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1 Semiologia Ginecológica Semiologia é o ramo da medicina que estuda os sinais e sintomas das doenças, aplicando a metodologia da colheita de dados, bem como, o processo de sistematização dos mesmos para chegar a um diagnóstico. A semiologia ginecológica, estuda os sinais e sintomas das modificações funcionais das doenças que acometem o aparelho genital feminino. Começa pela anamnese, que é a entrevista com a paciente. 1. Anamnese: Toda vez que atendermos uma paciente, devemos começar pela anamnese. A paciente está muito nervosa, está com vergonha e é necessário criar um ambiente de confiabilidade. É a base da investigação médica. Primeiro contato com a paciente. Ambiente adequado para acolher a cliente, para que ela conte o que está acontecendo de mais íntimo com ela. Treinamento da recepção. Importante a Pontualidade (individual respeitando cada consulta), Tempo de consulta (individual respeitando cada consulta), Postura do médico (principalmente). Sempre ter paciência para ouvir! 1.1 Identificação: A identificação da cliente, contendo nome completo, idade, procedência (cada região tem uma incidência maior de determinada patologia), estado civil (é importante pela vida sexual, uma paciente solteira pode ter uma vida sexual com vários parceiros, uma casada, normalmente com parceiro fixo), escolaridade, raça (negras têm maior incidência de mioma-tumor no útero), são dados essenciais para o raciocínio diagnóstico. Sempre chamá-la pelo nome, de preferência buscá-la na porta. - Idade - a incidência de algumas doenças e condições fisiológicas, variam com a faixa etária: como por exemplo: malformações na genitália, corrimentos genitais, distúrbios da hemostasia, falência ovariana. - Procedência - Importante para inferir acerca dos hábitos de vida, mitos, e população de risco para certas doenças. No caso de gestantes provenientes de área de risco para dengue, febre amarela, chagas, dentre outras, esse conhecimento torna-se fundamental. - Nível de escolaridade e socioeconômico - Existem algumas doenças que são mais prevalentes em pacientes com baixo nível sócio econômico e escolaridade, como as infectocontagiosas e DST/IST’s. - Religião também é importante, envolve ética médica. 1.2 Queixa principal: Motivo que levou a paciente a procurar o médico, a consulta, é importante destacar que é a real preocupação da mesma. É importante escrever da mesma forma que a paciente fala. Ex: dor no pé da barriga, corrimento com cheiro forte. Portanto, cabe ao médico criar um ambiente de confiança, fazendo ela se sentir segura, confortável para que outras queixas apareçam. Problemas de sexualidade por exemplo, trazem muito constrangimento, ex: dificilmente em uma primeira consulta alguém relata ter problemas na vida sexual com o marido. Questões da vida sexual devem ser perguntadas na entrevista. 1.3 História da moléstia atual: Quando começou, a duração, fatores de melhora e de piora, pedir para a paciente mostrar com a mão onde dói. Visa caracterizar melhor as queixas apresentadas. Nessa fase da anamnese, muito importante o médico conduzir a entrevista sem interrupções sucessivas, orientando, porém, sem o desvio do tema central. É muito comum nesta fase, surgirem problemas não relatados anteriormente, que consistem no verdadeiro motivo da consulta. 1.4 História pregressa: Buscar informações sobre as doenças pregressas (já teve e foi tratado antes), tratamento realizados, cirurgias, uso de medicamentos, transfusões e imunização. Existe alguma doença que ela precisa fazer tratamento regularmente. (FREITAS) Doenças da infância (p. ex., rubéola), cirurgias prévias (cistos de ovário, histerectomia, ooforectomia, cesarianas, curetagens), obesidade, uso de álcool, cigarro, drogas ou outros medicamentos, tromboembolismo, hipertensão, diabetes. Tais relatos, é de suma importância no raciocínio para chegar a um diagnóstico. Falar na linguagem da paciente. Ex: substituir hipertensão por pressão alta. Ex: corrimento: perguntar cor, cheiro, se coça ou não, quando começou, se foi durante uma relação sexual desprotegida ou não. Se já teve isso outras vezes, se já tratou outra vez. Corrimento branco, sem cheiro com prurido = candidíase. No exame físico, você já irá supor que é Candida. A maioria das doenças é possível descobrir 2 na anamnese, pela conversa, desde que as doenças sejam estudadas. Paciente com uso contínuo de corticóides (imunossupressor) ou diabético pode ter candidíase por repetição. Ex 2: sangramento aumentado durante o período menstrual (intenso) e com coágulos, pensar em patologias uterinas como mioma, adenomiose, pólipo. 1.5 História familiar: Investigar doenças nos familiares, como por exemplo, neoplasias, diabetes, hipertensão, tromboembolismo, tumores cerebrais, leucemias, câncer de mama (não se deve receitar hormônios se uma mulher tiver a mãe com câncer de mama, já que nessa condição o risco de câncer de mama aumenta em 25%), dentre outras. Tais achados podem ser de suma importância no processo de formação do diagnóstico. (FREITAS) História de câncer ginecológico (útero, ovário, endométrio) e câncer de mama (atenção à idade em que surgiu: pré ou pós-menopáusica), outras neoplasias (lembrar o câncer colorretal, pois requer realização mais precoce de testes de rastreamento, como toque retal, pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia/ retossigmoidoscopia), diabetes, hipertensão, tromboembolismo, patologias de tireoide, osteoporose ou fratura de ossos longos em idade avançada. 1.6 História social: investigar o ambiente de trabalho. Ex: determinados tipos de calças muito apertadas aumentam a proliferação de fungos; prática de atividade física intensa (excesso de atividade física bloqueia menstruação; uso de anabolizantes também têm influência bloqueadora); tabagismo (quantificar), etilismo; uso de drogas (quais e quantidades). (FREITAS) condições de habitação, noções de higiene, nível socioeconômico e grau de instrução (também dos pais), situação familiar, animais em casa, hábitos de vida (exercícios atualmente e no passado, exposição ao sol, ingestão de laticínios – avaliação de risco de osteoporose). 1.7 História ginecológica e obstétrica: Menarca: primeira menstruação, ocorre em média dos 11 aos 14 anos, podendo ser aceitável até os 16 anos. Paciente aos 18 anos que ainda não menstruou: suspeitar de malformação. Menacme: período entre a menarca e menopausa, período da idade fértil. Climatério: período que antecede a menopausa (última menstruação). Pós menopausa: após a última menstruação. Ciclos menstruais: Data da última menstruação (DUM), duração (quantos dias você sangra?), fluxo (quantos absorventes por dia? Um absorvente cheio = 80g; é importante quantificar o sangramento e isso pode ser feito por quantidade de absorventes), intervalo (Uma vez por mês? A cada 20 dias?). *Ciclo irregular têm duração inferior a 25 dias e superior a 35 a dias. É normal termos um ciclo de 25 a 35 dias. *Menstruação sofre influência do sistema límbico, ex. perder um ente próximo pode menstruar no dia seguinte. (FREITAS) tipo de corrimento, se com ou sem odor, coloração, prurido. Já é oportuno orientar quanto à normalidade e às características da leucorreia fisiológica e do muco cervical. Devem ser investigados sintomas no parceiro, úlceras genitais, prurido vulvar e em monte púbico, adenomegalias inguinais e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) tratadas previamente. O uso de jeans apertado, roupa íntima de material sintético, sabão em pó (não neutro) na lavagem das roupas e desodorante íntimo estão frequentemente relacionados a queixas de prurido vulvar. Métodos contraceptivos (quais?); Atuais e previamente usados, importante questionar tempo de uso, efeitos colaterais, tolerância e se está usando de forma correta. Vida sexual: idade do início, orientação sexual, número de parceiros que já teve, história prévia de DSTs (algum corrimento, verruga na vagina), satisfação (conseguechegar ao orgasmo?), receios da sexualidade (não consegue ter relação por ter sofrido abuso na infância). (FREITAS) atividade, satisfação, libido, orgasmo. Pesquisar anorgasmia, frigidez, dispareunia (profunda ou à penetração), posições menos dolorosas, vaginismo, sangramento pós-coital. Também se devem aferir os riscos de exposição a DSTs (uso de preservativo, número de parceiros sexuais). Esse é um assunto difícil de abordar na primeira consulta; muitas vezes tais questões afloram em encontros subsequentes, quando a confiança já foi conquistada. 3 Antecedentes obstétricos: número de gestações, partos e abortos (GPA), idade gestacional do nascimento (a termo ou pré termo), via de parto, local, particularidades dos partos (fórceps, indução, etc.), complicações imediatas (hemorragias, acretismo, lacerações) e tardias (infecções, fístulas), amamentação e suas complicações, peso do RN, bem como seu desenvolvimento posterior. *incontinência urinária para mulheres com parto vaginal; (FREITAS) anticoncepção no puerpério, intervalo interpartal, infecções puerperais, ameaça de abortamento, partos prematuros; gestações ectópicas e molares. Menopausa: idade, história de sangramentos pós, sintomas referentes. (FREITAS) fogachos, atrofia urogenital (dispareunia, secura vaginal, perda de urina), perda de libido, alterações cutâneas. Devem ser avaliados fatores de risco para osteoporose, doenças cardiovasculares, presença de diabetes ou de outras endocrinopatias e dislipidemia. Além disso, pesquisar uso de hormonioterapia, por quanto tempo, de que tipo (cíclica ou contínua, combinada ou monoterapia). É importante determinar o padrão menstrual na perimenopausa, pois alterações caracterizadas pelo aumento de fluxo (em quantidade de sangramento ou número de dias) geralmente exigem avaliação endometrial. *paciente vítima de estupro: orientar para fazer B.O. e exame de corpo de delito. Fazer tratamento profilático de IST: HIV, vacina para hepatite B, pílula do dia seguinte. Paciente no consultório que sofreu abuso na infância: orientar procurar uma profissional sexóloga. (FREITAS) Queixas mamárias -- nódulos palpáveis, mastalgia (e padrão – se perimenstrual ou não), derrame papilar (se espontâneo ou somente à expressão intencional, além de sua característica – sanguinolento, amarelado e espesso, água- de-rocha). Fumo, idade na primeira gravidez a termo e número de gestações, uso de anticoncepção hormonal, idade na menopausa e antecedentes familiares são fatores epidemiológicos importantes a serem investigados. Queixas urinárias -- incontinência urinária (de esforço, de urgência ou mista), sensação de prolapso genital (“peso” ou “bola” na vagina, dificuldade na evacuação), infecções respiratórias de repetição, hábito miccional. Tratamentos ginecológicos prévios, como cirurgias, cauterizações de colo e vulva, himenotomia e uso de cremes vaginais. Importante questionar sobre o último exame citopatológico (CP) de colo e seu resultado. Ao final da anamnese, é importante deixar à paciente um espaço para que resolva algumas dúvidas persistentes, revelar motivos ocultos para a consulta com o ginecologista ou liberar ansiedades. Perguntas abertas são aconselháveis, como: “Alguma outra dúvida?”, “Alguma coisa a mais que você acha importante me dizer, mas que ainda não perguntei?” ou “e como vai a sua vida?”. 2. Exame físico geral: Como em qualquer outra área da medicina, o exame físico geral deve ser completo. Aferição da pressão arterial, Peso, Estatura, Cálculo do IMC, Exame do abdome, Exame das mamas, Exame ginecológico (último por já criar vínculo de intimidade). Começar pelo mais simples e menos invasivo a paciente. Pedir se pode examinar, pedir para que ela tire toda a roupa e pedir para colocar um avental, jamais pedir para sair nua para adentrar na sala/consultório. Primeiro: começar pelo exame das mamas, depois abdome. 2.1 Exame do abdome: inspeção, palpação (ex. massa), ausculta, percussão. (NOVAK) Com a paciente na posição supina, deve ser feita uma tentativa para relaxá-la o máximo possível. É importante que a cabeça da paciente seja recostada e apoiada gentilmente por um travesseiro para ela não tencionar seus músculos abdominais. Flexão dos joelhos pode facilitar o relaxamento. O abdome deve ser inspecionado à procura de massa intra- abdominal, visceromegalias ou distensão que possam, por exemplo, sugerir ascite ou obstrução intestinal. Ausculta dos ruídos intestinais, se considerado necessária para assegurar sua natureza, deve preceder a palpação. A frequência dos ruídos intestinais e sua qualidade devem ser notadas. Em paciente com obstrução intestinal, peristalse de luta e um ruído "metálico" podem ser ouvidos. Ruídos intestinais associados a íleo paralítico podem ocorrer com menos frequência, mas no mesmo tom dos ruídos intestinais normais. O abdome é palpado para avaliar o tamanho e a configuração do fígado, baço e de outros órgãos abdominais. Evidência de preenchimento ou efeito de massa deve ser notada. Isso é particularmente importante na avaliação de pacientes que possam ter uma massa pélvica e na determinação da extensão do envolvimento do omento, com o câncer ovariano metastático, por exemplo. Um preenchimento no andar superior do abdome pode corresponder a um conglomerado de omento. Todos os quatro quadrantes devem ser palpados de maneira cuidadosa à procura de qualquer evidência de massa, endurecimento, irregularidade ou distensão. É importante que uma abordagem sistemática seja usada (p. ex., no sentido horário, começando no quadrante superior direito). A percussão deve 4 ser usada para medir as dimensões do fígado. É preciso que a paciente seja solicitada a inspirar e expirar durante apalpação da borda hepática. Áreas dolorosas devem ser avaliadas após o exame do resto do abdome. 2.2 Exame das mamas: Se divide em: a. Inspeção estática: paciente deve estar sentada, de frente para o examinador, com os membros superiores pendentes ao lado do corpo. O médico deve observar tamanho, simetria, retração, abaulamento, depressão, cor da pele e aspecto (ex. pele em casca de laranja suspeitar de câncer), presença ou não de cicatrizes, cirurgias prévias. Olhar para a mama da paciente sentada, sem roupa. b. Inspeção dinâmica: pedir para a paciente realizar movimentos de elevação dos MMSS acima da cabeça, após inclinação do corpo em direção ao tronco e pressão sobre os quadris; observar se a mama tem retração, se há retração para axila, se vai mudar de tamanho ou não. Outro movimento é pedir a paciente descer os braços, e pôr a mão no quadril e se inclinar para frente, nessas ocasiões pode aparecer nódulos. Observar depressão, retrações, nodulações. c. Palpação: é feita em duas fases, com a paciente sentada e deitada. Com a paciente ainda sentada, o examinador coloca o braço direito da paciente sobre seu braço esquerdo, iniciando a palpação da região axilar. Observar se existe linfonodos palpáveis, descrevendo o tamanho, consistência, mobilidade e dor. Após a palpação da axila, deslizar a mão em direção ao tórax, observando se existe as mesmas alterações citadas acima. O mesmo deve ser feito contralateral. Palpar a região infraclavicular e supraclavicular. Ainda com a paciente sentada deve-se palpar as fossas supra e infra-axilares. (FREITAS) Ainda com a paciente sentada, procede-se à palpação das cadeias de linfonodos mais propensas a serem atingidas por um tumor. Palpam-se as regiões supraclavicular e cervical e, então, a cadeia axilar bilateralmente. (WILLIANS) A axila está localizada entre o músculo peitoral maior, ventralmente, e o músculo latíssimo do dorso, dorsalmente. Os linfonodos são detectados à medida que a mão do examinador desliza desde o ápice até a parte inferior da axila e momentaneamente comprime os linfonodos contra a parede lateral do tórax. Em uma paciente magra, um ou mais linfonodos normais, móveis, medindo 1 cm de diâmetro, são comumente detectados. O primeiro nódulo linfáticoa ser comprometido com metástase de câncer de mama (o nódulo sentinela) está quase sempre localizado na parte posterior da porção média do músculo peitoral maior. Pedir para a paciente e deitar em decúbito dorsal com as mãos atrás estendidas sobre a cabeça de modo relaxado (tronco relaxado). Palpar com a ponta dos dedos em círculos (movimentos circulares no sentido horário), de fora para dentro do mamilo, em todos os quadrantes, imaginando que a mama tenha 4 quadrantes. Fazer a palpação como se estivesse dedilhando ou também a palpação circular. É importante fazer a expressão do mamilo para perceber se há secreção de algum líquido, cor, consistência, dor e presença de nódulos. Ex: um dos sinais de câncer de mama é sair uma 5 secreção hialina da mama. Essa expressão do mamilo deve ser feita com cuidado, com as duas mãos em concha. TUDO FEITO COM A PACIENTE DEVE SER RELATADO. (FREITAS) Prossegue-se com a palpação de cada mama. A paciente fica em decúbito dorsal, e o examinador deve ficar do lado da mama a ser examinada. O exame compreende dois momentos, ora com a mão espalmada e dedos juntos, realizando uma exploração completa da mama, ora com as polpas digitais para avaliar detalhes. Além de nódulos e massas, devem-se avaliar a presença de sinais inflamatórios, alterações na vascularização superficial e edema da pele da mama (peau d’orange). A expressão mamilar só é necessária quando há queixa de derrame papilar espontâneo. É realizada de maneira centrípeta, seguindo o movimento dos ponteiros de um relógio, para que se descubra o raio correspondente ao derrame, útil na abordagem cirúrgica, quando necessária. (WILLIANS) Após a inspeção, a palpação da mama é realizada com a mulher em posição supina, com uma das mãos acima da cabeça, para estirar o tecido da mama ao longo da parede torácica. O exame deve incluir o tecido mamário limitado pela clavícula, a borda do esterno, prega inframamária e linha média axilar. A palpação da mama dentro dessa área pentagonal é realizada de forma linear. A técnica correta é utilizar as polpas digitais em movimentos contínuos e circulares. Em cada ponto de palpação, os tecidos devem ser avaliados superficial e profundamente. Durante o exame clínico das mamas (ECM), as tentativas intencionais de expressão do mamilo em busca de descarga não são exigidas, exceto se uma descarga espontânea for relatada pela paciente. Terminando o exame físico, deve-se registrar as alterações observadas, combinando com descrição do gráfico. Fazer um desenho, como se fosse uma mama de 4 quadrantes (inferior e superior, externo e interno). Se achar um nódulo, descrever as seguintes características: 1. Localização 2. Tamanho em cm 3. Forma 4. Consistência (amolecida, endurecida) 5. Mobilidade (móvel ou não) 6. Delimitação (na auréola, na linha axilar, nos dois quadrantes superior ou inferior) 7. Dor (doloroso a palpação ou indolor) 8. Aspectos de erupções (com ou sem) (WILLIANS) Se forem observadas condições anormais na mama, elas devem ser descritas de acordo com sua localização na mama direita ou esquerda, por quadrante, distância da aréola e tamanho. 2.3 Exame ginecológico: O Exame ginecológico satisfatório, depende muito da colaboração da paciente dos cuidados do médico. Pedir para a paciente escorregar o bumbum até a o final da mesa e ficar em posição ginecológica: afastar as pernas, afastar o joelho um do outro (a paciente se sente menos agredida moralmente), e perguntar se pode examinar, pedir licença. Por isso é muito importante criar um ambiente seguro para a examinada, demonstrando confiança, cuidado, explicando cada passo a ser tomado, assim como solicitar permissão para realização de cada passo do exame. a. Posição ginecológica: paciente em decúbito dorsal, paciente fica com a perna fletida sobre o abdome descansando a perna na perneira ou sobre a mesa, e ficar com o bumbum/nádega bem na borda, pedir para que ela relaxe pois ela irá fazer pressão contra. Paciente em decúbito dorsal, com as pernas fletidas sobre a coxa. Toda vez que ela deitar, estará com um avental. Colocar um lençol ou avental por cima das pernas/joelho da paciente. Sempre usar luvas devido ao risco de contaminação, que devem ser trocadas antes do exame do períneo e toque vaginal. (FREITAS) Quando se passa ao exame pélvico, é importante o posicionamento correto da paciente. O ideal é a posição de litotomia em mesa ginecológica: decúbito dorsal, nádegas junto à borda da mesa de exame, com coxas e joelhos fletidos, 6 descansando os pés ou a fossa poplítea nos estribos (perneiras). Além da posição descrita, pode-se utilizar a posição lateral ou lateral-oblíqua-esquerda ou posição de Sims, que permitem a realização do toque em uma gestante em trabalho de parto e a visualização da vulva, mas exigem maior manipulação. Quando não se dispõe de mesa ginecológica adequada, pode-se colocar a paciente em decúbito dorsal, deve-se solicitar que deixe os calcanhares próximos e que afaste bastante os joelhos. (WILLIANS) Este exame costuma ser realizado com a paciente em posição supina, com as pernas na posição de litotomia dorsal e os pés apoiados nos estribos. A cabeceira da cama é elevada em 30°, relaxando os músculos da parede abdominal para exame bimanual. A paciente deve estar ciente de que poderá interromper ou pedir uma pausa no exame a qualquer momento. Além disso, cada etapa da avaliação deve ser informada ou descrita antes da sua realização. b. Ordem: 1. Inspeção: olhar para vulva da paciente. Visualizar a genitália externa, observando disposição dos pelos, vulva, pequenos e grandes lábios, introito vaginal, vestíbulo da vagina, hímen, carúnculas himeais, meato uretral, glândulas de Skene e Bartholin, caso estejam visíveis. - Manobra de valsalva: pedir para a paciente realizar, como pedir para tossir e ser possível observar a urina saindo; observar se existe prolapsos genitais, bem como incontinência urinária (FREITAS) exame da vulva e do períneo -- Esse momento do exame é basicamente realizado somente com a inspeção. Observam-se a distribuição e as características dos pelos, o trofismo vulvar, as lacerações no períneo, a secreção exteriorizada, os condilomas e outras lesões cutâneas (erosões, ulcerações, discromias), a presença ou ausência de hímen, o tamanho dos pequenos lábios e o clitóris. Na região anal, procura-se por plicomas, hemorroidas, fissuras ou prolapsos. Quando há áreas suspeitas na vulva, pode-se utilizar o teste de Collins (com azul de toluidina a 2%), que colore com mais força as áreas com maior replicação celular, marcando assim o local para biópsia. O vestíbulo e o introito vaginal devem ser avaliados também sob esforço (manobra de Valsalva), para verificar se ocorre descida da mucosa vaginal para próximo do vestíbulo, ou mesmo além dele (exteriorização). Com dois dedos introduzidos na entrada da vagina, solicita-se o esforço, e se observa que parte da vagina prolapsa: parede anterior (cistocele), uretra (uretrocele, ocorrendo retificação progressiva do seu ângulo), parede posterior (retocele) ou colo uterino/útero (prolapso uterino), ou mesmo a cúpula vaginal, nas histerectomizadas (elitrocele). Na presença de retocele, é importante realizar o toque retal e vaginal unidigital simultaneamente, para avaliar a presença ou não de alça intestinal entre o reto e a vagina (enterocele), e o quanto de tecido é interposto entre eles. Palpando-se o vestíbulo e solicitando que a paciente contraia o ânus, avalia-se quanta força exercem os músculos perineais e os elevadores do ânus; quando há rotura perineal ou diástase desses músculos, sente-se pressão mínima ou nula sobre os dedos, geralmente associada a uma menor quantidade de tecido entre a vagina e o reto. 7 (WILLIANS) Os cânceres e as infecções pélvicas podem drenar para os linfonodos inguinais, que devem ser palpados durante o exame. A seguir, deve ser realizada uma inspeção metódica do períneo, desde o monte do púbis,ventralmente, e as pregas genitocrurais, lateralmente, até o ânus. Alguns médicos adicionalmente procedem à palpação para avaliar a presença de patologia nas glândulas parauretral e de Bartholin. Entretanto, na maioria dos casos, os sintomas da paciente e a presença de assimetria nessas áreas é que determinam a necessidade de investigação específica. 2. Exame especular: realizado através de um instrumento denominado espéculo, formado por material metálico ou de plástico descartável. Esse instrumento apresenta duas valvas iguais quando fechadas, variando de tamanho (1,2,3), normalmente o número 1 pode servir para qualquer paciente, mas é importante se atentar ao número de filhos, pode ser um espéculo maior. Para pacientes obesas, será necessário um espéculo maior. Fundamental a escolha do tamanho para cada paciente, visando o mínimo de desconforto possível. 1º Afastar os pequenos lábios, com a mão esquerda e com a mão direita começar a introduzir o espéculo em ângulo de 75º (evitando lesão uretral), em direção ao cóccix e fundo de saco, posteriormente iniciar a abertura do espéculo, até a visualização do colo uterino. Inspecionando as paredes vaginais, manchas e lacerações, bem como orifício externo do colo (puntiforme nas nulíparas em fenda nas multiparas). Se não achar o colo do útero, retirar o espéculo, fala para paciente que não achou e insere novamente. Septo vaginal: membrana que pode atrapalhar a visualização e causar dor. A partir desse momento iniciar a colheita do preventivo ou papanicolau. (FREITAS) Introduz-se o espéculo bivalve na vagina em sentido longitudinal-oblíquo (para desviar da uretra), afastando os pequenos lábios e imprimindo delicadamente um trajeto direcionado posteriormente, ao mesmo tempo em que se gira o instrumento para o sentido transversal. Sempre se deve avisar a paciente de que se está introduzindo o espéculo, preveni- la quanto ao desconforto e tranquilizá-la em relação à dor. É aconselhável tocar com a ponta do espéculo no vestíbulo antes de introduzi-lo, para a paciente sentir a temperatura e o material do instrumento. Não se deve utilizar lubrificante, pois confunde a avaliação de secreções. Após introduzido e aberto, procura-se individualizar o colo uterino e avaliar pregueamento e trofismo da mucosa vaginal, secreções, lesões da mucosa, septações vaginais, condilomas, pólipos, cistos de retenção e ectopia. (WILLIANS) Antes da inserção, os lábios menores são delicadamente separados, e a uretra é examinada. Em razão da sensibilidade uretral, o espéculo é inserido abaixo do canal. Alternativamente, antes da colocação do espéculo, posiciona- se o dedo indicador na vagina e aplica-se pressão no sentido posterior. Depois, solicita-se à paciente que relaxe os músculos da parede posterior para aumentar o conforto durante a inserção do espéculo. Com a inserção do espéculo, a vagina se contrai e a mulher pode sentir pressão ou desconforto. Uma pausa nesse momento costuma ser seguida de relaxamento do músculo vaginal. Quando o bico do espéculo estiver totalmente inserido, procede-se a sua inclinação com angulação de aproximadamente 30° para baixo a fim de alcançar o colo uterino (cérvice). Em geral, a posição do útero é antevertida e a ectocérvice encontra-se apoiada contra a parede vaginal posterior. À medida que o espéculo é aberto, a ectocérvice é visualizada. As paredes vaginais e o colo uterino devem ser examinadas buscando por massa, ulceração, despigmentação ou descarga incomum. 3. Colheita do material citopatológico: Exame fundamental para diagnóstico, prevenção de neoplasia do colo. 1º Espátula de Ayres - colher o material do fundo do colo para borda, fazendo rotação de 360º, fazer o raspado do material da ectocervice, possibilitando assim o raspado sobre a JEC (junção escamo colunar), região onde se inicia a maioria dos processos neoplásicos; 2º com uma escova, introduzida 2 cm dentro do canal endocervical, fazer a colheita do endocérvice, fazer o movimento de rotação para um lado só. Depois disso, fixar na lâmina (esfregaço e fixar com fixador citológico), passando em sentido vertical. Em seguida, com a escovinha dentro do canal endocervical, fazer o movimento circular para um lado só, retirar e fixar na lâmina. (FREITAS) Após a coleta de secreção vaginal para o exame a fresco, devem-se limpar as secreções que ficam à frente do colo (pode-se utilizar soro), e só depois proceder à aplicação de ácido acético (concentrações podem variar de 1 a 5%). Aguardam-se alguns minutos (2-4 min), e se realiza novamente a inspeção do colo uterino, à procura de lesões que foram realçadas pelo produto (mais brancas e brilhantes, ou leucoacéticas). Depois, aplica-se a solução de lugol para o teste de 8 Schiller: se o colo se cora de forma uniforme, escura, o teste é considerado normal (“iodo positivo” ou “Schiller negativo”); se, ao contrário, há áreas que não se coram, o teste é considerado alterado (“iodo negativo” ou “Schiller positivo”). Por vezes, quando se trata de mucosa vaginal atrófica, a coloração pode não ser uniforme, ou o colo adquire uma tonalidade mais fraca, até amarelada; nesse caso, o teste é normal, comumente designado como “iodo-claro”. Cabe ressaltar que somente a área de mucosa escamosa deve ficar corada. Não se espera, portanto, que as zonas com epitélio glandular (endocérvice, ectopia) fiquem coradas, bem como a zona de transformação epitelial, que pode adquirir coloração irregular. Coleta-se a secreção vaginal com a extremidade arredondada da espátula de Ayre e se espalha o material sobre duas gotas colocadas nas extremidades de uma lâmina previamente preparada – uma com KOH a 10% e outra com soro fisiológico. A lâmina, depois do teste do odor amínico (whiff test: cheira-se a lâmina para detectar odor semelhante a peixe, indicativo de vaginose bacteriana), é levada ao microscópio para análise. A outra extremidade da espátula de Ayre (em rabo-de-peixe) é utilizada para coleta de raspado cervical para CP de colo (ou exame preventivo do câncer de colo). A parte maior da espátula deve ser colocada no orifício cervical e depois girada em 360°, para coletar células de toda a circunferência da zona de transição. O objetivo é destacar células da junção escamocolunar (JEC), isto é, a área em que a mucosa escamosa e a glandular se encontram, pois essa é a sede da maioria das alterações celulares neoplásicas e pré-neoplásicas. Hoje em dia, praticamente todos os profissionais empregam também a escova endocervical para coleta de CP, especialmente nos casos em que a JEC se localiza internamente no canal cervical. O material, depois de colhido, deve ser imediatamente espalhado sobre a lâmina e fixado (em geral com álcool etílico a 95%), para posterior análise citopatológica. Há também escovas especiais fabricadas para realização de citologia em meio líquido ou para realização de exames especiais, como captura híbrida para papilomavírus humano ou clamídia. Nesse caso, a escova é introduzida quase que totalmente no canal cervical (apenas as cerdas mais proximais entram em contato com o orifício externo e a superfície do colo), devendo ser girada no mesmo sentido cerca de cinco vezes; após a retirada, sua ponta é colocada por inteiro em um frasco contendo o meio específico para análise. 4. Colheita em meio líquido: com a escovinha dentro do canal: colheita de células da ectocérvice, o exame é mais rápido e menos dolorido. É um método mais sensível pois o patologista não irá fixar a lâmina, se ele precisar de mais material para exames, ainda é possível observar. Ao fazer o esfregaço na lâmina as células ficam amontoadas, tornando mais difícil o diagnóstico. É um método caro, não disponível no SUS. 5. Toque genital: importante para avaliar os órgãos genitais internos, bem como a existência ou não de massas palpáveis. É bimanual → introduzir o dedo indicador, em seguida o dedo médio, até o fundo de saco, até sentir o colo do útero, sentir se têm abaulamento, restrição, tumoração.Com a outra mão apalpar o fundo uterino em cima do abdome da paciente e mobilizar o útero. Não colocar os dois dedos juntos pois dói e sempre dizer o que está fazendo, é importante fazer isso inclusive quando for tocar a paciente no trabalho de parto. Externamente: em cima da sínfise púbica. Toda vez que for fazer o toque vaginal pedir para paciente fazer xixi, se a bexiga estiver cheia não é possível visualizar nada. (FREITAS) O toque é realizado após enluvar a mão, com um ou dois dedos lubrificados (médio e indicador), introduzidos no canal vaginal, tentando avançar no sentido posterior, com pressão uniforme para trás. Para introduzir o(s) dedo(s), 9 afastam-se os grandes e os pequenos lábios com o polegar e o dedo mínimo. Às vezes, é necessário orientar a paciente a relaxar o assoalho pélvico, pedindo-lhe que faça um breve esforço para baixo ou tossindo, o que facilita a penetração. Os dedos devem explorar a musculatura pélvica, as paredes vaginais, a cérvice, o fundo-de-saco anterior e posterior. A outra mão é colocada sobre o baixo ventre, e as mãos são comprimidas delicadamente uma contra a outra, com o objetivo de apreender o útero e explorar sua forma, o tamanho, o posicionamento, a consistência, a sensibilidade e a mobilidade. A retroversão do útero pode prejudicar a avaliação, especialmente do tamanho. No exame bimanual, o ovário direito costuma ser palpável na mulher não obesa, e o ovário esquerdo é dificultado pelo cólon. Trompas e ligamentos redondos são palpáveis quase somente quando estão aumentados de volume, por inflamação ou infiltração. Procuram-se detectar também nódulos e tumorações no fundo-de-saco de Douglas, os quais podem significar endometriose e desencadear tenesmo ou dor quando tocados. (WILLIANS) Na maioria dos casos, o exame bimanual é realizado após o exame com espéculo. Alguns médicos preferem realizar o exame bimanual antes, para localizar melhor o colo uterino antes da introdução do espéculo. Ambas as práticas são consideradas adequadas. O tamanho, a mobilidade e a consistência do útero e das suas estruturas anexas podem ser avaliados durante o exame bimanual. Para mulheres com histórico de histerectomia e de anexectomia, o exame bimanual continua sendo muito importante, podendo ser usado para excluir outra patologia pélvica. Durante esse exame, os dedos médio e indicador, enluvados, são inseridos juntos na vagina até que o colo uterino seja alcançado. Para uma inserção fácil, um lubrificante à base de água pode ser aplicado aos dedos enluvados. Uma vez alcançado o colo uterino, a posição uterina pode ser avaliada pelo toque do dedo indicador no interior, ao longo da extensão anterior do colo uterino. Nas mulheres com útero antevertido, o istmo uterino é tocado em trajeto ascendente, e naquelas com útero retrovertido, palpa-se a superfície macia da bexiga. No entanto, nas mulheres com útero retrovertido, se o dedo percorrer a extensão posterior do colo uterino, o istmo será percebido em trajeto descendente. Com o útero retrovertido, o mesmo dedo prossegue posteriormente até o fundo e, movimentando-o de um lado a outro, pode-se avaliar o tamanho e a consistência do útero. Para determinar o tamanho de um útero antevertido, os dedos são colocados sob o colo uterino e, aplicando-se pressão ascendente, eleva-se o fundo de encontro à parede abdominal anterior. A mão oposta do médico é colocada sobre a parede abdominal para localizar essa pressão. Para avaliar os anexos, o médico deve usar os dois dedos inseridos no canal vaginal para elevar os anexos do fundo de saco posterior, ou fossa ovariana, contra a parede abdominal anterior. Os anexos são apreendidos entre os dedos na vagina e a outra mão do médico, que deve estar exercendo pressão descendente contra o abdome inferior. Para aquelas mulheres com útero de tamanho normal, a mão que está sobre o abdome normalmente fica mais bem posicionada imediatamente acima do ligamento inguinal. APÊNDICE -- Exame retovaginal (WILLIANS) A decisão de realizar o exame retovaginal varia entre os médicos. Embora alguns prefiram realizar essa avaliação em todas as pacientes adultas, outros realizam o exame apenas em mulheres com indicações específicas, como dor pélvica, massa pélvica identificada ou sintomas retais. Inicialmente, o dedo indicador é introduzido na vagina, e o dedo médio, no reto. Esses dedos são aproximados um do outro, no sentido horizontal, como uma tesoura, para avaliar o septo retovaginal em busca de cicatrizes ou saliências peritoneais. O dedo indicador é retirado, e o dedo médio conclui o toque circular da cavidade anal para excluir a existência de massa. Se houver indicação de teste imediato de sangue oculto fecal, ele pode ser realizado com uma amostra dessa parte do exame 10 (FREITAS) Não costuma ser realizado de rotina, mas não se deve dispensá-lo quando existem sintomas intestinais, suspeita de endometriose profunda ou de neoplasia ou sangramento retal. Na avaliação de distopias pélvicas, também é importante, a fim de descartar enterocele, utilizando-se então o toque bimanual (uma mão examinando a vagina; a outra, o reto).
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