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Resumo-Direito Penal Especial-Aula 26-Crimes contra Administracao da Justica-Mauro Argachoff

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Delegado de Polícia 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
Disciplina: Direito Penal Especial 
Professor: Mauro Argachoff 
Aula: 26 | Data: 14/05/2018 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA 
1. Denunciação Caluniosa 
2. Comunicação Falsa de Crime ou de Contravenção 
3. Autoacusação Falsa 
4. Falso Testemunho ou Falsa Perícia 
5. Coação no Curso do Processo 
6. Exercício Arbitrário das Próprias Razões 
7. Favorecimento Pessoal 
8. Favorecimento Real 
 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA (Art. 338 a 359-CP) 
 
1. Denunciação Caluniosa (art. 339. CP): 
 Art. 339-CP: Dar causa à instauração de investigação policial, de 
processo judicial, instauração de investigação administrativa, 
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, 
imputando-lhe crime de que o sabe inocente: 
 Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de 
anonimato ou de nome suposto. 
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de 
contravenção. 
 Diferenças entre os crimes de calúnia e denunciação caluniosa: 
 
Calunia Denunciação Caluniosa 
Crime contra honra Crime contra administração da justiça 
Crime Crime ou contravenção penal, e nesta a pena é reduzida 
pela metade. 
 
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 A intenção do agente é só atingir 
a honra da vítima 
 O agente, além de atingir a honra, tem a intenção de 
movimentar a máquina judiciária contra a vítima 
 
 Agente atribui a outrem a prática de crime ou contravenção (§ 2°). 
 Pode ser atribuído falsamente ao denunciado crime que não ocorreu ou crime que ocorreu. 
 Consciência da falsidade: o agente SABE da inocência do acusado. Se tiver dúvida não haverá o crime. 
 Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive por advogado, promotor, juiz e delegado. 
Particular ou funcionário público. 
 Sujeito Passivo: o Estado e o denunciado. 
 Tipo objetivo: dar causa, provocar, causar: 
 Instauração de investigação policial; 
 Processo judicial; 
 Investigação administrativa; 
 Inquérito Civil; ou 
 Ação de Improbidade Administrativa. 
 Pode ser praticado de qualquer maneira: verbal, por escrito, etc. 
 Atenção: utilizando-se de nome falso ou anônimo, a pena é aumentada de sexta parte. 
 “Contra alguém” - na denunciação caluniosa tem que ter uma pessoa acusada, deve-se imputar crime ou 
contravenção penal a alguém. Caso contrário, o agente comete o crime do artigo 340 (Comunicação Falsa 
de Crime ou Contravenção). 
 “Imputando-lhe crime que o sabe inocente” - deve ser uma imputação de fato certo, sendo que este 
deve ser crime ou contravenção penal. Caso seja de contravenção penal, a pena é reduzida pela metade. 
 Consumação: ocorre com o início da investigação ou da ação. 
 Tentativa: é possível. 
 Início do processo de denunciação antes do desfecho do procedimento que lhe deu origem: 
entendimento nos dois sentidos. 
 
2. Comunicação Falsa de Crime ou de Contravenção (art. 340, CP): 
Art. 340-CP: Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a 
ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter 
verificado. 
 
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 Em breves palavras, esse crime ocorre quando qualquer pessoa provoca a ação da autoridade, ao narrar um 
fato certo e determinado, definido como crime ou contravenção penal, mas que sabe que não ocorreu. O 
agente tem que ter certeza de que o crime ou contravenção não ocorreram. 
 Cuidado: caso haja a notícia falsa de contravenção penal, a pena não é reduzida. 
 Consumação: quando a autoridade agir. Com o início da investigação, mesmo que ainda não tenha sido 
instaurado IP. Há jurisprudência entendendo que o B.O. já é suficiente. 
 Difere da denunciação caluniosa onde o agente aponta pessoa certa e determinada como autora da infração. 
 Finalidade de cometer outro crime: ex.: comunica falso roubo para receber seguro. Há duas correntes: 
1) Responde somente pelo crime fim. 
2) Responde pelos dois em concurso material por se tratar de bens jurídicos diferentes. 
 
3. Autoacusação Falsa (art. 341, CP): 
Art. 342-CP: Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou 
praticado por outrem. 
 Acontece esse crime quando qualquer pessoa se acusa perante autoridade de CRIME inexistente ou 
praticado por outra pessoa. 
 Cuidado: o artigo 341 do CP apenas se refere a crime e não a contravenção penal. 
 Sujeito Ativo: qualquer pessoa. 
 Sujeito Passivo: Estado. 
 Consumação: ocorre no momento em que a autoacusação chega ao conhecimento da autoridade. 
 Tentativa: é possível na forma escrita quando, por exemplo, a confissão falsa remetida por correio se 
extravia. Na tentativa, em regra geral, a pena é diminuída de um a dois terços. 
 Direito de mentir do réu: não se confunde com a possibilidade de acusar-se falsamente, visto que também 
é princípio constitucional evitar-se o erro judiciário. 
 
4. Falso Testemunho ou Falsa Perícia (art. 342): 
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como 
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo 
judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: 
 
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Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é 
praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova 
destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil 
em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. 
 § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em 
que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. 
 Fazer afirmação falsa: conduta comissiva. Afirmar inverdade. 
 Negar a verdade: conduta comissiva. Sujeito diz não ter visto o que na verdade viu. 
 Calar a verdade: conduta omissiva. Silenciar a respeito do que sabe. 
 Fatos juridicamente relevantes. 
 Não precisa efetivamente influenciar na decisão final da autoridade, bastando a possibilidade de influir. 
 Finalidade de evitar própria incriminação: não haverá crime. 
 Dados da própria qualificação: falsa identidade (art. 307-CP). 
 DOLO: não há forma culposa. 
 Vítima, autor e réu NÃO são testemunhas. 
 Pedir ou incentivar a testemunha a mentir: é partícipe. 
 Participação de advogado no falso: possível (STJ/STF). Ex.: advogado incentiva testemunha a mentir. 
 Sujeito ativo: é crime próprio, pois a lei exige requisito especial para sua prática, no caso, ser testemunha, 
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial. 
 
Art. 207-CPP: São proibidas de depor as pessoas que, em razão de 
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo 
se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu 
testemunho. 
 
 Com relação ao falso testemunho, é crime de mão própria, ou seja, somente pode ser praticado pelo autor 
em pessoa, pela própria testemunha arrolada. Sendo crime de mão própria, não admite coautoria, mas 
somente participação (como induzimento, instigação. Ex.: advogado). Logicamente, o falso testemunho é só 
para testemunha, não se aplica para partes, réu, etc. 
 
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 Já a falsa perícia, pode ser praticada pelo perito, contador, tradutor ou intérprete. 
 Tipo objetivo: as condutas típicas são as seguintes: fazer afirmação falsa, negar a verdade (é dizer que não 
sabe o que sabe) ou calar a verdade (fazer silêncio sobre a verdade, omitir) em: 
 Processo Judicial; 
 Processo Administrativo; 
 Inquérito Policial; ou 
 Juízo Arbitral. 
 Consumação: consuma-se quando se encerra o depoimento. A tentativa é possível. 
 Causas de aumento de pena (art. 342, § 1º): as penas aumentam-se de um sexto a um terço nas seguintes 
hipóteses: 
 Se o crime é praticado mediante suborno – responde a testemunhae o perito subornados e o que suborna 
responde pelo crime do artigo 343 do CP. 
Art. 343-CP: Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra 
vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, 
para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, 
perícia, cálculos, tradução ou interpretação: 
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. 
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o 
crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito 
em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da 
administração pública direta ou indireta. 
 Crime cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal. 
 Prova destinada a produzir efeito em processo civil em que for parte entidade da administração pública 
direta ou indireta. 
 Retratação (art. 342, § 2º): retratar-se significa voltar atrás do que disse e gera causa de extinção da 
punibilidade. 
 Requisitos: 
1- A retratação tem que ser feita no processo onde o crime foi praticado 
 
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2- A retratação deve ocorrer até a sentença de primeiro grau do processo em que o crime foi praticado 
e se estende aos comparsas e tem que ser de forma completa. No tribunal do Júri até a sentença de 
plenário e não de pronúncia. 
 Vide o disposto no artigo 343, parágrafo único. 
 Momento de oferecimento da denúncia por falso testemunho: 
1- Imediatamente após o falso (mas não poderia ser julgada até a sentença do outro processo por conta da 
possibilidade de retratação. 
2- Necessidade de se aguardar eventual retratação. 
 
5. Coação no Curso do Processo (art. 344, CP): 
 
Art. 344-CP: Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de 
favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou 
qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em 
processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral. 
 
 Autoridade: delegado, juiz, promotor, etc. 
 Parte: autor, querelante, querelado. 
 Qualquer outra pessoa chamada a intervir: perito, jurado, testemunha, etc. 
 O agente pretende intimidar tais pessoas. Ex.: procurar testemunhas de acusação e ameaçar para que preste 
depoimento favorável. 
 Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa. Pessoa contra quem foi instaurado o procedimento 
ou terceiro que esteja visando o benefício daquele. 
 Sujeito passivo: o Estado e quem sofre a coação. 
 Tipo objetivo: usar de violência física ou grave ameaça, contra autoridade, parte ou terceiro (qualquer outra 
pessoa que funciona ou é chamada a intervir no processo). O processo pode ser: 
 Judicial; 
 Policial; 
 Administrativo; ou 
 Juízo arbitral. 
 Consumação: no momento do emprego da violência ou grave ameaça, independentemente do êxito do fim 
visado pelo agente. Crime formal. 
 
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 Tentativa: é possível, por exemplo, no caso de ameaça escrita que se extravia. 
 O agente responde por esse crime com pena de reclusão de um a quatro anos e multa, além da pena 
correspondente à violência (lesão corporal, homicídio, etc.). Se for grave ameaça não tem previsão. 
 
6. Exercício Arbitrário das Próprias Razões (art. 345-CP): 
 
Art. 345-CP: Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer 
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite. 
 
 Neste crime, temos o seguinte exemplo: o credor quando subtrai bem do devedor para se auto ressarcir de 
dívida vencida e não paga. Neste caso, houve subtração de coisa alheia, mas o furto não se configurou por 
não ter havido intenção de locupletamento ilícito por parte do credor, o que é requisito para configuração 
dos crimes contra o patrimônio, exceto no crime de dano. 
 Objetividade jurídica: o prestigio da justiça evitando-se a autotutela. 
 Sujeito menospreza o judiciário. Ex.: subtrair objeto de devedor; trocar fechadura da casa de inquilino que 
não paga aluguel, etc. 
 É necessário que a pretensão do agente possa ser, ao menos em tese, satisfeita pelo judiciário ou o pedido 
ser juridicamente possível, caso contrário não há desrespeito a administração pública, não havendo o crime 
em estudo, mas outro. Ex.: matar assassino do próprio filho. 
 Sujeito ativo: é um crime que pode ser praticado por qualquer pessoa. Caso o autor seja funcionário público, 
o crime em questão seria o de Abuso de Autoridade, da Lei nº 4.898/65. 
 Tipo objetivo: fazer justiça com as próprias mãos: praticar uma ação tendente a satisfazer uma pretensão 
legítima ou ilegítima. 
 Atenção: excepcionalmente a lei permite que se faça justiça com as próprias mãos, caso da legítima defesa, 
estado de necessidade e para defender a posse, conforme medidas indicadas no Código Civil. 
 Consumação: temos uma corrente que diz que se consuma no momento em que o agente emprega o meio 
executório (violência, grave ameaça, fraude, etc.). Também temos uma segunda corrente que diz que o crime 
é material e só se consuma com a satisfação da pretensão visada. Entende-se que a posição mais correta é a 
primeira (o professor entende). A tentativa é possível. 
 Concurso de crimes: havendo emprego de violência física para prática do crime e desta resultar lesões 
corporais ou a morte de alguém, o agente responderá pelo crime do art. 345 e também pelo crime de lesões 
 
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corporais ou de homicídio. Por fim, não havendo emprego de violência esse crime é apurado por meio de 
ação penal privada. Caso haja emprego da violência, incide ação penal pública incondicionada. 
 
7. Favorecimento pessoal (art. 348-CP) 
Art. 348-CP: Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor 
de crime a que é cominada pena de reclusão: 
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. 
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: 
 Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. 
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou 
irmão do criminoso, fica isento de pena. 
 Ajudar alguém a subtrair-se da ação de autoridade. 
 Elemento subjetivo: DOLO. 
 Autor do Crime: afasta -se a contravenção, tem que haver a possibilidade de condenação com a pena de 
reclusão. 
 Pode ser praticado por qualquer pessoa que não tenha tomado parte no crime anterior. Em outras 
palavras, a conduta nesse crime é autônoma, pois o agente não participou do crime anterior. 
 CUIDADO: se quem prestou auxílio foi o CADE (art. 348, § 2°-CP), temos escusa absolutória, ficando a 
autoridade policial impedida de instaurar qualquer investigação policial. A pessoa não precisa ser 
perseguida. 
 Só existirá favorecimento se houver crime anterior, e nunca contravenção penal. 
 Modo de execução: esse auxílio pode ser prestado por qualquer forma: 
 Ajudar na fuga, emprestando carro ou dinheiro ou, ainda, por qualquer outra forma; 
 Esconder a pessoa em algum lugar para que não seja encontrada; 
 Enganar a autoridade dando informações falsas acerca do paradeiro do autor do delito (despistar). 
 Esse crime somente pode ser praticado na forma comissiva e nunca por omissão. Assim, aquele que diz 
que nada sabe ou que não comunica o que sabe quando questionado pela autoridade não comete o crime 
de favorecimento pessoal, pois tal crime pressupõe alguma ação direta no sentido de ajudar o criminoso. 
 
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 Consumação: quando o beneficiado consegue subtrair-se, ainda que por poucos instantes, da ação da 
autoridade. 
 Tentativa: se o auxílio chega a ser prestado, mas o beneficiário não se livra da ação da autoridade. 
 
8. Favorecimento Real (art. 349-CP) 
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de 
receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: 
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. 
 Elemento Subjetivo: DOLO. 
 Criminoso: não se admite o inimputável. 
 Sujeito Ativo: Pode ser praticado por qualquer pessoa,porém a lei exclui a coautoria e receptação. É 
conduta autônoma de quem não participou do crime anterior. 
 Sujeito Passivo: o Estado e o proprietário do objeto material do crime antecedente. 
 CUIDADO: não há previsão legal de escusa absolutória. 
 Conduta típica: Prestar auxílio, que admite qualquer forma execução, direta ou indireta. As hipóteses 
mais comuns são as de esconder o produto do crime para que o autor do delito venha busca-lo 
posteriormente, transportar os objetos do crime, etc. 
 Para configuração do crime, o auxílio deve ser destinado a tornar seguro o proveito do crime. Proveito do 
crime é qualquer vantagem alcançada com a prática do delito principal (antecedente). 
 O auxílio deve ser posterior a prática do crime. Promessa de auxílio anterior configura participação. 
 Deve-se aguardar o deslinde do crime anterior para saber se houve ou não o favorecimento pessoal. 
Posicionamento contrário. 
 Consumação: no instante em que o agente presta o auxílio, independentemente de saber se o agente 
conseguiu ou não tornar seguro o proveito do crime anterior. Trata-se de crime formal. 
 Tentativa: é possível. 
Favorecimento Real Receptação 
 Destino do proveito do crime em 
benefício do autor do crime anterior 
 Destino do proveito do crime em 
benefício próprio ou de terceiro.

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