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A U L A 1 1 – D I R E I T O S R E A I S S O B R E C O I S A A L H E I A DIREITO CIVIL IV TÓPICOS DA AULA • Dos direitos reais sobre coisa alheia • Direito real de superfície Direito real de usufruto • Direito real de uso e de habitação • Direito real de aquisição: direito real do promitente comprador DOS DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA • São aqueles que têm por titular pessoa diversa do titular da propriedade. Esses direitos surgem a partir do desmembramento da posse do proprietário e consequente transmissão de parte de seus poderes para a constituição desse novo direito. Em razão disso, são classificados como direitos limitados. DOS DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA Direitos reais de gozo Direito real de aquisição Direitos reais de garantia que conferem ao seu titular o(s) poder(es) de uso e/ou gozo sobre coisa alheia que vincula a aquisição de um determinado bem ao titular deste direito; que vinculam um determinado bem como garantia pelo pagamento de uma dívida. DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO • Direito real de superfície; • Direito real de usufruto; • Direito real de uso; • e direito real de habitação. DIREITO REAL DE SUPERFÍCIE • Trata-se de direito real sobre coisa alheia e limitado, classificado como direito real de gozo ou fruição, que confere ao seu titular o direito de construir ou de plantar em terreno de outrem, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. • Pela utilização, o superficiário deverá pagar todos os encargos e tributos que incidam sobre o imóvel como um todo, terreno mais construção, como se proprietário fosse. DIREITO REAL DE SUPERFÍCIE • Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. • Parágrafo único. O direito de superfície não autoriza obra no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da concessão. • Art. 1.370. A concessão da superfície será gratuita ou onerosa; se onerosa, estipularão as partes se o pagamento será feito de uma só vez, ou parceladamente. • Art. 1.371. O superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel. • Art. 1.372. O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros. • Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela transferência DIREITO REAL DE SUPERFÍCIE • Art. 1.373. Em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, o superficiário ou o proprietário tem direito de preferência, em igualdade de condições. • Art. 1.374. Antes do termo final, resolver-se-á a concessão se o superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para que foi concedida. • Art. 1.375. Extinta a concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o terreno, construção ou plantação, independentemente de indenização, se as partes não houverem estipulado o contrário. • Art. 1.376. No caso de extinção do direito de superfície em conseqüência de desapropriação, a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário, no valor correspondente ao direito real de cada um. • Art. 1.377. O direito de superfície, constituído por pessoa jurídica de direito público interno, rege-se por este Código, no que não for diversamente disciplinado em lei especial DIREITO REAL DE USUFRUTO • No usufruto a propriedade se desmembra entre dois sujeitos: o nu-proprietário e o usufrutuário. Para o primeiro, a propriedade fica nua, desprovida de direitos elementares, visto que conserva apenas o jus disponendi e, em função do princípio da elasticidade, a expectativa de reaver o bem, momento em que a propriedade se consolida. O segundo detém o domínio útil da coisa, que se verifica nos direitos de uso e gozo, e a obrigação de conservar a sua substância, em razão do mesmo princípio. DIREITO REAL DE USUFRUTO • O fato de no usufruto o domínio ser fracionado acaba por restringir a posse direta do usufrutuário. Em sentido contrário, o usufruto não opera o fracionamento da propriedade, mas torna a propriedade um direito limitado, nunca um direito dividido. • É direito real sobre coisa alheia: sendo direito real tem oponibilidade erga omnes e, em conseqüência, direito de seqüela, o que permite ao titular, usufrutuário, buscar a coisa nas mãos de quem estiver, de forma injusta, para dela usar e gozar como lhe é assegurado. A defesa de seu direito é feita por meio de ação real. DIREITO REAL DE USUFRUTO • É um direito temporário: consoante dispõe o Código Civil o usufruto se extingue pela renúncia ou morte do usufrutuário (art. 1.410, I); pelo termo de sua duração (art. 1.410, II); pelo decurso do prazo de trinta anos da data em que se começou a exercer, se instituído em favor de pessoa jurídica (art. 1.410, III); e pela cessação do motivo de que se origina (art. 1.410, IV). • Deve o direito de usufruto ser temporário, pois, do contrário, seria prejudicial à expectativa do u- proprietário de recuperar a propriedade plena, não mais despojada dos elementos que lhe dão conteúdo DIREITO REAL DE USUFRUTO • É intransmissível: o usufruto é intransmissível tanto inter vivos quanto causa mortis tendo em vista seu caráter intuitu personae. Disto decorre a impossibilidade de usufruto sucessivo, ou seja, aquele em que se beneficia mais de um usufrutuário em momentos diferentes (FARIAS; ROSENVALD, 2008, p. 571). • É inalienável: conforme disciplina o art. 1.393, 1ª parte, do Código Civil. O Código Civil de 1916, em seu art. 717, permitia a alienação do usufruto unicamente ao proprietário. Apesar de o permissivo legal não ter sido repetido no Código atual, há posicionamento doutrinário de que a exceção ainda pode ser aplicada, de maneira que ocorrerá a extinção do usufruto pela consolidação (art. 1.410, VI). DIREITO REAL DE USUFRUTO • É impenhorável: devido à inalienabilidade, o usufruto também é impenhorável. O direito não pode ser penhorado em ação de execução movida por dívida do usufrutuário, pois o bem poderia, em último caso, ser vendido em hasta pública. • É divisível: pela leitura do art. 1.411 do Código Civil percebe- se a possibilidade de sua constituição em favor de duas ou mais pessoas, o que gera o co-usufruto. Afirma Silvio de Salvo Venosa (2003, p. 431) que “o usufruto é divisível, podendo ser atribuído simultaneamente a mais de uma pessoa, mais de um usufrutuário, estabelecendo-se o co- usufruto”. DIREITO REAL DE USUFRUTO • Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e utilidades. • Art. 1.391. O usufruto de imóveis, quando não resulte de usucapião, constituir-se-á mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis. DIREITO REAL DE USUFRUTO • Art. 1.392. Salvo disposição em contrário, o usufruto estende-se aos acessórios da coisa e seus acrescidos. • § 1º Se, entre os acessórios e os acrescidos, houver coisas consumíveis, terá o usufrutuário o dever de restituir, findo o usufruto, as que ainda houver e, das outras, o equivalente em gênero, qualidade e quantidade, ou, não sendo possível, o seu valor, estimado ao tempo da restituição. • § 2º Se há no prédio em que recai o usufruto florestas ou os recursos minerais a que se refere o art. 1.230 , devem o dono e o usufrutuário prefixar-lhe a extensão do gozo e a maneira de exploração. • § 3º Se o usufruto recai sobre universalidade ou quota-parte de bens, o usufrutuário tem direito à parte do tesouro achado por outrem, e ao preço pago pelo vizinho do prédio usufruído, para obter meação em parede, cerca, muro, vala ou valado. DIREITO REAL DE USUFRUTO • Art. 1.393. Não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito ou oneroso. DIREITO REAL DE USO E DE HABITAÇÃO • Nãoconstituem outra coisa senão usufruto com finalidade específica. • No DIREITO DE USO, somente utilidades específicas da coisa alheia, necessárias para a manutenção do núcleo familiar, é que são transferidas para o beneficiário. No usufruto TODAS as vantagens (via de regra) são transferidas. DO USO • Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. • § 1º Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua condição social e o lugar onde viver. • § 2º As necessidades da família do usuário compreendem as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e das pessoas de seu serviço doméstico. • Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. DIREITO REAL DE USO E DE HABITAÇÃO USO USUFRUTO Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. § 1o Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua condição social e o lugar onde viver. Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e utilidades. DIREITO REAL DE USO E DE HABITAÇÃO • No DIREITO DE HABITAÇÃO, autoriza-se a um terceiro habitar, gratuitamente, imóvel de outrem, sozinho ou com sua família (incluindo empregados do lar). • Os direitos de uso e habitação também são VITALÍCIOS. • No caso do direito real de habitação do cônjuge sobrevivente, pode o titular levar quem quiser para dentro de casa, sem qualquer restrição legal. DA HABITAÇÃO • Art. 1.414. Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família. • Art. 1.415. Se o direito real de habitação for conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que sozinha habite a casa não terá de pagar aluguel à outra, ou às outras, mas não as pode inibir de exercerem, querendo, o direito, que também lhes compete, de habitá-la. • Art. 1.416. São aplicáveis à habitação, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. DIREITO REAL DE USO E DE HABITAÇÃO • O uso e habitação jamais podem ser constituídos em favor de Pessoa Jurídica. Já o usufruto e a superfície sim. • O uso e habitação devem ser regulados com as mesmas características do usufruto. Assim, também são personalíssimos, não podendo ser alienados ou transferidos. Podem, tal como o usufruto, ser adquiridos por usucapião. • Diferenças para o usufruto: São indivisíveis (não se admite “couso” – no uso) e incessíveis (não se pode alugar um direito de uso). DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO: DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR • O direito real de aquisição também é considerado direito real sobre coisa alheia e limitado, pois garante ao seu titular apenas uma expectativa de direito acerca da aquisição de um bem imóvel. Há apenas uma espécie de direito real de aquisição, o direito real do promitente comprador. DA PROMESSA DE COMPRA E VENDA • A promessa de compra e venda se corresponde à maioria dos contratos imobiliários celebrados no Brasil. O contrato de compra e venda só existe quando o pagamento é à vista. Quando o pagamento é prolongado no tempo, estamos diante da promessa de compra e venda, onde uma pessoa se compromete a pagar parceladamente o preço enquanto a outra, completado o pagamento, se compromete a transferir o título (porque a posse já fica com o promitente comprador desde a celebração do negócio). DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO: DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR • Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel. • Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel. DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO: DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR • O direito real do promitente comprador tem por objeto um bem imóvel adquirido mediante promessa irretratável de compra e venda (feita sem a cláusula de arrependimento), por instrumento público ou particular, devidamente registrada no Cartório de Imóveis. O registro no Cartório de Imóveis é essencial para conferir a esse direito de aquisição natureza real e, consequentemente, eficácia erga omnes, caso contrário terá natureza meramente obrigacional. DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO: DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR • Súmula nº 239 do STJ que “o direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis”. • A referida súmula, contudo, precisa ser interpretada restritivamente, pois, se não houve o registro do direito real de aquisição, o que existe é um direito de natureza pessoal, de eficácia relativa, vinculando apenas as partes, o que não impede a propositura da ação de adjudicação compulsória contra o promitente vendedor. DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO: DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR • O problema é se o promitente vendedor tiver se aproveitado da ausência do registro no Cartório de Imóveis do compromisso de compra e venda para alienar o imóvel para terceiro, e este tenha efetivado o registro de propriedade do bem. Nessa situação, o pedido de adjudicação compulsória contra o terceiro se torna inviável, pois o promitente comprador não tinha direito real de aquisição sobre a coisa, não tendo, portanto, um direito com eficácia perante terceiros. Em uma situação assim, restará ao prejudicado apenas reclamar o prejuízo material sofrido, perdendo a coisa para o terceiro adquirente, ainda que este tenha agido de má-fé. DIREITO REAL DE AQUISIÇÃO: DIREITO REAL DO PROMITENTE COMPRADOR • A grande vantagem da constituição do direito real de aquisição é resguardar a expectativa de direito de aquisição do imóvel perante o promitente vendedor, mas, principalmente, perante terceiros.
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