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1 Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Veterinária Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária Aspectos clínicos das mastites bovinas Lívio Ribeiro Molina Prof. Associado Clínica de Ruminantes Belo Horizonte 2016 2 Sumário Introdução ......................................................................................................................... 4 1. Considerações sobre a morfo-fisiologia da glândula mamária ..................................... 5 1.1. Úbere de uma vaca adulta ...................................................................................... 5 1.2. Ejeção do leite ........................................................................................................ 6 2. Mastite .......................................................................................................................... 7 2.1. Mastite subclínica .................................................................................................. 8 2.2. Mastite clínica ........................................................................................................ 8 2.3. Etiologia das mastites bovinas ............................................................................... 9 2.1.1. Patógenos contagiosos ................................................................................... 10 2.1.2. Patógenos ambientais .................................................................................... 13 2.1.3. Outros patógenos ........................................................................................... 15 2.4. Fatores de risco para ocorrência de mastite ......................................................... 16 3. Detecção de mastite .................................................................................................... 17 3.1. Detecção de mastite clínica .................................................................................. 18 3.1.1. Exame clínico do úbere ..................................................................................... 18 3.1.2. Teste da caneca de fundo escuro ....................................................................... 18 3.2. Detecção de mastite subclínica ............................................................................ 18 3.2.1. California Mastitis Test - CMT ........................................................................ 18 3.2.2. Contagem eletrônica de células somáticas - CCS ............................................ 19 3.2.3. Condutividade elétrica ...................................................................................... 20 3.2.4. Cultura microbiológica ..................................................................................... 20 4. Tratamento de mastite .............................................................................................. 22 4.1. Tratamento de mastite clínica .............................................................................. 23 4.1.1. Protocolo para tratamento de mastite clínica ................................................ 24 4.2. Tratamento de mastite subclínica ......................................................................... 25 4.2.1. Streptococcus agalactiae – Blitz Terapia ...................................................... 25 4.3. Falhas no tratamento ............................................................................................ 26 5. Mastite em novilhas .................................................................................................... 26 6. Controle e prevenção de mastite ................................................................................. 29 7. Período seco e prevenção de mastite .......................................................................... 31 7.1. Métodos de secagem ............................................................................................ 31 3 7.2. Alterações fisiológicas da glândula mamária durante o período seco .................. 31 7.2.1. Período de involução ativa ............................................................................ 32 7.2.2. Período de involução constante ..................................................................... 32 7.2.3. Período de lactogênese ou colostrogênese .................................................... 32 7.2. Tratamento de vacas secas ................................................................................... 33 7.2.1. Infusão intramamária de antibiótico .............................................................. 33 7.3. Uso de Selantes .................................................................................................... 33 8. Manejo de ordenha e mastite ...................................................................................... 34 9. Desinfecção de tetos pré e pós ordenha ...................................................................... 35 9.1. Pré-dipping ........................................................................................................... 35 9.2. Pós-dipping .......................................................................................................... 36 9.3. Princípios ativos usados na antissepsia ................................................................ 36 10. Equipamento de ordenha .......................................................................................... 38 11. Nutrição e mastite ..................................................................................................... 39 12. Programas de vacinação contra a mastite ................................................................. 40 12.1. Vacinas contra Staphylococcus aureus .............................................................. 41 12.2. Vacinas contra coliformes ................................................................................. 43 Considerações finais ....................................................................................................... 44 Referências bibliográficas .............................................................................................. 45 4 Introdução A mastite é a inflamação da glândula mamária, podendo-se apresentar sob a forma clínica em que alterações no leite (grumos, pus, leite aquoso), alterações no quarto afetado ou no próprio animal podem ser observadas. Ainda é classificada sob a forma subclínica, caracterizada por ausência de sinais clínicos, sendo diagnosticada normalmente por meio da contagem de células somáticas (CCS), California Mastitis Test (CMT), ou por cultura microbiológica. Diversos fatores de risco estão relacionados à ocorrência da doença que implica em grande impacto econômico nos rebanhos leiteiros, principalmente devido à redução na produção de leite, à perda de qualidade do leite, ao aumento dos custos com a produção, à redução da performance reprodutiva, aos altos custos com tratamento, ao descarte de leite, à transmissão de infecção para outros animais, aos gastos com assistência veterinária e ao descarte prematuro de animais (Ruegg, 2014). Dessa forma, programa de controle e prevenção de mastite, que objetive prevenir a ocorrência de novas infecções e a redução da duração de infecões existentes necessita ser aplicado. Porém, os procedimentos e as ferramentas utilizados em programas de controle de mastite somente serão eficazes e terão sucesso se forem sistematicamente implementados na rotina de ordenha das fazendas. Parece óbvio, mas o desafio de garantir a implementação de tais práticas é tão grande quanto os desafios enfrentados pelos pesquisadores em descobertas de novas tecnologias para o controle da mastite.5 1. Considerações sobre a morfo-fisiologia da glândula mamária 1.1. Úbere de uma vaca adulta O úbere está localizado na região inguinal e é composto por 4 quartos mamários independentes (2 quartos mamários anteriores, direito e esquerdo e 2 quartos mamários posteriores, também direito e esquerdo), drenados cada um por um teto (Bragulla e König, 2004. Citado por Araújo et al., 2012). Portanto, como os quartos mamários são independentes entre si, é possível obter leite de qualidade diferente em cada um deles (Tetra Pak, 1985). Ainda devido a esta conformação, conclui-se também que não há transmissão de um microrganismo de um quarto para outro diretamente, como também não há transferência ou mistura de leite de um quarto com outro quarto (Santos e Fonseca, 2007). Recobrindo externamente o úbere da vaca há a pele, que fornece algum suporte mecânico e pelos, sendo que não há revestimento piloso nos tetos (Moraes, 2016). Sustentando o peso do úbere de uma vaca em lactação, que pode variar de 14 a 32 kg, há um sistema suspensor, composto principalmente por ligamentos (Araújo et al., 2012). Em cada lado do úbere há o ligamento suspensório lateral, que é composto por tecido conjuntivo fibroso e que auxilia na sustentação. Já na parte central, há o ligamento suspensório medial, que tem por função sustentar a glândula mamária; portanto, fixa-a à parede abdominal e à pelve e ainda separa completamente os quartos mamáios do lado esquerdo do lado direito (Brito et al., 2007). FONTE: repositorio.ufc.br Além disso, a glândula mamária é composta por tecido conjuntivo, gordura, vasos e nervos (estroma) e por um tecido glandular (parênquima), que possui as células secretoras de leite, que são células epiteliais especializadas secretoras, que quando reunidas formam os avéolos (cerca de 2 bilhões). Estes, por sua vez, são circundados por células mioepiteliais (Tetra Pak, 1985; Brito e Sales, 2007). Um conjunto de alvéolos circundados por tecido conjuntivo e que drenam para um ducto menor compõem um lóbulo e um conjunto de lóbulos que são drenados por um ducto maior formam um lobo, que é rodeado por tecido conjutivo (Moraes, 2016). Ligamento Suspensório Medial Ligamento Suspensório Lateral Ligamento Suspensório Lateral 6 Como dito anteriormente, os alvéolos são circundados por células mioepiteliais, que são células responsáveis pela contração dos mesmos após estimuladas por ocitocina. Os ductos também são rodeados por estas células (Moraes, 2016). Após secretado, o leite segue para o lúmen do alvéolo e daí é drenado para a cisterna da glândula, através de ductos. Em seguida, o leite é drenado para a cisterna do teto, local onde fica retido (Moraes, 2016). A cisterna da glândula tem por função o armazenamento do leite produzido (um volume de cerca de 100 a 400 mL de leite pode ser armazenado). Diferentemente, a cisterna do teto pode armazenar um volume de cerca de 30 a 60 mL (Santos e Fonseca, 2007). Da cisterna do teto o leite segue para o meio externo por meio de um canal, o canal do teto. Este tem cerca de 1 a 1,5 cm de comprimento e auxilia na retenção de leite no período entre as ordenhas, principalmente pelo fato de possuir um conjunto de pregas, as Rosetas de Furstenberg. O canal se abre em um orifício, o orifício do teto. Este orifício é mantido fechado no período entre as ordenhas, prevenindo assim entrada de bactérias e o vazamento de leite. Para que o fechamento ocorra, o orifício do teto conta com um esfíncter composto por um grupo de fibras musculares (Tetra Pak, 1985). FONTE: ww.uclm.es. Adaptação. 1.2. Ejeção do leite A ejeção do leite acontece por um reflexo neuro-endócrino, envolvendo estímulo nervoso e hormonal. Estímulos como o toque no teto para remoção dos primeiros jatos de leite, a mamada do bezerro, a entrada na sala de ordenha, o som do equipamento de ordenha são importantes para que haja ejeção do leite. Após o estímulo tátil do teto, seja pelas mãos do ordenhador massageando-o, seja pela mamada do bezerro, há ativação de neurônios sensoriais na pele do teto, que Ductos lácteos Roseta de Furstenberg Cisterna da glândula Orifício do Teto Canal do Teto Lúmen Lóbulos Epitélio Secretor Capilares Células Mioepiteliais Membrana Basal Cisterna do Teto Anel da Cisterna do Teto 7 levarão o estímulo, via aferente, até a medula espinhal e daí para o hipotálamo (Senger, 2003). Este, por sua vez, desencadeará uma resposta em que haverá liberação de hormônio - ocitocina, pela hipófise posterior. A ocitocina cai na circulação sanguínea e ao chegar na glândula mamária, liga-se a receptores presentes nas células mioepiteliais, levando a contração das mesmas. Consequentemente, há contração dos alvéolos e ejeção do leite para o lúmen. Em seguida, o leite é drenado em direção a ductos menores e daí para ductos maiores. Posteriormente, o leite segue em direção à cisterna da glândula e daí para a cisterna do teto, canal do teto e alcança o meio externo através do orifício do teto. A eliminação dos primeiros jatos de leite é um estímulo importante para que haja a ejeção do leite. Após 60 a 90 segundos há o pico de liberação de ocitocina. Sendo assim, o momento ideal para que as teteiras sejam acopladas e para que a ordenha completa e ininterrupta seja iniciada é 90 segundos após o estímulo inicial (retirada dos primeiros jatos de leite) (Hulsen et al., 2013). Durante a ordenha a liberação de ocitocina continua, até o momento em que este hormônio começa a ser diluído e decomposto na corrente sanguínea, desaparecendo após 5 a 8 minutos (período necessário para a ordenha completa) (Tetra Pak, 1985). Porém, o que se tem observado em muitas propriedades leiteiras é um desrespeito a este período de tempo necessário para a liberação de ocitocina e ao período de atuação deste hormônio, sendo que quando este último é prolongado, pode acabar causando irritação no animal e em dificuldade em ordenhá-lo posteriormente (TetraPak, 1985). Existem estímulos que inibem o reflexo de ejeção do leite, como dor e estresse, que levam a liberação de adrenalina que bloqueia a liberação de ocitocina pela hipófise, leva a vasoconstrição de capilares da glândula, impedindo que concentração suficiente de ocitocina alcance a glândula mamária para se ligar às células mioepiteliais e ainda bloqueia receptores de ocitocina presentes nestas células, impedido que este hormônio ocupe os mesmos (Santos e Fonseca, 2007). Dessa maneira, sala de ordenha tranquila, silenciosa e ausência de manejo agressivo para com os animais, são fatores cruciais para que haja uma boa descida do leite e boa produção. 2. Mastite Mastite é a inflamação do parênquima da glândula mamária, independentemente da causa que pode ocorrer devido a um trauma, a uma lesão do úbere, ou até mesmo devido a uma irritação química (Philpot e Nickerson, 2002). Bactérias que atingem o interior de um ou mais quartos pelo ducto do teto estão mais comumente relacionadas à ocorrência de mastite. Entretanto, também pode ser causada por fungos ou por micoplasmas. Em resposta ao crescimento microbiano, leucócitos se deslocam da corrente sanguínea para o leite, visando combater a infecção, acarretando em uma resposta inflamatória que também visa a neutralização de toxinas produzidas pelos microrganimos causadores da mastite e a restauração do parênquima da glândula mamária,de modo que possa reestabelecer a sua função normal (Philpot e Nickerson, 2002). 8 Contudo, a reação inflamatória pode não ser percebida, apresentando-se na forma de mastite subclínica, ou pode ser severa o suficiente para ser classificada como mastite clínica. Além disso, caso a infecção não for contida por leucócitos ou eliminada por tratamento, resultará em mastite crônica. 2.1. Mastite subclínica É aquela em que não é possível observar alterações no leite ou no úbere do animal, uma vez que ambos se aparentam normais. Acarreta redução na produção de leite a longo prazo e possui maior prevalência no rebanho. Além disso, causa redução da qualidade do leite, uma vez que leva a alterações na composição do mesmo, como aumento da concentração de células somáticas (CCS), de proteínas séricas, dos teores de Cl-, Na+, e diminuição dos teores de caseína, gordura e lactose, além de levar a perda dos benefícios de bonificação dos programas de pagamento por qualidade do leite. Portanto, a mastite subclínica possui grande importância econômica (Ruegg e Reinemann, 2002). Conforme citado por Oliveira e Medeiros (2015), a mastite subclínica geralmente é causada por patógenos contagiosos, dentre eles: Staphylococcus aureus, Mycoplama bovis, Streptococcus agalactiae e Corynebacterium bovis. Oliveira e Medeiros (2015) têm demonstrado taxas de isolamento de S. aureus entre 8,3% e 49,23%, nos rebanhos (Langoni et al., 1991; Brito et al., 1999; Costa et al., 2013). Estudo realizado no Pará por Oliveira e colaboradores demonstrou percentual de 32,3% de Staphylococcus spp. coagulase negativo, 17,7% de Staphylococcus aureus, 1,6% de Staphylococcus intermedius, 4,8% de Streptococcus spp. e 4,8% de Corynebacterium spp. isolados nos animais com mastite subclínica. Culturas bacteriológicas do leite permitem a identificação da mastite subclínica. No entanto, devido a incapacidade de utilização de cultura como teste de rotina, a CCS é o método padrão para detecção de mastite subclínica (Hudson, 2012). Coentrão (2008), demonstra que vacas que apresentarem CCS maior de 200.000 células/mL possuem mastite subclínica e esta forma de manifestação da mastite é “15 a 40 vezes mais prevalente que a forma clínica” em um rebanho leiteiro (Santos e Fonseca, 2007). Por se tratar de uma doença de difícil percepção por produtores, a mastite subclínica acaba sendo negligenciada, o que aumenta ainda o risco de vacas com mastite subclínica se constituírem fonte de infecção para as outras do rebanho. 2.2. Mastite clínica É a forma de mastite na qual é possível se observar alterações no leite, como presença de grumos, coágulo, pus, leite aquoso e/ou alterações no úbere do animal, como inchaço (edema), vermelhidão, dor a palpação e até mesmo endurecimento de quartos mamários inflamados (Philpot e Nickerson, 2002). Em casos mais graves, é possível observar, associado ao quadro de mastite clínica, alterações sistêmicas no animal, como apatia, febre, depressão, desidratação, redução do consumo de alimento e da produção de leite (Santos e Fonseca, 2007). Mastite clínica só ocorre quando o patógeno responsável pela infecção e inflamação não é adaptado à glândula, possui alta virulência e quando há falhas no 9 sistema imune (Hudson, 2012. Shipgel et al., 1998). Normalmente é causada por estafilococos, estreptococos e coliformes. Molina e colaboradores (2016) demonstraram taxa de isolamento de 84% de gram positivos, incluindo Streptococcus agalactiae; Streptococcus spp.; Streptococcus dysgalactiae; Corynebacterium bovis; Streptococcus uberis; Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativo. Já os microrganismos gram negativos foram isolados em 16%, sendo os principais isolados Escherichia coli; Klebsiella spps e Serratia sp. Costa (1998) demonstrou a porcentagem de ocorrência dos principais microrganismos causadores de mastite clínica em MG e SP Staphylococcus (28 e 26%); Corynebacterium sp. (44 e 37%); Streptococcus (17 e 18%); Enterobacteriaceae (0,7 e 0,4%). 2.3. Etiologia das mastites bovinas A mastite pode ser classificada ainda como contagiosa ou ambiental, de acordo com o microrganismo causador (ambiental ou contagioso). A mastite contagiosa geralmente se caracteriza por ter longa duração e alta CCS, além de ser baixa a incidência de casos clínicos, sendo a forma subclínica da doença a mais predominante (Santos e Fonseca, 2007). Já a mastite ambiental é caracterizada por apresentar curta duração, CCS baixa, ou seja, menor que 200.000 células/mL, sendo a forma clínica da doença a mais predominante (Costa, 2012). Tabela 1 - Principais características da mastite contagiosa e ambiental Mastite Contagiosa Mastite Ambiental Principais agentes Principais agentes Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus, Mycoplasma bovis, Corynebacterium bovis - Coliformes: Escherichia coli, Klebsiella spp., Enterobacter aerogenes - Estreptococos ambientais: Streptococcus uberis, Streptococcus bovis, Streptococcus dysgalactiae Fonte de infecção Fonte de infecção Úbere e a pele dos tetos de animais infectados Ambiente de permanência dos animais, principalmente quando há acúmulo de fezes, urina, barro e cama orgânica Forma de disseminação Forma de disseminação A transmissão ocorre de quartos infectados para sadios, geralmente durante a ordenha, por meio de teteiras, mãos de ordenhadores e panos utilizados na secagem dos tetos Exposição da vaca a ambientes contaminados (transmissão ocorre no período entre ordenhas, principalmente) ou equipamento de ordenha com manutenção inadequada (transmissão durante a ordenha) 10 Indicadores Indicadores - CCS do tanque de expansão maior que 300.000 células/mL; - Frequentes casos de mastite clínica, de apresentação branda e geralmente nas mesmas vacas; - Ocorrência de casos de mastite durante toda a lactação - CCS do tanque de expansão menor que 300.000 células/mL; - Ocorrência de casos de mastite clínica principalmente no peri-parto e início da lactação Recomendações de Controle Recomendações de Controle Programa de 6 Pontos de Controle de Mastite - Programa de 6 Pontos de Controle de Mastite; - Intensificar a limpeza nos locais onde as vacas ficam alojadas, especialmente no final do período seco e no peri-parto; - Melhorar a imunidade dos animais especialmente no período peri-parto Metas Metas - Erradicar S. agalactiae do rebanho; - 85% das vacas com CCS < 200.000 células/mL; - Reduzir a taxa de novos casos para menos de 5% das vacas em lactação por mês Reduzir a taxa de mastite clínica para menos de 2% das vacas em lactação por mês FONTE: Adaptado de CRIST et al., 1997. 2.1.1. Patógenos contagiosos É um patógeno Gram positivo, altamente contagioso, encontrado na glândula mamária. A transmissão se dá principalmente durante a ordenha (Keefe et al., 1997), sendo que mãos dos ordenadores, teteiras contaminados consistem fontes de infeção. Conforme Costa (2012), o S. agalactiae é um microrganimaos obrigatório da glândula mamária, necessitando do microambiente do úbere para seu crescimento, não havendo um grande reservatório do mesmo no ambiente; o reservatório é o leite de quartos mamários infectados. Portanto, esta situação facilita sua erradicação em rebanhos por meio de técnicas eficientes de manejo e higiene. De acordo com Keefe (1997), a virulência das cepas de S. agalactiae está relacionada o fato da colônia se aderir veemente ao epitélio mamário. Bactérias presentes noleite penetram no canal do teto, aderem-se e se multiplicam, invadindo os Streptococcus agalactiae 11 tecidos. Em seguida, ocorre migração intensa de neutrófilos e posterior obstrução dos ductos (Costa, 2012). Fibose intralveolar pode ocorrer, o que leva a redução na secreção de leite (Keefe et al., 1997). S. agalactiae apresenta liberação no leite, podendo acarretar no aumento da contagem bacteriana total (CBT) do tanque de expansão e também no aumento de CCS, o que acarreta em perdas econômicas relacionadas com a perda de produção de leite, a diminuição e a penalidade na qualidade deste (Keefe et al., 1997). Philpot e Nickerson (2002) demonstram que S. agalactiae é sensível a penicilina e nos casos em que a infecção não se resolve, a inflamação pode se tornar crônica e o que se observará é o aparecimento de “casos clínicos repentinos durante a lactação”. Mas, sabe-se que de forma geral, os beta-lactâmicos têm bons resultados em sua erradicação. A erradicação pode melhorar a condição sanitária e reduzir as perdas financeiras dos rebanhos, além de conferir aos mesmos a condição de “livres de infecção”, desde de que sejam adotadas medidas sanitárias que evitem a reintrodução de animais infectados ao plantel. É um microrganismo Gram positivo e as principais fontes de infecção são o úbere e a pele dos tetos, sendo transmitido de vacas infectadas para os animais sadios geralmente durante a ordenha, através do equipamento, mãos dos ordenhadores e panos utilizados para limpeza dos tetos. Essa bactéria tem a capacidade de invadir e instalar a infecção em tecidos profundos da glândula mamária, ocorrendo geralmente a formação de tecido fibroso e microabscessos, dificultando e até impedindo o acesso de antibióticos e das células de defesa ao sítio de infecção. Diante destes fatores ressaltados, uma vez instalada a infecção por S. aureus, a inflamação que se desenvolve tem tendência a cronicidade, e por isso é difícil de ser tratada com antibióticos, principalmente devido a formação de tecido fibroso em várias regiões da glândula. A CCS é elevada nas infecções por S. aureus e geralmente a mastite se manisfesta na forma subclínica, mas associada a episódios de casos clínicos (Philpot e Nickerson, 2002). Estudo de Jones e Bailey (2009) demonstrou que quartos infectados por S. aureus apresentaram CCS de 234.000 células/mL (35 dias pós-parto) que aumentou para 1.000.000 células/mL (285 dias pós-parto). Menos frequentemente, cepas de S.aureus produzem toxinas que causam constrição dos vasos sanguíneos e coagulação intensa, obstruindo o aporte sanguíneo para a área afetada, levando à ocorrência de mastite gangrenosa, caracterizada por uma coloração azulada da glândula mamária, frieza do tecido afetado e extravasamento de soro sanguíneo pela pele, podendo resultar na perda do quarto, ou em alguns casos, na morte do animal. Estudos têm demonstrado que S. aureus é resistente a antibacterianos beta- lactâmicos e ainda possui numerosas substâncias extracelulares que permitem sua Staphylococcus aureus 12 sobrevivência mesmo na presença de um sistema imune hospedeiro hostil. Sendo assim, o tratamento antibacteriano tem se mostrado ineficiente (Erskine, 2003). Em estudo realizado por Erskine (2003), foi citado taxa de cura em caso de mastite experimentalmente induzida por S. aureus de apenas 25% a 55%, nos quartos avaliados 21 a 60 dias após infecção, demonstrando a baixa eficácia no tratamento de mastite causada por S. aureus. Outro estudo, de Cruz e colaboradores (2004), demonstrou taxa de cura bacteriológica para S. aureus, após realização do tratamento de 33,3% para o tratamento com cloridrato de pirlimicina e 45,5% para o tratamento com ampicilina associada a cloxacilina, sendo a taxa de cura bacteriológica média de 39,1%, indicando, desta forma, uma baixa eficácia do tratamento na eliminação de S. aureus, provavelmente devido a suas características de virulência já citadas anteriormente. Sendo assim, devido a dificuldade de contato do antibiótico com a bactéria, recomenda-se a segregação e o descarte de vacas infectadas por S. aureus, uma vez que são fontes de infecção para outras do rebanho, contribuindo assim para a disseminação da doença (Philpot e Nickerson, 2002). Os micoplasmas são organismos menores que as bactérias, altamente contagiosos e são frequentemente difíceis de serem detectados devido a dificuldade de crescimento em laboratório. Conforme Bushnell (1984), a mastite por M. bovis é caracterizada por aparecimento rápido, aumento do número de casos clínicos que não respondem a tratamento, formação de secreção purulenta, vários quartos com infecção e redução significativa da produção de leite. M. bovis pode ser transmitido durante a ordenha, via aerossois e secreções. Além disso, pode ser introduzido em rebanhos livres da doença por meio da aquisição de animais portadores (Pretto et al., 2001). Resistência ao tratamento com antibióticos associada ao fato dos micoplasmas não possuírem parede celular, o que os tornam resistentes ao tratamento com penicilinas, por exemplo. Trabalho de Pretto e colaboradores (2001) demosntrou que animais tratados com oxitetraciclina, tilosiama e outro tratado com enrofloxacina não respoderam ao tratamento, uma vez que o microrganismo foi reisolado dos quartos mamários afetados e não houve retorno à produção de leite anterior. Este estudo demonstra a refratariedade do M. bovis aos antibacterianos. Dessa forma, o que se recomenda em caso de presença de M. bovis no rebanho é a segregação e o descarte de animais infectados, uma vez que se trata de um patógeno altamente contagioso e resistente a antibioticoterapia (Santos e Fonseca, 2007). Bacilo Gram positivo, altamente contagioso, que coloniza o canal do teto de vacas leiteiras e que tem tem sido usado como um indicador de higiene no momento da ordenha. Em fazendas onde a desinfecção dos tetos pós-ordenha não é realizada ou está incorreta, C. bovis pode ser isolado em mais que 60% dos quartos amostrados (Gonçalves, 2012). Mycoplasma bovis Corynebacterium bovis 13 C. bovis é a espécie mais frequentemente isolada de glândulas mamárias e apesar de ser classificada como um patógeno secundário, seu papel na infecção intramamária ainda não está totalmente definido (Dambrós et al., 2013). De acordo com Gonçalves (2012) alguns estudos iniciais baseados em infecção experimental mostraram que quartos infectados com C. bovis contavam com uma proteção contra a infecção por S. aureus. Entretanto, não foi demonstrada a mesma proteção contra outros agentes, tais como S. uberis e S. agalactiae. Estudos posteriores verificaram efeito protetor em quartos infectados por C. bovis para alguns dos principais agentes da mastite (S. uberis, S. agalactiae e S. aureus). Tais resultados, no entanto, foram contestados por estudos que evidenciaram que quartos infectados por C. bovis foram aproximadamente 8,5 vezes mais susceptíveis à infecção por S. agalactiae que quartos sadios. Os resultados sugeriram que quartos com infecções intramamárias causadas por C. bovis estiveram mais predispostos à infecção por estreptococos ambientais, S. aureus e S. agalactiae, o que ratifica a controvérsia acerca do papel protetor deste agente na saúde da glândula mamária. É importante elucidar que C. bovis pode ser também agente primário de surtos de mastite (Gomes, 2013). Além disso, estudos demonstraram que nos casos de mastite por C. bovis, observa-se normalmente, uma redução na produção de leite e um aumento significativo na CCS, que pode variar de 200.000 a 400.000 células/mL (Dambrós et al., 2013; Philpot e Nickerson, 2002). “No entanto, autores descreveram que, apesar de C. bovis ser um dos agentes mais comumente isolados de amostras de leite, a CCS de quartos mamários individuais destasamostras é baixa, na maioria das vezes” (Makovec et al., 2001; Pitkala et al., 2004. Citado por Dambrós et al., 2013). Neste mesmo estudo de Dambrós e colaboradores (2013), ainda foi observado uma prevalência de mastite por C. bovis de 21,07% no estado de Minas Gerais, sendo que este patógeno foi isolado em todos os rebanhos mineiros analisados. Durante a lactação não se recomenda o tratamento dos casos subclínicos causados por Corynebacterium spp. Em termos de controle para eliminação de infecções subclínicas causadas por C. bovis, além da desinfecção dos tetos após a ordenha, a terapia da vaca seca tem a mesma importância. 2.1.2. Patógenos ambientais Os coliformes são cocos Gram negativos, que incluem E. coli, Enterobacter, Klebsiella, Serratia, entre outros. Todos são habitantes do trato gastrointestinal da vaca e estão presentes em grande quantidade nas fezes. Além disso, são encontrados em camas, esterco, solo, alimentos e água e a temperatura elevada favorece sua replicação nestes sítios. Vacas que são mantidas em ambientes sujos ou com alta densidade de animais apresentam maior risco de mastite por coliformes. A maioria dos casos de contaminação de tecido mamário por coliformes ocorrem logo após a secagem ou durante o período seco, mas geralmente só se apresentam sob a forma clínica, após o parto. Coliformes 14 Coliformes são considerados patógenos ambientais oportunistas, que invadem a glândula mamária, e que normalmente são rapidamente eliminados pelo sistema imunológico da vaca (Costa, 2012). Conforme Philpot e Nickerson (2002), a prevalência de mastite por coliformes é baixa, todavia, a maioria das infecções são clínicas (cerca de 80%), durante a lactação e 10% destas infecções clínicas tendem a evoluir para a forma hiperaguda, com desdobramento sistêmico. O estabelecimento de infecções por coliformes ocorre mais frequentemente em quartos com baixa CCS, uma condição que permite o crescimento irrestrito de bactérias. Respostas sistêmicas nos casos de mastite por coliformes estão relacionadas com a liberação de LPS (lipopolissacarídeo) de membrana, após fagocitose e morte de bactérias coliformes por neutrófilos. Esta endotoxina liberada ativa ciclo-oxigenases e lipoxigenases, e estimula a liberação de prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos, que são compostos mediadores de resposta inflamatória e de eventos circulatórios sistêmicos. Além disso, a endotoxina ainda estimula a liberação de citocinas derivadas de macrógafos, iniciando a resposta de fase aguda, que constitui-se de uma ampla variação de respostas sistêmicas à inflamação. Portanto, é importante trabalhar tanto inibindo o crescimento bacteriano, de forma a impedir a exposição da vaca e do quarto afetado à endotoxina, quanto com meios de neutralização da endotoxina, visando reduzir a severidade da mastite aguda por coliformes. Todavia, terapia farmacológica só pode ser iniciada quando do aparecimento de sinais clínicos e os mesmos só estarão presentes após um pico no número de bactérias coliformes, o que implica em uma alta liberação de endotoxina, consequentemente levando em preocupaçãoes em relação à eficácia do tratamento (Erskine et al., 2003). Terapia de vaca seca e uso correto do pré-dipping são estratégias que previnem a ocorrência de mastite por esses patógenos (Costa, 2012). Estes microrganismos, principalmente Streptococcus uberis e Streptococcus dysgalactiae, são encontrados no ambiente das vacas (camas e esterco) e podem sobreviver sem causar mastite. São menos contagiosos que Streptococcus agalactiae e a maioria dos casos ocorrem rapidamente após a secagem ou imediatamente antes do parto. As infecções duram por um período de tempo inferior a 30 dias, sendo geralmente brandos e auto limitantes. De acordo com Philpot e Nickerson (2002), “40% das infecções causadas por estreptococos ambientais, presentes durante a lactação curam-se espontaneamente” e a melhor forma de se monitorar infecções por estreptococos ambientais é realizando culturas microbiológicas do leite de vacas de casos clínicos de mastite, no momento da secagem e no início da lactação. Streptococcus Ambientais 15 2.1.3. Outros patógenos É um grupo de microrganismos oportunistas da pele do teto, encontrados também em estabelecimentos de ordenha e em equipamentos de ordenha, mais frequentemente isolados em amostras de leite de vacas com mastite. Normalmente estão associados à forma subclínica da doença, em que se observa apenas um aumento de CCS, que pode ser 2 a 3 vezes maior que a CCS de quartos sadios, causando assim baixo impacto na CCS do tanque (Santos e Fonseca, 2007; Santos et al., 2011). Como se trata de um microrganismo presente na pele do teto do animal, nem sempre a presença do mesmo em amostras de leite pode indicar a infecção intramamária foi causada por este patógeno. Nestes casos, pode-se pressupor coleta inadequada, com consequente forma de contaminação (Santos e Fonseca, 2007). Estudos têm demonstrado uma maior “frequência de isolamentos de SCN em vacas de primeira lactação e a sua associação com infecções subclínicas e baixas contagens de células somáticas no leite (CCS)” (Santos et al., 2011). Em estudo realizado por Santos e colaboradores (2011), no sul de Minas, os pesquisadores obtiveram 8,35% de frequência média de isolamentos de SCN, sendo que a variação entre os rebanhos foi de 0% a 27,27%. Pesquisadores ainda realizaram um levantamento da prevalência de SCN em diversas regiões do Brasil e observaram que a mesma foi entre 12,3% e 46,3% (Brito et al, 1999; Barbalho e Mota, 2001; Nader et al., 1984; Pardo et al., 1999; Donatele et al., 2002). É um microrganismo oportunista, ubíquo, psicrotrófico (multiplica-se na temperaura de resfriamento, ou seja, abaixo de 8ºC), que tem sido indentificado como causador de diversas afecções, incluindo a mastite (Fernandes et al., 2009; Santos e Fonseca, 2007). Geralmente está presente em água, solo e plantas, ocasionalmente. A mastite bovina por Pseudomonas spp. está relacionada ao uso de água não tratada na lavagem dos tetos, de teteiras, do equipamento de ordenha e até mesmo em cânulas contaminadas durante a terapia intramamária (Quinn et al., 2005; Santos e Fonseca, 2007. Citado por Fernandes et al., 2009). Como característica de mastite por P. aeruginosa, observa-se nos quartos infectados edema, hiperemia e dor a palpação. O leite, por sua vez, pode apresentar grumos, pus e ainda possuir coloração amarelada a escurecida (Radostits et al., 2007; Sela et al., 2007. Citado por Fernandes et al., 2009). Além disso, geralmente a mastite por P. aeruginosa tende a ser aguda e a ocorrer nas primeiras semanas pós-parto, levando a uma redução abrupta na produção de leite (Radostits et al., 2007. Citado por Fernandes et al., 2009). Os principais gêneros causadores de mastite micótica são Candida, Cryptococcus, Geotrycum, Phichia e Trycosporon. Geralmente, os agentes que tem causado mastite micótica estão presentes no ambiente dos animais, na pele do teto e nas Fungos Staphylococcus Coagulase Negativo - SCN Pseudomonas spp. 16 mãos dos ordenhadores. Dentre os principais fatores predisponentes à ocorrência de mastite micótica, pode-se citar o manejo de ordenha realizado de forma inadequada, a terapia antimicrobiana prolongada, o sistema de ordenha funcionando de maneira inadequada, a ausência de limpeza de equipamento de ordenha, entre outros (Spanamberg et al., 2009). A mastite micótica geralmente tende a ser caracterizada por surtos de casos clínicos, curta duração, apresenta-se normalmente na forma aguda, e quando observada, tende a ocorrer principalmente no pré e pós-parto imediato (Spanamberg et al., 2009). Em relação a sintomatologia de mastite causada por fungos e mastitebacteriana, há uma dificuldade em diferenciá-las, uma vez que os sinais clínicos tendem a se assemelhar. Pode-se inferir o diagnóstico de mastite micótica após insucesso no tratamento antimicrobiano e/ou intensificação dos sintomas mesmo durante terapia e para se concluir o diagnóstico, amostra de leite pode ser coletada e processada em laboratório (Spanamberg, 2009). Esta mesma autora ainda cita em seu trabalho a existência de alguns testes para identificação de fungos. Todavia, o custo é alto e a procura para este tipo de diagnóstico é baixa. Por fim, conforme citado por Spanamberg (2009), a mastite micótica quando ocorre de forma aguda, tende a ser autolimitante, não sendo necessário o uso de antifúngicos (Carbon, 1968; Pengov, 2001; Crawshaw et al., 2005). Nestes casos agudos, pesquisadores tem recomendado realizar esgotamento da glândula mamária acometida, utilizando para isso ocitocina, cerca de 6-8 vezes/dia, além da aplicação de antiinflamatórios, e realização de intensa fluidoterapia intravenosa (Spanamberg, 2009). 2.4. Fatores de risco para ocorrência de mastite Além do tipo de patógeno causador de mastite, outros fatores como a vaca e o ambiente em que ela vive podem predispor à ocorrência de infecção intramamária (Schroeder, 2012). Características inerentes as vacas, como presença de úbere muito penduloso devido a frouxidão de ligamentos, o que é característica de animais mais velhos, aumenta o risco do úbere sofrer injúrias mecânicas que podem acarretar em lesões tissulares e consequentemente à maior probabilidade de infecções intramamárias. Vacas que apresentam maior velocidade de ordenha, por possuírem canal do teto relaxado ou com grande diâmetro também são mais suscetíveis às infecções. No entanto, aquelas que apresentam ordenha mais lenta, por possuírem esfíncter do teto mais resistente e canal do teto com menor diâmetro, são menos suscetíveis à ocorrência de mastite. Vacas com tetos apresentando extremidade invertida e, portanto, mais propensos a acumularem sujidades, também se tornam mais suscetíveis à infecção. Além disso, altas produções de leite tendem a relaxar o canal do teto, o que torna o animal mais propenso ao desenvolvimento de infecções intramamárias. Outros fatores como desordens metabólicas que reduzem a capacidade de defesa da vaca e o próprio período de transição, caracterizado por depressão do sistema imune do animal, provavelmente associado ao balanço energético negativo, aumentam o risco de ocorrência de mastite, principalmente por patógenos ambientais. Conforme citado por Schroeder (2012), o ambiente da vaca influencia no tipo e na quantidade de bactérias a que as mesmas são expostas e na capacidade que elas 17 possuem em resistir a esses agentes patogênicos. Portanto, o ambiente de permanência dos animais se apresenta como um importante reservatório para organismos que podem causar mastite. Sendo assim, camas limpas e secas, ausência de acúmulo de esterco e urina e ambiente seco nas áreas de circulação, ajudam a reduzir o crescimento de microrganismos causadores de mastite e a sua transferência para o úbere. A Klebsiella, por exemplo, é um contaminante normal do solo e que é frequentemente encontrada em camas de serragem. Estas, por sua vez, têm sido associadas a um aumento no risco de mastite, devido à presença deste patógeno. Por outro lado, as estruturas das instalações não devem ser negligenciadas, principalmente devido ao grande risco de lesões de tetos por pisoteamento, em caso de estábulos superpopulosos. Além do mais, muitos estudos têm indicado maior incidência de mastite no verão, mas é difícil separar esta tendência de alterações na higiene do ambiente, sazonalidade de partos e métodos de secagem. Por outro lado, deve-se considerar que equipamento de ordenha sem manutenção necessária e adequada, pode constituir fator de risco para a ocorrência de mastite. Esta associação se deve fortemente às lesões que um equipamento com vácuo desregulado, por exemplo, ou muito forte ocasionando lesões nos tetos, ou muito fraco permitindo queda de teteiras podem aumentar o risco de infecção. Além do mais, falhas na rotina de ordenha, como por exemplo ausência de uso e desinfeção de luvas podem predispor a ocorrência de mastite, uma vez que aumenta a chance de contaminação dos tetos, sendo as mãos do ordenhador meio para que isto aconteça. Ausência de pré-dipping na ordenha pode aumentar a contaminação dos tetos por patógenos ambientais e por outro lado a ausência de pós-dipping pode aumentar o risco de mastite contagiosa, por isso a importância desses manejos na prevenção de mastite. A não identificação de casos clínicos de mastite por meio de teste da caneca em fundo escuro constitui outra falha na rotina de ordenha que pode agravar a situação de mastite do rebanho, uma vez que é a possibilidade de diagnóstico precoce e momento de iniciar tratamento. A não segregação de animais com mastite em linha de ordenha também constitui fator de risco que pode aumentar as novas infecções, piorando consequentemente a situação da mastite do rebanho. Portanto, deve-se trabalhar com boas práticas de manejo e higiene de modo a se controlar o ambiente em que os animais estão, reduzindo a exposição aos agentes patogênicos e melhorando a resistência à mastite. 3. Detecção de mastite Métodos de diagnóstico Mastite Clínica Mastite Subclínica Exame clínico do úbere CMT Teste da caneca de fundo escuro CCS Condutividade Elétrica 18 3.1. Detecção de mastite clínica 3.1.1. Exame clínico do úbere Permite diagnosticar a presença de inflamações agudas, de secreções anormais, de alterações como dor, rubor, calor, aumento de volume, alterações na consistência da glândula mamária. Deve ser realizado por meio de palpação do úbere do animal, principalmente no momento pós-ordenha, ou seja, quando o úbere estiver vazio. 3.1.2. Teste da caneca de fundo escuro Permite o diagnóstico de mastite clínica, uma vez que ao se retirar os 3 a 4 primeiros jatos vigorosamente em direção à caneca de fundo escuro, é possível observar a presença de alterações no leite, como grumos, coágulos, ou leite aquoso. Deve ser realizado antes de todas as ordenhas, visando a detecção eficiente e precoce de casos de mastite clínica. 3.2. Detecção de mastite subclínica 3.2.1. California Mastitis Test - CMT É um teste de fácil realização e prático para o diagóstico de mastite subclínica, que estima a CCS do leite coletado (Philpot e Nickerson, 2002). O teste consiste na reação entre um detergente (reagente CMT) e o DNA das células presentes na amostra de leite coletada, resultando em uma reação, observada por meio de formação de gel. A reação pode ser caracterizada como: negativo, traço, 1, 2 ou 3, e quantidade de células somáticas presentes no leite estão associadas a estes escores, conforme é demonstrado na tabela que se segue. Tabela: Relação entre contagem de CCS e escore de CMT É importante frisar que a reação deve ser lida em 15 segundos. Após este período, as reações fracas tendem a desaparecer. Além disso, vale lembrar que a devido ao alto grau de variação dos valores de CCS para cada escore de CMT, a relação entre os valores de CCS e CMT não é precisa (Silva, 2006). O CMT pode ser usado tanto em amostras de leite individuais, quanto em amostras compostas, como também para avaliar a CCS do tanque de expansão (Silva, 2006). 19 Geralmente, recomenda-se o uso do CMT para avaliar a presença de mastite subclínica no rebanho quando não é possível a realização de CCS, para avaliação da qualidade do leite pós-parto, sendo neste caso, realizado 7 dias após o parto. 3.2.2. Contagem eletrônica de células somáticas - CCS As células somáticas do leite são compostas por células de descamação do epitélio e por células de defesa(neutrófilos, macrófagos e linfócitos). Na glândula sadia, há predomínio de macrófagos e linfócitos, enquanto que na glândula inflamada, há um predomínio de neutrófilos. Deste modo, um aumento da CCS, ou seja, CCS maior que 200.000 células/mL, já é considerado que existe algum microrganismo infectando a glândula mamária (Costa, 2012). Existem alguns fatores que podem alterar a CCS de vacas em lactação, dentre eles, pode-se citar: a idade, o período de lactação, a ordem de parto, o mês e a estação do ano. Todavia, “a infecção por microorganismos é o principal fator responsável pela variação da CCS” (Harmon, 1994. Citado por Costa, 2012). A CCS é mensurada em laboratório e pode ser medida por métodos diretos (microscopia direta ou contadores eletrônicos) ou por métodos indiretos (por meio de detecção de fluorescência) (Santos e Fonseca, 2007). Diante disso, sabe-se que a mensuração de progresso em um programa de controle de mastite é baseada na alteração na CCS do leite do tanque de expansão. A redução na CCS geralmente indica redução no nível de mastite contagiosa causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae. Por outro lado, a prevalência de infecções causadas por patógenos ambientais, que incluem os coliformes e os Streptococcus ambientais, raramente é suficiente para causar CSS maior que 400.000 células/mL. Portanto, mesmo aqueles rebanhos que normalmente apresentam baixa CCS poderão ter problemas de mastite e estes problemas, geralmente, envolvem casos clínicos de mastite. A CCS pode ser avaliada tanto em amostra de leite coletada do tanque de expansão, quanto de amostra de leite composta dos 4 quartos de uma vaca, após ordenha completa e ininterrupta. Todavia, devido ao alto custo de análise de amostras individuais de cada quarto mamário, amostras compostas são geralmente utilizadas. No entanto, quando a CCS é realizada no leite do tanque de expansão, na interpretação do resultado, deve-se levar em consideração a possibilidade de ocorrência de efeito de diluição, ou seja, algumas vacas de produção mais alta ou mais baixa podem comprometer as médias de CCS no tanque. Animais com CCS maior que 200.000 células/mL quase que invariavelmente são portadores de mastite. Entretanto, se o problema acomete apenas um quarto e a amostra coletada é composta, esta pode da mesma forma estar sujeita ao efeito de diluição. Isso significa que pode ocorrer uma subestimação do nível de infecção de um rebanho, já que alguns animais infectados não serão detectados com alta CCS. Isso também explica porque alguns animais crônicos podem, em determinada análise, apresentar um resultado de não infecção, mas não estarem necessariamente curados ou não infectados. O que pode estar ocorrendo nesta situação é uma diminuição dos valores 20 de CCS do quarto infectado até um nível em que a diluição não permita que seja detectado como infectado. Sendo assim, a probabilidade da CCS exceder o limite de infecção em amostras compostas, quando uma vaca está infectada por mastite subclínica, tem sido chamada de sensibilidade, pois representa a sensibilidade da análise de CCS em detectar um animal infectado, já que alguns animais infectados podem não ser detectados na contagem, sendo estes chamados de falsos negativos. Esses estudos demonstraram que, assumindo CCS de 200.000 células/mL como ponto de corte, essa sensibilidade varia de 73% a 89%, ou seja, existe 73% a 89% de probabilidade de um animal infectado obter um resultado de alta CCS quando amostras compostas são analisadas. Esses estudos têm o intuito de auxiliar na interpretação dos resultados de CCS, chamando a atenção para o fato de que nem todos os animais infectados podem ser detectados na análise de células somáticas, além de esclarecer questionamentos que frequentemente aparecem quando rebanhos são submetidos à análise de CCS com amostras compostas, como o fato de um animal crônico apresentar baixa CCS em um determinado mês e voltar a apresentar altas contagens no período seguinte. Deste modo, a CCS é uma importante ferramenta de monitoramento da eficácia do controle de mastite, desde que seus resultados sejam cuidadosamente analisados e interpretados. 3.2.3. Condutividade elétrica Em decorrência da infecção e inflamação da glândula mamária, e consequente lesão do epitélio, associado ao aumento de permeabilidade vascular, ocorre uma alteração na carga iônica, percebida pelo aumento de sódio e cloro e pela redução de potássio e lactose, contribuindo, consequentemente, para um aumento da condutividade elétrica (Santos e Fonseca, 2007). Dessa maneira, um dispositivo que mede a condutividade elétrica do leite de cada vaca pode ser acoplado ao equipamento de ordenha e realizar análises diárias do valor de cada vaca e colaborar assim no monitoramento da mastite. 3.2.4. Cultura microbiológica A realização de cultura microbiológica permite a identificação do agente causador de mastite e ainda permite o direcionamento sobre medidas de tratamento a serem empregadas e sobre práticas de manejo que devem ser revisadas ou adotadas. No entanto, o controle microbiológico só deve ser implementado em uma propriedade quando há rotina de ordenha bem estabelecida, quando existe uma equipe treinada e quando a propriedade é engajada, além de se ter avaliado, previamente, a vibilidade econômica de tal implantação. Do contrário, a realização de cultura microbiológica não trará resultados satisfatórios. A cultura microbiológica realizada a partir de amostra de leite do tanque de expansão, permite a identificação dos microrganismos presentes na propriedade, ou seja, Cultura microbiológica de tanque 21 permite estabelecer o perfil microbiológico da propriedade e o status da saúde do úbere do rebanho. No entanto, para a obtenção de resultados mais consistentes, amostras compostas de 4 dias são necessárias e “não devem ser congeladas e devem ser enviadas resfriadas ao laboratório” (Jayarao e Wolfgang, 2003), para a partir daí serem cultivadas em pool. Todavia, os resultados obtidos após análise de amostras coletadas de tanque de expansão não permitem uma ação ou a tomada de medidas mais específicas, portanto não dizem muito sobre o que deve ser feito, uma vez que não indica qual animal é o “problema” no rebanho. Deste modo, na prática, a cultura microbiológica de leite do tanque de expansão geralmente é realizada antes de se proceder com a cultura individual dos animais em lactação, de modo a possibilitar ao técnico a verificação de possíveis patógenos que estão circulando no rebanho, para que assim possa conscientizar o proprietário sobre os desafios que serão encontrados durante a realização de cultura individual. A cultura individual pode ser realizada em todos os animais em lactação, no momento da secagem, após o parto e em casos clínicos de mastite. Para que o diagnóstico seja feito de forma adequada, faz-se necessário a realização de adequado procedimento de coleta das amostras que preconize forma asséptica de coleta e o uso de frascos estéreis (Brito). As amostras coletadas devem ser mantidas refrigeradas, para impedir a proliferação de microrganismos contaminantes, até a chegada ao laboratório em 24 horas, para posterior realização de diagnóstico bacteriológico. Todavia, caso as amostras não possam ser enviadas ao laboratório em 24 horas, as mesmas devem ser congeladas e podem permanecer desta maneira por até 30 dias. Ainda de acordo com estudo realizado por Brito, é interessante realizar coleta e posterior cultura bacteriológica individual, uma vez que, a partir dos resultados obtidos, é possível conhecer e avaliar a situação do rebanho. Todavia, a coleta de amostras para realização de cultura de todos os quartos tem um custo elevado, e ainda é trabalhosa, o que torna difícil implantá-la na rotina. Desta forma,uma solução para se reduzir os custos é a “cultura de amostras compostas de todos os quartos de um mesmo animal” (Brito; Silva, 2006). Para realização da cultura microbiológica de todos os animais em lactação é necessário coletar 3 amostras intervaladas de 7 dias. Uma justificativa para este intervalo e número de coletas é o fato de se aumentar a probabilidade de se isolar um determinado microrganismo, como por exemplo S. aureus, presente na glândula mamária. A exemplo disto, estudo de Brito demonstrou que uma única amostra permitiu o isolamento de S. aureus de 74,5%. Porém, o exame de duas e três amostras consecutivas aumentou esta probabilidade de isolamento para 94% e 98%, respectivamente. Dessa forma, a cultura microbiológica individual é uma importante ferramenta de diagnóstico de mastite, uma vez que direciona melhor a conduta de manejo, como: realização de blitz terapia, separação de lotes, implementação de linha de ordenha, segregação e descarte de animais, implementação de vacinação, após a obtenção do resultado. Cultura microbiológica individual 22 Por fim, após realização do diagnóstico microbiológico e com o resultado em mãos, pode-se ter conduta adequada, como realização de blitz terapia, no caso de isolamento de S. agalactiae; realização de protocolos de vacinação; segregação e descarte de animais, sendo estes dois últimos principalmente indicados no caso de isolamento de S. aureus. 4. Tratamento de mastite Existem quatro maneiras de se eliminar infecções causadas por patógenos do úbere, sendo elas a cura espontânea, o descarte de animais cronicamente infectados, o tratamento durante a lactação e o tratamento na secagem. O tratamento é uma das maneiras de se eliminar as infecções intramamárias no rebanho, sendo os antibióticos os medicamentos mais utilizados. Antibioticoterapia objetiva o uso de uma droga que atinja concentrações adequadas na glândula mamária/local da infecção e para isso, deve ter ação em três compartimentos farmacológicos: o leite e o tecido epitelial de resvestimento de ductos e alvéolos, os tecidos profundos da glândula e a própria vaca. Desse modo, o antibiótico deve agir na presença do leite, uma vez que muitos microrganismos, como Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae e Staphylococcus coagulase negativo têm o primeiro compartimento farmacológico - leite e tecido epitelial de ductos e avéolos, como local de multiplicação (Erskine et al., 2003). Ainda de acordo com Erskine e colaboradores (2003), antibióticos também devem ter boa atuação no segundo compartimento farmacológico - tecidos profundos da glândula, principalmente quando se considera a via sistêmica, especialmente porque microrganimos, como Staphylococcus aureus e Streptococcus uberis tendem a habitar essas porções do úbere. Além disso, os autores ainda consideram que o terceiro compartimento farmacológico - a vaca, deve até mesmo ser considerado alvo primário de antibióticos. Isto, nos casos de tratamento de mastite severa por coliformes. Além disso, para o sucesso da antibioticoterapia, Santos e Fonseca (2007) estabeleceram que após utilização de antibióticos, pelo menos um dos objetivos citados adiante devem ser atingidos, como a cura de mastite clínica de forma rápida; a eliminação da infecção; a restauração da qualidade do leite e o retorno à produção normal; ausência de mortes em casos agudos de mastite e prevenção de novas infecções no período seco. Todavia, o que se tem observado, muitas vezes, são falhas no tratamento de mastite, que podem ser devidas a seleção e utilização inadequada de drogas, a interrupção de tratamentos precocemente, a resistência de microrganismos às drogas, a presença de microrganismos inertes ou metabolicamente inativos, a tratamentos atrasados, ao desenvolvimento de colônias bacterianas em forma de L e a ausência de contato entre bactérias e antibióticos, por causa da reação inflamatória. Outros fatores como a proteção de microrganismos dentro de leucócitos, a difusão inadequada de drogas, e a inativação de antibióticos pelo leite e pelas proteínas tissulares também estão relacionados às falhas nos tratamentos. Além da ineficácia de antibióticos, resíduos da droga no leite têm sido um problema para a saúde humana, especialmente quando utilizados durante a lactação. O trabalho de Erskine e colaboradores (2003), por exemplo, demonstrou que o uso de 23 fluoroquinolonas em animais de produção tem gerado preocupações em relação à resistência bacteriana em humanos. Por fim, é importante lembrar que existem duas formas de realização de antibioticoterapia no tratamento de mastite: aplicação de antibiótico via parenteral e via intramamária. Quando optar por um ou por outro? De acordo com Pyorala (2009), a antibióticoterapia via intramamária tem por vantagens a possibilidade da droga atingir altas concentrações no leite e ainda, o fato de ser necessário um menor consumo do fármaco, já que o mesmo será infundido diretamente no quarto afetado. Por outro lado, esta via de aplicação tem como desvantagens o fato da droga se distribuir de forma desigual por todo o úbere e o risco de haver uma re-infecção do quarto no momento da aplicação do medicamento. Em contrapartida, a aplicação de antibiótico via parenteral, conforme estudo feito por Pyorala (2009) tem por vantagem a maior penetração nos tecidos. Todavia, há uma dificuldade em se manter concentrações terapêuticas do medicamento na glândula mamária. Além disso, poucas drogas têm características farmacocinéticas e farmacodinâmicas ótimas para serem utilizadas no tratamento sistêmico (as mais usadas são oxitetraciclinas e ceftiofur). Ademais, a aplicação sistêmica exige repetição, o que pode afetar o bem-estar animal, causando irritabilidade. 4.1. Tratamento de mastite clínica O tratamento de mastite clínica é a principal razão que justifica o uso de antibióticos durante a lactação e, geralmente, classifica-se a mastite clínica em graus (I, II e III), conforme a gravidade, para que a partir daí se possa selecionar o melhor tratamento. Deste modo, sabe-se que a mastite grau I é aquela em que apenas alterações no leite são encontradas, como grumos, sangue ou leite aquoso. Portanto, o uso de antibiótico intramamário é suficiente para combater a infecção. Já na mastite grau II, em que além das alterações no leite, como presença de grumos, sangue ou leite aquoso, ainda é possível observar alterações no quarto afetado, como vermelhidão, inchaço e aumento de temperatura. Neste caso, recomenda-se além da aplicação de antibiótico intramamário, a aplicação de anti-inflamatório, objetivando reduzir a inflamação da glândula, permitindo maior difusão do antibiótico intramamário na mesma e assim, melhor eficácia. Por outro lado, a mastite grau III, geralmente causada por coliformes, caracteriza-se por alta severidade, já que além das alterações no leite e da inflamação no úbere ainda se observa a presença de alterações sistêmicas, incluindo desidratação, apatia, anorexia e febre. Neste caso, recomenda-se a realização e fluidoterapia, visando repor o equilíbrio hidroeletrolítico do animal, nutrindo-o e assim, restabelecendo-o, além de aumentar a taxa de filtração glomerular, auxiliando na eliminação de endotoxinas. Além disso, faz-se necessário a aplicação de um anti-inflamatório, para reduzir a inflamação na glândula mamária, permitindo, consequentemente, melhor distribuição do antibiótico intramamário, que também deve ser utilizado, visado o combate ao microrganismo. Por fim, ainda se recomenda a aplicação de antibiotico via sistêmico, objetivando combater a bacteremia que tende a ocorrer em 40% dos casos. Dessa forma, percebe-se que o tratamento de mastite clínica é uma equação complexa, requerendo atenção cuidadosa para assegurar tratamento pronto e próprio 24 dentro dos limites deuma determinada operação de gado leiteiro. Alguns serão complexos e caros, enquanto outros serão simples e de custo reduzido, porém, é sempre importante lembrar que ignorar o problema é exacerbá-lo! Portanto, é melhor trabalhar com medidas prevenção e controle de mastite do que apenas focar em tratamento. 4.1.1. Protocolo para tratamento de mastite clínica 11ªª OOPPÇÇÃÃOO PPAARRAA OO TTRRAATTAAMMEENNTTOO MMAASSTTIITTEE CCLLÍÍNNIICCAA SSoommeennttee aalltteerraaççããoo nnoo lleeiittee AAççããoo PPeerrííooddoo ddee ttrraattaammeennttoo BBaassee ddoo MMeeddiiccaammeennttoo Presença de grumos ou alguma anormalidade no leite Aplicação de medicamento intramamário (bisnaga) 3 dias consecutivos em todas as ordenhas (Total: 6 aplicações) CCeeffaalleexxiinnaa,, NNeeoommiicciinnaa ee PPrreeddnniissoolloonnaa ((MMAASSTTIICCIINNEE LL)) CCaassoo oo ggrruummoo nnããoo ddeessaappaarreeççaa aappóóss 33 ddiiaass,, mmuuddaarr ppaarraa aa 22ªª ooppççããoo SSeemmpprree qquuee oo ggrruummoo aaccaabbaarr,, ttrraattaarr ppoorr mmaaiiss 22 ddiiaass,, dduuaass vveezzeess aaoo ddiiaa 22ªª OOPPÇÇÃÃOO PPAARRAA OO TTRRAATTAAMMEENNTTOO MMAASSTTIITTEE CCLLÍÍNNIICCAA SSoommeennttee aalltteerraaççããoo nnoo lleeiittee AAççããoo PPeerrííooddoo ddee ttrraattaammeennttoo BBaassee ddoo MMeeddiiccaammeennttoo Presença de grumos ou alguma anormalidade no leite Aplicação de medicamento intramamário (bisnaga) 3 dias consecutivos em todas as ordenhas (Total: 6 aplicações) CClloorriiddrraattoo ddee CCeeffttiiooffuurr ((SSPPEECCTTRRAAMMAASSTT)) CCaassoo oo ggrruummoo nnããoo ddeessaappaarreeççaa aappóóss 33 ddiiaass,, mmuuddaarr ppaarraa aa 33ºº ooppççããoo SSeemmpprree qquuee oo ggrruummoo aaccaabbaarr,, ttrraattaarr ppoorr mmaaiiss 22 ddiiaass,, dduuaass vveezzeess aaoo ddiiaa.. 33ªª OOPPÇÇÃÃOO PPAARRAA OO TTRRAATTAAMMEENNTTOO DDEE MMAASSTTIITTEE CCLLÍÍNNIICCAA SSoommeennttee aalltteerraaççããoo nnoo lleeiittee AAççããoo PPeerrííooddoo ddee ttrraattaammeennttoo MMeeddiiccaammeennttoo Presença de grumos ou alguma anormalidade no leite Aplicação de medicamento intramamário (bisnaga) 3 dias consecutivos em todas as ordenhas (Total: 6 aplicações) SSuullffaattoo ddee CCeeffqquuiinnoommaa ((CCOOBBAACCTTAANN)) CCaassoo oo ggrruummoo nnããoo ddeessaappaarreeççaa aappóóss 33 ddiiaass,, ccoonnttaaccttaarr vveetteerriinnáárriioo SSeemmpprree qquuee oo ggrruummoo aaccaabbaarr,, ttrraattaarr ppoorr mmaaiiss 22 ddiiaass,, dduuaass vveezzeess aaoo ddiiaa.. 25 4.2. Tratamento de mastite subclínica O tratamento de mastite subclínica não é justificado durante a lactação devido a baixa eficácia e ao alto custo com o mesmo. Estudo de Pyorala (2009) demonstrou cura bacteriológica de 75% para animais com mastite subliclínica tratados durante a lactação e 68% para aqueles não tratados. S. aureus é um patógeno contagioso que se espalha rapidamente de vaca para vaca em alguns rebanhos, enquanto pode existir em níveis muito baixos com práticas mínimas de controle em outros rebanhos. Muitas fazendas observam poucos sinais de mastite clínica, ao mesmo tempo que infecções subclínicas silenciosamente concorrem com os resultados econômicos. Entretanto, outros rebanhos podem apresentar episódios explosivos de casos clínicos de mastite, alguns dos quais podem até mesmo progredir para mastite gangrenosa. Os resultados de tratamentos são igualmente variáveis, com sucesso para terapia de animais em lactação variando entre 15 e 70%. Além disso, a resposta ao tratamento de vacas secas pode igualmente ser variável, porém, a taxa de cura é usualmente maior que 50%. Em um trabalho de pesquisa, o tratamento sistêmico com 10.000.000 de UI de penicilina sistêmica por 5 dias resultou em 46,8 % de eficácia. O tratamento combinado geralmente apresenta maior eficiência. A eficácia do tratamento diminui quando dois ou mais quartos estão infectados, em animais com alta CCS e em vacas mais velhas. Pesquisadores avaliaram os tratamentos intramamário (seis infusões de amoxacilina) e intramamário associado a sistêmico (9.000.000 UI de penicilina G por dia, durante três dias) para mastite subclínica causada pelo S. aureus. Os pesquisadores observaram cura bacteriológica de 51,4% dos quartos e 48% das vacas no tratamento combinado e 25% dos quartos e 30,4% das vacas no tratamento intramamário apenas. Outra pesquisa avaliou o tratamento intramamário com um produto à base de penicilina (100.000 UI) e novobiocina (150 mg) em animais recém infectados (< 2 semanas de duração) e cronicamente infectados (> 4 semanas de duração) por S. aureus. A cura bacteriológica foi de 70% para as infecções recentes e de 35% para as infecções crônicas. Nos dois experimentos anteriores, não foi avaliada taxa de cura espontânea, podendo esta chegar a 20% das infecções. 4.2.1. Streptococcus agalactiae – Blitz Terapia O tratamento de mastite subclínica só é justificado nos casos de Streptococcus agalactiae, microrganismo este bastante sensível ao tratamento com antibióticos. Neste caso, recomenda-se a realização de blitz terapia, que “consiste no tratamento de todas as vacas em lactação do rebanho ou de grande parte delas com a mesma droga” (Santos e Fonseca, 2007), uma vez que o S. agalactiae tem característica de ser altamente contagioso e ainda acarreta em um aumento exacerbado da CCS dos casos subclínicos. Além disso, tem alta liberação no leite, contribuindo assim para o aumento a CBT do tanque. Dessa maneira, recomenda-se a blitz terapia nestes casos com o objetivo de eliminar o microrganismo do rebanho, reduzindo os animais reservatórios. 26 Trabalhos têm mostrado grande sensibilidade de S. agalactiae a blitz terapia, cerca de 100% de cura bacteriológica utilizando tanto cloridrato de pirlimicina como ampicilina associada a cloxacilina (Cruz et al., 2004). 4.3. Falhas no tratamento Diversos fatores como fagocitose ineficiente (baixa disponibilidade de energia no úbere, baixa atividade opsônica, interferência causada pela caseína e gordura), alguns Staphylococcus sobrevivem dentro de neutrófilos depois de fagocitados e a maioria dos antibióticos não podem penetrar na membrana celular dos neutrófilos para contactar com bactérias intracelulares. As bactérias podem ser liberadas posteriormente e ainda podem multiplicar na glândula mamária quando a concentração de antibiótico decrescer; o fato de alguns antibióticos interferirem negativamente na atividade de leucócitos, como cloranfenicol e gentamicina; o fato de algumas drogas não alcançaren todos os sítios de infecção na glândula mamária ou não permanecerem tempo suficiente em níveis adequados para destruir os microrganismos; a formação de microabscessos (S. aureus) e a ausência de manutenção de níveis adequados de drogas por suficiente período de tempo podem ocoasionar em falhas no tratamento e consequente ineficácia na eliminação de infecções intramamárias. 5. Mastite em novilhas As novilhas são o futuro do rebanho já que são os animais de reposição de rebanhos leiteiros e delas se espera alta produção de leite, quando atingirem a idade adequada e com menor custo de produção. Todavia, para que isto aconteça, é necessário que tenham úberes bem desenvolvidos e saudáveis e que a elas sejam fornecidas condições adequadas (Vliegher, 2016; Santos e Fonseca, 2007). Além disso, é importante ressaltar que o maior desenvolvimento do tecido secretor de leite em novilhas ocorre durante a primeira gestação, de forma que é lógico proteger estes animais jovens dos efeitos de bactérias causadoras de mastite para assegurar a máxima produção de leite futura. No entanto,existe uma doença que afeta o potencial de produção de leite desses animais, a mastite em novilhas, que é a infecção intramamária ao primeiro parto, que pode ser tanto de natureza clínica como subclínica. Estudos tem demonstrado que os principais agentes causadores de mastite em novilhas são: Staphilococccus coagulase negativo (SNC), Staphilococcus aureus e microrganismos ambientais, sendo que SCN é o patógeno mais comum causando infecção intramamária em novilhas e principalmente mastite subclínica no momento da parto (Vliegher, 2012). Já a prevalência de mastite em novilhas causada por S. aureus varia, conforme mostrado por alguns estudos, todavia, não chega a ser tão alta quanto a prevalência de mastite em novilhas causada por SCN. Porém, não se deve subestimar ou negligenciar mastite causada por S. aureus, uma vez que é uma bactéria difícil de se controlar e de se erradicar do rebanho (Barkema et al., 2006. Citado por Vliegher, 2012). Por outro lado, mastite em novilhas causada por patógenos ambientais tem ocorrido mais frequentemente no pré-parto e em primíparas recém-paridas (Fox, 2009. Citado por Vliegher, 2012). 27 Conforme ciatdo por Santos e Fonseca (2007), as principais fontes de infecção para novilhas são infeção por bactérias oportunistas que colonizam a pele do teto e podem adentrar a glândula mamária; ambiente com acúmulo de lama e umidade: pode ser fonte de patógenos ambientais; bactérias transmitidas por moscas: moscas picadoras- sugadoras ao se alimentarem na extremidade do teto provocam uma lesão que pode servir de entrada para bactérias causadoras de mastite. Além disso, moscas podem atuar como vetores mecânicos, transferindo patógenos de tetos com leite residual, não desinfetados pós-ordenha, para tetos de novilhas e ocorrência de bezerras mamando entre si: bezerras criadas em grupo, após ingerirem leite de animais infectados, terão o agente na boca e ao mamar em outras bezerras, transmitirão o mesmo. Portanto, práticas de manejo, como controle de moscas, uso de instalações individuais para evitar que um animal mame no outro (principalmente aqueles alimentados com leite mamítico), boa nutrição, evitando deficiência de vitaminas e minerais, aplicando medidas de controle higiênico próximo do parto e separação de novilhas prenhes de vacas secas podem ajudar a prevenir o desenvolvimento de mastite em novilhas. Além do mais, em um rebanho com CCS menor que 200.000 células/mL, novilhas podem ser a principal fonte de novos casos de mastite. Portanto deve-se atentar e aplicar as medidas de controle e prevenção de mastite nas mesmas. Diante disso, sabe-se ainda que a mastite em novilhas proporciona grandes prejuízos, uma vez que é durante a primeira gestação que a glândula mamária continua o seu desenvolvimento. Na presença de infecção, a glândula mamária não se desenvolve bem. O parênquima é reduzido, há redução na quantidade alvéolos e ainda ocorre infiltração de leucócitos, o que consequentemente reduz a capacidade produtiva do animal (Santos e Fonseca, 2007). Estudos sugerem que infecções intramamárias em novilhas durante o período pré-parto acontecem freqüentemente. De acordo com a maioria dos estudos, SCN era a espécie responsável pela maioria das infecções intramamárias em novilhas. Porém, variação na prevalência de outros patógenos causadores de mastite deveria ser esperada entre rebanhos. Por fim, no trabalho de Vliegher (2016), estabeleceu-se um programa contendo 10 itens para se prevenir e controlar mastite me novilhas, conforme disposto abaixo. Programa para prevenir e controlar mastite em novilhas 1. Melhora geral no manejo da saúde do úbere, para reduzir a pressão de infecção de vacas mais velhas para novilhas 2. Controle para amamentação cruzada em bezerras e animais jovens 3. Implementação de um sistema de controle efetivo e eficiente de moscas 4. Manter as novilhas jovens e de primeira gestação em um ambiente limpo e separadas dos animais multíparos, fornecendo a elas a mesma atenção dada a grupos em lactação 5. Evitar qualquer deficiência nutricional. Para isto, monitorar os níveis de vitamina E e selênio, quando houver dúvidas. Níveis de vitamina A, zinco e cobre também devem ser avaliados em caso de dúvidas 6. Minimizar o risco de balanço energético negativo antes e depois do parto, por meio de transição apropriada de dietas 7. Reduzir a incidência de edema no úbere por meio de manejo adequado no peri-parto 28 8. Minimizar o estresse em torno do parto e minimizar a incidência de distocia e doenças no peri- parto 9. Considerar o uso de selantes internos dos tetos antes do parto, onde houver alto risco de mastite ambiental no período peri-parto 10. Usar tratamento com antibióticos em novilhas somente sob certas condições: sob supervisão do médico veterinário do rebanho; após quantificar o problema e identificar os principais patógenos através de cultura; após realizar teste para resíduos antes de cada entrega de leite e após atualização do manejo ao mesmo tempo, descontinuando o tratamento assim que novas estratégias de manejo se tornarem efetivas FONTE: Adaptado de Vliegher, Leite Integral, 2016 Além do exposto na tabela, para desenvolver um programa de controle, pode-se ainda considerar: antibioticoterapia durante a gestação (60 dias pré-parto) com antibióticos de vacas secas - Penicilina - Estreptomicina intramamária (vacas secas) infundida nos quatro quartos reduziu 60% do índice geral de infecções no dia do parto e 90% das causadas por Staphylococcus aureus (97,1 → 40%, contra 100% → 97% no grupo controle). Tratamento pré-parto com antibióticos de vacas secas apresentou alto índice de cura e elevou a produção de leite, além de prevenir a ocorrência de novas infecções; utilização de terapia de vacas em lactação tem também sido bem sucedida no período pré-parto imediato. O uso de antibioticoterapia de vacas em lactação 7 dias pré- parto resultou na diferença de ocorrência de mastite de 78% em animais não tratados contra 18% em animais tratados e 20 % de cura espontânea. Outros fatores de manejo a serem considerados: raça: novilhas da raça Jersey apresentaram 2 vezes maior prevalência do que na raça holandesa; ferimentos nos tetos, moscas, etc.: animais com algum tipo de abrasão na pele dos tetos tiveram maior frequência de infecções quando comparados com animais apresentando tetos normais; controle de moscas no ambiente: rebanhos utilizando alguma forma de controle de moscas, normalmente à base de piretrina, apresentaram marcada redução no número de infecções por Streptococcus ambientais e Staphylococcus aureus e SCN. Recomenda-se a pulverização periódica das instalações; avaliação da consistência do leite antes do parto: o monitoramento da densidade de secreção mamária demonstrou que secreção espessa (10% de infecção) e aquoso (78% de infecção); época do ano: o nível de infeção decresce no inverno e aumenta no verão; suplementação com vitamina E e Selênio: relacionam-se com função leucocitária, transporte de antibibióticos, e integridade de tecidos mamários. Suplementação com vitamina E e Selênio melhorou a saúde de úbere, reduziu o número de casos clínicos, sendo os resultados mais evidentes ao parto e no início da lactação; tipo de cânulas: o uso de métodos de inserção parcial de preparações antibióticas é altamente recomendado. A completa inserção de cânulas convencionais pode resultar em dilatação temporária do músculo do esfíncter do teto e a queratina que normalmente oclui o ducto do teto pode ser parcialmente removida. Isto poderia permitir a penetração de bactérias. Inserção parcial de cânulas nos 2 a 3 mm distais do ducto do teto, quando da administração de terapia de vaca seca, reduziu a ocorrência de novas infecções por Staphylococcus aureus em 35 a 50%. 29 6. Controle e prevenção de mastite Existem
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