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RESUMO PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL - DIREITO EMPRESARIAL APLICADO I

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PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL 
 
PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE INICIATIVA 
A livre iniciativa é princípio duplamente importante no ordenamento jurídico brasileiro, 
tal princípio é uma das bases da ordem econômica nacional, conforme está previsto no Art. 170 
da Constituição Federal, que diz: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre 
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da 
justiça social, observados os seguintes princípios: 
 
Além disso, a livre iniciativa também é um dos fundamentos da República Federativa 
do Brasil, ou seja, ela é um dos pilares do nosso ordenamento jurídico e está positivada pelo 
inciso IV do Art. 1º da CF, segundo o qual: 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados 
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e 
tem como fundamentos: 
lV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
 
No âmbito do direito empresarial a livre iniciativa representa o direito que o empresário 
possui de exercer sua iniciativa privada, isto é, o empreendedor tem liberdade para explorar 
qualquer nicho que deseja, desde que obedeça aos limites legais. 
O princípio da liberdade de iniciativa proporciona aos particulares o exercício de 
atividades econômicas independentemente de prévia autorização por parte do Estado, em casos 
específicos (bancos, seguradoras, planos de saúde, por exemplo), porém, ele deve intervir como 
agente regulador com o intuito de manter o controle e o bem comum. Tal atribuição reguladora 
do Estado está legitimada por meio de alguns julgados, vejamos um exemplo a seguir: 
 
A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas 
também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita também da 
"iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à 
empresa. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina 
ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o efetivo 
exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto (arts. 23, V; 205; 208; 215; e 
217, § 3º, da Constituição). Na composição entre esses princípios e regras há de 
ser preservado o interesse da coletividade, interesse público primário. O direito 
ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer são meios de complementar a formação dos 
estudantes. (ADI 1.950, Rel. min. Eros Grau, j. 3-11-2005, P, DJ de 2-6-2006) 
 
Sob uma perspectiva mais analítica é possível observar que tais intervenções estatais, 
na prática, mitigam a liberdade de iniciativa dos empresários. Um exemplo ocorre no seguinte 
julgado: 
 
Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do 
princípio da livre concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das 
desigualdades sociais, em conformidade com os ditames da justiça social, pode o 
Estado, por via legislativa, regular a política de preços de bens e de serviços, 
abusivo que é o poder econômico que visa ao aumento arbitrário dos lucros. (ADI 319 
QO, rel. min. Moreira Alves, j. 3-3-1993, P, DJ de 30-4-1993) 
 
A decisão acima autoriza ao Estado regular, por via legislativa, a política de bens e 
serviços, entretanto a livre iniciativa só estaria de fato sendo respeitada se tal política fosse 
“regulada” pela vontade do consumidor. As empresas deveriam ter liberdade para oferecer seus 
produtos e serviços com os preços que julgarem convenientes e caberia ao consumidor adquirir 
aquilo que estivesse disposto a pagar, forçando as empresas a se adaptarem, modificando os 
preços quando necessário. 
Portanto, a livre iniciativa é um princípio que possui uma grande importância 
constitucional, no entanto, paradoxalmente, também é constantemente freado pela interferência 
do Estado. No Brasil, para que exista uma liberdade de iniciativa empresarial de fato e direito, 
será necessária uma menor intervenção estatal. 
 
 
PRINCÍPIO DE LIVRE CONCORRÊNCIA 
A livre concorrência é um princípio do Direito Empresarial que está previsto no Art. 
170, inciso IV da CF/88, segundo o qual: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre 
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da 
justiça social, observados os seguintes princípios: 
IV - livre concorrência; 
 
O princípio da livre concorrência relaciona-se diretamente com o princípio da livre 
iniciativa, sendo que, apesar de semelhantes, são princípios distintos. A autonomia de 
empreender, proporcionada pela liberdade de iniciativa, faz com que qualquer empresário possa 
investir na área que desejar e por consequência, o mercado torna-se competitivo. 
O objetivo da livre concorrência é o de garantir que a sociedade tenha acesso a produtos 
e serviços de qualidade por um preço mais acessível. Isso ocorre porque o empresário, para se 
manter competitivo no mercado, sempre tentará manter preços que sejam mais atraentes aos 
consumidores, em comparação com seus concorrentes, e assim ele obterá mais lucro. 
A Constituição Federal de 1988 procurou resguardar a livre concorrência reprimindo 
práticas abusivas que pudessem ameaça-la, como pode ser observado no Art. 173, §4º da Carta 
Magna: 
 
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de 
atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos 
da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. 
§ 4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, 
à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. 
 
Um exemplo prático de como a legislação procurou assegurar a livre concorrência foi a 
emissão da Lei Nº 12.529/2011 que estabeleceu a criação do CADE (Conselho Administrativo 
de Defesa Econômica) que, conforme Art. 4º da citada lei, trata-se de uma “entidade judicante 
com jurisdição em todo o território nacional, que se constitui em autarquia federal, vinculada 
ao Ministério da Justiça (...)”. O objetivo do CADE é o de fiscalizar a atividade econômica no 
país. 
No entanto, ao mesmo tempo em que o Estado defende a livre concorrência, o próprio 
Estado acaba por mitigar tal princípio criando barreiras que atrapalham a liberdade de 
competição, como no caso das chamadas agências reguladoras, por exemplo. Apenas uma 
quantidade limitada de empresas consegue cumprir todas as exigências burocráticas 
estabelecidas pelas agências reguladoras, estabelecendo assim verdadeiros oligopólios. 
 
 
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA 
Apesar de possuir natureza privada e o intuito de gerar lucro para o empresário, a 
empresa possui uma função social, isto é, uma responsabilidade para com o bem da 
coletividade. Tal princípio está previsto de maneira implícita no Art. 5º, inciso XXIII da CF/88: 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; 
 
A função social da empresa também está legitimada no direito societário por meio do 
parágrafo único do Art. 116 da Lei Nº 6.404/1976 que possui a seguinte redação: 
 
Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo 
de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: 
Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a 
companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e 
responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e 
para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente 
respeitare atender. 
 
Conforme tal princípio, sob hipótese alguma os valores sociais do trabalho e a dignidade 
da pessoa humana podem ser desrespeitados pela atividade empresarial. Além disso, não basta 
que a empresa se preocupe em respeitar apenas o direito do consumidor, é necessário também 
que haja uma contribuição para o desenvolvimento de outras áreas (economia, cultura, meio 
ambiente). 
Na prática, a empresa atende a sua função social por meio da geração de empregos e de 
riqueza, do pagamento de tributos, do desenvolvimento econômico, da adoção de práticas 
sustentáveis, bem como do respeito aos consumidores. 
 
 
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA 
Segundo o princípio da preservação da empresa, todos os esforços possíveis devem ser 
feitos para que as atividades empresariais sejam preservadas e conservadas, isso ocorre devido 
a relevância que as empresas têm na sociedade, tal preservação está diretamente relacionada 
com o princípio da função social da empresa. A empresa representa uma grande geradora de 
empregos, de modo que a descontinuidade de suas atividades significaria um retrocesso para o 
desenvolvimento do país. 
No ordenamento jurídico é possível encontrar alguns dispositivos que buscam 
resguardar o principio da preservação da empresa, dentre eles pode-se citar a Lei Nº 11.101, de 
9 de fevereiro de 2005, responsável por regular a recuperação judicial, a extrajudicial e a 
falência do empresário e da sociedade empresária. As empresas também têm usas atividades 
preservadas por meio de julgados, como pode ser observado a seguir: 
 
Processo civil. Execução. Penhora de renda. Ausência de prévia citação. Nulidade. 
(...) – As Turmas que compõem a Segunda Seção deste Tribunal têm admitido a 
penhora sobre o faturamento da empresa desde que, cumuladamente: 
a) o devedor não possua bens ou, se os possuir, sejam esses de difícil execução ou 
insuficientes a saldar o crédito demandado, 
b) haja indicação de administrador e esquema de pagamento (CPC, arts. 677) e 
c) o percentual fixado sobre o faturamento não torne inviável o exercício da 
atividade empresarial. Recurso Especial parcialmente provido. (REsp 866.382/RJ, 
Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 11.11.2008, DJe 26.11.2008). 
 
 
Processual civil. Agravo regimental. Medida cautelar. Penhora sobre o faturamento 
bruto da empresa. Ausência de outros bens passíveis de constrição eficaz. 
Possibilidade. Percentual elevado. Comprometimento das atividades empresariais. 
Redução. 
I. Conquanto possível a penhora sobre o faturamento bruto da devedora, quando 
inexistentes bens disponíveis de fácil liquidação, deve ela observar percentual que não 
comprometa a higidez financeira, ameaçando o prosseguimento das atividades 
empresariais. (...) (AgRg na MC 14.919/RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, 4.ª 
Turma, j. 09.12.2008, DJe 02.02.2009). 
 
As duas decisões acima buscam regular a prática da penhora por parte das empresas, de 
forma que tal prática não venha a ser excessivamente onerosa a ponto de comprometer o 
exercício da atividade empresarial. 
 
 
PRINCÍPIO DA INERÊNCIA DO RISCO 
Segundo o princípio da inerência do risco, a presença de riscos é algo inerente a qualquer 
atividade empresarial, ou seja, o sucesso ou o fracasso da empresa não dependem 
exclusivamente da atuação do empresário, mas também de fatores totalmente externos. Mesmo 
que o empresário obedeça a todas as regras legais e não tome nenhuma decisão equivocada, 
existe a possibilidade de a empresa entrar em crise e acabar por encerrar as suas atividades. 
Apesar da imprevisibilidade de certas situações, o empresário não deve se eximir de 
suas responsabilidades, devendo se utilizar dos mecanismos previstos em lei para contornar as 
situações adversas, dentre eles o instituto da recuperação judicial. Segundo Fábio Ulhoa Coelho 
(2012, p. 115): 
 
Este princípio embasa, também, o instituto da recuperação judicial. Sempre que um 
empresário lança mão deste recurso, é inevitável que seus credores e toda a 
coletividade suportem os respectivos “custos”. Os credores os suportam diretamente, 
na medida em que o plano de reorganização estabeleça redução de seu crédito ou 
dilação do prazo de pagamentos. A coletividade suporta os “custos” indiretamente, 
porque os empresários, em geral, para se preservarem das consequências da 
recuperação judicial de alguns de seus devedores, com o tempo, passam a acrescer aos 
preços de seus produtos ou serviços uma taxa de risco associada a esta eventualidade. 
Ora, só tem sentido racional, econômico, moral e jurídico impor aos credores, num 
primeiro momento, e à coletividade, em seguida, tais “custos”, na medida em que, 
sendo o risco inerente a qualquer empreendimento, não se pode imputar 
exclusivamente ao empresário a responsabilidade pelas crises da empresa. 
 
Como foi destacado pelo autor, quando um empresário se vale do instituto da 
repercussão judicial não é só ele que deve arcar com as consequências, de modo que os credores 
e a coletividade também precisam “suportar custos”.

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