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2017 Gestão educacional Profa. Graciele Alice Carvalho Adriano Copyright © UNIASSELV 2017 Elaboração: Profa. Graciele Alice Carvalho Adriano Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 370.2 A243g Adriano, Graciele Alice Carvalho Gestão educacional / Graciele Alice Carvalho Adriano: UNIASSELVI, 2017. 178 p. : il. ISBN 978-85-515-0084-2 1. Gestão Escolar. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III apresentação Caro acadêmico! A gestão educacional compreende uma organização dos sistemas de ensino nas instâncias federais, estaduais e municipais. Os estudos sobre a gestão educacional englobam conceitos sobre as formas de articulação entre as diversas instâncias que deliberam as normativas para os setores educacionais. A gestão escolar difere na gestão educacional enquanto função orientada para administrar as instituições educacionais. Cabe a esse profissional auxiliar na elaboração e execução da proposta pedagógica, administração dos recursos financeiros e humanos, contribuir para o processo de ensino e aprendizagem, e possibilitar situações de integração com a comunidade escolar. Na Unidade 1, conheceremos sobre as características da gestão educacional no contexto nacional, com um percurso histórico para compreendermos a função social da escola, incluindo a atual concepção. Estudaremos sobre o contexto histórico da gestão educacional ao longo do desenvolvimento da sociedade, suas influências na construção do pensamento educacional. Outro ponto que iremos estudar será sobre a função do gestor escolar, as características de liderança, competência e habilidades de um gestor democrático. Apresentaremos um breve texto sobre o conceito de coaching e algumas ideias de atividades que podem ser desenvolvidas durantes as reuniões com a equipe escolar. Na Unidade 2, apresentaremos a atuação do gestor escolar no desenvolvimento da ação pedagógica e administrativa referente à inserção da educação inclusiva e tecnologias da informação, e nas relações que estabelece com a comunidade. Abordaremos, também, um breve percurso histórico e conceitual sobre as funções de orientador educacional, supervisor pedagógico e coordenador pedagógico. Na Unidade 3, entenderemos sobre a conjuntura político- administrativa da escola, organizada sob a responsabilidade do gestor escolar. Para o exercício da função o gestor necessita conhecer sobre o financiamento da educação no Brasil, o PNE – Plano Nacional de Educação – e as avaliações que são aplicadas no âmbito escolar. Necessita também de conhecimentos sobre a organização e contribuições dos conselhos escolares e na importância da elaboração do PPP – Projeto-Político e Pedagógico da escola. Bons estudos! IV UNI Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! V VI VII sumário UNIDADE 1 - GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL ................................. 1 TÓPICO 1 - PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR ........................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA ....................................................................................................... 3 3 NOVAS DEMANDAS SOCIAIS NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA ...................................... 8 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 15 TÓPICO 2 - CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL .................................... 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17 2 ADMINISTRAÇÃO CLÁSSICA E IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO E PRÁTICA EDUCACIONAL ............................................................................... 17 3 GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO ............................................................................... 25 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 31 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 32 TÓPICO 3 - PERFIL ATUAL DO GESTOR ESCOLAR .................................................................... 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35 2 A FUNÇÃO DE GESTOR ESCOLAR ....................................................................................... 35 3 LIDERANÇA NA GESTÃO EDUCACIONAL ..................................................................... 39 4 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DO GESTOR DEMOCRÁTICO .................... 41 5 COACHING EDUCACIONAL ................................................................................................... 45 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 49 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 51 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52 UNIDADE 2 - PROTAGONISTAS QUE ATUAM NA GESTÃO EDUCACIONAL .................. 55 TÓPICO 1 - GESTOR ESCOLAR ......................................................................................................... 57 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 57 2 GESTOR ESCOLAR E O DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO PEDAGÓGICA ....................... 57 3 AS PRÁTICAS DA GESTÃO ESCOLAR E AS AÇÕES ADMINISTRATIVAS ....................... 62 4 A PRESENÇA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ATUAÇÃO DO GESTOR ESCOLAR............................................................................................................................. 67 5 A ATUAÇÃO DO GESTOR E O SURGIMENTO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO .............................................................................................................................. 70 6 A RELAÇÃO DO GESTOR COM A COMUNIDADE ESCOLAR .............................................. 74 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 77 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 79 TÓPICO 2 - ORIENTADOR EDUCACIONAL .................................................................................. 81 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 81 2 INÍCIO DA FUNÇÃO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ..................................................... 81 VIII 3 ORIENTADOR EDUCACIONAL E SUA ATUAÇÃO NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS ................................................................................................................... 84 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 89 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90 TÓPICO 3 - SUPERVISOR PEDAGÓGICO....................................................................................... 93 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 93 2 PERCURSO HISTÓRICO DA SUPERVISÃO EDUCACIONAL NO BRASIL ........................ 93 3 FASES DA SUPERVISÃO EDUCACIONAL................................................................................... 96 4 ATUAÇÃO DO SUPERVISOR EDUCACIONAL NA CONTEMPORANEIDADE ................ 99 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 102 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 103 TÓPICO 4 - COORDENADOR PEDAGÓGICO ............................................................................... 105 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 105 2 CONTEXTO HISTÓRICO E ATUAÇÃO DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA ................. 105 3 ATUAÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO CONTINUADA ........................................................................................................... 108 4 CONSELHO DE CLASSE: MOMENTO DE REFLEXÃO SOBRE AS AÇÕES EDUCATIVAS .................................................................................................................. 110 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 115 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 121 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 122 UNIDADE 3 - GESTÃO DO ESPAÇO ESCOLAR ............................................................................ 125 TÓPICO 1 - FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NACIONAL ................................................. 127 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 127 2 A LEI ORÇAMENTÁRIA: RECEITA E DESPESAS NACIONAIS ............................................. 127 3 REGIME DE COLABORAÇÃO ENTRE OS ENTES FEDERADOS ........................................... 132 4 PDDE - DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA .................................................................................... 133 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 136 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 137 TÓPICO 2 - CONSELHOS ESCOLARES - UMA ORGANIZAÇÃO DE GESTÃO ................... 139 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 139 2 PARTICIPAÇÃO DOS CONSELHOS ESCOLARES NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES ........................................................................................................... 139 3 ATRIBUIÇÕES DOS CONSELHOS ESCOLARES ........................................................................ 143 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 146 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 147 TÓPICO 3 - PNE – PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, O PROJETO POLÍTICO- PEDAGÓGICO E O REGIMENTO ESCOLAR ................................................................................. 149 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 149 2 PNE – PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ................................................................................ 149 3 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO ............................................................................................ 153 4 REGIMENTO ESCOLAR .................................................................................................................... 159 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 164 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 166 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 167 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 170 1 UNIDADE 1 GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • conhecer o processo histórico das instituições de ensino; • identificar e analisar a função social da escola; • compreender o percurso histórico do conceito de Gestão Educacional; • discutir sobre os princípios da gestão democrática no contexto atual; • reconhecer a importância do gestor para a comunidade escolar; • elencar as ações e competências do gestor no cotidiano escolar. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que possibilitarão o aprofundamento de conteúdos da área, propiciando uma reflexão sobre questões da gestão educacional, como o contexto histórico e função das instituições de ensino, além do percurso histórico que deu origem ao conceito de Gestão Educacional. TÓPICO 1 - PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR TÓPICO 2 - CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL TÓPICO 3 - PERFIL ATUAL DO GESTOR ESCOLAR 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, neste primeiro tópico da disciplina "Gestão Educacional" estudaremos sobre assuntos referentesà escola, educação e sua função social com e na sociedade. Comentaremos brevemente sobre o processo de organização da função social da escola, ao longo dos anos, até se constituir como o conhecemos atualmente. Para compreendermos a função do gestor escolar, necessitamos da apropriação do conhecimento sobre os fatores que contribuíram para a constituição da escola hoje. A concepção da função social da escola advém de um processo cultural, vivenciado em determinados períodos históricos de acordo com o pensamento da sociedade de cada época. A partir do entendimento da construção histórica, cultural e social de uma determinada situação, conseguimos compreender a sua conjuntura atual, assimilando suas potencialidades e fragilidades. Nesse sentido, iniciamos nossos estudos sobre Gestão Educacional com o entendimento dos princípios que nortearam a organização da escola, do início até os dias atuais. No decorrer de sua leitura, lembre-se de assinalar no texto os principais escritos. Grife com caneta marca-texto, cole etiquetas de avisos indicando os pontos importantes. Organize esquemas, sínteses, faça apontamentos no decorrer do texto. Busque formas de organizar seu pensamento e construir um conhecimento significativo! Bons estudos! ATENCAO 2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA A escola, enquanto instituição construída socialmente para realizar a formação humana nas diferentes temporalidades de vida, se tornou, no movimento histórico, dever do Estado e direito do cidadão, sendo indispensável seu reconhecimento para formação social das pessoas, nas relações que estabelecem entre si e com os conhecimentos científicos. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 4 A ação educativa tem por finalidade a humanização do homem por meio da identificação dos elementos culturais acumulados historicamente. À escola cabe selecionar e identificar, dentre esses elementos, os necessários e indispensáveis a serem desenvolvidos nas práticas educativas. A descoberta das formas adequadas a esse trabalho, a organização dos meios, conteúdos, espaço, tempo e procedimentos são de responsabilidade do currículo escolar que deve estar contido no projeto pedagógico elaborado com base na realidade. A escola, como responsável pelos processos de ensino e aprendizagem, necessita propiciar, a todos que a ela tiverem acesso, os instrumentos necessários à aquisição do saber sistematizado. Desta forma, por meio da apropriação desse saber, da ciência, justifica sua existência na sociedade atual. Segundo os autores Libâneo, Oliveira e Toschi (2005, p. 117): devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos. Percebemos, então, que a escola se constitui numa instituição social com objetivo explícito de aprimorar as potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos estudantes. O desenvolvimento ocorre por meio da aprendizagem de conteúdos, conhecimentos, aprimorando as habilidades, atitudes e valores, de maneira contextualizada e participativa. Assim, entendemos algumas das funções sociais gerais da escola, mas precisamos analisar sobre a real função social da escola. Você saberia dizer? Pois bem, para conseguirmos responder a esse questionamento, necessitamos refletir sobre as intenções do Projeto Político-Pedagógico da escola, das perspectivas da gestão educacional e a organização curricular proposta. Elementos que servirão de estrutura para entendimento sobre as concepções ideológicas da escola e sua relação com a comunidade. O ato educativo deve ser um processo dialógico visando a transformação social, combatendo assim a reprodução de um sistema excludente, baseado na simples reprodução de saberes. Neste sentido, Luckesi (1994, p. 30) entende que: A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. As funções políticas e sociais da escola consistem em interesses diferenciados das classes sociais, nas quais as tendências pedagógicas trazem contribuição nas diferentes concepções da função escolar. O pensamento da sociedade no decorrer da história influenciou diretamente a concepção e a função social prevista na escola. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 5 Para Saviani (1993), na tendência tradicional a escola era vista como uma forma de se resolver os problemas sociais ligados à ignorância. Sua principal função consistia em repassar conteúdos e procedimentos simples, de maneira enciclopédica. Preocupava-se com a quantidade do conhecimento adquirido no processo de ensino e aprendizagem por estudantes, a despeito da qualidade. Na Escola Nova, os desajustes estavam relacionados à falta de adaptação das pessoas às formas biopsicossociais. A escola deveria ajustar as pessoas ao convívio social, despertando o sentimento de aceitação da diversidade. A proposta da Escola Nova negava a Tradicional, substituindo a ênfase nos conteúdos pela valorização dos processos de aprendizagem. Nessa época surge o processo de psicologização da educação (SAVIANI, 1993). DICAS Acadêmico, faça a leitura do documento que regulamentou o Movimento da Escola Nova no seguinte endereço: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/ doc1_22e.pdf>. Você conhecerá a concepção de educação defendida no movimento, a finalidade e função social da escola para a época. Acesse e confira, amplie seus conhecimentos sobre o assunto! FONTE: Disponível em: <http://maryhpc.blogspot.com. br/2011/12/o-movimento-dos-pioneiros-da-educacao. html>. Acesso em: 20 mar. 2017. Com a ascensão do capitalismo e o aumento dos meios de produção, começou a surgir na sociedade um aumento na demanda de mão de obra industrial. Consequentemente, a escola começou a ter outra função social, a de formar e especializar os futuros trabalhadores. A tendência tecnicista surgiu no período militar no Brasil, servindo ao sistema produtivo gerador de lucro para os capitalistas, incorporando os princípios do taylorismo e fordismo (KUENZER, 2000). Podemos perceber que cada tendência influenciou a concepção educacional a serviço de uma intenção da sociedade na época. A Escola Tradicional buscava uma estrutura econômica agrária, e as escolas Nova e Tecnicista voltavam seus interesses para a estrutura econômica industrial capitalista. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 6 As teorias Crítico-Reprodutivistas apresentam concepções diferentes de se entender a função social da escola. Os principais nomes consistem em Bourdieu e Passeron (1982), com análises sobre a relação entre os sistemas de ensino e o social. Segundo os autores, a sociedade marca de maneira irreversível as formas de agir na escola, orientando socialmente e profissionalmente as pessoas. Para Bourdieu e Passeron (1982), a educação consiste no reflexo da desigualdade social imposta por meio da ideologia da classe dominante, perpetuando seus interesses por meio dos processos educativos institucionalizados nas escolas. A ação pedagógica como "uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de um arbitrário cultural” (BOURDIEU; PASSERON, 1982, p. 20). A expressão “violência simbólica” aparece como uma observação minuciosa de que qualquer sociedade se estrutura como um sistema de relações de força material entre grupos ou classes. Onde a classe dominante opera silenciosamente com seus valores sobre a classe dominada,operando formas de agir, pensar e sentir segundo seus interesses. A violência simbólica, para estes sociólogos, manifesta-se na escola por meio da ação pedagógica institucionalizada, onde o processo educativo aparece como resultado da “desigualdade de dotes”. Os dotes são utilizados para explicar que o sucesso e o fracasso escolar não dependem apenas da origem social, mas fundamentalmente da expressão cultural cultivada pelo indivíduo. As crianças das classes populares estariam em desvantagem em relação às de classe dominante, em decorrência do acesso e aproximação da cultura escolar, mais próxima da cultura dominante. As teorias crítico-reprodutivistas apresentam o funcionamento da escola baseado na reprodução, mas não apresentam nenhuma alternativa pedagógica de melhoria para a situação. A proposta pedagógica de Freire (1997), denominada escola problematizadora, encontra fundamentação na concretude da existência humana, e entende que “cada homem é um ser no mundo, com o mundo, e com os outros” (FREIRE, 1997, p. 26). Na relação que estabelece com o outro, o educador seria um ser na práxis, capaz de olhar de fora, mesmo estando dentro do processo educativo. Na distância que estabelece de si possibilita uma análise do fazer de si mesmo, uma desconstrução-reconstrução constante do modo de pensar, gerando alterações no meio em que vive. Freire (1997) afirma que a educação não é neutra, nem desinteressada, mas um ato político que não pode ser confundido como uma ação manipuladora. Nesse sentido, o educador que assume uma prática libertadora necessita assumir uma opção política e coerente com essa prática. A alfabetização não consiste no ponto de partida, nem de chegada, mas um aspecto importante no processo de construção do conhecimento, pensando na prática e não somente no "mundo dos pensamentos". TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 7 Na proposta de Freire (1997), a educação surge como um ato político e parte do processo de emancipação do ser humano, ou seja, sua libertação. O ato político se desvela nos momentos de discussões em que os envolvidos descobrem, por meio da palavra, a si próprios e o mundo em que vivem. Os oprimidos, cidadãos excluídos da cultura escrita, desfavorecidos nas condições mínimas de sobrevivência, encontram na palavra a possibilidade de pensar sobre o mundo e julgá-lo. A tendência da Pedagogia Histórico-Crítica se contrapõe à pedagogia liberal burguesa, como uma alternativa para os que negavam o papel reprodutor capitalista nas práticas sociais e escolares. Nessa tendência, a educação consiste em uma atividade mediadora no centro da prática social global. As práticas educativas são vistas como formas de transformação social e humanização das pessoas. A educação nessa tendência apresenta uma compreensão de que a escola pressupõe um papel mediador, articulando as relações sociais onde o conhecimento expressa um processo em construção. Para Saviani (1993, p. 80): Se a educação é mediação, isto significa que ela não pode ser justificada por si mesma, mas tem sua razão de ser nos efeitos que se prolongam para além dela e que persistem mesmo após a cessação da ação pedagógica [...] Se é razoável supor que não se ensina democracia através de práticas pedagógicas antidemocráticas, nem por isso se deve inferir que a democratização das relações internas à escola é condição suficiente de democratização da sociedade. Mais do que isso: se a democracia supõe condições de igualdade entre os diferentes agentes sociais, como a prática pedagógica pode ser democrática já no ponto de partida? Com efeito, procurei esclarecer qual a educação supõe a desigualdade no ponto de partida e a igualdade no ponto de chegada. Agir como se as condições de igualdade estivessem instauradas desde o início não significa, então, assumir uma atitude de fato pseudodemocrática? Pense nos questionamentos e reflita sobre como as práticas educativas podem se basear numa mediação que promova a democracia em sala. De que forma localizamos os processos democráticos nas relações escolares? Perguntas que necessitam ser analisadas e repensadas no âmago de cada educador, na intencionalidade e percepção da função social que subjetivamente compreendeu ao longo dos anos. Para Saviani (1993), a escola apresenta uma função social como forma de propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o acesso à cultura, com as atividades escolares organizadas para esse fim. O professor como "aquele que possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação cultural" (SAVIANI, 1993, p. 27). Existem importantes relações entre a educação e a transformação social, educação e estrutura social capitalista, educação e a possibilidade de superação do capitalismo, educação e revolução. O papel mediador da educação no processo de transformação social é imenso, pois é um conceito de educação associado à mediação em meio à prática social, isto é, a educação torna-se uma importante ferramenta de transformação da UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 8 prática social. Não necessariamente uma educação mediadora que transformaria diretamente a sociedade, mas que, por meio da mediação, transformasse inicialmente a consciência das pessoas. Para, depois, as pessoas agirem conforme sua consciência, transformando a sociedade por meio de suas práticas sociais. No plano social, a escola pode desenvolver, nos estudantes, reflexões sobre os cuidados com a saúde, a natureza, as questões da cidade, entre outros, uma consciência do que seja viver bem em sociedade. Articular discussões sobre as situações ao redor da escola, comunidade, estimulando uma consciência crítica, de participação, organizando e intervindo com ações políticas na sociedade. Outro aspecto fundamental que está intimamente ligado à função social e política da escola consiste na dimensão democrática, conferindo a todos o direito de participar das discussões. A escola como instituição que pretende formar sujeitos democráticos deve vivenciar, criar e disponibilizar no cotidiano espaços e tempos para o exercício da participação. Inclusive, a LDB/96 reafirma no artigo 14º, entre seus princípios, a gestão democrática da escola através da participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL,1996). Percebemos, até o momento, que a escola pode apresentar funções sociais diferenciadas de acordo com cada perspectiva e teoria de educação influenciada na concepção social. As ações individuais e coletivas desenvolvidas nas escolas intensificam os entendimentos sociais e políticos, contribuindo na formação do estudante. Na consciência de importância enquanto pessoa na sua família, comunidade, interferindo de forma crítica na realidade, sendo influenciado de maneira subjetiva por formas de pensar e agir socialmente construídas. 3 NOVAS DEMANDAS SOCIAIS NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA A partir da segunda metade do século XX, a sociedade, de forma geral, vivenciou algumas mudanças oriundas da presença das tecnologias da informação e comunicação. Dessa forma, a sociedade do conhecimento, internet, rede de recursos e serviços educativos disponíveis contribuem para desconstruir o pensamento tradicional de escola, reorganizando a relação formativa e informativa dos saberes (VILLA, 2007). Atualmente, com a vigência normativa legal, o acesso à escola se encontra democratizado e fiscalizado por órgãos fiscais, garantindo que todos em fase escolar estejam matriculados e frequentando a escola. A globalização da sociedade apresenta padrões de cultura global e a aproximação com outros povos e manifestações culturais, ou seja, com as formas de diversidade social e humana. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 9 A convivência com as diferenças torna-se uma necessidadedas sociedades contemporâneas. A emergência da "sociedade do conhecimento", com novas formas de conceber a sociedade e os processos escolares, sobretudo a partir dos anos de 1990. O uso das tecnologias da informação e da globalização induziu uma cultura escolar que requer a valorização, nas práticas educativas, da cultura escolar, saber sistematizado da cultura escolar. Práticas pedagógicas que entendem os processos de ensino baseados na mediação, tendo como parâmetros a cultura dos estudantes, contemplando as diversidades da turma. Observe as vinhetas em quadrinhos e reflita sobre a mensagem implícita no diálogo entre os dois estudantes: FIGURA 1 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://nubiaaires.wordpress.com/2015/06/26/sociedade-da-informacao- charge/>. Acesso em: 23 junho 2017. Você percebe esse tipo de atitude na sociedade atual? Pois bem, os estudantes hoje possuem acesso imediato a todo tipo de informação, veiculada nas diversas mídias. Será que sozinhos conseguem transformar a informação em conhecimento, ou necessitam da experiência, dos processos de mediação que ocorrem nas práticas educativas voltadas ao ensino e à aprendizagem? Pense sobre o assunto! Prensky (2001) lembra que os estudantes presentes nas escolas constituem os chamados nativos digitais, ou seja, cresceram imersos na linguagem digital dos computadores, videogames e internet. Acostumados a receber informações com a rapidez com que acessam os recursos tecnológicos, respostas de forma instantânea, trabalham em rede com multitarefas paralelas e repudiam palestras, atividades com passo a passo que tomem tempo demasiado de sua atenção. Diferenciam-se dos imigrantes digitais, aqueles que tiveram contato durante sua existência com os recursos tecnológicos, mas que ainda guardam alguns vestígios condicionados ao uso de material impresso, como na impressão de informações veiculadas na internet para leituras posteriores. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 10 Os imigrantes digitais dividem espaço com os nativos, a diferença é que os primeiros ocupam lugares de autoridade social, seja na escola ou em outros espaços. Nas instituições escolares, os imigrantes digitais acreditam que explicações detalhadas, combinações de exemplos demorados garantem o aprendizado dos estudantes, lhes permitem o tempo preciso da compreensão sistematizada dos conteúdos. Entretanto, os nativos digitais acostumados ao uso das tecnologias, no aprender fazendo, na fluidez das informações, não acompanham o processo inferido, causando dispersões e choques de interesses. A escola voltada para a minuciosa explicação dos conteúdos entra em colapso com o surgimento de uma nova forma de aprender. Através das informações, a construção de conhecimentos por meio do diálogo, das interações colaborativas, das trocas que ocorrem no teclar em rede - nas relações estabelecidas entre as dúvidas e respostas. No acesso e seleção das inúmeras verdades disponibilizadas na internet, pela ação dialógica do professor com a turma, por meio do conhecimento que traz consigo referente à sua especialização docente, auxilia na garimpagem e desmistificação das informações (PRENSKY, 2001). FIGURA 2 - NATIVOS DIGITAIS FONTE: Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/ tecnologia/0053.html>. Acesso em: 20 mar. 2017. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 11 O saber-fluxo, apontado por Lévy (2003), identifica os espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, organizam- se de acordo com os objetivos ou contextos, onde cada um ocupa uma posição singular e evolutiva. O professor assume uma posição de animador da inteligência coletiva ao invés do fornecedor dos conhecimentos. As aulas, antes planejadas e que deveriam ser seguidas à risca, agora assumem fluxos de interação de acordo com as várias competências dos estudantes, independentemente da organização disciplinar estabelecida a priori pelo professor. Lévy (2003, p. 161) sugere que "a emergência do ciberespaço não significa, de forma alguma, que "tudo" pode enfim ser acessado, mas, antes, que o todo está definitivamente fora de alcance". Ciberespaço "[...] como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores" (LÉVY, 2003, p. 92). Anterior à escrita, a sociedade baseava sua fonte de conhecimento na transmissão oral realizada dos mais velhos aos mais novos, pela comunidade viva. Com o surgimento dos livros, quem consegue ler domina o conhecimento. Após a invenção da impressão surgiram os cientistas, os saberes estão acumulados nas bibliotecas, organizados pelos que assumiram a missão de organizar os conhecimentos de forma que todos tivessem acesso. Mais recente, surge o ciberespaço, a transmissão pelas coletividades humanas vivas, que descobrem e constroem seus objetos e se conhecem como coletivos inteligentes (LÉVY, 2003). A virtualização do conhecimento se torna virtual no sentido do movimento inverso da atualização, na mutação da identidade, no desprendimento do aqui e agora, na desterritorialização presente, na externalização do interior e na internalização do exterior. A virtualização consiste numa ação heterogênea, no processo de acolhimento da alteridade de alguém. Na leitura dos hipertextos a sensação de percorrer, cartografar o que fabricamos e atualizamos, avalia-se de acordo com a subjetividade inferida. O texto como "[...] discurso elaborado ou propósito deliberado" (LÉVY, 1996), ou seja, discursos que geram textos socializados virtualmente. A discussão sobre o entendimento dos textos como aspecto social iniciou com os estudos de Soares (2003), que distingue o letramento como um estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas que exerce as práticas sociais ao usar a escrita. Rojo (2012) recorda que em 1996 aconteceu o colóquio do Grupo de Nova Londres (GNL), no evento houve a publicação do manifesto intitulado A Pedagogy of Multiliteracies – Designing Social Futures (Uma pedagogia dos multiletramentos – desenhando futuros sociais). Os multiletramentos na escola, como diversidade cultural de produção e circulação dos textos, no sentido da diversidade de linguagens que os constituem, interativos e colaborativos, transgridem as relações de poder estabelecidas; por estarem disponibilizados on-line, pertencem a todos, são híbridos formados por diversos tipos de linguagens, modos, mídias e culturas. Localizam-se nas "nuvens", UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 12 no ciberespaço e apresentam-se no formato de rede por hipertextos e hipermídias (ROJO, 2012). O "letramento digital" designa o domínio das tecnologias para além do teclar comandos, mas na capacidade de utilização nas práticas sociais. Significa possibilitar, aos estudantes, condições para que possam incorporar o uso dos instrumentos, interfaces e signos das tecnologias digitais, que aprendam a ler e escrever manipulando os recursos midiáticos. Enfim, na busca da sofisticação do letramento, na participação da sociedade digital que orienta condições atuais para a inclusão social (ALMEIDA; VALENTE, 2012). O uso das tecnologias nas escolas, atualmente, permite um aprendizado duplo. Além de possibilitar o acesso a conceitos de temas pesquisados, necessita do conhecimento das ferramentas que fazem parte do recurso utilizado. A variedade de informações disponibilizadas no ciberespaço torna possíveis alguns questionamentos pertinentes à idoneidade dos textos veiculados virtualmente. O professor, como mediador no processo de ensino, apto pela especialidade formativa, auxilia no discernimento dentre a variedade disponível. Por meio do diálogo com os estudantes, estabelece critérios que devem ser seguidos na análise do conteúdo virtual,os aconselha de modo a navegarem observando as fontes de onde provêm as informações. FIGURA 3 – CULTURA GLOBALIZADA FONTE: Disponível em: <https://pescadordebits.com.br/web-livre-e-aberta/ >. Acesso em: 20 mar. 2017. A cultura globalizada passa a ser socializada por meio dos recursos tecnológicos, articulando-se com os lugares onde as pessoas acessam e passam a interiorizar costumes, valores e hábitos diferentes do local. Nesse sentido, as tensões, TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR 13 os conflitos, práticas diárias, referências dos grupos sociais de um determinado local passam a ser considerados por meio da diversidade. Uma diversidade que expressa símbolos, significados, valores, atitudes, crenças e saberes de um determinado grupo, que vive em contexto específico, com identidade singular. A educação necessita ser repensada com base em todos os aspectos que envolvem a sociedade globalizada contemporânea. Atualmente, as práticas educativas suscitam a superação das dicotomias entre o público e o privado, conhecimentos cotidianos e científicos, aspectos cognitivos e afetivos, na desconstrução dos resquícios da escola tradicional e excludente. Pensar numa escola com a função social voltada para a formação de pessoas participativas na sociedade, baseada na valorização das experiências, problematização e conhecimentos dos estudantes, superando a fragmentação dos saberes escolares. Uma escola que articula ações juntamente com a comunidade, buscando a transformação social por meio da participação democrática de todos os envolvidos. 14 Neste tópico, você aprendeu que: • O pensamento da sociedade, no decorrer da história, influenciou diretamente a concepção e a função social prevista na escola. • A partir da segunda metade do século XX, a sociedade, de forma geral, vivenciou algumas mudanças oriundas da presença das tecnologias da informação e comunicação. • A cultura globalizada passa a ser socializada por meio dos recursos tecnológicos, articulando-se com os lugares onde as pessoas acessam e passam a interiorizar costumes, valores e hábitos diferentes do local. • A educação necessita ser repensada com base em todos os aspectos que envolvem a sociedade globalizada contemporânea. RESUMO DO TÓPICO 1 15 1 Reflita sobre o percurso histórico da constituição das instituições de ensino, a escola, e faça uma linha do tempo. Aponte os períodos da história com os principais fatos que marcaram a educação no país. Essa construção ajudará você a perceber o quanto as aspirações da sociedade interferiram na organização e construção da escola. 2 Analise sobre a função social atual das escolas na sociedade e aponte suas características. 3 Analise sobre a função social da escola atualmente e assinale a alternativa correta. a) ( ) Prevê o processo de transformação social por meio do papel mediador do professor e da participação democrática de todos os envolvidos. b) ( ) Procura manter a perspectiva tradicional de educação e assim zelar pela educação de qualidade por meio das reproduções de saberes. c) ( ) Preocupa-se com a aplicação de provas e exames nacionais e nos índices de qualidade inferidos para as escolas. d) ( ) Preparar os estudantes exclusivamente para o mercado de trabalho, com conteúdos profissionalizantes para a demanda industrial. 4 A partir da segunda metade do século XX, a sociedade vivenciou algumas transformações decorrentes da presença de tecnologias da informação e comunicação. Analise sobre esses aspectos e assinale V para Verdadeiro e F para Falso nas alternativas. ( ) A sociedade do conhecimento, internet e serviços educativos contribuíram para organizar uma nova concepção de educação. ( ) A globalização da sociedade apresentou padrões de cultura global e a aproximação dos costumes entre os povos. ( ) A diversidade social e humana emergiu devido ao trabalho realizado na escola tradicional, sob influência dos jesuítas. ( ) O uso das tecnologias nas escolas ocasiona um aprendizado duplo, ou seja, além do aprendizado dos conhecimentos, também dos recursos midiáticos. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V, V, F, V. b) ( ) F, V, F, V. c) ( ) F, V, V, F. d) ( ) V, V, F, F. AUTOATIVIDADE 16 17 TÓPICO 2 CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Até esta etapa dos estudos você compreendeu como a escola se organizou ao longo dos anos, sofrendo influências de aspirações politizadas da sociedade. Neste tópico, abordaremos sobre outro percurso histórico que necessita ser lembrado, consiste na origem e característica do conceito de Gestão Educacional. Conversaremos sobre as tendências que influenciaram a forma de conceber os processos educativos e, consequentemente, a gestão educacional, bem como as características da Gestão Democrática contemporânea. DICAS Acesse a trilha de aprendizagem, participe dos fóruns e enquetes. Observe os objetos de aprendizagem e os artigos sugeridos, são materiais que trazem informações que não se encontram no livro da disciplina. São fontes de informações que foram acrescidas para auxiliar na ampliação de seus conhecimentos. Bons estudos! 2 ADMINISTRAÇÃO CLÁSSICA E IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO E PRÁTICA EDUCACIONAL Para compreender a organização e atual conjuntura da gestão educacional, faz-se necessário recordar um pouco sobre seu trajeto histórico. No início, a gestão educacional era denominada por outro termo, como administração escolar, com escritos que datam da década de 1930 no Brasil. Anterior a esse período, até a Primeira República consistiam em "memórias, relatórios e descrições de caráter subjetivo, normativo, assistemático e legalista" (SANDER, 2007a, p. 21). Tal fato aponta a existência de pessoas que se ocupam com os afazeres quanto à administração educacional, mas não eram reconhecidas profissionalmente enquanto função. A partir da década de 1930 a administração educacional se desenvolve sob influências dos ideais progressistas de educação, contrapondo-se à educação tradicional, que não favorecia as ideias de expansão industrial que o país vivenciava naquele momento (SANDER, 2007b). O cenário educacional, entusiasmado com UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 18 o movimento pedagógico da Escola Nova, principalmente por estudos de John Dewey, apoiava a necessidade de aprimorar a cientificidade no campo educacional, ampliando a oferta educacional. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova mencionava a ausência de espírito filosófico e científico na resolução dos problemas da administração escolar como principal responsável pela desorganização da estrutura escolar (MANIFESTO, 2006). A partir de então, despontam estudos que fomentaram as bases para o surgimento dos primeiros escritos teóricos sobre o tema Administração Escolar. No início do século XX, a expansão da oferta educativa e consequente aumento dos afazeres nos processos administrativos da educação suscitaram uma organização de administração modernizada. Desta forma, a administração educacional passou a se basear na organização das companhias, empresas e associações industriais ou comerciais (LEÃO, 1945). A administração educacional absorve as premissas da administração geral, desenvolvida por Henry Fayol com base nos seguintes argumentos, de acordo com Leão (1945): • Operações técnicas (distribuição, produção, transformação). • Operações financeiras (rendimento do trabalho efetuado). • Operações de segurança (proteção dos bens e das pessoas). • Operações de contabilidade (inventários, balanços, estatísticas...). • Operações administrativas propriamente ditas (previdência, organização, comando, coordenação, colaboração, verificação). O Diretor Escolar era um educador com conhecimento da política educacional e dos saberestécnico-administrativos. Estava subordinado ao Diretor da Educação e agia de forma a reproduzir a sua visão administrativa educacional. Nesse sentido, o Diretor da Educação atua de forma mais específica voltada à administração, enquanto que o Diretor de Escola se ocupa também dos assuntos pedagógicos. A estrutura administrativa passa a ser concebida como uma organização baseada na hierarquia das funções, segundo a teoria de Fayol. Assim, o diretor da escola assume um importante papel de dirigir o trabalho, auxiliando no progresso mental e moral da comunidade inserida. Passa a ser uma espécie de líder, aquele que conduzirá todos os envolvidos no processo escolar (LEÃO, 1945). TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL 19 FIGURA 4 – FUNÇÕES DO GESTOR ESCOLAR FONTE: Adaptado de Leão (1945). No exercício da função de Diretor da escola, como destacamos no organograma, o profissional necessita apresentar certas características além da liderança, como a experiência. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 20 FIGURA 5 - CONHECIMENTOS DO DIRETOR FONTE: A autora Segundo Leão (1945, p. 167), o Diretor de Escola "não deixa de ser educador, mas sua ação amplia-se. É então o coordenador de todas as peças da máquina que dirige, o líder de seus companheiros de trabalho, o galvanizador de uma comunhão de esforços e de ações em prol da obra educacional da comunidade". Assume a função de destaque e proximidade com a comunidade escolar, colaborando na execução das premissas determinadas no entendimento do Diretor de Educação. Nas escolas maiores, com intenso volume de trabalho educativo, o diretor necessitava de auxílio, os chamados "peritos especializados" ou inspetores- orientadores, eram profissionais destinados a observar as atividades desenvolvidas por estudantes e professores. Desta forma, emitiam análises e julgamentos sobre os métodos e processos aplicados, com a finalidade de orientar e conduzir os trabalhos educativos (LEÃO, 1945). Nesta forma de divisão do trabalho, ao professor cabe a função de “técnico cuja função é preparar o ambiente e os meios dentro dos quais e pelos quais a educação se processa naturalmente” (LEÃO, 1945, p. 227). Leão (1945, p. 10) aponta ainda que “a administração não é nem um privilégio exclusivo nem uma sobrecarga pessoal do chefe ou dos dirigentes; é uma função repartida, como as demais funções especiais, entre a cabeça e os membros do corpo social”. Ou seja, a expressão “cabeça” refere-se ao Diretor de Educação, responsável por pensar a política educacional, no sentido de diretrizes, linhas gerais. Os membros seriam aqueles a quem compete colocar em prática a política educacional. Observe, no quadro a seguir, uma síntese sobre a concepção do papel da Direção Escolar e os pressupostos que conduziriam o trabalho da Gestão Escolar, expressos por Souza (2006). Na época não havia uma divisão entre o papel do diretor escolar e os aspectos referentes à gestão escolar, ambos se fundiam numa ação somente: o trabalho administrativo educacional desenvolvido na função do Diretor Escolar. TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL 21 QUADRO 1 - SÍNTESE DAS IDEIAS SOBRE A DIREÇÃO E A GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL Direção Escolar Gestão Escolar A U TO R ES C LÁ SS IC O S • O diretor deve ser um professor. • O diretor deve ser defensor da política educacional. • O diretor deve se colocar a serviço do professor. • O papel pedagógico do diretor está em desenvolver ações administrativas para garantir as condições de funcionamento das ações pedagógicas. • O elemento mais importante não é o adminis- trador, mas o professor. • O papel do diretor não é técnico-pedagógico, mas sim administrativo. • O papel do diretor é man- ter o equilíbrio, conduzindo a escola nos processos de mudança. • O diretor é o responsável pela implementação dos objetivos educacionais. • O diretor é o polo de po- der central da escola. Este poder vem da legislação e das expectativas que a escola tem para com ele, o que resulta em pressões legais e sociais. • Gestão e direção se confundem. • As atividades que são próprias da escola são o fundamento para a Administração Es- colar. • A administração científica possui princí- pios e métodos que cabem na escola. • A Administração Escolar é uma especia- lização da administração. • A Administração Escolar é necessária pela complexificação da educação escolar, em tamanho e em problemas. • É necessário um clima de ação coletiva na escola. • Escola eficiente e eficaz: condição para garantir o acesso de todos. • Objetivo da Administração Escolar: tornar as escolas mais eficientes. • A consecução dos objetivos escolares de forma eficiente e a coordenação do esforço coletivo é o foco da Administração Escolar. • A Administração Escolar ocorre antes, durante e depois das funções pedagógicas escolares: Antes = planejamento; durante = comando e assistência; depois = medição e avaliação. • A Administração Escolar deve garantir a unidade e a economia através da divisão do trabalho, mas sem perder a unidade. • Distinção entre ação administrativa e ação operativa: pensar e fazer. • Administração significa ter opção, logo, significa tomar decisões. • O processo administrativo se resume em: reconhecimento de um problema; planejamento; coordenação; verificação do resultado; exame para evitar a reaparição do problema. FONTE: Souza (2006, p. 193) UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 22 Após os anos de 1970, outra visão sobre a gestão escolar surgiu, diferente da aceita desde os anos de 1930. Emergem estudos críticos sobre as formas de agir e pensar a educação no país, sobretudo avançando nas questões que envolvem a Gestão Educacional. O movimento político-democrático de reabertura no Brasil oferece uma nova fase de elaborações teóricas no campo da administração escolar, a partir do enfoque sociológico. Este novo enfoque surge das lutas na conquista da democracia e cidadania, consolidação de estudos em nível de pós-graduação no país e a influência dos estudos marxistas (SOUZA, 2006). O enfoque tecnocrático de administração escolar, defendido até o momento, passa a ser questionado por diversos estudiosos da época. Os teóricos baseiam-se na dúvida sobre a eficácia, para a educação, na relação estabelecida entre a racionalidade administrativa e os processos educativos, contribuindo para as desigualdades sociais. Arroyo (1979) aponta sobre o entendimento da administração como exercício do poder a fim de reproduzir determinadas relações sociais que são funcionais à manutenção da sociedade civil, sob o prisma do desenvolvimento econômico, ou seja, do capitalismo. Tendo em vista que as desigualdades são inerentes à lógica deste sistema produtivo, a administração escolar, ao reproduzir as relações capitalistas, contribui na manutenção de tais desigualdades. Os princípios da administração geral, pensados sob uma racionalidade capitalista, ao serem adotados nos espaços escolares acabam por compactuar também desta racionalidade, contribuindo para a manutenção das relações de exploração capitalista. A administração capitalista, apesar de sua hegemonia na sociedade, consiste apenas em um tipo de administração, o que não impedia a sociedade na época de conceber outros processos administrativos orientados por uma lógica diferente. Nesse sentido, os estudiosos da época avançaram nas discussões em relação às críticas anteriores, investindo na ideia de se considerar os condicionantes sociais, históricos, políticos e econômicos, para desenvolverem uma administração escolar voltada para a transformação social. As ações desenvolvidas estariam voltadas para a participação social, contrapondo-se ao caráter conservador daquela administraçãopautada na racionalidade capitalista (PARO, 2000). A crítica levantada pelos estudiosos quanto ao enfoque tecnocrático aplicado às escolas da época suscitou o aparecimento do conceito de Gestão Escolar, mais precisamente, a preocupação com o desenvolvimento dos processos pedagógicos que deram sustentação para o conceito de Gestão Escolar. Uma forma de diferenciar os fazeres da escola em relação à visão técnica, que historicamente permeou o conceito de administração escolar. TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL 23 QUADRO 2 - SÍNTESE DAS IDEIAS SOBRE A DIREÇÃO E A GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL Direção Escolar Gestão Escolar A U TO R ES C R ÍT IC O S • Crítica à concepção do diretor como um gerente, própria da administração capitalista. • O diretor deve ser um educador, antes de tudo. • O diretor como coorde- nador do trabalho coletivo. • Crítica aos modelos técnicos de Adminis- tração Escolar implantados até então no país. • Crítica aos pensadores brasileiros e estran- geiros pela linearidade entre a Administração Escolar e a administração em geral. • Crítica ao uso da administração científica na Administração Escolar. • Crítica à ideologização da teoria adminis- trativa. • Crítica à Administração Escolar que tem como principal papel garantir ao Estado o controle sobre a educação. • Críticas à naturalização da divisão social do trabalho. • Crítica às teorias da administração por sua pretensa neutralidade técnica. • Crítica à administração conservadora pela negligência técnica em favor de uma ação política conservadora: aplicação de um tecnicismo vazio. • Administração é o uso racional de recursos com vistas a determinados fins. • Administração como racionalização do trabalho e coordenação do trabalho coletivo. • Administração, em última análise, são métodos. • Educação escolar é um fenômeno muito específico que demanda tratamento específico. • Percebem a dimensão política da administração. • A Administração Escolar deve estar articulada com os objetivos escolares. • Administração transformadora: percepção política e intervenção técnica. • Participação da sociedade na administração transformadora. • Autogestão. FONTE: Souza (2006, p. 193) Desta maneira, conseguimos observar no quadro o pensamento dos teóricos críticos quanto à percepção da ação do Diretor Geral e dos processos que envolvem a Gestão Escolar. Principalmente os aspectos técnicos que assemelham os trabalhos desenvolvidos na educação ao funcionamento de uma empresa com UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 24 enfoque industrial. Os estudiosos passam a lembrar de aspectos próprios dos processos educativos, pertencentes ao universo da educação. Na década de 1980, a sociedade brasileira convivia com a luta da democratização da escola pública, tanto para o acesso como das práticas desenvolvidas. Com a aprovação da Constituição Federal de 1988, surgem os estudos voltados para a Gestão Democrática do Ensino Público. A partir de então, surgem estudos que diferenciam o conceito de gestão com o de administração. A gestão supera as especificidades da administração, pois se “assenta na mobilização do elemento humano, coletivamente organizado, como condição básica e fundamental da qualidade do ensino e da transformação da própria identidade das escolas” (LÜCK, 2007, p. 27). A administração passa a ser um dos elementos que compõe a gestão, como a gestão administrativa, que corresponde à administração de recursos, do tempo etc. A gestão envolve um sentido e prática mais abrangente, apresenta os elementos culturais, políticos e pedagógicos do processo educativo, sendo sua lógica “orientada pelos princípios democráticos” (LÜCK, 2007, p. 36). O uso do termo Gestão Escolar apresentou significado para os autores que defendiam, na década de 1980, uma gestão democrática. Segundo Adrião e Camargo (2007, p. 68), a adoção do termo gestão sugere “uma tentativa de superação do caráter técnico, pautado na hierarquização e no controle do trabalho por meio da gerência científica, que a palavra administração (como sinônimo de direção) continha”. A substituição da administração pelo termo gestão significava a tentativa de instaurar uma nova lógica na organização do trabalho. QUADRO 3 - SÍNTESE DAS IDEIAS SOBRE A DIREÇÃO E A GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL Direção Escolar Gestão Escolar PÓ S - 1 98 7 • Papel do diretor: articulador da organização e gestão escolar. • Preocupação central com as formas de escolha da função de diretor. • Na identificação do perfil do diretor, a preocupação com as contradições da função: representante do poder público X representante da comunidade escolar; função administrativa X função pedagógica. • O diretor no centro das relações de poder. • Gestão é um processo político. • A democracia na escola. • Gestão democrática. • Conselhos de escola, junto com a eleição de diretores, como as expressões da gestão democrática. • A gestão e as relações de poder na escola. • O projeto político-pedagógico como uma ferramenta da organização e gestão escolar. • Autonomia na gestão escolar. FONTE: Souza (2006, p. 193) Observamos nas informações do quadro, segundo Souza (2006), que todos os envolvidos na escola, por meio do trabalho pedagógico, são responsáveis pelo TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL 25 andamento do processo de ensino e aprendizagem. A administração escolar se desenvolve no atendimento ao conjunto de características que a escola apresenta. Do mesmo modo, podemos refletir sobre a atuação do diretor em relação ao funcionamento da escola, expressando uma preocupação com a educação e com o desenvolvimento cultural dos estudantes. Nessa perspectiva, a educação se torna um instrumento que possibilita às camadas populares uma ampliação do universo cultural, de forma democrática. 3 GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO Com o intuito de refletirmos sobre o contexto histórico e a gestão das instituições públicas, foi apresentado um breve percurso histórico que deu início aos debates sobre a Gestão Escolar. Nesse momento, apresentaremos as características que compõem uma Gestão Democrática da Educação, com estudos que iniciaram a partir dos anos de 1980. Diante da globalização econômica, da transformação dos meios de produção e do avanço acelerado da ciência e da tecnologia, a educação escolar precisa oferecer propostas concretas à sociedade. Começa a preocupar-se com a oferta de um ensino de qualidade que possa elevar a capacidade das crianças, adolescentes e jovens para compreenderem o universo competitivo e os valores sociais, econômicos e culturais intrínsecos na formação pessoal e profissional (GRACINDO, 2007). A Constituição Federal (BRASIL, 1988) destaca a gestão democrática como princípio norteador do processo de ensino, necessária para questões que necessitem da participação dos profissionais da educação, na elaboração do projeto pedagógico da escola, com a participação da comunidade em geral em conselhos escolares, para se efetivar a gestão democrática na escola. Nesse sentido, a Gestão do Sistema Educacional no enfoque democrático significa um ordenamento normativo, vinculado à participação de todos os envolvidos nos processos de ensino. A Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece, no artigo 206, os princípios sobre os quais o ensino deve ser ministrado: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos,na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 26 VII - garantia de padrão de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. Dentre os princípios, destacamos a gestão democrática do ensino público, na forma da lei. Desta forma, em síntese, os sistemas de ensino devem definir as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme as seguintes etapas (GRACINDO, 2007): • participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; • participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (LDB - Art. 14). Como condição para o estabelecimento da gestão democrática é preciso que os sistemas de ensino assegurem, às unidades escolares públicas de educação básica que os integram, progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público, de acordo com a LDB – Art. 15 (BRASIL, 1996). FIGURA 6 - GESTÃO DEMOCRÁTICA BRASILEIRA FONTE: Disponível em: <http://unoparcn.blogspot.com.br/>. Acesso em: 20 mar. 2017. . TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL 27 A construção da convivência democrática ocorre de forma processual, não como algo a ser implantado a partir de decisões de alguns. Dessa forma, a escola continua a seguir os padrões tradicionais, mantendo a cultura dos dominantes sobre os dominados. A realidade não se modifica por leis, decretos, regimentos ou portarias. A mudança ocorre de forma sistemática, integrando as normas e rotinas ao cotidiano escolar. Para tanto, a comunidade como um todo necessita buscar formas por meio de discussões. Segundo Paro (1997), a participação democrática não se dá espontaneamente, sendo antes um processo histórico de construção coletiva. Assim, coloca-se a necessidade da previsão de mecanismos institucionais que não apenas viabilizem, mas também incentivem práticas participativas dentro da escola pública. Tal ação se faz necessária quando a sociedade ainda apresenta influências da tradição de autoritarismo, poder altamente concentrado e de exclusão de divergências nas discussões e decisões. O regimento escolar e outros instrumentos legais consistem em documentos que podem ser elaborados e utilizados pela comunidade escolar, para educar e manter uma convivência democrática. Para estruturar esses documentos, faz-se necessário viabilizar momentos de discussões em grupo, com a participação ativa da comunidade escolar. A escola, ao construir um compromisso com a convivência democrática, necessita do amparo legal do regimento para garantir o exercício da democracia na escola. Principalmente porque o regimento, estando atualizado, revela os limites, as possibilidades, os direitos e os deveres como norma. Isso não significa dizer que aquilo que está regulamentado será suficientemente cumprido, mas é adequado prever tal amparo legal. Para que todos tenham o entendimento do previsto, discutido e organizado na comunidade por todos, e assim cumprido no cotidiano escolar. A educação, de modo geral, e a escola, de modo específico, possuem três funções básicas: formar o indivíduo, formar o cidadão e formar o profissional. A totalidade da tarefa formativa da educação vem sendo traduzida no que sempre ouvimos falar: formação integral (LIBÂNEO, 2002). A formação do cidadão como preparação do indivíduo para o convívio social e para a convivência democrática implica trabalhar questões como: • Respeito à dignidade da pessoa humana. • Desenvolvimento de um sentimento de corresponsabilidade no destino da sociedade. • Participação livre e ativa na vida social e comunitária. • Compreensão do papel do governo e das instituições não governamentais na promoção do bem comum. UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 28 • Compreensão da necessidade de transparência na vida social. • Compreensão dos direitos individuais e dos direitos sociais (LIBÂNEO, 2002). FIGURA 7 - GESTÃO DEMOCRÁTICA FONTE: Disponível em: <http://inclusaoealtashabilidades.blogspot.com.br/2014/05/gestao- democratica-e-participativa.html>. Acesso em: 20 mar. 2017. Portanto, na formação da pessoa para o convívio social ou na educação do cidadão, se faz necessário o desenvolvimento de um relacionamento democrático entre os estudantes, professores, funcionários e pais para que exercitem seus direitos e deveres. A escola deve ser uma experiência criativa de conviver socialmente, formadora do cidadão para além do que se ensina na sala de aula, ou seja, no exercício dos direitos e dos deveres no dia a dia. Para Libâneo (2002), a participação consiste no principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. A participação proporciona melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola, de sua estrutura organizacional e de sua dinâmica nas relações com a comunidade. Nas empresas busca-se resultados por meio da participação, nas escolas busca-se bons resultados. Na concepção democrática, denotam um sentido diferente da prática de democracia. Aparece como uma experimentação de formas não autoritárias de exercício do poder, com a oportunidade de o grupo de profissionais poder intervir nas decisões da organização e definir coletivamente o TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO DA GESTÃO EDUCACIONAL 29 rumo dos trabalhos. Nesse sentido, Lück (2002, p. 66) aponta sobre a participação como: A intervenção dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação articulados entre si: a) a de caráter mais interno, como meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo prática formativa, isto é, elemento pedagógico, curricular, organizacional; b) a de caráter mais externo, em que os profissionais da escola, alunos e pais compartilham, institucionalmente, certos processos de tomada de decisão. Desta forma, a participação da comunidade possibilita como retorno a avaliação consciente dos serviços oferecidos e a intervenção organizada nos processos educativos. Entre as modalidades mais conhecidas de participação escolar estão os conselhos de classe, os conselhos de escola, colegiados ou comissões que surgiram no início da década de 1980. O princípio participativo no sentido de gerar a democracia na escola não se esgota nas ações necessárias para assegurar a qualidade de ensino. A participação consiste no meio de alcançar melhor e democraticamente os objetivos da escola, os quais se localizam na qualidade dos processos de ensino e aprendizagem. Em razão disso, a participação necessita do contraponto da direção, outro conceito importante da gestão democrática, que visa promover a gestão da participação (LÜCK, 2002). Nesse contexto, como aponta Lück (2002, p. 102), a escola, por meio de sua gestão democrática e participativa, oferece aos seus agentes a qualidade educacional, necessitando desenvolver os seguintes princípios da concepção de gestão democrático-participativa: • autonomia da escola e da comunidade educativa; • relação organizacional entre a direção e a participação dos membros da equipe escolar; planejamento de atividades; • formação continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos integrantes da comunidade escolar; • utilização de informações concretas e análise de cada problema em seus múltiplos aspectos, com amplademocratização das informações; • avaliação compartilhada; relações humanas produtivas e criativas, assentadas em uma busca de objetivos comuns. Lück (2002) discorre sobre a participação democrática na gestão escolar, baseada nos conhecimentos dos papéis de cada profissional, que de forma direta ou indiretamente vivenciam as rotinas da escola. Também considerando os projetos e a construção dos documentos intrínsecos ao desenvolvimento do ensino na escola, especialmente no Projeto Político-Pedagógico. Nos últimos anos, as discussões sobre o papel da gestão democrática e participativa no âmbito escolar estão presentes nos debates promovidos pelos governos, diretores e professores. As questões permeiam a perspectiva de se ter UNIDADE 1 | GESTÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO NACIONAL 30 DICAS Para saber mais sobre a Gestão Democrática Participativa, acesse o Portal Brasil no endereço: <http://www.brasil.gov.br/educacao/2015/04/portal-do-professor-disponibiliza- lista-de-livros-sobre-gestao-escolar>. O site indica 16 obras a gestores e educadores interessados em aplicar técnicas e estratégias no ambiente escolar. Confira e amplie seus conhecimentos! uma educação de qualidade pautada na formação cognitiva, intelectual e social de forma integral. 31 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • No início a gestão educacional era denominada como administração escolar, com escritos que datam da década de 1930 no Brasil. • A partir da década de 1930, a administração educacional se desenvolve sob influências dos ideais progressistas de educação, contrapondo-se à educação tradicional, pois esta não favorecia as ideias de expansão industrial que o país vivenciava naquele momento. • Após os anos de 1970, outra visão sobre a gestão educacional surgiu, diferente da aceita desde os anos de 1930. Emergem estudos críticos sobre as formas de agir e pensar a educação no país, sobretudo avançando nas questões que envolvem a Gestão Educacional. • Na década de 1980, a sociedade brasileira convivia com a luta da democratização da escola pública, tanto para o acesso como das práticas desenvolvidas. Com a aprovação da Constituição Federal de 1988, surgem os estudos voltados para a Gestão Democrática do ensino público. • A construção da convivência democrática ocorre de forma processual, não como algo a ser implantado a partir de decisões de alguns. • A escola, ao construir um compromisso com a convivência democrática, necessita do amparo legal do regimento para garantir o exercício da democracia na escola. • Nos últimos anos, as discussões sobre o papel da gestão democrática e participativa no âmbito escolar estão presentes nos debates promovidos pelos governos, diretores e professores. As questões permeiam a perspectiva de se ter uma educação de qualidade pautada na formação cognitiva, intelectual e social de forma integral. 32 1 Reflita sobre as características que acompanharam o desenvolvimento do conceito de Gestão Educacional. Faça um quadro-resumo apontando as principais características presentes nos autores clássicos, críticos e atualmente, sobre a função do Gestor Escolar. 2 A Constituição Federal de 1988 destaca a gestão democrática como uma das ações norteadoras do processo de ensino nas escolas. Analise sobre os princípios estabelecidos no artigo 206 sobre como o ensino deve ser administrado nas escolas e assinale V para Verdadeiro e F para Falso. ( ) Os estudantes deverão reproduzir e aceitar sem questionamentos os conhecimentos ensinados pelos professores. ( ) Igualdade de condições a todos para o acesso e permanência na escola. ( ) Pluralismo de concepções pedagógicas e a garantia da existência somente de escolas públicas. ( ) Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V, V, F, F. b) ( ) F, V, F, V. c) ( ) F, F, V, F. d) ( ) V, F, V, V. 3 A educação formativa pretende desenvolver uma formação integral nas pessoas, preparando-as para o convívio social e democrático. Assinale a alternativa que expressa sobre as funções básicas da educação escolar quanto à formação dos estudantes. AUTOATIVIDADE AUTORES CLÁSSICOS AUTORES CRÍTICOS ATUALMENTE 33 a) ( ) Formar a pessoa - profissional e diversidade. b) ( ) Formar a pessoa - cidadão e profissional. c) ( ) Formar a pessoa - espírito e emocional. d) ( ) Formar a pessoa - aspectos religiosos e legais. 4 (ENADE, PEDAGOGIA, 2011) Um dos objetivos da gestão democrática participativa é a articulação entre as políticas educacionais atuais e as demandas socioculturais. Considerando essa finalidade, avalie quais das ações educacionais abaixo se relacionam a essa concepção. I. Compartilhar valores em prol da própria escola, reconhecendo a impossibilidade de se incluir ideais de justiça, solidariedade e ética humana, que transcendem os limites do processo educativo. II. Utilizar os índices educacionais da escola como subsídios de gestão para aprimorar o processo ensino-aprendizagem. III. Elaborar coletivamente o Projeto Político-Pedagógico que reflita a filosofia da escola e apresente as bases teórico-metodológicas da prática pedagógica. IV. Planejar ações descentralizando poderes, para realizar uma gestão focada nos diferentes aspectos da aprendizagem e nas questões macroestruturais da sociedade. É correto apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e IV. c) ( ) I, II e III. d) ( ) II, III e IV. 34 35 TÓPICO 3 PERFIL ATUAL DO GESTOR ESCOLAR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Acadêmicos, no decorrer desta unidade percebemos alguns pressupostos que estruturam os entendimentos para compreensão da organização e função da escola, e a atual situação em que se encontra na contemporaneidade. São saberes necessários para compreendermos os aspectos que compõem os estudos sobre a gestão educacional. Também estudamos sobre a construção do conceito de gestão educacional ao longo da história da sociedade, na perspectiva educacional, entendendo os princípios que norteiam a atual concepção de gestão democrática e participativa. Dessa forma, o gestor educacional consiste no profissional que atua nos processos educativos, na coordenação sociopolítica e nas relações subjetivas que ocorrem na escola. Neste tópico, vamos conhecer um pouco mais sobre as características da função de gestor educacional, os aspectos que estruturam a liderança na função, e as competências e habilidades do gestor democrático. No exercício da função de gestor, o profissional estabelecerá relações com os profissionais da educação, estudantes e comunidade, que, de acordo com a legislação atual, devem ser conduzidos para uma organização democrática e participativa. Para melhor compreensão do assunto, estudaremos um texto de Moacir Gadotti, intitulado "Gestão democrática com participação popular no planejamento e na organização da educação nacional". O autor aborda sobre conceitos como participação popular e gestão democrática, ainda com referência ao desenvolvimento das perspectivas de educação na atualidade. No decorrer dos estudos deste tópico, também apresentamos uma dica de vídeo sobre o coaching, que consiste basicamente no processo de aprimoramento humano e aceleração de resultados. É utilizado no mundo em vários países, por profissionais e empresas, que buscam alcançar metas e objetivos, considerando o desenvolvimento das capacidades e habilidades emocionais, psicológicas e comportamentais. Inicie seus estudos, lembre-se de anotar ou grifar os pontos interessantes no texto, faça suas autoatividades e compartilhe suas ideias com os colegas em sala. Atue de forma participativa na construção de seus conhecimentos! 2 A FUNÇÃO DE GESTOR ESCOLAR A partir da década de 1980, como percebemos nos estudos do tópico anterior, a perspectiva sobre
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