureza jurídica da contribuição de melhoria (1964), Sistema Constitucional Tributário Brasileiro (1968), O Decreto-lei na Constituição de 1967 (1968), e Lei Complementar na Constituição (1971). (BORGES, 1990) VOCÊ O CONHECE? Depreende-se do artigo 114 do CTN que a lei é o fundamento da obrigação principal, por definir a situação necessária e suficiente para ocorrência do fato gerador da obrigação principal. O fato gerador da obrigação acessória, definido no artigo 115 do CTN, é qualquer situação que, na forma de legislação aplicável, impõe a prática ou abstenção de ato que não configure a obrigação principal. Ou seja, neste caso não se restringe só à lei. Para aprofundar seus estudos sobre a obrigação tributária, recomenda-se a obra Di- reito tributário: fundamentos jurídicos da incidência, de Paulo de Barros Carvalho. A compreensão do momento da constituição da obrigação permitirá distinguir a legis- lação ao fato gerador (realizado no passado e inalterável pelas legislações futuras), às penalidades envolvidas (com efeito retrativo das legislações convenientes ao sujeito passivo) e, ainda, à aplicável ao lançamento (a ser considerado no momento da rea- lização do ato). VOCÊ QUER LER? 4.1.2 Sujeitos da obrigação tributária O artigo 119 do CTN determina quem é a pessoa jurídica de direito público ou privado compe- tente para exigir tributos, ou seja, o sujeito ativo: Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é uma pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento. Deve-se ressaltar que existem dois tipos de sujeito ativo: o direto e o indireto. Os primeiros são os entes com competência tributária (União, estados, municípios e Distrito Federal); o segundo, os entes parafiscais, com capacidade tributária que lhes permite fiscalizar e arrecadar tributos, por delegação. Exemplos: Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), Conselho Regional de Medicina (CRM), entre outros. Sobre a capacidade tributária, é importante você saber que pode ser ativa, oupassiva. 07 A capacidade ativa é a aptidão para ser titular do direito de exigir o cumprimento da prestação pelo contribuinte, ou seja, é a envergadura para arrecadar e fiscalizar os tributos, o que não se confunde com a competência tributária. A capacidade passiva é a aptidão para sujeitar-se à obrigação tributária e independe da capa- cidade civil das pessoas naturais; de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do serviço das atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da admi- nistração direta de seus bens ou negócios; de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. O sujeito passivo, elencado nos artigos 121 a 123 do CTN, é a pessoa física ou jurídica obrigada por lei ao cumprimento da prestação tributária. E essa prestação pode ser pecuniária (principal) ou não pecuniária (acessória). Destacam-se dois sujeitos passivos na relação jurídica tributária: o contribuinte e o responsável: Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: I – contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II – responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei. O contribuinte é, conforme inciso I do artigo 121 do CTN, aquele que praticou a situação des- crita como núcleo do fato gerador, ao qual pode ser imputada a autoria do fato gerador. Este é aquele que deve ser, em princípio, o sujeito passivo. O responsável é, conforme o inciso II do artigo 121 do CTN, aquele que, sem relação direta com o fato tributável, está obrigado ao pagamento do tributo. Essa responsabilidade pode se dar por substituição ou por transferência. Na substituição, a obrigação constitui-se, desde logo, em relação a um responsável, ficando de fora aquele que seria o contribuinte. Qual a finalidade da substituição? Serve para simplificar a fiscalização que se concen- tra nos produtos; antecipar o recolhimento de impostos ou contribuições já na venda dos produtos; e evitar a sonegação fiscal que possa ocorrer nas diversas etapas da comercialização até o produto chegar ao consumidor final. VOCÊ SABIA? Já na transferência, a obrigação constitui-se inicialmente em relação ao contribuinte, comunican- do-se depois para o responsável por meio da sucessão, da solidariedade ou da subsidiariedade. Na sucessão, o sucessor responde pelo sucedido, como ocorre na transferência da propriedade de imóvel, na herança ou na incorporação de uma empresa por outra. Na solidariedade, o devedor solidário responde juntamente com o devedor principal, podendo a dívida ser cobrada indiferentemente de um ou outro, no todo ou em parte, à escolha do credor. Na subsidiariedade, prevista no artigo 135 do CTN, o devedor subsidiário também responde juntamente com o devedor principal, mas com benefício de ordem, ou seja, em segundo plano, 08 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária pois só depois de executados todos os bens do devedor principal, na solução da dívida, é que poderão executar os seus. Figura 1 – Os pais são subsidiariamente responsáveis pelos impostos devidos pelos filhos. Fonte: Shutterstock, 2015. O artigo 136 do CTN determina que a responsabilidade por infrações da legislação é objetiva, pois independe da intenção do agente ou responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Acompanhe para compreender a relação entre domicílio tributário e obrigação. 4.1.3 Domicílio tributário A relação do domicílio tributário com a obrigação é simples: trata-se do lugar, definido pela pró- pria legislação tributária no artigo 127 do CTN, onde o sujeito passivo é convocado a cumprir deveres jurídicos de ordem tributária. Na falta da eleição, pelo contribuinte ou responsável, de seu domicílio tributário, considera-se como tal: Art. 127 [...] [...] I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade; II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento; III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante. Na falta da aplicabilidade das regras dos incisos do artigo 127 do CTN, o domicílio tributário será o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obri- gação. Ainda, a autoridade administração não está obrigada a aceitar domicílios eleitos pelo contribuinte que impossibilitem ou dificultem a fiscalização do tributo ou a sua arrecadação, podendo aplicar a regra geral. 09 4.2 Crédito tributário Antes de começar o estudo deste tópico, reflita sobre as questões: o pagamento é a única ma- neira de extinguir o crédito tributário? Como o sujeito passivo pode se opor a uma cobrança indevida sem ser considerado um devedor em mora com suas obrigações? Avalie a constituição do crédito tributário, analisando o procedimento do lançamento em suas mais variadas espécies. Identifique os fenômenos de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, bem como as hipó- teses de extinção e exclusão do crédito tributário. É direito subjetivo do Estado exigir do contribuinte o pagamento do tributo devido, derivado da relação jurídica tributário, que nasce com a ocorrência do fato gerador na data ou no prazo determinado em lei. Este direito de exigir necessita da constituição do crédito tributário. 4.2.1 Constituição do crédito tributário Só a autoridade administrativa pode fazer o lançamento do crédito, pois a constituição deste crédito é de sua competência privativa. Assim, para haver lançamento – e, consequentemente, o crédito tributário – é essencial que exista fato gerador, e, portanto, obrigação tributária. Nesse sentido, veja o que manifesta o Superior Tribunal de Justiça (STJ): [...] o crédito tributário não surge com o fato gerador. Ele é constituído com o lançamento (artigo 142 do CTN). (Resp. 250.306/DF, 1ª turma, rel. Min. Garcia Vieira, j. 06/06/2000). O crédito regularmente constituído é aquele tornado líquido, certo e exigível, por meio do lan- çamento. O lançamento, previsto no artigo 142 do CTN, é ato administrativo vinculado definido como o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obri- gação correspondente; determinar a matéria tributável; calcular o montante devido; identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. O lançamento impõe obrigação tributária desde a data do fato gerador, retroagindo no tempo até a data da sua ocorrência (efeitos ex tunc). O lançamento, enquanto ato, será regido pela lei vigente à época da sua realização, enquanto a obrigação tributária será regida pela lei vigente à época da ocorrência do fato gerador, não sofrendo qualquer alteração em virtude de modi- ficação ou revogação dessa lei. É constitutivo da obrigação, mas declarativo do fato gerador. Por ser ato administrativo vinculado, isto é, pelo fato de a Administração não ter a opção de não praticá-lo, tem caráter obrigatório – caso deixem de efetuá-lo, os funcio- nário públicos são sujeitos a crime de responsabilidade funcional, diferentemente dos atos discricionários. VOCÊ SABIA? 10 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária 4.2.2 Modalidades de lançamento Há três modalidades de lançamento: por declaração ou misto; por homologação ou autolança- mento; e lançamento de ofício. O lançamento por declaração ou misto éprevisto no artigo 147 do CTN: Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, prestar à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação. Neste caso, a retificação da declaração pelo próprio declarante, quando vise reduzir ou excluir tributo, só é admitida mediante comprovação de erro e antes de notificado o lançamento. Assim, o sujeito passivo é responsável pelas informações para a sua elaboração. São exemplos desta espécie de lançamento: imposto de importação, imposto de exportação e ITBI. O lançamento por homologação ou autolançamento é previsto no artigo 150 do CTN: Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. O sujeito passivo declara o valor devido, efetua o pagamento, e o fisco verifica posteriormente a veracidade das informações prestadas e a correção do valor recolhido. Apenas após essa verificação pela administração extingue-se o crédito tributário. São exemplos de tributos consti- tuídos por este tipo de lançamento: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto de Renda (IR). É importante você saber, ainda, que a homologação pode ser expressa, ou tácita. A homologação expressa ocorre quando a autoridade administrativa notifica ou, por qualquer outro ato, avisa o sujeito passivo que o lançamento por ele efetuado está de acordo com a lei. Por sua vez, a homologação tácita é prevista no artigo 150, parágrafo 4º, do CTN. A lei fixa um prazo de cinco anos, contados a partir da realização do fato gerador pelo sujeito, para que ad- ministração pública se manifeste sobre o lançamento por ele efetuado. Decorrido esse lapso de tempo sem que a administração pública se manifeste, considera-se homologado o lançamento e extinto o crédito tributário. Além do lançamento por homologação, há também o lançamento de ofício, feito por iniciativa da autoridade administrativa, independentemente de qualquer colaboração do sujeito passivo. Nesse sentido, Eduardo Sabbag (2012, p. 777) destaca: [...] Lançamento direto ou de ofício é aquele que o Fisco, por meio de autoridade administrativa, dispondo de dados suficientes em seus registros para efetuar a cobrança, realiza-o, dispensando o auxílio do contribuinte. Ao verificar informações falsas, documentos forjados ou, ainda, perceber no comportamento do contribuinte a existência de dolo, fraude ou simulação, a administração pública poderá proceder à revisão do lançamento por declaração ou por homologação por meio do arbitramento, de ofício, do valor da dívida tributária. Esse direito de arbitrar o tributo é exercido com fundamento no artigo 148 do CTN nos casos em que as declarações do sujeito passivo não possuem credibilidade pela autoridade pública ou sejam omissas: 11 Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial. Figura 2 – O auditor deverá utilizar todos os elementos que complementem as informações necessárias para realizar o lançamento por arbitramento, na forma da lei. Fonte: Shutterstock, 2015. Esta não é a única hipótese de alteração de lançamento efetuado. Com base no artigo 145 do CTN, o lançamento realizado pode ser alterado em virtude de: a) impugnação do sujeito passivo, que recebe a notificação do lançamento e pleiteia a nulidade ou improcedência dele; b) recurso de ofício apresentado pela fazenda contra a decisão favorável ao contribuinte; c) iniciativa da autoridade administrativa nos casos previstos no artigo 149 do CTN. 4.2.3 Suspensão da exigibilidade do crédito tributário A suspensão da exigibilidade do crédito tributário consiste na sustação temporária da possibili- dade de cobrança do tributo pelo sujeito ativo, mas não dispensa o cumprimento da obrigação acessória. Nesse sentido, Kiyoshi Harada (2001, p. 364) afirma: [...] a suspensão de exigibilidade de crédito tributário é sempre de natureza temporária. A suspensão não importa na desconstituição do crédito tributário que continua intacto desde sua constituição definitiva pelo lançamento, notificado ao sujeito passivo. A lei prevê que a exigibilidade pode ser suspensa nos seguintes casos (artigo 151 do CTN): • moratória; • depósito integral do montante exigido; 12 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária • reclamações e recursos legais, de acordo com a legislação reguladora do processo tributário administrativo; • concessão de medida liminar em mandado de segurança; • concessão de medida liminar ou tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; • parcelamento. A moratória é a prorrogação do prazo para pagamento do crédito tributário, concedida pelo credor ao devedor, com ou sem parcelamento. A sua concessão em caráter geral depende de lei (artigo 97, VI, CTN) e a sua concessão em caráter individual depende de autorização legal, por despacho da autoridade administrativa. A lei deverá especificar o prazo de duração do favor legal, as condições de sua concessão em caráter individual, os tributos a que a moratória se aplica, o número de prestações (em caso de parcelamento), seus vencimentos e as garantias a serem fornecidas pelo beneficiado. A moratória, salvo disposição de lei em contrário, abrange somente os créditos definitivamente constituídos, não sendo aproveitada em caso de dolo, fraude ou simulação. No caso do depósito integral, o sujeito passivo pode depositar o montante integral do crédito tributário, a fim de suspender a exigibilidade e evitar a execução fiscal. Outra vantagem desta hipótese é evitar a incidência de multa e juros moratórios, enquanto discute-se questão que afeta a exigibilidade do tributo. O depósito pode ser efetuado previamente, antes da constituição definitiva do crédito, ou após, com o lançamento. Além disso, somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se o valor for depositado integralmente e em dinheiro, mas não se confunde com o pagamento. O depósito suspende a exigibilidade do crédito tributário, ao passo que o pagamento possui a finalidade de extinguir o crédito. Na hipótese de reclamação e recursos legais, significa que o contribuinte pode, caso não venha a concordar com os termos do lançamento, manifestar seu descontentamento ou inconformismo à esfera administrativa. Nesse caso, ao ser apresentada a reclamação ou o recurso administrativo, suspende-se a exigibilidade do crédito tributário até a decisão administrativa definitiva, por interferir na propositura da execução fiscal, em face da suspensão da exigibilidade do crédito tributário. É possível também suspender a exigibilidade do tributo pela concessão de medida liminar em mandado de segurança, instrumento que assegura aos indivíduos a proteção de direito líquido e certo, lesado ou ameaçado, por ato de autoridade. Assim, em face de cobrança de tributo indevido, pode o contribuinte valer-se dele. Cassada a liminar que inibe o Estado de promover a cobrança – o que pode dar-se na sentença, ou mesmo antes desta, a critério do juiz – restaura-se o direito do Estado de tornara cobrar seu crédito. O contribuinte tem o prazo de 120 dias, a contar da ciência do ato de cobrança do tributo que considera indevido, para impetrá-lo. Ou deve impetrar o mandado preventivo, antes do ato, diante da ameaça de cobrança de tributo ilegal ou inconstitucional. Outra forma judicial de suspender a exigibilidade do tributo é a concessão de medida liminar ou tutela antecipada em outras espécies de ação judicial, diferentemente do mandado de seguran- ça. A tutela antecipada fundamenta-se na necessidade de evitar que, em decorrência da demora na prestação jurisdicional, qualquer das partes venha, no decorrer do processo, a sofrer danos ou perdas irreparáveis, ou de difícil reparação. É um provimento de pedido de antecipação da 13 decisão de mérito no todo ou em parte, de forma provisória, antes de completar a instrução e o debate da causa-objeto da relação jurídica. O parcelamento mencionado no artigo 151 do CTN é considerado tecnicamente espécie de moratória. Veja o que afirma Eduardo Sabbag (2012, p. 860): O parcelamento é procedimento suspensivo do crédito, caracterizado pelo comportamento comissivo do contribuinte, que se predispõe a carrear recursos para o Fisco, mas não de uma vez. O que conduz tão somente à suspensão da exigibilidade do crédito tributário, e não à sua extinção. Extinção seria se “pagamento” fosse. 4.2.4 Extinção do crédito tributário A extinção é o desaparecimento definitivo da exigibilidade do crédito tributário. As espécies são elencadas com base no artigo 156 do CTN: • pagamento; • compensação; • transação; • remissão; • prescrição; • decadência; • conversão do depósito em renda; pagamento antecipado e homologação do lançamento; • consignação em pagamento; • decisão administrativa irreformável; • decisão judicial passada em julgado; • dação em pagamento em bens imóveis; • confusão. O pagamento consiste na entrega da quantia devida (do valor do crédito tributário) que o deve- dor (sujeito passivo contribuinte, ou responsável) faz ao credor (pessoa política competente para arrecadar o tributo, ou Fazenda Pública) e corresponde ao cumprimento da obrigação tributária principal. Está disciplinado nos artigos 157 a 163 e 165 a 169 do CTN, sendo uma modalidade direta de extinção do crédito tributário. São elementos essenciais do pagamento válido: a) Local: a lei que instituiu a obrigação tributária deve fixar o local de seu pagamento. Na omissão legal, o local será o da repartição pública da pessoa competente para arrecadar o tributo, situada no domicílio do sujeito passivo. b) Tempo: o pagamento deve ser efetuado no prazo fixado de vencimento para ser considerado válido. Na falta dessa regulamentação, o vencimento do crédito ocorrerá em 30 dias após a notificação regular do sujeito passivo sobre a existência do lançamento. 14 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária c) Forma: a dívida tributária deve ser paga sempre em dinheiro, na falta de previsão legal diversa. A imputação ao pagamento corresponde à escolha, por parte da pessoa obrigada, de indicar qual débito deve ser amortizado, quando houver dois ou mais débitos líquidos e vencidos devidos a um mesmo credor. A ordem legal para imputação ao pagamento é: a) débitos na condição de sujeito passivo contribuinte; b) débitos na condição de sujeito passivo responsável; c) contribuições; d) taxas; e) ordem crescente dos prazos de prescrição; f) ordem decrescente dos montantes (valores) dos débitos. A compensação corresponde à hipótese de duas pessoas serem, ao mesmo tempo, credoras e devedoras uma da outra, e também à possibilidade de suas obrigações serem extintas até onde se contrabalançarem, quando líquidas e certas. No caso da obrigação tributária, as condições para que a compensação ocorra são: • os créditos e débitos devem ser em relação ao mesmo ente federado; • os créditos devem ser líquidos e certos; • o débito deve ser vincendo; • a possibilidade de compensação deve ser autorizada por meio de lei expedida pela pessoa jurídica competente para instituir e alterar o tributo. A transação é um acordo celebrado entre duas ou mais pessoas com a finalidade de extinguir uma pendência entre elas, prevista no artigo 171 do CTN: Art. 171. A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária celebrar transação que, mediante concessões mútuas, importe em determinação de litígio e consequente extinção de crédito tributário. Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para autorizar a transação em cada caso. Em matéria tributária, a transação é a proposta de um acordo estabelecido pela administração pública por meio de lei. Nessa proposta, a administração visa colocar fim a um litígio (demanda judicial ou administrativa) que verse sobre pagamento de crédito tributário. A hipótese de remissão consiste na dispensa do pagamento total ou parcial do crédito tributário vencido. Não se aplica às penalidades relativas à falta de pagamento desse crédito. As condições estão dispostas no artigo 172 do CTN: Art. 172. A lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder, por despacho fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário, atendendo: I - à situação econômica do sujeito passivo; II - ao erro ou ignorância excusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato; III - à diminuta importância do crédito tributário; IV - a considerações de equidade, em relação com as características pessoais ou materiais do caso; 15 V - a condições peculiares a determinada região do território da entidade tributante. Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155. A remissão é efetivada por meio de despacho da autoridade fazendária, sendo necessária a apresentação de requerimento do sujeito passivo à autoridade pública, demonstrando que possui direito ao benefício. A prescrição corresponde à perda do direito de ação que permite exigir, por meios legais, deter- minado crédito tributário. O CTN determina em seu artigo 174 que: Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva. Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; II - pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. A decadência é a perda da força de determinado direito pelo seu não exercício. Em matéria tributária, o prazo de decadência refere-se ao direito da Fazenda Pública constituir o crédito tributário. Isso quer dizer que o CTN estabelece um prazo para a Fazenda Pública exercer seu direito de constituir o crédito e, em não o fazendo, perde o direito de constituí-lo: Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. O referido depósito, no caso da conversão do depósito em renda, é, por exemplo, o previsto na hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Trata-se de depósito queé realizado pelo sujeito passivo que deseja discutir a validade da cobrança total ou parcial do crédito tribu- tário. A conversão do depósito em renda acontece quando, após a decisão judicial em favor da Fazenda Pública, o depósito judicial é convertido em renda da administração pública que, se no valor integral, extinguirá o débito. O pagamento antecipado, com consequente homologação do lançamento, é forma de extinção que se refere aos créditos tributários provenientes de tributos sujeitos ao lançamento por homo- logação ou autolançamento. O pagamento é considerado antecipado, pois o recolhimento aos cofres públicos é realizado antes da constituição do crédito pelo lançamento. Uma vez ocorrida a homologação, está extinto o crédito tributário. A consignação em pagamento, espécie de ação judicial, extingue a obrigação do devedor para com o credor. A ação consiste no depósito judicial da coisa devida nas hipóteses em que a admi- nistração pública recusa-se a receber o crédito tributário e tem o efeito do pagamento. A recusa, para legitimar essa possibilidade, deve ser injustificada ou em decorrência da subordinação do recebimento do crédito à outra exigência da Fazenda Pública, ou seja, a administração pública nos termos do artigo 164 do CTN: a) subordinação do pagamento da quantia em discussão ao pagamento de outro tributo ou penalidade, ou ainda, ao cumprimento de obrigação acessória; 16 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária b) subordinação do recebimento da obrigação ao cumprimento de exigências administrativas sem precisão ou fundamento legal; c) exigência do tributo por duas ou mais pessoas políticas que se entendem competentes para arrecadar o mesmo tributo ou tributo sobre o mesmo fato gerador. A decisão administrativa irreformável é aquela decisão pela administração pública competente que, após revisão de ato provocada ou de ofício, afasta definitivamente a possibilidade de co- brança do tributo em discussão no procedimento administrativo. Figura 3 – A decisão administrativa irreformável que impõe o pagamento não impede o contribuinte de utilizar-se de outras medidas de suspensão ou extinção de exigibilidade pela via judicial, como no caso da liminar. Fonte: Shutterstock, 2015. A decisão judicial transitada em julgado corresponde à decisão proferida por juízo ou tribunal, à qual não cabe qualquer recurso, que afasta definitivamente a exigibilidade do tributo objeto da ação judicial. A dação em pagamento em bens imóveis é a hipótese de que o devedor entrega ao credor, com anuência deste, coisa diversa de dinheiro em substituição à prestação devida, no intuito de ex- tinguir sua obrigação. A Lei Complementar (LC) nº 104/2001 autorizou à União aceitar apenas bens imóveis como dação em pagamento de créditos tributários, não prevendo a aceitação de quaisquer outros bens ou serviços. A confusão é a extinção do crédito quando, por um fato ou ato jurídico, as qualidades de credor e devedor se reúnem na mesma pessoa. A hipótese não possui previsão no CTN, mas, enquanto instituo jurídico, está presente no artigo 381 do Código Civil, e sua utilização é admitida pelo Poder Judiciário: [...] No caso dos autos, apesar de o possuidor ser protegido pela imunidade tributária, como reconhecido pelo acórdão de origem, nessa parte mantido em razão da aplicação da Súm. nº 7 - STJ, é relevante notar que o Município de São Paulo é, ao mesmo tempo, proprietário do imóvel e titular do tributo cobrado. Haveria, nesse caso, uma espécie de confusão entre o credor e o devedor, restando indevido o tributo. [...] (Resp. 325.489-SP, rel. Min. Eliana Calmon, j. 19/11/2002) . Para complementar o que você estudou, observe o exemplo descrito a seguir. 17 Caso prático: O município de São Paulo exigia o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) da Federação Uni- versitária Paulista de Esportes (FUPE), que não era proprietária do imóvel, mas mera locatária. O locador do imóvel objeto do IPTU era o próprio município de São Paulo. Para fins de compreensão da situação que se coloca, destaca-se que somente contribui para o IPTU o possuidor que tenha animus domini (intenção de agir como dono), conforme o artigo 34 do CTN foi interpretado pelo STJ em diversas oportunidades. Ou seja, o locatário não é um possuidor a este título. Para fazer valer seus direitos, a FUPE promove uma ação judicial com a finalidade de descons- tituir o crédito tributário e, por consequência, promover a extinção por meio de decisão judicial que deu origem ao Recurso Especial 325.489-SP no STJ. Em resposta, conforme transcrita acima, foi reconhecida a existência da confusão que tornava a exigência do tributo indevida. 4.2.5 Exclusão do crédito tributário A exclusão do crédito tributário é benefício fiscal que consiste na dispensa da exigibilidade de determinado tributo, por parte da Fazenda Pública. Nesse sentido, Eduardo Sabbag (2012, p. 887) afirma: A exclusão do crédito tributário, por meio da isenção e da anistia, consiste na inviolabilidade de sua constituição, ou seja, são situações em que, mesmo ocorrido o fato gerador e a obrigação tributária, não haverá lançamento e, consequentemente, não haverá crédito tributário. A isenção, prevista no artigo 175, inciso I, e regulada nos artigos 176 à 179 do CTN, é a dispen- sa do tributo por força de lei. A isenção, em geral, é entendida como regra de direito excepcional capaz de subtrair pessoas ou bens da regra geral utilizada para a tributação. A isenção não permite a constituição do crédito tributário e deve sempre decorrer de lei que es- pecifique as condições e os requisitos exigidos para a sua concessão. A norma de isenção deve ser sempre interpretada literalmente, não comportando aplicação por analogia. A concessão de isenção não importa dispensa de cumprimento das obrigações acessórias refe- rentes ao tributo. É, portanto, um instrumento de exoneração do ônus tributário e pode ser: • objetiva: quando concedida em função da matéria tributável; • subjetiva: quando concedida em função da pessoa do contribuinte; • geral: quando beneficia todos os contribuintes do território diretamente; • individual: quando atinge determinados sujeitos passivos, mediante o requerimento do interessado e dependendo do deferimento; • condicionada: quando a lei estabelece exigências a serem atendidas pelo sujeito passivo; • incondicionada: quando a lei descreve a hipótese de concessão do benefício, sem estipular qualquer condição; • certa: a lei determina que os contribuintes terão direito ao benefício por determinado prazo; • indeterminada: a lei não determina um prazo certo para a duração do benefício concedido e pode ser revogada a qualquer tempo. 18 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária A anistia fiscal é o perdão, tanto do ilícito tributário quanto da penalidade imposta ao contribuin- te infrator do mandamento legal sobre a ausência de recolhimento do tributo. Deve ser concedi- da por lei, em caráter geral ou de forma limitada, abrangendo tão somente as infrações cometi- das antes da violência da lei que a concede. Somente a entidade tributante pode conceder, por meio de seu próprio legislativo, a anistia referente aos tributos que regula, arrecada e administra. Com a concessão da anistia, o tributo continua sendo devido pelo contribuinte e, portanto, deve ser pago. Porém, será excluída a aplicação das penalidades aplicáveis à ausência total ou parcial do recolhimento. Não se aplica a anistia: • aos atos qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos que, mesmo sem essa qualificação, sejam praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por terceiro em benefício daquele; • às infrações resultantes de conluio entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, ressalvadas as disposiçõesem contrário. A partir do que você aprendeu sobre as obrigações tributárias, veja no tópico a seguir como é realizada a administração dos tributos. 4.3 Administração tributária Como ocorre a fiscalização tributária dos sujeitos passivos? De que forma é exigido o crédito tributário constituído? Essas são as questões que serão respondidas com o estudo dos procedi- mentos administrativos relacionados ao Direito Tributário. A administração tributária é definida como todas as ações integradas voltadas para a fiscalização e arrecadação tributária. De acordo com Eduardo Sabbag (2012, p. 911): A administração tributária traduz-se num conjunto de ações e atividades, integradas e complementares entre si, que almejam garantir o cumprimento pela sociedade da legislação tributária, que se mostra por meio da presença fiscal, quer no âmbito da facilitação do cumprimento das obrigações tributária, que na construção e manutenção da percepção de risco sobre o calculado inadimplemento. Essas ações e atividades se sustentam na normatização da legislação tributária e num conjunto integrado de sistemas de informação, alimentados por dados cadastrais e econômico-fiscais, fornecidos ao Fisco pelos próprios contribuintes ou por terceiros, mediante a apresentação de diversas modalidades de declarações. A pessoa política, ao receber a competência tributária, obtém o direito de arrecadar e fiscalizar os tributos. Em matéria tributária, fiscalizar é o ato da autoridade administrativa que visa exami- nar o recolhimento do tributo (obrigação principal) e o cumprimento dos deveres administrativos (obrigação acessória). A obrigação acessória tem por finalidade fornecer elementos suficientes para que a autoridade administrativa possa verificar a situação fiscal do contribuinte. São exemplos: a inscrição nas repartições competentes, como o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ); escrituração de livros e documentos fiscais; escrituração contábil; fornecimento periódico de informações sobre os tributos do contribuinte, como a Guia de Informação e Apuração (GIA) e a Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF); recolhimento dos tributos em guias próprias, com o correto preenchimento dos códigos de arrecadação, etc. 19 Figura 4 – Exemplo de guia própria para recolhimento de tributos. Fonte: BRASIL, 2015. O exercício do poder de fiscalização se dá por meio de atos vinculados e, portanto, reputam-se submetidos aos estritos limites da lei. Por essa razão, a competência e os poderes das autorida- des administrativas, em matéria de fiscalização tributária, são definidos na legislação tributária. Essa legislação aplica-se às pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, inclusive as que gozam de imunidade tributária ou isenção de caráter pessoal (artigo 194 do CTN). Sobre a legislação, vale ressaltar que o desenvolvimento da informática exige a atualização na interpretação da edição do CTN. Por exemplo: arquivo, na época, referia-se ao móvel, geral- mente de aço, próprio para guardar documentos; hoje, esse termo alcança também as cópias dos registros comerciais e fiscais feitas em programas de informática (software). Figura 5 – O prazo para a guarda de documentos sujeitos à fiscalização é variável e pode chegar a 30 anos. Fonte: Shutterstock, 2015. 20 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária O prazo de guarda de documentos sujeitos à fiscalização varia conforme a legislação de cada tributo. Para os documentos relacionados às contribuições para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), até a decisão do STF nos autos do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) nº 709.212, julgado em 13/11/2014, era de 30 anos. Os livros obrigatórios comerciais (livros de contabilidade) e fiscais, e os comprovantes dos lan- çamentos neles efetuados devem ser conservados até que ocorra a decadência ou a prescrição dos créditos tributários dessa forma registrados. 4.3.1 Fiscalização O termo de fiscalização é obrigação imposta pelo CTN que exige da autoridade administrativa, ao iniciar a fiscalização in loco, o registro do início dessa diligência, lavrando o “termo de início de fiscalização”, que deve ser entregue ao contribuinte, especificando os livros e os documentos a serem exibidos no curso da fiscalização. VOCÊ QUER VER? O filme Mais estranho que a ficção, comédia romântica dirigida por Marc Foster, ilustra o tema estudado: um auditor visita uma padaria, que vem omitindo seus rendimentos, na tentativa de identificar corretamente o montante tributável. Na esfera federal, o fiscal deve se identificar e em seguida apresentar esse termo, já que está autorizado pela Receita Federal, com os dados do contribuinte. Para tanto, deve imprimi-lo da página da SRF na internet. Figura 6 – Ilustração de um exemplo de tela que aparece para o contribuinte ao consultar a regularidade de sua fiscalização. Fonte: BRASIL, 2015 A legislação tributária aplicável fixará o prazo máximo para a conclusão dessa diligência. É claro que o termo de início da fiscalização não pode exigir livros e documentos referentes a períodos já alcançados pela decadência. Esses termos são lavrados, sempre que possível, em livro próprio: na legislação do ICMS, no Livro de Termos de Ocorrências Fiscais, disciplinado em regulamento estadual etc. 21 Se, por falta de previsão da legislação tributária relativa a determinado tributo, não houver livro próprio, será entregue à pessoa sujeita à fiscalização uma cópia do termo assinada pelo fiscal. A autoridade administrativa também pode exigir informações de terceiros à relação tributária, nos termos do artigo 197 do CTN: Art. 197. Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à autoridade administrativa todas as informações de que disponham com relação aos bens, negócios ou atividades de terceiros: I - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício; II - os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições financeiras; III - as empresas de administração de bens; IV - os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais; V - os inventariantes; VI - os síndicos, comissários e liquidatários; VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão. Parágrafo único. A obrigação prevista neste artigo não abrange a prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão. As informações prestadas serão confrontadas com as fornecidas pelo contribuinte. Destaca-se que o parágrafo único exclui as informações sigilosas, que a lei obriga quem delas tomou co- nhecimento, pelo exercício de sua função, a guardar segredo. 4.3.2 Dever de sigilo É vedada a divulgação, para qualquer fim, por parte do Fisco ou de seus funcionários, de infor- mações sobre a situação econômica ou financeira dos contribuintes, responsáveis ou terceiros. Essa obrigação é chamada de dever sigilo fiscal e está prevista no caput do artigo 198 do CTN: [...] é vedada a divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou atividades. Entre os crimes praticados por funcionários públicos, encontra-se a violação de segredo funcio- nal, isto é, divulgar a situação de fortuna ou os negócios dos contribuintes. Os agentes públicos estão sujeitos a crimes específicos que podem ocorrer no exercício ilegal de suas funções. Além da violação de sigilo funcional, prevista no art. 325 do Código Penal, consulte os artigos 312 ao 327 do Código Penal, que contêm outros crimes passíveis de ocorrência, entreoutras situações. VOCÊ QUER LER? 22 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária Os parágrafos do próprio artigo 198 do CTN, no entanto, apresentam situações excepcionais em que não incide o dever de sigilo: • requisição de informação por autoridade judiciária no interesse da justiça; • solicitação de informação por autoridade administrativa no interesse da administração pública com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informação; • divulgação de informações relativas a representações fiscais para fins penais; • divulgação de informações relativas a inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública; • divulgação de informações relativas a parcelamento ou moratória; • intercâmbio de informação sigilosa no âmbito da administração pública, mediante entrega pessoal à autoridade solicitante e formalização da transferência, assegurada a preservação do sigilo. Destaca-se que esta última hipótese de exceção ao dever de sigilo é coerente com o dever imposto às administrações públicas dos variados entes. As Fazendas Públicas da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios devem prestar-se, mutuamente, assistência para a fiscalização dos tributos respectivos e permuta de informações, na forma especificada por lei ou por convênio celebrado entre esses entes federados. 4.3.3 Inscrição em dívida ativa A conta dívida ativa, na contabilidade pública, refere-se aos créditos da Fazenda Pública, em oposição à conta dívida passiva, que se refere a seus débitos (Lei nº 4.320/1964). A dívida ativa tributária é constituída por crédito dessa natureza, regularmente inscrito na repar- tição administrativa competente. Esse ato de promover a inscrição pode ser definido como um procedimento administrativo que habilita a Fazenda a promover ação judicial para executar o su- jeito passivo (contribuinte ou responsável), com um título líquido e certo, imediatamente exigível. A inscrição em dívida ativa é regulada principalmente pelos artigos 201 a 203 do CTN e pelos artigos 2º a 5º da Lei de Execução Fiscal (Lei nº 6.830/80). De acordo com o artigo 201 do CTN, depois de esgotado o prazo para pagamento do crédito tributário, estabelecido pela lei ou por decisão final proferida em processo regular, constitui-se a dívida ativa tributária regularmente inscrita na repartição administrativa competente, criando-se a presunção de liquidez e certeza do crédito tributário com o efeito de prova pré-constituída. A expressão “regularmente inscrito” refere-se a crédito que é de conhecimento da Fazenda Pública. Na medida em que essa presunção de liquidez e certeza é relativa, pode ser ilidida por prova inequívoca, a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite. Essa liquidez e certeza constituem requisitos essenciais da certidão da dívida ativa, sendo defeso à Procuradoria, repre- sentante da Fazenda Pública em juízo, acrescentar qualquer outro dado à certidão. O termo ou certidão de dívida ativa é emitido pela autoridade administrativa, com o intuito de atestar que o crédito corretamente apurado e lançado foi inscrito em livro próprio. Essa certidão deve conter os dados principais do procedimento administrativo que gerou o crédito inscrito. O CTN dispõe em seu artigo 202: Art. 202. O termo de inscrição da dívida ativa, autenticado pela autoridade competente, indicará obrigatoriamente: I - o nome do devedor e, sendo caso, o dos corresponsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio ou a residência de um e de outros; 23 II - a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora acrescidos; III - a origem e natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição da lei em que seja fundado; IV - a data em que foi inscrita; V - sendo caso, o número do processo administrativo de que se originar o crédito. Parágrafo único. A certidão conterá, além dos requisitos deste artigo, a indicação do livro e da folha da inscrição. A omissão ou erro nas indicações obrigatórias são causas de nulidade da inscrição da dívida ativa e do respectivo processo de execução fiscal. Contudo, a nulidade pode ser sanável. Neste caso, a regularização deve ser feita antes da decisão de primeira instância, mediante substituição da certidão. Nesse caso, devolve-se o prazo para defesa do executado. Por princípio da econo- mia processual, essa defesa somente poderá versar sobre a parte modificada. São inscritos em dívida ativa não apenas os créditos tributários, mas também os créditos não tributários (multas de trânsito, multas pelo exercício do poder de polícia etc.). Na ausência de qualquer inscrição, o sujeito passivo pode solicitar uma certidão negativa de débitos (CND). De acordo com o artigo 205 do CTN: Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o pedido. Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na repartição. A CND é o ato formal de comprovação da quitação de determinado tributo, quando exigível, ex- pedida à vista de requerimento do interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócios ou atividade e indique o período a que se refere o pedido. Assim, consiste em um documento apto a comprovar a inexistência de débito de um contribuinte, em razão de um tributo ou um período específico. Figura 7 – O contribuinte pode pedir certidão negativa de débitos por meio da página da SRF na internet. Fonte: BRASIL, 2015. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido requerida e será forne- cida dentro de dez dias da data da entrada do requerimento na repartição. 24 Laureate- International Universities Direito e Legislação Tributária A certidão positiva com efeito de negativa é a prevista do artigo 206 do CTN, sendo aquela de que conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva, em que tenha sido efetivada penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa. De acordo com o artigo 208 do CTN, a certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha erro contra a Fazenda Pública, responsabiliza pessoalmente o funcionário que a expe- dir, pelo crédito tributário e juros de mora acrescidos, não excluída a responsabilidade criminal e funcional, se cabíveis. 4.3.4 Ilícito tributário Procedimento lícito é o que está de acordo com a ordem jurídica. O procedimento ilícito é o que viola a ordem jurídica. O inciso I do artigo 188 do Código Civil determina que os praticados no exercício regular de um direito reconhecido não constituem atos ilícitos. Ao contrário, os atos praticados em exercício irregular serão considerados ilícitos, ou seja, abusivos de direito. O ilícito tributário é ato decorrente da violação de legislação tributária, seja ela principal (o não pagamento do tributo) ou acessória (a não apresentação dos livros), e tem por consequência uma sanção administrativa, que pode ser: multa pecuniária; apreensão de mercadorias; pena de perdimento. São espécies de ilícitos tributários: • Infração tributária: decorre da inobservância da legislação tributária, como acontece com o pagamento incorreto de um tributo. • Infração tributária e penal: ocorre quando o contribuinte vem a burlar a legislação com o objetivo de não pegar o tributo. O fisco irá apurar o tributo e aplicar a penalidade cabível, mas também haverá crime, como, por exemplo, de sonegação fiscal. • Infração penal: ocorre quanto o fato praticadoimplicar apenas violação à lei penal, como do fiscal que exige tributo que sabe indevido. Para verificação das infrações administrativas, independe a intenção daquele que praticou o ato ou deixou de praticá-lo. Neste caso, o sujeito passivo pode ser o agente, ou ainda um terceiro, que é o responsável tributário e responderá patrimonialmente pelo descumprimento do dever jurídico. As leis nº 4.729/1965 e nº 8.137/1990, trazem diversas infrações penais aplicáveis ao contexto tributário. Não são as únicas. Entre os crimes previstos na legislação brasileira estão: sonegação fiscal, fraude de informações ou documentos e conluio entre pessoas visando à sonegação. As infrações penais tributárias têm natureza jurídica de crime e devem respeito às regras de Direi- to Penal. A Lei nº 8.137/1990 definiu o ilícito penal tributário como o descumprimento de uma norma tributária, que tem por consequência uma sanção penal – penas de reclusão e detenção cumuladas, ou não, com penas de multa. Nas infrações penais vigora o princípio da responsa- bilidade subjetiva, ligando diretamente o agente com o fato típico, antijurídico e culpável. Nesse caso, não existe responsável, somente é possível a figura da coautoria. 25 Síntese Você concluiu o estudo referente à constituição do crédito tributário a partir de três perspectivas essenciais: a relação tributária, a possibilidade de exigência da prestação tributária e as ferra- mentas disponíveis à administração pública para promover a arrecadação e fiscalização. Para a compreensão do tema estudado, você teve a oportunidade de: • distinguir a obrigação tributária em obrigações acessórias e principais; • identificar os elementos da obrigação tributária, incluindo sujeitos (ativo e passivo), causa (fato gerador) e objeto; • compreender o regime legal da troca de informações entre o cidadão e o ente federal, o sujeito passivo e terceiro no dever de prestar informações e a administração tributária no dever de guardar sigilo sobre as informações que teve acesso; • conhecer as possibilidades de suspensão, extinção e exclusão do crédito tributário, afetando a possibilidade de sua exigência pelo poder público; • conhecer as modalidades de lançamento existentes: de ofício, por declaração e por homologação. Síntese 26 Laureate- International Universities Referências ATALIBA, G. Hipótese de incidência tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. BORGES, J. S. M. À Guisa de Prefácio. In: ATALIBA, G. Hipótese de incidência tributária. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990. BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui- cao/constituicao.htm> Acesso em: 30 set. 2015. ______. Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172, 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, estados e municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm> Acesso em: 30 set. 2015. ______. Código Tributário Nacional. Lei Complementar nº 104, 10 de janeiro de 2001. Altera dispositivos da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. – Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp104.htm>. Acesso em: 30 set. 2015 ______. Decreto nº 982, de 12 de novembro de 1993. Dispõe sobre a comunicação, ao Ministério Público Federal, de crimes de natureza tributária e conexos. Disponível em: < http:// www.jusbrasil.com.br/legislacao/113097/decreto-982-93>. Acesso em: 30 set. 2015 ______. Código Civil. Lei nº 9.430, 27 de dezembro de 1996. Dispõe sobre a legislação tri- butária federal, as contribuições para a seguridade social, o processo administrativo de consulta e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9430.htm >. Acesso em: 30 set. 2015 ______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 325.489-SP. Recorrente: Município de São Paulo. Recorrido: Federação Universitária Paulista de Esportes – FUPE. Relator: Eliana Calmon. Acórdão, 19 nov. 2002. D.O.U. 24 fev. 2003. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/ processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=383805&num_registro= 200100675055&data=20030224&formato=PDF>. Acesso em: 30 set. 2015. CARVALHO, P. de B. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. FORSTER, M. Mais estranho que a ficção. [Filme. Comédia]. Produção de Mandate Pictures. Direção de Marc Foster. Roteiro de Zach Helm. EUA, 2006, 113 min. HARADA, K. Direito Financeiro e Tributário. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2001. MACHADO, H. de B. Curso de Direito Tributário. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. SABBAG, E. Manual de Direito Tributário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. Bibliográficas
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