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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A paracoccidiodomicose (PCM) é uma micose profunda, de caráter sistêmico e progressivo, causada por fungo dimórfico, o Paracoccidioides brasiliensis e P. lutzii. No tecido animal infectado, natural ou experimentalmente, ele se apresenta sob a forma esférica, com membrana espessa refringente, que dá à célula a aparência de duplo contorno. Em cultura, usando-se meios rotineiros como o meio de Sabouraud, cresce sob a forma filamentosa. Em meios especiais, assume a forma leveduriforme, apresentando-se como células arredondadas e em brotamento. O dimorfismo é reversível, podendo passar da forma leveduriforme à filamentosa e vice-versa. A mudança da temperatura solo-corpo humano causa essa mudança na forma (termodimórficos). Eles são saprófitos no solo e estão sobre a forma filamentosa, eliminando conídios (propágulos infectantes). Inalamos esses conídios, que imediatamente se transformam em leveduras, a forma parasitária nos tecidos do hospedeiro. É endêmica na América Latina, apresentando maior prevalência no Brasil, Venezuela e Colômbia. O paracoco brasiliensis está presente difusamente na américa latina, mas o lutzii se concentra mais na região centro oeste e amazonas. Ambos fungos são encontrados no solo geralmente na camada mais abaixo do solo, solos úmidos. O risco de infecção é maior em profissões ou atividades relacionadas ao manejo do solo contaminado com o fungo, como atividades agrícolas, terraplanagem, preparo de solo, práticas de jardinagens, transporte de produtos vegetais. Profissões como jardineiros, boias frias, agricultores. Principalmente plantação de cana de açúcar e café, muito comum no Sudeste. Outros animais também podem ser infectados, constituindo verdadeiros reservatórios naturais. Entre eles, o mais importante é o tatu. A passagem do Paracoccidioides brasiliensis pelos pulmões causa lesões nesses órgãos, que são evidenciadas clínica e radiologicamente em 80% dos casos. Estas lesões pulmonares são comumente assintomáticas ou oligossintomáticas. Os sintomas, quando presentes, são dispneia progressiva, tosse, expectoração e hemoptise. A dor torácica, em geral, não é referida. Ao estudo radiológico do tórax, as lesões são usualmente bilaterais, predominando nos dois terços inferiores dos pulmões. Pode apresentar-se de forma nodular, com nódulos de diferentes dimensões. Podem também ocorrer consolidações e cavitações. O acometimento pleural é pouco frequente. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 1. INFECÇÃO A maioria dos homens infectados só fica infectado, não desenvolve a doença. Fatores predisponentes para o desenvolvimento da doença são vários, envolve grande inoculação dos conídios, sexo masculino (estrógeno dificulta a mudança da forma para levedura), fatores genéticos. Essa infecção ocorre principalmente nas duas primeiras décadas da vida e fica latente. Desenvolve a doença mais tarde, principalmente entre 30 a 50 anos, por reativação do foco endógeno latente. A maioria das infecções ocorre por inalação, mas há também transmissão por invasão direta (traumatismos em mucosa, principalmente na boca). Uma vez inalado e se formando levedura, temos a PCM infecção. Chegando ao alvéolo, temos formação de complexo primário, como na tuberculose. DC’s migram para os linfonodos e apresentam antígenos. Tem uma reação imune T dependente. Na maioria das pessoas tem involução. Nesse período podemos ter fungemia e formando focos metastáticos (adrenal, cérebro, mucosa, etc). Uma vez montada a resposta imune adaptativa (th1), há involução na maioria dos pacientes. A resposta celular foi eficiente. Forma-se uma cicatriz que pode ser estéril ou com fungo que permanece latente. Com o desequilíbrio imune podemos ter uma reativação endógena e desenvolvimento da paracoco doença. Raramente, ao entrar o paracoco e formar o complexo primário, a resposta imune adaptativa pode ser menos eficiente e evoluir diretamente para paracoco doença, na forma aguda e subaguda. É mais raro e grave. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Em suma, a forma leveduriforme é fagocitada no pulmão pelas CD, apresenta antígenos processados e dependendo das citocinas temos resposta TH1 e Th17, uma resposta mais eficiente com um granuloma mais eficiente e compacto. Quantidade menor de fungos e pode ter debelação completa da doença. Em outros casos a resposta formada é Th2 e Th9 que formam células B com produção de anticorpos, o granuloma é mal formado. Necrose extensa, macrófagos soltos, não conseguem fagocitar muito bem. Muitos fungos. Formas mais severas. 2. APRESENTAÇÕES CLÍNICAS DA PCM As formas clínicas (apresentações clinicas) da paracoco são: - Paracoco Infecção: a maioria dos casos. Apenas 2% dos infectados desenvolvem a doença. - Paracoco Doença: Forma Aguda/Subaguda (Juvenil): moderada ou grave. Ligada a deficiência da imunidade celular. Indivíduos jovens, ambos os sexos, títulos altos de anticorpos, depressão da imunidade celular. O granuloma exsudativo com grande número de fungos. 5 a 20% dos casos. Forma Crônica (do adulto): leve, moderada ou grave. Ligada a reativação. Indivíduos adultos, mais no sexo masculino, títulos menores de anticorpos, resposta imunocelular mais preservada. Granulomas mais compactos e com menor número de fungos. 74 a 96% dos casos. - Forma residual ou sequelas: após resolução ou tratamento. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp • PARACOCO DOENÇA – FORMA AGUDA/SUBAGUDA Ou forma Juvenil, é a forma mais grave da doença. O complexo primário não é debelado e tem disseminação linfohematogênica para vários órgãos, principalmente do sistema fagocitário, como linfonodos, baço, fígado. Gravidade moderada a grave. No estudo histopatológico vemos muito tecido necrótico e alta quantidade de fungos (estruturas arredondadas brancas om cápsula). Sintomas: Linfonodomegalias superficiais e profundas, com supuração de massa ganglionar, hepatoesplenomegalia e diversos sintomas (digestivos, cutâneos e osteoarticulares) são as principais manifestações da doença, além de anemia, febre e emagrecimento, com rápida deterioração do estado geral da criança. É raro o comprometimento pulmonar. • PARACOCO DOENÇA – FORMA CRÔNICA É a forma mais comum da PCM. Contém granulomas bem formados, extensos, com células gigantes, poucos fungos e muitos neutrófilos. Na coloração por prata (Grocott), a parede fúngica fica evidente, com brotamentos (roda de leme, cabeça de Mickey). A forma crônica progride lentamente. 90% dos pacientes com forma crônica tem comprometimento pulmonar. Outros órgãos podem ser afetados, sendo mais comum mucosa do trato aereodigestivo superior (laringe) e pele. Nas formas mais graves tem disseminação para adrenal, SNC, ossos, linfonodos etc. No pulmão as lesões são centradas no eixo brônquico/vascular das vias aéreas proximais (padrão asa de borboleta). Pode ocorrer formação de uma cavidade no pulmão (cavernas), mas diferente da tuberculose, ocorre na porção média do pulmão e não ápices. Também há fibrose nessas cavernas. Sintomas: Caracteriza-se por evolução crônica, predominando sintomas de fraqueza, emagrecimento, febre, tosse, dispneia, infiltrado reticulonodular (geralmente nos dois terços superiores dos pulmões) e hipertransparência distal bibasal: essa é a forma unifocal. Quando a doença compromete outros sítios extrapulmonares, tais como a pele, a mucosa oral (estomatite moriforme), mucosas da faringe e/ou da laringe e o ápice dos dentes, é considerada como forma multifocal, gerando sintomas de dor durante a mastigação, sialorreia e odinofagia. O indivíduo demora muito a procurar assistência médica, muitas vezes instalando-se um quadro de caquexia. A radiografia de tórax revela as mesmas lesões da forma unifocal. Outros locais envolvidos pelaparacoccidioidomicose são as suprarrenais, o sistema nervoso central, os linfonodos cervicais e submandibulares, os intestinos, o sistema osteoarticular, o epidídimo, o fígado e o baço. SEQUELAS Uma vez tendo a paracoco doença, com o tratamento, pode sofrer remissão e formar cicatrizes (estéreis ou com fungos). A cicatriz forma sequelas, são áreas com muita fibrose. Exemplos: cicatriz na mucosa da boca, causa microstomia. Traqueostomia por sequela na laringe. Sequelas pulmonares são as mais frequentes e caracterizadas por fibrose e enfisema. Área deprimida por fibrose que causa repuxamento da pleura para dentro do pulmão, retração. Nessas áreas de fibrose pode ainda ter fungo latente que pode causar outras recaídas. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Perguntas para Fixação -Como ocorre a infecção pelo fungo? Quais os fatores de riscos? -O que é paracoccidioidomicose infecção, sua frequência e faixa etária? -O que é paracoccidioidomicose doença? Dê as principais características das formas aguda/ subaguda e crônica quanto a: idade, órgãos acometidos aspecto morfológico do granuloma e resposta imunitária predominante. -O que é forma residual ou sequelas? → PARACOCCIDIOIDOMICOSE EM TRAQUÉIA E LINFONODO A traqueia mostra áreas de metaplasia escamosa do epitélio de revestimento, que normalmente é do tipo pseudoestratificado cilíndrico ciliado. Em outras áreas o epitélio normal está preservado. Observam-se na traqueia os dois tipos de lesão habitualmente causadas pelo fungo Paracoccidioides braziliensis: microabscessos e granulomas. Este parasita tende a atrair muitos neutrófilos e abscessos são comuns, sendo encontrados na submucosa e até no próprio epitélio metaplásico (predomina a reação supurativa). Em meio aos neutrófilos é possível observar o parasita. Este, porém, é encontrado mais facilmente no citoplasma de células gigantes, onde se destaca como corpúsculos basófilos com membrana clara e de duplo contorno. Às vezes é possível observar o brotamento múltiplo, o meio de reprodução dos fungos, também chamado de criptoesporulação. Este só é visto facilmente em colorações especiais, como o método de Grocott de impregnação pela prata. Há duas imagens consideradas características: o brotamento duplo em 'cabeça de Mickey' e o múltiplo em 'roda de leme' (este de observação mais difícil). As células gigantes são as principais constituintes dos granulomas e podem ser encontradas também nos microabscessos. Há em geral poucas células epitelióides. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp No linfonodo as lesões são semelhantes às da traqueia. É interessante comparar com o linfonodo na tuberculose para ver as diferenças entre as lesões causadas pelos dois agentes. Na blastomicose não costuma haver, por exemplo, necrose caseosa, habitual na tuberculose. Na tuberculose é incomum a formação de abscessos, e a célula que mais participa nas lesões é o macrófago, não o neutrófilo. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A lesão mais evidente está na região média do pulmão, e consiste de um nódulo fibrótico subpleural, com retração do parênquima desta região por fibrose. A fibrose é também evidente na superfície pleural. Nas outras do parênquima observa-se disseminação miliar, na forma de diminutos nódulos esbranquiçados, à semelhança do que se observa na tuberculose. Há aumento de volume de um linfonodo hilar, com cor acinzentada, indicando disseminação linfática da blastomicose.
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