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Ginástica: a relação com o Circo
Prof. Andre Cyrino
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ATENÇÃO: esse material foi produzido para o público do ensino médio. A depender da faixa etária, pode precisar ser modificado para facilitar a compreensão ou para ajustar a profundidade do conteúdo.
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Na abertura do conteúdo Ginástica, comentamos a relação que ela tinha com o Circo. Citamos que os métodos ginásticos (do séc. XIX) surgem como uma oposição aos artistas circenses. Enquanto a Ginástica era associada a adjetivos como útil, organizada, sistemática e racional, o Circo era associado ao vulgar, inútil, caótico e perigoso.
Nosso objetivo aqui é conhecer melhor o Circo e entender que ele é, na verdade, uma linda manifestação artística.
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Imaginemos milhares de anos atrás, na chamada “época das cavernas”. Dois meninos, pendurados em árvores, brincam pra saber quem consegue pular de um galho para o outro. Outra hora se balançam pendurados, saltam ao chão, arriscam algum movimento acrobático. Essa cena pode ter acontecido?
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A resposta a pergunta anterior é sim. Os seres humanos buscam se desafiar, conhecer e compreender o próprio corpo, o que ele pode fazer. Desse processo, que é também um processo de diversão, surgem as atividades circenses. Na busca de superar limites corporais e realizar façanhas admiráveis, várias pessoas, no meio das ruas e praças, desenvolveram uma série de técnicas que vieram a compor o Circo.
Em diversas civilizações antigas (China, Grécia, Egito, Índia etc.) há registros de homens e mulheres que brincavam com contorcionismo, equilibrismo, acrobacias, malabarismo e outras atividades. As apresentações aconteciam nas cidades e aqueles artistas antigos buscavam entreter o público como forma de ganhar seu sustento.
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Mas o que é o Circo?
Quando ele surge?
O termo “circo” provavelmente está ligado a forma como as pessoas ficavam dispostas em “círculo” para assistir as apresentações dos artistas de rua. Como um local, o primeiro a receber esse nome foi o Circus Maximus Roma (na Roma Antiga) que era, basicamente, um estádio com capacidade para milhares de pessoas. A principal forma de entretenimento dele eram as corridas de bigas (algo como charretes puxadas por cavalos), mas existiam também outras apresentações (como engolidores de fogo, gladiadores e outras habilidades incomuns).
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Com o fim do Império Romano, a Igreja associava as práticas corporais ao pecado, assim os artistas circenses começaram a ser perseguidos. Desde então, eles começaram a ser itinerantes, mudando de cidade em cidade buscando abrigo e comida com suas apresentações. Durante a Idade Média, improvisavam apresentações em ruas e praças das cidades medievais, além de auditórios e festas particulares: eles ficaram conhecidos como troupe de Saltimbancos. Apresentavam dança, acrobacias e pequenas peças teatrais.
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Em muitos casos, armavam-se locais fechados (cercados) para cobrança de ingresso. Daí vem a lona para cobrir o local das apresentações. Em 1770, com a inauguração do Astley’s Amphitheatre em Londres, por Philip Astley, o termo “circo” passou a denominar o conjunto de atividades praticadas sob uma lona, em teatros ou de forma itinerante (mambembe – itinerante) em ruas e praças (espaços abertos), dando origem ao denominado Circo Moderno ou Tradicional.
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Os grupos de artistas tinham ligação familiar e o conhecimento era passado de pai para filho. Da Europa, a cultura do Circo, nesse formato, se espalhou para o mundo através dos artistas circenses, sobretudo ciganos fugindo de perseguição na Europa nos séculos XVIII e XIX (1700 e 1800).
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No Brasil, o Circo chegou trazido por esses ciganos europeus e incluía, dentre outras atividades, acrobacias, doma de animais, ilusionismo e a figura do palhaço (que no Brasil ficou mais falante, diferente do europeu que era mais mímico). Segundo o IBGE, no Brasil, na década de 1970, havia mais de dois mil circos, número que se reduziu pela metade no ano 2000.
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Como vivem as pessoas de um Circo? Assista a matéria do SBT/MS sobre a realidade dos artistas circenses na atualidade. Clique: https://youtu.be/UugtAjFTAGE
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Modalidades de atividades circenses
A depender do estudioso, a classificação dos tipos de modalidades existentes no Circo pode mudar. Opta-se por um modelo que acredita ser o mais simples de entender que subdividi as atividades circenses em cinco categorias:
Técnicas de equilíbrio (com ou sem acessórios);
Técnicas acrobáticas (com ou sem acessórios);
Técnicas de manipulação/malabarismo;
Técnicas de encenação (teatrais).
Atividades aéreas;
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Fonte: Apostila de Atividades Circenses na Educação, de autoria do prof. Jayme Felix Xavier Junior (IFCE).
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Obviamente, um número de apresentação no Circo não precisa conter apenas uma das categorias citada. Pelo contrário, em geral mais de uma categoria são utilizadas na composição de uma apresentação circense, quando não todas. A imagina abaixo é um exemplo que se utiliza de malabarismo, acrobacia e equilibrismo na apresentação.
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A arte de equilibrar-se está ligada, no primórdio da humanidade, à sobrevivência (como, para fugir de um predador, escalar um local elevado e lá manter-se equilibrado, sem cair).
Da física, equilíbrio está ligado a estabilidade (seja no repouso ou em movimento). No corpo humano, o equilíbrio é uma capacidade psicomotora (pensamento + movimento) de controlar os músculos para manter uma estabilidade (do próprio corpo ou de objetos).
Técnicas de equilíbrio
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A corda bamba é um dos números mais conhecidos e é também conhecida como funambulismo. Pode ser realizada apenas caminhando sobre uma corda/cabo de aço, ou com algum instrumento, como no caso da imagem, onde o artista ainda realiza uma posição acrobática.
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Em 1974, o equilibrista francês Philippe Petit atravessou 8 vezes (totalizando 45min) a aço distância de 42 metros que separava os dois prédios do World Trade Center (destruídos nos atentados de 11 de setembro de 2001) em um cabo de há mais de 400 metros de altura sem qualquer proteção. A façanha foi retratado no documentário Man On Wire (2008) e no filme The Walk (2015) mostrando os detalhes da aventura ilegal (ele fez sem autorização, escondido, e depois foi preso).
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O monociclo é outra prática comum de equilibrismo e geralmente está associada ao malabarismo.
A bola também é um instrumento muito utilizado para realizações de técnicas de equilíbrio.
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A acrobacia está ligada a realização de um movimento corporal incomum e com certo nível de dificuldade/destreza (diferentes de movimentos corporais comuns, como o ato simples de caminhar). Como forma de espetáculo, é uma das atividades circenses mais antigas, sendo encontrada em registros milenares da China.
Técnicas acrobáticas
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Acrobacias podem ser posições estáticas ou movimentos, como diversos tipos de saltos. 
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Técnicas de contorcionismo são encaixadas nas acrobacias e exigem grande flexibilidade do praticante.
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As acrobacias também são muito comuns nas atividades aéreas. O tecido acrobático, o trapézio e a cama elástica são exemplos.
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As técnicas de manipulação exigem destreza no manuseio de diferentes objetos. A técnica mais conhecida de manipulação é o malabarismo (o termo, acredita-se, descende da ilha de Malabar, na Índia, onde jovens em um ritual de passagem para a vida adulta demonstravam habilidades de manipulação de objetos). A clave, objeto da foto ao lado, é um dos mais utilizados para a prática do malabarismo.
Técnicas de manipulação/malabarismo
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O diabolô, nas imagens acima, é menos conhecido e equilibra um tipo de carretel em uma linha presa em duas pequenas varas.
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Como forma de impressionar, malabaristas podem aumentar a quantidade de objetos, incluir acrobacias e equilibrismo.
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Podem também adicionar objetos cortantes/flamejantes.
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Há também o malabarismo de contato que, por meio de uma bola, realiza rolamentos e equilíbrios pelo corpo.
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A principal figura teatral do Circo é o palhaço, mas técnicas de encenação envolvem o apresentadordo espetáculo, a bailarina, os números de dança e de mágica.
Técnicas de encenação
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A expressividade da encenação, muitas vezes, não necessita de espaços específicos, sendo a rua ainda um grande palco de trabalho.
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Atividade aéreas
As atividades aéreas, como o próprio nome diz, acontecem acima do nível do solo e geralmente contém acrobacias ou equilibrismo. Os já citados tecido acrobático e cama elástica são bastante conhecidos, mas o mais tradicional talvez seja o Trapézio (através de um barra presa em cordas, o trapezista balança-se de um lado a outro).
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Uma outra atividade aérea bem reconhecida era o homem bala (canhão humano), onde o artista é lançado há grande distância e altura e cai sobre uma rede de proteção.
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O lado feio do Circo
Na história do Circo, um tipo de grupo hoje é entendido como marca de vergonha: o chamado Circo dos Horrores. Esses grupos utilizavam-se de pessoas com características incomuns (gêmeos siameses, obesos, anões, mulheres com barba, pessoas com deficiência etc.) apresentando-as como animais, muitas vezes comparando-as aos monstros de histórias conhecidas.
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Em outro sentido, a utilização de animais no Circo hoje é proibida, haja vista a comprovação da falta de cuidados e maus tratos. Além disso, a utilização deles com o único intuito de servir como entretenimento para os humanos ignora sua condição de liberdade. No país, apesar de não existir uma lei federal, a maior parte dos estados proíbe a utilização de animais em apresentações no Circo.
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O Circo não é um local intocável pelas características sociais e culturais, pelo contrário, ele também reflete diversas opressões existentes na sociedade. Por isso, é importante conhecer histórias diferentes, que nos apresentam a diversidade da vida. O papel de palhaço é sempre relacionado ao homem, historicamente as mulheres também tiveram que ganhar espaço no Circo. Conheça a história de uma das primeiras palhaças brasileira, Maria Eliza Alves.
Clique: https://youtu.be/6zLaAQ6Uxw4
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A relação entre o Circo e a Ginástica
É perceptível a relação próxima que as duas modalidades tem, seja com vários movimentos, aparelhos e/ou objetos semelhantes. Mas o Circo e Ginástica também tem bastante diferenças: a principal, podemos afirmar, é que a Ginástica está mais ligada ao binômio treinamento/competição enquanto o Circo está mais voltado a uma manifestação artística.
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No passado, por volta do século XVIII e XIX (1700 e 1800), a Ginástica era ligada a ciência, a saúde, a segurança e a moralidade. Os artistas circenses, por outro lado, eram vistos como vagabundos, bêbados, perigosos e imorais. Do ponto de vista técnico, o movimento corporal na Ginástica era estudado, calculado, eficiente; no Circo, era fútil, antinatural, inseguro. Até mesmo os métodos de aprendizagem eram bastante diferentes (na Ginástica, um método científico de progressão de exercícios simples para complexos; no Circo, a aprendizagem seria por experimentação, tentativa-erro).
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O cenário atual tem algumas mudanças e permanências. Em grandes companhias de circo (como o famoso Cirque Du Soleil, na imagem acima), o preconceito tornou-se admiração e hoje existem vários ex-ginastas participando, com treinamento similar ao de atletas, rigoroso e controlado. Já os artistas circenses comuns, nos semáforos das grandes cidades, ainda enfrentam preconceitos e são vistos com olhares de discriminação, tais quais seus ancestrais na Europa do século XVIII.
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Pra que serve o Circo, afinal?
No passado, acreditou-se que a Ginástica seria útil (para o corpo e para a saúde), enquanto o Circo seria inútil (uma mera distração). Aqueles que ainda acreditam nessa ideia não conseguem reconhecer a importância da arte, e arte é o que o Circo é. Arte que encanta e nos faz ver o impossível. Que nos tira da realidade bruta do cotidiano para nos transportar para os sonhos e fantasias. Seria mesmo inútil o Circo?
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Circo e a Escola
Assim com a Ginástica, as atividades circenses podem ser praticadas na escola em quase toda sua totalidade (excetuando as atividades aéreas que necessitariam de estrutura de segurança mais elaborada). Trazem benefícios físicos, de fortalecimento do corpo, mas também psicológicos (prazer, autoconfiança, autoestima) e sociais (superar a timidez, melhorar a relação com as pessoas etc.).
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O Circo pode transformar a vida de pessoas. Sobre esse poder de transformação social, caso tenha tempo, assista ao documentário sobre o projeto Circo da Gente, um projeto de educação e cidadania com o Circo. Clique: https://www.youtube.com/watch?v=_9IxXfSDh5k
Vídeo complementar (opcional)
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Caso tenha tempo também pra “inutilidade” do Circo, divirta-se com o palhaço mímico Karkocha que se apresenta pelo mundo.
Clique: https://youtu.be/8H6zh56bmyg
Vídeo complementar (opcional)
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Caso tenha tempo para mais uma “inutilidade” do Circo, divirta-se com habilidades inacreditáveis.
Clique: https://www.youtube.com/watch?v=ToF6kvccPY0
Vídeo complementar (opcional)
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Um exemplo de atividade a ser cobrada aos alunos. Para assistir, clique no link:
https://youtu.be/NMH8zm0Hz-s
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REFERÊNCIAS
Todas as imagens foram retiradas de sítios na internet. Não foram referenciadas as fontes por serem de diversos locais (algumas baixadas há bastante tempo). O autor pede desculpas pela falha, mas, como um material sem qualquer intenção de ganho financeiro, acredita-se que a falha é perdoável. Por esse motivo também o arquivo é disponibilizado de forma aberta e editável.
Não foram usadas citações diretas no texto, mas com certeza diversas obras e sítios na internet inspiraram e embasaram a escrita do autor, dentre elas:
BORTOLETO, Marco Antonio Coelho. A ginástica e as atividades circenses. In: _______. A GINÁSTICA EM QUESTÃO: Corpo e Movimento. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2010. p. 87-110.
DUPRAT, Rodrigo Mallet. BORTOLETO, Marco Antonio Coelho. Educação Física escolar: pedagogia e didática das atividades circenses. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 28, p. 171-189, 2007.
XAVIER JUNIOR, Jayme Felix. Apostila Atividades Circenses na Educação. Curso online Sead/Univasf.
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André Cyrino é o meu nome e eu não suporto falar em terceira pessoa (mas o faço por saber que isso denota mais formalidade ao leitor tradicional). Sou cearense e escolhi a Educação Física para ser feliz.
SOBRE O AUTOR
Graduado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2014, trabalho desde o mesmo ano na Escola de Ensino Médio Mariano Martins, em Fortaleza. Tenho especialização em Artes Marciais, Lutas e Esportes de Combate pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e mestrado em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Esse material foi utilizado por mim durante o 2º bimestre curricular de 2020, período da pandemia de coronavírus. Não acredito no ensino à distância, mas conexão humana online do que nenhuma. Nesse contexto, esse material pode servir como um disparador de reflexões, mas em nada substitui a incomparável experiência corporal de vivenciar os conteúdos da Educação Física.
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SOBRE O AUTOR
Você pode me encontrar no twitter/instagram como @dedecyrino, por email pelo and.cyrino@gmail.com e também na página criada para facilitar a comunicação com meus alunos em tempos de ensino à distância:
https://educacaofisicasemvergonha.wordpress.com/
Se quiser vir aqui em casa, avisa pra gente preparar comida (porque nunca tem).

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