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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (REALIDADE)

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: REALIDADE ATUAL DA SITUAÇÃO EDUCACIONAL DA EJA
Jéssica Anielly Sousa Sales
Leilaiane Oliveira Damasceno
		Lucielly Alves 
Patrícia Iara dos Santos Torres
Valdenora Silva dos Santos
Professora: Aracy Helena Marques de Oliveira
RESUMO
EJA é uma modalidade de ensino que tem seus direitos assegurado pela lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e é ofertada gratuitamente aos alunos que não tiveram acesso escolar na idade própria cabendo ao poder público estimular o acesso e a permanência do jovem e do adulto na escola. Mesmo tendo seus direitos assegurados, a EJA vive hoje momentos de desafios, os quais tenta superar. (BRASIL, 2005).
Oferecer a modalidade EJA nos dias de hoje requer um novo pensar acerca das políticas educacionais e das propostas de reinclusão desses educandos nas redes de educação pública do nosso país. O que se tem pensado até o momento é que o trabalho pedagógico desenvolvido neste seguimento de ensino deva ser modo eficaz. 
Com este estudo o enfoque principal é analisar a realidade atual da situação educacional da EJA, visto que em vários anos de pesquisas relacionadas à educação de jovens e adultos percebe-se que nenhuma delas mostra a realidade situacional atual desta modalidade de ensino como Política Pública Educacional.
A história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil é permeada pela trajetória de ações e programas destinados à Educação Básica e, em particular, aos programas de alfabetização para o combate ao analfabetismo. Inicialmente se resgata o sistema de educação organizado pelos padres Jesuítas no Brasil colonial que tinham como objetivo a propagação da fé cristã no meio indígena. 
Ghiraldelli (2008, p.24) destaca três fases da educação no período colônia: 
A educação escolar no período colonial, ou seja, a educação regular e mais ou menos institucional de tal época, teve três fases: a de predomínio dos jesuítas; a das reformas do Marquês de Pombal, principalmente a partir da expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759; e a do período em que D. João VI, então Rei de Portugal, trouxe a corte para o Brasil (1808-1821). 
Em relação a educação de adultos na época colonial Paiva (1973, p.165) ressalta:
A todos os setores sociais. Com a vinda da família real portuguesa para educação de adultos indígenas tornou-se relevante, o domínio das técnicas, da leitura e escrita não se fizeram necessárias para os membros da sociedade colonial, já que está se baseava principalmente na exportação da matéria prima, assim não havia preocupação em expandir a educação ao Brasil modificou-se o panorama educacional brasileiro. Tornou-se necessário à organização de sistema de ensino para atender a demanda educacional da aristocracia portuguesa e preparar quadros para as novas ocupações técnico-burocráticas.
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBD), Lei 939/96, promulgada em 20 de dezembro, que passou a ser a espinha dorsal de toda legislação educacional brasileira, a nomenclatura Ensino Supletivo passa para Educação de Jovens e Adultos (EJA). A modalidade EJA ocorre de maneira presencial à distância, sendo a maior parte das matrículas, em todas as regiões, e para turmas presenciais, tanto no ensino Fundamental como no Ensino Médio. CARNEIRO, (2012, p. 37).
Mas, quem são esses alunos e alunas que se encaixam dentro desse contexto? Quem vive esse desafio de retornar a uma sala de aula depois de adultos, mesmo possuindo tantas outras responsabilidades? São jovens e adultos que por sua experiência de vida são possuidores de um saber sensível, o que os diferencia dos demais, sendo em sua grande maioria receptiva para novas aprendizagens.
Protagonistas de histórias reais e ricos em experiências vividas, esses jovens e adultos, que passam a serem vistos como alunos, configuram tipos humanos diversos. São homens e mulheres que chegam à escola com crenças e valores já construídos, cada um com seus valores éticos e morais, porém, estão ali em busca de um mesmo sonho, com um só objetivo, que é terminar seus estudos e não perderem novamente a oportunidade que não tiveram no passado.
A EJA tem como fundamento não só alfabetizar jovens e adultos, mas sim dar oportunidades de escolarização no ensino regular, conforme descrito no Art., 37, nos incisos 1º e 2º:
“Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames”.
Essa garantia constitucional permite ao cidadão o direito de exigir do Estado um atendimento aos serviços educacionais fundamentais. A lei assegura a oferta e a oportunidade escolar à população de jovens e adultos situados fora da escola, mas estabelece a necessidade de toda abordagem pedagógica incluindo conteúdos, metodologias e processos de avaliação diferenciados daqueles dos alunos que se acham em idade própria.
A EJA tem se constituído como lugar social e historicamente reservado aos setores populares. Assim, os alunos, na maioria das vezes trabalhadores, pobres, subempregados, oprimidos, excluídos, são reconhecidos como classe social dominada, cuja reprodução da hierarquia social é legitimada na hierarquia escolar. Esse fato poderia justificar a ideia de que a EJA está vinculada a um reducionismo no ensino-aprendizagem, a uma formação aligeirada, de baixa qualidade e que não estimula a permanência dos sujeitos.
Ao desconsiderar o perfil dos alunos, a escola pode estar inadequada para atender estes sujeitos em suas diversidades. Compreende-se que esses sujeitos possuem características e necessidades de formação diferentes dos alunos do ensino regular. A falta de atenção a tais especificidades gera fracassos que acabam por desestimular os sujeitos, levando-os a desistirem da escola. Dessa forma, a escola, em sua variedade de aspectos, tais como o currículo, a gestão escolar, as avaliações e a organização do trabalho pedagógico, entre outros, precisa analisar, com profundidade, a relação de suas práticas com o fenômeno da evasão.
O problema da evasão escolar possui raízes históricas, contexto no qual a EJA é marcada por diversas políticas impostas pelas elites, por meio de sucessivas intervenções do governo mudando o sistema escolar, sem resultar, necessariamente, em qualidade de ensino. 
Educação de Jovens e Adultos nunca veio no início da formação do Brasil. Mas ela veio logo após a Educação Jesuítica, que era apenas para formação indígena e catequista da Igreja Católica, mas passou por vários momentos de grande significado político-social, para sua organização e se mostrou, até hoje, um sistema resistente e forte.
Mas foi realmente só a partir dos anos 40, que a Educação de Jovens e Adultos passou a se formar e ser tratada como um “sistema diferenciado e significativo” para a educação brasileira. E desde aquela época, vem se mostrando como sistema apto a melhorar dia-a-dia. Sua política educacional não nasceu apenas no gabinete, foi a defasagem educacional e a implantação das indústrias no Brasil, na política de Getúlio Vargas, junto com a própria população brasileira, que causou a implantação de políticas públicas para a Educação de Jovens e Adultos.
Em 1920, surgiu questionamentos, com o que fazer nas questões do Ensino para os Adultos e o que o Estado deveria fazer, pois tratava-se de uma necessidade pública. Essa pressão, iniciou então a criação do Fundo Nacional de Ensino Primário em 1942 e junto com ele programas para o ensino de adultos e ampliação da educação dessa modalidade, pois o país possuía uma taxa alarmante de analfabetismo e esse fundo tentava dar uma resposta a isso, combatendo o analfabetismo adulto e infantil.
Quando Getúlio Vargas foi deposto em 1945, surge também as cobranças da Unesco e segundo Haddad (2000, p.111) “denunciava o mundo as profundas desigualdades entre os países e alertava para o papel que deveria desempenhar a educação, em especial a educação deadultos no processo de desenvolvimento das nações” e se estabeleceram metas para alfabetizar, de dando o empurrão no desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos.
Claro que não devemos deixar de mencionar a contribuição dos interesses políticos que cercavam o assunto, pois o nível de analfabetismo nos colocava como país subdesenvolvido e não dava mais para esconder a fraco esforço para a educação no país. Ele haveria de se preocupar com a aprendizagem de cada um.
Em 1947, houve um bom movimento, que nos auxiliou muito o desenvolver de um processo para o ensino de Jovens e Adultos no Brasil, foi o Serviço de Educação de Adultos, o SEA, que por campo de atuação deveria se preocupar com a educação do adulto e com ele criar um Curso Primário para adultos, com profissionais capacitados. “(...) e lançamento fez que houvesse o desejo de atender apelos da Unesco em favor da educação popular. (...)” (Paiva, 1987, p.178)
Foi realmente na EJA, que a educação popular contribuiu muito para atender as reivindicações de melhorias de apelo popular e de novo é importante lembrar que antes do aparecimento da Educação de Jovens e Adultos, outros movimentos da sociedade civil lutavam contra o analfabetismo, mas foi muito importante o surgimento de um quadro educacional dedicado exclusivamente ao público adulto.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) tramitou no Congresso por oito anos e foi, finalmente, aprovada no final de 1996. Embora o Art. da LDB 9.394 tenha reiterado os direitos constitucionais da população jovem e adulta ao ensino fundamental, a Emenda 14, aprovada quase na mesma data, alterou a redação do Art. 208 da Constituição, de modo a desobrigar jovens e adultos da frequência à escola. Embora não tenha sido essa a intenção do legislador, tal mudança no texto constitucional deu margem a interpretações que descaracterizaram o direito público subjetivo, desobrigando os poderes públicos da oferta universal de ensino fundamental gratuito para esse grupo etário.
No Brasil, pensar em Educação de Jovens e Adultos é pensar em Paulo Freire. O mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais, conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para ele, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno principalmente em relação às parcelas da população desfavorecidas. 
A educação freiriana está voltada para a conscientização de vencer primeiro o analfabetismo político para concomitantemente ler o seu mundo a partir da sua experiência, de sua cultura, de sua história. Perceber-se como oprimido e libertar-se dessa condição é a premissa que Freire (2013, p. 31) defende:
Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão ao desamor contido na violência dos opressores, até mesmo quando esta se revista da falsa generosidade referida.
Freire mostra que é necessário na educação uma pratica da liberdade; quanto mais se problematizam os educandos como seres no mundo, mais se sentirão desafiados e responderão de forma positiva, ao contrário de uma educação bancária, domesticadora, que apenas ‘deposita’ os conteúdos nos alunos. Para Freire, "não há saber mais ou menos; há saberes diferentes" (2013, p. 49). Defensor do saber popular e da conscientização para a participação, Paulo Freire inspirou muitos movimentos sociais que lutaram em busca da equidade social. As premissas de Freire motivam até hoje ações da sociedade civil em prol da efetivação da cidadania.
A atual política de Educação de Jovens e Adultos, fruto das reivindicações de grupos e movimentos sociais de educação popular, diante do desafio de resgatar um compromisso histórico da sociedade brasileira e contribuir para a igualdade de oportunidades, inclusão e justiça social, fundamenta sua construção nas exigências legais definidas pela Constituição Federal de 1988.
Ao concluirmos o estudo percebemos que muito ainda há que se avançar com relação ao ensino de EJA, já que ela ainda é vista às margens das políticas educacionais no país, não sendo prioridade sua efetiva implementação e continuidade. A criação de uma política pública educacional que atenda aos anseios dos sujeitos da EJA necessita de investimentos reais que favoreçam a continuidade da oferta de estudos e a permanência do aluno na escola. Com isso a EJA, possivelmente, deixará de ser vista como uma condição de política pública compensatória através de campanhas e programas de caráter emergenciais, sendo considerada então como uma real necessidade educacional para aqueles que querem uma nova oportunidade no âmbito do ensino.
 
REFERÊNCIAS
Alfabetização de jovens e adultos no Brasil: lições da prática. Brasília: UNESCO, 2008 212p. BR/2008/PI/H/27 1. Alfabetização de Adultos. Brasil 2. Educação de Adultos Brasil I. UNESCO
BRASIL. Lei nº 9394. Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, Brasília,2005.
CARNEIRO. Moacyr Alves. LDB fácil: leitura critico compreensiva. Rio de janeiro: Vozes, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 54° ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da educação brasileira. São Paulo: Cortez, 2008.
HADDAD, S. "A educação de jovens e adultos e a nova LDB". In: BRZEZINSKI, I. (org.). LDB interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo, Cortez, 1997a, p.106-122.
PAIVA, V. Educação Popular e Educação de Adultos. São Paulo: Loyola, 1973.

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