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1 Disciplina: Sustentabilidade e desempenho na Gestão Pública Autores: D.ra Tatiana Souto Maior de Oliveira Revisão de Conteúdos: Esp. Orlei Candido Antunes Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Tatiana Souto Maior de Oliveira Sustentabilidade e desempenho na Gestão Pública 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA OLIVEIRA, Tatiana Souto Maior. Sustentabilidade e desempenho na Gestão Pública / Tatiana Souto Maior de Oliveira. – Curitiba, 2018. 35 p. Revisão de Conteúdos: Orlei Candido Antunes. Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki. Material didático da disciplina de Sustentabilidade e desempenho na Gestão Pública – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-246-0 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 0nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina A disciplina de Sustentabilidade e Desempenho na Gestão Pública tem como objetivo apresentar uma retrospectiva histórica sobre o conceito de sustentabilidade até o momento atual. Serão abordados os conceitos teóricos relacionados à sustentabilidade, bem como seu relacionamento com a gestão pública. Será analisada a aplicabilidade dos conceitos na gestão pública como um todo, principalmente a interface com o meio urbano, exemplificando ações que vem sendo implementadas que vão ao encontro da sustentabilidade. 6 Aula 1 – A essência da sustentabilidade Apresentação da aula 1 Nesta aula será visto o conceito de sustentabilidade sob uma abordagem da gestão pública, onde serão destacadas as dimensões da sustentabilidade. Na sequência, será abordado o conceito de desenvolvimento sustentável, já que quando se fala em gestão pública, o foco deve ser o desenvolvimento econômico que hoje deve ter incluso a percepção sustentável. 1.1 Conceito de sustentabilidade O conceito de sustentabilidade vem sendo estudado há cerca de vinte e cinco anos, sendo que na maioria das vezes que o encontramos está associado à área ambiental. Entretanto, percebemos que para que se consiga atingir a sustentabilidade é necessário o envolvimento e ações de diversas áreas do conhecimento, já que a questão é vista cada vez mais como multidisciplinar. A partir de um conceito simples, de dicionário, em uma pesquisa básica, encontramos os seguintes conceitos: Aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais, busca suprir as necessidades do presente sem afetar as gerações futuras. Qualidade ou propriedade do que é sustentável, do que é necessário à conservação da vida. Disponível em: https://www.dicio.com.br/sustentabilidade/ Entende-se que para que se atinja a sustentabilidade, deve-se obter a garantia de longevidade de algo. Se trouxermos para o conceito de sociedade, devemos criar meios para que esta se mantenha viva nas condições atuais existentes. Nesse sentido percebemos uma evolução no conceito, principalmente quando o relacionamos à essência da vida: Essas duas simples definições levam a um conceito mais elaborado em que a sustentabilidade pode ser entendida como a “capacidade de uma atividade ou sociedade se manter por tempo indeterminado, sem colocar em risco o 7 esgotamento, a qualidade e o uso abusivo de seus recursos naturais” (Barreto et al,2011, p. 09). É, portanto, uma abordagem que extrapola enfoques reducionistas para um cenário mais abrangente. Essa visão ampliada pressupõe a priorização do cenário atual existente, reduzindo enfoques tendenciosos. Ainda nesse sentido, de acordo com Cavalheiro, Araujo ; Tybusch (2014, p. 8) podemos entender que para que se alcance a sustentabilidade é necessário: Saciar as necessidades da presente geração, mas sem descuidar das necessidades das futuras gerações, em decorrência do agir de um ser humano responsável. Dessa proposta, aponta-se para o comprometimento necessário, que vai além do pensamento antropocêntrico-econômico, pois um meio ambiente ecologicamente equilibrado é necessário para todas as formas de vida. Araújo e Tybusch (2014, p. 8) Assim, a sustentabilidade, de maneira simples, se refere ao atendimento das necessidades do momento atual, sem que prejudique a continuidade do contexto em questão, garantindo dessa forma os recursos existentes às futuras gerações. Um amadurecimento do conceito de sustentabilidade estabelece o desenvolvimento atual, com base na qualidade de vida, limitado a ações que prejudiquem as gerações futuras (MIKHAILOVA, 2004). 1.2 Dimensões da sustentabilidade O entendimento da abrangência dos termos de sustentabilidade tem feito com que muitos estudiosos de diferentes áreas comecem a estudar não só a essência conceitual, mas, sobretudo, como é possível garantir a sustentabilidade. Com base nessa abordagem multidisciplinar de sustentabilidade, podemos dividi-la em algumas dimensões que conseguem nos dar um melhor detalhamento das variáveis que devem ser consideradas no momento do planejamento de ações. 8 1.2.1. Principais dimensões da sustentabilidade são: Sustentabilidade ecológica: a associação da sustentabilidade com a dimensão ecológica é uma das abordagens mais difundidas e que consiste na utilização racional dos potenciais naturais existentes em compatibilidade com o ato de preserva-los. A consideração dessa dimensão pressupõe o uso e criação de alternativas que atendam a demanda atual sem comprometer as reservas de produtos existentes como, por exemplo, a exploração de fontes renováveis. Sustentabilidade social: a dimensão social, apesar de ser um ponto fundamental de notória importância na área governamental, nem sempre é associada ao conceito de sustentabilidade. Aqui busca-se que as ações realizadas consigam promover uma redução significativa nas desigualdades sociais. Sustentabilidade econômica: a dimensão econômica está relacionada ao processo de eficiência e eficácia das ações. Esse recorte direciona a análises dos projetos sob a ótica de aproveitamento racional dos recursos possibilitando assim uma melhor distribuição e gestão de recursos. Essa conduta frente aos projetos possibilita uma maior otimização dos recursos e consequentemente maior capacidade de atendimento das demandas. Sustentabilidade cultural: sob a ótica cultural, espera-se que as ações públicas vão de encontro com as especificidades locais, ou seja, consideram os arranjos culturais pré-estabelecidos, o que pode garantir uma maior longevidade dos projetos pela sua aderência cultural. Esse recorte permite também a diminuição de possíveis resistências às ações propostas. Sustentabilidade espacial: um dos agravantes na questão da sustentabilidade urbana é a concentração urbana, já que a densidade populacional concentrada gera uma grande necessidade de recursos. A consideração da variável espacial no planejamento urbano prevê a redistribuição espacial do contingente populacional como forma de aproveitamento da infraestrutura existente e a exploração de novos insumos renováveis. 9 Está incluído nesse recorte a realocação de população para áreas desocupadas, incentivos produtivos regionais, incentivos ao reaproveitamento de materiais, entre outros. Na visão de Sachs (1993 ) apud Mendes (2009) , demonstrada na figura abaixo, podemos perceber que as diferentes dimensões propostas devem interagir entre si para que seja alcançado um desenvolvimento que contemple em seu processo a sustentabilidade. Figura 1 Fonte: Mendes (2009, p 50) 1.3 Desenvolvimento Sustentável Com a emergência da abordagem sustentável, estabelece-se uma postura diferenciada por parte das nações onde busca-se desenvolver países e regiões de maneira sustentável, ou seja, possibilitando a continuidade de recursos. De acordo com a World Commission on Environment and Development (1987), o desenvolvimento sustentável pode ser entendido como um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos e do desenvolvimento tecnológico, e a mudança institucional estão em harmonia 10 e melhoram o potencial existente e futuro para satisfazer às necessidades humanas. É, portanto, um processo político democrático, contemplando as dimensões da sustentabilidade (econômica, ambiental, espacial, social e cultural), possibilitando um desenvolvimento viável sob a óptica multidisciplinar da sustentabilidade. É a proposta do uso de estratégias que possibilitem o desenvolvimento sem comprometer os direitos da sociedade no futuro. De acordo com (SILVA, 2006, p. 132): um processo político, participativo que integra a sustentabilidade econômica, ambiental, espacial, social e cultural, sejam elas coletivas ou individuais, tendo em vista o alcance e a manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de disponibilização de recursos, seja nos períodos de escassez, tendo como perspectivas a cooperação e a solidariedade entre os povos e as gerações (...) um processo de transformação que ocorre de forma harmoniosa nas dimensões espacial, social, ambiental, cultural e econômica a partir do indivíduo para o global. (SILVA, 2006, p. 132) Figura 2 Fonte: autora 2018 1.4 Objetivos do desenvolvimento sustentável A partir do conceito de sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável, podemos deduzir que, quando falamos de desenvolvimento sustentável, muitos dos pressupostos de desenvolvimento que vem sendo utilizados até então, sob um recorte capitalista, devem ser questionados. Ambientalment e correto Socialmente Justo Economicamente viável 11 Nesse sentido, vem sendo realizado um trabalho em conjunto de vários países, mediado pela Organização das Nações Unidas busca premissas que possam direcionar as ações dos países a um desenvolvimento sustentável. Essas premissas são chamadas de objetivos de desenvolvimento sustentável, e foram revisadas em 2015, e segundo a ONU, permitirão transformar o mundo. Na figura 3 podemos ver os 17 objetivos do desenvolvimento sustentáveis estipulados pela ONU. Figura 3 (17 Objetivos) Fonte: https://nacoesunidas.org/pos2015/ Ví deo Veja o vídeo da ONU sobre os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável milênio https://www.youtube.com/watch?v=u2K0Ff 6bzZ4 Resumo da aula: Como pode-se perceber, quando falamos em desenvolvimento sustentável, o conceito atual e as estratégias baseadas nos dezessete objetivos estão bem diferentes de uma abordagem essencialmente ecológica. E agora, mais do que nunca, percebemos que o âmbito e a reponsabilidade das ações para que se possa atingir esses objetivos é cada vez mais próximo da gestão pública. 12 Atividade de Aprendizagem Faça uma correlação de no mínimo 2 objetivos propostos pela ONU e o atual conceito de sustentabilidade e em no máximo 10 linhas discorra sobre eles. Aula 2 – Gestão Pública Sustentável Apresentação da aula 2 Nesta aula será estudado a interface entre a sustentabilidade e a área urbana, já que se pode considerar que foi devido ao meio urbano que muitos dos impactos causados comprometeram a sustentabilidade, considerando que o meio urbano tem hoje uma grande representatividade no mundo. 2.1 Sustentabilidade urbana Devido as interfaces e influências do meio urbano no processo de sustentabilidade , essa temática tem sido incluída na pauta governamental como um pressuposto para o planejamento urbano. Nesse contexto, o conceito de sustentabilidade está associado à consideração das variáveis e impactos que determinadas ações possam ter no ambiente urbano. Trata-se da análise e priorização de projetos que consigam atender as demandas urbanas atuais sem comprometer o futuro das gerações. De acordo com Urban World Forum (2002) apud Braga (2006): Define sustentabilidade urbana a partir do estabelecendo de um conjunto de prioridades, são elas: superar a pobreza, promover equidade, melhorar a segurança ambiental e prevenir a degradação, estar atento à vitalidade cultural e ao capital social para fortalecer a cidadania e promover o engajamento cívico. Consiste fundamentalmente em incluir novos parâmetros ou prerequisitos as ações públicas com base nas diretrizes da sustentabilidade. 13 A partir desse conceito, relativamente simples, percebemos que governos das mais distintas alçadas começam a criar ações que vão ao encontro dos direcionadores da sustentabilidade. 2.2 Indicadores de sustentabilidade urbana A base de toda análise de sustentabilidade pode ser entendida como o comparativo entre o antes o depois. A partir dessa análise, a gestão pública pode determinar as áreas que mais demandam ações e assim conseguem priorizar e direcionar os investimentos a cada uma delas. Para que seja possível essa análise, a gestão urbana vem buscando criar indicadores que permitam a medição dos resultados das ações, projetos ou programas. De acordo com Braga (2006, p.49): Da necessidade de provisão de informação de qualidade para guiar a tomada de decisões relativas à sustentabilidade, surgiram desde o final da década dos 80, várias iniciativas de construção de índices e indicadores, a maior parte delas aplicadas à escala nacional. Tais iniciativas possuíam em comum o objetivo de fornecer subsídios à formulação de políticas, bem como monitorar o progresso no cumprimento de acordos internacionais e orientar a tomada de decisão por atores públicos e privados. No que diz respeito à sustentabilidade urbana, pode-se dizer que já existe um amadurecimento nesse sentido, pois existem diversas metodologias para a medição da sustentabilidade. Como se pode ver na tabela a seguir, o que falta realmente é a devida aplicação desses métodos. SISTEMAS DE SUSTENTABILIDADE URBANA ABORDAGEM Programa de Indicadores Urbanos do Habitat Sistema de Observatórios Urbanos criado pelo programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), cujo propósito é dar apoio aos governantes, autoridades locais e a sociedade civil, no sentido de melhorar a coleta, armazenamento, análise e uso da informação para formular políticas urbanas mais efetivas (www.habitat-lac.org). 14 Programa de Indicadores Urbanos Globais Desenvolvimento de um conjunto de indicadores urbanos padronizados, a partir de uma abordagem integrada para a mensuração e monitoramento do desempenho das cidades. Reconhecendo que existem diferenças de recursos e capacidades entre as cidades, esse conjunto de 53 indicadores subdivide-se em 27 indicadores “principais”, 26 indicadores “de apoio”. Além de 33 indicadores e sete índices que seriam medidas úteis do desempenho das cidades (www.cityindicators.org). Indicadores de Desenvolvimento Urbano Sustentável Desenvolvido por Castro Bonaño (2004), define um índice sintético de qualidade do desenvolvimento urbano local aplicado às cidades mais populosas de Andalucía na Espanha, identificando o nível de desenvolvimento sustentável urbano, a partir de um conjunto de indicadores que compõem os subsistemas (ambiental, urbanístico, demográfico e econômico) do espaço urbano. Sistema Nacional de Indicadores das Cidades (SNIC) Disponibiliza via Internet dados sistematizados sobre os municípios brasileiros, referentes à caracterização, demografia, perfil socioeconômico da população, atividades econômicas, habitação, saneamento básico, transporte urbano, gestão urbana e eleições. Esses indicadores são tratados em processo de georeferenciamento, permitindo a visualização das informações de forma integrada facilitando a compreensão. Índice de Sustentabilidade Urbana Desenvolvido por BRAGA et al (2002), tem como propósito avaliar a sustentabilidade urbana a partir da combinação de indicadores de pressão, estado e resposta, incluindo indicadores de capacidade política e institucional que indiquem tendências de respostas às pressões e desafios futuros. Esse índice é composto por 4 índices temáticos: Índice de qualidade do sistema local (IQSA), Índice de Qualidade de Vida - IQV Índice de Redução da Pressão Antrópica (IRPA), Índice de capacidade política e institucional(ICPI). Sistema de Índices de Sustentabilidade Urbana (SISU) Desenvolvido por Braga (2006), o sistema é específico para mensurar a sustentabilidade urbana nos aglomerados metropolitanos brasileiros, tomando como forma de análise a construção de índices temáticos visando medir o progresso em relação a um conjunto de objetivos relacionados à sustentabilidade urbana, sendo eles: índice de qualidade ambiental, índice de capacidade político- 15 institucional e índice de desenvolvimento humano municipal. Índice de Qualidade de Vida Urbana dos Municípios Brasileiros (IQVU-BR) Desenvolvido entre 2004 e 2005 para o Ministério das Cidades, cujo projeto foi coordenado pela pesquisadora Maria Inês Pedrosa Nahas, tem como foco a oferta dos serviços urbanos existentes nos municípios brasileiros, sendo assim, constitui mais uma ferramenta de diagnóstico utilizada como instrumento de auxílio ao planejamento de políticas públicas municipais. Sistema Integrado de Gestão do Ambiente Urbano (SIGAU) O SIGAU foi desenvolvido por Rossetto (2003), visando melhorar o processo decisório nos diversos níveis de formulação e implementação das políticas públicas urbanas, numa perspectiva de integrar um sistema de sustentabilidade urbana às ferramentas de planejamento urbano. O SIGAU parte da definição de fatores críticos na gestão urbana, incorporar indicadores sociais, ambientais, físico- espaciais e econômicos, mediante uma estrutura multinível de avaliação, que agrega informações de distintas naturezas que possibilita a identificação do ponto de sustentabilidade em que se encontra cada subsistema observado ou a cidade como um todo. Fonte: Adaptado de MARTINS, CANDIDO (2011p. 9-10) Vale ressaltar que os indicadores propostos por Braga (2002) apud Martins, Candido (2011) tem uma abordagem sistêmica que cruzam diversas dimensões da sustentabilidade. 2.3 Desafios da sustentabilidade urbana Apesar da frequência da temática sustentabilidade em nosso dia a dia e na pauta governamental, ainda percebemos uma lacuna na concretização de ações que contemplam essa abordagem. Percebe-se a dificuldade por parte dos governos, no que se refere ao entendimento e à postura de tratar a cidade em suas especificidades, contemplando toda à complexidade necessária para tal. De acordo com Barbosa (2008, p.10): Um dos desafios da sustentabilidade ambiental urbana é a conscientização de que esta é um processo a ser percorrido e não algo definitivo a ser alcançado. A busca por uma conceituação urbana 16 sustentável traz consigo uma série de proposições e estratégias que buscam atuar em níveis tanto locais quanto globais. Esse desafio principal é consequência de que a proposta sustentável representa uma ruptura no paradigma existente, sendo necessária uma mudança cultural dos órgãos responsáveis pelo planejamento urbano e da sociedade domo um todo. Como caminho, se pode sinalizar a necessidade contínua de formação e foco na abordagem da sustentabilidade. 2.4 Uso e ocupação do solo A percepção da importância da ordenação espacial da cidade não é algo novo, mas retoma-se a relevância a partir do momento em que o crescimento desordenado começa a comprometer o futuro. A relação entre a sustentabilidade e o uso e ocupação do solo aparece já na constituição em seu artigo segundo em que se estabelece o ordenamento do desenvolvimento das funções da cidades, mas sem desconsiderar o bem-estar da sociedade (BRASIL, 1988), o que significa planejar a ocupação (física e funcional) das cidades, garantindo o acesso aos equipamentos urbanos que garantam o bem-estar da população. O conceito de uso e ocupação do solo está relacionado ao modo como a cidade é construída, entendendo como um processo contínuo e amorfo. A falta de controle e condução, por parte do Estado, desse processo pode provocar severos impactos no que tange à sustentabilidade, por exemplo, na esfera ambiental pode ocorrer um processo de povoamento em áreas que deveriam ser preservadas gerando contaminação, desmatamentos, como é o caso de assentamentos em áreas de mananciais ou encostas que comprometem a sustentabilidade ambiental. Segundo Garcia (2017) apud Bezerra (2018, p.84) a falta de planejamento e controle do uso e ocupação do solo pode gerar um processo de especulação imobiliária e a indução de ocupações com interesses econômicos, comprometendo, em alguns casos o acesso igualitário aos equipamentos urbanos e na maioria das vezes demandando mais infraestrutura da cidade, o que compromete a sustentabilidade e sob a ótica econômico social. 17 Ainda nesse sentido, Carvalho; Braga (2001, p. 99) O documento do Ministério do Meio Ambiente intitulado “Cidades Sustentáveis”, para formulação e implementação de políticas públicas compatíveis com os princípios de desenvolvimento sustentável definidos na Agenda 21, estabelece quatro estratégias de sustentabilidade urbana identificadas como prioritárias para o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras, duas das quais remetem diretamente ao Plano Diretor 1. aperfeiçoar a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das condições de vida da população, considerando a promoção da eqüidade, eficiência e qualidade ambiental; 2. promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da capacidade de planejamento e gestão democrática da cidade, incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade. O que nos leva a percepção que uma das grandes interfaces da lei 10.257/2001, Estatuto das Cidades, no que tange à questão ambiental que acontece por meio do uso e ocupação do solo, devidamente planejado e controlado, como fica fácil de se perceber nos parágrafos abaixo do artigo segundo da citada lei: [...] I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; [...] III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais; VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental; 18 VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência; VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência; IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização; [...] XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos; XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; [...] XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais; XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais; XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades (BRASIL, 2002, p. 13-17) Aqui é importante atentarmos ao fato de que, apesar de o uso e ocupação do solo parecer uma abordagem urbanística com foco em aspectos físicos, ela é na realidade um trabalho de cunho extremamente estratégico, se levar em consideração toda a complexidade urbana como deve ser. Sob esse recorte, isso poderia ser um dos pilares para se pensar em sustentabilidade urbana. 2.5 Zoneamento ambiental Na prática, o uso e ocupação do solo associam-se diretamente ao componente ambiental da sustentabilidade, por meio do zoneamento ambiental. De maneira o termo zoneamento se refere a uma operação feita no plano da cidade com o fim de atribuir a cada função e a cada indivíduo seu justo lugar. Tem por base a análise detalhada de cada uma das diversas atividades humanas existentes em uma cidade, analisando qual deve ser o lugar de cada uma na cidade. De acordo com Silva; Aguiar Filho (2013), o zoneamento ambiental deve ser entendido como como instrumento da política nacional de meio ambiente e 19 ainda como instrumento para o desenvolvimento local e regional dos centros urbanos brasileiros. Em específico, na área ambiental, este está relacionado à definição de alguns usos como: a segregação dos usos ambientalmente incompatíveis e a definição de zonas especiais de proteção ambiental. (CARVALHO, BRAGA, 2001, p.107). Na opinião de Milaré (2005, p. 643): Além do macrozoneaneamento, que separa as zonas rurais, urbanas e de expansão urbana do município, e do zoneamento urbano, que vai ordenar o uso e a ocupação do solo da cidade, o Estatuto da Cidade introduziu o zoneamento ambiental, que já havia sido previsto na Lei 6.938/81 em nível federal, em escala dos municípios. Traia-se de um instrumento que propiciará aos municípios a possibilidade de disciplinarem a ''ocupação e destinação de áreas geográficas para que elas atendam à sua vocação geoeconômica e ecológica. Assim o zoneamento ambiental pode ser entendido como um instrumento de organização territorial que deve ser seguido na implementação de obras públicas e privadas. Ele é a garantia da proteção ambiental, já que estabelece medidas e padrões de preservação ambiental que contribuírem para o desenvolvimento sustentável (LOPE, 2015). 2.6 Sustentabilidade das cidades, uso e ocupação do solo O processo de planejamento e controle do uso e ocupação do solo tem como finalidade máxima racionalizar o processo de urbanização com base na função social das cidades e no consumo dos recursos existentes. Desse modo, por meio da análise das vantagens e desvantagens da concentração urbana, em conjunto com a análise da concentração existente na cidade, é possível traçarmos estratégias que possibilitem o desenvolvimento sustentável da cidade. Ao analisarmos, veremos que a baixa densidade, contrariamente ao que pensamos, tem um número maior de desvantagens do que de vantagens, principalmente pela dificuldade de custeio da infraestrutura, que resulta em um alto custo para o Estado ofertar serviços devido a pequena arrecadação. A alta concentração permite o desenvolvimento de infraestrutura, entretanto traz consequências negativas como a criminalidade, degradação, poluição entre outros. Esse cenário pode ser facilmente percebido na 20 comparação entre cidades pequenas com pouca densidade. O ideal seria o desenvolvimento da pequena cidade de forma planejada em relação à ocupação do solo. Do ponto de vista da gestão pública do âmbito Federal, o interessante seria a expansão / desenvolvimento proporcionalmente ao espaço o que proporcionaria a melhora de regiões menos populosas, que precisam de contingente populacional para se desenvolver e descongestionar as grandes cidades, melhorando a qualidade de vida nessas localidades. O processo de desenvolvimento urbano e a consequente ocupação do solo traz benefícios e malefícios para a cidade, como podermos verificar na figura: Figura 4 Fonte: Acioly e Davidson, 1978 apud Carvalho, Braga (2001) Resumo da aula Sem dúvida esse processo não é simples. Até porque é abordado pelo recorte de uma única variável. Para que esse balanceamento populacional fosse 21 feito, muitas outras estratégicas deveriam ser colocadas em prática, sobretudo na área econômica e social. O fato é que a relação entre ocupação do solo e sustentabilidade fica nítida quando analisamos o cenário exposto. Da mesma forma, no âmbito municipal, o planejamento e monitoramento do uso e ocupação do solo possibilitarão o aproveitamento e conservação dos recursos existentes na cidade. Atividade de Aprendizagem Em no máximo 10 linhas, explique a relação entre o uso e ocupação do solo e a sustentabilidade. Aula 3 – Cidades Sustentáveis Apresentação da aula 3 Nesta aula estudaremos o conceito de cidades sustentáveis como caminho para o atingimento de sociedades sustentáveis. Serão vistas também algumas iniciativas nacionais e internacionais desenvolvidas pela gestão pública sob um olhar interdisciplinar que permite a inclusão de aspectos sustentáveis na operacionalização de algumas demandas das cidades. 3.1 Cidades sustentáveis Recentemente, na literatura de sustentabilidade, começamos a ouvir falar em cidades sustentáveis, que se referem a cidades que vêm conseguindo associar a questão de sustentabilidade as suas ações. Na prática, essas cidades estão implementando ações que tem como base os princípios da sustentabilidade que vem gerando novas maneiras de equacionar as demandas existentes por meio de mudanças na forma de operacionalizar as ações. De acordo com Acselrad (2005, p. 04), “cidade sustentável seria aquela capaz de negociar através de parcerias público privado os conflitos de propriedade entre crescimento econômico e equidade, de recursos entre 22 crescimento e meio ambiente e de desenvolvimento entre preservação e equidade.” Falando de um processo de planejamento que tem como base uma visão holística, mas que considere como foco o bem-estar geral, a sociedade como um todo, permitindo assim que toda esta seja beneficiada (CARVALHO FILHO,2005). Nessas cidades percebemos, em sua base, a preocupação com a questão ambiental e consequentemente a implementação de um desenvolvimento econômico sustentável. Ví deo Palestra Leonardo Boff - "Cidade: Democracia, Sustentabilidade e Utopia. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Hji5Pd BJiPw. 3.2 Bases para a criação de uma cidade sustentável Para se pensar em cidades sustentáveis, devemos pensar muito mais do que somente nas questões ambientais, temos que ter uma abordagem que dê conta de toda a complexidade da temática, assim a gestão dessas cidades deve contemplar alguns itens que servem como direcionadores. Nesse sentido, podemos identificar alguns pressupostos que devem ser seguidos; Governança: a ideia de uma cidade sustentável só é possível a partir do momento que se institui uma gestão municipal baseada em um novo modelo em que a transparência das ações permeiam o Estado e a sociedade de forma colaborativa. Esse processo se refere fundamentalmente à introdução dos preceitos de governança que já vem sendo aplicada na nova gestão pública. Bens naturais comuns: ponto que deve ser observado é que quando falamos de sustentabilidade às cidades, a gestão deve contemplar também uma visão ambiental onde a preservação seja parte dos programas e projetos municipais; 23 Equidade, Justiça Social e Cultura de Paz: da mesma forma que a questão ambiental, uma cidade sustentável deve ter como base a justiça social que se dá por meio de estratégias de atendimento e inclusão social; Gestão Local para a Sustentabilidade: as cidades sustentáveis vêm sendo desenvolvidas a partir de um processo de gestão local diferenciado onde tenha um foco eficiente a partir do planejamento, execução e avaliação. A eficiência da gestão local é importante a medida em que ela permitirá a longevidade das ações implementadas por esta gestão. Planejamento e Desenho Urbano: a partir do momento em que a sustentabilidade já não é vista somente sob o aspecto ambiental e se contemplam questões sociais econômicas e culturais, o planejamento urbano pode equacionar por meio da criação de um desenho que contemple espaços que permitem o desenvolvimento e interfaces culturais, sociais e econômicas; Cultura para a sustentabilidade: um dos aspectos da sustentabilidade que normalmente não é muito trabalhado, mas que é essencial para a continuidade das nações é a questão cultural, em que incluímos ações que consigam preservar as representações simbólicas de cada região em todos os formatos possíveis; Educação para a Sustentabilidade e Qualidade de Vida: no que se refere à criação de uma consciência, quanto à sustentabilidade, esse trabalho deve ser realizado desde cedo, na infância, assim ter um planejamento pedagógico que esteja atrelado aos pressupostos da sustentabilidade é algo fundamental e base para a sustentabilidade; Economia Local, Dinâmica, Criativa e Sustentável: a sustentabilidade está relacionada à dinâmica e o desenvolvimento local que cada vez mais tem acontecido a partir da criação de negócios com base nas especificidades regionais, como cultura e vocações regionais. Utilizar esse enfoque como estratégia vai ao encontro da sustentabilidade; Consumo Responsável e Opções de Estilo de Vida: um dos principais vilões em relação à sustentabilidade é o consumo desenfreado existente na maioria das cidades atuais. Por meio de projetos que incentivem o consumo responsável e racional, pode significar um avanço na sustentabilidade urbana. Melhor Mobilidade, menos tráfego: a sustentabilidade está amarrada a um novo modelo de vida em que se busca consumir menos recursos do ambiente 24 e nesse sentido a criação de estratégias e estrutura de mobilidade sustentável acaba sendo um caminho para a sustentabilidade; Ação Local para a Saúde: a mudança de conduta permeia todas as áreas inclusive áreas que não estão convencionalmente ligadas à sustentabilidade como a saúde. Nesse caso o preceito de prevenção que é um dos motes, estratégias de promoção de saúde, além de mais baratas, são extremamente eficazes e sustentáveis; Do Local para o Global: o processo de globalização é um fato, então é necessário um comprometimento das ações a partir da percepção de seus impactos. Isso está relacionado à gestão local, pois esta deve ser crítica no sentido de preservar a localidade sem dissociá-la totalmente do contexto globalizado; Planejando Cidades do Futuro: o planejamento é uma das chaves para um futuro sustentável, pois é por meio dele que podemos efetivamente garantir um futuro melhor para as novas gerações. A busca por um mundo onde o desenvolvimento esteja diretamente relacionado à sustentabilidade perpassa pelo amadurecimento da sociedade como um todo e esse amadurecimento se dá principalmente pelo processo de inserção de ações sustentáveis no dia a dia. Nesse sentido podemos perceber uma série de iniciativas em algumas cidades que começam a incluir a sustentabilidade em seus projetos e no dia a dia das pessoas. Essas iniciativas muitas vezes simples, além de atenderem as necessidades de cada projeto, ainda conseguem melhorar o meio ambiente em direção a sustentabilidade. Resumo da aula Nesta aula foi abordado as bases para uma cidade sustentável e como se dá o processo dentro de cada uma delas. Atividade de Aprendizagem 1. Responda em no máximo dez linhas: qual a importância do desenvolvimento de ações de cunho cultural e urbanístico para a sustentabilidade das cidades? 25 Aula 4 - Terceiro setor e a questão da sustentabilidade Apresentação da aula 4 Nesta aula será analisada especificamente a contribuição do terceiro setor no processo de conscientização dos conceitos de sustentabilidade. Em primeiro lugar, serão abordados o conceito e o papel atribuído do terceiro setor, bem como os tipos de instituições que pertencem a este setor, depois será estudada a atuação do terceiro setor na área de sustentabilidade. 4.1 Conceito de terceiro setor Quando se fala em terceiro setor, de maneira simples, estamos nos referindo ao segmento de instituições que não buscam resultados financeiros com suas atividades. Essa nomenclatura começa a aparecer no Brasil no nosso dia a dia a partir da década de 90 e podem ser definidas como “as figuras jurídicas que apresentam características de entidades sem fins lucrativos que são as associações e fundações privadas” (RAMPASO,2010, p. 18). Ainda nesse sentido, percebe-se que no terceiro setor estão agrupadas “todas as organizações privadas sem fins lucrativos e que visam à produção de um bem coletivo. ” (COELHO,2002, p. 58). De maneira geral, essas instituições possuem as seguintes características: Institucionalizadas: constituídas legalmente; Privadas: não integrantes do aparelho do Estado; de fins não lucrativos: não distribuem lucros para seus administradores ou dirigentes; Autoadministradas: gerenciam suas próprias atividades; Voluntárias: podem ser constituídas livremente por qualquer pessoa ou grupo de pessoas. (RAMPASO, 2010, p. 20). Fazendo uma leitura sociológica, podemos entender o terceiro setor como: uma nova esfera pública, não necessariamente governamental, constituída de iniciativas privadas em benefício do interesse comum, compreendendo um conjunto de ações particulares com o foco no bem-estar público. (CARDOSO, apud NETO(2001, p. 8). 26 Sendo que este “espaço institucional que abriga ações de caráter privado, associativo e voluntarista voltadas para a geração de bens de consumo coletivo, sem que haja qualquer tipo de apropriação particular de excedentes econômicos gerados nesse processo” (LIMA; MURARO, 2003, apud, NETO; FROES, 2001, p. 9). No âmbito do terceiro setor encontramos diferentes tipos de instituições como podemos ver na tabela 1. Tipo de instituição Descrição ONG - Organização Não Governamental As ONGs são entidades que não possuem fins lucrativos e realizam diversos tipos de ações solidárias para públicos específicos, como crianças, idosos, animais, meio ambiente etc. O termo é de origem norte-americana, Third Sector, muito utilizado nos Estados Unidos, e o Brasil vale-se da mesma classificação. Tais entidades da sociedade civil originaram-se na década de 30, sendo a maioria ligada ao Estado com finalidade pública sem fins lucrativos (SEBRAE, 2014, P. 7) OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OSCIP é uma qualificação jurídica dada a pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa de particulares, para desempenhar serviços sociais não exclusivos do Estado com incentivo e fiscalização do Poder Público, mediante vínculo jurídico instituído por meio de termo de parceria (SEBRAE, 2014, P. 7). OS - Organização Social Organização Social (OS) é uma qualificação que pode ser concedida pelo Poder Executivo às entidades privadas – pessoas jurídicas de direito privado – sem fins lucrativos, destinadas ao exercício de atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura ou à saúde, conforme estabelecido na Lei n.o 9.637 de 1998. A lei estabelece que, obrigatoriamente, uma OS deva possuir determinadas porcentagens de representantes tanto do Poder Público como também da sociedade civil, na composição do seu Conselho de Administração. Para o estabelecimento de parcerias, entre o Poder Público e a Organização Social, a Lei n.o 9.637 criou um instrumento específico denominado Contrato de Gestão (Bancobrás, 2018) 27 Fonte: SEBRAE (2014); http://www.institutobancorbras.org.br/posts/dica/336-definicoes-de- ong---os---osc---oscip Apesar da nomenclatura distinta, é importante deixarmos claro que todas elas trabalham com um mesmo propósito, ou seja, buscam o bem comum. Segundo Rampaso, (2010, p. 21) “as associações, integram o Terceiro Setor aquelas que perseguem o bem comum e, portanto, atuam no âmbito social, no sentido de coletivo, público”. De fato, todo o terceiro setor tem em sua essência a responsabilidade social. De início, a área do terceiro setor estava diretamente associada às questões sociais mais diretas e emergentes, entretanto percebemos que as instituições estão se envolvendo com as mais variadas áreas, sempre mantendo o foco do bem social. Nesse sentido, Nobre (2004, p. 9) afirma que: O próprio Terceiro Setor começa a se ampliar para além do círculo das ONGs, valorizando outros serviços como a filantropia empresarial, as associações beneficentes e recreativas, as iniciativas das igrejas e o trabalho voluntário. A afirmação deste novo perfil participante e responsável da sociedade brasileira se traduz na busca de novas formas de articulação entre organizações do Terceiro Setor, órgãos governamentais e empresas. 4.2 Papel do Terceiro setor Para entender a importância do advento do terceiro setor em nossa sociedade e consequentemente fazermos a correlação deste como a OSC – Organização da sociedade civil É considerada Organização da Sociedade Civil (OSC) toda e qualquer instituição que desenvolva projetos sociais com finalidade pública. Tais organizações também são classificadas como instituições do Terceiro Setor, uma vez que não têm fins econômicos. Esta expressão foi adotada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no início da década de 90 e significa a mesma coisa que ONG – termo que se tornou mais conhecido devido ao fato de ser utilizado pela ONU e pelo Banco Mundial. Essa ideia fomentou o exercício da cidadania de forma mais direta e autônoma, na medida em que a sociedade civil abriu um espaço maior de participação nas causas coletivas. Em termos jurídicos, segundo a legislação brasileira, o termo não é reconhecido. 28 sustentabilidade, é importante destacar o papel que vem sendo atribuído a esse setor. No contexto da nova gestão pública em que o governo passa a atuar de maneira descentralizada e deste modo começa a conduzir o atendimento às demandas da sociedade por meio de instituições privadas, percebemos que é fundamental a sociedade civil se organizar para exercer uma efetiva participação social e conseguir realizar o controle social demandado por este novo cenário. Analisando esse cenário, o terceiro setor tem um papel fundamental a partir do momento em que ele, por meio de suas diversas instituições, acaba por atuar principalmente em áreas que o processo de descentralização da gestão pública não interessa às organizações privadas. Nesse sentido, o terceiro setor acaba por atuar fundamentalmente em seguimentos de cunho social baseados nos direitos fundamentais dos cidadãos, a saber: todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1998). Direitos fundamentais: Fonte: Adaptado de Brasil(1988) Direito à vida Direito à liberdade Direito à igualdade Direito à segurança Direito à propriedade 29 Nesse sentido, nota-se que o terceiro setor: Busca acima de tudo o resgate de valores fundamentais à formação do cidadão. Além das necessidades básicas de subsistência (alimentação, saúde, higiene, segurança), o ser humano precisa se inserir na sociedade, não só fazendo parte de maneira passiva, mas conectado e integrado com tudo o que acontece à sua volta, para que haja uma interação e para que ele contribua para a melhoria da sociedade e vice-versa. (PARENTE, 2008, p. 128). Essa visão pode ser validada quando avaliamos a concentração de atividades do terceiro setor. Na figura abaixo pode-se perceber que 40,6% das atividades do terceiro setor estão relacionadas à defesa dos direitos dos cidadãos. Fonte: IBGE (2012) Assim fica fácil perceber a importância do terceiro setor para que sociedade se torne cada vez mais igualitária e para que os direitos adquiridos constitucionalmente sejam devidamente respeitados. 4.3 Terceiro setor e sustentabilidade Atualmente, quando se fala de sustentabilidade, já não se refere somente à área ambiental, tal conceito se permeia por toda a sociedade envolvendo questões sociais e culturais. A base desse raciocínio está no conceito do Tripé da sustentabilidade ou Triple Bottle Line, que afirma que a sustentabilidade é formada pelo cruzamento de três grandes blocos, o: 30 Fonte: elaborado pelo autor 2018 Segundo Barbosa (2007) apud Mascarenhas, Silva (2013, p.65) “Os componentes fundamentais para o desenvolvimento sustentável consistem em crescimento econômico, proteção ao meio ambiente e igualdade social”. Assim fica fácil perceber a relação do terceiro setor com a sustentabilidade já que este está diretamente relacionado com a questão da igualdade social e indiretamente relacionado com o crescimento econômico. Essa percepção fica mais fácil quando analisamos a tabela 2 que nos mostra algumas variáveis que impactam cada uma dessas dimensões. Ambiental Social Econômica Energia Água Gases do efeito estufa Emissões Redução de desperdício/lixo Reciclagem Reprocessamento/reuso Limpeza verde Agricultura/alimentos orgânicos Biodiversidade Políticas públicas Investimento comunitário Condições de trabalho Saúde e nutrição Diversidade Direitos humanos Investimentos social responsável Anticorrupção e suborno segurança Transparência contábil Governança coorporativa Performance econômica Objetivos financeiros Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Sustetabilidade Social EconômicoAmbiental 31 Resumo da aula O advento do terceiro setor em nossa sociedade pode ser entendido como um avanço na dinâmica social brasileira, já que o foco dessas instituições é justamente a área social. Essas instituições vêm preenchendo a lacuna que os cenários capitalistas não conseguem suprir. Com a evolução do terceiro setor, percebemos que as organizações que pertencem a esse segmento começam a permear as mais diferentes áreas, e hoje tem um papel bastante significativo na área de sustentabilidade já que a grande maioria das organizações trabalham com uma abordagem de conscientização. Atividade de Aprendizagem O terceiro setor vem sendo frequentemente atrelado a questões sociais. Explique, em no máximo 10 linhas, qual a relação entre essas questões e à sustentabilidade? 32 Resumo da disciplina O conceito de sustentabilidade não é novo e vem sendo divulgado em nossa sociedade de forma mais incisiva desde a década de 80. Hoje já existe um consenso da necessidade de se pensar em meios de garantir a sustentabilidade. Assim como vimos, hoje a gestão pública, em âmbito global, está empenhada em criar estratégias que tenham como premissa os fundamentos da sustentabilidade. Como consequência, vemos cada vez mais o alinhamento do planejamento urbano com os conceitos da sustentabilidade, o que culmina no surgimento de cidades sustentáveis. As cidades sustentáveis consistem em lugares que além da consideração de aspectos ambientais em seu planejamento, entendem a necessidade de uma abordagem sistêmica da sustentabilidade, contemplando ações nas áreas sociais, econômicas e culturais. Para tal, se pressupõe um novo modelo de gestão. Dentro desse novo modelo de gestão, percebemos cada vez mais a participação da sociedade civil organizada por meio do terceiro setor, cujo papel vai diretamente ao encontro da essência da sustentabilidade. 33 Referências ASCELRAD Henri. 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