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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento Gustavo de Souza Veríssimo Professor Assistente, M.Sc. José Luiz Rangel Paes Professor Assistente, M.Sc. José Carlos Lopes Ribeiro Engenheiro Civil 1a. versão: julho/2001 CONTEÚDO 1. CÁLCULO DA VIGA DE ROLAMENTO ......................................................... 1 1.1 Introdução.......................................................................................................................................... 1 1.2 Determinação das solicitações de cálculo......................................................................................... 1 1.3 Verificação da alma sob o efeito de cargas localizadas .................................................................. 1 1.3.1 Estado limite de enrugamento da alma sob carga concentrada................................................ 2 1.3.2 Estado limite de flambagem da alma sob carga concentrada ................................................... 2 1.4 Cálculo dos enrijecedores transversais ............................................................................................ 3 1.4.1 Relação largura espessura do enrijecedor ................................................................................ 4 1.4.2 Resistência à compressão na região do enrijecedor.................................................................. 4 1.4.3 Exigências no caso de resistência à força cortante ................................................................... 5 1.4.3.1 Relação largura/espessura máxima ....................................................................................................... 5 1.4.3.2 Inércia mínima do enrijecedor .............................................................................................................. 5 1.4.3.3 Relação a/h máxima.............................................................................................................................. 5 1.4.3.4 Área mínima da seção transversal do enrijecedor ................................................................................. 6 1.5 Exemplo de cálculo de uma viga de rolamento ............................................................................... 6 1.5.1 Determinação dos esforços de cálculo ...................................................................................... 7 1.5.2 Verificação da alma sob carga concentrada ............................................................................. 9 1.5.2.1 Estado limite de enrugamento da alma ................................................................................................. 9 1.5.2.2 Estado limite de flambagem da alma sob carga concentrada ................................................................ 9 1.5.3 Dimensões dos enrijecedores..................................................................................................... 9 1.5.3.1 Relação largura/espessura ..................................................................................................................... 9 1.5.3.2 Inércia mínima ...................................................................................................................................... 9 1.5.3.3 Área mínima........................................................................................................................................ 10 1.5.4 Verificação dos enrijecedores à compressão........................................................................... 10 APRESENTAÇÃO Este material é parte do texto base da disciplina CIV452, Edifícios Industriais em Estruturas de Aço. Quaisquer críticas, sugestões e comentários dos leitores, são sempre bem-vindos, para que a partir deles possamos melhorar sempre este trabalho, no sentido de atender cada vez melhor aos alunos. Gustavo de Souza Veríssimo Julho de 2001 Capítulo ? CÁLCULO DA VIGA DE ROLAMENTO 1. CÁLCULO DA VIGA DE ROLAMENTO 1.1 Introdução O projeto da estrutura principal de galpões com pontes rolantes deve prever a possibilidade de torção das colunas em função da atuação das cargas horizontais provocadas pela ponte rolante, na direção longitudinal do galpão. A solução para as colunas com dois perfis travejados de forma que a viga de rolamento se apoie sobre um deles melhora o desempenho da estrutura, no que diz respeito à torção das colunas. Não obstante, mesmo nos casos em que a coluna é constituída unicamente de um perfil I de alma cheia e, portanto, a viga de rolamento tem que ficar apoiada num consolo curto ligado à coluna, o que aumenta a excentricidade das cargas horizontais, deve-se lembrar que: • havendo continuidade da viga de rolamento ao longo do galpão, através das ligações, na eventualidade de uma frenagem da ponte carregada, ou mesmo de um impacto no pára-choque, todas as colunas seriam acionadas pelo efeito de torção; • na eventualidade de torção das colunas, a viga de rolamento seria solicitada à flexão no eixo de menor inércia, devido à tendência de rotação da coluna em relação ao eixo Z, dificultando essa rotação e, portanto, colaborando na rigidez à torção da coluna. 1.2 Determinação das solicitações de cálculo Para o cálculo das envoltórias de esforços solicitantes, deve-se tomar as posicões da ponte rolante mais desfavoráveis para o esforço considerado. Para o momento fletor essa posição é nos arredores do centro do vão e depende da geometria do trem tipo da ponte. Para o cortante, a posição mais desfavorável é aquela em que uma das rodas da ponte está sobre o apoio. 1.3 Verificação da alma sob o efeito de cargas localizadas Para cargas que atuam na mesa, produzindo compressão na alma, esta deve ser verificada quanto aos estados limites de enrugamento sob carga concentrada e de flambagem local. CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 2 A resistência de cálculo é igual a φ.fcr, onde φ = 0,9 e fcr é a resistência nominal determinada como a seguir: 1.3.1 Estado limite de enrugamento da alma sob carga concentrada Para o estado limite de enrugamento sob carga concentrada fcr = 1,2 fy . A solicitação de cálculo é obtida dividindo a carga concentrada de cálculo Pd por tw (N + 2k), onde: tw = espessura de alma N = comprimento, na direção longitudinal da viga, de atuação da carga Pd k = espessura da mesa carregada, no caso de perfis soldados; k = espessura da mesa carregada mais o raio de concordância entre a mesa carregada e a alma, no caso de perfis laminados. Pd trilho mesa do perfil N k Figura 1 – Distribuição da forca de compressão na alma da viga. 1.3.2 Estado limite de flambagem da alma sob carga concentrada Para o estado limite de flambagem local: ( ) ( ) impedidafor não carregada mesa da rotação a quando , 4 2 54,0 22 += hath E f w cr ( ) ( ) impedidafor rotação essa quando , 4 5,5 54,0 22 += hath E f w cr A solicitação de cálculo é obtida dividindo a soma das cargas concentradas de cálculo, que atuam concomitantemente entre dois enrijecedores transversais, por h.tw ou CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 3 a.tw (o que for menor) e dividindo a carga distribuída de cálculo por tw, somando-se a seguir os dois resultados, onde: h = altura livre da alma entre faces internas das mesas a = distância entre as seções enrijecidas situadas no início e no fim do trecho analisado Caso a viga não possua capacidade suficiente, pode-se tentar aumentar essa capacidade diminuindo a distância a entre enrijecedores transversais, aumentando a rigidez dos paineis de alma. 1.4 Cálculo dos enrijecedores transversais Segundo a NBR8800, os enrijecedores transversais devem ser usados nas seguintes situações: 1. em extremidades de vigas nas quais as almas não sejam ligadas a outras vigas ou pilares; 2. em seções intermediárias sujeitas a cargas concentradas locais, conforme item 1.2, quando uma ou mais das exigências dos itens 1.2.1 e 1.2.2 não forem atendidas. Os enrijecedores transversaisde extremidade deverão ser soldados a ambas as mesas e à(s) alma(s) do perfil. No caso de perfis I devem ser colocados aos pares e se estender aproximadamente até as bordas longitudinais das mesas. No caso de enrijecedores intermediários, para evitar a redução da resistência devido à fadiga, podem ser interrompidos do lado da mesa tracionada a uma distância de 4tw a 6tw da face interna da mesa (Figura 2). Essa distância não deve ser maior para não haver risco de flambagem local da alma. � � � � � � ����� � � � � � � � # te be d bf 4 a 6t tw w ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� filetes de solda entre a mesa e a alma máx. tw6 mín. 40 Figura 2 - Detalhes dos enrijecedores transversais para vigas. CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 4 Mesmo quando o cálculo mostra que não são necessários, é recomendável a colocação de enrijecedores para combater possíveis excentricidades dos trilhos e conseqüentes empenos de alma e mesa da viga de rolamento. Os projetistas mais experientes recomendam que a distância máxima entre os enrijecedores não ultrapasse 1500 mm ou 3 vezes a altura da viga de rolamento, o que for menor (Bellei, 1994). 1.4.1 Relação largura espessura do enrijecedor Para garantir aque não ocorra flambagem local da chapa, é conveniente adotar enrijecedores cuja relação b/t seja inferior aos limites dados na tabela 1 da NBR8800 para seções classe 3. Para perfis I yf E t b 55,0 lim = 1.4.2 Resistência à compressão na região do enrijecedor Para carga concentrada na mesa, produzindo compressão nos enrijecedores, estes são dimensionados como se fossem colunas sujeitas à flambagem por flexão em relação a um eixo no plano médio da alma. A seção transversal a ser considerada é a seguinte: • seção formada pelos enrijecedores mais uma faixa de alma de largura igual a 12tw , se os enrijecedores forem de extremidade (Figura 3); • seção formada pelos enrijecedores mais uma faixa de alma de largura igual a 25tw, se estiverem em uma seção intermediária (Figura 3). onde: tw = espessura da alma h = altura livre da alma entre faces internas das mesas O comprimento efetivo de flambagem kL será tomado igual a 0,75h, se apenas uma mesa for carregada, e igual a h, se ambas as mesas forem carregadas produzindo compressão nos enrijecedores. ���� ����� � � �be wt12 et wt x 10 mm≈ ����� ������ � � � wt25 et Figura 3 – Região a considerar no cálculo do enrijecedor sob compressão. CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 5 A seção de contato do enrijecedor com a mesa onde atua a carga será verificada com relação ao estado limite de esmagamento local, conforme a NBR8800 item 7.6, utilizando-se uma área A igual à área da seção efetiva de contato, isto é, descontando-se os recortes que porventura existam (Figura 4). ��� ��� ��� ��� ��� ��� ��� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� área líquida pela qual a força de compressão é introduzida no enrijecedor enrijecedor Figura 4 – Área líquida na região de contato do enrijecedor com a mesa. No caso de enrijecedores com extremidades em contato com a mesa, tendo a superfície usinada, a resistência de cálculo ao esmagamento é dada por nd RR φ= 75,0=φ yn fAR 5,1= 1.4.3 Exigências no caso de resistência à força cortante Quando os enrijecedores forem utilizados também nas verificações relativas ao efeito da força cortante, deverão ser também atendidas às seguintes exigências. 1.4.3.1 Relação largura/espessura máxima As relações largura/espessura dos elementos que formam os enrijecedores não podem ultrapassar os valores dados em 1.4.1. 1.4.3.2 Inércia mínima do enrijecedor O momento de inércia da seção de um enrijecedor singelo ou de um par de enrijecedores, um de cada lado da alma, em relação ao eixo no plano médio da alma não pode ser inferior a (h/50)4, sendo h a altura livre entre mesas. 1.4.3.3 Relação a/h máxima Quando h/tw for igual ou superior a 260, a relação a/h não pode ultrapassar a 3 e nem a [260/(h/tw)] 2. CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 6 1.4.3.4 Área mínima da seção transversal do enrijecedor Os enrijecedores transversais, além de atenderem às exigências anteriores, devem também ter uma área mínima da seção transversal, num plano paralelo as mesas do perfil, dada por: w pn st taDYh aVV A ...15,11 2 1 − − = η! onde: Vn = resistência nominal à força cortante, conforme a NBR8800, sem incluir o efeito do campo de tração. Vpl = 0,6 Aw fy 2 115,1 1 + = h a η h = altura livre da alma entre faces internas das mesas a = distância entre enrijecedores transversais Y = relação entre os limites de escoamento dos aços da alma e do enrijecedor D = 1,0 para enrijecedores colocados em pares D = 1,8 para enrijecedores constituídos de uma cantoneira D = 2,4 para enrijecedores constituídos de uma chapa tw = espessura da alma 1.5 Exemplo de cálculo de uma viga de rolamento Cálculo de uma viga de rolamento de um galpão com as seguintes características: - vão da viga = 6000 mm - capacidade da ponte = 20 tf - peso próprio da ponte = - carga máxima por roda = 11,7 tf - flecha admissível = L/800 - aço ASTM A36 CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 7 1.5.1 Determinação dos esforços de cálculo Coeficiente de impacto admitido = 1,25 Carga de cálculo por roda: Pd = 1,25 × 117 kN × γq = 146,25 kN × 1,5 = 219 kN 219 kN 219 kN 3200 mm Linha de influência de momento fletor: a b L ∆ L ba.=∆ Posição da ponte mais desfavorável para o momento fletor: l l/4 l/4 l/2 L/2 L/2 δ 1 δ 2 3200 800 1600 2200 3800 δ 1 δ 2 800 3200 800 1600 5400 600 δ 3δ 4 800 33,139 600 380220 1 = ×=δ 0,54 600 60540 3 = ×=δ 0,2254 540 220 4 =×=δ Cálculo de Mdx: ( ) ( ) kN.cm353312192233,13941 =×+=+= ddx PM δδ CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 8 Cálculo de Mdy: C.I. = 200 kN (carga içada) P.TR. = 24 kN (peso do trolei) P.TOT. = 183 kN (peso total da ponte rolante) ( ) ( ) ( ) = =+ =+ ≥ kN30%15 kN15,19%5 kN4,22%10 C.I. P.TOT.C.I. P.TR.C.I. HT kN30=TH ( ) ( ) kN.cm4840302233,13941 =×+=+= Tky HM δδ kN.cm726048405,1 =×=×= kyqdy MM γ Cálculo de Nd na viga de rolamento: A frenagem da ponte provoca uma força de compressão axial na viga de rolamento. HL = 20% da soma das cargas máximas por roda motora Considerando apenas uma roda motora: HL = 0,20 × 219 = 43,8 kN Pré-dimensionamento do perfil da viga: Desmet ⇒ solicitações combinadas (N+M) Dados: Nd = 43,8 kN Lx = Ly = Lz = Lbx = 600 cm kN.cm35331=dxM Cb = 1,0 kN.cm7260=dyM Cmx = Cmy = 1,0 Perfil Ag Nd Mdx Mdy VR VE (cm2) (kN) (kN.m) (kN.m) VS 850x120 153.5 43.80 35331.00 7260.00 0.91 0.93 Esforço cortante: Para efeito do esforço cortante, a posição mais desfavorável ocorre quando uma das rodas da ponte está exatamente sobre o apoio: 320 L/2 L/2 280 219 219 kN2,321 600 280219 219 =×+=dV ( ) kN990258,025,128560,060,0 =×××−×== ywpl fAV CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 9 1.5.2 Verificação da alma sob carga concentrada 1.5.2.1 Estado limite de enrugamento da alma 2kN/cm30252,12,1 =×== ycr ff altura do trilho: ht = 12,2 cm ( ) =+= kNt P f w d 2 Pd trilho mesa do perfil N k ( ) ( ) 2kN/cm92,9 6,122,1228,0 219 2 = ×+× = + = kNt P f w d f ≤ φ fcr = 0,9 × 30 = 27 kN/cm2 (OK!) 1.5.2.2 Estado limite de flambagem da alma sob carga concentrada = ≤ cm1803 cm150 d a ( ) ( ) ( ) ( ) 2 2222 kN/cm98,6 5,82150 4 5,5 8,05,82 2050054,04 5,5 54,0 = +××= += hath E f w cr 2kN/cm32,3 8,05,82 219 . = × == w d d th P f fd ≤ φ fcr (OK!) 1.5.3 Dimensões dos enrijecedores 1.5.3.1 Relação largura/espessura 75,1555,0 =≤ ye e f E t b be = 150 mm te = 9,5 mm 1.5.3.2 Inércia mínima � � � � � 308 mm 9,5 mm 4 3 cm2313 12 8,3095,0 =×=eI ( ) 44 cm41,750/ =h < Ie ⇒ (OK!) CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 10 1.5.3.3 Área mínima 13,103 8,0 5,82 === wt hλ ( ) ( ) 55,6 5,82/150 4 34,5 / 4 34,522 =+=+= ha k 15,79 25 2050055,6 08,1 . 08,1 =×== y p f Ekλ 60,102 25 2050055,6 40,1 . 40,1 =×== y r f Ekλ kN41,746990 13,103 15,79 28,128,1 22 = = = !p p n VV λ λ 42,0 5,82 150 115,1 1 115,1 1 22 = + = + = h a η w pn st taDYh aVV A ...15,11 2 1 − − = η! 2cm80,18,01500,10,1 5,82 150 42,015,11 2 99041,7461 =×××× ××−−=stA 2cm50,28295,0152 =××=×× ee tb > Ast ⇒ (OK!) 1.5.4 Verificação dos enrijecedores à compressão ������ � � � �308 96 mm 8,0 2cm18,368,06,995,0152 =×+××=A 4 33 cm2313 12 8,3095,0 12 8,065,8 =×+×=eI cm00,8 18,36 2313 === A I r e KL = h = 82,5 cm 115,0 20500 250,1 0,8 5,821. .. 1 =×××== ππ λ E fQ r KL y ⇒ ρ = 1,00 Rd = 0,9.ρ.Q.Ag.fy = 0,9×1,0×1,0×36,18×25 = 814 kN > Pd = 321,2 kN (OK!) CIV452 Cálculo da Viga de Rolamento 11 Bibliografia 1. ABNT (1986) Associação Brasileira de Normas Técnicas, "Projeto e Execução de Estruturas de Aço de Edifícios", NBR 8800/86, Rio de Janeiro. 2. Bellei, I. H. (1994); "Edifícios Industriais em Aço – Projeto e Cálculo", Editora PINI, São Paulo.