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ISSN 2176-1396 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR: A COMPREENSÃO DO MEIO AMBIENTE COM O USO DE DIÁRIOS DE BORDO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA Alessandra Ester de Souza 1 - UFPR Ibrahim Nazem Fahs 2 - UFPR Rayza Sielski 3 - UFPR Halina Linzmeier Heyse 4 - SME - Curitiba Cristina Frutuoso Teixeira 5 - UFPR Grupo de trabalho - Educação e Meio Ambiente Agência Financiadora: CAPES Resumo Este artigo relata a experiência em andamento sobre a criação, desenvolvimento e aplicação da ferramenta didática diário de bordo, utilizada em um projeto de educação ambiental, “A temática ambiental na escola: uma proposta interdisciplinar”, promovido Programa Institucional de Bolsas para Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Este projeto foi desenvolvido com alunos do 8ª ano do ensino fundamental, em uma escola municipal, situada no bairro Pilarzinho em Curitiba-PR. O diário de bordo proporciona uma forma de construção particular do conhecimento. É uma ferramenta pedagógica que articula o registro de informações objetivas às percepções, a subjetividade, experiências anteriores e adquiridas nas atividades. Nessa perspectiva e adequando-se às particularidades dos alunos, foi introduzido o diário de bordo dos estudantes nas atividades do projeto para registro de seus conhecimentos e impressões sobre as diferentes atividades realizadas, fazendo uma analogia entre as vivências no projeto de educação ambiental e as viagens realizadas por “exploradores”. O diário buscou a especificidade dos alunos e as diferentes percepções do mesmo tema ou objeto, particularmente o conceito de meio ambiente e as inter-relações entre a sociedade e a natureza, tornando assim cada “caderno” único. Nele ficarão registrados para os alunos uma experiência vivida sobre a qual refletiram durante o seu registro através da 1 Graduanda do curso de licenciatura em química na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e-mail: alessandra.souza@ufpr.br 2 Graduando do curso de licenciatura e bacharelado em Geografia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e- mail: ibrahimnazemfahs@Gmail.com 3 Graduanda do curso de licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e-mail: rayza.sielski@hotmail.com 4 Mestre em Ecologia e Conservação pela UFPR Professora de Ciências da Rede Municipal de Ensino de Curitiba-PR. E-mail: haliheyse@gmail.com 5 Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR. Professora do Setor de Educação da UFPR e- mail: cristinatufpr@gmail.com 24547 escrita, do desenho, da colagem e de outras formas de representações de conhecimentos e suas impressões. Para os executores do projeto, o registro nos diários permitiu conhecer as peculiaridades das diferentes turmas, contribuindo para o planejamento de atividades de educação ambiental significativas aos alunos. Palavras-chave: Diário de bordo. Educação ambiental. Meio ambiente. Introdução Esta comunicação apresenta a experiência da utilização de Diário de Bordo como ferramenta pedagógica em ações de educação ambiental do projeto “A temática ambiental na escola: uma proposta interdisciplinar”, promovido pelo Programa Institucional de Bolsas para Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Federal do Paraná, realizado na Escola Municipal Professor Herley Mehl, localizada no bairro do Pilarzinho no município de Curitiba, PR. Os objetivos do projeto são: proporcionar aos licenciandos de diferentes áreas de formação acadêmica a abordagem da temática ambiental na escola a partir do enfoque globalizador e da interdisciplinaridade; desenvolver ações de educação ambiental na escola considerando as suas características e possibilidades visando processos educativos significativos à comunidade escolar. Em linhas gerais, o projeto considera três pressupostos: a abordagem sistêmica e socioambiental do meio ambiente; o enfoque globalizador e a interdisciplinaridade como colaboração entre disciplinas para compreensão dos problemas que estão na interface da sociedade com a natureza. O projeto, iniciado em 2014, conta com seis bolsistas das licenciaturas de Artes Visuais, Geografia, Pedagogia e Química, além da professora supervisora da disciplina de ciências. Atualmente, quatro turmas de oitavos anos participam do projeto. As atividades do projeto objetivam desenvolver no aluno a compreensão da inter- relação entre o homem, a sociedade e a natureza, compartilhando com Sauvé (2005, p. 317) a finalidade da educação ambiental: mais do que uma educação “a respeito do, para o, no, pelo ou em prol do” meio ambiente, o objeto da educação ambiental é de fato, fundamentalmente, nossa relação com o meio ambiente. Para intervir do modo mais apropriado, o educador deve levar em conta as múltiplas facetas dessa relação, que correspondem a modos diversos e complementares de apreender o meio ambiente. Como imaginou-se no projeto que os alunos estariam “explorando” novas experiências e novos conhecimentos, considerou-se que eles deveriam registrá-las, como viajantes ou cientistas o faziam antes da existência do celular. No diário de bordo os alunos registraram aprendizados, experiências e impressões das atividades desenvolvidas. O diário permite a 24548 manifestação da individualidade dos alunos e suas diferentes percepções do mesmo objeto, tornando assim cada “caderno” único. Referencial teórico Na educação ambiental, o meio ambiente é categoria central para apreender a relação entre o homem, a sociedade e a natureza. Ainda que o Projeto tenha utilizado também, o conceito de meio ambiente como “problema” e como “sistema” (SAUVÉ, 2005, p. 317), a utilização do diário de bordo adequou-se ao conceito de meio ambiente como o “lugar em que se vive (para conhecer, para aprimorar). É o ambiente da vida cotidiana, na escola, em casa, no trabalho, etc.”. Esta é a porta de entrada para a apreensão das outras abordagens de meio ambiente que podem coexistir em um projeto de educação ambiental. Para Sauvé (2005, p. 317), ela “consiste em explorar e redescobrir o lugar em que se vive, ou seja, o “aqui e agora” das realidades cotidianas, com um olhar renovado ao mesmo tempo apreciativo e crítico. Trata-se também de redefinir-se a si mesmo e de definir o próprio grupo social com respeito às relações que se mantém com o lugar em que se vive”. Assim considerado, o meio ambiente é o resultado de um processo de construção entre o sujeito e o ambiente bio-físico-químico. Ele “ é, antes de tudo, cultural e se constitui pela ação dos indivíduos” (LUZZI, 2012, p. 14). Na educação ambiental, esse conceito de meio ambiente torna-se central para pressuposto que, através dele, o aluno pode entender o seu lugar no mundo (LUZZI, 2012). Para alcançar seus objetivos, a educação ambiental pode utilizar diferentes estratégias, entre elas, o estudo do meio. Este constitui uma atividade dirigida, utiliza como meio - locais/entorno/paisagem - dos alunos para se aprofundar conceitos e/ou conteúdos (LESTINGE, SORRENTINO, 2008). Ele pode explorar sensações e percepções dos participantes, levando a um conhecimento, autoconhecimento e modificações, pois “ao ampliar a noção de si mesmo, o mundo também se amplia”. (LESTINGE; SORRENTINO, 2008 apud MENDONÇA; NEIMAN, 2003, p. 81). Nesse processo, ocorre uma construção do conhecimento em sociedade, formando-se “elos”, aproximações do sujeito com as coisas e acontecimentos em conjunto. Durante essas atividades o fator principal é dirigir-se para as possibilidades do ensino-aprendizagem a partir da observação, interpretação e percepções, buscando o conhecimento contextualizado pelo meio. Segundo Lestinge e Sorrentino (2008, p.608) “a utilização do estudo do meio como metodologia para a educação ambiental pode contribuir para uma formação mais integral do indivíduo”. A partir desse reconhecimento,constroem-se sujeitos sociais distintos e que auxiliem ações responsáveis nas questões 24549 ambientais, baseando em pensamentos complexo sobre o meio ambiente, promovendo a compreensão profunda, a integração e não apenas dominação do meio. Durante o desenvolvimento das atividades do projeto, seus integrantes sentiram a necessidade de incluir uma ferramenta que pudesse se apropriar das “excursões” realizadas ao “meio” e alcançasse as particularidades de aprendizagem de cada aluno: o diário de bordo. As concepções de aprendizagem segundo Zabala (2007) representam as particularidades de cada aluno e variam dependendo de seus interesses, capacidades e motivações. Esta ‘aprendizagem’ é resultado de todo o processo e o conhecimento é construído durante a elaboração pessoal. O processo de ensino/aprendizagem estabelece relação com o conhecimento prévio e com os novos conceitos. O diário de bordo proporciona uma forma de construção particular do conhecimento, tornando-se uma ferramenta pedagógica, abrangendo não apenas conteúdos de caráter específico, mas as percepções, a subjetividade, experiências anteriores e adquiridas nas atividades. O diário de bordo proporciona uma autonomia na construção do conhecimento pelos alunos, admitindo uma visão reflexiva e crítica de suas vivências. O diário de bordo foi, originalmente, um instrumento utilizado para o registro de viagens (comerciais, científicas, etc.) mesmo antes do século XVI. Um exemplo de diário de bordo é o registro de Alexander Von Humboldt (1769-1859) que atuava sobretudo no campo da geografia. Em suas expedições, as principais realizadas na América Latina, ele anotava e desenhava a fauna e flora dos locais visitados, registrando com desenhos artísticos, cálculos e observações subjetivas, os dados objetivos e as suas impressões sobre o observado (BRAGA et al. 2007; WITMER, 2008). De forma análoga, o diário de campo utilizado para registrar as observações diretas de pesquisadores nas cientistas naturais e sociais, também mantêm a característica de não deixar escapar informações durante o processo de investigação que possam servir como ‘dado’ para o desenvolvimento do conhecimento científico, assim como o são aqueles obtidos por outros instrumentos (questionários, amostras, etc.). Além disso, “mais do que apenas guardar informações, pode conter reflexões cotidianas que, quando relidas teoricamente, são portadoras de avanços tanto no âmbito da intervenção, quanto da teoria. ” (LIMA et al. 2007, p. 93) Nas artes o registro em “diário”, também é utilizado. Na renascença, Leonardo da Vinci utilizava o caderno de anotações ou sketchbook, para registrar ideias, cálculos, formas, modelos e rascunhos de suas obras. Atuando em diversas áreas (anatomia, engenharia e a 24550 pintura, etc.), ele utilizava os “diários” para esboçar suas ideias e criações (LOPES,2014; ZOLLNER, 2006). Eugène Delacroix, pintor do romantismo, utilizou o diário para rascunhar obras e registrar as imagens exóticas em sua viagem ao Marrocos. Apenas para registrar as ideias e depois executá-las em outro suporte. O artista contemporâneo Fernando Augusto dos Santos utilizou o diário para registrar as ideias e depois executá-las em outro suporte, tornando seus registros públicos. Trabalhando com a poética do dia a dia, a simplicidade e a beleza da vida, registrou seus dias em desenhos em seus diários. Ao finalizá-los, transformou-os em obras de arte. Em uma delas, retratou a angústia, com retratos de seu pai no seu leito de morte. A percepção move a arte e os artistas. A obra é o retrato da percepção do artista sobre a realidade. Ele retrata suas ideias e pontos de vista à sua maneira, transformando-as em algo acessível às outras pessoas que teriam outras percepções, sensações e ideias através de sua obra. A apropriação do diário de bordo como ferramenta pedagógica se justifica por ser um instrumento de registro individual de observações do seu autor. Este registro - que pode utilizar diferentes linguagens - permite proporcionar informações objetivas e percepções sobre a “viagem” para os que o leem, assim como, permite aos seus autores refletirem sobre o observado, o percebido. Em estudos sobre diário de bordo utilizado na formação de professores (DIAS et al., 2013; SOUZA et al. 2012; ZABALZA, 1994), este é considerado uma ferramenta pedagógica que permite maior sistematização, compreensão e reflexão sobre a própria prática educativa. Na escola, com a necessidade de inovações nas práticas de ensino causadas pelo panorama atual (GADOTTI, 2000), o diário, em suas diferentes versões, também pode ser utilizado pelo aluno. Por exemplo, na geografia e nas aulas relacionadas às ciências biológicas, eles podem ser utilizados nas aulas de campo. O diário utilizado na escola pode auxiliar o desenvolvimento do pensamento abstrato e da memória. Além disso, ele contém a carga subjetiva do aluno que pode ser usada em planejamentos na disciplina. Partindo das diferentes possibilidades de registros nos diários, considerou-se que este poderia ser um instrumento de registro das atividades do projeto de educação ambiental, não como um caderno no qual se registra a matéria, mas como um espaço de registro de fatos e impressões durante o processo de formação de conhecimentos e sentimentos durante o estudo do meio. Como observam Souza et al. (2012, p. 185) “não importa o caráter de verdade ou as provas de sua ocorrência tal como é narrado no diário, mas a reflexão que se faz sobre o 24551 assunto é que define o quanto está sendo formadora a experiência. ” No diário, as percepções são representadas de maneira completa, pois o autor (aluno) expõe suas sensações. Uma vez que está criando algo para si mesmo, deve seguir suas próprias regras. Portanto, o diário traz a liberdade de sentimentos, a clareza de pensamentos e a memória pois muitas vezes o autor se apega ao diário não pelo conteúdo teórico que possa existir ali, mas pela memória afetiva, relembrando lugar e as sensações que tais lugares o causaram. Metodologia As atividades do projeto do PIBID na Escola Municipal Professor Herley Mehl envolveram áreas de conhecimentos diferentes que interagiram entre si na apreensão do meio ambiente e das inter-relações entre homem, sociedade e natureza nele implicadas. Assim, atividades que tratavam de temas afins à Geografia se articularam aos conhecimentos abordados pela professora de ciências em sua disciplina e incluíam atividades de artes relacionadas ao assunto abordado. O diário de bordo foi considerado o caderno da “interdisciplinaridade”. Como nas primeiras atividades do projeto se observou o prazer dos alunos em realizá-las, assim como o prazer de estarem com os licenciandos, o diário foi apresentado aos alunos, também, como lembrança para eles após o término do projeto. Os diários de bordo utilizados pelos alunos são cadernos de tamanho 144 mm de largura, por 202 mm de comprimento que contêm 48 folhas, capa dura, de papelão. Vale ressaltar que o papel é produzido a partir de fontes responsáveis ecologicamente. Para deixar os alunos confortáveis com a escolha de seus diários, foram adquiridos diário de 4 cores diferentes: verde, amarelo, azul e vermelho. No total foram criados 110 diários, contemplando todos os alunos dos 8° anos da Escola Municipal Professor Herley Mehl. Os diários ficam armazenados no laboratório de ciências, pois muitas das atividades desenvolvidas ocorreram nesse espaço. O diário de bordo é entregue no início das atividades e recolhido ao final delas. A primeira atividade relacionada ao diário foi a ilustração da capa dos cadernos. Foram apresentadas aos alunos, algumas inspirações de capas e um vídeo de um viajante para ilustrar a finalidade deste caderno. No vídeo, o viajante mostrava coisas que ele coletava nos locais por onde passava, relatos escritos, impressões e sentimentos.A criação das capas dos diários poderia ser realizada livremente, através de colagens (revistas), desenhos ou poesias. Os alunos “soltaram a imaginação” e sem interferência dos participantes do projeto, a maior parte deles criou imagens relacionadas ao meio ambiente: árvores, plantas e animais. 24552 Posteriormente, o diário de bordo passou a ser utilizado para o registro das atividades do projeto desenvolvidas a partir do estudo do meio. As principais delas foram: 1) O caminho da escola. Representação gráfica do caminho percorrido desde a residência dos estudantes à escola, com registros de referenciais físicos presentes no trajeto. As figuras dos estudantes ficaram ricas em detalhes, percepções, sentimentos, representando a observação individual de cada um deles. Ao trabalharem a localização geográfica e a observação do meio, eles construíram um “mapa” individual do percurso. 2) Aula de escala. A atividade consistiu em trazer o exemplo de redução do espaço a partir do laboratório de ciências. A partir de um barbante os alunos mediram a sala de aula e a reduziram até caberem na página de seus diários, tornando a assimilação do conteúdo de escalas mais fácil. 3) Expedição virtual utilizando o Google Maps. Durante a aula no laboratório de informática, para localizar diferentes elementos na representação gráfica e nas fotos de satélite, incluindo a escola e o bairro. 4) Expedição no bairro. Um trajeto pelo bairro foi percorrido, mostrando curiosidades, sua história, a vegetação e a sociedade (diferentes casas, estabelecimentos, etc.), além de proporcionar momentos de contemplação de paisagens e exercitar a localização geográfica. Cada aluno possuía uma cópia do mapa das ruas do trecho percorrido. Durante o trajeto, o aluno devia coletar coisas que chamavam sua atenção para posterior inclusão no diário. Eles coletaram desde flores e folhas, até bitucas de cigarros e papeis de bala encontrados pelos caminhos percorridos. Após a expedição, foi solicitado aos alunos que registrassem suas principais impressões nos diários. Resultados Os resultados obtidos até o mês de julho de 2015 são ainda parciais, uma vez que a formação do conhecimento ambiental do projeto ainda está em construção. Contudo, alguns resultados podem ser observados. A partir do início da produção dos diários de bordo, verificamos a motivação da maioria dos alunos em registrar o que vivenciaram nas suas atividades. Alguns alunos criaram outro diário em suas casas, para o registro de atividades extra-escolares, como passeios e viagens de férias. 24553 As atividades registradas no diário de bordo foram elaboradas com intuito de construir a relação dos estudantes com o meio. Elas foram bem aceitas pelos alunos e todos apresentaram compromisso com a produção dos diários. Cada aluno descreveu sua relação com ambiente, não apenas no conteúdo, mas nas percepções, nos sentimentos. Alguns diários representaram ideias críticas do ambiente como questões de infraestrutura e segurança do bairro retratando percepções únicas. Por exemplo, muitos estudantes realizam trajetos semelhantes de suas residências até a escola, mas os desenhos produzidos são completamente distintos, com representações, informações pessoais de cada aluno. Todos receberam uma folha do tamanho A4 para representar seu trajeto, alguns fizeram seu mapa mental grande e com muitos detalhes, colocando nome de comércios próximos e das casas de amigos, já outros fizeram um mapa pequeno e com outras referências como praças que existem no caminho e árvores marcantes. Porém, os dois trajetos são de alunos que vivem no mesmo bairro. Como foi dito, o diário também auxilia na elaboração de atividades futuras, pois podemos analisar as curiosidades e dificuldades dos alunos, já que fica tudo registrado no diário, e os cadernos ficam na escola disponíveis para os bolsistas e professores do projeto. Na aula onde os alunos fizeram o trajeto de suas casas até a escola, percebemos a grande dificuldade que estavam tendo em reproduzir um trajeto aparentemente grande em apenas uma folha de papel, surgiram muitos comentários da parte dos alunos como “não dá para colocar o caminho da minha casa nesse papel” e foi a partir daí que percebemos a necessidade de uma aula voltada especialmente para o tema escalas. Assim vem se desenrolando o projeto desde o início, partimos sempre de algo dado pelos alunos, procuramos o potencial de algum tema ou atividade a partir dos comentários que eles fazem em sala ou a curiosidade deles com certo tema. Considerações Finais Ainda que os resultados sejam ainda parciais, há a expectativa de que o diário de bordo reforce o sentido de inter-relação entre fatores que constituem o meio ambiente. Espera-se ainda que a utilização do diário de bordo acentue a compreensão junto aos alunos, segundo a qual a inter-relação entre o homem, a sociedade e a natureza implica em complementariedade entre as diferentes disciplinas. O diário de bordo não é o caderno de ciências, artes ou geografia. Ele contém todas elas para abordar o meio ambiente. 24554 Em última instância, o diário de bordo deverá contribuir para a apreensão do meio ambiente como o lugar de pertencimento do aluno. Observando o que gostam e o que não gostam, o que gostariam e o que não gostariam de mudar, o aluno constrói a sua memória, a sua reflexão e a sua interação afetiva com o lugar em que se vive, para o qual viajou sem deslocamento. Este processo é fundamental para a educação ambiental, pois “ O lugar em que se vive é o primeiro cadinho do desenvolvimento de uma responsabilidade ambiental, onde aprendemos a nos tornar guardiães, utilizadores e construtores responsáveis do Oïkos, nossa “casa de vida” compartilhada” (SAUVÉ, 2005, p. 318). No relato da viagem do diário de bordo registra-se esse lugar “re-conhecido” enquanto meio ambiente. REFERÊNCIAS BRAGA, Marco, et al. Breve história da Ciência Moderna: A belle-époque da ciência (séc. XIX) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007. DIAS, Viviane Borges, et al. O Diário de Bordo como ferramenta de reflexão durante o Estágio Curricular Supervisionado do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz – Bahia. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – ENPEC, 9. Águas de Lindóia, SP, 2013. Disponível em <http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/ixenpec/atas/resumos/R1143-1.pdf > acesso em 30 de julho de 2015 GADOTTI, Moacir. 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