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2016 Educação Física Escolar E saúdE Prof.ª Denise de Castro Insaurriaga Prof.ª Erika Alessandra Rodrigues Prof.ª Paula Dittrich Correa Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof.ª Denise de Castro Insaurriaga Prof.ª Erika Alessandra Rodrigues Prof.ª Paula Dittrich Correa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 613.7 I82e Insaurriaga, Denise de Castro Educação física escolar e saúde/ Denise de Castro Insaurriaga; Erika Alessandra Rodrigues; Paula Dittrich Correa. Indaial : UNIASSELVI, 2016. 201 p. : il. ISBN 978-85-7830-941-1 1. Educação física. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III aprEsEntação Prezado(a) acadêmico(a)! Bem-vindo(a) à disciplina Educação Física Escolar e Saúde. Este Caderno de Estudos foi elaborado com o objetivo de contribuir para a realização de seus estudos e para a ampliação de seus conhecimentos sobre a educação física e a sua relação com a qualidade de vida. Faremos uma reflexão sobre o processo de inserção e desenvolvimento da educação física, e as perspectivas da saúde no espaço educacional em geral, com o objetivo de levar os alunos a incorporarem um estilo de vida ativo e saudável. Ao longo da leitura deste caderno, você irá adquirir conhecimentos sobre os valores fundamentais que permitem ao profissional desenvolver atividades que devem ser utilizadas para proporcionar a proteção e o melhoramento da qualidade de vida e saúde dos seus alunos, mediante um maior entendimento da criança na compreensão do seu corpo. Você, também, irá compreender a importância de criar hábitos saudáveis desde a infância até a vida adulta. Para tanto, é necessário adotar uma alimentação equilibrada, juntamente com a realização de atividades física diárias, que assegurem a manutenção da saúde. Neste contexto, nós ressaltamos o papel do professor de educação física ao desenvolver o conceito de saúde, impactando positivamente a vida dos cidadãos, tanto individual, como socialmente. Neste Caderno de Estudos, veremos também a respeito da saúde pública; analisaremos o conceito de saúde e qual a sua relação com a escola, pois a promoção da saúde na escola pode ser um dos veículos de informação mais eficazes para abordar a saúde. Desejamos a você, um bom trabalho e que aproveite ao máximo o estudo desta disciplina. Bons estudos! Prof.ª Denise de Castro Insaurriaga Prof.ª Erika Alessandra Rodrigues Prof.ª Paula Dittrich Correa IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE ........................................................................ 1 TÓPICO 1 – EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA .............................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA ................................................................................................... 4 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO ESCOLAR ................................................................... 16 4 A ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA .......................................................... 22 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 25 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 26 TÓPICO 2 – PROMOÇÃO DA SAÚDE .............................................................................................. 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 A EDUCAÇÃO FÍSICA E A PROMOÇÃO DA SAÚDE ............................................................... 27 3 CONCEITO DE SAÚDE ...................................................................................................................... 29 4 COMO POSSO PROMOVER SAÚDE NAS DIFERENTES ATUAÇÕES ................................. 39 5 SAÚDE NA EDUCAÇÃO INFANTIL, FUNDAMENTAL E MÉDIO ......................................... 42 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 46 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47 TÓPICO 3 – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE ....................................................... 49 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49 2 O PROFESSOR COMO INCENTIVADOR DA SAÚDE .............................................................. 49 3 AS PROPOSTAS DE ATIVIDADES TENDO O PROFESSOR COMO INCENTIVADOR NA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA ............................................................................... 50 4 A INTERDISCIPLINARIDADE DA EDUCAÇÃO FÍSICA E A SAÚDE .................................. 52 5 HIGIENE ................................................................................................................................................. 55 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 59 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 66 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 67 UNIDADE 2 – QUALIDADE DE VIDA E HÁBITOS SAUDÁVEIS – A SAÚDE, DOENÇAS E SUAS CAUSAS, PREVENÇÃO ................................................................................. 69 TÓPICO 1 – QUALIDADE DE VIDA E HÁBITOS SAUDÁVEIS ................................................. 71 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................71 2 CONCEITUANDO A QUALIDADE DE VIDA .............................................................................. 71 2.1 QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE ............................................................................................... 72 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 75 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 77 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 78 TÓPICO 2 – O CORPO SAUDÁVEL ................................................................................................... 81 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 81 sumário VIII 2 NUTRIENTES E ALIMENTAÇÃO .................................................................................................... 81 2.1 COMPOSTOS ORGÂNICOS .......................................................................................................... 81 2.1.1 Carboidratos ............................................................................................................................ 81 2.1.2 Proteínas ................................................................................................................................... 87 2.1.3 Lipídios ..................................................................................................................................... 92 2.1.4 Compostos inorgânicos .......................................................................................................... 97 2.1.5 Vitaminas ................................................................................................................................. 98 2.1.6 Sais minerais ............................................................................................................................ 99 2.1.7 Água ......................................................................................................................................... 101 2.1.8 Alimentação saudável ............................................................................................................ 102 2.1.9 Distúrbios alimentares ........................................................................................................... 108 2.1.10 Obesidade .............................................................................................................................. 108 2.1.11 Desnutrição ............................................................................................................................ 110 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 112 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 114 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 115 TÓPICO 3 – APTIDÃO FÍSICA E SAÚDE ......................................................................................... 117 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 117 2 DESAFIOS DA SOCIEDADE ATUAL ............................................................................................. 117 3 ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA E SAÚDE ..................................................................... 118 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA APTIDÃO FÍSICA ................................................................................... 121 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 124 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 127 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 128 UNIDADE 3 – SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR ....................................................................... 131 TÓPICO 1 – SAÚDE PÚBLICA ............................................................................................................. 133 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 133 2 HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA .................................................................................................... 133 2.1 RELAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA COM EDUCAÇÃO E ESCOLA ........................................ 135 3 PROGRAMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE ....................................................................................... 136 3.1 PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PAISM) ...................... 137 3.2 PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA (PAISC) ..................... 138 3.3 PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE (PROSAD) ............................ 138 3.4 PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO ADULTO (PAISA) ........................ 140 3.5 PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO IDOSO (PAISI) ............................. 140 3.6 PROGRAMA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR .............................................. 141 4 PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA ................................................................................................. 142 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 144 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 145 TÓPICO 2 – IMUNOBIOLÓGICOS .................................................................................................... 147 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 147 2 CONCEITO ............................................................................................................................................ 147 3 HISTÓRICO ........................................................................................................................................... 149 4 VACINAS NO BRASIL ........................................................................................................................ 150 4.1 COMPOSIÇÃO DAS VACINAS .................................................................................................... 152 4.2 VIAS DE APLICAÇÃO ................................................................................................................... 153 4.3 ATUAÇÃO DAS VACINAS NO ORGANISMO E ATIVIDADE FÍSICA ................................ 156 4.4 VACINAÇÃO NAS ESCOLAS ...................................................................................................... 159 IX 4.5 CLASSIFICAÇÃO DAS VACINAS ............................................................................................... 160 5 PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO ............................................................................. 161 5.1 PRINCIPAIS VACINAS .................................................................................................................. 162 5.2 CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO ................................................................................................ 164 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................169 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 170 TÓPICO 3 – DROGAS E O AMBIENTE ESCOLAR ......................................................................... 171 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 171 2 CONCEITO DE DROGAS .................................................................................................................. 171 3 CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS ................................................................................................... 173 4 DROGAS E JUVENTUDE ................................................................................................................... 174 5 TIPOS DE DROGAS MAIS COMUNS ............................................................................................ 176 5.1 MACONHA ...................................................................................................................................... 176 5.2 HAXIXE ............................................................................................................................................. 177 5.3 LSD ..................................................................................................................................................... 178 5.4 HEROÍNA ......................................................................................................................................... 178 5.5 ANFETAMINAS............................................................................................................................... 179 5.6 COCAÍNA E OXI ............................................................................................................................. 181 5.7 ÁLCOOL ........................................................................................................................................... 183 5.8 TABACO ............................................................................................................................................ 184 5.9 CRACK ............................................................................................................................................... 187 6 A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA COMO AGENTE DE PREVENÇÃO NO COMBATE ÀS DROGAS ......................................................................................................................................... 190 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 192 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 194 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 195 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 197 X 1 UNIDADE 1 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • analisar o processo histórico da educação brasileira; • compreender o processo de inserção e desenvolvimento da Educação Físi- ca na escola; • reconhecer a importância da Educação Física escolar na promoção da qua- lidade de vida. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos estudados. TÓPICO 1 – EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA TÓPICO 2 – PROMOÇÃO DA SAÚDE TÓPICO 3 – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 1 INTRODUÇÃO Pode-se dizer que a tarefa maior da escola seria a de possibilitar o acesso universal ao saber. O exercício desta função, porém, apresenta variações temporais e contextuais. Costuma-se dizer que a escola foi a instituição que a humanidade criou para socializar o saber sistematizado. Na realidade, é preciso dizer que esta não é essencialmente a sua função, uma vez que, visto desta forma, pode-se dizer que a escola não contribuirá para a construção deste saber. Ao contrário, sabe-se que a escola é a fonte de todas as transformações tanto das pessoas, quanto da sociedade e do próprio saber. Não será a escola ventríloqua de outras instituições, mas a mentora de novos fazeres, posturas e compreensões acerca do mundo em que se vive, desenvolvendo o ser humano da forma mais plena possível. Para cumprir seu papel de contribuir para o pleno desenvolvimento do sujeito e da sociedade, estabelecem-se metas e diretrizes através de leis em cada contexto social (cidade, estado ou país). Assim, no Brasil as incumbências da educação são definidas pela LDB e Constituição Federal, pelo Plano Nacional de Educação, e nos estados e municípios pela sua Constituição ou Lei Orgânica e respectivos Planos de Educação. Na elaboração deste aparato documental e legal é preciso ousar para não excluir e promover o sucesso de todos. Esta não é uma preocupação gratuita, uma vez que, historicamente, se percebe que a educação esteve associada a determinada categoria. Assim, por exemplo, em Roma e na Grécia antigas havia a preocupação com a instrução àqueles que iriam ser a camada dirigente. Caro(a) acadêmico(a), neste tópico nossa intenção é conduzir você ao conhecimento de como se deu o desenvolvimento dos sistemas de ensino e a introdução da Educação Física na escola. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 4 2 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA A organização do ensino começou pelas universidades, surgidas há cerca de um milênio. Porém, após a Revolução Industrial e com a Revolução Francesa e a Independência americana, a educação passou a ser considerada importante também para os trabalhadores. Estes fatos históricos intensificaram a busca pela democracia e a consolidação de preocupações ligadas a questões sociais, sindicais e de organizações diversas. Enquanto na Europa e parte da América Latina as mudanças e a expansão do ensino atendiam as camadas populares, no Brasil continuava elitista e preferencialmente masculina. Pode-se dizer que a universalização do ensino e sua atenção voltada a todos os cidadãos vem sendo percebida no final século XX e início do século XXI. A educação no Brasil começou oficialmente com os jesuítas, que foram trazidos ao país com o propósito de catequisar nativos. Porém, depois de algum tempo percebeu-se que os nativos utilizaram-se dos ensinamentos jesuítas para se organizar e articular, a exemplo do que ocorria com os trabalhadores europeus. Ao longo de cerca de três séculos a educação brasileira era direcionada quase que exclusivamente à elite, a qual enviava seus filhos à Europa. Para uma nação essencialmente agrícola, cuja mão de obra se baseava na escravidão, não havia necessidade de formar os trabalhadores. Com a Constituição do Império (1824) determinou-se que a educação primária seria gratuita a todos os cidadãos. Novas mudanças apenas seriam vistas na República, durante as décadas de 20 e 30 do século XX. Por isso, é correto afirmar que a verdadeira educação pública e gratuita é uma conquista da República do século XX. Assim, pode-se dizer que a escola em que trabalhamos não está solta no espaço, mas encontra-se articulada e acompanhando os movimentos da história da educação como um todo. O acesso ao conhecimento é crucial quando se reflete a função social da escola. Nas décadas de 20 e 30 do século XX, passou-se a dar maior importância à vida urbana (cidades). Vive-se um processode urbanização marcado pela industrialização e imigração. Os imigrantes vindos de várias partes do mundo, especialmente da Europa, trouxeram consigo a necessidade de trabalhar para reestruturar suas vidas, pois haviam sido praticamente expulsos de suas nações. Em 1932 é divulgado o Manifesto dos Pioneiros (Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho), que defende a ideia de uma nova educação pública, gratuita e laica para todos os cidadãos brasileiros. Desta época é que se tem notado pessoas sensíveis que se identificam na aproximação entre a escola, a família e outros parceiros. TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 5 2 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA Passa-se a compreender a escola como parte integrante e determinante da sociedade como um todo. Estas ideias da chamada Escola Nova são incorporadas à Constituição de 1934, que estabeleceu a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário. Nos anos 40 são organizados os sistemas estaduais de ensino primário. Em 1961 é promulgada a primeira LDB (Lei nº 4.024/61). O regime militar estabelece novas leis: • Lei nº 5.540/68, que desencadeou a Reforma Universitária, tornando a universidade um centro de excelência em formação técnica, distanciando-a da formação social, humana e política dos períodos anteriores. As universidades brasileiras construídas a partir da década de 1930 tinham como propósito a formação complexa e diversificada tal qual se via na Europa. Como o país encontrava-se sob a égide do regime ditatorial militar, foi preciso adaptar a universidade aos seus interesses desenvolvimentistas tecnicistas. Grandes líderes estudantis e acadêmicos foram sumariamente perseguidos, professores aposentados e expulsos do país; • Lei nº 5.692/71, que reformulou o ensino primário e secundário, ampliou a obrigatoriedade do ensino de quatro para oito anos e instituiu o 1º e 2º graus profissionalizantes. Este nível de ensino deveria se encarregar da formação da grande massa trabalhadora. Disciplinas humanas (Filosofia, Sociologia, Psicologia) foram substituídas por disciplinas técnicas (preparação para o trabalho) ou de incentivo à prática do civismo (Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil). Estabeleceu-se uma verdadeira hierarquia disciplinar, privilegiando disciplinas consideradas básicas (Língua Portuguesa, Matemática, Língua Estrangeira e Ciências) e complementares de caráter secundário (Artes, História, Geografia, Educação Física). Já nos anos 50 o crescimento do número de vagas era insuficiente e a qualidade do ensino apresentava problemas. As camadas baixas da população superlotam as salas de aula e o professorado não está preparado para esta nova realidade. A busca pela escolarização se dá pelo fato de que há uma migração da população rural para as grandes cidades. Pessoas vindas da agricultura precisam ser treinadas para abastecer o mercado de trabalho nas indústrias e organizações urbanas. O ganho histórico é que um maior número de pessoas passou a frequentar a escola, porém, no interior da escola passou-se a produzir a cultura do fracasso escolar, um problema de gestão há décadas. O sucesso era um mérito exclusivo do educando e um grande contingente de excluídos (que nunca tiveram acesso ou não puderam permanecer na escola) fez com que se estabelecesse uma verdadeira “seleção natural”. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 6 Em 1996 tínhamos 29 milhões de pessoas entre sete e 14 anos na escola e 2,7 milhões fora dela. Paralelamente aos problemas de acesso, é preciso considerar o baixo rendimento de nossa escola, associado a problemas de repetência e evasão. Os governos municipais e estaduais vêm criando modelos, como as classes de aceleração e os ciclos, para amenizar o problema. A Constituição, no seu artigo 205, diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. O desafio básico de uma gestão escolar bem-sucedida é promover o pleno desenvolvimento de todos os educandos. A população, por sua vez, reivindica escola, que é um dos direitos garantidos no artigo 6º da Constituição, conforme se verifica: Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 26, de 2000). Encontram-se também na Constituição as principais determinações gerais sobre educação (cap. III, seção I, artigos 205 a 214). A LDB complementa a Constituição nos artigos de 1º a 5º orientando a organização da educação nacional e a educação escolar nos diferentes níveis. A Constituição, no artigo 205, apresenta a educação como sendo a responsável pelo pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho. Quando se fala em pleno desenvolvimento, se está falando não apenas do ensinar, mas também de formar um ser humano perfeito, completo e feliz. Este conceito é, pois, uma grande utopia, porém, não se pode deixar de considerá-lo, uma vez que cabe à educação eticamente comprometida com o ser humano aproximá-lo da perfeição, da completude e da felicidade. A nova LDB (Lei nº 9.394/96) estabelece incumbências para a União, estados e municípios e também para a escola e docentes. Uma das características da LDB é a sua flexibilidade, permitindo que em diferentes realidades seja possível articular uma educação de verdade, atenta às verdadeiras demandas humanas. Em seu artigo 23, a LDB prevê autonomia para melhor atender às necessidades locais, considerando aspectos históricos, sociais, políticos e humanos de cada contexto. Já o artigo 24 reza sobre a aceleração, aproveitamento dos estudos e recuperação, vistos como parte fundamental das preocupações de todo o educador, especialmente do gestor escolar. Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 7 seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no país e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais. § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei. Art. 24. A educação básica, nos níveis Fundamental e Médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do Ensino Fundamental, pode ser feita: a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas; c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino; III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as normas do respectivosistema de ensino; IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 8 d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação; VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis. Percebe-se, neste sentido, uma preocupação do legislador em estabelecer na lei elementos que possam garantir direitos e dar credibilidade legal a atos que efetivamente promovam condições favoráveis à permanência do educando na escola. Por outro lado, otimiza tempo e privilegia o aproveitamento de elementos que fazem progredir o educando de forma processual. A chamada sociedade do conhecimento é uma definição bastante complexa, que envolve o conceito de espaço e tempo do saber. O espaço entendido como contexto em que as relações humanas se estabelecem para a geração do saber e tempo no sentido de que tudo o que se sabe ou se produz em termos de conhecimento deriva de uma série de passos históricos através dos quais é possível compreender que nada é fruto do acaso. No artigo 22 a LDB estabelece como função da educação básica utilizar o conhecimento sistematizado como meio para atingir a finalidade de desenvolver o educando de maneira plena. No referido artigo temos a seguinte determinação: Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Avaliá-la diante desta premissa é verificar o cumprimento desta função, e quando se verifica o contrário é preciso exigir que isto se torne possível. O ideal de colocar todos na escola está previsto em lei há muito tempo, mas nunca foi atingido totalmente. Apesar de termos a grande maioria dos jovens na escola, muitos são reprovados por ela ou a abandonam. Assim, é preciso compreender que estar na escola não significa necessariamente sentir-se nela, acolhido por ela. Eis que se apresenta um grande desafio ao gestor escolar: promover na escola um acolhimento solidário a todos e a todas que a procuram. TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 9 Como já foi mencionado, até meados do século XVIII o trabalho era essencialmente agrícola, o que caracterizou a primeira fase do processo histórico de construção da escola que temos. A segunda fase tem início com a Revolução Industrial, marcada pelo surgimento da máquina a vapor. O trabalho industrial se liberta do ciclo da natureza e se adapta à linearidade do relógio. A produção em série aumenta o volume da produção e inicia um processo de especialização por subáreas. O capital assentado no lucro e na mais-valia torna-se o fator principal de produção. O terceiro momento relativo ao modo de produção da humanidade se dá a partir da segunda metade do século XX, tendo por base a tecnologia e os meios de comunicação. As informações se acumulam, se modificam, se reciclam, exigindo uma formação contínua e permanente nos conhecimentos específicos e gerais. Por isso, pensar a função social da escola exige que se reflita sobre sua relação com esses equipamentos e meios de comunicação. A sociedade cobrará do jovem formado não apenas o diploma, mas também a excelência do seu conhecimento. Esta excelência não é medida pela capacidade de acumular tais saberes, mas pela habilidade de encontrar ou onde procurar informações de credibilidade. Neste sentido, a ciência vem exigindo da escola novos campos e domínios do saber, como a informática e a divulgação rápida do conhecimento continuamente elaborado. O próprio Papa João Paulo II afirmava que a preocupação (em termos de produção) deve se centrar no homem e no seu conhecimento. Esta visão exige, por sua vez, uma nova forma de gestão da escola e do conhecimento, fazendo-a mais democrática, mais sensível, mais solidária e mais ética. O conhecimento passa a assumir um papel fundamental na vida das pessoas, sendo valorizado mais do que os bens materiais. Se antes nações e organizações desejavam possuir terras, dominar pessoas para fazê-las escravas, atualmente o que há de importante é a possibilidade de partilhar saberes para (re)construí-los. Como nem todos têm o mesmo acesso ao conhecimento, pode-se afirmar que a globalização marginaliza povos e países que têm sido excluídos das redes de informação, uma vez que, segundo a ONU, menos de 15% da população mundial estão inseridos no mundo digital. Para romper este limite que impõe desigualdade é preciso rever o jeito de fazer escola. Considerando esta afirmativa, é possível dizer que o uso das mídias no processo educativo é um fator de exclusão e privilégio. Como se pode supor, em função de custos, o uso das tecnologias na educação será mais promissor entre pessoas das classes média e alta. O gestor da educação necessita considerar este aspecto assumindo uma postura comprometida em favor de acesso ao saber por parte de todos os seres humanos encontrados na escola. É uma questão ética e não de mera distribuição de materiais, porém, é pela ética que políticas públicas podem e devem atingir a todos com mais intensidade e constância. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 10 As novas contribuições da escola fizeram surgir os quatro pilares da educação: 1. Aprender a conhecer: não apenas adquirir saberes, mas dominar os instrumentos do conhecimento. A gestão do conhecimento, neste sentido, exige que se ofereça ao educando a oportunidade de identificar os caminhos para se chegar ao saber, uma vez que tais caminhos são muitos, diversos e com características muito peculiares. 2. Aprender a fazer: não apenas a qualificação profissional, mas preparar a pessoa a enfrentar situações variadas preconizando a prática de trabalhos em equipe. Uma excelente forma de desenvolver esta prática é a estratégia dos projetos, através dos quais se estabelece uma relação de cumplicidade e comprometimento entre indivíduos, sujeitos de sua própria aprendizagem. 3. Aprender a conviver: tanto a descoberta do outro como a participação em projetos coletivos é importante, conforme afirmamos. Porém, além do fato “acidental” de estar junto, é preciso conviver. Neste sentido, compreende-se a necessidade de as pessoas estabelecerem vínculos, afetivos, éticos e solidários em favor de uma formação complexa, dinâmica e respeitosa. O convívio exige tolerância, convergência e um profundo respeito à diversidade. 4. Aprender a ser: é construir para o desenvolvimento total da pessoa. O ser (verbo) é uma condição essencial para que cada sujeito exerça sua função e possa apresentar-se comoautor e ator de sua própria existência. Pode-se dizer que é a essência da cidadania e do compromisso que a sociedade tem e deve estabelecer com cada sujeito. Passa a assumir a condição de indivíduo, de ente e partícipe do que chamamos de sociedade. A educação, assim concebida, indica uma função da escola voltada para a realização plena do ser humano, alcançada pela convivência e pela ação concreta, qualificadas pelo conhecimento. Esta qualificação, entretanto, não é apenas aferida por processos avaliativos tradicionais e convencionais, mas através de estimativas em torno de resultados práticos de intervenção social que cada processo educativo alcança. A qualidade é, pois, um instrumento de análise de processos educativos através dos quais será possível perceber a necessidade de mudar e transformar estratégias pedagógicas de gestão. A qualidade é, pois, um indicador das providências a serem adotadas por gestores (educadores, administradores, educandos e famílias) no sentido de introduzir novas estratégias de ação pedagógica. Qualificação profissional, cidadã e humana são partes de um conceito complexo e de difícil mensuração, porém, devem ser considerados para que a educação e o processo de sua construção sejam arquitetados considerando sua relevância social. TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 11 Outro aspecto a ser considerado é o cuidado com os conceitos e conteúdos escolares. Apesar de não se desejar centralizar a educação em torno de conceitos e conteúdos, estes jamais poderão ser esquecidos, pois será através deles que cada cidadão poderá dar sua contribuição à sociedade. Assim, pode-se dizer que eles que vão ser sustentados pelos pilares descritos. Conceitos e conteúdos deverão ser articulados para que cada sujeito- cidadão possa, por sua vez, oferecer condições em favor dos pilares fundamentais à educação. Em seu artigo 9º a LDB norteia os currículos e conteúdos mínimos a serem propostos em todas as escolas, conforme veremos no quadro abaixo: Art. 9º A União incumbir-se-á de: I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva; IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação; VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no Ensino Fundamental, Médio e Superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação; VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino; IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 12 § 1º Na estrutura educacional haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei. § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a União terá acesso a todos os dados e informações necessários de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais. § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham instituições de educação superior. Uma das virtudes desta lei, conforme já mencionamos, é sua flexibilidade, pois atribui obrigações, mas permite que cada ente as cumpra conforme sua possibilidade. Esta flexibilidade provém do conceito de autonomia, através do qual será possível que cada organização escolar seja responsável por avaliar permanentemente seu papel junto à sociedade. Trata-se da necessidade de se considerar aspectos do contexto temporal, local e histórico na organização do processo educativo. A democracia pressupõe a possibilidade de uma vida melhor para todos, independentemente da condição social, econômica, raça, religião e sexo. É uma forma de fazer com que os diferentes tenham oportunidades iguais para exercer sua diferença, sem que um se beneficie em detrimento do prejuízo de outro. A democracia se estabelece através da eleição de representantes que exercerão, em nome da coletividade, um poder que é transitório, que em verdade pertence aos representados. Apesar dos diferentes sinais de deturpação do processo democrático, este ainda é o meio mais eficiente de estabelecer a quem deve ser atribuído o dever de representar e exercer o poder. A escola democrática é tomada por conceitos como cidadania e solidariedade, onde a criança deixa de pertencer apenas à família e torna-se membro de um corpo ainda maior. Visto desta forma, o processo educativo e a própria escola é onde o nós aflora e deve ser cultivado. É nela que nos construímos individual e coletivamente como cidadãos deste mundo. Mas não é por isso que deve ser concebida como espaço de formatação de pessoas em favor de uma postura social estabelecida ou como mera geradora de transformações sociais, sem um comprometimento em relação ao que se espera de um cidadão formado numa perspectiva complexa e ética. Esta complexidade da escola pode ser identificada quando se percebe que é nela que atuam os mais variados grupos e vontades: administradores, professores, especialistas, corpo técnico e alunos. TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 13 Todos estes entes são gestores, pois, em algum momento devem ter garantidos os direitos de intervenção em relação ao processo pedagógico. São sujeitos que, no exercício da democracia, estabelecem suas necessidades e consolidam seus compromissos pessoais e coletivos. Lembremos também que as famílias fazem parte desta comunidade e necessitam ter um espaço de decisão e especialmente de ação. Em momento algum a escola poderá ser considerada substituta da família. Não se podem estatizar as obrigações e compromissos que cabem à família, que é vista na Constituição, em seu art. 205, como corresponsável pela educação. Vejamos: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Esta parceria estabelece, portanto, que há funções próprias para cada ente sem que, no entanto, haja sobreposição de atribuições. Cada qual deverá fazer cumprir a função do outro e estabelecer estratégias para que, juntos, todos os entes produzam um processo educativo de qualidade. Outro aspecto a ser considerado na discussão da gestão pedagógica, social e humana da educação é o fato de que a troca sistemática de conhecimentos e a construção de novos conceitos não ocorre exclusivamente em sala de aula. A própria escola, como espaço de celebração da convivência, é um ambiente que favorece este processo, uma vez que, na atual conjuntura, é nela que os diferentes se encontram, se articulam e se aceitam. Costuma-se por isso dizer que a escola é um importante espaço de convivência humana, desocialização, descoberta e de encontro. Esta riqueza de virtudes deste espaço requer uma ampla e articulada ação pedagógica para transformá-la em ações efetivas em favor de uma educação promotora de seres humanos comprometidos com o seu entorno (sociedade, natureza, planeta). Por muito tempo a escola se distanciou deste entorno, sendo este afastamento compreendido como sua meta. Entendia-se que era necessário estabelecer um distanciamento entre o ser humano e todos os entes dos quais se originara. A noção de que cabe ao ser humano construir uma nova realidade, distante de seus princípios biológicos, sociais e políticos, construiu dicotomias brutais e desumanizadoras. Como se percebe, praticamente toda a comunidade tem sua escola, a qual não está solta no espaço. Assim como cada escola possui sua própria demanda, seus interesses e obrigações, cada sujeito nela contido apresenta as suas. Não UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 14 há como considerar o ser humano um mero elemento figurativo num contexto padronizado e preestabelecido. Esta ruptura de paradigmas consolida-se pela emergente necessidade de se consolidar o ser humano como responsável por sua existência nas mais variadas dimensões. Assim, cada escola se constitui numa parte importante de um universo social específico, através do qual diferentes seres humanos celebram sua individualidade e sua virtuosa relação coletiva. Mas tê-la não é o mais importante, é preciso primar pela qualidade do trabalho realizado. Esta qualidade implica a capacidade que a escola tem de intervir na comunidade em que se situa. Não é uma questão meramente geográfica, mas tem suas razões históricas, filosóficas e humanas de ser. Educar é também um ato político, cultural, ético e crítico. O sujeito partícipe do processo educativo é também um sujeito capaz de tomar decisões, analisar, duvidar e se lançar ao desafio do novo e do diferente. Para cumprir sua função social a escola necessita, portanto, estar em ligação com o seu entorno. Não se pode dizer que um seja apêndice do outro, mas, ao contrário, são instituições que haverão de se unir para atingir propósitos comuns e complementares. Esta relação se fortalece à medida que se nota que a comunidade permanece naquele local, ligada àquela instituição por gerações, por isso é dela a escola. Cada geração, evidentemente, demanda propósitos diferentes, únicos e exclusivos. Por isso, caberá ao gestor acompanhar esta mudança e estabelecer tais propósitos coletivos, fazendo com que a escola e o entorno se relacionem de forma comprometida e parceira. Na vivência da realidade escolar é possível compreender uma série de obstáculos na relação entre a escola e seu entorno. Destacamos os seguintes: 1. Há um distanciamento entre a escola e a comunidade por causa de expectativas não atendidas de ambas as partes. A escola costuma lamentar a falta de compromisso da comunidade em relação à educação elementar das crianças e adolescentes e a sociedade denuncia constantemente a incapacidade da escola de atender às demandas de mercado na formação de trabalhadores, por exemplo. 2. A escola é um verdadeiro mistério para os pais. Por muito tempo a família via na escola uma instituição autossuficiente, capaz de formar o sujeito no todo. A exemplo dos antigos pedagogos, os professores eram vistos como os únicos capazes de orientar e estabelecer caminhos para os filhos da sociedade. A TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 15 escola, por sua vez, percebia a família como mera geradora de pessoas, as quais deveriam ser construídas num espaço social adequado pelo qual ela responde. 3. A escola não tem se preocupado em envolver a família, até por não acreditar que esta teria o que dizer a ela. O que se percebe é que o portão da escola estabelece a divisão em dois mundos. A família e a escola são dois universos diferentes, entre os quais não seria possível estabelecer qualquer relação. Não se trata de imaginar uma mescla institucional, mas de estabelecer um diálogo permanente no sentido de promover uma construção dialética de propostas e ações transformadoras de seres humanos. 4. Os alunos sabem da importância, mas a escola não valoriza a socialização fomentada em seu interior. Os espaços de socialização não são explorados para este fim, mas, ao contrário, são vistos como de pouca aprendizagem e até de conflitos. O pouco aproveitamento destes espaços gera conflitos, indisciplina e dificuldade na compreensão do papel socializador da escola. Não é difícil imaginar um ambiente em que as famílias e a escola se ignoram e, como resultado, ambas perdem por isso. Como já mencionamos, não se trata de sobrepor funções e atribuições, mas de fomentar uma relação de complementações e compromisso, através da qual o sujeito se perceba capaz de dialogar com os diferentes. Não há como a escola tentar apresentar a necessidade dos diferentes se relacionarem, se ela não tolera ou aceita a existência destes. Eis mais um grande desafio ao gestor: mediar o diálogo entre escola e sociedade. Mais do que mediar, participar como instrumento de ação e consolidação de práticas dialéticas através das quais seja possível estabelecer, entre escola e sociedade, uma relação de comprometimento, humildade e solidariedade. Costuma-se dizer que esta relação se fortalece ou não por fatores culturais, através dos quais seja possível compreender os reais interesses de cada grupo social. Porém, deve-se tomar certos cuidados no uso do termo cultural, pois certos hábitos se caracterizam mais por vícios do que por elementos culturais. Entende-se por cultura todo o modo de vida de uma sociedade, e se refere à forma como as pessoas e os grupos sociais produzem sua própria existência a partir das influências que recebem. Assim, é possível dizer que a cultura interfere, sim, no processo de consolidação de ações sociais coerentes, integradas e articuladas à realidade de cada sujeito. As supostas verdades presentes no discurso de setores que se consideram superiores da sociedade ou praticados em determinados lugares têm que passar pelo julgamento e pelo “sim” dos indivíduos e dos grupos, no cotidiano de suas vidas. Assim, um projeto pedagógico articulado em favor de questões culturais precisa ter à frente gestores condicionados a compreender, a analisar com certa propriedade as características básicas dos elementos culturais da sociedade em que a escola se situa. UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 16 Como cultura é essencialmente criação, caberá à escola fomentar, através dela, ações que possam estimular e articular no interior da escola, através de projetos efetivos de ação humanizadora e cultural. Há situações em que o poder criativo encontrado nas escolas é menosprezado pelas pessoas, quando a escola é vista como fonte de repasse de saberes historicamente sistematizados e o educador visto como um mero mediador. Assim, o gestor deve contribuir para que surjam espaços e formas para que educadores, educandos e famílias discutam estas questões e tomem posse de suas ações. A cultura escolar conta também com a constância de valores, posturas, costumes, saberes e crenças que desenham a cultura da comunidade e da escola. A escola deve representar a identidade do coletivo não do(a) diretor(a) da escola ou de uma determinada corrente teórica ou cultural. É preciso fomentar a partilha, para se criar uma cultura positiva na escola. 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO ESCOLAR A Educação Física atual pode ser dividida em quatro vertentes: RENDIMENTO - ESCOLAR - FITNESS - PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA. Geralmente, supõe-se que o esporte, por si só, proporcionará os benefícios educacionais esperados no desenvolvimentode habilidades motoras, aptidão física, desenvolvimento social e pessoal, e um estilo de vida ativo, nas aulas de Educação Física. O problema é que, na maioria das vezes, o esporte (o meio) passa a ser considerado como um fim em si próprio, ou seja, não é utilizado com uma perspectiva desenvolvimentista, havendo, apenas, o jogar pelo jogar, resultando no desinteresse e exclusão dos alunos menos aptos, pouco habilidosos ou menos dotados geneticamente, que são, exatamente, aqueles que mais deveriam se beneficiar das aulas. No entendimento da maioria das pessoas, a prática esportiva com fim em si mesma pode se dar fora do ambiente escolar e, portanto, não representa uma atividade educacional exclusiva e necessária a ponto de justificar a existência de uma disciplina escolar específica. Deve-se ter em mente que esportes e jogos são componentes fundamentais dos currículos de Educação Física, mas não podem ser entendidos como substituições para um programa como um todo. A Educação Física escolar é responsável por uma variedade de objetivos, mas dispõe de condições estruturais e tempo muito abaixo do ideal para atingi- los. Portanto, é preciso estabelecer prioridades para cada faixa etária ou série, de acordo com as características e necessidades de cada grupo. Sem diminuir a relevância dos demais objetivos, os currículos devem enfatizar os objetivos centrais da Educação Física: o desenvolvimento de habilidades motoras e a TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 17 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO ESCOLAR promoção de atividades físicas relacionadas à saúde. Para atingir esses e outros objetivos da Educação Física, os alunos precisam ser fisicamente ativos, na escola e fora dela (NAHAS, 2006, p.152). O Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) nos traz o documento: RECOMENDAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR. Deste texto podemos destacar o seguinte: EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR É o componente curricular obrigatório em todos os níveis da Educação Básica, caracterizado pelo ensino de conceitos, princípios, valores, atitudes e conhecimentos sobre o movimento humano na sua complexidade, nas dimensões biodinâmica, comportamental e sociocultural. Essas dimensões constituem a base para uma nova compreensão sobre a abrangência e interfaces que fundamentam a Educação Física na escola, seja na perspectiva do movimento, inclusão, diversidade, cidadania, educação, lazer, esporte, saúde e qualidade de vida. Essa compreensão se alia à Declaração do Conselho Internacional para a Ciência do Esporte e a Educação Física (ICSSPE, 2010), reafirmada na V Conferência Internacional de Ministros e Altos Funcionários Responsáveis pela Educação Física e o Esporte (MINEPS V, 2013), que define a Educação Física como uma disciplina dos currículos escolares que se refere ao movimento humano, à aptidão física e à saúde. Concentra-se no desenvolvimento da competência física, de modo que todas as crianças possam movimentar-se de forma eficiente, eficaz e segura, bem como entender o que fazem. Que a Educação Física é essencial para o pleno desenvolvimento e realização, e para a participação na atividade física por toda a vida. A importância da Educação Física no contexto escolar deve-se ao fato de a escola ser a maior agência educativa, depois da família, com capacidade para influenciar os alunos na aquisição de hábitos e atitudes que contribuem para um harmonioso desenvolvimento pessoal e social. Nesse sentido, está comprometida com a solidariedade, a cooperação, a tolerância, a inclusão e o respeito pelo outro. Estes aspectos são essenciais à formação dos alunos e devem ser repassados por meio de uma Educação Física bem orientada, alicerçada no conhecimento científico, na qualidade técnica, na ética, no compromisso social dos docentes e no envolvimento com a comunidade escolar. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, documento norteador da proposta de reorientação curricular da educação escolar no país, ao referir-se à Educação Física, evidencia-a como uma área de conhecimento que introduz e UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 18 integra o aluno na cultura sobre o movimento humano, tendo em vista a formação do cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. Nesse contexto, é importante reafirmar o caráter formativo da Educação Física, assegurando as condições objetivas para o acesso a este campo do saber aos alunos atendidos na Educação Básica, independente de condições físicas, gênero e condição social. Desse modo, a Educação Física se apresenta como um componente curricular singular, sendo a única que promove diretamente as várias linguagens do movimento humano e promove a saúde por meio do ensino de estilo de vida ativo e saudável, além de desenvolver os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais. As referências sociais e culturais da Educação Física já estão presentes nos hábitos, valores, práticas, no lazer e nas tradições das sociedades modernas, constituindo-se numa representação social das atividades físicas e esportivas. Portanto, deve compor, desde cedo, o currículo escolar, de modo a refletir a cultura social em que está inserida. OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A Educação Física, enquanto componente curricular, contribui para a formação dos alunos por meio da apreensão dos conhecimentos específicos que favorecem a aquisição de competências motoras, a ampliação do repertório de movimentos e o hábito da prática regular de atividades físicas, integrados a conhecimentos gerais contextualizados às temáticas sobre atualidades sociais, políticas, econômicas, tecnológicas e ambientais. Nessa perspectiva, a proposta para a Educação Física escolar considera os seguintes objetivos: • Proporcionar a aquisição de conhecimentos específicos relacionados ao movimento corporal; • Proporcionar o desenvolvimento de competências e habilidades motoras que proverão o indivíduo de capacidade e autonomia que lhe permita escolher ou organizar a própria atividade física; • Estimular hábitos favoráveis à adoção de um estilo de vida ativo e saudável; • Promover a formação de uma cultura esportiva e de lazer; • Estimular a participação efetiva da comunidade escolar, em especial a família; • Discutir questões relacionadas à sustentabilidade ambiental; • Relacionar conhecimentos sobre aspectos socioculturais, políticos e econômicos; • Promover a harmonia interdisciplinar com outras áreas do conhecimento; • Estimular a autonomia e o protagonismo social; TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 19 • Conhecer e aplicar as novas tecnologias à Educação Física; • Promover a cultura da paz e respeito às diversidades; • Refletir sobre os valores e princípios éticos e morais. As estratégias utilizadas para alcançar esses objetivos devem reforçar a busca permanente ao pleno conhecimento por meio da qualificação e aperfeiçoamento profissional, bem como, da participação efetiva da família, do despertar de uma nova cultura política de participação democrática, de respeito e preservação ambiental, de acesso aos bens culturais, científicos e tecnológicos produzidos pela humanidade. Para concretizar seus objetivos, a Educação Física escolar se utiliza de uma característica que a diferencia dos demais componentes curriculares, que, em sua especificidade, assume caráter vivencial. Os conteúdos são abordados por meio de práticas corporais com atividades sistemáticas constantes no desenvolvimento de um programa de conteúdos. Estes devem ser organizados em conformidade com as fases, séries, anos ou ciclos de ensino,com base nas necessidades motoras, desenvolvidas e aplicadas em progressão e grau de complexidade. A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Ao longo dos anos, a Educação Física passou de mero instrumento de preparação do corpo humano para um processo de formação psicomotora e sociocultural, sendo responsável não só pela formação do indivíduo, mas também como facilitadora de uma necessária integração social. A história sobre o desenvolvimento da Educação Física envolve uma longa trajetória de discussões, contradições e ressignificações sobre sua natureza e propriedade. Particularmente, em relação à sua vinculação com a atividade escolar, revelam-se aspectos relacionados à apropriação do corpo e aplicabilidade de suas práticas, bem como suas múltiplas representações enquanto componente curricular. De certa maneira, essa ampliação dimensional sobre suas aplicabilidades vem consolidando o caráter formativo com que a Educação Física tem se apresentado em sua função no ambiente escolar. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), Resolução Nº 4 CNE/CEB, de 13 de julho de 2010, definem para a Educação Básica uma proposta de: Educação sequencial e articulada das etapas e modalidades da Educação Básica, baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em ambiente educativo, e tendo como fundamento a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a sociedade têm de garantir UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 20 a democratização do acesso, a inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional, a aprendizagem para continuidade dos estudos e a extensão da obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica. (DCN, 2010). No artigo 14 desta mesma resolução, as atividades físicas e corporais constituem a base de conhecimentos, corroborando a Educação Física como componente curricular obrigatório da base nacional comum a toda a Educação Básica, que compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Tal intencionalidade está pautada no desenvolvimento das habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas do desenvolvimento integral do cidadão. Nas DCN, a Educação Básica está pautada em três dimensões: a orgânica, que observa as especificidades de cada sistema educativo; a sequencial, que compreende as aprendizagens em cada etapa do processo formativo; e a articulação entre a dimensão orgânica e sequencial, que coordena e integra o conjunto da Educação Básica. Diante do exposto, a Educação Física escolar deverá acompanhar esta tendência que norteia a construção do projeto político-pedagógico de cada unidade escolar, observando a realidade de cada aluno. Neste sentido, o artigo 20 desta resolução estabelece: O respeito aos educandos e a seus tempos mentais, socioemocionais, culturais e identitários é um princípio orientador de toda a ação educativa, sendo responsabilidade dos sistemas a criação de condições para que crianças, adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade, tenham a oportunidade de receber a formação que corresponda à idade própria de percurso escolar. (DCN, 2010). Desse modo, hoje a prática da Educação Física escolar deve observar a aplicação dos conteúdos obrigatoriamente em progressão, de modo que os alunos percebam o aumento do grau de complexidade das atividades e apresentem níveis satisfatórios de aprendizagem. Sobretudo, por sua natureza motora, interativa e estimuladora da criatividade, a atividade corporal é fator importante que proporciona: - Estímulo ao raciocínio, quando os alunos participam de experiências dinâmicas que envolvem a tomada de decisão, estratégia, organização do pensamento e atitudes com objetivos definidos; - Vivência de conflitos, pelo fato de divergências de ideias e comportamentos serem constantes e de forma salutar vividas com a intermediação do professor que utiliza esses momentos a fim de educar para a convivência; TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 21 - Experiências práticas do cotidiano, ao possibilitar que aluno e professor façam as devidas conexões com o que se ensina e aprende na escola e a aplicação para a vida, criando atmosfera real à aprendizagem significativa; - Concentração e participação, fato constatado quando o interesse pela atividade se evidencia na motivação da turma, causando pouca dispersão e sentimento de autoeficácia no aluno com reflexos no bom andamento e participação efetiva nas aulas; - Prazer no aprendizado, vivenciado em ambiente lúdico que alimenta as aulas de Educação Física, proporcionando o aprendizado de forma prazerosa, contemplando orientações pedagógicas eficientes para o ensino, não podendo ser confundida com passatempo ou brincadeira; - Incorporação de hábitos saudáveis, quando promove mudanças de atitude em sintonia com os efeitos fisiológicos do exercício e sua relação com suas próprias condições físicas, despertando a consciência de que um estilo de vida ativo e saudável é fundamental para níveis aceitáveis de saúde e bem-estar. Nesse contexto, os professores devem atuar com base em princípios pedagógicos e de equidade, possibilitando a aquisição das competências e habilidades necessárias à participação em atividades físicas e esportivas dentro e fora do ambiente escolar, incorporando essas experiências ao seu estilo de vida. A ênfase de valores a serem praticados socialmente no processo de ensino-aprendizagem é uma ação fundamental para a formação e exercício da cidadania. É a partir do acesso à educação formal que o aluno inicia o processo de inter-relação dos princípios e valores vivenciados no ambiente familiar com os difundidos pelo professor na escola. Essas experiências são bases fundamentais para o exercício da cidadania e integração social, pois fomentam processos de aprendizagens estruturantes na formação individual e coletiva para o convívio em sociedade. Assim, o aluno constrói, durante a sua formação, conceitos, atitudes e valores em seu processo de desenvolvimento como sujeito. O Conselho Federal de Educação Física – CONFEF reconhece que as possibilidades e potencialidades formativas da Educação Física se efetivam na relação do aluno com o professor, com seus pares, com o conteúdo aprendido, com a família e com o ambiente no contexto de vivência com o real. FONTE: RECOMENDAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR - CONFEF, 2014. Disponível em: <http://www.confef.org.br/>. Acesso em: 20 set. 2015. Assim, é importante a construção de um currículo que atenda às necessidades dos educandos, tanto as atuais como as futuras. Se um dos objetivos é fazer com que os alunos venham a incluir hábitos de atividades físicas como UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 22 parte integrante de seu estilo de vida, é fundamental que compreendam os conceitos básicos relacionados com a saúde e aptidão física, que sintam prazer na prática de exercícios e que desenvolvam habilidades motoras. Esta é uma função educacional relevante e de responsabilidade preponderante da Educação Física Escolar (NAHAS, 2006). Alonso (2000) apud Pereira (2011) completa que a função e o papel social da Educação Física escolar é o de proporcionar a autonomia do livre exercício crítico, por uma prática corporal que advogue um movimento em que se apresente a intencionalidade. É necessário ter um ato de ensinar, em que se planeje e execute o processo ensino-aprendizagem, a partir das questões socioculturais do ambiente em que se dá a aprendizagem, por meio de um constante diálogo entre educador e educando,para um melhor entendimento de sua prática corporal, envolvendo a compreensão dos aspectos cognitivos, motores, afetivo-sociais de forma prazerosa e consciente. Não podemos ignorar como um dos princípios da Educação Física escolar o que Morin (2002) considera como a compreensão da tarefa da educação do futuro, sendo esta, ao mesmo tempo, meio e fim da comunicação humana. “O planeta necessita, em todos os sentidos, de compreensões mútuas. Dada a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão necessita da reforma planetária das mentalidades”. (MORIN, 2002, p. 104). Que nossos atores sociais (alunos e professores) tenham um conhecimento não fragmentado, mas a capacidade para compreender a realidade do mundo que oferece, de forma equivocada, inúmeras possibilidades de manifestações das relações humanas. 4 A ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA O professor de Educação Física só tornará sua prática pedagógica realmente significativa para o aluno quando tiver a consciência da sua efetiva função na escola e sua real importância no sistema educacional e no processo de ensino e aprendizagem, e, também, quando reconhece, no seu conhecimento, fatores transformadores do contexto educacional. Para tanto deve: • Ser um pesquisador para qualificar e legitimar seu trabalho; • Coletar dados por meio de testagem, que comprovem a eficácia do processo ensino/aprendizagem, bem como a capacidade física dos alunos e seus níveis de desenvolvimento; TÓPICO 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA E A ESCOLA 23 4 A ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA • Refletir permanentemente sobre os Processos de Ensino nas fases pré- interativa (planejamento das aulas em conformidade com o programa de conteúdos), interativa (durante as aulas no estabelecimento de relações com os alunos) e pós-interativa (avaliação da aula e da aprendizagem dos alunos); • Selecionar e organizar previamente recursos materiais a serem utilizados nas aulas; • Utilizar metodologia que favoreça o aproveitamento do tempo de aula em atividades dinâmicas, mantendo a participação ativa dos alunos em ritmo constante com intensidade, de moderada a vigorosa; • Relatar as práticas pedagógicas por meio de registros de acompanhamento (procedimentos, ocorrências relevantes e resultados); • Avaliar os alunos considerando os aspectos cognitivo, afetivo, biológico e motor; • Apresentar os resultados das avaliações em ficha própria, para que os alunos e responsáveis tenham um feedback de suas necessidades no que se refere ao aprendizado, conduta social, aptidão física e saúde; • Definir em seu plano de aula temáticas relacionadas à promoção de estilo de vida ativo e saudável; • Proporcionar experiências práticas acompanhadas de significado com base teórica, que estimule a participação dos alunos com segurança e autonomia; • Considerar aspectos da diversidade humana, respeitando as características individuais dos alunos; • Interatuar com outras áreas do conhecimento humano, desenvolvendo atitudes interdisciplinares; • Tornar a Educação Física escolar significativa à formação dos alunos, defendendo sua permanência no currículo. FONTE: RECOMENDAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR - CONFEF, 2014. Disponível em: < http://www.confef.org.br/> Acesso em: 20 set. 2015. Mas, de acordo com Libâneo (1994), não são suficientes o amor e a aceitação, para que os alunos adquiram o desejo de estudar mais e progredir. A função do professor é a de intervir para levar o aluno a acreditar nas suas possibilidades para ir mais longe, a prolongar a experiência vivida. Machado (1995) salienta que o professor, no exercício da profissão, poderá deixar marcas significativas nos alunos em formação, sendo responsável por descobertas e experiências, boas ou não. Deve ter conhecimentos suficientes UNIDADE 1 | EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A SAÚDE – RELAÇÃO ESCOLA, PROFESSOR E A SAÚDE 24 para trabalhar seus aspectos físicos e motores e, também, os componentes socioculturais e psicológicos. Isso significa que, além da capacidade de ensinar conhecimentos específicos, é também papel do professor transmitir, de forma consciente ou não, valores, normas, maneiras de pensar e padrões de comportamento para se viver em sociedade. Fica claro que não se pode transmitir todos esses aspectos descartando o aspecto afetivo – a interação professor-aluno (CUNHA, 1996 apud GALVÃO, 2002, p. 67). Podemos, ainda, refletir sobre a prática pedagógica sob o olhar da Dimensão dos Conteúdos, contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). Nessa perspectiva, temos três dimensões dos conteúdos escolares: Conceitual, Procedimental e Atitudinal. A Dimensão Conceitual - o que saber? - regras, histórico, fundamentos, técnicas e, ainda, reflexões a respeito da ética, estética, desempenho, satisfação, eficiência. A Dimensão Procedimental - o que saber fazer? - conteúdos trabalhados em aula e sua organização. A Dimensão Atitudinal - Como fazer? - comportamento em relação às normas, valores e atitudes durante as aulas. Parece difícil encontrar professores que revelam no seu cotidiano todos esses aspectos e, segundo Silva (1995), é indiscutível que o professor que reunir a maior parte dessas características dificilmente falhará em sua prática pedagógica. Entretanto, a concretização de todos esses aspectos depende também do contexto escolar em que se encontra esse professor. (GALVÃO, 2002, p. 68). 25 Neste tópico você viu que: • As novas contribuições da escola fizeram surgir os quatro pilares da educação: Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a conviver e Aprender a ser. • Na vivência da realidade escolar é possível compreender uma série de obstáculos na relação entre a escola e seu entorno. • A Educação Física atual pode ser dividida em quatro vertentes: Rendimento - Escolar - Fitness - Promoção da saúde e qualidade de vida. • A importância da Educação Física no contexto escolar deve-se ao fato de a escola ser a maior agência educativa, depois da família, com capacidade para influenciar os alunos na aquisição de hábitos e atitudes que contribuem para um harmonioso desenvolvimento pessoal e social. • O professor de Educação Física só tornará sua prática pedagógica realmente significativa para o aluno quando tiver a consciência da sua efetiva função na escola e sua real importância no sistema educacional e no processo de ensino e aprendizagem. RESUMO DO TÓPICO 1 26 1 Podemos refletir sobre a prática pedagógica sob o olhar da Dimensão dos Conteúdos, contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Disserte sobre as três dimensões dos conteúdos escolares. AUTOATIVIDADE 27 TÓPICO 2 PROMOÇÃO DA SAÚDE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Acordar cedo e ir para o trabalho - essa é a rotina da maioria dos adultos. Nosso dia a dia é sempre corrido, a rotina é pesada e há pouco tempo para fazermos o que precisamos, parecendo não sobrar momentos para o lazer e a prática de atividades físicas. O que leva alguém ao lazer ativo é a motivação. As pessoas não têm o hábito da prática de exercícios e, mesmo valorizando a atividade física, não praticam sistematicamente. Neste tópico veremos como a Educação Física na escola e o professor devem atuar na promoção de atividades físicas e sua relação com a saúde. 2 A EDUCAÇÃO FÍSICA E A PROMOÇÃO DA SAÚDE Durante o início do século XX, os estudos da fisiologia têm demonstrado que os exercícios físicos regulares podem modificar a estrutura e o funcionamento orgânico em diversos aspectos. Atividades físicas regulares reduzem o risco de uma pessoa desenvolver diversas doenças crônicas, especialmente as cardiovasculares (principais causas de morte e de dependência funcional no
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