Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo módulo – dermato Tutoria 1 – Psoríase É uma doença eritematoescamosa, que tem como característica principal a presença predominante de eritema e descamação. • O eritema é a lesão primária e a escama, resultante da multiplicação acelerada de queratinócitos que se acumulam na superfície da pele, é a lesão secundária. Patogênese A psoríase é uma doença poligênica que possui vários fatores desencadeantes As lesões se apresentam como placas eritematosas, nitidamente demarcadas com escamas branco-prateadas • São reflexo clínico da hiperqueratose, paraqueratose, acantose da epiderme, vasos tortuosos e dilatados, assim como do processo inflamatório composto principalmente por linfócitos. A patogênese é marcada por um ciclo evolutivo das células epidérmicas mais rápido do o normal • Grande produção de escamas (paraqueratose) devido à presença de células epidérmicas imaturas. No desencadeamento ou na manutenção de uma placa de psoríase, participam as células dendríticas, as células T, os queratinócitos e os neutrófilos 1. As células dendríticas mieloides seriam inicialmente ativadas pela ação de interleucinas ou de células dendríticas (liberariam IFN-α), células natural killer (liberariam TNF-α, IFN-γ), queratinócitos (liberariam IL-1β, IL-6, TNF-α) ou ainda macrófagos (liberariam TNF-α). 2. Uma vez ativadas, as células dendríticas mieloides liberariam IL-12 e IL-23. 3. As células ativadas pela IL-12 entrariam em proliferação clonal, produzindo citocinas Th1 (TNF-α, IFN-γ) enquanto a IL-23 seria a responsável pela ativação de uma subpopulação de células T que produziriam IL-17A e IL17F (célulasTh-17). 4. As células Th-17, liberariam IL-22 que, atuando sobre os queratinócitos e neutrófilos, promoveriam as alterações observadas na lesão da psoríase, sua ativação mantendo a cadeia pró-inflamatória observada na doença. Epidemiologia/Etiologia A psoríase pode aparecer em qualquer idade, sendo mais frequente no adulto jovem, ocorrendo igualmente ambos os sexos Apresenta dois picos de incidência: entre 20 e 30 anos e após os 50 anos. O risco de desenvolver psoríase é maior quando um ou ambos os pais são afetados. A causa da psoríase é desconhecida, porém essa doença apresenta uma base hereditária, provavelmente multifatorial, o que significa que é de herança poligênica e requer fatores ambientais para sua expressão. • Os antígenos leucocitários de histocompatibilidade (HLA) da classe I mostram uma associação com B13, B17, B37 e especialmente Cw6. • Associação com o antígeno da classe II-DR7, parecendo haver dois genes de suscetibilidade para a psoríase, um na região do C (Cw6 associado) e outro na região DR (DR7 associado). • O principal gene associado foi chamado de PSORS 1. Além dos fatores genéticos, diversos fatores ambientais têm sido implicados no desencadeamento ou na exarcebação da doença: • Trauma cutâneo de diversas naturezas: físico, químico, elétrico, cirúrgico, inflamatório. • Infecções: por estreptococo β-hemolítico tem papel no desencadeamento da psoríase aguda e em gotas. Indivíduos com HIV podem apresentar importante exacerbação da psoríase • β-bloqueadores, antimaláricos, AINEs, interrupção abrupta de corticoides: agravam a psoríase. • Estresse emocional: é relacionado ao desencadeamento ou à exarcebação da doença. • Clima frio (regiões de maior latitude): nessas regiões a incidência de psoríase é maior, provavelmente pela menor radiação solar. Quadro clínico As lesões são eritematoescamosas, em placas, de limites bem precisos e, por vezes, circundadas por halo periférico claro (halo de Woronoff). O tamanho das lesões varia de alguns milímetros a grandes placas de vários centímetros. A morfologia também é variada, podendo ser numular, girata ou anular A psoríase se apresenta em variadas formas clínicas: Forma vulgar • É a apresentação clínica mais comum da psoríase, observada em cerca de 90% dos pacientes. • Placas eritematoinfiltradas com escamas secas, branco-prateadas, aderentes e estratificadas. • As lesões são bem delimitadas de tamanhos variados, afetando de forma simétrica joelhos e cotovelos, couro cabeludo e região dorsal • Pode ocorrer sintomas subjetivos, como prurido, queimação e ardência e dor • A evolução é crônica, com períodos de exacerbação e remissão, quando podem ser observadas lesões anulares (remissão). • Importantes sinais clínicos podem ser observados na curetagem metódica de Brocq: Sinal da vela: pela raspagem da lesão, destacam-se escamas esbranquiçadas Sinal de Ausptitz: quando, pela continuação da raspagem, após a retirada das escamas, surge uma superfície vermelho brilhante com pontos hemorrágicos. • Fenômeno de Koebner: corresponde ao surgimento da dermatose em áreas de pele sã após trauma local em pacientes geneticamente predispostos → Queratinócitos danificados poderiam se ativar e liberar citocinas, e sua integração com neutrófilos e células dendríticas poderiam explicar o fenômeno. • Fenômeno de Renbok (Koebner reverso): expressa a situação na qual o traumatismo local imposto a uma placa de psoríase resulta no desaparecimento da lesão e o surgimento de pele aparentemente sã no local. Forma invertida • Atinge dobras flexurais quando a descamação se torna menos evidente pela sudorese local • Ocorre com frequência em HIV-infectados e melanodérmicos. Forma gutata • É mais comum em crianças, adolescentes e adultos jovens • Aparecimento súbito de pequenas pápulas eritemato- descamativas de até 1 cm de diâmetro, geralmente localizadas no tronco e nos membros proximais. • Precedida por uma infecção estreptocócica, comumente de vias aéreas superiores. Forma eritrodérmica • Caracterizada por eritema intenso, de caráter universal, acompanhado de descamação discreta • É desencadeada por terapias intempestivas, por ad- • ministração e posterior interrupção de corticoide sistêmico, podendo corresponder à exacerbação da doença em pacientes imunossuprimidos. • A atividade do processo psoriático é intensa, com proliferação aumentada e perda da manutenção das células epidérmicas, levando à produção de queratinas anormais. • Devido a vasodilatação generalizada, existe perda de calor, levando à hipotermia. • A função de barreira da pele está comprometida, nesses quadros, podendo ocorrer bacteremia e septicemia Forma pustulosa • Forma grave com sinais e sintomas sistêmicos, manifestando-se por meio de placas eritematoedematosas e pústulas generalizadas. • Pode ser desencadeada por interrupção de corticoide sistêmico, por infecções, cirurgias, queimaduras, irritantes locais ou pode ocorrer na forma idiopática • Comprometimento do estado geral, febre e leucocitose. • Demanda pronta intervenção e internação hospitalar devido aos altos índices de complicações. Forma ungueal • Caracterizada por pressões puntiformes da lâmina ungueal ou unha em dedal. • Manchas de óleo, hemorragias em estilhaço, onicólise e hiperqueratose subungueal caracterizam lesões do leito ungueal • Depressões (pits ungueais), manchas cor de salmão da lúnula, leuconíquia e sulcos de Beau são manifestações de lesões em matriz. Diagnóstico A identificação da psoríase é clínica com a percepção do tipo e da distribuição das lesões Grande valor semiológico é dado à curetagem metódica de Brocq. O laboratório é inespecífico, com eventuais aumentos de ácido úrico nas apresentações extensas e ativas e de VHS, α2-globulina e proteína C reativa nas formas artropáticas. • Leucocitose ocorre nas formas pustulosas extensas e agudas Histopatológico: o início há, na derme, vasodilatação com infiltrado perivascular. • Este infiltrado invade a epiderme, onde surge discreta espongiose, invasão dos neutrófilos e paraqueratose. • Nota-se alongamento das cristas epiteliais, com afinamento na porção suprapapilar.• Na epiderme, ocorre paraqueratose, desaparecimento da camada granulosa e presença de agrupamentos de neutrófilos, denominados microabscessos de Munro. • Na psoríase pustulosa há presença de cavidades contendo neutrófilos, chamadas de pústulas espongioformes de Kogoj. Diagnóstico diferencial • Eczema numular • Pitiríase rósea de Gilbert • Sífilis • Lúpus eritematoso cutâneo subagudo • Dermatite seborreica • Ptiriase liquenoide • Eritodermias Tratamento O objetivo da terapêutica é o controle clínico da psoríase, de preferência com remissão prolongada Os diversos medicamentos atuam bloqueando a proliferação exagerada dos queratinócitos e a ativação linfocitária que produz muitas e diferentes citocinas pró-inflamatórias. A exposição ao sol é recomendada Formas localizadas • Uso de corticoides tópicos como loções no couro cabeludo, como cremes para a face e áreas intertriginosas e como pomadas para lesões no tronco e nos membros • Os análogos da vitamina D atuam diminuindo a proliferação e induzindo a diferenciação terminal dos queratinócitos. • A associação de corticoide tópico com o calcipotriol possibilita, pela ação sinérgica, melhor resultado terapêutico. • O uso das preparações de coaltar são bastante seguras, raramente apresentando efeitos colaterais. Formas mais extensas • Fototerapia UVB: o mecanismo de ação da fototerapia se faz por meio da atividade antiproliferativa, anti-inflamatória e imunossupressora. → Indicado na psoríase moderada de duas a três vezes por semana • Fototerapia sistêmica com PUVA (psoraleno + UVA): administração oral de substância fotorreativa, o 8- metoxipsoralendo (8-MOP) seguida de exposição à radiação UVA de ondas longas → Indicado em casos de psoríase moderada e grave, podendo ser monoterapia ou associada a medicações tópicas ou sistêmicas. → Efeitos colaterais: náusea, eritema, prurido e queimaduras. A longo prazo, ocorre bronzeamento da pele, envelhecimento precoce, maior potencial de desenvolvimento de carcinomas e de catarata. → Não deve ser recomendada para crianças, indivíduos com fotossensibilidade e antecedentes de melanoma ou de câncer de pele não melanoma. • Método de Goeckerman: é a associação do coaltar com a radiação UVB → Indicado para o tratamento de psoríase disseminada, não eritrodérmica. → A pomada de coaltar é aplicada, e o paciente deve permanecer com ela o maior tempo possível. → Após a irradiação ultravioleta, o paciente deve tomar banho para a retirada das escamas e reaplicar a pomada. Formas graves e extensas • O tratamento pode ser feito com metotrexate, acitretina, ciclosporina e até biológicos • Metrotrexate: inibidor da enzima di-hidrofolatoredutase e antagonista do ácido fólico. Empregado em casos moderados a grave de psoríase vulgar e em casos de psoríase eritrodérmica e pustulosa → Contraindicação: gestação e lactação, cirrose hepática, infecção hepática ativa e insuficiência hepática. • Acitretina: é um derivado da vitamina A (retinol), agindo sobre o crescimento e a diferenciação celular epidérmica. indicado na psoríase pustulosa generalizada → Contraindicações: gestação ou desejo de engravidar nos próximos três anos (efeito teratogênico), insuficiência hepática e renal graves e alergia ao parabeno contido nas cápsulas. • Ciclosporina: atua inibindo os linfócitos TCD4 ativados, impedindo a liberação de IL-2. Indicado na psoríase eritrodermica • Imunobiológicos: interferem de maneira específica e pontual no sistema imune. → O alvo inclui o tráfego de linfócito da microcirculação para a pele, a apresentação de antigênica das células apresentadoras de antígenos aos linfócitos e diferentes citocinas. → Três tipos: citocinas recombinantes, proteínas de fusão, e anticorpos monoclonais. Tutoria 2 – Paracoccidioidomicose É uma doença granulomatosa sistêmica causada pelo fungo dimórfico Paracoccidioides brasiliensis (P. brasiliensis), que compromete principalmente pulmões, sistema fagocítico-mononuclear, mucosa, pele e suprarrenais. Esse fungo possui uma grande variabilidade genética: • S1 (com distribuição no Brasil, Argentina, Peru, Paraguai e Venezuela) • PS2 (com distribuição no Brasil e Venezuela) • PS3 (somente na Colômbia) • Pb01-like (principalmente nos Estados de Mato Grosso e Rondônia e no Equador). Epidemiologia É a micose endêmica mais comum na América Latina, sendo registrada do México à Argentina, com maior prevalência no Brasil (cerca de 80%), na Colômbia, na Venezuela, na Argentina e no Uruguai. É mais prevalente entre trabalhadores rurais envolvidos em agricultura intensiva. A doença humana tem sido atribuída a exposição ao habitat (solo) do fungo através do trabalho agrícola, principalmente através do cultivo de café, algodão e tabaco. Em adultos com a forma crônica é mais prevalente entre os homens entre as idades de 30 e 60 anos. A proporção média de homens para mulheres é de 13: 1 no Brasil • O estrógeno inibi a transformação de micélio ou conídios para levedura, protegendo as mulheres adultas do desenvolvimento da doença, mas não da infecção. Etiologia O local onde os indivíduos doentes provavelmente adquirem a infecção geralmente são regiões úmidas, tropicais e subtropicais. O P. brasiliensis é um fungo termodimórfico, com solo ácido e temperatura de 15 a 30°C • Pode ser cultivado como um micélio de colônias brancas a 25°C por 15 a 30 dias • A 37°C, cresce como um fungo em tecidos animais e humanos e em culturas após 7 a 20 dias, sob forma de células ovais ou esféricas com dupla parede refringente A reprodução se dá por brotamento, com células-mães produzindo de 10 a 12 brotos de tamanho uniforme ou variável, com a forma característica de “roda de leme” em amostras biológicas ou tecidos infectados Fisiopatologia A paracoccidioidomicose se desenvolve após a inalação de conídios aerossolizados encontrados no meio ambiente • Nos alvéolos, a fase micelial converte-se para a fase de levedura A infecção pode permanecer localizada nos pulmões, embora seja provável que uma disseminação hematogênica assintomática ocorra durante a maioria das infecções Na maioria dos pacientes, as manifestações da doença não se desenvolvem no momento da infecção inicial O mecanismo primário de defesa imunológica contra o P. brasiliensis parece ser a imunidade celular, mas também os neutrófilos exercem um papel importante na defesa imunológica • Quadro histopatológico: infiltrado neutrofílico e granulomatoso Nos pacientes com HIV há uma ampla disseminação, e a histopatologia mostra granulomas malformados Não se conhecem os fatores responsáveis pela virulência, tendo-se atribuído ao conteúdo de alfa-1,3-glucana1. • A patogenicidade do fungo é aumentada por ligação da gp43 do fungo à laminina dos tecidos • Os conídios transformam-se em leveduras nos alvéolos após 12 a 18 horas, registrando-se reação inflamatória inicial com células polimorfonucleares, seguidas de formação de granuloma • Há formação de um complexo primário, envolvendo os linfáticos locais e regionais, seguindo-se a disseminação do fungo para órgãos e tecidos por via linfática e hematogênica • Pode ocorrer equilíbrio da relação hospedeiro-parasita na infecção ou evolução para doença aguda nas crianças e adultos jovens, afetando o sistema fagocítico-mononuclear Em adultos, lesões quiescentes podem se reativar, especialmente no pulmão, evoluindo para a forma crônica da doença • A lesão característica é um granuloma contendo células fúngicas, que pode ser predominantemente proliferativa e/ou exsudativa, podendo resultar em necrose, com número variável de neutrófilos, grande número de fungos extracelulares, evoluindo para granuloma epitelióide. Em relação a interaçãofungo-hospedeiro, a imunidade celular é mais significativa do que a humoral • Anticorpos circulantes são detectados no curso da doença, anticorpos protetores e não protetores também estão presentes. Quadro clínico Forma aguda (tipo jovem) Corresponde a 1% a 20% dos pacientes, geralmente crianças, adolescentes e jovens adultos (< 30 anos de idade) Evoluem por 2 a 3 meses ou mais com febre, perda de peso e envolvimento progressivo do sistema fagocítico-mononuclear, com aumento de fígado, baço e linfonodos regionais ou generalizados, sendo os cervicais mais frequentes. (também acomete: linfonodos axilar e inguinal) • Os nódulos são ricos em fungo, evoluindo de duros para flutuantes com sinais de inflamação Os linfonodos abdominais aumentados geralmente causam dor abdominal difusa e compressão de várias estruturas, como o trato biliar (icterícia) e intestinos (obstrução parcial, má absorção) A disseminação da infecção no sistema reticuloendotelial resulta em linfadenopatia, hepatoesplenomegalia ou disfunção da medula óssea Podem ocorrer múltiplas lesões cutâneas, envolvimento de ossos longos e comprometimento do tubo digestivo, além de eosinofilia absoluta transitória Ao contrário da forma crônica, raramente o pulmão é envolvido Forma crônica (tipo adulta) Representa mais de 90% dos casos, que pode apresentar meses ou anos após a infecção primária. Afeta homens que trabalham na zona rural e tem entre 30 e 60 anos de idade, comprometendo em mais de 80% dos casos o pulmão, seguido da pele (lesões vegetantes, verrucóides, tuberculóides, acneifomes, pápulas, pústulas, úlceras) e mucosas (laringe, traquéia, faringe), com rouquidão, disfonia ou disfagia. • A lesão típica nas mucosas é uma úlcera dolorosa com bordas irregulares e pequenos pontos de hemorragia. • Pode acometer linfonodos, suprarrenais, intestino, ossos, sistema nervoso central (cérebro, cerebelo), olhos, sistema geniturinário, miocárdio, pericárdio e sistema vascular. De início, os pacientes são oligo sintomáticos, tardiamente queixam-se de dispneia, tosse, escarro purulento O exame físico encontra-se normal ou com estertores A radiografia revela infiltrado reticulonodular em campos médio e inferior, assimétrico, bilateral e, com menos frequência, cavidades apicais ou derrame pleural são descritos Tuberculose pode ocorrer como comorbidade em cerca de 10% a 15% de formas pulmonares Diagnóstico É estabelecido pelo crescimento de P. brasiliensis em cultura. • O organismo pode demorar até 4 semanas para crescer O aspecto característico é constituído por células de levedura de paredes espessas que possuem várias pequenas células de levedura filhas, de brotamento de base estreita, circunferencialmente ligadas à imagem distintiva morfológica comparada ao volante de um navio. A identificação do fungo em material biológico por exame direto e cultura ou histopatológico pode ser realizada com maior sensibilidade pelo exame com prata ou PAS em materiais de biópsia ou citologia de escarro, lavados Diagnósticos diferenciais Forma aguda • Infecções sistêmicas associadas a linfadenopatia generalizada, hepatoesplenomegalia, febre, perda de peso e anemia • Linfoma • Histoplasmose disseminada • Tuberculose ganglionar • Sífilis • Doença por arranhadura de gato • Epstein-Barr, citomegalovírus e Toxoplasma gondii • Infecção por HIV Forma crônica • Tuberculose • Infecções fúngicas • Leishmanione • Carcinoma • Sarcoidose • Fibrose pulmonar idiopática Tratamento Os paracoccidioides são sensíveis a maioria dos antifúngicos, incluindo a anfotericina B, os azois (cetoconzol, fluconazol, itraconazol) Escolha da droga • Para pacientes com doença grave (hipotensão, insuficiência respiratória e desnutrição grave) é indicado o uso da anfotericina B desoxicolato – 0,7 a 1 mg/kg/dia • O itraconazol capsulas (100mg , uma ou duas vezes ao dia) é usado na doença leve e moderada em adultos Duração do tratamento • Itraconazol e voriconazol são geralmente administrados por 6 a 12 meses • O TMP-SMX requer um período mais longo para evitar recaídas (2 anos) • Pacientes com doença grave também possuem o tratamento mais longo (2 anos), mesmo com o uso de itraconazol, assim como pacientes com envolvimento do SNC e imunocomprometidos Tutoria 3 – hanseníase É uma doença infectocontagiosa, causada pelo Mycobacterium leprae • Acomete, inicialmente, o SNP, para depois, atingir a pele (grupo não contagiante, paucibacilar) • Na maioria dos doentes brasileiros, também acomete os outros órgãos e sistemas, exceto o SNC O Mycobacterium leprae apresenta-se sob a forma de bacilo reto ou levemente encurvado, com extremidades arredondadas. • A reprodução ocorre pelo processo de divisão binária e é gram- positivo Epidemiologia No Brasil, apenas 20% (em média) dos doentes são diagnosticados com a moléstia na fase inicial • Cerca de 70% já apresentam algum grau de incapacidade física ao serem diagnosticados Predomina nas camadas socioeconômicas mais desfavorecidas Transmissão e patogênese O homem é considerado o único reservatório natural do bacilo Os pacientes portadores de formas multibacilares são a principal fonte de infecção As vias aéreas superiores provavelmente constituem a principal via de inoculação e eliminação do bacilo O período de incubação é longo, em média de dois a cinco anos, podendo ser de meses a mais de dez anos • O M. leprae é um micro-organismo “lento”, que se reproduz por divisão binária simples a cada 14 dias, sendo necessários muitos anos para que o organismo possua uma carga bacilar capaz de expressar-se clinicamente Depois da sua entrada no organismo, não ocorrendo a sua destruição, o bacilo de Hansen irá se localizar na célula de Schwann e na pele • Sua disseminação para outros tecidos (linfonodos, olhos, testículos, fígado) pode ocorrer nas formas mais graves da doença A imunidade humoral (dependente de anticorpos) é ineficaz contra o M. leprae • A defesa é efetuada pela imunidade celular, capaz de fagocitar e destruir os bacilos, mediada por citocinas (TNF-alfa, IFN-gama) e mediadores da oxidação, fundamentais na destruição bacilar no interior dos macrófagos Na forma paucibacilar (lesões tuberculoides), há predomínio de linfócitos Th1, produzindo IL-2 e IFN-gama enquanto na forma multibacilar (lesões virchowianas ou lepromatosas), o predomínio é de linfócitos T supressoras e Th2, produzindo IL-4, IL- 5 e IL-10 A hanseníase é uma doença de ALTA infectividade e BAIXA patogenicidade Classificação Grupo paucibacilar Doentes não contagiantes, com poucos bacilos e acometimento neural e cutâneo (paucibacilares). • Formas: inicial indeterminada e tardia tuberculoide Grupo multibacilar Doentes contagiantes – com muitos bacilos em todos os tecidos acometidos (exceto no SNC) e, portanto, também muitas lesões cutâneas. • Formas: dimórfica e virchowiana Manifestações clínicas As primeiras manifestações e lesões clínicas da MH ocorrem no SNP, passam despercebidas e antecedem os sinais cutâneos No início, são sensitivas: ocorre perturbação da sensibilidade térmica, em seguida, dolorosa e, finalmente, a tátil • Os ramúsculos neurais são afetados primeiro – ramusculite periférica • A infecção progride aos ramos secundários e aos troncos neurais periféricos, que se tornam edemaciados, dolorosos à palpação ou percussão (sinal de Tinel+) • Essa inflamação ocorre próxima às articulações e provoca perturbações na circulação neural, agravando a isquemia com consequente disestesia grave ou perda da função • Ocorrem alterações sensitivas e motoras (paresias ou paralisias): amiotrofias, retrações tendíneas e fixações articulares (garras) • Os importantes nervos mistos(sensitivo-motores) afetados são: → Ulnar (garra ulnar; hipo ou anestesia nos IV e V dedos), → Mediano (garra do mediano; hipo ou anestesia nos I, II e III dedos) → Fibular e o tibial (hipo ou anestesia plantar; os dois fatores, sensitivo e motor) → Trigêmeo e o facial Hanseníase indeterminada Caracteriza-se pelo aparecimento de mancha(s) hipocrômica(s), anestésica e anidrótica, com bordas imprecisas. • Lesões são únicas ou em pequeno número e podem se localizar em qualquer área da pele Não há comprometimento de troncos nervosos nesta forma clínica A baciloscopia é negativa A HI é considerada a primeira manifestação clínica da hanseníase • Após um tempo variável, dependendo da imunidade, ocorre evolução para cura ou para outra forma clínica, paucibacilar ou multibacilar Histopatologia apresenta infiltrado perivascular e perineural Hanseníase tuberculoide Surge a partir da HI não tratada, nos pacientes com boa resistência. As lesões são bem delimitadas, em número reduzido, eritematosas, com perda total da sensibilidade e de distribuição assimétrica • Presença de máculas, que evoluem para lesões em placas com bordas papulosas, e áreas de pele eritematosas ou hipocrômicas • Seu crescimento lento leva à atrofia no interior da lesão, que pode, ainda, assumir aspecto tricofitoide, com descamação das bordas • Manifesta-se em crianças conviventes com portadores de formas bacilíferas e localiza-se principalmente na face • É uma forma paucibacilar (a baciloscopia é tipicamente negativa), cujo foco foi um paciente multibacilar Hanseníase virchowiana Forma multibacilar da hanseníase • Corresponde ao polo de baixa resistência imunológica ao bacilo Pode evoluir a partir da forma indeterminada ou se apresentar como tal desde o início Caracteriza-se pela infiltração progressiva e difusa da pele, mucosas das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos • Podendo afetar, ainda, os linfonodos, o fígado e o baço (hepatoesplenomegalia). Apresenta polimorfismo muito grande de lesões • Inicialmente, são manchas muito discretas, hipocrômicas, múltiplas e de limites imprecisos • Tornam-se eritematosas, eritematopigmentadas, vinhosas, eritematocúpricas, ferruginosas e espessadas • Podem surgir lesões sólidas: papulosas; papulonodulares; nodulares; placas isoladas; agrupadas e/ou confluentes, simetricamente distribuídas • Ocorre progressiva alopecia de cílios e supercílios, (madarose) e de antebraços, pernas e coxas • As orelhas estão espessadas com nódulos isolados ou em rosário • Fácies leonina Hanseníase dimorfa ou borderline Marcado pela instabilidade imunológica, há grande variação em suas manifestações clínicas • As lesões da pele são numerosas e a sua morfologia mescla aspectos de HV e HT • A infiltração assimétrica da face e dos pavilhões auriculares e a presença de lesões no pescoço e nuca, é elemento sugestivo • As lesões neurais são precoces, assimétricas e, com frequência, levam a incapacidades físicas • É subclassificada em: → Borderline Tuberculoide (BT): placas ou manchas eritematosas, por vezes anulares, de maior extensão, distribuição assimétrica, pouco numerosas ou com lesões satélite → Borderline Borderline (BB): lesões bizarras, semelhantes ao “queijo suíço” (“esburacadas”), descritas como anulares ou foveolares, com limite interno nítido e limites externos imprecisos, com bordos de cor ferruginosa. As lesões são mais numerosas que a BT, mas de distribuição assimétrica → Borderline Virchowiana (BV): múltiplas lesões elevadas eritematoinfiltradas, algumas de aspecto anular. Diagnóstico Essencialmente clínico e epidemiológico, com base na história e condic ̧ões de vida do paciente, além do exame dermatoneurológico Tem-se como objetivo identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos No exame neurológico, a identificação das lesões deve ser feita pelas seguintes etapas: 1. Inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés 2. Palpação dos troncos nervosos periféricos 3. Avaliação da mobilidade articular 4. Avaliação da força muscular 5. Avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e membros inferiores. Deve-se verificar se há: • Queixa de dor espontânea no trajeto do nervo, de choque ou de dor; • Se há espessamento do nervo palpado comparado com o nervo correspondente, no lado oposto • Se há alteração na consistência do nervo (endurecimento, amolecimento) • Se há alteração na forma do nervo (abscessos e nódulos) • Se o nervo apresenta aderências A baciloscopia é o exame complementar mais útil no diagnóstico • Deve ser feito com a linfa obtida em pelo menos quatro locais (lóbulos das orelhas direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo) e em lesão cutânea suspeita Considera-se um caso de hanseníase a pessoa que apresenta um ou mais dos seguintes sinais cardinais: • Mancha e/ou área(s) da pele com alteração (perda) de sensibilidade, característica da hanseníase • Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autono ̂micas • Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico Tratamento É baseado no número de lesões cutâneas: • Paucibacilares (PB) – casos com até cinco lesões de pele; • Multibacilares (MB) – casos com mais de cinco lesões de pele (seis ou mais). • OBS: A baciloscopia positiva classifica o caso como multibacilar, independentemente do número de lesões Esquema terapêutico utilizado para paucibacilar: 6 cartelas Em adultos: • Rifampicina (RFM): dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada • Dapsona (DDS): dose mensal de 100 mg supervisionada e dose diária de 100 mg autoadministrada Em crianças: • Rifampicina (RFM): dose mensal de 450 mg (1 cápsula de 150 mg e 1 cápsula de 300 mg) com administração supervisionada. • Dapsona (DDS): dose mensal de 100 mg supervisionada e dose diária de 100 mg autoadministrada Esquemas terapêuticos utilizados para multibacilar: 12 cartelas Em adultos: • Rifampicina (RFM): dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada. • Dapsona (DDS): dose mensal de 100 mg supervisionada e uma dose diária de 100 mg autoadministrada. • Clofazimina (CFZ): dose mensal de 300 mg (3 cápsulas de 100 mg) com administração supervisionada e uma dose diária de 50 mg autoadministrada. Em crianças: • Rifampicina (RFM): dose mensal de 450 mg (1 cápsula de 150 mg e 1 cápsula de 300 mg) com administração supervisionada. • Dapsona (DDS): dose mensal de 50 mg supervisionada e uma dose diária de 50mg autoadministrada. • Clofazimina (CFZ): dose mensal de 150 mg (3 cápsulas de 50 mg) com administração supervisionada e uma dose diária de 50 mg autoadministrada em dias alternados. Reações hansenicas Reação tipo 1 (reversa) Tende a surgir mais precocemente no tratamento, entre o 2º e o 6º mês, caracteristicamente na hanseníase dimorfa • Mediada pela imunidade celular Caracteriza-se pela exacerbação das lesões preexistentes, que se tornam edemaciadas, eritematosas, brilhantes, semelhante à erisipela Febre baixa pode ocorrer Surgem lesões novas à distância e as neurites mostram-se frequentes e graves Se não tratadas precocemente, deixam sequelas • Os nervos mais comprometidos são os ulnares e medianos nos membros superiores, fibular comum e tibial posterior nos membros inferiores e facial e grande auricular no segmento cefálico. Reação tipo 2 (eritema nodoso hansenico) Observada nas formas multibacilares (virchowianas ou dimorfas), em geral, após seis meses de tratamento O eritema nodoso hansênico é uma paniculite (inflamação da hipoderme) lobular (predomina nos lóbulos), acompanhado de vasculite. Síndrome desencadeada por depósito de imunocomplexos nostecidos e vasos • Há aumento de citocinas séricas, como o TNF-alfa e o IFN-gama, sem haver mudança definitiva da condição imunológica do paciente As manifestações clínicas incluem: • Febre e linfadenopatia • Neurite – nervo ulnar é o mais comumente acometido • Uveíte • Orquite • Glomerulonefrite Fenômeno de Lúcio Ocorre antes do tratamento em poucos pacientes com hanseníase virchowiana, especialmente naqueles com a forma “lepra bonita” Lesões maculares equimóticas (necróticas) que se ulcera podem ocorrer em pequeno número ou por uma área extensa da pele, sendo observada mais comumente em extremidades inferiores • O paciente pode comportar-se como um grande queimado, e a infecção secundária das lesões por Pseudomonas aeruginosa é uma complicação possível A histopatologia demonstra: • Necrose isquêmica da epiderme e derme superficial • Parasitismo intenso de células endoteliais • Proliferação de células endoteliais • Formação de trombos em grandes vasos das porções profundas da derme Tutoria 4 – leishmaniose Doença causada por diferentes espécies de protozoário pertencente ao gênero Leishmania, parasitas com ciclo de vida heteroxênico, vivendo alternadamente em hospedeiros vertebrados (mamíferos) e insetos vetores (flebotomíneos) • Nos hospedeiros mamíferos, os parasitas assumem a forma amastigota (aflagelados) se multiplicam obrigatoriamente dentro de macrófagos, que se rompem liberando parasitas que são fagocitados por outros macrófagos Quanto aos insetos vetores são da subfamília Phlebotominae, do gênero Lutzomyia e todas as espécies do gênero Leishmania são transmitidas pela picada de fêmeas infectadas. • Nos flebotomíneos as formas promastigotas vivem no meio extracelular, na luz do trato digestivo. • As formas amastigotas, ingeridas durante o repasto sanguíneo, se diferenciam em formas promastigotas (flageladas) que são posteriormente inoculadas na pele dos mamíferos durante a picada. Os vetores são popularmente conhecidos, como mosquito-palha, tatuquira, birigui, entre outros Leishmaniose tegumentar americana É um grupo de enfermidades de evolução crônica, que acomete a pele, mucosas e estruturas cartilaginosas da nasofaringe, de forma localizada ou difusa, provocada pela infecção das células do sistema fagocítico mononuclear parasitado por amastigotas A LTA é uma zoonose amplamente distribuída no território brasileiro, ocorrendo em todas as regiões do país. Surtos epidêmicos têm ocorrido nas regiões Sudeste, Centro Oeste, Nordeste, Norte e, mais recentemente, na região Sul. Agente etiológico No Brasil, sete espécies de Leishmania causadoras da doença foram identificadas, sendo seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As três principais espécies são: L. (Viannia) braziliensis, L. (V.) guyanensis e L. (Leishmania) amazonensis e, mais recentemente, as espécies L. (V.) lainsoni, L. (V.) naiffi , L. (V.) lindenberg e L. (V.) shawi. • Leishmania viannia brasiliensis: é a espécie mais prevalente no homem e pode causar lesões cutâneas e mucosas. É encontrada em todas as zonas endêmicas do País, desde o Norte até o Sul, estando associada à presença de animais domésticos. • Leishmania (V.) guyanensis: causa lesões cutâneas. Ocorre na região Norte, estando associada com desdentados e marsupiais como reservatórios primários. • Leishmania (V.) naiffi: ocorre no Pará e Amazonas, tendo o tatu como reservatório natural, causando LTA de evolução benigna. • Leishmania (V.) shawi e Leishmania (V.) lainsoni: ocorrem esporadicamente no Amazonas. A shawi tem como reservatório macacos, preguiças e procionídeos, enquanto a lainsoni tem a paca como reservatório • Leishmania leishmania amazonensis: agente etiológico de LTA, incluindo a forma anérgica ou leishmaniose cutânea difusa. Seus reservatórios são principalmente roedores e marsupiais. Evolução da doença É definida pela presença de lesões exclusivamente na pele, que se iniciam no ponto de inoculação das promastigotas infectantes, através da picada do vetor, para qualquer das espécies de Leishmania causadoras da doença • A lesão primaria geralmente é única A lesão surge após um período de incubação variável de 10 dias a três meses, como uma pápula eritematosa que progride lentamente para nódulo São frequentes as ulcerações com bordas elevadas, enduradas e fundo com tecido de granulação grosseira, configurando a clássica lesão com borda em moldura Lesão elementar: lesão ulcerada de bordas eritematosas com fundo granuloso, que não doem e não melhoram com tratamentos comuns para feridas Formas de transmissão A transmissão se dá através da picada de insetos transmissores infectados. • Não há transmissão de pessoa a pessoa ou animal a animal. Diagnóstico clínico Classicamente as lesões de LTA possuem formas ulceradas, indolores, normalmente localizadas em áreas expostas da pele • Com formato arredondado ou ovalado; base eritematosa; infiltrada e de consistência firme; bordas bem-delimitadas e elevadas; fundo avermelhado e com granulações grosseiras. • Infecções bacterianas ou fúngicas secundárias podem estar presentes, cursando com dor e exsudato seropurulento Diagnóstico laboratorial Exames parasitológicos Esfregaço de material obtido por escarificação, raspado, punção aspirativa ou “imprint” Permite a observação de amastigotas e o diagnóstico diferencial com outras doenças tumorais e inflamatórias, porém apresenta baixa sensibilidade Teste de Montenegro Baseado na visualização da resposta de hipersensibilidade celular retardada. • É segura e especialmente valiosa nas áreas de prevalência da L. braziliensis. • A IDRM pode ser negativa nos primeiros meses após o surgimento da lesão cutânea e em geral é mais exacerbada na Leishmaniose Mucosa. Testes sorológicos IFI e ELISA são utilizados para detectar anticorpos anti-Leishmania. • As reações sorológicas não devem ser utilizadas como critério isolado para diagnóstico de LTA, pois podem apresentar reação cruzada com outros Tripanosomatídeos. • Devem ser utilizadas para diferenciar diagnósticos Exames moleculares PCR é um exame que permite amplificar em escala exponencial sequências de DNA. • Dotada de alta sensibilidade, é capaz de detectar quantidades muito pequenas do DNA do parasito. Tratamento A droga de escolha é o antimonial pentavalente, na forma de antimoniato de N-metilglucamina. Anfotericina B, antibiótico poliênico de reconhecida ação leishmanicida, é a droga de segunda escolha, empregada quando não se obtém resposta ao tratamento com antimonial ou na impossibilidade de seu uso. • É a droga de primeira escolha quando o paciente é: gestante de qualquer idade, acima de 50 anos, insuficientes renais, cardíacos ou hepáticos As pentamidinas são diamidinas aromáticas que vem sendo utilizadas como drogas de segunda escolha no tratamento da leishmaniose tegumentar em áreas endêmicas dos continentes americano, asiático e africano. Tutoria 5 – escabiose São doenças causadas por acarinos do gênero Sarcoptes, que agridem vários animais, dentre os quais o homem • Doença contagiosa produzida pelo Sarcoptes scabiei var. hominis, que produz uma dermatose pruriginosa predominantemente noturna Epidemiologia O contágio é direto e geralmente se faz no leito; existe a possibilidade distante de contágio indireto, por roupa pessoal ou do leito usadas recentemente pelo paciente Incide em todas as idades, porém é mais comum no adulto; não tem predileção por sexo ou raça; é endêmica, com surtos epidêmicos, e tem certa relação com a promiscuidade, inclusive sexual, o que justifica sua inclusão entre as doenças de transmissão sexual Etiopatogenia A escabiose é produzida exclusivamente pela fêmea fecundada, já que o machomorre após a cópula. Esta penetra na epiderme, fazendo um túnel subcórneo, com a progressão noturna de 2 a 3 mm/dia; seu ciclo vital é de 15 a 30 dias, durante o qual elimina cerca de 40 a 50 ovos, morrendo em seguida. • Cada ovo origina, em 3 a 5 dias, uma larva hexápode (seis pernas) que se transforma em ninfa (octópode) e, finalmente, chega à fase adulta O ciclo biológico do ovo ao adulto dura, em média, 15 dias. • O período de incubação é de 3 a 4 semanas, quando aparece erupção pruriginosa, ou então de 1 ou 2 dias, nos casos de reinfecção dos pacientes que se alergizarem O prurido ocorre por dois mecanismos: • Alérgico: eosinofilia sanguínea, às vezes elevada, sobretudo na escabiose crostosa • Mecânico: provocado pela progressão do parasita, a qual se faz especialmente à noite, como consequência do calor do leito (a contraprova está no fato de que as pessoas que dormem de dia apresentam o prurido nessa ocasião) Além da eosinofilia, testes intradérmicos com antígenos específicos, testes de transferência passiva e aumento de IgM e IgE falam a favor de um mecanismo imunoalérgico. Quadro clínico A lesão típica é o túnel escabiótico, que mede 5 a 15 mm, de cor acinzentada clara ou da cor da pele, em geral sinuoso, tendo na extremidade migrante uma pequena vesícula do tamanho de uma cabeça de alfinete – a eminência acarina (onde se encontra o parasita). • Esses túneis, cujo número aumenta com a duração da doença, localizam-se: nos dedos, nas pregas interdigitais, nos punhos, nos cotovelos, nos mamilos, nas pregas axilares, na genitália, nas nádegas e no hipogástrio • Nas crianças, as lesões localizam-se: no couro cabeludo, nas palmas e nas plantas. Além de papulocrostas, lesões ponfosas urticariformes de natureza alérgica podem ocorrer em áreas em que não há túneis (regiões escapular e abdominal) Observa-se lesões de escoriação com impetiginização secundária. Como complicação, pode haver evolução para glomerulonefrite. • No saco escrotal e pênis, por vezes ocorrem nódulos eritematosos típicos, muito pruriginosos, podendo persistir depois do tratamento, cuja patologia assemelha-se à de um linfoma, sendo, portanto, um pseudolinfoma. O prurido noturno completa o quadro. Em geral, há menos de 50 ácaros causando a infestação. Na sarna crostosa, esse número chega a muitos milhares Sarna crostosa Apresenta-se com formação de crostas estratificadas, que podem chegar a centímetros de espessura, localizadas, preferentemente, nas eminências ósseas, podendo, inclusive, comprometer unhas, face, cabeça e regiões palmoplantares Ocorre em indivíduos de hábitos higiênicos precários, neuropatas, deficientes mentais e imunodeprimidos • Nos imunossuprimidos a quantidade de parasitas é muito grande, o que explica surtos nosocomiais obrigatórios • Pode ser uma manifestação da infecção pelo vírus HTLV-1 e, portanto, deve-se considerar a solicitação de sorologia diante de um quadro suspeito O diagnóstico diferencial da sarna crostosa inclui psoríase (inclusive apresentação rupioide), doença de Darier, farmacodermia, dermatite seborreica e eczemas. Diagnóstico O prurido noturno e os túneis simetricamente dispostos nos locais de eleição levam ao diagnóstico, que pode ser confirmado pelo achado do Sarcoptes na eminência acarina (escarificar com um alfinete e lente de aumento pequena) • A curetagem do túnel umedecido com uma solução de potassa possibilita o achado de ovos, larvas e ninfas, em preparado entre lâmina e lamínula com pequeno aumento, ao microscópio. • O emprego do dermatoscópio viabiliza a confirmação do diagnóstico, pelo achado de pequenas estruturas triangulares (asa delta) e enegrecidas acompanhadas de um pequeno segmento linear encontrado na base do triângulo, que correspondem respectivamente à porção pigmentada anterior do ácaro e ao túnel escabiótico preenchido com ovos e fezes do parasita. Além disso, pode-se realizar o método de fita gomada (caso haja o acometimento de nádegas) e fazer raspado de lesão/biopsia (preferencialmente à noite, pois ocorre o aumento da temperatura corporal e a fêmea do S. scabiei fica mais ativa, logo, aumenta a sensibilidade). Tratamento É preciso fazer um levantamento de todos os habitantes da casa e avaliar os que estão de fato acometidos. Nos casos de dúvida, é melhor tratar todos, pois, do contrário, novo ciclo epidemiológico familiar pode ocorrer Os corticosteroides de uso local aplicados 2 a 3 vezes/dia devem ser empregados nos casos de prurido excessivo. • Os nódulos do pênis e da bolsa escrotal são persistentes e necessitam de corticosteroide local de alta potência (3 a 4 vezes/dia, massageando) até o desaparecimento. • Em caso sem melhora dos nódulos, pode-se aplicar corticosteroides intralesional (0,1 mL de triancinolona 10 mg/mL). • Infecção secundária, quando presente, deve ser tratada conforme a extensão do processo (antibiótico local ou sistêmico). Não há necessidade de ferver roupas pessoais, de cama ou toalhas, bastando apenas lavá-las até após o 2o dia de tratamento. Em condições habituais, o ácaro resiste fora do hospedeiro por, no máximo, alguns dias. Nos casos em que até após 1 semana de tratamento persistam as lesões, recomenda-se repetir o tratamento, de preferência com outro escabicida: Permetrina • Piretroide sintético, utilizada a 5% em loção e considerada muito efetiva e de baixa toxicidade. • É muito pouco absorvida e rapidamente metabolizada. • É recomendada aplicação única à noite, e uma segunda após 5 a 7 dias. • Não deve ser usada em crianças menores de 2 meses, gestantes e durante o aleitamento Mossulfiram (monossulfeto de tetraetiltiuram) • Diluir uma parte do medicamento em 2 a 3 de água, para adultos, e 3 a 4 de água, para crianças. • A solução deve ser preparada no momento do uso. • Por ser estruturalmente correlato ao dissulfiram, pode causar efeito antabuse quando da ingesta de álcool por até 10 dias após a aplicação da substância. • Tal efeito se traduz por vasodilatação periférica, tontura, mal- estar, sensação de morte Benzoato de benzila • Loção ou creme usado na escabiose desde 1937. • Seus principais efeitos adversos são irritação primária, xerose e prurido Enxofre • Na forma de enxofre precipitado (5 a 10%) em vaselina líquida ou pasta d’água, por 3 noites consecutivas. • Embora cosmeticamente pouco aceitável e ocasionalmente irrite a pele, é efetivo e seguro. • Adequado para crianças com menos de 2 meses, gestantes e durante a lactação O tratamento sistêmico é feito com ivermectina, na apresentação de comprimidos de 6 mg e a dose preconizada é de 200 μg/kg, ou seja, 1 comprimido para cada 30 kg, devendo ser empregado sempre para mais, já que a dose tóxica é 60 vezes a dose recomendada • Deve ser evitado em crianças com menos de 15 kg, em pacientes com alteração da barreira hematoencefálica (meningites, AVC, TCE) e no período de amamentação • O seu mecanismo de ação é sobre os canais de cloro controlados pelo glutamato (presentes nos neurônios e células musculares dos ácaros e nematódeos), e bem menos importante pelo GABA (presente no homem apenas no SNC, daí as contraindicações mencionadas previamente), levando a uma paralisia flácida dos agentes etiológicos • O tratamento se faz com dose única ou, preferentemente, repetida após 10 dias, em jejum ou longe das refeições. • Recomenda-se o seu uso em formas especiais de escabiose (crostosa, pacientes com HIV/AIDS, imunodeprimidos) e deve ser evitada utilização indiscriminada nas formas clássicas da doença, pelo risco de resistência. Tutoria 6 – carcinoma basocelular Trata-se de um tumor constituído de células morfologicamente semelhantes às células basais da epiderme, de crescimento muito lento, com capacidade invasiva localizada, embora destrutiva,sem, no entanto, provocar metástases (exceção a raríssimos casos relatados na literatura); • Neoplasia maligna de melhor prognóstico Epidemiologia É a neoplasia maligna mais comum (cerca de 50% com relação à totalidade das neoplasias malignas); no que concerne aos cânceres de pele, sua frequência é a maior (cerca de 70%). Incide preferencialmente na idade adulta (mais de 90% acima dos 30 anos de idade), sendo discretamente mais usual no sexo feminino (58%:42%). É raro no negro, devido à proteção do pigmento quanto à radiação solar. Sua frequência entre brancos é tanto maior quanto mais claro for o indivíduo (olhos claros, cabelos louros, pele clara que não se pigmenta quando exposta aos raios solares), sobretudo quando submetidos a maior exposição de raios solares (marinheiros, lavradores) Etiopatogenia Fatores etiológicos: radiações de todos os tipos (calóricas e ionizantes), substâncias químicas, como os derivados do alcatrão e o arsênico e cicatrizes antigas (raro quando comparado ao carcinoma espinocelular). • Como fatores relevantes, temos ainda a cor da pele e profissões de maior exposição às radiações (médicos, técnicos, marinheiros e lavradores). Nas formas esporádicas de CBC ocorre mutações no gene patched (PTCH), localizado no cromossomo 9q22.3 O gene PTCH codifica uma proteína homônima que, é um receptor proteico transmembrana que participa na via de sinalização Sonic Hedgehog (Shh), agindo como supressor tumoral • O gene Hedgehog codifica uma série de proteínas mediadoras de processos cruciais para o desenvolvimento embrionário de vertebrados e invertebrados • Nos seres humanos, a mutação desse gene, ainda no período fetal, resulta em graves malformações da linha média, como holoprosencefalia, ciclopia, agenesia nasal e fenda palatina. • Nos adultos, o gene participa do processo de homeostase tecidual, renovação celular e manutenção das células-tronco. A ocorrência de mutações no gene, em especial o Shh, ou desequilíbrio da via sinalizadora das proteínas Hedgehog (Hh) desempenha papel essencial no processo de carcinogênese em vários tipos celulares: é o que ocorre no CBC, meduloblastoma, dentre outros • A cascata de sinalização celular tem início com a ligação da proteína Hh à proteína transmembrana Patched 1 (PTCH1). • Na ausência de um ligante Hh, a PTCH inibe a atividade da proteína transmembrana Smoothened (SMO). • A ligação da Hh à PTCH resulta na inativação da PTCH e na consequente ativação da proteína SMO, a qual irá transduzir o sinal da Hh ao citoplasma da célula. • Esse sinal será transmitido por uma série de proteínas, dentre as quais a proteína SUFU (suppression fused), que normalmente age como inibidora desta via. • Após a ligação da Hh à PTCH, essa atividade inibitória da SUFU cessa, causando desequilíbrio entre as formas ativadoras e supressoras da família GLI (glioma-associated oncogene) de fatores de transcrição (sendo GLI-1 e GLI-2 ativadoras da via e GLI- 3, supressora), e resultando na expressão dos genes alvo. • O complexo Hh/PTCH é então internalizado na célula, sendo posteriormente degradado A maior parte dos CBC apresenta 2 tipos distintos de mutações que alteram a via Hedgehog: mutações inativadoras no alelo PTCH1 (90 a 85%), e mutações ativadoras no gene que codifica a proteína SMO (10%). • Desse modo, sendo esses tumores independentes da ligação da proteína Hh, para que uma substância seja efetiva nesses casos, é necessário que ela atue na cascata de sinalização no nível da proteína SMO ou abaixo dela Histopatologia Trata-se de proliferação celular com as características basocelular, que se dispõem em paliçada na periferia das massas tumorais. • Núcleos são grandes, uniformes, pouco anaplásicos e com raras mitoses • A neoplasia é estroma-dependente, ou seja, necessita de tecido conjuntivo para seu crescimento. • As apresentações histopatológicas esclerodermiforme, micronodular e metatípica conferem agressividades ao CBC A cultura de células tumorais, na ausência do tecido conjuntivo, mostra a conversão dessas células em células basais normais, inclusive com capacidade de ceratinização A velocidade de crescimento do tumor é lenta; no entanto, a multiplicação das células neoplásicas é rápida, bem como é elevada a velocidade de morte dessas células Apresentação clínica Lesão papulosa translúcida (perolada) e brilhante de coloração amarelo- palha, que é frequente em quase todas as suas manifestações clínicas • Na maioria das vezes a lesão papulosa perolada de dimensões pequenas é a única manifestação do CBC • Em outros casos a pérola ocorre na borda da lesão, que cresce centrifugamente; em outras, ainda, a pérola cresce, tornando-se uma lesão globosa, cuja superfície há discretas telangiectasias • Essa lesão globosa acaba, mais cedo ou mais tarde, por ulcerar-se, tornar-se vegetante ou ulcerovegetante • Em torno das lesões, não há inflamação, ou seja, as lesões estão encastoadas em pele sã; não há comprometimento ganglionar ou sistêmica A localização preferencial é na região cefálica (cerca de 90%), seguida do tronco e, finalmente, dos membros • Quando a localização é nas orelhas, tende a ser mais agressivo, pois é do tipo esclerodermiforme, infiltrativo, basoescamoso ou micronodular. • O acometimento de mucosas ocorre exclusivamente por contiguidade. Tipos de manifestações clínicas Papulonodular • A pápula é a lesão inicial (alguns milímetros, com aspecto perolado) • Seu crescimento, após anos, leva à forma globosa ou nodular, que pode medir vários centímetros e que, se não for tratada, certamente ulcerará • É a apresentação clínica mais comum Ulcerada • Pode iniciar-se já como pequena úlcera ou em consequência do crescimento da forma globosa • A inflamação é mínima, e a secreção serosa é praticamente inexistente • A borda é sempre perolada Terebrante • É uma forma ulcerada com invasão rápida, provocando grande destruição do maciço central da face, reunindo em um só orifício boca e fossas nasais (síndrome da gangosa). • Outras vezes, a forma terebrante destrói o globo ocular, podendo invadir até mesmo a calota craniana Plano cicatricial • É relativamente superficial e cresce centrifugamente, de modo que a parte central apresenta um aspecto cicatricial e a periferia é sempre perolada. • Na lesão, podem ocorrer microulcerações com cicatrização posterior e, assim, ir crescendo. • É relativamente comum na região orbitária. • Lembra a recidiva em um paciente submetido a um retalho Superficial, eritematosa ou pagetoide • É representada por área geralmente oval, eritematoescamosa ou superficial, lembrando o lúpus eritematoso; a borda é nítida, no entanto, delimitada por um cordão muito fino, nem sempre perceptível. • É mais frequente no tronco; tem certa correlação com a ingestão de arsênico; lembra a doença de Bowen (DB). • É a apresentação do CBC própria dos pacientes submetidos à radioterapia Esclerodermiforme, fibrosante ou morfeia-símile • Assemelha-se a uma placa de esclerodermia, e a borda não é nítida nem perolada; a superfície é lisa e brilhante, de cor amarelada • À palpação, sente-se certo grau de dureza devido à fibrose; é uma forma rara, de limites pouco definidos e infiltrativa. • Na patologia, encontram-se poucas camadas de células tumorais por entre as fibras colágenas, tornando-o mais infiltrativo. • É altamente recidivante Pigmentada • Lesão papulosa, globosa ou ulcerada, com grande quantidade de melanina, o que provoca certa confusão com o melanoma. • É mais comum em negros Fibroepitelial ou fibroepitelioma de Pinkus • Caracteriza-se por lesões solitárias ou múltiplas, moles, muitas vezes pedunculadas, localizadas no dorso, lembrando fibromas. • A histologia mostra massas tumorais estreitas interconectadas comestroma proeminente, que lembram a ceratose seborreica reticulada. Síndrome do nevo basocelular (síndrome de Gorlin-Goltz) • Caracteriza-se pelo aparecimento, já na infância, de tumores que, com a idade, aumentam em número e tamanho. • Os tumores podem lembrar nevos ou fibromas. • Outras manifestações clínicas são: depressões puntiformes na região palmoplantar, cistos odontogênicos na mandíbula, anormalidades nas costelas, espinha bífida, calcificação da foice do cérebro e eventual retardo mental. • É de herança autossômica dominante; a mutação é no receptor PTCH Diagnóstico É realizado com base na idade adulta do paciente e na morfologia da lesão, que é de crescimento lento, em geral na face e com aspecto perolado. Devemos suspeitar quando qualquer lesão passa a sangrar espontaneamente ou por mínimos traumas, crescimento súbito ou sintomatologia local. • O exame histopatológico é decisivo. • A dermatoscopia possibilita identificar critérios específicos para este diagnóstico Diagnóstico diferencial • CEC, doença de Bowen, lúpus eritematoso, esclerodermia em placa, melanoma, ceratoses actínica, seborreica e liquenoide, nevo intradérmico, dermatoses ulceradas, pápula fibrosa do nariz, hiperplasia sebácea, dermatoses ulceradas e vegetantes de várias etiologias Prognóstico e evolução A evolução é extremamente lenta (até vários anos); o prognóstico só passa a ser ruim dependendo da localização e da manifestação clínica (destruição da órbita ou do maciço central da face nas formas terebrantes) Tumores localizados nos planos de fusão da pele (sulco nasogeniano, nasolabial e prega pré-auricular) têm maior chance de recidivar, assim como tumores maiores que 2 cm, CBC esclerodermiformes, com invasão perineural ou vascular e em pacientes imunodeprimidos A ausência de metástase no CBC é a regra (0,0028 a 0,55%); quando ocorre, se faz para os linfonodos, pulmão, ossos e fígado • Neste caso, o prognóstico muda radicalmente com sobrevida média de 8 a 14 meses; 10% apresentam sobrevida de 5 anos Tratamento Tratamento de lesão papulosa e globosa de pequenas dimensões pode ser feito por eletrodessecação seguida de curetagem • Para evitar uma cicatriz menos estética, no caso de paciente jovem do sexo feminino, a exérese cirúrgica simples é a melhor indicação Para lesões menores de 1 cm, podem ser feitas curetagem simples, eletrodessecação e curetagem, ou o inverso e crioterapia. • Nos CBC superficiais pode ser utilizado imiquimode a 5%, 5- fluorouracila ou terapia fotodinâmica A criocirugia tem boa indicação para tumores menores que 1 cm na zona H da face ou até 2 cm, com limites bem definidos, não recidivantes e múltiplos A exérese cirúrgica está indicada e é a melhor indicação para a maioria dos CBC. • Na forma nodular com margens bem definidas e menor que 2 cm, margens de 4 a 5 mm são adequadas. • Para CBC maiores de 2 cm, esclerodermiformes, com padrão histológico agressivo, infiltração perineural ou recidivados, margens de 5 a 15 mm devem ser respeitadas e, preferentemente, com congelação peroperatória. A cirurgia micrográfica de Mohs está indicada principalmente nos casos recidivantes, próximos aos olhos e no CBC esclerodermiforme Tutoria 7 – esclerodermia localizada (morfeia) Características principais • Placas escleróticas assimétricas, normalmente de 2 a 15 cm de diâmetro • As lesões ativas podem ter uma margem lilás com hipopigmentação ou hiperpigmentação central, enquanto as lesões inativas geralmente se tornam hiperpigmentadas • A esclerose pode se aprofundar na gordura ou permanecer sob estruturas adjacentes (fáscia, músculo e ossos), causando incapacidades • Não há associação com doença sistêmica • Geralmente progride por vários anos, então regride; o subtipo linear em geral é persistente. Introdução Doença inflamatória clinicamente distinta, da derme e da gordura subcutânea, que culmina na formação de uma esclerose semelhante a uma cicatriz O pequeno vaso muda o infiltrado inflamatório, e as mudanças estruturais mais importantes são idênticas na morfeia e na esclerose sistêmica, apesar de serem doenças distintas • A morfeia tem uma distribuição assimétrica irregular ou linear, enquanto a esclerose sistêmica normalmente começa como tensionamento simétrico das mãos e dos dedos, que se estende progressivamente em direção às extremidades proximais superiores. Sob o nome esclerodermia é estudado um grupo de doenças de etiologia desconhecida, de evolução longa, tendo como característica clínica fundamental o endurecimento da pele devido à fibrose. • Divide-se em esclerodermia localizada (morfeia) e esclerose sistêmica (esclerodermia sistêmica), cada uma admitindo subdivisões em sua classificação Os métodos histopatológicos, histoquímicos e de microscopia eletrônica não conseguiram distinguir as lesões de ambas as formas. • A ausência do fenômeno de Raynaud, de manifestações sistêmicas, e o mesmo padrão de acometimento cutâneo separam as formas localizadas das formas sistêmicas. • A esclerodermia cutânea e a esclerodermia sistêmica constituem formas polares de uma mesma doença, entretanto, a manifestação cutânea pode ser a lesão primária de uma doença sistêmica. Epidemiologia • Predomínio do sexo feminino nas várias formas clínicas, exceto na forma cutânea difusa, em que não há predileção por sexo; • Em geral, é doença do adulto jovem • A prevalência da morfeia aumenta com a idade (com média de idade ao diagnóstico de 30 anos) e é mais prevalente em mulheres • Muito raramente é letal • Podem apresentar um índice de incapacidade 11% Patogênese Autoanticorpos são tão prevalentes na morfeia quanto na população geral, com duas exceções: 1. Uma prevalência aumentada de anti-DNA de hélice simples (ss) 2. Altos títulos de anticorpos antinucleares (ANA) Entende-se que o processo de aumento de produção de colágeno e fibrose tecidual ocorra graças a três componentes: dano vascular, alteração da imunorregulação (linfócitos T) e distúrbios no metabolismo de colágeno (fibroblastos). Os estímulos vão promover uma injuria vascular que desencadeia uma cascata imunológica, que promove aumento na produção de colágeno Também ocorre diminuição da ação das colagenases, diminuindo a degradação desse colágeno que irá se depositar na pele e promover a esclerose • Agentes que participam diretamente: linfócitos Th1 e Th2, fator de necrose tumoral, IFN-gama, IL-4, linfócitos, eosinófilos e fibroblastos Alterações vasculares • Redução no número dos capilares sanguíneos – lesão microvascular muito precoce, considerada primaria • Presença de moléculas de adesão solúvel e fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) – ativação endotelial • Nas artérias capilares ocorre expressão de moléculas de adesão e edema endotelial, seguidos de espessamento da membrana basal e hiperplasia da íntima • A fibrose cutânea se inicia nos capilares na derme reticular, próxima às células adiposas e ao tecido subcutâneo Controle da Função dos Fibroblastos por Citocinas Derivadas das CélulasT • Fibroblastos isolados de produtos de tecidos escleróticos produzem quantidades aumentadas de colágeno (tipos I, II e III) • A produção anormal de colágeno se deve a instruções das células próximas • As células T têm a capacidade de modificar a síntese de colágeno por fibroblastos e estão presentes em localização perivascular e na extremidade principal de desenvolvimento da esclerose • A produção patologicamente aumentada de colágeno é induzida por citocinas derivadas das células T (IL-4, IL-13 e TGF-β). Alterações genéticas Polimorfismo tanto em STAT4 como na região promotora do gene de codificação do fator de crescimento do tecido conjuntivo Etiopatogenia Fatores externos podem desencadear a esclerodermia, como agentesinfecciosos, como vírus Epstein-Barr e bactéria Borrelia burgdorferi Traumas, outras doenças autoimunes (LES) e algumas drogas podem desencadear a esclerodermia Manifestações clínicas Morfeia em placas ou circunscrita • Lesões cutâneas (uma ou várias) localizadas e, em geral, sem outras manifestações clínicas • Em alguns casos pode haver artralgia e fenômeno de Raynaud • É uma forma variante caracterizada pelo início insidioso de uma placa edematosa um pouco elevada, eritematosa ou violácea, que sofre uma expansão centrífuga • Assintomática e não percebida pelo paciente • A parte central da lesão vai se tornando esclerótica, cicatricial • Dependendo da profundidade a pele se torna endurecida • A área central pode adquirir uma cor branca brilhante, e perifericamente, um anel (eritema) violáceo ou “lilás” Morfeia en plaque • Esta forma é a mais frequente e a lesão pode chegar a vários centímetros de diâmetro, com uma fase inflamatória que se inicia como placa eritematosa, bem delimitada, com centro de cor amarelo-marfim, de superfície lisa e brilhante, pregueamento difícil e halo violáceo (lilac ring) • Sudorese está diminuída, às vezes nota-se hipoestesia e há alopecia definitiva em áreas pilosas • Lesão final: placas circunscritas, enduradas, infiltradas, com bordas mal definidas, com 2cm a 15cm de diâmetro, ovais ou redondas. As lesões são mais palpáveis que visíveis. Pode estender-se mais frequentemente para o tórax, o abdome, a nádegas e MMII. Acometimento da face, pescoço e membros é raro. Generalizada • Forma grave e rara da morfeia en plaque e acomete aproximadamente 13% dos pacientes com esclerodermia localizada • Coalescência das lesões em mais de dois locais anatômicos distinto • Tem início insidioso e pode se estender para áreas diferentes do corpo e maior probabilidade de evoluir para esclerose sistêmica • Manifesta-se nos casos de esclerose disseminada sem acometimento sistêmico e em adultos • Critérios: 4 ou + placas > 3cm, se confluem envolvendo 2 das 7 principais áreas anatômicas (cabeça-pescoço, MMII, MMSS, tronco anterior ou posterior) Em gotas • Lesões múltiplas e de pequenas dimensões, com localização preferencial no pescoço e tronco. • A fase inflamatória é curta e logo passa à forma de estado, com placas hipocrômicas, atróficas e com depressão central Nodular ou queloidiana • Apresenta-se como pápulas ou placas da cor da pele que lembram queloides • Variante rara Atrofodermia de Pasini e Pierini Variante • Assintomática, caracterizada por lesões maculoatróficas, bem delimitadas, hipercrômicas, em geral localizadas no tronco e na raiz dos membros de indivíduos jovens, principalmente do sexo feminino Morfeia bolhosa • Caracterizada por apresentar bolhas subepidérmicas tensas, de conteúdo citrino, sobre uma placa de esclerodermia e quase sempre associada ao líquen escleroso e atrófico. • Deve-se ao intenso edema observado na interface dermoepidérmica Morfeia lineares ou em faixa • Áreas de endurecimento linear com comprometimento da derme e do tecido subcutâneo e, frequentemente, estendendo-se ao músculo e aos ossos, gerando deformidades. • Afeta crianças e adolescentes • Lesões tendem a ser unilaterais e únicas em alguma extremidade. • A frequência de afecção em ordem decrescente é: membros inferiores, superiores, fronte e parte anterior do tronco. Em golpe de sabre • Lesão na região frontal ou frontoparietal, formando um sulco que pode ser progressivo, afetando toda a hemiface • Inicia-se no couro cabeludo, com alopecia cicatricial, estendendo- se ao nariz, lábio e até língua. • Após acometimento cutâneo, os tecidos subjacentes são afetados, podendo levar à hemiatrofia da face • Paciente costuma referir dor local e infelizmente não tem tratamento e as sequelas ficam eternamente. • Há possibilidade de complicações do SNC (convulsões, cefaleia, hemiparesia ou sintomas focais), dos olhos (uveíte ou vasculites) ou da mandíbula (mau alinhamento e problemas dentários). Síndrome de Parry-Romberg ou hemiatrofia facial progressiva • A lesão acomete primariamente o tecido subcutâneo, o músculo e o osso, resultando em hemiatrofia da face. • Esta variante afeta as partes mais inferiores da face; não se observa esclerose cutânea Morfeias profundas • Esclerose da derme profunda e do tecido subcutâneo e podem envolver estruturas subjacentes (fáscia e osso) • Os pacientes podem desenvolver uma ou poucas placas endurecidas, ocasionando imobilidade da pele • A morfeia profunda caracteriza-se por placas difusas, escleróticas, deprimidas, aderidas aos planos profundos com acometimento de todos os planos da pele. • As lesões podem calcificar-se, causando um osteoma cutis profundo Morfeia subcutânea (paniculite) • O panículo adiposo está primariamente comprometido e os pacientes tipicamente apresentam início rápido das lesões endurecidas e aderidas a planos profundos com bordas bem definidas e distribuição assimétrica • Afeta o tronco superior, nos braços e pernas, podendo ser unilateral ou circular nas coxas e nas nádegas. • Há acometimento subcutâneo e das camadas profundas da derme, c/ aspecto de “Peau d’orange” e, por vezes, ulceração • Pode causar artralgia Fasciite eosinofílica (síndrome de Shulman) • Pacientes relatam excesso de atividade física ou esforço físico inusitado anterior ao início da doença. • Caracteriza-se por dor e edema cutâneo abruptos das mãos, braços, pernas e pés • Pode progredir para esclerodermia ou coexistir com lesões de morfeia • A derme reticular e profunda está fibrosada, com enclausuramento das glândulas sudoríparas. • O principal acometimento está na fáscia, que mostra espessamento e esclerose e infiltrado inflamatório crônico, com número variável de eosinófilos. • Responde bem ao tratamento com corticoide Morfeia pan-esclerótica incapacitante infantil • Descrita na infância, antes dos 14 anos de idade, e segue um curso crônico. • Esta variante compromete pele, tecido celular subcutâneo, fáscia, músculo e osso, tem acometimento de espessura total, generalizada • Causa limitações que incapacitam o movimento das articulações • Podem ocorrer ulcerações crônicas, que podem se desenvolver em carcinoma espinocelular; o fenômeno de Raynaud não é observado, mas pode apresentar acrocianose com grave acometimento das extremidades. • Doença extremamente dolorosa, totalmente desfigurante e incapacitante, pois as fibroses são totais. • Se criança, dificilmente irá sobreviver Diagnóstico Exame físico O endurecimento da pele é muito característico e as características dermatológicas da lesão auxiliam o diagnóstico Alterações laboratoriais • Eosinofilia • ANA ou anticorpos anti-ss DNA e histonas na morfeia linear e generalizada Histopatologia O exame histopatológico de biopsias da pele lesionada não consegue distinguir as alterações da esclerodermia localizada e as da esclerose sistêmica. Ele mostra: • Espessamento e hialinização das fibras de colágeno • Focos de linfócitos T • A ausência de anexos e colagenização no panículo adiposo é característica da doença A biopsia só deve ser solicitada em casos de dúvida Autoanticorpos Diagnóstico diferencial Doenças do tecido conjuntivo, escleredema, escleromixedema, certas formas de porfiria e hanseníase, stiff skin syndrome (SSS) e síndrome Paraná Tratamento Na fase inflamatória, indicam-se cremes, curativos oclusivos ou infiltração com corticosteroides fluorados e, ocasionalmente, cremes de heparina ou heparinoides, calcipotrieno tópico e capsaicina tópica, esta é indicada para controlar o prurido. Na fase esclerótica, com finalidade de lubrificação, estão indicados cremes emolientes Sistemicamente, são usadas drogas de efeitos terapêuticos não comprovados,como vitamina E (100 a 400 mg/dia) e asatiacoside (60 mg/dia). Colchicina pode ser experimentada na dosagem 0,5 a 1 mg/dia, bem como retinoides, interferon-gama e imunossupressores. UVA pode ser útil em doentes com progressão rápida Evolução e prognóstico A evolução clínica é imprevisível. As lesões tendem à remissão espontânea com desaparecimento das alterações indicativas de atividade e, eventualmente, da esclerose, em média, em torno de cinco anos. O prognóstico é favorável em relação à vida, no entanto, permanecem lesões atróficas deformantes e, algumas vezes, anquiloses
Compartilhar