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Capítulo 27 Fraturas e osteossíntese Cássio Ricardo Auada Ferrigno, Olicies Cunha Introdução Ao iniciarmos este capítulo devemos salientar que o tecido ósseo é estrutura altamente especializada e viva e que possui diferentes células e componentes inorgânicos, que levam a características físico-químicas específicas. Porém este tecido especializado possui pouca vascularização sanguínea, o que leva a algumas dificuldades em seu tratamento, mormente no que tange à cicatrização de fraturas. Todos os conceitos que serão ventilados neste capítulo seguem estritamente os princípios básicos da Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen (AO), que é uma associação criada em 1958, na Suíça, com o objetivo de desenvolver padrões de cuidado projetados para causar o regresso rápido à mobilidade e à função do membro afetado por fratura. Esta filosofia tem crescido rapidamente pelo mundo e atualmente a veterinária é um braço independente de estudo da fundação. O tecido ósseo Componentes do Osso O osso é formado por dois tipos distintos de componentes: a matéria orgânica e a matéria mineral. A matéria orgânica é constituída por células especializadas e por fibras colágenas que se dispõem de modo a formar uma espécie de estrutura semelhante às longarinas e estruturas em colmeia utilizadas na construção de asas de avião ou outras formas semelhantes que estão predispostas a grandes estresses por cargas constantes. A substância orgânica forma a armação para a deposição da matéria amorfa do osso (matéria inorgânica), que são os elementos minerais, como o cálcio e o fósforo, cuja presença confere característica dureza aos ossos. Estes minerais formam cristais que são chamados de hidroxiapatita. Células Ósseas 668 Existem três tipos de células especializadas no osso com atividades diferentes: osteoblastos, osteócitos e osteoclastos. Os osteoblastos são células volumosas, com um núcleo de grandes dimensões, apresentando na sua constituição finos prolongamentos. A sua missão consiste em produzir a substância osteoide, ou seja, a matriz ou a substância na qual os minerais vão sendo depositados. Os osteócitos são células pequenas que, na realidade, correspondem a osteoblastos maduros e envelhecidos que migraram da periferia do osso para porções mais internas da matriz. Estas células possuem atividades citoplasmáticas menores que as do osteoblasto, mas são de mesma importância, pois ajudam a manter, em menor monta, a densidade óssea. Embora estas células se encontrem “presas” no interior da substância osteoide por elas próprias fabricada, podem ser ativadas, se houver necessidade, como em caso de fraturas ou osteoporose, com o objetivo de assumir o papel de osteoblastos. Os osteoclastos são células volumosas constituídas por inúmeros núcleos, cujo citoplasma é muito rico em organelas celulares. São originados da combinação de diversos macrófagos que se especializam em fagocitar a matriz óssea para sua degradação. A atividade do osteoclasto é regida por dois fenômenos. O primeiro refere-se aos hormônios como a calcitonina e o paratormônio, pois a atividade destas células manterá a homeostase de minerais na corrente sanguínea. A segunda forma de controle é ditada no próprio local do osso, onde esta célula responde a forças exercidas no tecido, adequando as lamelas e sistema de Havers para aperfeiçoar a absorção de carga pelo osso. Ainda devemos citar a substância osteoide, que não é celular. É formada por colágeno e por material amorfo, o qual é basicamente composto por mucopolissacarídeos. Estes elementos, produzidos pelos osteoblastos, constituem uma espécie de pequenas lâminas que, ao se adaptarem em uma determinada posição, permitem a formação das unidades funcionais do osso, denominadas sistemas de Havers. Minerais Apesar de o osso ser basicamente constituído por minerais como o cálcio e o fósforo, é igualmente composto por outros elementos, como magnésio, flúor e zinco. O cálcio e o fósforo estabelecem uma ligação de modo a compor cristais de forma hexagonal (hidroxiapatita) que, ao serem depositados na substância orgânica do osso, atribuem- lhe uma rigidez característica. A associação da parte mineral à parte orgânica confere a característica de o osso ser um corpo anisotrópico (esta característica será posteriormente explorada no item sobre biomecânica). Estrutura do osso 669 O osso tem uma estrutura complexa, comparável a estruturas armadas de arranha-céus, devido à característica atividade das células que o formam e à evidente necessidade de todos os setores do osso disporem de uma suficiente irrigação sanguínea que lhes permita assimilar de forma eficaz elementos nutritivos e materiais plásticos. De fato, a substância osteoide elaborada pelos osteoblastos é disposta de modo a formar uma série de pequenas lâminas concêntricas à volta de um canal central, que é atravessado por um vaso sanguíneo. O conjunto formado por estas camadas concêntricas de osso, respectivos canal e vaso sanguíneo que percorre cada canal, denomina-se sistema de Havers. Por sua vez, os sistemas de Havers, que percorrem longitudinalmente os ossos, comunicam-se entre si por intermédio de canais que lhes são perpendiculares e também possuem um vaso sanguíneo no seu interior – os canais de Volkmann. Assim, forma-se uma rede canalicular que garante a perfusão adequada e o aporte de nutrientes necessários ao metabolismo ósseo. Podemos ainda verificar que os ossos são constituídos por dois setores com características diferentes: uma parte mais compacta (o osso cortical) e uma parte esponjosa (o osso esponjoso). O osso cortical é formado por lâminas ósseas paralelas e extremamente próximas entre si, constituindo uma substância densa que confere resistência ao osso. Em termos gerais, este osso é responsável pela formação de uma camada exterior de espessura variável, por sua vez revestida por uma membrana resistente denominada periósteo. O osso esponjoso é menos denso, já que é formado por lâminas ósseas irregularmente dispostas nos vários sentidos, deixando espaços livres entre si, ocupados pela medula óssea, encarregada de elaborar as células sanguíneas. Contudo existem setores de alguns ossos, como acontece na cabeça do fêmur, em que as trabéculas adotam uma disposição específica determinada pela força de tração a que o osso se encontra submetido, o que lhe confere maior resistência. Fraturas ósseas Fraturas do Osso Cortical A maioria das fraturas envolve o osso cortical. A forma que o osso cortical quebra está ligada a algumas variáveis, mas principalmente à quantidade de força colocada no osso, à sua direção em relação ao eixo ósseo e à velocidade em que ela é exercida no tecido ósseo. Em uma situação real de trauma, a carga recebida pelo osso é bastante complexa, pois vários fatores influenciarão o processo, como o apoio do membro ao solo. A contração muscular que ocorre pela antecipação do trauma sempre cria forças de contração fortes ao longo do eixo longitudinal do osso, e invariavelmente submetem o 670 tecido ósseo a forças de rotação e arqueamento associadas. Outra variável importante é a taxa ou velocidade de aplicação da força no osso. Se a velocidade de aplicação da força em um material é lenta e constante, normalmente vamos encontrar as primeiras fraturas nas regiões mais fracas, e esta solução de continuidade persiste seguindo a linha dos pontos mais fracos do material, levando a uma simples linha de fratura. Mas, se aplicarmos uma força rapidamente no osso, esta energia se dissipará em várias direções ao mesmo tempo, causando múltiplas linhas de falha no material, ou em nosso, no caso de fraturas múltiplas ou cominutivas. Fraturas de Osso Esponjoso A maioria das teorias utilizadas para ossos compactos pode ser transferida para o osso esponjoso, mas podemos salientar uma diferença nas fraturas por compressão, em que normalmente existem o colapso e a compactação dos fragmentos ósseos. Cicatrização óssea Podemos definir como cicatrização óssea a forma especializada na qual ocorre a regeneração da injúriaóssea, em que, após um período determinado, não haverá “cicatriz óssea”. Os mecanismos que estão ligados a este tipo específico de cicatrização envolvem crescimento ósseo, modelação e remodelação do tecido ósseo. Estes eventos compreendem fenômenos locais e sistêmicos que influenciam o metabolismo e o catabolismo do tecido ósseo. Eventos agudos após a ocorrência de fratura Junto com eventos locais, eventos sistêmicos são desencadeados assim que ocorre uma fratura. Os primeiros eventos estão ligados à inflamação e parecem ter correlação com funções protetoras do organismo. A inflamação local associada à injuria causa mudanças nas concentrações circulantes de proteínas inflamatórias de fase aguda. Isto inclui proteínas responsáveis pela coagulação e pelo sistema complemento. A fase aguda inflamatória também é responsável pela mudança na produção de insulina, glicocorticoides e catecolaminas e pelo aumento da concentração sanguínea de vitaminas e minerais (primariamente zinco e ferro). Ocorrem também ativação da cascata de enzimas proteolíticas ligadas à coagulação, complemento, fibrinólise, além de alteração no metabolismo de aminoácidos devido à quebra de proteínas musculares. Localmente, os eventos agudos são semelhantes a sequências vistas em outros tecidos, principalmente no que tange à liberação de citoquininas inflamatórias, que estarão ligadas a fatores de crescimento que atuarão ao longo do processo cicatricial. 671 Com a hemorragia existe a tendência de se formar coágulo, que vai levar a angiogênese e fibrose. Neste momento os eventos da cicatrização óssea começam a diferir de outros tecidos, mormente no tocante à formação de um calo fibroso, que será substituído por cartilagem, que sofrerá calcificação endocondral e eventual remodelamento. Estes eventos são mais bem estudados se compartimentarmos em dois tipos básicos de cicatrização, que possuem fases ligadas ao tempo e à progressão da cicatrização, inerentes a cada processo. Tipos de Cicatrização Óssea Cicatrização Óssea Indireta Em situações normais, após a ocorrência de fratura, existe certo grau de instabilidade entre os fragmentos ósseos. O movimento entre os fragmentos em fase inicial não permite imediata formação de novo osso devido ao gradiente de mobilidade do tecido ser muito alto, não tolerado pelos osteoblastos. Neste momento ocorre maior fixação dos fragmentos ósseos devido à formação de fibrose pela colonização do coágulo por fibroblastos. Neste processo de organização o calo ósseo fibroso é colonizado por capilares, ocorrendo angiogênese e permitindo que outras células precursoras se infiltrem, por via hematógena, no calo ósseo fibroso. O calo ósseo fibroso permite que exista estabilidade suficiente para que ocorra a invasão de condroblastos, que causará metaplasia em ambos os cotos da fratura, transformando-o em calo fibrocartilagíneo e, posteriormente, em calo cartilaginoso. A cartilagem então é substituída por osso mediante ossificação endocondral. Após estes eventos ocorre a remodelação do calo ósseo, que normalmente é exuberante. Cicatrização Óssea Direta A cicatrização óssea direta só ocorre mediante cirurgia e estabilização rígida dos fragmentos ósseos fraturados. A estabilização rígida e a coaptação perfeita dos fragmentos ósseos permitem que o sistema harvesiano cruze o foco de fratura e repare a solução de continuidade sem a necessidade de ossificação endocondral. A consolidação óssea direta possui algumas desvantagens, como tempo maior de consolidação e calo ósseo frágil, mas, devido a suas características, ela permite deambulação prematura do membro afetado e maior conforto ao paciente. Remodelação óssea A remodelação óssea é a fase da cicatrização mais prolongada. Em cicatrizações indiretas esta fase leva normalmente pelo menos oito meses a dois anos, enquanto na 672 cicatrização direta esta a fase é curta ou inexistente. A fase de remodelação óssea é importante, pois ocorre o realinhamento dos canais de Harvers orientados pelas forças suportadas pelo osso. Em outras palavras, enquanto não finda a fase de remodelação, o osso ainda se encontra menos resistente às forças de carga, por isso existe a ocorrência de refraturas em aproximadamente 7% dos casos (Figura 27.1). Figura 27.1 A: Poodle de 6,5 anos de idade com placa em rádio há 5,5 anos. Observe osteólise sob a placa (seta). B e C: Fratura observada 20 dias após a remoção da placa. A fase de remodelação óssea esta intimamente ligada à função dos osteoclastos, que é a reabsorção. A reabsorção óssea é feita pelos osteoclastos, que têm dois papéis: remoção da parte mineral do osso (hidroxiapatita) mediante reações com ácidos e degradação da matriz colágena, e não colágena, do ósteon por meio de enzimas.xxx Os osteoclastos são células altamente polarizadas que iniciam a reabsorção óssea a partir de suas ligações com a matriz óssea. A área de contato entre osso e osteoclasto contém proteínas contráteis, como a osteopontina, que é secretada pelo osteoclasto para facilitar a sua aderência ao osso. Outro facilitador da adesão do osteoclasto à matriz óssea é a integrina, molécula de uma classe de matriz celular. O osteoclasto se liga às integrinas por meio do mediador αVβ3, sendo a porção β3 exclusiva destas células, mas a porção restante é muito semelhante a outras integrinas encontradas em células como monócitos e macrófagos. Este dado pode ser irrelevante à primeira vista, mas possui implicações terapêuticas extremamente importantes, pois, se bloquearmos, por neutralização por anticorpos, a função das integrinas, provavelmente estaremos inibindo a função dos osteoclastos e, por conseguinte, a reabsorção óssea, o que se torna extremamente relevante na osteoporose. A forte ligação do osteoclasto com a matriz óssea permite que seja manipulado o espaço entre as duas estruturas. Neste espaço o pH pode ser < 3. Esta acidificação do espaço é alcançada pela secreção de íons de hidrogênio, produzidos pela ação da anidrase carbônica e transportados pelo osteoclasto por uma bomba de prótons específica encontrada na membrana celular. O pH ácido atua então degradando a hidroxiapatita, parte mineral do osso. A degradação da matriz proteica é feita pelas enzimas proteases neutras, como a 673 catepsina, que é secretada no espaço entre o osteoclasto e o osso. A reabsorção óssea é responsável pela retirada da parte exuberante e supérflua do calo ósseo secundário, e podemos considerá-la uma remodelação periosteal e endosteal. No entanto a remodelação harvesiana é responsável pela remodelação intracortical, promovendo o retorno normal da estrutura do osso compacto. Remodelação Harvesiana Remodelação harvesiana é a ordem de processo entre a reabsorção e a formação de osso dentro do córtex, o que confere a aparência histológica de formações concêntricas ao osso adulto. Isto ocorre quando um grupo de osteoclastos forma um túnel na matriz óssea. Neste momento, novos capilares crescem para manter o suprimento sanguíneo para as células, e, junto a estes, novas células precursoras de osteoblastos são fixadas. Os osteoblastos então preenchem concentricamente o túnel, formando lamelas concêntricas cortadas por uma lamela preexistente do osso. A remodelação harvesiana visa à adaptação dos ósteons ao eixo longitudinal, ao qual a matriz naquela região está sujeita, para conferir maior resistência ao osso. Sinais Clínicos e Diagnósticos da Fratura A maioria dos sinais clínicos de fratura de membros apendiculares é bastante visível, com algumas exceções, principalmente em fissuras e em ossos com grande recobrimento muscular. Também os sinais clínicos variam dependo da violência do trauma. Os sinais clássicos de fratura são: • Dor local; • Deformidade angular do membro; • Mobilidade óssea anormal; • Edema local, que pode se instalar logo após o trauma, em algumas horas, ou até mesmo dias depois, e normalmente persiste por sete a 10 dias; • Impotência funcional do membro; • Claudicação; • Crepitação local. O diagnóstico é baseado em exames radiográficos,que devem sempre ser realizados em duas posições para permitir melhor escolha do tratamento a ser instituído. Em alguns casos específicos, como fraturas com pequenos fragmentos articulares ou com alto grau de complexidade, principalmente em coxal, o exame tomográfico 674 pode ser importante, principalmente porque é possível a reconstrução tridimensional, auxiliando na visualização espacial da fratura. Tratamento O tratamento se baseia na imobilização óssea para promover a cicatrização da fratura. O tratamento pode ser conservador, utilizando-se a imobilização do membro, com talas e pensos, como forma de imobilização do osso, ou cirúrgico, no qual se procura, por meio de implantes cirúrgicos, a imobilização do foco de fratura. Ambos os métodos são eficazes, mas é importante saber escolher entre o grande arsenal de possibilidades, pois esta escolha ditará o sucesso do tratamento. Biomecânica Biomecânica do Osso Intacto O osso é um material de formação complexa composto basicamente por fibras colágenas organizadas e matriz mineral de hidroxiapatita. Apesar de outros componentes estarem presentes, estes dois materiais são responsáveis pelas principais características biomecânicas do tecido ósseo. Em um nível básico, podemos considerar que os ossos cortical e esponjoso são bastante similares no que tange à reação a forças. Quando o material não é homogêneo em sua composição, o comportamento mecânico é influenciado pela direção da carga aplicada, e isso é chamado de anisotropia. Esta noção é importante, pois as características elásticas e de resistência dos cristais de hidroxiapatita são afetadas pela direção da força aplicada. As propriedades mecânicas do osso cortical são representadas pela curva tensão- deformação mostrada na Figura 27.2. Na representação gráfica podemos inferir que o estresse é a força aplicada ao osso, dividido pela sua área transversal. A tensão (ou strain) é a variação percentual no comprimento do osso em resposta à força aplicada. 675 Figura 27.2 Curva de tensão-deformação típica para o osso cortical. O módulo de elasticidade é calculado a partir da inclinação da linha A. Com colocação de carga no osso ocorre aumento do estresse, que acabará cedendo (perdendo suas propriedades elásticas). Este ponto na curva é exatamente onde ocorre a diminuição do incremento da curva stress strain, sendo conhecido como yield point, ou ponto de resistência máxima do osso. O módulo de elasticidade do osso é determinado a partir da inclinação da parte inicial linear da curva. Esta variável está ligada a várias propriedades ósseas, sendo a principal a anisotropia, mas a forma do osso, o ponto de aplicação de força, a orientação dos canais de Harvers e a densidade óssea influenciam o valor da curva. O módulo de elasticidade de um corpo é importante, pois mostra o quanto de carga este corpo pode suportar, dependendo de sua deformação. Isto é muito importante quando pensamos em fraturas, pois a velocidade de aplicação de força, somada ao ponto da aplicação em relação à forma básica do osso, configura os diferentes tipos do traço das fraturas. Outro fator que deve ser levado em conta é o carregamento cíclico do osso durante as atividades normais do animal, em que a carga necessária para causar a falha óssea é menor, se compararmos com cargas de aplicação única, mas com grande intensidade. Para melhor entendimento do osso como estrutura devemos entender primeiro dois conceitos físicos: • momento de inércia de área (MIA): é um parâmetro importante para o entendimento da resistência de materiais às forças de arqueamento. Estuda não só a quantidade de material que será exposto a uma determinada força, mas principalmente a disposição deste material. Quando um material sofre forças de arqueamento, uma parte de sua superfície sofre tensão e a área contralateral sofre compressão, mas, no centro estrutural, a força é considerada zero, o que é chamado de plano neutro. Quanto mais longe do plano neutro um material se encontra, mais condições de 676 resistir às forças ele possui, portanto a fórmula para o cálculo deste parâmetro enfatiza a distância, e para estruturas circulares é π.r4/4, onde r é igual ao raio. Portanto, quanto mais aumentamos o raio de um osso, maior vai ser a sua resistência às forças de arqueamento: • Momento de inércia polar (MIP): é parâmetro semelhante ao anterior, só que diz respeito à resistência de uma determinada estrutura em suportar forças de rotação. Para formas cilíndricas ocas, como são os ossos longos, a fórmula é ½.π.(r4–r′4), onde r é igual à medida do raio externo e r’, a medida do raio interno. Vendo as fórmulas citadas entendemos que a estrutura cilíndrica do osso provê resistência às forças de arqueamento e rotação mais do que uma estrutura plana, porém a estrutura óssea é mais suscetível a forças de cisalhamento. Com as ideias sugeridas também entendemos por que quanto mais o osso é exigido pelas forças, mais espesso ele se tornará, sendo este fenômeno dinâmico. Em relação à biomecânica do osso esponjoso podemos dizer que os fenômenos citados são válidos, porém o osso esponjoso é menos denso do que o cortical. Sua densidade é muito maior e a curva de tensão para osso esponjoso difere da do cortical com yield point ocorrendo em nível muito inferior do valor de estresse (Figura 27.3). Figura 27.3 Curva de tensão-deformação de osso cortical e esponjoso. Os yield point variam consideravelmente. Biomecânica da Cicatrização Óssea A cicatrização óssea indireta é biomecanicamente superior se a compararmos com a cicatrização direta causada por estabilizações rígidas nas fases iniciais da cicatrização óssea, pois a rigidez de flexão do osso longo varia com a quarta potência do seu raio. Portanto, quanto maior o calo ósseo formado, maior a resistência. Entretanto a cicatrização direta atinge seu potencial de rigidez máxima muito antes da cicatrização indireta, pois a fase de remodelação do calo ósseo é muito mais curta. 677 Escolha do método de osteossíntese Planejamento correto antecipa problemas inerentes à redução da fratura, reduz o tempo e os danos cirúrgicos iatrogênicos, além de prevenir erros técnicos. À medida que a consolidação progride, a tendência é que ocorra desvio da carga do implante para o osso, ou seja, o tecido ósseo passa a suportar mais carga e o implante, menos carga. Em pacientes ou situações em que a consolidação é mais lenta, o implante deve suportar mais carga por mais tempo. Assim, a probabilidade de falha do implante é maior. Desta forma, cada fixação representa uma “corrida contra o tempo” entre a consolidação da fratura e a falha do implante. Há uma tendência em planejar tratamentos com base apenas em aspectos mecânicos pautados na configuração da fratura. Esta conduta inadequada é responsável por fracassos frequentes, pois a maioria dos problemas de não consolidação é por erro na escolha do tratamento. Com o objetivo de reduzir falhas, o planejamento da estabilização da fratura deve levar em consideração aspectos mecânicos, biológicos e clínicos. Atribuem-se notas de 1 a 10 para cada um dos três aspectos, em que as notas maiores indicam situações que favorecem a consolidação e o retorno precoce à função do membro (Aron et al., 1995). Não existe um único tratamento possível para uma determinada fratura. A escolha do método pode variar de acordo com a experiência e o domínio da técnica de cada cirurgião. Bons cirurgiões preparam-se com pelo menos dois planos de tratamento e, caso o plano A não possa ser executado por algum motivo, o plano B ou C pode ser posto em prática sem perda de tempo. Entre os fatores mecânicos que influenciam o prognóstico devem-se levar em consideração o porte do paciente, o número de membros afetados, a configuração da fratura e a capacidade de redução anatômica com divisão da carga entre o osso e o implante usado. Notas baixas são atribuídas a pacientes de maior porte com fraturas não redutíveis em dois ou mais membros. Quando o implante suporta grande parte da carga mecânica, a taxade complicações é maior, particularmente em pacientes pesados. Sempre que possível, a coluna óssea deve ser reconstituída, assim, parte da força será transmitida axialmente ao membro, minimizando o estresse ao implante. Infelizmente a redução anatômica não é sempre possível; nestas ocasiões o implante deve ser rígido o suficiente para permitir consolidação antes da falha. Os aspectos biológicos estão relacionados com a velocidade de consolidação. Os ossos de pacientes jovens, hígidos, com bom “envelope” de tecidos moles, em regiões com maior quantidade de tecido ósseo esponjoso e fraturas resultantes de traumas de baixa energia cinética, consolidam-se mais rapidamente e os pacientes recebem notas altas na escala de 1 a 10. Fraturas estabilizadas por redução fechada não causam danos vasculares adicionais e minimizam o risco de infecção; assim, o processo de reparo é acelerado. Pobre cobertura muscular, como terço distal de rádio/ulna e tíbia, resulta em vascularização pobre, e fraturas nesta região apresentam evolução lenta. Constituem-se fatores clínicos todos os aspectos inerentes às particularidades do 678 paciente e de seu proprietário. Assim, as características do cliente e a disposição em atender as necessidades do paciente no pós-operatório, como curativos, manejo e retornos, influenciam de forma contundente a escolha do método. Pacientes cooperativos (menos agitados) aceitam melhor fixadores e coaptação externa. Ressalta-se também a necessidade de fixação mais rígida em pacientes hiperativos. Características raciais e individuais podem ditar a necessidade de maior ou menor conforto. O ideal é que a fixação permita conforto para o paciente iniciar o uso funcional do membro precocemente, além de facilitar a fisioterapia, quando indicada. Para pacientes mais estoicos o conforto não é consideração importante, mas é exigência em pacientes sensíveis. Os implantes proporcionam grau de conforto variável, mas dependem também da tolerância individual do paciente. De forma geral, as placas e hastes bloqueadas são mais confortáveis. Notas baixas atribuídas à avaliação clínica (fatores clínicos) exigem fixação confortável, o que requer pouca manutenção pós-operatória. O nível de conforto do implante é menos importante para pacientes com notas maiores. As avaliações mecânicas e biológicas que resultam em valores baixos indicam necessidade de fixação rígida e que suporte longos períodos até a consolidação. Sugere-se combinação de implantes como placa óssea e pino intramedular, placa e fixador externo, fixadores externos tipo III ou circulares, pino intramedular e fixador externo, hastes bloqueadas. Já para pacientes com notas maiores a fixação não precisa necessariamente ser tão rígida ou não há obrigatoriedade de associação de implantes. O planejamento da abordagem cirúrgica é fator extremamente relevante. A preservação do envoltório de tecidos moles e hematoma perilesional evita danos teciduais e facilita a consolidação. O conceito de abordagem fechada ou minimamente invasiva vem ganhando espaço entre os cirurgiões ortopedistas que praticam técnicas mais refinadas (abordagem biológica). É possível fixar fratura cominutiva por aplicação fechada de fixador externo, haste bloqueada ou placa por abordagem minimamente invasiva sem manipulação dos fragmentos (abordagem biológica). Quando não há possibilidade de redução anatômica da fratura, abordagens extensas e manipulação excessiva são erros comuns. A tentativa de reduzir anatomicamente fraturas irredutíveis não resulta em benefício mecânico e interfere negativamente na velocidade de consolidação por remover os valiosos mediadores químicos presentes no hematoma (Figura 27.4). 679 Figura 27.4 A: Fratura de fêmur estabilizada com pino intramedular e cerclagens. Observe que as cerclagens não promovem redução anatômica das esquírolas. B: Osteotomia de fêmur estabilizada com placa DCP. Observe redução anatômica e implantes apropriadamente colocados. Uso de pinos intramedulares e cerclagens Pinos Intramedulares Os vários métodos de fixação óssea ganharam maior importância à medida que se desenvolveram técnicas assépticas na cirurgia veterinária e abordagens para vários ossos e articulações de forma detalhada. Atualmente a aplicação de pinos intramedulares como técnica isolada para correção de fraturas não é preconizada, ficando restrita a casos selecionados ou como tutor adicional a outro método de estabilização. Ao decidir corrigir uma fratura com pino intramedular, se não houver estabilidade de rotação, cisalhamento, coaptação e envergamento, é essencial a associação a outras técnicas. Podem ser usados em casos de fraturas femorais, umerais ou tibiais. A principal vantagem biomecânica é a resistência à força de envergamento, principalmente por localizar-se no eixo axial do osso. É falho em neutralizar cargas axiais (compressivas) e rotacionais. Também nota-se como desvantagem a dificuldade de fixação com o osso, o que predispõe à migração do implante. Seu uso é recomendado em associação com placas, fixadores e cerclagens; quando usado com placas, o diâmetro do pino acima de 50% do canal medular dificulta ou impede a colocação de parafusos bicorticais e, desta forma, o diâmetro deve ser ajustado. Os pinos são produzidos em aço cirúrgico 316L e são dois os principais tipos. Os de Steinmann possuem comprimento de 22 cm a 30 cm e espessura de 1,6 cm a 680 6,3 mm. Estão disponíveis com pontas em uma ou ambas as extremidades e em bisel, baioneta ou trocarte. As extremidades podem ser lisas ou rosqueadas com perfil negativo, ou seja, o diâmetro da rosca é o mesmo da alma. Os de Kirschner são mais maleáveis e possuem de 22 cm a 30 cm de comprimento e espessura de 0,7 cm a 1,5 mm, com extremidades em bisel ou trocarte. A fixação óssea com pinos intramedulares teve início na década de 1940 e a partir de então ganhou popularidade. O uso inadequado como método único de estabilização, utilização em ossos aos quais não é recomendado (p. ex.: rádio), fixação errada nas extremidades ósseas (p. ex.: pinos curtos), é responsável por altas taxas de complicações, como migração e não união. Ressalta-se que o uso de dois ou mais pinos intramedulares não agrega vantagem mecânica compensatória quando em comparação com o pino isolado, e pinos com roscas finais não garantem fixação extra adequada. Além disso, pinos com extremidades rosqueadas estão mais propensos a falhas, pois o diâmetro da alma do pino na parte com rosca é menor do que o da parte sem rosca. Assim, a área de transição é um concentrador de estresse e predispõe a quebra ou encurvamento do implante. A fixação na extremidade óssea e o atrito com a cortical são responsáveis pela permanência do pino no canal medular, devendo-se usar pinos calibrosos que ocupem 70% a 90% do canal medular. Os pinos podem ser inseridos pela técnica normógrada ou retrógrada (Figura 27.5) e pela técnica aberta ou fechada. Na técnica aberta a principal vantagem é a facilidade no alinhamento, mas tem como desvantagens a alteração no microambiente da fratura e o maior risco de infecção e danos teciduais. As vantagens do método fechado são as desvantagens do aberto e vice-versa. A inserção normógrada é feita por uma das extremidades do osso. Na retrógrada, o pino é inserido pelo foco de fratura, exteriorizado por uma das extremidades e novamente inserido no canal medular. 681 Figura 27.5 Método de inserção de pinos em fêmur. A: Introdução de pino pela técnica normógrada. Observe inserção pela fossa intertrocantérica. B: Introdução de pino pela técnica retrógrada. Observe inserção pelo foco de fratura em direção ao trocanter maior. Note exteriorização pela fossa intertrocantérica. Atualmente os pinos intramedulares isolados possuem indicações restritas, como fraturas estáveis em pacientes com alto escore de pontuação. Por exemplo, a técnica de pinos cruzados para fraturas distais em ossos longos em pacientes jovens e leves. Geralmente os pinos são usados como tutores adicionais em associação a placas tipo apoio ou neutralização,fixadores externos ou cerclagem, e desta forma dividem a carga mecânica com o tutor principal (Figura 27.6). 682 Figura 27.6 Cão macho, SRD, com 7 meses de idade. A: Observe fratura de tíbia oblíqua. B: Note redução da fratura com fixador externo, pino intramedular e cerclagens. Técnica em Diferentes Ossos Em úmero pode-se usar técnica normógrada ou retrógrada para inserção do pino. Quando se define pela abordagem fechada, deve-se usar inserção normógrada e, quando a abordagem é aberta, pode-se usar normógrada ou retrógrada. Na retrógrada, o pino é inserido no foco de fratura, no segmento proximal, e direcionado em sentido proximal. Deve-se pressionar o corpo do pino contra a superfície mediocaudal da cavidade medular para garantir a exteriorização no local correto (craniolateralmente a articulação escapuloumeral). Este direcionamento também pré- estabelece a orientação do pino no fragmento distal em direção ao córtex caudomedial. O pino pode ser fixado acima do forame supratroclear ou no epicôndilo medial. Na técnica normógrada, o pino deve ser inserido na face craniolateral do tubérculo maior do úmero e direcionado caudomedialmente. Deve-se estimar o comprimento do pino com base no comprimento do osso contralateral ou em referenciais anatômicos com um pino extra de comprimento equivalente ao do que está sendo usado na cavidade intramedular. Importante salientar que o diâmetro do canal medular não é uniforme e o osso é curvo. Assim, é regra orientar-se pela região onde o diâmetro do osso é menor para escolher o calibre do pino (estes detalhes anatômicos são mais importantes no cão, pois no gato o diâmetro é mais uniforme e o osso, mais retilíneo). O ponto de fixação na 683 extremidade distal (acima do forame ou no epicôndilo) também é crítico, sobretudo no gato, no qual a entrada inadvertida no forame supratroclear fatalmente lesará o nervo mediano. À semelhança do úmero, no fêmur pode-se usar técnica retrógrada ou normógrada. Na normógrada o pino é inserido lateralmente e adjacente ao trocanter maior, de forma que atravessa menor quantidade de tecidos moles do que quando colocado de forma retrógrada, além de assegurar o posicionamento lateral ao nervo isquiático. A desvantagem é a dificuldade técnica, pois a inserção é feita às cegas. Pela técnica normógrada pratica-se pequena incisão cutânea sobre a proeminência do trocanter maior, o que pode ser dificultado em pacientes obesos, musculosos e com membros edemaciados. Após a inserção o pino é direcionado ligeiramente caudomedial até emergir no foco de fratura, a qual é reduzida e o pino, inserido no fragmento distal. A inserção retrógrada permite melhor visibilidade. A principal desvantagem é o pouco controle quanto ao local de saída do pino na fossa trocantérica, podendo envolver grande quantidade de tecidos moles e lesar o nervo isquiático. Forçar o pino contra a face caudomedial da cortical óssea assegura a saída do pino mais lateralmente na fossa trocantérica. É indicado também manter o membro estendido e abduzido. A manobra é mais difícil e menos efetiva em fraturas mediodistais. Para se inserir o pino no fragmento distal a fratura precisa ser reduzida. Para compensar a curvatura craniocaudal normal do osso prefere-se uma hiper-redução, pois desta forma o pino pode ser inserido bem distalmente, assegurando fixação no tecido ósseo esponjoso dos côndilos femorais. No gato não é necessária hiper-redução, pois o osso é mais retilíneo. Em felinos o risco de lesões no nervo isquiático é maior, por isso a inserção normógrada é mais segura. O uso de pino intramedular em fêmur e úmero para correção de fraturas está associado a grande risco de não uniões. Fixador externo tipo IA melhora a estabilidade, mas está associado a complicações como contratura de quadríceps e migração de implantes. A tíbia aceita apenas inserção normógrada. A retrógrada fatalmente atingirá a articulação. Para inserção, o joelho deverá ser hiperflexionado e, mediante mínima abordagem, o pino é inserido medialmente ao tendão patelar em uma área segura entre a superfície articular e a inserção do tendão patelar na tuberosidade da tíbia. Após redução da fratura o pino é deslizado até a região do maléolo medial. Fraturas distais podem ser corrigidas com pinos inseridos de forma cruzada. Podem ser usados como únicos tutores ou associados para garantir maior estabilidade. As fraturas transversais de colo de escápula, fraturas fisárias proximais e distais de radio e tíbia, além das fraturas fisárias distais femorais, aceitam pinos cruzados como forma de fixação. Na dependência do escore do caso, adicionam-se tutores para melhorar a estabilidade como fixadores externos. 684 Pinos Bloqueados (Interlocking Nail) Pinos ou hastes intramedulares bloqueados são evoluções e modificações da calha de Kuntsher usadas na primeira metade do século passado. Consistem em um pino intramedular com orifícios transversais (distal e proximal) que são travados no osso com parafusos ou bolts transósseos e, desta forma, garantem estabilidade axial e rotacional. Os orifícios transversais dos pinos estão separados a uma distância de 11 mm ou 22 mm (Figura 27.7). Figura 27.7 Sistema de hastes bloqueadas para estabilização de fraturas. A: Caixa com sistema de interlocking nail completo. B e C: Guia usada para permitir bloqueio dos orifícios das hastes. D: Radiografia de fratura de fêmur estabilizada com haste intramedular bloqueada e cerclagens. Para uso em pequenos animais, as medidas dos pinos, parafusos ou bolts estão disponíveis nos seguintes diâmetros: • pino de 8 mm com bolts ou parafusos de 3,5 mm ou 4 mm; • pino de 6 mm com bolts ou parafusos de 3,5 mm ou 2,7 mm; • pino de 4 mm e 4,7 mm com bolts ou parafusos de 2,7 mm. Os pinos possuem extremidades rombas ou em trocarte, os parafusos prendem em ambas as corticais e os bolts, mais resistentes que os parafusos, são lisos e possuem rosca somente próximo à cabeça, prendendo-se somente na cortiça cis, porém deve cruzar as duas corticais. Assim como os pinos intramedulares, os bloqueados podem ser inseridos por abordagem aberta, fechada ou minimamente invasiva. Embora a escariação do canal medular possa ser normógrada ou retrógrada, a inserção da haste 685 é feita pela técnica normógrada para fêmur e úmero. Já para a tíbia, tanto a fresagem como a haste deverão ser feitas por técnica normógrada. É indicado principalmente para fraturas de traço simples ou cominutivas diafisárias de ossos longos como fêmur, úmero e tíbia. Em rádio não é possível sua colocação, mas há relatos de uso na ulna em cães grandes. O sistema oferece a vantagem de localizar-se no centro do osso, e não excentricamente, como as placas, e, desta forma, é mais resistente a fadiga e quebra. Além disso, resiste às forças axiais, rotacionais e de envergamento, sendo superior aos pinos intramedulares isolados. Deve-se usar pinos calibrosos para garantir maior neutralização de forças (cerca de 70% do canal medular). A aplicação da haste exige equipamento especializado. Além do pino e dos parafusos, os seguintes itens são necessários: • régua ou gabarito – serve como referência para inserir os parafusos ou bolts nos orifícios do pino no canal medular; • extensor – prende a régua ao pino intramedular; • mangas e guias de broca – permitem direcionar a broca através da régua até o osso; • trocarte – indicado para iniciar o orifício para colocação de pinos (sobretudo os de ponta romba); • escariador – é recomendado para fresar o canal medular para adaptação do pino de maior diâmetro possível. Após preparação ou alargamento do canal medular, a haste é acoplada ao extensor e inserida no canal medular. Na sequência o extensor é preso à régua, inserem-se as mangas e guias de brocas na régua e, então, perfura-se o osso correspondente à localização do orifício mais distal da haste para travamento com bolt ou parafuso. O bloqueio é conferido mediante rotação da extremidade distal do membro, manobra que deve ser acompanhada pela visualização da rotação do fragmento proximale do gabarito simultaneamente. A seguir os outros orifícios são bloqueados. O sistema não deve ser removido, exceto em caso de complicações como osteomielite não responsiva a antibióticos apenas, quebra e não uniões. Cerclagens A despeito do uso frequente, infelizmente é uma das técnicas mais mal empregadas em medicina veterinária. Cerclagens são técnicas que se valem de fios de aço inoxidável (316L) de diâmetro variável (0,08 mm a 1,25 mm) usados como tutores auxiliares no reparo de fraturas. São utilizadas para neutralizar forças e manter os fragmentos em posição durante a fixação e para reduzir pequenas fissuras e fraturas oblíquas. Quanto mais longa a 686 linha de fratura, melhor será o efeito da cerclagem. Nunca deve ser usada como único método de fixação, podendo ser associada a pinos intramedulares, fixadores e placas. Como neutralizadores de forças, três critérios básicos devem ser cumpridos: o comprimento da linha de fratura deve corresponder a duas ou três vezes o diâmetro do osso; deve haver no máximo três fragmentos da fratura; é obrigatória a redução anatômica. Desta forma pode-se conseguir compressão entre os fragmentos, garantindo estabilidade enquanto ocorre a consolidação. Caso se observem os critérios citados, a cerclagem terá a função de manter os fragmentos em posição enquanto outros implantes promovem estabilidade. Tentativas de reduzir anatomicamente fraturas cominutivas com cerclagens são erros comuns. Se a coluna não pode ser refeita, a falha da cerclagem e o colapso da fratura serão a tendência. Entre os princípios de aplicação de cerclagem estão: • o fio de aço necessariamente deve ser passado rente ao osso, pois a incorporação de tecidos moles impede a adaptação perfeita do fio ao osso; assim, por isquemia e necrose dos tecidos, o fio afrouxa e se solta; • indicam-se fios com espessura superior a 1 mm (é frequente e errado o cirurgião usar fios finos); • em fraturas oblíquas devem ser usadas no mínimo duas cerclagens para evitar o efeito de alavanca, e o espaçamento entre elas deve ser de aproximadamente 50% do diâmetro do osso; • é aplicada logo após a redução e antes do tutor principal (implante); • o arcabouço ósseo deve ser completamente reduzido para aplicar cerclagens. O uso de cerclagens em reduções imprecisas (não anatômicas) leva à soltura precoce do implante; • para prender pode-se usar retorcimento do fio sob tensão. Dobrar as pontas do fio retorcido é contraindicado, pois reduz a tensão. O nó em alça executado com retorcedor tipo “AO” garante maior tensão e é de fácil execução (Figura 27.8). Figura 27.8 A: Retorcedor tipo AO para confecção de cerclagens em “alça”, fios para nó duplo e 687 simples. B e C: Demonstração de confecção de cerclagem em alça simples e dupla, respectivamente. A Tabela 27.1 mostra a resistência à tensão dos diferentes tipos de nós. Tabela 27.1 Tensão (em Newtons) inicial obtida e a carga atingida antes de soltura para os três tipos de nós, torcido, alça simples e alça dupla. Cada cerclagem foi executada com fio de 1 mm de diâmetro Tipo de nó Tensão inicial (N) Tensão para o nó afrouxar (N) Torcido 70-100 60 Alça simples 150-200 260 Alça dupla 300-500 666 Fonte: Johnson et al, 2005. Para evitar deslizamento da cerclagem o fio deve ser colocado perpendicularmente ao osso. Quando o diâmetro do osso não for uniforme, podem-se usar pinos de Kirschner através da fratura, deixando-os protruírem-se 1 mm além das bordas ósseas. A cerclagem deve ficar acima do pino na borda trans e abaixo na borda cis. A técnica também é indicada para manter o fio paralelo à linha de fratura e obter melhor compressão. Para fraturas oblíquas curtas (ângulo < 45°) pode-se usar a técnica do pinos de Kirschner através da fratura, como já descrito, porém é técnica de baixa resistência. Fios de aço usados em fraturas transversas com função antirrotacional promovem resultados pobres. As cerclagens podem ser divididas em três tipos, de acordo com sua montagem. Cerclagem Completa Na cerclagem completa o fio de aço envolve toda a espessura do osso. Hemicerclagem e Cerclagem Interfragmentar A hemicerclagem é feita mediante a passagem do fio por orifícios nos fragmentos proximal e/ou distal. É usada em fraturas oblíquas curtas com o objetivo de melhorar o alinhamento, porém garante pouco ganho em estabilidade mecânica. Cerclagem interfragmentar é aplicada por orifícios (como suturas) entre fragmentos ósseos. Os orifícios são feitos em ambos os fragmentos e, quando apertados, são mantidos em alinhamento. São indicados para fraturas simples que se interdigitam, principalmente as de mandíbula e maxila. Para prender hemicerclagem ou cerclagem interfragmentar indicam-se nós de torção. Para torção adequada as primeiras voltas devem ser igualmente distribuídas em cada lado do fio, pois, do contrário, pode haver quebra do implante ou a formação de um ponto deslizante que pode se afrouxar. 688 Banda de tensão A principal indicação para banda de tensão é o tratamento de fraturas por avulsão de extremidades ósseas ou osteotomias para abordagens como olécrano, tuberosidade da tíbia, trocanter maior, entre outros. Nestas situações, a tensão é a força predominante entre as bordas fraturadas. A banda de tensão converte as forças tênseis exercidas pelo tendão em forças compressivas (Figura 27.9). Figura 27.9 A: Desenho esquemático com sequência da aplicação de banda de tensão. B: Radiografia de fratura de olécrano estabilizada com banda de tensão. Observe redução da fratura e estabilização com pinos e cerclagem. Para a colocação de banda de tensão, primeiro a fratura deve ser reduzida e, na sequência, dois pinos são inseridos para manter a fratura em redução, mas com finalidade principal de evitar a rotação. Os pinos devem ser colocados perpendiculares à linha de fratura e paralelos entre si. Abaixo da linha de fratura deve ser feito um orifício por onde o fio de aço calibroso será passado e suas pontas cruzadas (a distância do orifício para a linha de fratura é a mesma da linha de fratura para a entrada dos pinos da banda). Acima dos pinos deve ser passado um segundo fio de mesmo calibre e suas pontas retorcidas com as pontas do outro fio de forma a gerar uma figura em “8”. Quando o fio é apertado, gera-se tensão, que se opõe à força gerada pelo tendão, promovendo compressão no foco de fratura. Os detalhes a seguir ajudam a criar uma boa banda de tensão: • deve-se usar fio calibroso; • os dois nós devem ser iniciados e apertados simultaneamente e em sentido contrário para garantir maior tensão (pode-se iniciar os nós com as mãos); • alicates cirúrgicos são indicados para retorcimento, que deve ser feito sob tensão; • quando um fio se mantém esticado e o outro gira sobre ele, a cerclagem fica frágil e não garante compressão; • quando se observa compressão no foco, é o momento de parar o retorcimento. Caso o fio quebre durante o retorcimento antes de atingir a compressão, significa que a técnica está errada e deve ser iniciada novamente; 689 • as pontas do fio não devem ser dobradas, e sim cortadas curtas (deixar de duas a três voltas do nó); • finalmente, dobram-se os pinos e cortam-se suas extremidades, deixando-se pontas de 2 mm a 5mm. As pontas são rotacionadas em direção ao tendão. Uso de placa ósseas No início da década de 1960, a técnica de compressão interfragmentar, visando cicatrização óssea direta, foi o padrão ouro para o tratamento de fraturas de ossos longos em pequenos animais. Estabilidade absoluta foi alcançada pela aplicação de dispositivos de compressão, levando ao desenvolvimento de placas ósseas para compressão. Com a nova ideia de preservar o máximo possível o ambiente da fratura (métodos biológicos), as placas começaram a ser usadas como talas internas que fixam e retiram todas as forças do foco de fratura até a cicatrização óssea. No entanto o conceito de se reconstruir a coluna óssea a todo custo foi abandonado, sobretudo naquelas ocasiões em que lesões musculares e vasculares extensas são esperadas. As Tabelas27.2 e 27.3 determinam as vantagens, desvantagens, indicações e contraindicações do uso das placas. Tabela 27.2 Situações nas quais são observadas vantagens e desvantagens da técnica de placas ósseas Vantagens das placas ósseas Desvantagens das placas ósseas Possibilidade de reconstrução anatômica da fratura Requer prática para a realização Cicatrização primária, com pouco calo ósseo Abordagens ósseas extensas Resistência a todas as forças aplicadas na fratura Grande contato do corpo estranho com o sítio da fratura Fixação rígida que permite apoio rápido e sem dor São necessários instrumentos e materiais específicos para sua utilização Tabela 27.3 Indicações e contraindicações da técnica de placas ósseas Indicações das placas ósseas Contraindicações das placas ósseas Fraturas que possuam esquírolas factíveis de reconstrução anatômica Possibilidade de fixação dos parafusos adequados (p. ex., pacientes osteopênicos, ou jovens) Fraturas que requerem reconstrução anatômica, com pouca formação de calo ósseo (p. ex., fraturas articulares) Fraturas com grande cominuição, em que se torna impossível a utilização de placa de apoio 690 Fraturas que requerem compressão (p. ex., não união óssea) Fraturas contaminadas Realização de artrodese Instrumentos para apoiar a abordagem cirúrgica Os instrumentos adequados facilitam o procedimento e a abordagem cirúrgica, como também ajudam na redução de fraturas, diminuindo o tempo cirúrgico. Instrumentos especiais para a abordagem cirúrgica incluem afastadores, alavancas e elevadores. Os afastadores autoestáticos, como, por exemplo, o Gelpi, para retenção de tecidos moles, devem ser usados para ajudar na visualização do campo cirúrgico, evitando danos desnecessários à musculatura adjacente Alavancas ósseas como os afastadores Hohmann podem ser utilizadas para retrair os músculos realizando-se alavanca. Mediante a inserção de sua ponta em uma superfície sólida, os elevadores periosteais adequados devem ser usados para separar o tecido ósseo dos tecidos moles do elevador. A redução da fratura deve ser realizada com cuidado para que não ocorra lesão do periósteo ou do suprimento vascular do tecido ósseo. Instrumentos adequados como a pinça de redução óssea ponta-ponta, de diversos tamanhos, devem ser utilizadas, pois lesam muito menos o periósteo. Afastadores de Hohmann também podem ser utilizados com alavancas (Figura 27.10). Figura 27.10 Principais instrumentos usados para redução de fraturas. Da esquerda para a direita – afastador de Hohmann, pinça de redução ponta-ponta, pinça de redução espanhola, afastador de Senn Muller e afastador de Guelph. Apesar de instrumentos adequados para reduzir e manter uma fratura, ainda é necessária a utilização de tração manual ou por forma de distratores para atingir o comprimento normal do membro. Mediante isso a cirurgia ortopédica deve sempre ser realizada com a presença de auxiliares, como também de anestesia específica, atingindo relaxamento muscular adequado, para facilitar os procedimentos de redução e estabilização da fratura. Placas e Parafusos 691 As placas são conhecidas como sistemas em que usamos nomenclatura própria e conhecida. Utilizamos o diâmetro dos parafusos para identificar uma placa. Placas de 3,5 mm são as que utilizam em seus orifícios parafusos de 3,5 mm de diâmetro. Atualmente são comercializadas placas de sistemas de 1,5 mm, 2 mm, 2,4 mm, 2,7 mm, 3,5 mm e 4,5 mm. Existem vários formatos e tamanhos de placas, como, por exemplo, as placas em “T”, em “L” e as especiais para TPLO (Figura 27.11). Figura 27.11 Principais formatos de placas usadas em ortopedia veterinária. Podemos classificar as placas, quanto a sua forma, em três tipos: placas neutras, que possuem orifícios circulares, placas de compressão ou dynamics compression plates (DCP) com orifícios ovais, que permitem a compressão, e placas bloqueadas ou locking compression plates (LCP), com orifícios ovais e que permitem a fixação da cabeça do parafuso (Figura 27.12). Figura 27.12 Tipos de placas de acordo com a forma. A: Placa neutra com orifícios redondos. B: Placa DCP com orifícios ovais. C: Placa LCP com orifícios conjugados – redondos para bloqueio e ovais 692 para compressão. Quanto a sua forma de atuação no osso podemos classificar as placas em três tipos: • Placas de compressão – são as placas DCPs em que ocorre a compressão do foco de fratura devido a características na técnica cirúrgica aplicada na colocação da placa (ver técnica de compressão na placa). Este tipo de placa deve ser utilizado somente em fraturas de traços simples e transversas, ou com pouca obliquidade; • Placas de neutralização – são aquelas nas quais são utilizados parafusos compressivos ou cerclagem para realizar a compressão. A placa protege esta fixação da carga imposta ao osso. Devem ser utilizadas em fraturas oblíquas ou com três fragmentos em que a coluna óssea é totalmente refeita, não havendo falta de tecido ósseo; • Placas de apoio – são utilizadas em fraturas cominutivas, em que toda a carga aplicada ao osso deve ser contraposta pela placa (Figura 27.13). Figura 27.13 Tipos de placas de acordo com sua atuação. A: Placa de compressão. B: Placa de neutralização. C: Placa de apoio. Técnica Cirúrgica Para a explicação da técnica cirúrgica utilizada na colocação de placas utilizaremos como modelo a placa de 3,5 mm DCP, porém, em cada diâmetro de parafuso, devemos aplicar o correto diâmetro de broca e também os guias próprios para elas. Para o emprego de placa, primeiro deve-se escolher em que tipo de função esta placa deve ser colocada (neutralização, compressão ou apoio). O orifício dos parafusos deve ser perfurado com a broca de tamanho correspondente, utilizando-se o 693 guia pertinente. Normalmente a broca é pouco maior que a alma dos parafusos (p. ex., parafuso de 3,5 mm possui uma alma de 2,4 mm e a broca usada é de 2,5 mm). Posteriormente deve-se medir a profundidade do orifício, realizar o macheamento do orifício com macho do tamanho das roscas do parafuso (p. ex., com parafuso de 3,5 mm usa-se macho de 3,5 mm de diâmetro) e a inserção do parafuso de tamanho adequado com a chave sextavada. Se não houver parafuso de comprimento adequado, devem-se utilizar parafusos com um tamanho maior. Para o aperto do parafuso deve-se seguir a regra: • Dois dedos na chave para parafusos de 1,5 mm e 2 mm; • Três dedos na chave para parafusos de 2,7 mm; • Mão inteira para parafusos de 3,5 mm. Os parafusos devem, sempre que possível, ser colocados perpendiculares à placa, porém as placas com orifício oval de compressão permitem 25 graus de inclinação no plano longitudinal e 7 graus de inclinação no transversal. Estes passos são sempre realizados para qualquer aplicação de parafusos em placas, mas os mesmos podem ter funções diferentes. Podemos utilizar parafusos neutros ou compressivos. Estes parafusos diferem em sua colocação pelo uso de guias diferentes, que podem ser neutras (verdes), que centralizam o parafuso no orifício, e excêntricas (amarelas), que descentralizam o orifício do parafuso em 1 mm em relação ao orifício da placa. Os parafusos excêntricos são utilizados para realizar a compressão do foco da fratura, pois, ao ser apertado, a cabeça do parafuso engaja a parte baixa do orifício, empurrando a placa. As placas são principalmente fortes contra as forças de distração e rotação, mas são mais frágeis em comparação com dispositivos intramedulares e forças de arqueamento. Existem vários tipos de placas, com várias conformações que são utilizadas em diversas situações. Como exemplos podemos citar as placas curvas para fraturas de acetábulo e as placas em “T” ou “L” para fraturas de metáfises. Encontramos no mercado placas para sistemas de parafusos de diâmetro de 1,5 mm até 6,5 mm, mas os mais utilizados em pequenos animais são os sistemas para parafusos de diâmetros 2 mm, 2,7 mm e 3,5 mm. Existem dois tipos de placas, as neutras e as de compressão dinâmica ou dinamic compresion plate (DCP). A grande diferença entreas duas é que a placa de compressão dinâmica é mais versátil no sentido de colocação dos parafusos, não tendo que ser necessariamente perpendicular ao osso, sendo também possível utilizarem-se estas placas para promover compressão do foco de fratura, estimulando, assim, a consolidação óssea. 694 Uso de fixadores externos Os fixadores esqueléticos externos foram descritos pela primeira vez em humanos por Parkhill, em 1897, e em animais, em 1940, por Ehmer. Possuem as vantagens da versatilidade, baixo custo, possibilidade de reutilizar as barras de fixação, rígida fixação com mínimo dano tecidual, manutenção do comprimento do membro e fácil aplicação. É uma técnica para tratamento de fraturas estáveis e instáveis de ossos longos, fraturas expostas e/ou de alta cominuição, osteotomias corretivas, não uniões ou uniões retardadas, artrodese e imobilização articular temporária. Procedimentos que exigem maior estabilidade, compressão do foco de fratura e outros ajustes no pós- operatório são mais bem executados com fixadores circulares tipo Ilizarov. Não são indicados para fraturas articulares e raramente são usados para fraturas de pelve. Para montar um fixador necessita-se de pinos de fixação percutânea (que podem ser lisos ou rosqueados), presilhas ou grampos de conexão e barras de fixação. As barras e presilhas podem ser substituídas por resina odontológica (polimetilmetacrilato) para fixação dos pinos externamente, porém a estabilidade e a durabilidade ficam comprometidas. Os pinos (Steinmann, Kirschner ou Schanz) são usados para fixação óssea e devem penetrar ambas as corticais mediante inserção percutânea. Podem ser denominados de acordo com a forma de inserção (meio pino ou pino inteiro) ou formato estrutural (rosqueado ou liso). Aqueles que atravessam uma única vez a superfície cutânea são chamados de meios pinos, e os que atravessam duas vezes superfícies cutâneas, pinos completos. Contudo todos os pinos de fixação devem atravessar os dois córtices ósseos. Para meios pinos recomendam-se pinos de Schanz (com rosca final) e para pinos completos, os de Steinmann ou Kirschner com ou sem rosca. Pinos rosqueados se fixam melhor ao osso, garantindo maiores resistência e estabilidade. A rosca pode ser final ou central e de perfil positivo ou negativo. Os pinos de Schanz possuem diâmetro de 1 mm a 6 mm (AO), com extremidades rosqueadas, e são usados como meio pino. Aqueles com rosca central são usados como pinos inteiros. Quando o diâmetro central da secção rosqueada é menor que o da secção lisa, denomina-se perfil de rosca negativo. Quando o diâmetro central for compatível entre as partes lisa e rosqueada, o perfil de rosca é positivo. Pinos de perfil negativo possuem uma área de fragilidade na transição rosca/parte lisa. Deve- se cercar de cuidado para esta transição não coincidir com a transição da cortical. Os pinos de Schanz de melhor qualidade possuem fresa na extremidade que funciona como macho (autorrosqueante). A rosca do pino melhora a estabilidade e não requer inserção angulada ao osso. A pré-perfuração do osso com broca de menor diâmetro melhora a qualidade de interface do pino rosqueado com o osso. De forma geral, os pinos com roscas salientes são mais indicados para ossos esponjosos e os de rosca 695 menor para osso cortical. O diâmetro do pino de fixação não deve ser superior a um terço do osso. Pinos muito calibrosos podem fraturar o osso e os muito finos não resistem às forças. Grampos ou presilhas firmam os pinos às barras de conexão. As barras fazem a união dos pinos e garantem a estabilidade do sistema. O sistema de fixação pode ser montado de diferentes formas, assim, os fixadores podem ser classificados tradicionalmente em tipos I, II ou III, de acordo com a quantidade de lados do osso em que forem colocadas barras de conexão. Recentemente são usados os termos uni e bilateral (dependendo se os pinos de fixação são colocados a 90° ou mais na circunferência do osso) e uni ou biplanar (se eles são postos em um ou dois planos). Tipo IA (Fixador Unilateral Uniplanar) Emprega apenas meios pinos, que são unidos por uma ou duas barras de conexão. Tipo IB (Fixador Unilateral Biplanar) Compõe-se de dois conjuntos unilaterais aplicados em ângulo reto que são unidos proximal e distalmente. O modelo é mais resistente que o unilateral uniplanar no quesito compressão axial. Porém é mais fraco que a configuração bilateral uniplanar no que se refere a forças rotacionais. Os tipos IA e IB são indicados principalmente para ossos em que não é possível a adaptação de tipos II ou III, como úmero e fêmur, nos quais a massa muscular e a proximidade com o tórax ou a pelve constituem uma limitação mecânica. Tipo II (Fixador Bilateral Uniplanar) É constituído de pinos completos que são unidos bilateralmente por barras de conexão. Alternativamente podem-se usar dois pinos lisos (proximal e distal ao osso), prender com as barras de conexão e adaptar meios pinos entre eles. São modelos bastante usados em tíbia, rádio e ulna. Tipo III (Fixador Bilateral Biplanar) É um modelo 10 vezes mais resistente que o tipo IA, resultante da combinação do tipo II com o tipo IA. Os dois conjuntos são unidos proximal e distalmente, de forma que no final fiquem com a aparência de uma tenda. É a configuração mais rígida das básicas. Geralmente é necessária em fraturas expostas com grande cominuição em que se espera consolidação lenta (Figura 27.14). 696 Figura 27.14 Formas de aplicação de fixador esquelético externo. A: Fixador tipo IA. B: Fixador tipo II. C: Fixador tipo III. Fixadores Circulares (Ilizarov) São indicados para estabilização de fraturas, estabilização articular com manutenção dos movimentos de extensão e flexão, artrodese, não uniões, correção de deformidades angulares e alongamento ósseo por distração osteogênica e compressão de fragmentos em não união (Figura 27.15). Figura 27.15 Fixador circular (Ilizarov) para estabilização de fratura do central do tarso. A: Vista lateral. B: Vista caudal. O método é construído por fios, que podem ser tensionados ou não, presos a anéis inteiros ou semianéis que circundam o membro e são conectados uns aos outros por hastes telescópicas ou rosqueadas. 697 Considerações Gerais A rigidez do fixador às forças de envergamento e compressão aumenta do tipo IA para o tipo IB. Os bilaterais são duas a três vezes mais resistentes que os unilaterais. Considera-se um mínimo de dois pinos (geralmente desnecessário mais do que quatro) por fragmento ósseo principal. Quando se utilizam pinos lisos é recomendada uma angulação de aproximadamente 70° com o eixo longo do osso, o que eleva a resistência pelo aumento da interface pino-osso e dificulta o arrancamento. Os pinos rosqueados e de Schanz não exigem angulação, pois possuem 10 vezes mais agarre ósseo que os lisos. Pinos com rosca negativa são mais frágeis na área de transição rosca-pino, por isso deve-se evitar que esta área de transição coincida com os córtices ósseos. Os pinos com roscas centrais são adequados para colocação nas extremidades ósseas, mas seu uso não é uma necessidade absoluta. Aplicação do Fixador A fratura deve ser reduzida antes da colocação dos pinos, do contrário, pode ocorrer tensão de pele ao redor dos pinos. A respeito do lado do osso que o fixador deve ser colocado, devem-se levar em consideração vários fatores, como a localização do tronco (p. ex., fêmur e úmero possuem limitação no seu aspecto medial pelo tórax e abdome). A consideração mais importante em relação à inserção dos pinos refere-se a sua passagem da pele para o osso sem penetrar feixes neurovasculares ou unidades musculares e tendinosas. A colocação inadvertida pode causar lesões nervosas, aderências musculares, contraturas, fibroses, afrouxamento precoce do pino e infecção por mobilidade excessiva. Devem-se, portanto, localizar “corredores seguros” para os pinos. Fêmur e úmero não possuem muitos corredores seguros pela ampla cobertura muscular. Geralmente aceitam fixador tipo IA ou IB com pinos inseridos lateralmenteou até mesmo cranialmente nas regiões proximais e distais, que são as que contemplam menor cobertura muscular. Para o rádio, as faces medial (fixador tipo IA), medial e cranial (IB), mediolateral (fixador tipo II), mediolateral e cranial (tipo III) são as recomendadas. Para tíbia preferem-se os aspectos medial (tipo IA), medial e cranial (tipo IB), mediolateral e cranial (tipo III). Como a face lateral da tíbia possui maior cobertura muscular em relação à medial, recomenda-se aumentar a quantidade de meios pinos medialmente e poupar, na medida do possível, a face lateral do osso. De forma geral, os pinos inteiros devem ser inseridos o mais próximo possível da articulação, evitando o espaço articular e as fises em animais imaturos. Deve-se guardar paralelismo com as articulações, pois esta manobra distribui melhor as forças ao longo do fixador. Os dois pinos (proximal e distal) devem ser colocados paralelos entre si e às articulações e ortogonalmente ao eixo longo do osso. Após a colocação dos pinos (proximal e distal), prendem-se as barras, confere-se o alinhamento e 698 adiciona-se o restante dos pinos de acordo com o planejamento. É um erro concentrar pinos próximos ao foco da fratura; o correto é distribuir os pinos ao longo de todo o osso. Os pinos devem ser inseridos na pele por meio de um ponto incisão e em hipótese alguma pela mesma incisão usada para abordagem e redução da fratura. A inserção dos pinos pode ser feitas por introdutor manual ou de alta rotação com irrigação constante para evitar termonecrose. Quanto mais próxima do osso a barra for fixada, mais resistente é o aparelho. Contudo deve-se guardar um espaço entre a pele e a barra para permitir a higienização e também porque sempre ocorrerá um pouco de edema e fibrose dos tecidos moles. Em geral um espaço de 5 mm a 10 mm é o suficiente. Cuidados Pós-operatórios e Dinamização Os cuidados com o fixadores são mínimos. Secreção leve saindo pelo trajeto dos pinos não é rara. No caso de secreções mais intensas pode ser necessário limpar a pele em intervalos regulares. É importante verificar se os pinos não afrouxaram e se não houve infecção no trajeto dos pinos. Deverá ser feita radiografia logo após o término da cirurgia e a cada 30 dias para verificação de implantes e consolidação óssea. Mantêm-se gazes embebidas em solução antisséptica na interface pinos-pele e o conjunto deve ser protegido por bandagens até a remoção do fixador. O curativo deverá ser feito a cada dois ou três dias na primeira semana e, depois, com intervalos de uma semana na dependência das condições de tecidos moles, índole do paciente e cuidados do proprietário. É importante que os clampes e pinos sejam avaliados semanalmente quanto à possibilidade de afrouxamento. Quando a consolidação está progredindo bem, mas ainda não está completa, o processo de dinamização do fixador pode ser empregado. Consiste na remoção de um ou mais pinos do fixador ou de uma barra de conexão para que o osso receba mais carga mecânica. A micromovimentação controlada no foco de fratura associado a maior carga mecânica no osso estimula a deposição de tecido ósseo de acordo com as leis de Wolff. A dinamização deve se iniciar quando o calo formado é suficiente para suportar as novas forças às quais será submetido. As complicações da fixação esquelética externa são comuns. Algumas complicações têm origem mecânica: deformação plástica dos pinos ou fios, quebra das estruturas ou falha de fixação. Outras complicações possuem origem biológica: irritação de pele, trajeto de drenagem do pino ou fio, osteomielite, união tardia, fratura, sequestro, não união, má união, hemorragia imediata ou retardada, neuropraxia, perda da área de movimento, atrofia muscular ou contratura. Fisioterapia e a atividade controlada são benéficas para manutenção ou restauração do movimento articular normal durante o tratamento com fixação. É geralmente recomendado que o fixador seja removido assim que o local de 699 fratura estiver clinicamente estável e, preferencialmente, quando houver continuidade de três dos quatro córtices visíveis nos dois planos radiográficos. Tied-in Entre as estratégias para combater as forças axiais e de envergamento no local da fratura e, ao mesmo tempo, minimizar o número de pinos de transfixação está a colocação de uma barra externa adicional ou a conexão do pino intramedular ao fixador em configuração denominada tied-in. Embora fraturas simples de fêmur e úmero possam ser tratadas com o uso de FEE unilateral, a dificuldade na colocação dos pinos de fixação pode comprometer o método. Por outro lado, o uso de um pino intramedular muitas vezes não controlará as forças rotacionais e, nessas situações, um FEE pode ser muito útil. O fixador controlará essas forças rotacionais e proporcionará excelente estabilidade quando combinado com um pino intramedular. Nesse tipo de configuração, a extremidade proximal do fixador tipo I pode, por exemplo, ser conectada à extremidade proximal de um pino intramedular de tamanho apropriado usando-se uma barra adicional e grampos conectantes duplos. De outra forma, coloca-se um pino intramedular longo que pode ser dobrado e incorporado ao fixador tipo I com auxílio de polimetilmetacrilato. Este modelo de fixação pode ser usado para fêmur, tíbia e úmero. Com isso aumenta-se a força de envergamento da montagem e reduz-se a incidência de complicações pós-operatórias. Imobilizações Imobilizações externas têm importante papel na rotina de casos ortopédicos. Até 1940, quase todas as fraturas eram reduzidas e estabilizadas por meios externos como talas e gessos. As grandes vantagens deste método são mínima interferência em aporte vascular, poucos danos teciduais e baixo custo. A necessidade de repouso, higienização frequente, risco de lesões cutâneas e cuidados gerais por parte do proprietário limita o uso desta técnica. Ressalta-se que muitas vezes o proprietário pode optar por tratamento de fraturas com talas a depender das condições econômicas. Assim, este fator também deve ser levado em consideração. No geral, pacientes jovens são melhores candidatos à correção de fraturas por imobilização do membro em comparação com os idosos. De uma forma geral, devem-se levar em consideração as seguintes orientações quando se pretende realizar uma tala: • Tranquilização com forte analgesia ou anestesia geral facilita o procedimento; • Deve-se proceder, no mínimo, a duas projeções radiográficas ortogonais antes e após 700 o procedimento; • Exige-se um mínimo de 50% de contato das bordas fraturadas após a redução; • O membro deve ser imobilizado (para redução de fraturas) em posição ortoestática; • As articulações distal e proximal ao foco de fratura devem ser incluídas na imobilização. O método é passível de falhas e complicações e seguramente demanda manejo e monitorização frequente e cuidadosa por parte do proprietário e do veterinário. As principais orientações incluem restrição de espaço, uso de colar elizabetano, evitar umidade, monitorização de edema, mau cheiro e incômodo excessivo. Grande parte das complicações é simples, como edema distal à tala, deslizamento e lesões cutâneas. Porem pode ocorrer atrofia ou contratura muscular, não união, feridas graves e perda de membros decorrentes de isquemia e necrose (Figura 27.16). Figura 27.16 Complicação resultante de imobilização externa. Observe edema de extremidades. As imobilizações podem ser usadas em diferentes tempos do tratamento, com indicações e objetivos específicos, conforme o que se segue: • Imobilização pré-cirúrgica: visa garantir conforto, reduzir edema, diminuir risco de lesões adicionais em pacientes que aguardam cirurgia e minimizar a contaminação em fraturas expostas; 701 • Estabilização definitiva de fraturas selecionadas (fraturas estáveis após redução relativa, fratura na qual se espera consolidação rápida, fraturas em galho verde, entre outras). Serve como suporte ao membro até que ocorra consolidação e, desta forma, exige suporte firme como madeira, PVC, arames, entreoutros. Fraturas abaixo do cotovelo e joelho são de fácil imobilização, diferente daquelas em fêmur e úmero; • Imobilização pós-cirúrgica: resulta em conforto, redução do edema e proteção do implante contra falha precoce por determinado período; • Alguns procedimentos ortopédicos, como cirurgias articulares, valem-se de métodos de imobilização de membros com os objetivos principais de reduzir edema e limitar movimentação, garantindo maior conforto e auxiliando a estabilização. Sendo assim, a atadura de Robert Jones modificada é uma ótima escolha nestas situações. Na sequência estão exemplificados alguns modelos de fixação de membros utilizados na rotina clínica. Recomenda-se tranquilizar ou anestesiar o paciente para o procedimento. Atadura de Robert Jones Esta atadura é indicada no pós-operatório de cirurgias de joelho, cotovelo ou pós- redução de fraturas de ossos longos em que se espera formação de edema. A finalidade é oferecer conforto, prevenção ou redução de edema. Também pode ser usada como imobilização temporária de fraturas até que se realize a cirurgia ou até que se encaminhe o paciente para um centro com maiores recursos. Esta imobilização temporária oferece maior conforto ao paciente e evita lesões adicionais a tecidos moles. É bem aceita pelo paciente apesar do volume. Após adaptação de pelo menos dois estribos de esparadrapo antialérgico o membro é uniformemente envolvido com grande quantidade de algodão hidrófobo ou hidrófilo. Quando se espera drenagem de secreção, preferem-se os hidrófilos ou a ferida é coberta com fraldas ou absorventes higiênicos. Na sequência utilizam-se faixas de crepe com pressão para cobrir o algodão e, neste momento, os estribos são virados para evitar que a tala escorregue. Finalmente o conjunto é preso com camadas uniformes de esparadrapo. Pode-se conseguir rigidez adicional com a aplicação de moldura de arame à atadura. Recomenda-se cobrir completamente a extremidade do membro para evitar garroteamento e edema. A tala deve ser removida ou trocada dentro de três a cinco dias (Figura 27.17). 702 Figura 27.17 Sequência de aplicação da tala de Robert Jones. A: Observe estribos de esparadrapo para evitar o escorregamento da tala. B: Note grande quantidade de algodão envolvendo o membro. C: Faixa e esparadrapo completam a bandagem. D: A extremidade do membro é coberta com algodão, faixa e esparadrapo para evitar garroteamento e edema. Talas de Madeira ou PVC Este dispositivo pode ser moldado com canos de PVC ou adquiridos em lojas de materiais hospitalares. É prático utilizar espátulas de madeira (abaixadores de língua) para confeccionar o suporte para cães pequenos ou ripas de madeiras para cães maiores. Os suportes de alumínio possuem a tendência de envergarem e a redução da fratura é perdida. Os palitos de madeira são envolvidos com esparadrapo e algodão nas extremidades para evitar lesões musculocutâneas. São indicadas principalmente para fraturas distais ao cotovelo ou joelho como método definitivo em fraturas selecionadas e seu uso também é recomendado como suporte auxiliar após redução cirúrgica, protegendo o implante por tempo determinado. Tiras de esparadrapo antialérgico são colocadas diretamente na pele. Qualquer ferida deve ser coberta com camada de pomada cicatrizante e gazes. Pode-se colocar uma malha tubular envolvendo o membro para proteger a pele de lesões. Acrescentam-se camadas uniformes de algodão ortopédico e, sobre o algodão, faixas de crepe. Os estribos são virados e colados sobre a faixa para evitar o deslizamento da tala. Podem-se virar os estribos antes das últimas voltas da faixa para garantir melhor estabilidade. A faixa é parcialmente presa e, na sequência, os suportes são adaptados. Finalmente os suportes e a faixa são cobertos com camadas uniformes de esparadrapo. Caso exista risco de edema, as extremidades dos membros podem ser cobertas com algodão, faixa e esparadrapo. A bandagem deve imobilizar as articulações abaixo e acima da fratura; desta forma, o suporte de madeira ou PVC pode ser moldado para cumprir esta função. Regiões de proeminências ósseas devem ser cobertas com camadas adicionais de algodão para evitar lesões cutâneas. À medida que o calo ósseo vai se formando, extremidades dos dígitos, assim como o cotovelo, podem ser liberadas para garantir maior amplitude de movimentos e evitar 703 lesões cutâneas. O proprietário deve ser orientado a manter o paciente com colar elizabetano, liberar parcialmente a tala na região distal e providenciar massagem nas extremidades caso observe edema. A tala deve ser trocada toda vez que escorregar, molhar ou em caso de observação de secreções, mau cheiro ou edema não redutível após liberação parcial da tala e massagem. Boas imobilizações podem durar mais de 30 dias, porém o manejo do proprietário é fundamental (Figura 27.18). Figura 27.18 Aplicação de tala para imobilização de rádio e ulna. Detalhes no texto. Para rádio e ulna indica-se suporte de madeira ou PVC nas faces medial, lateral e caudal ao membro; já em fraturas de tíbia, o suporte é lateral e medial. Para úmero e fêmur os suportes laterais, e obrigatoriamente a bandagem, devem envolver tórax e abdome. Peias Servem para atar os membros pélvicos pelos terços distais das tíbias e em distância fisiológica com o objetivo de evitar abdução dos membros, sendo particularmente útil em fraturas de púbis ou em filhotes com luxação coxofemoral congênita. Complicações das fraturas As complicações mais frequentes e importantes resultantes do tratamento das fraturas incluem união retardada, não união, má união, osteomielite e doença da fratura. União Retardada e não União União retardada acontece quando o tempo de consolidação de uma determinada fratura é superior à média de tempo de consolidação de fraturas semelhantes tratadas com técnicas similares. Podem decorrer de fatores como deficiências vasculares, 704 fragmentos demasiadamente afastados, estabilização inadequada, doenças locais/sistêmicas ou fatores idiopáticos. Caso não ocorra consolidação, a complicação evolui para não união. Deve-se levar em consideração que o tempo “normal” para a consolidação óssea é relativo e dependente de vários fatores, como idade do paciente, escore da fratura, tipo de tratamento escolhido, higidez do paciente, entre outros. A maior parte das complicações inerentes ao retardo ou não união relaciona-se com planejamento inadequado e erros técnicos, e não com problemas biológicos inerentes ao paciente. Infelizmente a velocidade de consolidação não depende destes únicos fatores. Fatores clínicos preditivos que devem ser considerados incluem ausência de apoio ou apoio não confortável com claudicação, dor e/ou restrição à movimentação articular, desconforto e/ou mobilidade no foco de fratura, bandagens por tempo prolongado, entre outros. Características radiográficas de união retardada incluem cavidade medular aberta, superfícies desiguais, ausência de esclerose, além de linha de fratura persistente. Pode-se aguardar que a consolidação ocorra ou intervir. É uma decisão difícil, mas de forma geral as revisões cirúrgicas são indicadas quando há instabilidade e implantes soltos. Quando a consolidação está ocorrendo de forma lenta e os implantes estão intactos, o paciente pode permanecer confinado, embora enxertia de osso esponjoso possa ser feita para acelerar a consolidação. Considera-se mais prudente submeter o paciente ao procedimento cirúrgico do que correr o risco de evolução para não união. As não uniões são evoluções de uniões retardadas e podem ser divididas em viáveis ou biologicamente ativas e não viáveis ou biologicamente inativas (Figura 27.19). Figura 27.19 Radiografias de não uniões. A e B: Radiografia de rádio e ulna de cão com não união hipertrófica. Observe hipertrofia das extremidades ósseas fraturadas. C: Radiografia de tíbia de cão estabilizada com placa e com sinais de não união atrófica. Note atrofia dos fragmentos ósseos. Além do planejamento e/ou técnica inadequada, citam-se como causas de não uniões as
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