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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E SAÚDE NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA VITORIA TIEMI SHIMIZU Perfil das habilidades do Processamento Sensorial em crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) Guarulhos-SP 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E SAÚDE NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA VITORIA TIEMI SHIMIZU Perfil das habilidades do Processamento Sensorial em crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da Universidade Federal de São Paulo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Orientadora: Prof a Dr a Mônica Carolina Miranda Guarulhos-SP 2011 Shimizu, Vitoria Tiemi Perfil das Habilidades do Processamento Sensorial em crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) / Vitoria Tiemi Shimizu. – Guarulhos: [s.n.], 2011. 95 f. Orientadora: Mônica Carolina Miranda Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Guarulhos, 2011. Título em inglês:Sensory Processing Abilities Profile in children with Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD) 1. TDAH 2. Processamento Sensorial 3.Perfil Sensorial VITORIA TIEMI SHIMIZU Perfil das habilidades do Processamento Sensorial em crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) Guarulhos, 12 de Agosto de 2011. ______________________________________ Prof Dr Instituição ______________________________________ Prof Dr Instituição ______________________________________ Prof Dr Instituição DEDICATÓRIA Às crianças com TDAH e suas famílias. Ao Gilson, meu amor e alegria. AGRADECIMENTOS À Deus, pela sua Presença em todos os meus caminhos... À Dra. Mônica Carolina Miranda pela confiança, investimento e cada desafio proposto. Por sua importância em meu crescimento e por todo aprendizado deste convívio. Meu sincero carinho e gratidão. Ao Dr. Erasmo Barbante Casella e Dra. Carla Cilene Baptista da Silva, pelas contribuições e sugestões durante o exame de qualificação. Ao Gilson, por viver, dividir e significar comigo este e tantos outros momentos... Ainda, por multiplicar seu pouco tempo para as minhas análises estatísticas. Aos meus pais, Shigeru e Thereza, por semearem tanto em mim (nós)... inclusive o prazer pelo aprender, não medindo esforços nesse sentido. À Midori, irmã e companheira, por me conhecer tão bem e fazer parte do que eu sou. Aos meus irmãos Tina e Julio, por todo apoio e serem exemplos de empenho e dedicação. A todos os amigos e familiares, principalmente à Cris e Liriam, por serem mais do que especiais... À Martinha, pela amizade construída nesse mestrado. Pela profundidade e leveza das trocas e dos encontros (alegria!)... À Zilma, Juliana e Elizane pelos momentos juntas... À querida Milene, por ajudar em todo o meu processo de (des)construção e (re)descobertas... A todos os pais, crianças e escolas que participaram deste trabalho, contribuindo para a realização desta pesquisa. Ao grupo Centro Paulista de Neuropsicologia (NANI – Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Interdisciplinar) e profissionais, por todo aprendizado, amizade e contribuição neste processo. À Capes Reuni, por todo apoio financeiro nos meus estudos. EPÍGRAFE Caminhante, são tuas pegadas o caminho e nada mais; caminhante, não há caminho se faz caminho ao andar... (Antônio Machado) RESUMO O TDAH é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por um quadro bastante heterogêneo que está associado a distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais, representando elevado risco de comprometimentos em diversas áreas do funcionamento adaptativo. São poucos os estudos sobre o desenvolvimento sensório-motor no TDAH, sendo ainda mais escassos os estudos específicos sobre a possível relação entre o Processamento Sensorial e os sintomas comportamentais desse transtorno. O objetivo deste estudo foi avaliar o perfil das habilidades do Processamento Sensorial em crianças com TDAH. A amostra clínica foi composta por 37 crianças entre 6 a 11 anos de idade (30 meninos e 7 meninas) com o diagnóstico primário de TDAH, pareada a amostra controle em relação à idade, gênero, tipo de escola/ condição sócio-econômica. O instrumento utilizado foi uma versão traduzida e adaptada do Sensory Profile (Perfil Sensorial) que analisa o processamento e a modulação sensorial, além das respostas comportamentais e emocionais das crianças aos eventos sensoriais da vida diária. Ambos os grupos foram comparados através dos escores brutos das Seções, Fatores e Padrões de Resposta da escala. Para o grupo de TDAH foram ainda comparadas as pontuações entre os subtipos de TDAH e analisado as correlações entre os escores do Perfil Sensorial e as escalas comportamentais. As crianças com TDAH apresentaram prejuízos significativos em relação às crianças do grupo controle no processamento e modulação sensorial, e nas respostas comportamentais e emocionais, verificadas em 11 das 14 Seções, em 6 dos 9 Fatores, além de diferenças em todos os Padrões de Respostas do Perfil Sensorial. Não houve diferença significativa entre os subtipos de TDAH, exceto para o processamento multissensorial. Já entre alguns escores do Perfil Sensorial e os escores das escalas CBCL e EACI-P, houve moderada correlação significativa entre si. Estes resultados indicaram que as crianças com TDAH podem apresentar déficits no Processamento Sensorial, possibilitando o surgimento de respostas inadequadas tanto comportamentais como na aprendizagem, sugerindo que, além de haver correlação entre esses aspectos, o Processamento Sensorial é também uma dimensão a ser considerada e estudada como parte da sintomatologia do TDAH. Palavras-chaves: TDAH; Processamento Sensorial; Perfil Sensorial; Aprendizagem; Comportamento ABSTRACT ADHD is a developmental disorder characterized by a very heterogeneous framework that is associated with motor, perceptual, cognitive and behavioral disturbances representing a high risk of impairments in several areas of development and adaptive functioning. There are few studies about the sensorimotor development in the ADHD, and there are even fewer specific studies about the possible relation between Sensory Processing and behavioral symptoms of this disorder. The purpose of the present study was to assess the Sensory Processing abilities profile in children with ADHD. The clinical sample was composed by 37 children from 6 to 11 years old (30 boys and 7 girls) with a primary diagnosis of ADHD, matched to the control sample by age, gender, type of school/ socio-economic conditions. The instrument used was a translated and adapted version of Sensory Profile (Perfil Sensorial) that analyzes the children’s sensory processing and modulation, besides behavioral and emotional responses in daily life. The sensory responses from both groups were compared by raw scores of Sections, Factors and Patterns of Response of the scale.For the ADHD group the scores between ADHD subtypes were compared and the correlations between the scores of the Sensory Profile and behavioural scale scores were also analyzed. Children with ADHD showed significant impairments compared to control group in sensory processing and modulation, besides behavioral and emotional responses as observed in 11 out of 14 Sections and in 6 out of 9 Factors¸ besides differences in all Patterns of Response of Sensory Profile. There was no significant difference between ADHD subtypes, except for the multisensory processing. But among some of Sensory Profile scores and CBCL and EACI-P scale scores there was moderate correlation between them. These findings indicate that children with ADHD may have deficits in Sensory Processing, enabling the appearing of inadequate responses either behavioral or learning, suggesting that in addition to correlation between these aspects, the Sensory Processing is also a dimension to be considered and studied as part of the symptomatology of ADHD. Key-words: ADHD; Sensory Processing; Sensory Profile; Learning; Behavior LISTA DE FIGURAS Figura 1. Modelo de Desenvolvimento do Processamento Sensorial ............................ 23 Figura 2. Classificação do TPS....................................................................................... 26 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Padrões de Resposta resultantes da relação entre Limiar Neurológico e Respostas Comportamentais ........................................................................................ 30 Tabela 2. Protocolo de Avaliação de TDAH do NANI .................................................. 36 Tabela 3. Distribuição da amostra segundo o pareamento em relação ao tipo de escola/condição socioeconômica (ABEP) .......................................................... 44 Tabela 4.Transtornos comórbidos de acordo com CBCL entre a amostra de TDAH ........................................................................................................................ 45 Tabela 5. Subtipos de TDAH e Transtornos comórbidos de acordo com CBCL ...................................................................................................................... 46 Tabela 6. Comparação da amostra de TDAH e controle nos escores das Seções do Perfil Sensorial .......................................................................................................... 47 Tabela 7. Comparação da amostra de TDAH e controle nos escores dos Fatores do Perfil Sensorial .......................................................................................................... 47 Tabela 8. Comparação da amostra de TDAH e controle nos escores dos Padrões do Perfil Sensorial .......................................................................................................... 48 Tabela 9. Comparação entre os subtipos do TDAH nos escores das Seções do Perfil Sensorial .......................................................................................................... 48 Tabela 10. Comparação entre os subtipos do TDAH nos escores dos Fatores do Perfil Sensorial .......................................................................................................... 48 Tabela 11. Comparação entre os subtipos do TDAH nos escores dos Padrões do Perfil Sensorial .......................................................................................................... 49 Tabela 12. Correlação entre idade e as Seções do Perfil Sensorial para a amostra TDAH e controle .................................................................................... 49 Tabela 13. Correlação entre idade e os Fatores do Perfil Sensorial para a amostra TDAH e controle .................................................................................... 50 Tabela 14. Correlação entre idade e os Fatores do Perfil Sensorial para a amostra TDAH e controle .................................................................................... 50 Tabela 15. Correlação entre os Transtornos do CBCL e das Seções do Perfil Sensorial para a amostra TDAH ........................................................................... 51 Tabela 16. Correlação entre os Transtornos do CBCL e os Fatores do Perfil Sensorial para a amostra TDAH ...................................................................... 51 Tabela 17. Correlação entre os Transtornos do CBCL e os Padrões do Perfil Sensorial para a amostra TDAH ...................................................................... 52 Tabela 18. Correlação entre os escores do EACI-P e das Seções do Perfil Sensorial para a amostra TDAH ...................................................................... 53 Tabela 19. Correlação entre os escores do EACI-P e dos Fatores do Perfil Sensorial para a amostra TDAH ...................................................................... 53 Tabela 20. Correlação entre os escores do EACI-P e dos Padrões do Perfil Sensorial para a amostra TDAH ...................................................................... 54 LISTA DE ABREVIATURAS ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas APA – American Psychological Association AVDs – Atividades de Vida Diária AWMA- Automated Working Memory Assessment BRIEF – Behavior Rating Inventory of Executive Functions CATRS-10 – Escala Conners Abreviada – 10 itens CBCL – Children Behavior Checklist CID-10 – Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento DSM-IV-TR - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders EACI-P – Escala de Avaliação Comportamental Infantil para o Professor NANI - Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil Interdisciplinar PS – Processamento Sensorial SN- Sistema Nervoso SNC- Sistema Nervoso Central SNP- Sistema Nervoso Periférico SNAP-IV – Swanson, Nolan and Pelham escala de avaliação de sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade para pais e professores, IV edição SP – Sensory Profile SPSS - Statistical Package for the Social Sciences SSP – Short Sensory Profile TA – Transtorno de Ansiedade TC – Transtorno de Conduta TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade TDAH-C – subtipo combinado TDAH-D – subtipo desatento TDAH-H/I – subtipo hiperativo/impulsivo TDC - Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação – TDC TDE – Teste de Desempenho Escolar TOD - Transtorno Desafiador-Opositor TPS - Transtorno do Processamento Sensorial TT – Transtorno de Tique WCST – Wisconsin Carding Sorting Test WISC-III – Weschsler Children Intelligence Scale Abbreviated SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1 1.1 Aspectos Preliminares ........................................................................................ 1 1.2 TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade ......................... 3 1.2.1 Definições e Critérios Diagnósticos .................................................................. 3 1.2.2 Histórico ............................................................................................................. 5 1.2.3 Prevalência ......................................................................................................... 7 1.2.4 Etiologia .............................................................................................................8 1.2.5 Comorbidades no TDAH .................................................................................. 11 1.2.6 Diagnóstico do TDAH ...................................................................................... 13 1.3 Processamento Sensorial/Teoria de Integração Sensorial ............................. 16 1.3.1 Definição e Teoria ............................................................................................ 16 1.3.2 Bases Neurobiológicas do Processamento Sensorial e da Aprendizagem ........ 18 1.3.3 Sistemas Sensoriais e o Desenvolvimento do Processamento Sensorial .......... 20 1.4 Transtorno do Processamento Sensorial ................................................. 24 1.4.1 Definição e Nosologia ...................................................................................... 24 1.4.2 Sensory Profile (Perfil Sensorial) ..................................................................... 28 1.4.3 Transtorno do Processamento Sensorial e TDAH ............................................ 31 2. OBJETIVOS .......................................................................................... 35 2.1 Objetivos Gerais ................................................................................................. 35 2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................... 35 3. METODOLOGIA ................................................................................. 36 3.1 Casuística ............................................................................................................ 36 3.2 Instrumento ........................................................................................................ 39 3.3 Procedimentos .................................................................................................... 41 3.4 Análise dos Dados .............................................................................................. 42 4. RESULTADOS ...................................................................................... 44 4.1 Caracterização da Amostra .............................................................................. 44 4.2 Análise dos Dados do Sensory Profile .............................................................. 46 5. DISCUSSÃO .......................................................................................... 55 5.1 Limitações do Estudo ......................................................................................... 64 6. CONCLUSÃO ....................................................................................... 65 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 66 8. ANEXOS ................................................................................................ 78 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Aspectos Preliminares Com alta prevalência entre a população mundial e com um quadro clínico bastante heterogêneo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) representa elevado risco de comprometimentos comportamentais em diversas áreas do funcionamento adaptativo, como dificuldades nos relacionamentos sociais e familiares, no ajustamento motor, psicossocial, além de prejuízos no desempenho acadêmico e na aprendizagem (ASSEF; CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2007; RIZZUTTI et al., 2008). A aprendizagem, compreendida como um processo complexo e dinâmico, é estruturada a partir de um ato motor e perceptivo que, elaborado corticalmente, dá origem à cognição (GUARDIOLA; FERREIRA; ROTTA, 1998). A informação inicialmente captada do ambiente passa por um contínuo processamento, envolvendo sucessíveis níveis de complexidade e elaboração, desde a captação das características sensoriais, a interpretação do significado, à emissão da resposta (CIASCA, 2006). Nesta perspectiva, a aprendizagem depende da integridade do Processamento Sensorial (PS), ou seja, da habilidade do indivíduo em receber as informações sensoriais do ambiente e dos movimentos do seu corpo, de processar e integrar as diferentes modalidades sensoriais no Sistema Nervoso Central (SNC) e utilizá-las para planejar e organizar respostas adaptativas adequadas. Na presença de um Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), ocorre um déficit no planejamento e produção do comportamento ou movimento, podendo desencadear comprometimentos no desempenho motor e nas habilidades funcionais, bem como dificuldades da criança em se organizar, manter a atenção, além de dificuldades na aprendizagem escolar (CEMARK, 1988; MILLER et al., 2007). Alguns estudos internacionais evidenciam que crianças com TDAH podem apresentar dificuldades gerais no Processamento Sensorial principalmente em relação à Modulação Sensorial (MANGEOT et al., 2001; YOCHMAN; PARUSH; ORNOY, 2004; DUNN; BENNETT, 2002), relacionada à capacidade de regular e organizar o grau, intensidade e a natureza das respostas diante do estímulo sensorial (LANE; MILLER; HANFT, 2000), apresentando comportamentos de hiperresponsividade ou hiporresponsividade. Diante dos diversos sintomas associados ao TDAH, faz-se necessário um maior conhecimento acerca de todas as áreas do desenvolvimento da criança, não apenas em relação 2 ao desenvolvimento de habilidades como atenção e função executiva, como tem sido o foco das pesquisas em neuropsicologia atuais, mas também uma maior consideração sobre a importância do desenvolvimento sensório-motor sobre o desenvolvimento cognitivo e afetivo, assim como a recíproca interação entre essas dimensões. Dessa forma, são poucos os estudos que abordam o desenvolvimento sensório-motor e o TDAH, sendo ainda mais escassos os estudos específicos sobre o Processamento Sensorial e sua possível relação com os sintomas comportamentais desse transtorno. Assim, o presente estudo tem como objetivo principal analisar o perfil das habilidades do Processamento Sensorial em crianças com TDAH em fase escolar. O tema escolhido justifica-se pela necessidade de mais estudos acerca da relação entre o TDAH e o Processamento Sensorial, além da necessidade de maior conhecimento e repertório sobre o assunto, de maneira a contribuir para melhorias na qualidade de vida e na implantação de medidas, sejam elas de natureza preventiva, curativa ou de suporte. 3 1.2 Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) 1.2.1 Definições e Critérios Diagnósticos O TDAH é um transtorno do desenvolvimento relacionado à dificuldade de manter a atenção, controlar os impulsos e regular o nível de atividade (BARKLEY, 2002). Tal condição pode estar associada a distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais que levam a graus variáveis de comprometimento na vida social, emocional, escolar e familiar, expressando dificuldades globais do desenvolvimento infantil (ANTONY; RIBEIRO, 2004; RIZZUTTI et al., 2009; POSSA; SPANEMBERG; GUARDIOLA, 2005). Apesar dos diversos estudos não encontrarem um padrão de prejuízos, muitos apontam que indivíduos com TDAH podem apresentar alterações nas funções executivas relacionadas à resolução de problemas, planejamento, inibição de resposta e memória operacional (ASSEF; CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2007; CURATOLO et al., 2009). Tais alterações podem prejudicar o desempenho nas ações cotidianas, bem como trazer impacto na qualidade de vida, uma vez que as funções executivas estão relacionadas à capacidade em processar e elaborar ações adaptadas às diferentes situações (SABOYA et al., 2007). Além disso, o TDAH é também caracterizado por uma população bastante heterogênea (ROMAN; RODHE; HUTZC, 2002; BARKLEY, 2008), com uma variação considerável no grau de sintomas, nas dimensões situacionais de suas ocorrências, assim como no grau de associação a outros transtornos (DIAMOND, 2005; BARKLEY,2008). Com início na infância, o TDAH pode persistir até a vida adulta em mais da metade dos casos (KONESKI; CASELLA, 2010), podendo ser considerado um transtorno de caráter crônico (KESSLER et al., 2006; SCHMITZ; POLANCZYK; ROHDE, 2007). Está associado a prejuízos nas atividades acadêmicas, nos relacionamento com familiares e com os pares, bem como a efeitos negativos na auto-estima das crianças e adolescentes (BARKLEY, 2002). É fator de risco para a ansiedade, depressão, problemas de conduta e delinquência, além do uso abusivo ou dependência de substâncias. Na vida adulta, pode ainda trazer prejuízos nos relacionamentos sociais, conjugais e profissionais (ROTTA, 2006; THAPAR et al., 2007; SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Dentre os sistemas classificatórios mais utilizados para o diagnóstico do TDAH encontram-se o Código Internacional de Doenças em sua Classificação de Transtornos 4 Mentais e de Comportamento - CID-10 (OMS, 1993) e o Diagnóstic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM-IV-TR (APA, 2002). De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), a classificação mais comumente adotada pela comunidade cientifica, o TDAH é classificado em três subtipos para fins de diagnóstico: o Predominantemente Desatento (TDAH-D), o Predominantemente Hiperativo-Impulsivo (TDAH-H/I) e o subtipo Combinado ou Misto (TDAH-C), que reúne características dos dois anteriores. Existe ainda a denominação de TDAH em Remissão Parcial, dada aos adolescentes e adultos, que não satisfazem a todos os critérios diagnósticos, mas apresentam prejuízos clínicos significativos (APA, 2002). O diagnóstico de TDAH é realizado quando pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade estão presentes na vida da criança; ocorram com frequência; tenham surgido antes dos sete anos de idade; persistam por no mínimo seis meses; e se manifestem em dois ou mais ambientes, comprometendo o funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. Ainda como critério de diagnóstico de TDAH devem ser excluídos os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, a esquizofrenia ou outro transtorno psicótico, além de não ser melhor explicado por outro transtorno mental, como os transtornos do humor, de ansiedade, dissociativo ou de personalidade (APA, 2002). Um aprofundamento maior na distinção entre os subtipos de TDAH têm sido defendido por alguns autores, visto que as diferenças de sintomatologia predominante demonstram não somente as diferenças comportamentais, como também nos aspectos cognitivos, etiológicos, nos aspectos relacionados ao desenvolvimento, bem como na necessidade de condutas terapêuticas distintas (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009). Do ponto de vista comportamental, o TDAH combinado tem sido apontado como o mais comprometedor do funcionamento adaptativo, com maior incidência de problemas de relacionamento interpessoal e de comportamento exteriorizado, tais como a agressividade, a impulsividade ou os transtornos de oposição desafiante e de conduta (MURPHY; BARKLEY; BUSH, 2002; SHORT et al., 2007). Já em relação aos comportamentos interiorizados, como ansiedade, problemas somáticos, entre outros, as diferenças entre os subtipos tendem a se extinguir ao se levar em conta aspectos fundamentais, como as fontes de informação, critérios de identificação do tamanho da amostra, bem como a presença ou ausência de comorbidades com transtornos exteriorizados (BAYENS; ROEYERS; WALLE, 2006). Em relação ao curso e à evolução de suas manifestações, as diferenciações entre os subtipos de TDAH também são identificadas. Segundo Taylor et al. (2004), os sintomas da hiperatividade e impulsividade são os primeiros a se manifestar e tendem a diminuir ao longo 5 do desenvolvimento. Já os sintomas de desatenção podem iniciar também na infância, mas permanecem no decorrer do desenvolvimento e da idade adulta, apresentando menor taxa de remissão (SCHMITZ; POLANCZYK; ROHDE, 2007; SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Teorias atuais têm sugerido que o TDAH está relacionado a um comprometimento no sistema de recompensa, no qual os indivíduos com o transtorno demonstram dificuldades em perseverar e lidar com condições de pouca ou ausência de gratificação, apresentando menor desempenho em tarefas tediosas e sem recompensa imediata, além de falhas na previsão das consequências (ASSEF; CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2007; BARKLEY, 2008). Isto ocorre, pois no TDAH existiria um déficit na inibição do comportamento que, por sua vez, poderia trazer prejuízos à realização efetiva das funções executivas e de auto-regulação emocional e no planejamento que elas possibilitam. Pois é por meio da auto-regulação da motivação intrínseca que os indivíduos são capazes de lidar com a espera entre o comportamento e o reforço existente, condição ineficiente no TDAH (BARKLEY, 2008). 1.2.2 Histórico No decorrer da história a nomenclatura do transtorno sofreu várias modificações. A primeira descrição surgiu em 1902 através do pediatra Still que denominou de “Defeito no Controle Moral” uma condição comportamental infantil semelhante ao que hoje se conhece como TDAH. A compreensão do transtorno se concentrava nas deficiências no controle moral do comportamento e na inibição comportamental (BARKLEY, 2008). Várias teorias surgiram defendendo as lesões cerebrais e as encefalites como fatores etiológicos dos distúrbios comportamentais. Conforme Spencer, Bierderman e Mick (2007) estudos realizados por Strecker e Ebaugh (1923) e por Franklin e Ebaugh (1924) verificaram sequelas comportamentais e cognitivas nas crianças que incluíam as hipercinesias, comportamentos explosivos e déficit de atenção, após uma encefalite epidêmica aguda e traumas cerebrais na infância. A partir de então surgiu o conceito da “criança com lesão cerebral”, aplicado a crianças com essas características comportamentais, muitas das quais apresentavam pouca ou nenhuma evidência de patologias cerebrais. O termo evoluiu para “Lesão Cerebral Mínima”, grande parte pela ausência de evidências de lesões cerebrais, sendo modificada 6 posteriormente para “Disfunção Cerebral Mínima” nas décadas de 1950 e 1960 (BARKLEY, 2008). Por ser considerado abrangente demais, de pouco ou nenhum valor prescritivo e sem evidências neurológicas, o termo “Disfunção Cerebral Mínima” passou a não ser mais aceito, sendo introduzida a denominação “Síndrome da Criança Hiperativa”, expressando a mudança de ênfase para a hiperatividade, sintoma comportamental considerado mais característico do transtorno (BARKLEY, 2008; SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Em 1968, o transtorno passou a ser chamado de “Reação Hipercinética da Infância”, conforme a segunda edição do o Diagnóstic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM-II, sendo designada como “Síndrome Hipercinética” pela Classificação Internacional de Doenças - Nona Edição - CID-9 (SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Com o DSM-III (APA-1980) mudanças significativas em relação ao transtorno passaram a ser consideradas. O termo é modificado para “Transtorno de Déficit de Atenção” com ou sem hiperatividade, expressando maior ênfase em torno da desatenção e impulsividade como aspectos definidores do transtorno. Destacam-se ainda, a criação de listas de sintomas muito mais específicas, pontos de corte, diretrizes para início e duração de sintomas e a exclusão de outras condições psiquiátricas da infância como explicação para o transtorno (BARKLEY, 2008). Na edição do DSM-III-R de 1987, o termo foi alterado para “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade”, no qual dentre as alterações apresentadas, o TDA sem hiperatividade deixa de ser considerado como um subtipo, passando para uma categoria vaga, o TDA indiferenciado (BARKLEY, 2008). Com o DSM-IV (APA, 1994), o termo passa a ser “Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade”, havendo a introduçãodos subtipos, inclusive a forma puramente desatenta do TDAH; critérios diagnósticos passam a exigir uma maior evidência da globalidade dos sintomas entre os ambientes, além da presença de comprometimento em um importante domínio do funcionamento da vida (casa, escola, trabalho). Conforme a atual edição revisada DSM-IV-TR (APA, 2002), a denominação do transtorno se mantém em “Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade” 7 1.2.3 Prevalência A prevalência do TDAH na literatura internacional alcançava índices ao redor de 8% a 12% entre as crianças em idade escolar (BIEDERMAN; FARAONE, 2005). A diferença entre as médias levantadas entre os países seria resultado da metodologia utilizada nos diferentes estudos (SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007), incluindo a natureza da amostra (clínica, comunitária ou escolar) ou ainda o método de avaliação utilizado, que incluem as escalas preenchidas pelos pais, professores ou o exame clínico (APA, 2002). Uma recente revisão sistemática sobre o tema (POLANCZYK et al., 2007), reuniu 102 estudos de prevalência em todo o mundo, computando uma estimativa de prevalência de 5,29% entre indivíduos menores de 18 anos de idade. Entre crianças em idade escolar, a estimativa de prevalência foi de 6,48% e entre adolescentes foi de 2,74%. De acordo com a análise de meta-regressão, esses resultados demonstraram variabilidade significativa, que se explicaria principalmente pelas diferenças metodológicas dos estudos do que pelas diferenças geográficas. No Brasil, a prevalência de TDAH varia entre 5 a 17% da população (ROHDE et al., 1999; VASCONCELOS et al., 2003; POETA; NETO, 2004; PONDÉ; FREIRE, 2007, FONTANA et al., 2007), resultados obtidos de acordo com as variações amostrais em relação a idade e procedência, e aos diferentes métodos de avaliação adotados. A maior prevalência de TDAH encontra-se entre o gênero masculino com proporção variando de 2:1 a 9:1, conforme o subtipo do transtorno ou a natureza da amostra. A diferença de gênero pode ser menor em alguns subtipos de TDAH e estudos de natureza clínica são mais propensos a demonstrar maior prevalência em meninos (APA, 2002; ROHDE; HALPERN, 2004). Essa diferença entre os gêneros pode estar relacionada a uma maior probabilidade de ocorrência do subtipo desatento no gênero feminino (SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007; STERFANATO; BARON, 2007), o que do ponto de vista comportamental, torna menor a prevalência de comportamentos exteriorizados e, em particular, de Transtorno de Conduta comórbido entre as meninas (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009). Isto resultaria em menor dificuldade escolar e familiar, além de um número menor de encaminhamento para avaliação e tratamento (BARKLEY, 2008). Neste sentido, Staller e Faraone (2006) defendem que o gênero feminino estaria subdiagnosticado devido à relevância atribuída aos sintomas de hiperatividade e 8 impulsividade. Além disso, a predominância sintomática de desatenção resultaria em uma detecção mais tardia do problema, frequentemente após os 7 anos de idade, o que contribuiria ainda mais para uma representação diminuída do gênero feminino na prevalência do TDAH (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009). Em contrapartida, existem estudos que não confirmam a maior incidência do subtipo desatento no gênero feminino. Segundo Neuman et al. (2005), ao realizarem um estudo de prevalência a partir dos critérios do DSM-IV com famílias de gêmeos, verificaram maior prevalência do subtipo desatento nos meninos e do subtipo combinado nas meninas, embora os meninos apresentassem maior severidade na manifestação dos sintomas. Conforme os resultados encontrados por estes autores, o subtipo desatento poderia estar subidentificado e pouco tratado nos dois gêneros, uma vez que a maioria das amostras é composta por meninos do subtipo combinado. Sabe-se que os sintomas de TDAH persistem na idade adulta em 10 a 60% dos casos (GUARDIOLA, 2006; FARAONE, 2009), podendo a prevalência se encontrar ao redor de 4,4% entre os adultos (KESSLER et al., 2006). A partir de uma recente revisão de estudos longitudinais com indivíduos que receberam o diagnóstico de TDAH na infância, foi identificada a permanência desse diagnóstico em 15% dos indivíduos ao atingirem a idade de 25 anos. No entanto, em 65% dos indivíduos que não mantiveram o diagnóstico de TDAH ou apresentavam o TDAH em remissão parcial, a persistência de alguns sintomas associados ao transtorno esteve presente na maioria dos casos (FARAONE, 2009). Além disso, muitos estudos também apontam para uma proporção maior de mulheres com TDAH em relação aos homens com TDAH na vida adulta (ROTTA, 2006), condição que poderia ser explicada pela maior busca de tratamento na fase adulta pelas mulheres em relação aos homens (SCHMITZ; POLANCZYK; ROHDE, 2007). 1.2.4 Etiologia A etiologia do TDAH é considerada multifatorial, implicando dizer se tratar de um transtorno que abrange fatores genéticos e ambientais que podem se combinar num amplo espectro de possibilidades clínicas (ROTTA, 2006; CURATOLO et al., 2009; FARAONE, 2009). Acredita-se que vários genes de pequeno efeito sejam responsáveis por uma suscetibilidade genética ao transtorno, à qual se somam a diferentes agentes ambientais. Desta 9 forma, o surgimento e a evolução do TDAH em um indivíduo parecem depender de quais genes de suscetibilidade estão agindo, de quanto cada um deles contribui para o transtorno e da interação desses genes entre si e com o ambiente (THAPAR et al., 2007; RIZZUTTI et al., 2008; STEINHAUSEN, 2009). Vários estudos com famílias têm indicado a hereditariedade como um importante fator etiológico para o TDAH (FARAONE, 2009; SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Há indícios que demonstram um risco de 10 a 35% do transtorno entre os parentes biológicos de crianças com TDAH, sendo de até 57% o risco de transmissão dos pais com TDAH aos seus filhos. Estudos com famílias de adoção não indicam maior risco do transtorno entre pais adotivos de crianças com TDAH, confirmando ainda mais a contribuição hereditária para o transtorno (BARKLEY, 2008). Segundo Banaschewiski et al. (2010), estudos demonstram que o desenvolvimento e curso do TDAH está relacionado à participação de vários genes envolvidos no sistema dopaminérgico (DRD4, DRD5, DAT1/SLC6A3, DBH, DDC); genes associados ao sistema noradrenérgico (NET1/SLC6A2, ADRA2A, ADRA2C); assim como os genes associados às sistemas menos estudados, como o sistema serotoninérgico (5-HTT/SLC6A4, HTR1B, HTR2A, TPH2). O envolvimento da dopamina na fisiopatologia do transtorno poderia ser compreendido pela associação do TDAH às alterações nas funções das vias fronto-estriatais e funções executivas, que são dependentes de uma adequada atuação dos neurotransmissores dopaminérgicos, condição que explicaria a eficácia do metilfenidato, ao atuar como bloqueador do transportador de dopamina no tratamento do TDAH (DIAMOND, 2005; SWANSON et al., 2007). Assim como a dopamina, a noradrenalina desempenharia também um importante papel nos processos atencionais e em alguns aspectos das funções executivas (BANASCHEWISKI et al., 2010). No entanto, conforme Koneski e Casella (2010), apesar do grande envolvimento das catecolaminas dopamina e noradrenalina na fisiopatologia do TDAH, evidenciados pelos estudos de neuroimagem e farmacológicos, os diferentes sintomas observados no transtorno estariam também correlacionados a um provável desequilíbrio em vários outros sistemas de neurotransmissores que interagem entre si, evidenciando o papel relevante de outros neurotransmissores menos estudados como a serotonina, histamina e acetilcolina. As implicações do TDAH têm sido ainda demonstradas pelos estudos de neuroimagem, neuropsicológicos e neuroquímicos como resultado do envolvimento de várias 10 regiões cerebrais como o córtex pré-frontalinferior, ventromedial e dorsolateral, giro anterior do cíngulo, gânglios da base, córtex temporoparietal e cerebelo (BUSH et al., 2008; RUBIA, 2010). Outros autores ainda relatam associações entre o TDAH e outras regiões cerebrais como amígdala, hipotálamo e hipocampo (KONESKI; CASELLA, 2010; RUBIA, 2010). Nesse sentido, os estudos propõem que os distúrbios em regiões pré-frontais expliquem as alterações nas funções executivas como planejamento, organização e memória operacional, além dos sintomas de desatenção (DIAMOND, 2005; SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Já os sintomas de impulsividade e hiperatividade poderiam ser explicados pelo comprometimento de estruturas dos circuitos subcorticais como o núcleo estriado (núcleo caudado e putâmen) e globus palidus, responsáveis pelo controle motor, funções executivas, comportamento inibitório e modulação do circuito das respostas que permitem a regulação do comportamento pelo córtex (SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Segundo Diamond (2005) há evidências de que o TDAH do subtipo hiperativo/impulsivo apresente um comprometimento primário no núcleo estriado, assim como alterações no circuito fronto-estriatal, explicando a hiperatividade através do déficit do controle inibitório, principalmente em relação à inibição motora. Por outro lado, os indivíduos do subtipo desatento apresentariam um comprometimento primário em regiões do córtex pré- frontal, no circuito fronto-parietal, relacionado às funções executivas e à memória operacional. O papel do giro anterior do cíngulo estaria relacionado fundamentalmente à cognição, atenção, detecção de alvos, controle motor (seleção da resposta e inibição) e detecção de erros (MAKRIS et al., 2010), além da regulação emocional e motivacional, funções também associadas às regiões do córtex frontal, amígdala, hipocampo e ao hipotálamo (RUBIA, 2010). Já o envolvimento do cerebelo na fisiopatologia do TDAH seria explicado pela sua significativa contribuição nas funções cognitivas e funções afetivas, incluindo o processamento temporal das informações, sustentação da atenção, memória operacional verbal, aprendizagem, função executiva e regulação emocional (MACKIE et al., 2007). Existem ainda teorias sobre o desenvolvimento cortical em crianças com TDAH que demonstram um atraso maturacional no desenvolvimento do cérebro, verificado com mais proeminência em região pré-frontal, áreas importantes para o controle dos processos cognitivos que incluem a atenção e planejamento motor (MACKIE et al., 2007; STEINHAUSEN, 2009). 11 Vários fatores biológicos e ambientais têm sido propostos como fatores de risco para o TDAH, incluindo a exposição fetal ao álcool, tabagismo materno durante a gestação, baixo peso do recém nascido, bem como a contaminação com chumbo (CURATOLO et al., 2009). A exposição pré-natal ao álcool além de ser fator predisponente de anormalidades estruturais no cerebelo, atua também no desencadeamento da hiperatividade, do comportamento disruptivo e impulsivo. Estudos recentes demonstram os efeitos dos vários genes (DRD4 e DAT1) quando expostos às substâncias no período pré-natal nos subtipos de TDAH, como o tabagismo durante a gestação pode estar associado ao TDAH tipo combinado em crianças geneticamente suscetíveis (NEUMAN et al., 2009). Além disso, autores verificaram que receptores de nicotina modulam a atividade dopaminérgica, e esta interrupção dopaminérgica pode estar envolvida com a fisiopatologia do TDAH (CURATOLO et al., 2009). Pesquisas verificaram que o baixo peso foi considerado três vezes mais comuns em crianças com TDAH do que nos grupos controle (MICK et al., 2002), e ainda, que a carga corporal elevada de chumbo nos 2 a 3 primeiros anos de vida pode estar associada ao TDAH (BARKLEY, 2008). 1.2.5 Comorbidades no TDAH Além da heterogeneidade de seus sintomas, o quadro clínico do TDAH é caracterizado também pela frequente presença de comorbidades (STEINHAUSEN, 2009), compreendidas como os transtornos comportamentais, neuropsiquiátricos e do desenvolvimento que se manifestam associadas ao TDAH (STERFANATOS; BARON, 2007). A presença de tais comorbidades pode aumentar ainda mais o impacto em vários domínios do funcionamento comportamental, psicossocial e na qualidade de vida dos indivíduos com TDAH, destacando-se também a possibilidade desses transtornos comórbidos se apresentarem combinados entre si (STEINHAUSEN, 2009). De acordo com alguns autores (FISCHER et al., 2002; MCGOUGH et al., 2005) aproximadamente 59 a 87% das crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar pelo menos uma comorbidade, sendo que 20% dos indivíduos podem apresentar três ou mais comorbidades associadas ao TDAH (ROWLAND et al., 2002). As comorbidades psiquiátricas mais frequentes no TDAH são aquelas que envolvem transtornos externalizantes com componentes de agressividades como o Transtorno Opositor- 12 Desafiante (TOD) ou o Transtorno de Conduta (TC), em relação aos transtornos internalizantes como a Transtorno de Ansiedade e Transtorno de Humor/ Depressão (STERFANATOS; BARON, 2007). Estima-se que entre 30 a 65% dos indivíduos com TDAH apresentem em associação o Transtorno Opositor-Desafiante (TDO), considerando a origem populacional ou clínica da amostra (RIESGO, 2006; BIEDERMAN; FARAONE, 2005; OLIVIERA; ALBUQUERQUE, 2010). Tal comorbidade é caracterizada pela frequente e persistente postura de desobediência e oposição às figuras de autoridade, quer sejam os pais, os professores ou outro adulto, além do comportamento negativo, hostil e desafiador (FARAONE, 2009; RIESGO, 2006). Indivíduos com Transtorno de Conduta (TC) são caracterizados por um padrão comportamental no qual são desrespeitados os direitos básicos dos outros, podendo se manifestar através de provocações, agressões verbal ou física, destruição intencional do patrimônio alheio, fugas de casa, roubos e faltas na escola (RIESGO, 2006; FARAONE, 2009). A prevalência do TC encontra-se entre 15 a 40 %, sendo estes comportamentos de maior intensidade do que a observada no TOD. A porcentagem entre TDAH e Transtorno de Ansiedade (TA) encontra-se entre 25 a 30%, quando consideradas amostras infantis clínicas e epidemiológicas (ROHDE; HALPERN, 2004; OLIVIERA; ALBUQUERQUE, 2010). Indivíduos com esta comorbidade apresentam maior frequência de preocupações excessivas e desproporcionais, além de medos e ansiedades antecipatórias a eventos. Tal condição pode contribuir para os distúrbios sociais, comportamentais e acadêmicos, além de estar associada a um intenso sofrimento psicológico (SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). A coexistência de depressão no TDAH gira em torno dos 15%, quadro que pode ser caracterizado por um humor triste ou irritável, baixo limiar às frustrações, perda de interesse por atividades que anteriormente eram prazerosas, alterações no padrão de sono e apetite, lentificação psicomotora, retraimento social e baixa auto-estima (RIESGO, 2006; SPENCER; BIEDERMAN; MICK, 2007). Para Spencer, Biederman e Mick (2007) os Transtornos de Conduta e uso de substâncias podem ocorrer concomitantemente com a depressão entre crianças e adolescentes. A concomitância entre TDAH e Transtorno de Tiques (TT) mostra variações entre 3,5 a 17%. Os sintomas melhoram e pioram espontaneamente tendo uma relação com estresse do indivíduo, no qual os tiques motores geralmente afetam a cabeça, os olhos ou a face (RIESGO, 2006). 13 Dentre os transtornos do desenvolvimento, estima-se que os Transtornos de Aprendizagem encontram-se entre 20 a 30% em associação ao TDAH (RIESGO, 2006). Segundo Sterfanatos e Baron (2007), problemas no funcionamento acadêmico podem ocorrer precocemente na pré-escola e se estender no decorrer dos anos, devido aos déficits atencionais, aos da memória operacional, assim como aos das funções executivas, afetando a aquisição de habilidades escolarese representando riscos para a dificuldade de leitura (16 a 39%), para o desenvolvimento de problemas na linguagem (24 a 27%) ou ainda para dificuldades na matemática (13 a 33%). Em relação aos subtipos de TDAH, indivíduos com TDAH- C e TDAH-D tendem a apresentar maior risco para os transtornos internalizantes e para os problemas de aprendizagem, enquanto que, para o TDAH-C e TDAH-H/I, a tendência é maior para os transtornos externalizantes como os comportamento disruptivos (STERFANATOS; BARON, 2007). Além de trazerem impactos no decorrer da vida e em várias áreas do funcionamento adaptativo, os transtornos comórbidos repercutem também em modificações significativas no prognóstico, bem como em implicações para o planejamento das estratégias terapêuticas no TDAH (SOUZA et al., 2001; STERFANATOS; BARON, 2007). Nesta perspectiva, para a compreensão da natureza e heterogeneidade dos perfis do TDAH, além do aperfeiçoamento do diagnóstico diferencial, deve-se levar em consideração a grande diversidade e prevalência de transtornos comórbidos ao TDAH (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009). 1.2.6 Diagnóstico do TDAH O diagnóstico do TDAH fundamenta-se basicamente no quadro clínico comportamental baseado nos critérios definidos pelo DSM-IV-TR, uma vez que não há um marcador biológico específico que contemple todos os casos desse transtorno (PEREIRA; ARAÚJO; MATTOS, 2005; GUARDIOLA, 2006). Como recursos úteis de avaliação diagnóstica diferencial, os exames de neuroimagem, eletroencefalograma e o exame neurofisiológico de potencial evocado cognitivo (P300) estão restritos ao ambiente de pesquisa, não sendo validados para a prática clínica (LOW, 2006; ROTTA, 2006). Dessa forma, o diagnóstico é o resultado da análise de informações obtidas a partir de várias fontes e em diversas situações que incluem desde a anamnese da criança, até as 14 informações obtidas mediante entrevistas e escalas com os pais, responsáveis e professores (GUARDIOLA, 2006; LOW, 2006; PEREIRA; ARAÚJO; MATTOS, 2005). Além disso, por se tratar de um transtorno com características que se situam nos âmbitos neurológicos, psiquiátricos, psicopedagógicos, fonoaudiológicos, psicológicos, assim como na dimensão motora, faz-se necessário um enfoque multidisciplinar para o diagnóstico de TDAH (KAEFER, 2006; PEREIRA; ARAÚJO; MATTOS, 2005). A avaliação tem como objetivos: determinar a presença ou ausência do TDAH, bem como o diagnóstico diferencial do mesmo em relação a outros transtornos psiquiátricos da infância; determinar os domínios de comprometimento (relacionados às atividades importantes da vida que estão afetadas); identificar as possíveis comorbidades; verificar a integridade das informações; identificar as potencialidades e dificuldades da criança, da família e os recursos da comunidade; bem como delinear as intervenções necessárias para o tratamento dos comprometimentos identificados (BARKLEY, 2008). Como parte da avaliação, o exame neurológico tem por intuito a verificação das dificuldades na habilidade motoras e a presença de um desempenho abaixo do esperado para a idade em relação ao desenvolvimento. Com frequência este exame indica uma imaturidade e discrepância principalmente em relação a provas de persistência motora, equilíbrio estático, gnosias e coordenação apendicular (ROTTA, 2006). Além da historia clínica por meio da anamnese, escalas de comportamento também são utilizadas na avaliação do TDAH tais como: a Escala de Avaliação do Comportamento Infantil para o Professor - EACI-P (Brito, 1999), escala respondida pelo professor para avaliar áreas do comportamento da criança; Child Behavior Checklist - CBCL que mensura o grau de competência social e os problemas comportamentais de uma criança ou adolescente de acordo com a percepção de seus pais ou cuidadores (ACHENBACH, 1991); além do questionário Conners - CATRS (BRITO, 1987) respondido por pais ou professores; e o questionário SNAP-IV, baseado nos critérios do DSM-IV (MATTOS et al., 2006). Os testes neuropsicológicos têm sido um instrumento muito importante para a detecção de disfunções cognitivas e/ou emocionais que podem acompanhar o quadro de TDAH. Embora não apresentem valor diagnóstico em si para o transtorno, auxiliam na elucidação do diagnóstico diferencial em relação à presença de déficit intelectual (BARKLEY, 2008; KAEFER, 2006). Contribuem, ainda, para o estabelecimento de prioridades no tratamento, para a indicação de terapêuticas paralelas e/ou complementares, sendo importantes também no levantamento das potencialidades e capacidades cognitivas dos pacientes (MIRANDA; MUSKAT, 2004; KAEFER, 2006). 15 No entanto, vale ressaltar que os fatores que influenciam o estudo neuropsicológico são múltiplos e se estendem além da dimensão neurobiológica, abrangendo os aspectos sociais e culturais, que podem ser determinantes na modificação das respostas cerebrais nas diferentes fases do desenvolvimento infantil (MIRANDA; MUSKAT, 2004). Dessa maneira, a avaliação e a confirmação do diagnóstico de TDAH exigem a integração de informações de fontes múltiplas (pais, professores, outros cuidadores e profissionais), uso de maneiras múltiplas para a coleta de tais informações (entrevistas semi- estruturadas, escalas padronizadas de avaliação do comportamento, exame médico e testes neuropsicológicos), além da averiguação de domínios múltiplos de atividades importantes da vida tais como o funcionamento com a família, amigos, escola, comunidade entre outros (BARKLEY, 2008). Um diagnóstico correto e precoce é de fundamental importância para um adequado manejo e tratamento da criança, que tem por finalidade a reorganização dos seus comportamentos, viabilizando atitudes funcionais no meio familiar, escolar e social (BARKLEY, 2008). 16 1.3 Processamento Sensorial/ Teoria de Integração Sensorial 1.3.1 Definição e Teoria Desenvolvida pela terapeuta ocupacional e neurocientista Jean Ayres (1972), a teoria de Integração Sensorial surgiu em resposta à busca de uma maior compreensão sobre a relação entre as sensações corporais, os mecanismos cerebrais e a aprendizagem. Entende-se por Integração Sensorial “ .... o processo neurológico que organiza as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível a geração de respostas adaptativas adequadas, a partir do uso eficiente do corpo no ambiente...” (AYRES, 1972, p.31). Processamento Sensorial (PS) é outra terminologia amplamente utilizada na literatura para designar tal processo neurológico, sendo definido como a habilidade do Sistema Nervoso Central de absorver, processar e organizar respostas adequadas às informações trazidas pelos sentidos (MILLER et al., 2007). Em busca de uma padronização dos termos e com base nas pesquisas de Mulligan (1998), DeGangi (2000) e Dunn (2001), foi proposto por Miller et al. (2007) a utilização do termo Integração Sensorial quando relacionado à teoria e à intervenção terapêutica, sendo o termo Processamento Sensorial voltado para o diagnóstico. O funcionamento cerebral é necessariamente dependente dos inputs sensoriais, ou seja, das informações sensoriais recebidas do próprio corpo ou do ambiente, no qual o indivíduo está inserido (PARHAM; MAILLOUX, 2005). Uma vez captadas, tais informações sensoriais devem ainda ser integradas e organizadas adequadamente pelo cérebro, para que o mesmo possa produzir comportamentos adaptados, entendidos como competências de aprendizagem (FONSECA, 2008a). Para Ayres a aprendizagem pode ser compreendida de forma global, incluindo não somente o desenvolvimento cognitivo, as aquisições de conceitos, ou as aprendizagens escolares, como também as várias dimensões do comportamento adaptativo, todos eles dependentes do funcionamento adequado do Processamento Sensorial (FONSECA,2008a). Neste sentido, a teoria de Integração Sensorial está baseada em três componentes relacionados ao desenvolvimento normal, às disfunções do Processamento Sensorial e à intervenção. 17 O primeiro componente se refere à aprendizagem como dependente da habilidade de absorção e do Processamento Sensorial da informação proveniente do ambiente e do movimento do corpo, utilizadas como base para o planejamento e organização do comportamento. O segundo componente assume que indivíduos com alterações no PS podem apresentar dificuldades na produção de respostas adequadas, inclusive na aprendizagem e no comportamento. O terceiro componente considera que a viabilização de experiências sensoriais no contexto de uma atividade intencional, visando à interação adaptativa, favorece o PS e, por sua vez, a aprendizagem e o comportamento (BUNDY; LANE; MURRAY, 2002). A partir desses componentes, a teoria de Integração Sensorial se fundamenta ainda em cinco pressupostos relacionados às bases neurológicas e comportamentais (BUNDY; LANE; MURRAY, 2002): a) Neuroplasticidade, que possibilita a modificação da própria estrutura e morfologia do SNC em função dos inputs sensoriais, conferindo-lhe um enriquecimento neurofuncional que resulta em melhor interação entre o organismo e o ambiente; b) Desenvolvimento sequencial do Processamento Sensorial, no qual os estágios do desenvolvimento se sucedem, tendendo a uma maior complexidade, fornecendo base neurofuncional para que outros processos de aprendizagem possam emergir; c) Funcionamento integrado do cérebro, uma vez que as sensações não são meramente adicionadas e sim, reunidas e integradas em uma totalidade através do PS; d) Interação adaptativa com o ambiente, como facilitadora e enriquecedora do PS, ao mesmo tempo em que as respostas adaptativas elaboradas refletem um processamento sensorial mais complexo. Trata-se de um processo de retroalimentação nos quais ganhos e melhorias no PS são obtidos e favorecem esses processos adaptativos; e) Auto-realização (inner drive), sugerindo que a criança possui uma tendência, uma motivação intrínseca ou predisposição interiorizada para desenvolver o PS a partir de atividades sensório-motoras. Portanto, a teoria de Integração Sensorial tem como abordagem a discussão sobre o modo como o cérebro processa as sensações produzindo respostas motoras, comportamentais, emocionais e atencionais (MILLER et al., 2007), tratando-se de uma teoria sobre as relações cérebro-comportamento (BUNDY; LANE; MURRAY, 2002), assim como sobre as relações cérebro-aprendizagem (FONSECA, 2008a). 18 1.3.2 Bases Neurobiológicas do Processamento Sensorial e da Aprendizagem Conforme Miranda e Muskat (2004), a formação e elaboração das várias funções cognitivas são explicadas tanto por Piaget como por Luria por meio de um processo de ontogênese que atravessa vários estágios. No entanto, para Piaget o desenvolvimento não se refere somente à maturação do Sistema Nervoso, mas a uma “condição de possibilidades” no qual o indivíduo é capaz de responder ao meio, assimilar e estruturar novas informações. Tal desenvolvimento e estruturação das atividades mentais ocorrem em um processo contínuo, onde a execução das tarefas irá depender das conexões constantes e em evolução, bem como da atividade conjunta das diversas unidades cerebrais (MIRANDA; MUSKAT, 2004). Dessa forma, o Sistema Nervoso (SN) pode ser considerado como um ordenador, responsável pelo processamento das informações que recebe do mundo exterior e do próprio organismo, bem como pela integração e direcionamento coordenado aos órgãos efetores, responsáveis pelas respostas adequadas e necessárias à vida do indivíduo (GUARDIOLA, 1998). De acordo com o modelo proposto por Luria (1981), o córtex cerebral pode ser dividido em três unidades funcionais: a) Unidade Primária: representada pela medula, tronco cerebral, cerebelo e estruturas talâmicas, responsável pela atenção, seleção da informação sensorial, regulação e ativação, vigilância e tonicidade, facilitação e inibição, memória, além da modulação neuronal e emocional; b) Unidade Secundária: representada pelos lobos parietais (somatossensorial), occipitais (visual) e temporais (auditivo), responsável pela recepção, análise sensorial, simbolização, memória de armazenamento e integração sensorial e perceptiva. Participam desta unidade as zonas corticais primárias, as zonas corticais secundárias e as zonas corticais terciárias; c) Unidade Terciária: localizada nas regiões anteriores ao giro pré-central dos hemisférios cerebrais, composta pelo córtex motor, pré-motor e pré-frontal, responsável por programar, regular, executar e verificar a atividade mental. Para Rebollo (1991) haveria ainda uma quarta unidade funcional situada no sistema límbico, responsável pelas emoções. 19 Inicialmente todas as informações do mundo exterior e das estruturas periféricas são recebidas pelos receptores e neurônios que constituem o Sistema Nervos Periférico (SNP), sendo então conduzidas até o SNC (BUNDY; LANE; MURRAY, 2002) Por meio da atuação dos sistemas sensoriais da audição, visão, olfato, gustação, somestesia (tato, dor, temperatura e propriocepção) e vestibular essas informações são enviadas ao SNC onde ocorre o Processamento Sensorial (AYRES, 2005; MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 2008). Fonseca (2008b) ao citar Piaget (1976) refere que é a partir da experiência como ação, verificada na motricidade, que o indivíduo simultaneamente integra e incorpora o mundo exterior e o vai modificando, construindo estruturas de conhecimento. Pois através do corpo de onde emana a sensibilidade e a motricidade, e do cérebro, de onde emana a cognição, a criança sente, interage e transforma o ambiente, sendo base da construção dos comportamentos adaptativos que ilustram o desenvolvimento e a aprendizagem humana (FONSECA, 2008a). Neste sentido, a aprendizagem pode ser entendida como resultante da recepção e da troca de informações entre o meio ambiente e os diferentes centros nervosos, que se inicia a partir de um estímulo de natureza físico-química advindo do ambiente que é transformado em impulso nervoso pelos órgãos dos sentidos (ROMANELLI, 2003). Uma vez transformada em impulso nervoso, a informação sensorial é transportada através da inervação sensitiva, até o hipotálamo, o tálamo e o córtex cerebral. No hipotálamo, são ativados o Sistema Nervoso Autônomo e o motor, responsável pela forma como o indivíduo sente e se comporta (LACY; HUGHES, 2006). As informações que chegam ao tálamo são enviadas aos centros nervosos do córtex cerebral correspondente a natureza do estímulo, denominadas de “áreas primárias” ou de projeção. Em sua forma elementar e incompleta, o estímulo projetado é chamado de "sensação", não havendo conhecimento nem elaboração de significado. Uma vez transmitida para a “área secundária” ou de associação, a informação sofre a decodificação, surgindo a "percepção" com a formação de imagens sensoriais correspondentes às modalidades do estímulo, que passam a receber significados. Nas “áreas terciárias”, ou de integração, ocorre a adição e combinação de todos os aspectos do estímulo à informação, fazendo associações entre os sentidos (ROMANELLI, 2003). Ocorre também a integração ao conhecimento, à memória e às experiências prévias, nos quais as representações e reações emocionais são conduzidas pelas conexões corticais e subcorticais até as estruturas do sistema límbico (LACY; HUGHES, 2006). 20 A informação prossegue das áreas terciárias para o córtex pré-frontal, sendo então elaborado um movimento ou um comportamento. O movimento ocorre a partir de uma intenção, um planejamento elucidado no córtex pré-frontal, passando para a área pré-motora, responsável por organizar a sequência motora. Posteriormente é projetada até a área motora primária,que enviará impulsos via medula até os músculos responsáveis pela execução do movimento (ROMANELLI, 2003). Dessa forma, a partir do Processamento Sensorial as informações recebidas dos sistemas sensoriais são registradas, moduladas e discriminadas, produzindo comportamentos adaptativos em resposta ao ambiente (AYRES, 1972). Anterior à construção de conceitos, aos pensamentos e às idéias sobre o mundo, o interesse da criança está em senti-lo, manipulá-lo e mover-se nele, indicando que ao invés de conceituais, suas respostas são inicialmente motoras. Neste processo contínuo de desenvolvimento as respostas adaptativas emocionais, cognitivas e sociais tendem a se sobrepor às motoras, sendo as funções sensório-motoras denominadas como bases do desenvolvimento cognitivo (FONSECA, 2008 a). 1.3.3 Sistemas Sensoriais e o Desenvolvimento do Processamento Sensorial Em seus estudos sobre o desenvolvimento infantil, Ayres (1972) deu maior ênfase aos sistemas tátil, proprioceptivo e vestibular, por serem considerados sistemas sensoriais mais primitivos e primários, dominantes nas interações iniciais da vida da criança, além de serem dimensões ignoradas pelas áreas clínica e escolar interessadas pelo desenvolvimento infantil (PARHAM; MAILLOUX, 2005). AYRES (1972) enfatizou o papel dos estímulos vestibular, tátil e proprioceptivo, considerando sua importância para o desenvolvimento do controle postural, esquema corporal, relacionamento social, coordenação, estabilidade emocional, linguagem, dentre outros. Como produtos finais desse processamento destacam-se: a atenção, o pensamento, a memória, a especialização dos hemisférios e outros aspectos que favorecem a aprendizagem. O sistema vestibular apresenta seus receptores localizados no labirinto, órgão da orelha interna que são estimulados de acordo com a posição da cabeça em relação à gravidade e ao espaço (PARHAM; MAILLOUX, 2005). Este sistema influencia: o movimento da criança; o equilíbrio; o tônus muscular; o sistema ativador reticular, alterando os estados de 21 alerta e regulação sono-vigília; a integração bilateral, relacionado à habilidade de coordenar os dois lados do corpo, à especialização dos hemisférios cerebrais e preferência lateral; além da percepção visual e estabilidade da cabeça, mantendo-a alinhada e facilitando a coordenação óculomotora (BUNDY; LANE; MURRAY, 2002; MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 2008). Os receptores do sistema proprioceptivo estão localizados nos músculos e nas articulações e informam sobre a posição, além da amplitude e velocidade dos movimentos das partes do corpo no espaço (JONES, 2001). Este sistema pode influenciar: a praxia motora; o controle postural; o equilíbrio; a força de preensão; o controle do movimento; a coordenação espaço-temporal; e a percepção do corpo (BUNDY; LANE; MURRAY, 2002; PARHAM; MAILLOUX, 2005). Já o sistema tátil possui receptores localizados na pele responsáveis por fornecer informações que permitem a discriminação e o alerta do SNC sobre os perigos e as condições ambientais. Este sistema pode trazer influências sobre: a percepção da qualidade dos objetos (tamanho, textura, volume e outros); a percepção do corpo; e o planejamento motor, ou seja, sobre a habilidade de antecipar, organizar e coordenar movimentos de forma harmoniosa (MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 2008). Destaca-se também a importância do sistema visual que contribui para a percepção de: formas, reconhecimento de tamanho e textura; posição no espaço, percepção da posição de um objeto em relação a outro; figura-fundo, diferença entre dois planos; e sequenciamento. Além de interagir com o sistema vestibular para a noção espaço-temporal (MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 2008). Por fim, o sistema auditivo é responsável pela: percepção da localização espacial da origem do som; discriminação, diferenciando os sons; os sons de fundo; e pelo sequenciamento, habilidade e repetição do que se ouve, na ordem correta (MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 2008). Sabe-se que o Processamento Sensorial ocorre em uma sequência progressiva, desenvolvendo comportamentos complexos como resultado da presença de um aprendizado prévio. (PARHAM; MAILLOUX, 1996). O desenvolvimento do PS pode ser entendido como uma aprendizagem gradual, no qual a organização das sensações não se opera por simples maturação, mas necessita de experiências e de oportunidades que permitam a produção de respostas adaptativas (FONSECA, 2008). Experiências e oportunidades geradas pela interação dinâmica entre o 22 indivíduo e o ambiente físico e social, responsáveis pelas mudanças estruturais e funcionais no Sistema Nervoso (PARHAM; MAILLOUX, 2005). Para Ayres, o desenvolvimento da criança deve ser considerado como um processo aberto de auto-atualização, baseado na retroalimentação contínua entre a captação, Processamento Sensorial e a organização e planejamento de respostas adaptativas (BUNDY; LANE; MURRAY, 2002). Uma interação dinâmica, na qual as sensações aplicadas e utilizadas em ações se renovam em novas sensações e em novas ações, caracterizando o desenvolvimento da criança. (FONSECA, 2008a). De forma sintetizada, o desenvolvimento do Processamento Sensorial pode ser esquematizado em: a) Período gestacional e Primeiros meses de vida No útero da mãe o feto já consegue processar as informações sensoriais auditivas, vestibulares, táteis e proprioceptivas a partir da experiência de interação com o corpo materno (SPITZER; ROLEY, 2001; PARHAM; MAILLOUX, 2005). Após o nascimento, a captação das sensações pelo SNC ainda são reflexas e automáticas, passando a haver, a partir do terceiro mês, um maior controle cervical que contribui para o desenvolvimento contínuo na exploração tátil – visual e nas conexões vestibular-proprioceptiva-visual (SPITZER; ROLEY, 2001). Do sexto ao oitavo mês¸ há um maior controle da postura sentada, do rolar, do arrastar, do engatinhar e do sustentar-se na postura em pé. Ao se movimentar, a criança explora o mundo e os objetos, gerando inúmeras sensações táteis, proprioceptivas e vestibulares, desenvolvendo o esquema corporal, a percepção espacial (PARHAM; MAILLOUX, 2005) e a construção da noção do objeto (FONSECA, 2008a). Por meio de uma maior integração auditiva, tátil e proprioceptiva, inicia-se a vocalização e a lalação (PARHAM; MAILLOUX, 2005). b) Primeiro e Segundo ano de vida: A conquista da postura bípede por volta de 1 ano gera mudanças significativas em relação à gravidade, às novas explorações espaciais e às novas sensações corporais, sendo também um período de maior desenvolvimento da linguagem (FONSECA, 2008a). No segundo ano de vida, a criança aprimora seu equilíbrio, controle postural, esquema corporal, bem como a manipulação dos objetos com uma melhor discriminação das informações táteis. Inicia-se a ideação e a práxis, com importante papel no desenvolvimento do auto-conceito, sendo a criança capaz de planejar e sequenciar suas ações, enxergando-se como um agente ativo no mundo (PARHAM; MAILLOUX, 2005). 23 c) Dos três aos sete anos: A criança adquire autonomia nas atividades de higiene, de alimentação e de vestuário, aprimora a compreensão e a fala, além de se relacionar socialmente com outras crianças da mesma idade e com outros adultos (FONSECA, 2008a). Aos sete anos as funções sensório-motoras estão consolidadas como fundamentos para as habilidades intelectuais mais complexas (PARHAM; MAILLOUX, 2005). Neste período, com um controle postural desenvolvido, a criança está apta para as aprendizagens escolares, para se auto-organizar e para se concentrar (FONSECA, 2008a). Assim, conforme o Modelo de Desenvolvimento do Processamento Sensorial proposto por Ayres (1972) e esquematizado por Momo, Silvestre e Graciani (2008), as informações sensoriais e as experiências sensório-motoras são substratos para os comportamentos primáriosrelacionados aos mecanismos posturais e à maturação dos reflexos (tônus muscular, controle postural, segurança gravitacional e equilíbrio). Estes, por sua vez, favorecem os comportamentos secundários relacionados à percepção do corpo (manutenção do nível de atividade; do alerta e da atenção; a coordenação bilateral; o planejamento motor; e a estabilidade emocional). Como comportamentos finais deste processo estão a cognição e a aprendizagem acadêmica, além dos aspectos a eles relacionados (habilidade para organização e concentração; auto-estima, autoconfiança e autocontrole; capacidade para o raciocínio; e a especialização dos hemisférios). O Modelo de Desenvolvimento do Processamento Sensorial foi esquematizado a seguir, conforme a Figura 1: Figura 1. Modelo de Desenvolvimento do Processamento Sensorial (AYRES, 1972; modificado de MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 2008) Informações sensório-motoras Mecanismos posturais Percepção Aprendizagem Cognição 24 1.4 Transtornos do Processamento Sensorial 1.4.1 Definição e Nosologia Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) é a presença de uma alteração em detectar, modular, interpretar ou responder ao estímulo sensorial (MILLER et al., 2007), anteriormente descrita na literatura como Disfunção de Integração Sensorial. Trata-se de um transtorno apresentado por um grupo heterogêneo de crianças caracterizadas pelas variadas experiências de limitações na participação e realização das atividades (POLATAJKO; CANTIN, 2010). Tal condição pode trazer prejuízos associados às habilidades sociais, ao controle postural, à coordenação motora, ao uso e manuseio dos objetos, assim como ao desempenho nas atividades de vida diária (AVDs) e à imaturidade no brincar (PARHAM; MAILLOUX, 2005; WHITE et al., 2007). Pode ainda estar associada aos prejuízos nas atividades escolares (KOENIG; RUDNEY, 2010; BUNDY; LANE; MURRAY, 2002), aos problemas de atenção (MANGEOT et al., 2001; DUNN; BENNETT, 2002; WHITE et al., 2007; YOCHMAN; PARUSH; ORNOY, 2004), além de ser risco para dificuldades de aprendizagem (MAY-BENSON; KOOMAR, 2010). A prevalência do transtorno do Processamento Sensorial tem sido estimada em aproximadamente 5% a 13% das crianças nos Estados Unidos, segundo estudo baseado em amostra de crianças pré-escolares (AHN et al., 2004). Vários autores têm discutido a associação do TPS a outros diagnósticos que incluem a Síndrome de Asperger (BLAKEMORE et al., 2006; DUNN et al., 2002; PFEIFFER et al., 2005); o Autismo (WATLING; DIETZ; WHITE, 2001; MILLER et al., 2001; LISS et al., 2006); a Síndrome do X frágil (MILLER et al., 2001; BARANEK et al., 2002); o Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação - TDC (BUNDY et al., 2002; POLATAJKO; CANTIN, 2010); assim como o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade - TDAH (MILLER et al., 2001; DUNN; BENNETT, 2002; PARUSH et al., 2007). Baseados nos estudos de Ayres, várias taxonomias e subtipos de comportamentos relacionados ao TPS foram utilizadas no decorrer do tempo (DAVIES; TUCKER, 2010). Reorganizadas as definições, Miller et al. (2007) propuseram uma nova nosologia para o diagnóstico do TPS que passou a ser classificado em: Transtornos de Modulação Sensorial, Transtornos de Discriminação Sensorial e Transtornos Motores com Base Sensorial. 25 Transtornos de Modulação Sensorial são caracterizados pela dificuldade em regular grau, intensidade e natureza das respostas aos estímulos sensoriais, podendo ser classificados em: a) hiporresponsividade sensorial, com pobre reação aos estímulos relevantes do ambiente como, por exemplo, dor, movimentos ou cheiros; b) hiperresponsividade sensorial, com maior tendência a se orientar e a responder a determinados estímulos como toques, movimentos, luzes, sons, apresentando, por exemplo, respostas aversivas ou intolerância ao movimento, com reação de enjôo, mal-estar e náuseas diante de mínimos estímulos; c) busca sensorial, com procura constante de estímulos intensos, seja vestibular, proprioceptivo e outros (MILLER et al., 2007; MAGALHÃES, 2008). Como uma dimensão a ser estudada neste trabalho, a discussão sobre este transtorno será aprofundada em tópico posterior. Transtornos de Discriminação Sensorial estão relacionados às dificuldades em interpretar a qualidade ou a singularidade de cada estímulo, perceber suas diferenças e semelhanças, podendo apresentar diferentes graus de dificuldades nas diversas modalidades sensoriais como o visual, tátil, auditivo, vestibular, proprioceptivo, gustativo e olfativo (MILLER et al., 2007). Já os Transtornos Motores com Base Sensorial são caracterizados por dificuldades em integrar as informações do próprio corpo e movimentar-se de maneira eficiente no ambiente. Apresentam maior impacto motor, sendo os problemas mais comuns: a) distúrbio postural, com dificuldade em estabilizar o corpo durante o movimento ou retificar a postura quando solicitado pelo movimento; b) dispraxia, com dificuldade em idealizar, criar, iniciar, planejar, sequenciar, modificar e executar as ações (MILLER et al., 2007). Assim, de forma esquematizada, segue a classificação do TPS na Figura 1: 26 Figura 2. Classificação do TPS segundo Miller et al., (2007). Magalhães (2007) refere que muitos dos sinais motores descritos por Ayres (1972) apresentados em crianças com TPS, enquadram-se dentro dos critérios do Transtorno no Desenvolvimento da Coordenação e por sua vez, crianças com TDC podem apresentar disfunções sensoriais, como, por exemplo, o medo excessivo do movimento. Porém, embora os transtornos motores descritos por Ayres (1972) caracterizem subtipos de TDC, não há consenso sobre a relação entre TPS e o TDC, verificado nas publicações recentes a respeito da teoria de Integração Sensorial, que evitam usar o termo TDC (MAGALHÃES, 2007). Como componentes de execução do Processamento Sensorial, a Modulação é essencial para a manutenção do nível adequado de alerta, de atenção e de atividade do indivíduo às demandas do ambiente, evitando que o mesmo se distraia com os inputs irrelevantes; a Discriminação é essencial para o desenvolvimento das habilidades funcionais, incluindo os ajustes posturais e de tônus, planejamento sequencial das ações e habilidades nas funções motoras; e a Práxis é fundamental para a interação do indivíduo com o meio e com os pares, uma vez que está relacionada à capacidade de organizar, planejar e executar as ações (SPITZER; ROLEY, 2001). A avaliação do TPS pode ser realizada por meio de questionários para crianças e seus cuidadores, através dos testes normatizados das habilidades do Processamento Sensorial, assim como pelas observações clínicas (COSBEY; JOHNSTON; DUNN, 2010). Dentre os testes normatizados mais utilizados para a identificação de TPS em crianças em idade escolar encontram-se: TRANSTORNO DO PROCESSAMENTO SENSORIAL (TPS) Transtorno de Modulação Sensorial - Hiperresponsiva - Hiporresponsiva - Busca Sensorial Transtorno de Discriminação Sensorial - Diversos sistemas sensoriais Transtornos Motores de Base Sensorial - Distúrbio Postural - Dispraxias 27 - O DeGangi Berk Test of Sensory Integration (DEGANGI; BERK, 1983), teste voltado à avaliação de pré-escolares em suas funções motoras e posturais com base sensoriais; - O Sensory Integration and Praxis Tests (SIPT), bateria de testes considerada “padrão ouro”, utilizada para mensurar o desempenho e diagnosticar o TPS, podendo ser aplicado somente por profissionais treinados e certificados na administração e interpretação de seus resultados (AYRES, 1989, 1998); - O Sensory Processing Measure (SPM), escala de avaliação voltada às respostas do Processamento Sensorial, ao planejamento e ideação, além da participação social da criança em casa e na escola, baseada nas informações dos pais e educadores (MILLER-KUHANECK
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