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A FUNÇÃO DA ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DE VALORES SOCIOMORAIS Caro(a) aluno(a), A Universidade Candido Mendes (UCAM), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construto melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Universidade Candido Mendes (UCAM). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 SUMÁRIO UNIDADE I - CONSTRUÇÃO DE VALORES NA ESCOLA .................................................5 A CONSTRUÇÃO DOS VALORES NO AMBIENTE ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO ......................................................................................................................................................5 UNIDADE II - ESCOLA E CIDADANIA .................................................................................16 DIREITOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO, UM PILAR PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA E A CONCRETIZAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ...........16 UNIDADE III - VALORES NA ESCOLA ................................................................................27 UNIDADE IV - EDUCAÇÃO E VALORES MORAIS ...........................................................39 EDUCAÇÃO MORAL HOJE: CENÁRIOS, PERSPECTIVAS E PERPLEXIDADES ..........39 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 4 APRESENTAÇÃO Ressalto que este é um material básico, especialmente preparado para lhe oferecer uma visão ampliada do conteúdo da disciplina “Função da escola na construção de valores sociomorais”. Assim, outras fontes deverão ser consultadas a fim de um melhor suporte das ideias aqui contidas e aproveitamento do curso. Em hipótese alguma ele deve ser o seu único material de estudo. Durante o texto, são colocadas referências para leituras adicionais com as quais será possível o aprofundamento, a verticalização e a construção de um olhar diferenciado sobre a temática. A reflexão sobre “Função da escola na construção de valores sócio morais” exige bastante dedicação a fim de que conexões sejam estabelecidas entre as diversas áreas do conhecimento que estão envolvidas nessa temática tão importante e atual. Boa trajetória de estudos! Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 5 UNIDADE I - CONSTRUÇÃO DE VALORES NA ESCOLA http://www.google.com.br/imgres?q=constru%C3%A7%C3%A3o+de+valores+na+esc A CONSTRUÇÃO DOS VALORES NO AMBIENTE ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO1 Márcia Spíndola & Silvia Helena Mousinho EAD/UERJ 1. Introdução A educação e o ensino, sob uma visão cartesiana, não preparam o educando de hoje para a vida em sua plenitude. Fica claro que o nosso papel vem sofrendo transformações significativas, já não é o bastante ter frequentado a universidade e aprofundado os estudos em uma dada disciplina para lecioná-la. Vivemos em um mundo globalizado e fazemos parte de uma sociedade altamente complexa, de tendências ideológicas neoliberais, cuja tônica é a conjugação do verbo “ter”. Nos dias de hoje, o exercício da cidadania acaba se reduzindo apenas à realização de um trabalho profissional com o objetivo de ganhar a vida. Para a economista Hazel Henderson, “priorizando esse propósito, estamos glorificando algumas de nossas predisposições humanas 1 Revista EAD em Foco - nº 1 - vol.1 - Rio de Janeiro - abril/outubro 2010. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 menos louváveis: cobiça material, competitividade, orgulho, egoísmo e ganância” (in CAPRA, 1995, p. 193). Com muita propriedade, Erich Fromm nos aponta que “a falta de discernimento entre o senso de ser e a possibilidade de ter, nos torna suscetíveis à manipulação de nossos desejos e do sentido profundo de nossas vidas” (1986, p. 25). A realidade nos aponta a necessidade de ampliar o nosso fazer profissional e a sensibilidade muito nos ajuda nesse sentido. A educação do futuro, para o pensador Edgar Morin, deve ter como prioridade “ensinar a condição humana, onde o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico” (2003, p. 15). É no ambiente escolar, através das vivências cotidianas nesse microcosmo que o aluno incorporará princípios básicos de justiça, tolerância, solidariedade, amor e respeito pelos direitos e deveres e, futuramente, reproduzirá essas posturas na sociedade e no mundo em que vive. Se quisermos educar para a compreensão humana, teremos de educar em valores, em convicções e em atitudes. E o professor tem um papel crucial nessa formação. 2. A construção dos valores Segundo Gadotti (2004), para “ser professor hoje é preciso viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade” (p. 4). A educação deve ser concebida como um processo de aprendizado e emancipação para que a construção do conhecimento integre todas as dimensões do ser humano: corpo/mente/sentimento. Mas, geralmente, a escola ainda valoriza a capacidade cognitiva acima das outras qualidades humanas, embora saibamos que a inteligência, isoladamente, não constitui o valor de um homem. O homem faz uso do discurso para dizer o que pensa, mas é através de suas ações que ele revela o que sente. Portanto, se pretendemos trabalhar com valores morais, não é no nível do intelecto que o professor deve atuar, mas no nível dos sentimentos e das emoções. Porém não existe uma atividade específica para isso. Trata-se de uma questão de atitude, uma atenção constante que permeia todas as disciplinas, valoriza todos os momentos – a hora do recreio, a hora do bate-papo, a vida escolar em sua plenitude. Em síntese, como sensibilizar o nosso aluno para as questões éticas e humanísticas? Sabemos que não é através de livros ou discursos. No máximo, eles vão aprender a repetir o que Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 7 leram e tirar boas notas na prova. Por acaso haverá prova de valor moral? No cotidiano do ambiente escolar, pequenos conflitos interpessoais apontam a importância e a necessidade da existência de regras que visem à garantia do convívio social. Nessas ocorrências cotidianas, dependendo da forma como o professor lida com a situaçãoe a sua concepção de disciplina e educação, os conflitos, naturais em qualquer relação, são vistos como uma oportunidade para trabalhar valores e regras. A construção dos valores morais tem início, desde a mais tenra idade, quando a criança começa a interagir com os mais diversos ambientes sociais. A partir da relação familiar, as interações sociais com os seus colegas e com os profissionais envolvidos na comunidade escolar contribuirão para o desenvolvimento e a formação da personalidade do indivíduo que expressará de acordo com a construção de sua tábua de valores o seu senso moral e a sua consciência moral através de suas ações. Para educar em direção à consciência moral autônoma, Piaget faz considerações sobre a importância de educar em valores. Em sua obra, O juízo moral na criança, ele estuda o processo de construção da moralidade na criança, mostrando que enquanto ela organiza o pensamento e o julgamento, podemos observar três estágios de desenvolvimento e as atitudes dominantes de acordo com a idade. Segundo Piaget, a criança passa por uma fase pré-moral, caracterizada pela anomia (A: negação; nomia: regra, lei), coincidindo com o “egocentrismo” infantil e que vai até, aproximadamente, 4 ou 5 anos de idade. No período sensório-motor, não existem regras, são as necessidades básicas que determinam as normas de conduta. Quando a criança atinge 7 ou 8 anos de idade, tem início a fase da moralidade heterônoma, caracterizada pelo comportamento de submissão às regras e aos deveres impostos coercitivamente. Nesse período, ela compreende as regras como sagradas porque quem as informa é o adulto, cuja superioridade é para ela inquestionável e inatingível. Na relação estabelecida entre a criança e os adultos, particularmente, os pais, nasce a obediência por medo da punição. A noção de responsabilidade pelos atos é avaliada de acordo com as consequências objetivas das ações, e não pelas intenções. A relação estabelecida entre a criança e os mais velhos é o protótipo das relações coativas. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 8 Em torno de 11 ou 12 anos, a criança é capaz de avaliações morais pessoais e, em certos casos, ela entra em conflito com os sentimentos da moral heterônoma da obediência por perceber que mudar uma regra deixa de ser uma transgressão. Nesse momento, tem início o processo de passagem da moral heterônoma para a moral autônoma. Para Piaget (1933/1977), a personalidade autônoma é o produto mais refinado da socialização (p. 245) porque é somente em uma relação de respeito mútuo entre personalidades autônomas que é possível, simultaneamente, a diversidade e a igualdade. Mas, da mesma forma que nem todo indivíduo atinge o pensamento formal, nem todos chegam a formar uma personalidade autônoma; pelo contrário, “a consciência adulta autônoma é um produto social recente e excepcional” (PIAGET, 1944/1977, p. 186). Piaget também chama a atenção para o fato de que sem que se estabeleçam trocas do sujeito com o meio não há nem conhecimento nem ética possíveis. E que o desenvolvimento intelectual, isto é, a possibilidade de raciocínio lógico, a relação de respeito mútuo com o outro e a constituição de uma tábua de valores são condições necessárias para a conduta moral e ética. Na moralidade autônoma (autonomia: capacidade de governar a si mesmo), o indivíduo adquire a consciência moral, e os deveres são cumpridos com o reconhecimento de sua necessidade e significação. Na ausência da autoridade continua o mesmo, segue um código de ética interno, fiel a seus valores e a seus princípios. A responsabilidade é subjetiva, baseada na intencionalidade do ato, ou seja, é aquela em que o indivíduo atinge seus objetivos através de uma intenção deliberada. Sob uma perspectiva holística, podemos observar que os valores, ao mesmo tempo que estão relacionados intimamente à formação do indivíduo, também são eleitos e emergentes da cultura e/ou da sociedade a que cada indivíduo pertence (GRINSPUN, 1999). Para que um professor possa ser um educador em valores, é condição essencial ser ele mesmo um exemplo de tudo o que transmite através de suas ações e de sua postura. Pierre Weil (1993) nos desafia com suas reflexões a esse respeito quando afirma que: em sua formação também seria importante cultivar nos educadores uma disposição para trabalhar suas essências. Além disso, que eles sejam suficientemente lúcidos para viver a arte da atenção em si mesmos e serem honestos para mostrar como são para si próprios. Desejamos ainda que esses educadores Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 9 sejam levados a apresentar frequentemente atitudes e comportamentos ligados aos valores humanos: verdade, beleza e amor (p. 41). A educação tem tido um papel de socialização do conhecimento, da cultura e dos valores em todas as sociedades e em todos os tempos. O comportamento humano e o posicionamento de cada indivíduo frente aos valores e princípios, em um determinado momento de sua vida, não têm um caráter definitivo. Segundo Arruda (1998), os valores são num primeiro momento herdados por nós. Para construir a sua própria escala de valores, a criança ou o adolescente precisa do referencial do mundo adulto. Não nos cabe aqui um aprofundamento sobre o conceito filosófico do que se entende por valor. O que pretendemos é focalizar a nossa atenção para a necessidade de uma educação que eduque, também, em valores que estruturam as relações interpessoais e intrapessoais. Sendo assim, em uma perspectiva psicossocial, Novikoff (2002) faz uso da seguinte classificação dos valores básicos, essenciais para a convivência humana em sociedade: • Valores pessoais: inclui as representações qualitativas sobre as pessoas, incluindo as questões éticas. • Valores econômicos: refletem os objetos materiais ligados ao consumo/utilidade. • Valores espirituais: apontam os valores estéticos e os religiosos. Os valores estão referendados aí pelo senso moral e pela consciência moral – justiça, solidariedade, generosidade, integridade, honestidade e outros. os valores provam ainda sentimentos de vergonha, culpa, admiração, amor, dúvida, contentamento, cólera, medo, que interferem em nossas decisões nos levando a ações que atingirão a nós mesmos e aos outros. Marilena Chauí (1999) com sensibilidade esclarece que (...) os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes conosco mesmo, seja por recebermos a aprovação dos outros. Portanto, o senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidas ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade (p. 335). Os valores apontados devem atravessar os limites disciplinares e permear o cotidiano do aluno. Considerando que alguns conceitos são demasiadamente abstratos, é fundamental estimular através de dinâmicas e experiências concretas a vivência de situações que favoreçam o Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 10 processo de identidade pessoal, pois, assim, podemos identificar que valores estão sendo privilegiados naquela circunstância. As ciências do comportamento contribuem, significativamente, para uma melhor compreensão do desenvolvimento da moralidade na criança e no adolescente e de como se dá o processo da legitimação dos valores e das regras morais. Quando estamos diante de uma decisão a tomar, as nossasdúvidas manifestam não só o nosso senso moral, mas colocam à prova a nossa consciência moral, pois exigem que façamos uma escolha, que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas opções e que assumamos todas as consequências decorrentes de nossos atos. Portanto, a consciência moral é o resultado operativo de nosso senso moral (CHAUÍ, 2000). Sabemos que uma pessoa capaz de agir eticamente nem sempre de fato o faz. Assim como uma pessoa capaz de raciocinar logicamente nem sempre pensa de acordo com as normas lógicas. Piaget deixou intocado o mistério de por que mesmo uma pessoa que tenha as condições necessárias para a ação moral nem sempre age eticamente (FREITAS,1999). Na verdade, não é possível definir precisamente de que modo uma pessoa chega a legitimar determinadas normas de comportamento e conduzir-se de acordo com elas de maneira coerente. Sabemos que um conjunto de processos conscientes e inconscientes, ao longo de toda a vida, forma o nosso perfil individual. O modo como se dão o ensino e a aprendizagem, isto é, as opções didáticas, os métodos, a organização e o âmbito das atividades, a organização do tempo e do espaço na prática educativa, ensina valores, atitudes e conceitos. E a escola deve ser o lugar onde cada aluno reconheça que os valores e as regras são coerentes e passíveis de uma identidade pessoal ante a perspectiva de uma vida plena e feliz. 3. Um estudo de caso Partindo da concepção de que os valores estão presentes nas opções individuais e são referendados em todos os âmbitos da vida no cotidiano nas dimensões social, histórica, cultural, afetiva, política, econômica, cabe aqui indagar: qual é o papel da escola como referencial para o aluno na construção de sua escala de valores? Como estabelecer ações e estratégias para consolidar essa formação no momento atual? Que valores queremos transmitir em nossas Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 11 escolas? E estes valores estariam relacionados somente ao ambiente escolar? De que forma podemos criar um espaço sistemático de discussão sobre valores no ambiente escolar com a participação da comunidade escolar? Vamos focalizar um caso que permeia o nosso cotidiano profissional e nos coloca à prova ante essas indagações. Durante a aula, um aluno visivelmente maior agride um colega pelo fato de o mesmo ter usado o seu estojo de canetas sem autorização. O professor intercede e pede que, ao término da aula, ambos o aguardem na coordenação. Qual seria o procedimento mais adequado diante dessa situação? Afastando situações atípicas, os conflitos mais comuns no ambiente escolar, são: agressão física entre os alunos, rejeição por parte dos colegas ou dos professores (proibição de participação) e conflitos verbais (ofensas, provocações). Na escola tradicional, as desavenças e os atritos entre as crianças são tratados como problemas a serem extintos a qualquer custo. É importante ressaltar que, na maioria das vezes, os conflitos são vistos como nocivos e negativos. Piaget concebe os conflitos interpessoal e intrapessoal como necessários ao desenvolvimento porque através do processo de desequilibração o sujeito é motivado a buscar uma nova ordem interna. Os cursos de formação de profissionais em educação não preparam o futuro profissional para lidar com os conflitos que ocorrem nas instituições de educação. Para que o comportamento se enquadre no modelo que prioriza a obediência, as punições e as recompensas são as práticas adotadas: proibir uma atividade que dá prazer ao aluno, tirar ponto, suspender, fazer sermão, ameaçar etc. Nesse ambiente, as relações coercitivas se expressam através da valorização do poder hierarquizado, o que pressupõe uma educação que alimenta as atitudes interiores que predispõem o indivíduo na fase heterônoma, tais como medo, imposição, autoritarismo, castigo, prêmio, respeito unilateral, tirania. Consequentemente, contrariando o princípio democrático da liberdade, o máximo que se consegue é que as pessoas tenham comportamentos adequados (grifo nosso) quando estão sob controle, o que é essencialmente diferente se queremos educar para a autonomia. Se a professora se dirige ao agressor perguntando o porquê de ele ter agredido o colega, se ele gostaria que fosse com ele, e sugere um pedido de desculpas, embora a intenção seja cabível e louvável, a intervenção da professora elimina a possibilidade de o menino (agredido) se expressar e aprender a falar por si próprio sobre o que o incomodou perante o agressor. Essa é Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 12 uma questão corriqueira no dia a dia das crianças nas escolas, e cabe chamar a atenção para o fato de que, na busca de sua própria defesa, a criança é estimulada a fazer uso de suas próprias palavras e a participar da resolução do problema. A professora, em vez de resolver com autoridade a situação, pode contribuir para que ambos reflitam sobre o caso, atenta aos sentimentos que eles estão expressando naquele instante. Essa pode ser uma oportunidade para reconhecer as tendências de reação das crianças e o momento pode ser favorável à valorização do respeito pelo outro. A professora poderá ainda intervir explicitando o problema, ajudando-os a perceber a importância de controlar os impulsos de raiva e que a agressão física não é a melhor maneira de resolver as dificuldades com os colegas. Cabe também à professora chamar a atenção para o abuso da superioridade física, apontando para um possível ato de covardia. Nessa situação e em inúmeras outras similares, percebemos que a orientação de um professor habilidoso é capaz de promover um ambiente, em sala de aula, de cooperação e afetividade de democracia e de interação com os alunos, propiciando a troca de ideias e opiniões, o exercício da argumentação, a análise e proposta de soluções etc. Portanto, o modo como os conflitos sociomorais são resolvidos em sala de aula torna-se um excelente aliado para se trabalhar regras, princípios e valores. Não visando apenas à resolução do conflito, a conduta da professora é um procedimento mais coerente com a construção da autonomia. Como afirma Menin (1996, p. 61), “quer queiram ou não, todas as escolas atuam na formação moral de seus alunos; no entanto, nem todas o fazem na direção da autonomia”. As professoras Montserrat Moreno e Genoveva Sastre (2002) apontam que é fundamental que o professor desafie os alunos na direção da resolução dos conflitos a fim de conduzi-los permanentemente a: • buscar soluções próprias; • analisar as soluções apresentadas, antecipando suas consequências e observando se estas levam ao resultado esperado; • investigar as relações entre as causas e os conflitos apresentados; • considerar o que é uma boa solução para um determinado conflito; • pensar que as soluções para os conflitos devem ser justas, caso contrário, podem acarretar mais conflitos. É de suma importância reconhecer que a escolha da conduta mais adequada Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 13 perpassa pela qualidade da relação professor/aluno constituída. Nessa relação estão implícitos, por exemplo, o papel do professor como referencial para o aluno na construção de seus princípios éticos e morais, a sensibilização do aluno para as questões éticas e humanísticas, a educação em atitude e em direção à autonomia etc. 4. Considerações finais Apesar de a realidade escolar evidenciar a necessidade de educar para a resolução de conflitos sociomorais, as instituições responsáveis pela formaçãodos professores não investem em seus programas curriculares nessa modalidade de conhecimento. Consequentemente, a educação nas dimensões moral e ética é legada ao improviso e ao acaso. As práticas pedagógicas que auxiliam no desenvolvimento da moralidade devem ser constituídas desde atividades de rotina na sala de aula até a seleção de conteúdos que promovam esse desenvolvimento. Portanto, ao se trabalhar com a construção de valores, assim como nos demais conhecimentos, “a realização dos objetivos propostos implica necessariamente que sejam desde sempre praticados, pois não se desenvolve uma capacidade sem exercê-la” (BRASIL, 1997, p. 94). A educação, quando concebida como um processo de aprendizado ao longo de nossa existência, rompe as fronteiras demarcadas pela disciplinarização. Uma aula de qualquer disciplina pode e deve ter abertura para tomar qualquer direção, atravessando diferentes campos de conhecimento sem a identificação com apenas um deles. Essa interdependência leva à imprevisibilidade que desmitifica a obrigatoriedade de seguir apenas por caminhos predefinidos. É no espaço sagrado de nossa sala de aula que enveredamos magicamente por todos os caminhos imagináveis e inimagináveis que a mente humana pode alcançar. Essa experiência ímpar e enriquecedora cria condições favoráveis para que se estabeleçam diálogos abertos e os alunos experimentem a liberdade de opinar e expressar suas ideias com autoconfiança. Uma educação com tais características é o que verdadeiramente podemos chamar de educação conscientizadora e transformadora. O maior desafio para nós, profissionais de educação, é articular um trabalho nas diferentes áreas de conhecimento que encaminhe a prática Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 14 educativa objetivando reflexões sobre os princípios que fundamentam os valores. E que, ao longo desse processo, na conquista de sua autonomia, o aluno perceba que cabe a ele tomar decisões diante de situações que comprometam a sua qualidade de vida e a sua sobrevivência. Embora a família e outras instituições sociais veiculem valores e desempenhem um papel significativo no desenvolvimento moral e na formação de atitudes do aluno, a escola é o lugar onde esses valores são pensados, refletidos e dialogados. No atual contexto da globalização, a sociedade exige cada vez mais indivíduos dotados de poder de decisão e iniciativa. A fragilidade dos laços familiares e sociais compromete o processo de individuação do jovem e do adolescente cujas dificuldades emocionais são marcadamente difusas. O ato de aprender pressupõe uma relação com outra pessoa, a que ensina. É essencial que o professor esteja atento às transformações pelas quais está passando a estruturação emocional do adolescente de hoje. A liberação dos usos e costumes, assim como a diminuição das barreiras e proibições entre as gerações, é causadora de sérios problemas de estruturação psíquica durante a adolescência. Sob a perspectiva psicanalítica, a relação que se estabelece entre o professor e seu aluno é que determina as condições para aprender, sejam quais forem os conteúdos. É necessária uma atuação do professor para que o aluno atribua um sentido especial à sua figura e seja estimulado no seu desejo de saber e aprender. “A Construção dos Valores no Ambiente Escolar: um estudo de caso”, através da análise e reflexão sobre a experiência cotidiana, aponta novos caminhos ao propor um modo mais adequado e eficiente de lidar com questões que permeiam o cotidiano do professor. No dia a dia de nossa profissão são muitas as situações que vivenciamos, tanto no âmbito da relação professor/aluno quanto no universo das relações com profissionais de educação que, a exemplo do caso em estudo, se aprofundadas com aporte teórico, contribuiriam para qualificar a nossa prática profissional, estreitando e valorizando sempre a relação teoria/prática com sabedoria. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Ulisses F. O sentimento de vergonha como um regulador moral. 1998. Tese (Doutorado) – IP, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Introdução aos parâmetros Curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. CAPRA, Fritjof. Sabedoria incomum. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. FREITAS, L.B.L. Do mundo amoral à possibilidade de ação moral. Psicologia: reflexão e crítica, n. 12, p. 447-458, 1999. FREITAS, L.B.L. A moral na obra de Jean Piaget: um projeto inacabado. 1997. Tese (Doutorado) – Curso de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. FROMN, Erich. Do amor à vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar e aprender com sentido. Rio de Janeiro: Feevale, 2004. GRINSPUN, Mírian Paura S. Zippin; NOVIKOFF, Cristina. Os adolescentes e a construção dos valores. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, 1999. Projeto de Pesquisa. GRINSPUN, Mírian Paura S. Zippin. Os valores do jovem no contexto atual. Rio de Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 1999. Projeto de pesquisa. MENIN, Maria S.S. Desenvolvimento moral: refletindo com pais e professores. In: MACEDO, Lino de (Org.). Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. NOVIKOFF, Cristina. As representações sociais acerca dos adolescentes: perspectivas e práticas pedagógicas em construção. 2002. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus Editorial, 1994. 302p. SASTRE, G.; MORENO, M. Resolução de conflitos e aprendizagem emocional: gênero e transversalidade. Tradução: Ana Venite Fuzatol. São Paulo: Moderna, 2002. WEIL, P. A arte de viver em paz: uma nova consciência da paz. São Paulo: Gente, 1993. ______________________________________________________________________ Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 UNIDADE II - ESCOLA E CIDADANIA DIREITOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO, UM PILAR PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA E A CONCRETIZAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Fernanda Prince Sotero Westphal Alexsandra Pizzetti Benincá INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo é demonstrar o valor que a educação tem para o desenvolvimento do ser humano enquanto cidadão e membro de uma sociedade civil. Os direitos humanos estão intimamente relacionados com a construção da cidadania e com a garantia do princípio da dignidade da pessoa humana. Desta maneira, a consolidação do cidadão enquanto partícipe das transformações sociais se concretiza através da educação. Para cumprir com esse objetivo o artigo se divide em tópicos que tratam o tema em um contexto global. Na primeira parte busca-se demonstrar a importância da educação para o desenvolvimento da cidadania, onde se garanta os direitos humanos postulados na Constituição Federal. Em seguida define-se o conceito de direitos humanos e fundamentais, suas principais características e distinções. Ao final é demonstrado o valor que a cidadania tem para a construção de uma sociedade democrática onde são garantidos os direitos humanos e o papel que a educação desenvolve para que este objetivo seja alcançado. Direitos Humanos são, modernamente, entendidos como aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitosque não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir. O conceito de “Direitos Humanos” resultou de uma evolução do pensamento filosófico, jurídico e político da Humanidade. O retrospecto dessa evolução permite visualizar a posição que o homem desfrutou, aqui e ali, dentro da sociedade, através dos tempos. Mas a ressalva maior está no que condiz ao sistema de ensino. Este deve ter uma responsabilidade de enquadrar-se na formação do Estado Democrático, pois o sistema de ensino Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 17 deve contemplar a formação do cidadão, desenvolvendo uma visão moderna e bem fundamentada dos direitos civis, políticos e sociais, e também uma consciência mais abrangente dos direitos humanos. Ante a pergunta de como abarcar o ensino e aprendizagem dos Direitos Humanos no sistema educativo, alinham-se diversas respostas, pois por um lado estão todas aquelas que podem denominar-se de incorporação dos conteúdos. Estas consideram que é suficiente a inclusão desta temática em alguma das disciplinas existentes, ou, no máximo, o estudo de uma disciplina específica, para que os educandos logrem os objetivos que, sobre este aspecto, orientam a ação do sistema educativo. Duas objeções podem ser formuladas a esta postura. Uma delas consiste em que atrás desta posição, existe uma concepção meramente declaratória, nominalista, dos Direitos Humanos, que os reduz a um conjunto de informações cuja formulação é suficiente para assegurar sua existência real. Por outro lado, se fundamenta na difundida critica que se faz dos sistemas educativos em relação ao enciclopedismo curricular. O conjunto de temas ou disciplinas reforça este enciclopedismo e torna mais questionável a ação das instituições de ensino. Reconhecer a indivisibilidade dos Direitos Humanos e Fundamentais significa estar ciente de que a exclusão ou negação de um dos Direitos coloca em xeque a existência de todos os demais, porque cada qual tem uma função individual e compõe uma esfera do todo. Desta feita, há uma reconhecida inter-relação entre esses Direitos, que se complementam mutuamente, e conduzem a uma plenitude de vivência digna. A esfera da indivisibilidade dos Direitos Humanos e Fundamentais pressupõe o reconhecimento e o respeito ao outro, entendido como a aceitação do diferente, seja em relação a aspectos culturais, físicos, étnicos, religiosos, políticos, sociais e econômicos. Aceitar a concepção de Direitos Humanos inclui não apenas a ideia da defesa dos direitos próprios, que atendem às necessidades individuais, mas implica também o compromisso de reconhecer e defender os direitos que não aproveitam, os quais constituem o pressuposto de uma sociedade plural. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 18 1 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS, SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA As transformações ocorridas na sociedade, nos dias de hoje, apontam para um cenário em que se torna imprescindível a educação como fator para o desenvolvimento da sociedade. Desenvolvimento este configurado não somente no âmbito dos avanços tecnológicos e do mercado de trabalho, mas essencialmente para que o indivíduo, como membro de uma estrutura social possa conviver harmonicamente com os demais seres humanos. A educação na sociedade serve como estrutura intermediária e para tanto, essencial para a promoção da dignidade da pessoa humana, para a construção da cidadania e consolidação de um Estado Democrático de Direito. O conhecimento adquirido nas escolas é uma ferramenta que liga a realidade do ser humano a seu crescimento como cidadão. Assim: A educação, no entanto, não constitui a cidadania. Ela dissemina os instrumentos básicos para o exercício da cidadania. Para que o cidadão possa atuar no sindicato, no partido político etc., é necessário que ele tenha acesso à formação educacional, ao mundo das letras e domínio do saber sistematizado. Em consequência disso a formação do cidadão passa necessariamente pela educação escolar (SANTOS, 2001, p. 65). A educação deve ser tratada como um processo de humanização do sujeito, que contribua na construção de políticas que efetivem melhorias da condição humana. Ao assegurar a qualidade educacional no País, busca-se promover o crescimento da sociedade e a redução das desigualdades. Cabe ao Estado desenvolver condições para a promoção dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Sobremaneira o acesso à educação para promover a construção cultural da democracia. Desta forma: A educação democrática assume assim uma enorme dimensão, que não se restringe a programas educacionais fragmentados, mas alcança a formação de um homem capaz de pensar e transformar o próprio mundo em que vive. Requer uma sociedade democratizada, requer políticas públicas de valorização do processo educacional, do profissional da educação, da permanência do aluno na escola e da qualidade do ensino ministrado. (RUTKOSKI, 2006, p. 365). A Magna Carta, em seu Capítulo III ao tratar da educação reforça a prioridade que o Estado deve dar para este tema, objetivando a construção de um cidadão como agente transformador da sociedade. Assim, consta no art. 205 da Constituição Brasileira que: Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 19 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2007, p. 93). Desta mesma maneira cita o art. 6º da Constituição Federal de 1998 que: São direitos sociais a educação, a saúde, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 2007, p. 19). Os direitos sociais traduzem-se em uma obrigação de fazer do Estado em relação aos seus governados, são prestações positivas no sentido de oportunizar aos cidadãos garantias que tenham por objetivo a redução das desigualdades sociais. O Plano Nacional de Educação já cita que a educação se impõe como condição fundamental para o desenvolvimento do País. A qualificação das instituições faz-se necessária para que estas desempenhem sua missão educacional, institucional e pública na sociedade. A educação superior tem grande importância especialmente no que se refere ao desenvolvimento humano e na concretização de um Estado independente e desenvolvido. Entre seus objetivos pode-se destacar a busca em “[...] estabelecer uma política de expansão que diminua as desigualdades de oferta existentes entre as diferentes regiões do País” (BRASIL, 2007). Desta maneira o Plano Nacional de Educação objetiva o crescimento cultural da sociedade através da educação e com isto reduzir os desequilíbrios regionais que hoje existem no Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) traz, em seu art.1º que: A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996). E ainda cita que sua finalidade é buscar o pleno desenvolvimento do educando, preparando-o para o exercício da cidadania, além de qualificá-lo para o mercado de trabalho, que a cada dia está mais concorrido. A Lei de Diretrizes e Basesda Educação Nacional (9.394/96) no seu Capítulo IV, que trata da Educação Superior, ao se referir às suas finalidades, preceitua a importância desta para a criação e difusão da cultura como forma de desenvolvimento do pensamento reflexivo, além de fazer com que o homem procure entender sua condição de cidadão e também o papel que desenvolve dentro da sociedade. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 20 Em março de 1990, em Jomtien, na Tailândia, delegações de vários países se reuniram e assumiram compromissos com as metas de satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de crianças, jovens e adultos, elaborando um documento intitulado como: Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Através deste documento os participantes se comprometeram entre outros temas a buscar superar as desigualdades sociais e educacionais, onde os grupos excluídos: [...] os pobres: os meninos e meninas de rua ou trabalhadores; as populações das periferias urbanas e zonas rurais os nômades e os trabalhadores migrantes; os povos indígenas; as minorias étnicas, raciais e linguísticas: os refugiados; os deslocados pela guerra; e os povos submetidos a um regime de ocupação - não devem sofrer qualquer tipo de discriminação no acesso às oportunidades educacionais. (UNESCO 1990). Após dez anos da realização da Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, foi promovido em 2000, o Fórum Mundial sobre Educação de Dakar, onde foi reiterado o compromisso destes países em proporcionar Educação para todos até 2015, suscitando no Brasil debates que contribuíram para: [...] elevar a consciência do poder público e da sociedade civil para a importância da educação como direito subjetivo de todas as pessoas e como condição insubstituível para o exercício de uma cidadania ativa visando a construção de cenários sociais pautados pela justiça e pela equidade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos cita que “toda pessoa tem direito à educação”, porém, na realidade muitas crianças e jovens não têm acesso à educação, desta maneira é essencial a criação e manutenção de políticas públicas de que efetivem a educação a todos. A educação é de grande importância para o progresso social e individual, principalmente no que se refere a promoção do desenvolvimento. No mundo contemporâneo de rápidas transformações, o ensino de qualidade é fundamental para que o ser humano possa fazer uma avaliação crítica da real situação da sociedade e se torne um agente transformador no ambiente em que vive. Com a produção do conhecimento e a capacitação do indivíduo, este poderá viver civilizadamente e promover melhorias para o futuro da sociedade brasileira. Os direitos à educação é um direito de todos e como tal deve ser respeitado e garantido pelo Estado a todas as pessoas, independente de raça, cor, sexo, nacionalidade, eliminando qualquer forma de discriminação. A incorporação dos direitos humanos na educação de ensino superior torna-se primordial para a construção do sujeito como ser partícipe de uma sociedade, e como tal para a formação de sua cidadania. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 21 2 DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS, SEUS SIGNIFICADOS, SUAS DISTINÇÕES Sobre os Direitos Humanos e Fundamentais é necessário o reconhecimento e o respeito ao outro, entendido como a aceitação do diferente, seja em relação a aspectos culturais, físicos, étnicos, religiosos, políticos, sociais e econômicos. Tratar da questão dos Direitos Humanos significa não apenas defender os direitos próprios, individuais e também buscar a defesa dos direitos que envolvem a sociedade como um todo. No que se refere aos Direitos Fundamentais e Direitos Humanos é necessário saber que: [...] os Direitos Fundamentais se aplicam para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão “direitos humanos” guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humanos como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional (...) Direitos fundamentais possuem sentido mais preciso e restrito, na medida em que constituem o conjunto de direitos e liberdades institucionalmente reconhecidos e garantidos pelo direito positivo de determinado Estado (SARLET, 2001, p. 33-34). Ambos os termos, Direitos Fundamentais e Direitos Humanos, são utilizados normalmente como sinônimos, porém como observado ambos possuem pequenas distinções. Reconhecer essa diferença não significa, contudo desconsiderar a intima relação que esses termos possuem entre si. No que concerne à perspectiva histórica, é necessário aqui destacar que, os Direitos Humanos foram construídos em um período onde a economia de livre mercado gerou um quadro de injustiças sociais no Estado e estas desigualdades serviram como condição para o surgimento de direitos sociais como direitos humanos. Desta forma o Estado Social de Direito substituiu o Estado Liberal e incluiu no sistema de Direitos Fundamentais, não só as liberdades clássicas, mas os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Foi no âmbito das organizações internacionais, sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, que se iniciou o processo de positivação dos Direitos Humanos para algumas minorias, a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, editada pela ONU, em 1948 (SILVA, 1998, p. 167). O cenário pós-guerra e as atrocidades nazistas instigaram reflexões sobre a condição degradante a que é subjugada a pessoa humana quando esta diverge do grupo social dominante. Desta forma, a perspectiva individualista das declarações liberais do século XVIII cederam lugar às declarações voltadas aos direitos sociais e elevou o princípio da dignidade humana: Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 Ao emergir a 2ª Guerra Mundial, após três lustros de massacres e atrocidades de toda sorte, iniciados com o fortalecimento do totalitarismo estatal nos anos 30, a humanidade compreendeu, mais do que em qualquer outra época da História, o valor supremo da dignidade humana. O sofrimento como matriz da compreensão do mundo e dos homens, segundo a lição luminosa da sabedoria grega, veio aprofundar a afirmação histórica dos direitos humanos (COMPARATO, 1999, p. 44). A Constituição Federal de 1988 consagrou no seu bojo um Título que trata especificamente dos direitos e garantias fundamentais dos seres humanos, incluindo as garantias e direitos individuais inalteráveis, por constituírem cláusulas pétreas, segundo previsão do art. 60, § 4º, CF. Com essa medida, o constituinte primou pela proteção dos Direitos Humanos, limitando a atuação do pode constituinte derivado, impedindo-o de criar emendas que visem a modificação ou supressão de tais direitos do texto constitucional (BONAVIDES, 2006, p. 577). Contudo, ainda existem lacunas a serem preenchidas nas leis, no que se refere ao combate à exploração, na assistência à família e na acessibilidade aos portadores de deficiência. Apesar da legislação pátria prever algumas garantias, a falta de fiscalização do Estado leva a uma limitada eficácia das leis na sociedade. Faz-se necessário reconhecer a importância dos Direitos Humanos e Fundamentais, que conduzem a uma plenitude de vivência digna, sabendo que a falta de conhecimento e a exclusão de tais direitos ameaça as garantias conquistadas pelos cidadãos na sociedade. Um dos aspectos essenciais dos Direitos Humanos e Fundamentais pressupõeo reconhecimento e o respeito ao outro, aceitando cada qual com suas características que lhes são peculiares, seja em relação a aspectos culturais, físicos, étnicos, religiosos, políticos, sociais e econômicos. Aceitar a concepção de Direitos Humanos inclui não apenas a ideia da defesa dos direitos próprios, que atendem às necessidades individuais, mas também a responsabilidade de buscar direitos que procurem o bem-estar da sociedade. 3 CIDADANIA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A CONSOLIDAÇÃO DA DEMOCRACIA O tema direitos humanos e cidadania assume papel importante em nossa sociedade, principalmente através das transformações ocorridas nos últimos séculos. A noção de cidadania foi fortalecida, e ganhou novo significado a partir da Constituição Federativa de 1988 que reforçou a ideia de cidadãos como sujeitos sociais ativos que contribuem para o desenvolvimento Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 de um Estado Democrático Social de Direito. No processo democrático, o exercício da cidadania e a participação social tornam-se importantes para a criação e efetividade de políticas públicas que busquem reduzir as desigualdades existentes no País. A educação está intimamente ligada à cidadania, desde o ensino primário até o superior, pois é neste cenário imbuído de significação que são apresentados aos estudantes o real valor em ser cidadão. Desta maneira trabalha-se para despertar no aluno este anseio em se tornar um ser partícipe das transformações sociais. A educação torna-se o pilar para o desenvolvimento e crescimento do sujeito como cidadão, assim: A educação para a cidadania e os programas educacionais voltados para esse fim pressupõem a crença na tolerância, a marca do bom senso, da razão e da civilidade que faz com que os homens possam se relacionar entre si. Pressupõem também a crença na possibilidade de formar este homem, ensinando a tolerância e a civilidade dentro do espaço e do tempo da escola (SANTOS, 2001, p. 151). A educação pode ser considerada como um processo que busca integrar os indivíduos na sociedade, proporcionando a ele uma capacidade maior de interferir no meio em que vive. Esta interferência pode se dar principalmente pela busca de melhor qualidade de vida para a população, bem como pela luta na redução das desigualdades existentes. Ao atuar como um ser que participa como agente transformador, o sujeito passa a ser um importante instrumento para consolidar a democracia dentro da Sociedade Civil. O processo de construção da cidadania no Brasil perpassa o sistema educacional, tornando-se este, um fator primordial para a consolidação de sujeitos cidadãos portadores de direitos e deveres; que procurem superar carências sociais participando efetivamente da consagração de uma democracia que não trate desigualmente os desiguais. Segundo entendimento de Siqueira Júnior, o termo cidadania provém de cidade, do latim civitate, que significa aquele que tem ligação com a cidade. No período romano o vocábulo cidadania estava ligado à cidade e ao Estado, porém nesta época nem todos eram considerados cidadãos. O texto constitucional cita como princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito entre outros, em seu art. 1º, inc. II e III, a dignidade da pessoa humana e a cidadania. Estes dois fundamentos têm grande importância em nossa sociedade posto que a dignidade da pessoa humana está relacionada ao indivíduo, enquanto que a cidadania se refere ao social. O indivíduo, ao exercer a cidadania participa das atividades do Estado, ao buscar a melhoria na qualidade de vida da população. O indivíduo ao se integrar na sociedade e participar ativamente em suas transformações, exercendo seus direitos civis, políticos e sociais Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 está pondo em prática a cidadania. Neste sentido SIQUEIRA JUNIOR cita os elementos os quais T. H. Marshall vincula o conceito de cidadania: [...] (a) civil, composto das garantias e liberdades individuais; (b) político, capacidade de organizar partidos, votar e ser votado; (c) social, que são as condições mínimas necessárias para a vida digna, tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança, ao direito de participar, por completo, da herança social (2007, p. 243). Como elenca a Constituição Federal de 1988, “cidadania é ter direitos, os quais são reconhecidos a todos os cidadãos”. A partir da consciência da garantia destes direitos os cidadãos devem procurar atuar como agentes partícipes para a concretização da democracia. A democracia é inerente ao exercício da cidadania no que se refere à atuação do ser humano na sociedade o qual está inserido, assim: Cidadania qualifica os participantes da vida do Estado, o reconhecimento do indivíduo como pessoa integrada na sociedade estatal (art. 5º, LXXVII). Significa aí, também, que o funcionamento do Estado estará submetido À vontade popular. E aí o termo conexiona-se com o conceito de soberania popular (parágrafo único do art. 1º), com os direitos políticos (art. 14) e com o conceito de dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), com os objetivos da educação (art. 205), como base e meta essencial do regime democrático (SILVA, 2007, p. 104-105). Desta maneira, fica constatada a importância da cidadania na dinâmica estatal no momento em que o cidadão, ao reconhecer seus direitos, luta pela sua efetivação em prol de melhorias em seu ambiente social e de seus semelhantes, e principalmente pela concretização da democracia. Neste ponto cabe ressaltar a importância que a educação tem neste processo visto que ela é responsável pela construção do sujeito no exercício da cidadania, pois é através dela que o ser humano toma conhecimento de seus direitos e deveres e da importância da busca por sua efetivação. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os Direitos Humanos e Fundamentais constituem o pilar para a organização de um sistema constitucional e do próprio Estado. As normas constitucionais elaboradas pelo Estado para a organização da sociedade têm como alguns de seus fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa humana. A consolidação de tais direitos eleva a condição do cidadão que vive em uma Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 25 sociedade e zela pelo respeito mútuo. É de grande importância o reconhecimento, pelos cidadãos de seus direitos visto que desta maneira os mesmos podem lutar por melhorias na qualidade de vida. Ao exercer o papel de cidadão na sociedade, o sujeito visa participar da efetivação dos direitos que o tutelam e da afirmação dos Direitos Humanos e Fundamentais. Desta forma a educação passa a ter um papel essencial no conhecimento e construção de tais Direitos. Assim, se o conhecimento dos Direitos Humanos deve ser divulgado na sociedade, tanto mais se deve exigi-lo quando se trata de estudantes do ensino superior, pois estes, em face de sua posição privilegiada na sociedade brasileira, devem conhecer a fundo seus direitos e buscar seu reconhecimento na sociedade. Tratar da questão dos Direitos Humanos significa não apenas defender os direitos próprios é também buscar a defesa dos direitos que envolvem a sociedade como um todo. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Constituição Federal. 8. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007. ______. Plano Nacional de Educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf>. Acesso em: 09 set. 2007. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9394.htm>.Acesso em: 09 set. 2007. JACOBI, Pedro Roberto. Educação, ampliação da cidadania e participação. Educ. Pesqui. São Paulo, v. 26, n. 2, 2000 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517- 97022000000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11 Set 2007. RUTKOSKI, Joslai Silva. A pedagogia de Paulo Freire: Uma proposta da educação para os Direitos Humanos. In: PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2006. v.1. SANTOS, Gislene A. Universidade formação cidadania. São Paulo: Cortez, 2001. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 3. ed., rev. atual. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. ______. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 26 SEVERINO, ANTÔNIO J. Educação, trabalho e cidadania: a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário histórico. São Paulo Perspec. São Paulo, v. 14, n. 2, 2000 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 8392000000200010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 09 set. 2007. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 28. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2007. 928 p. SIQUEIRA JUNIOR, Paulo Hamilton; OLIVEIRA, Miguel Augusto Machado de. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 286 p. SOBRAL, FERNANDA A. DA FONSECA. Educação para a competitividade ou para a cidadania social?. São Paulo Perspec., São Paulo, v. 14, n. 1, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 8392000000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11 set. 2007. UNESCO, Fórum Mundial sobre Educação de Dakar. Disponível em: <http://unesdoc. unesco.org/images/0012/001275/127509porb.pdf>. Acesso em: 09 set. 2007. ______. Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Disponível em: <http://www.unesco.org.br/publicacoes/copy_of_pdf/decjomtien>. Acesso em: 09 set. 2007. PARA CONHECER MAIS SOBRE ESCOLA E FORMAÇÃO DA CIDADANIA, ACESSE: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_tese s/2010/Pedagogia/tcidadaniaesc.pdf e leia a tese de Aida Maria Monteiro Silva! Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 UNIDADE III - VALORES NA ESCOLA http://www.google.com.br/imgres?q=valores+na+escola&num=10&hl=pt-PT&biw=1 Valores na escola2 Maria Suzana de Stefano Menin Universidade do Estado de São Paulo Temos acompanhado as produções de um grupo de pesquisadores espanhóis que têm-se dedicado à educação moral ou em valores na escola (Grem Grupo de Ricierca en Educación Moral). Antes de nós, e provavelmente nos fornecendo modelos atuais de educação moral, autores como Cabanas (1996), Puig (1998), Buxarrais (1990,1997), Martinez (1994), e Martinez e Puig (1994) chegaram à proposição da ética como tema transversal nas escolas, o que agora aparece em nossos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998). Mas o que é ética, ou moral, e como colocá-las nas escolas? Segundo Cabanas (1996), a questão central da ética é a de responder à pergunta: o que nos obriga a sermos bons? Ou seja, é a ética que nos permite buscar critérios para definirmos o que é ser bom, correto ou moralmente certo e que nos fornece explicações para nosso senso de dever moral. A essa questão ¾ o que me 2 Educ. Pesqui. v.28 n.1 São Paulo jan./jun. 2002. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 28 obriga a ser bom, podem ser dadas respostas diferentes, ancoradas em diversas posições filosóficas ou ideológicas; e é quando a respondemos que encontramos valores morais. Segundo Cabanas (1996), para algumas posições filosóficas, valores são os critérios últimos de definição de metas ou fins para as ações humanas e não necessitam de explicações maiores além deles mesmos para assim existirem. Ou seja, devemos ser bons porque a bondade é um valor, honestos porque a honestidade é um valor, e assim por diante com outros valores como a solidariedade, a tolerância, a piedade, que têm um caráter natural, universal e obrigatório em nossa existência. Para outras posições, os valores são determinados por culturas particulares e em função de certos momentos históricos, variando, portanto, de acordo com cada sociedade e período de sua existência. As ações humanas seriam, assim, avaliadas de acordo com os costumes locais; algo considerado um dia como correto e justo poderia ser, em outra época, considerado errado ou injusto. Metodologicamente, podem acontecer, também, posturas opostas sobre como educar em valores. Há posturas doutrinárias, de acordo com as quais acredita-se que um conjunto de valores, considerados fundamentais, devem ser transmitidos prontos a todos, como verdades acabadas; e, por outro lado, há posturas mais relativistas, com as quais a escola exime-se de assumir tal educação em valores deixando que isso ocorra de forma assistemática, não-planejada, nos seus mais diversos espaços. Escolas religiosas, por exemplo, adotam uma postura doutrinária quando catequizam seus alunos a respeito de valores como fé, piedade, amor ao próximo, respeito, caridade, tolerância e outros. Certos valores são tomados como postulados, verdadeiros por si próprios e, deles, outros são derivados: a existência de Deus em cada um de nós e o respeito ao próximo como o respeito a ele, por exemplo. Nesses casos, normalmente deixa-se para certos professores especialistas o ensino da moral como matéria à parte, com status próprio. Essa posição pode não refletir uma ideologia comum a toda uma escola; pode ocorrer em escolas laicas e estar em certos professores que assumem, para si, a transmissão de valores considerados por eles como essenciais. Numa pesquisa realizada em 1992 (Menin, 1992), com classes de primeiro colegial de uma escola pública, observamos uma professora de Biologia que, antes de suas aulas, passava na lousa provérbios ou pequenos ditados morais a seus alunos e solicitava a estes que os copiassem e os memorizassem, pois cairiam como matéria nas suas avaliações. Alguns exemplos das frases colocadas pela professora: Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 29 Não deixe que a calúnia o perturbe! Todos nós estamos sujeitos à calúnia. Mas saiba superá-la, vivendo de tal maneira que o caluniador não tenha razão. Não revide um ataque com outro ataque. Não se magoe com o caluniador. Perdoe sempre. Apenas vive de tal maneira que jamais o caluniador tenha razão. (MENIN, 1992, p. 496) ... a felicidade não pode estar em nada que esteja fora de vocês. Busque-a dentro de você mesmo; pois a felicidade é Deus e Deus mora dentro de você. Pense positivamente, nossos pensamentos emitem ondas reais que se irradiam de nosso cérebro... Pensamentos positivos atraem coisas positivas. Pensamentos negativos atraem coisas negativas. Os homens por amor vão muito além daquilo que a imposição, o dever, a razão, a necessidade conseguem obter deles. (MENIN, 1992, p. 498) Após escrever cada frase, a professora tecia comentários sobre elas e buscava relacioná-las à vida escolar do aluno. Por exemplo, após a última frase citada, a professora comentou: Um aluno que ri da nota, não se valoriza. É preciso ver que você é importante... tenha um ideal de vida. Se vocênão se valorizar ninguém vai querer ficar com você. Primeiro é se amar, colocar amor em tudo o que você faz: dê valor à escola, dê valor ao que é seu, o seu caderno, por exemplo. Valorize o seu caderno. (MENIN, 1992, p. 498) Esse é um claro exemplo de uma educação em valores realizada de forma explícita, por transmissão de normas prontas, assumida por um professor e por meio da qual se colocam normas morais no mesmo status que matérias científicas para as quais se cobram estudo e obediência. Tivemos no Brasil, durante a ditadura militar (1969 a 1986), um exemplo de educação moral nas escolas realizada, também, de forma doutrinária. As disciplinas Educação Moral e Cívica ou Estudos dos Problemas Brasileiros eram consideradas matérias específicas e por Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 30 intermédio delas professores especialistas deveriam passar certos valores assumidos como fundamentais. Lepre (2001) relata, em sua dissertação sobre indisciplina e estágios de julgamento moral em crianças de ensino fundamental, como essas disciplinas foram estruturadas pelo decreto-lei de 1969 com a clara finalidade de controlar a "desordem social" vista como causadora dos malefícios da sociedade brasileira. Valores como o nacionalismo, visto como o amor à pátria e aos seus governantes para o alcance do progresso geral foram colocados como fins de toda a educação. São exemplos de trechos do decreto de 1969: A Educação Moral e Cívica, apoiando-se nas tradições nacionais, tem como finalidade: a defesa do princípio democrático, através da preservação do espírito religioso, da dignidade da pessoa humana e do amor à liberdade com responsabilidade, sob a inspiração de Deus; a preservação, o fortalecimento de valores e a projeção de valores espirituais e éticos da nacionalidade; o fortalecimento da unidade nacional e do sentimento de solidariedade humana; o culto à Pátria, aos seus símbolos, tradições, instituições e aos grandes vultos de sua história;... o culto à obediência à lei, da fidelidade ao trabalho, e da integração na comunidade; (...). ( Lepre, 2001, p. 71-72). Nesse mesmo decreto, estabelecia-se a obrigatoriedade de todas as escolas terem um professor dessas matérias e, caso não houvesse um, o diretor da escola deveria responsabilizar-se por ela. Foi criada, também, uma Comissão Nacional de Moral e Civismo (CNMC), integrada por nove membros escolhidos pelo presidente da República, que tinha como funções básicas: verificar a implantação e manutenção da doutrina de Educação Moral e Cívica nas escolas; colaborar na elaboração do currículo para essa disciplina; influenciar e convocar a cooperação das instituições e órgãos formadores da opinião pública (difusão cultural, jornais, revistas, teatros cinemas, estações de rádio e televisão...) para servir aos objetivos da Educação Moral e Cívica; assessorar o Ministério da Educação na aprovação de livros didáticos, etc. Ora, todos sabemos dos frutos desse período de educação moral nas escolas feita dessa forma doutrinária por imposição de valores morais acabados, assim como podemos prever as reações dos alunos daquela professora de Biologia que passava ditados morais na lousa: valores impostos por uma autoridade são aceitos por temor enquanto perdurar o controle dessa autoridade e deixam de ser assumidos como valores no momento em que a força do controle é enfraquecida. Todos nós que assistimos às aulas, na época, de Educação Moral e Cívica, sabemos o quanto essa disciplina nos parecia artificial, demagógica e como se tornou alvo de desprezo a ponto do termo Educação Moral se tornar algo pejorativo no Brasil e em outros países que passaram por processos semelhantes. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 31 A educação em valores nas escolas pode, no entanto, se dar de forma oposta à maneira doutrinária. É o laissez-faire em termos de valores: cada professor e seus alunos podem ter posições diferentes sobre o que é correto, bom, justo, ou seja, sobre o que tem valor. Nesse caso, a escola não teria um código moral ou de valores declarado e assumido, e a adoção de valores seria questão individual, pessoal. Predomina o entendimento de que tudo é relativo e de que não há obrigatoriamente uma posição mais correta que outra. Nessas escolas, o corpo de professores pode ser completamente diverso em termos dos valores mais adotados e sua transmissão fica a cargo de cada um, de forma assistemática e acidental. Assim, podem existir, na mesma escola, professores que incentivam a cooperação entre alunos, outros a competição; alguns teriam aversão às mais variadas formas de violência, enquanto outros seriam tolerantes a certas manifestações violentas ou agressivas dos alunos ou dos próprios professores. Observações de certas práticas disciplinares nas escolas e das regras que os professores dispõem aos alunos podem revelar uma grande diversidade de valores entre os mesmos e até incompatibilidades. Assim, por exemplo, embora constatemos que nos últimos anos têm-se fortalecido uma posição antiviolência nas escolas, como as campanhas pela paz, de 1998 para cá, observamos, no entanto, na mesma época, em cursos para professores de pré-escola, que a violência física entre crianças pode ser admitida como uma forma de realizar justiça. Ainda predomina via senso comum que o revide é uma forma justa de resolver conflitos entre crianças ou que uma criança que apanhou não deve voltar para casa chorando; é a mentalidade do "levou, bateu". É importante nos perguntar como isso pode ser tolerado e mesmo, às vezes, ensinado nas escolas e, em seguida, exigir-se dos adolescentes que tenham controle sobre sua agressividade. Uma posição relativista em educação de valores pode permitir, como podemos constatar, um vale-tudo na educação, em que valores e contravalores podem coexistir e nem sempre serem fruto de reflexão ou de sua clara adoção. Podem, numa mesma escola, ser encontrados professores que incentivam a competição entre alunos ancorando-se no fato de que na sociedade atual predomina o "cada um por si" ou o "vence o mais forte", outros defendendo a cooperação e a solidariedade para a construção de uma sociedade melhor, e outros, ainda, completamente indiferentes a essas questões e que consideram a moral como um assunto particular. Numa pesquisa realizada por Shimizu (1998) em que foram entrevistados quarenta professores das séries iniciais da rede pública numa cidade do interior paulista, constatou-se que Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 32 eles conheciam muito pouco das teorias psicológicas que poderiam lhes dar uma base para realizar algum tipo de educação moral e que utilizavam, na grande maioria, opiniões do senso comum para decidir o que é moral, imoral ou como educar moralmente. Assim, nessa pesquisa, grande parte dos professores afirmou que a moralidade de seus alunos vem de exemplos familiares, de influências religiosas e pouca importância foi dada à própria escola nessa formação: é como se houvesse a crença que, em moral, a família é tudo e a escola, nada. Vemos que as duas posições extremistas sobre educação em valores têm-nos levado a erros ou são completamente ineficazes como forma de educar moralmente e poderíamos então nos perguntar: existem outras posições? Autores como Cabanas (1996), Buxarrais (1990, 1997) e Martinez (1994) buscam apresentar uma outra posição sobre valores e educação moral ou ética, inspirada, principalmente, nos ensinamentos de Piaget (1977). Esse autor, estudando a construção da moralidade infantil, descobriuque o desenvolvimento das crianças mostra duas tendências basicamente opostas de moral: a "moral do dever", ou heteronomia, e a "moral do bem", ou autonomia, e que a segunda sucederia a primeira em condições normais de desenvolvimento. Na moral heterônoma, uma criança segue as normas fixadas pelas autoridades que a rodeiam (pais, irmãos mais velhos, etc.) e as obedece por temor à perda de afeto ou ao castigo; é uma moral fruto de um tipo de relação social em que predomina o respeito unilateral e que Piaget chamou de coação. As educações doutrinárias fortaleceriam, para Piaget, essa moral heterônoma. Noutro extremo, e como resultado da formação na qual a criança pode se ver cada vez mais livre de autoridades e capaz de construir normas entre iguais, surgiria a moral da autonomia por meio da qual o adolescente decide pelas normas que quer obedecer porque participou de sua construção e verificou os benefícios que aquela norma pode ter para o seu grupo de companheiros. Nesse sentido a norma livremente consentida passa a ser respeitada em função de relações de respeito mútuo entre indivíduos mais iguais entre si e guiadas pelo princípio da reciprocidade a mais ampla possível. Na moral heterônoma todo um conjunto de crenças e ações da criança revela sua posição imitativa e egocêntrica em relação aos outros. As crianças, por exemplo, imitam o uso das regras pelos mais velhos, mas não conseguem regular seus próprios comportamentos por elas; acreditam que as regras são sagradas e imutáveis; julgam os outros mais pela conseqüência de seus atos que pelas suas intenções (o que demandaria uma descentração da criança no sentido de Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 33 colocar-se no lugar do outro para compreendê-lo); acreditam que as mentiras piores são as mais aparentes ou que algo é mais errado quanto mais se corre o risco de ser descoberto e punido. Na moral autônoma, ao contrário, o adolescente discute as regras que regem sua vida no grupo e pode reelaborá-las passando a entender as utilidades sociais das regras, e os atos dos outros passam a ser julgados pela intenção; os piores atos são aqueles que mais quebram os laços de solidariedade e confiança entre as pessoas mesmo que pouco aparentes ou não puníveis. Em uma palavra, na moral da autonomia, tal como é vista por Piaget (1977), ser correto, moralmente falando, não depende de quais regras são seguidas, mas dos princípios de sua obediência. Seguindo uma visão kantiana, Piaget vê, na moral heterônoma, a adoção de regras, normas ou de valores morais como guiada por motivos extrínsecos à pessoa: é o medo, o controle de uma autoridade, o receio da perda de afeto que leva à uma obediência situacional. Ao contrário, na moral autônoma o autor vê um indivíduo que reflete sobre a justiça de suas opções morais considerando se poderiam valer para si ou para qualquer pessoa desse mundo; é a reciprocidade levada ao infinito. Na visão piagetiana e de autores que nele têm-se inspirado, a educação moral ou educação em valores não poderia jamais se dar na forma de imposição de valores, por melhores que estes fossem, nem deixada à livre escolha de cada um. Piaget (1996) argumenta que na moral os meios usados no ensino são tão fundamentais quanto os fins. Se quisermos educar para a autonomia (a adoção consciente e consentida de valores) não é possível obtê-la por coação; ou seja, se quisermos formar alunos como pessoas capazes de refletir sobre os valores existentes, capazes de fazer opções por valores que tornem a vida social mais justa e feliz para a maioria das pessoas, capazes de serem críticos em relação aos contra-valores, então é preciso que a escola crie situações em que essas escolhas, reflexões e críticas sejam solicitadas e possíveis de serem realizadas. É como se, em moral, meios e fins fossem iguais: não se ensina cooperação como um valor sem a prática da cooperação, não se ensina justiça, sem a reflexão sobre modos equilibrados de se resolverem conflitos; não se ensina tolerância sem a prática do diálogo. Assim, numa visão piagetiana, a formação moral de alunos e/ou de professores passa, obrigatoriamente, pelo exercício da construção de valores, regras e normas pelos próprios alunos e/ou professores entre si e nas situações em que sejam possíveis relações de trocas intensas; troca de necessidades, aspirações, pontos de vistas diversos, enfim: quanto maiores e mais diversas Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 34 forem as possibilidades de trocas entre as pessoas, mais amplo poderá ser o exercício da reciprocidade ¾ pensar no que pode ser válido, ou ter valor, para mim e para qualquer outro. A posição piagetiana não considera os valores como relativos, pois há uma clara opção pela autonomia moral como melhor, racional e moralmente falando, que a heteronomia. Há, também, uma opção pelos métodos ativos de educação moral, que passam pelas possibilidades de prática de cooperação, solidariedade, justiça, respeito mútuo. Para Piaget (1977, 1996), e autores que o têm seguido, e para nossos atuais Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), saber sobre a moral é sinônimo de um saber fazer, um saber viver relações cooperativas e justas; sem isso a moral é puro verbalismo. Onde e como se daria, então, essa formação prática de professores para a moralidade? Dar- se-ia em todos os espaços escolares em que as relações humanas e seus conflitos pudessem aparecer e onde se pudesse refletir sobre as melhores soluções para todos. Como os PCN agora buscam dispor, a ética torna-se um tema transversal a ser pensado por todos os professores e nos mais variados espaços da escola; do currículo às relações pessoais dentro da escola e às salas de aula. E a formação, seja de professores ou de alunos, tem que acontecer nas próprias práticas e vivências dentro da escola e nunca como matéria à parte. Vou dar um exemplo de uma situação verídica que aconteceu numa escola pública para discutir o que ali poderia acontecer em termos de educação moral de professores e alunos e o que não aconteceu. Esse exemplo é relatado numa pesquisa piloto, realizada por Klébis e Menin (2000) que transformou um fato real num dilema moral, apresentado a trinta professores de três escolas públicas. O dilema foi o seguinte: Uma determinada escola pública recebeu a denúncia que alguns alunos estariam levando "droga" para ser distribuída dentro da escola. A diretora comunicou o fato à Polícia Militar que determinou a averiguação da denúncia imediatamente. Justamente neste dia, uma 5ª série estava em aula vaga no pátio devido à falta de um professor. Eram alunos cuja faixa etária se concentrava entre 10 a 12 anos. Com a chegada da Polícia Militar na escola, a Diretora solicitou à inspetora de alunos que chamasse os meninos para a sala de vídeo, dizendo aos mesmos que eles iriam assistir a uma projeção. Em hipótese alguma os alunos deve-riam saber que os policiais estavam na escola. Na sala de vídeo, os alunos foram submetidos a uma revista pelos policiais, ficando apenas de cuecas. Como se não bastasse, passaram pelo constrangimento de Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 35 terem que abaixar a cueca, ficando de cócoras (procedimento usado nos presídios para detectar a presença de droga no ânus). A diretora argumentou, em resposta à revolta dos pais, que sua intenção era a de proteger os alunos contra as drogas que poderiam estar circulando pela escola, bem como descobrir os culpados. Após o dilema, Klébis pusera aos professores questões como: Você acha que a Diretora agiu
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