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Cultura Brasileira
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. João Elias Nery
Revisão Técnica
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Cultura e Culturas no Brasil
• Introdução
• Cultura(s) Brasileira(s);
• Culturas: resistência e submissão.
 · Discutir algumas concepções sobre a(s) cultura(s) brasileira(s).
 · Tratar de algumas teorias sobre sociedade e cultura. Definir cultura 
de massa.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Cultura e Culturas no Brasil
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil
Introdução
Nesta unidade, trataremos da cultura brasileira, já extensamente estudada por 
antropólogos, sociólogos, geógrafos e pesquisadores de áreas afins. Para nós, é 
importante ressaltar o vínculo entre cultura e comunicação, algo já explorado por 
praticamente todas as correntes teóricas do campo da comunicação, com destaque 
para os chamados Estudos Culturais de origem britânica e com fortes influências 
em diversas regiões e países, inclusive o Brasil.
Dessa forma, daremos ênfase à relação entre cultura de massa, política e meios 
de comunicação. 
Introdução à Cultura
Olhe à sua volta: objetos, pessoas, representações, imagens e sons; olhe para 
você e para as pessoas: roupas, adereços, formas e cores. Procure na sua história 
de vida e na das pessoas que têm alguma importância para você. Em todas essas 
situações, a cultura se fará presente, como objeto, valores e memória. 
O mundo trata melhor quem se veste bem, diz a propaganda. Trata? E o que é 
estar bem vestido? O que define isto? Os valores, a cultura, diríamos nós.
Pensando no ambiente no qual esta disciplina ocorre, é importante verificarmos 
o quanto as novas tecnologias da comunicação e da informação interferem em 
nossa percepção da realidade, criando novos significados para o campo da cultura. 
Se escrevêssemos a palavra cultura em sites de busca, poderíamos ficar a vida 
inteira lendo/vendo coisas que tratam dos mais diferentes aspectos do que seria 
cultura. Se acrescentássemos brasileira, restringiríamos um pouco mais o campo; 
porém, ele continuaria suficientemente amplo para ocupar o tempo que não temos. 
O tempo não para e a cultura vai se alterando ao longo do tempo, influenciada 
pela família, escola, religião, pelos amigos e meios de comunicação e informação 
etc., que, ao mesmo tempo, influenciam e são influenciados pela cultura. 
O Brasil é um país onde existem muitas raças e culturas, no qual houve também 
grande processo de miscigenação, ou seja, os diversos grupos que vieram para o 
Brasil, em menor ou maior grau, foram se mesclando num processo de relações 
inter-raciais e culturais entre homens e mulheres, que ocasionaram diferentes 
características físicas e culturais ao povo brasileiro.
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Figura 1 - Raças e Culturas Brasileiras
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
A cultura brasileira foi sendo produzida ao longo da história, mas vamos dar 
ênfase ao período mais recente, a partir do século XX. 
Cultura(s) Brasileira(s)
Comecemos pelo termo cultura brasileira – aliás, esta já é uma característica do 
que estamos tratando: é preciso dar nome às coisas, aos objetos, às ideias e às pessoas. 
Temos a junção de dois campos – o da cultura e o do Brasil –, podemos então 
definir cultura como hábitos, obras, objetos e, posteriormente, reduzir isso ao que 
é brasileiro.
Haveria, portanto, a cultura, algo que diferencia os humanos das demais espécies. 
Em seguida, essa definição aplicar-se-ia ao povo brasileiro, com cultura específica 
que, além de diferenciá-lo de outras espécies, também o diferenciaria em relação 
a outros povos. 
Assim, aparentemente estamos em condições de iniciar nosso percurso: a cultura 
é expressão humana em valores e objetos que ligam uma geração a outra pela 
presença de elementos do passado nas relações do presente. A cultura brasileira, a 
partir desse viés, é composta pelos valores e objetos que a sociedade produziu ao 
longo dos séculos de existência do país.
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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil
Observamos sem dificuldades que a definição no item anterior é insuficiente para 
tratar do tema. Podemos levantar uma série de questões não respondidas por ela: 
 » Existe apenas uma cultura no Brasil?; 
 » Há alguma distinção entre as culturas regionais e a nacional?;
 » Outros fatores devem ser considerados para que a cultura brasileira congregue 
todas as representações materiais e simbólicas do povo brasileiro?
Seguindo a formulação do pesquisador brasileiro Bosi (1992), consideremos 
algumas possibilidades e façamos nossa opção metodológica. 
Procurando estabelecer outros elos para o nosso tema, podemos afirmar que a 
cultura brasileira expressa a necessidade de identificar particularidades na cultura 
de um país, diferenciando-a da de outros países. 
A cultura é o que une um determinado povo e o diferencia de outros povos. 
A língua, nesse aspecto, é o primeiro elemento de identificação e por isso há o 
esforço em homogeneizar a língua culta, com regras rígidas seguidas em toda parte. 
Figura 2 - A Língua Portuguesa 
Fonte: conexaolusofona.org
A liberdade fica por conta dos modos de expressão locais e regionais, que 
tornam o país um ambiente feito de oralidades calcadas nas histórias desses lugares, 
formados em diferentes épocas, por diferentes raças e etnias.
A partir dessas análises, verificamos a possibilidade de considerar, pela extensão 
territorial e diferenças regionais, a existência de culturas brasileiras marcadas pela 
diversidade nos modos de ser e de viver dos habitantes de tais regiões. 
Como explica Bosi, não dá para pensar em uma só cultura brasileira, tampouco 
devemos usar generalizações do tipo cultura branca, cultura negra, como explica o autor :
A tradição da nossa Antropologia Cultural já fazia uma repartição do 
Brasil em culturas aplicando-lhes um critério racial: cultura indígena, 
cultura negra, cultura branca, culturas mestiças. Uma obra excelente, e 
ainda hoje útil como informação e método, a Introdução à antropologia 
brasileira, de Arthur Ramos, terminada em 1943, divide-se em capítulos 
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sistemáticos sobre as culturas não europeias (culturas indígenas, culturas 
negras, tudono plural) e culturas europeias (culturas portuguesa, italiana, 
alemã...), fechando-se pelo exame dos contatos raciais e culturais. Os 
critérios podem e devem mudar. Pode-se passar da raça para nação, e 
da nação para a classe social (cultura do rico, cultura do pobre, cultura 
burguesa, cultura operária), mas, de qualquer modo, o reconhecimento do 
plural é essencial (BOSI, 1992, p. 308). 
Essa é uma opção que encontra respaldo na realidade que vemos e vivemos. 
Não há como não perceber diferentes ritmos na música e na dança; percebemos 
também grande diversidade de hábitos alimentares, modos de falar e de se relacionar 
dos brasileiros espalhados por um território tão grande quanto heterogêneo no que 
se refere a clima e condições para a organização social. 
E nem é preciso ir muito longe, pois dentro de um mesmo estado há grandes 
diferenças, principalmente entre os cidadãos da capital e os do interior do país. 
Muitas vezes há mais semelhanças entre habitantes de grandes cidades de diferentes 
regiões que entre esses e os interioranos, que mantêm hábitos e modos de viver 
tradicionais, abandonados por aqueles que vivem nas metrópoles, que cada vez 
mais assimilam valores globais.
A cultura de massa cria alguns estereótipos e inventa características “brasileiras” 
ao apresentar determinados produtos e manifestações como “nacionais”, o que 
pode criar falsas identidades “nacionais”. 
Nessas construções, o Carnaval, o futebol e o samba, entre outras manifestações, 
seriam nacionais. 
Figura 3 - O Carnaval Brasileiro
Fonte: conexaolusofona.org
Seriam nacionais ou são? 
O que vemos/vivemos não é bem isso, pois, se é verdade que tais manifestações 
são importantes para os meios de comunicação de massa e têm relevância, além 
de cultural, política e econômica, não há homogeneidade em suas representações e 
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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil
presença na vida das pessoas. O que vemos na televisão não resume as expressões 
locais e regionais, apresentando apenas as manifestações de maior apelo de 
público, capazes de atrair a audiência.
O Carnaval, por exemplo, veiculado em redes nacionais de TV como grande 
espetáculo revela diferenças significativas. Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e 
Recife, os mais explorados, mostram ritmos, organizações e formas de participação 
do público bastante diversos.
Isso se presta a diversos usos, entre os quais destacamos o viés ideológico de tais 
construções acerca da cultura e sua relação com o conceito de nação. 
Em um país marcado por desigualdades étnicas, raciais, linguísticas e sociais, 
desde a colonização, procuramos elementos de brasilidade, aspectos que nos unam 
e que, frente ao espelho, afirmem-nos brasileiros.
Da possibilidade de identificarmos culturas regionais, passamos às considerações 
sobre a diversidade étnica e racial e o processo de miscigenação que, para muitos, 
é a característica mais significativa na formação do nosso povo. 
Aqui também é possível observar práticas culturais identificadas com raças e 
etnias, que remeteriam às origens africanas, europeias e asiáticas, que se somariam 
às dos indígenas que habitavam a terra brasilis. 
Deveríamos, então, observar a existência de culturas indígenas, africanas, 
europeias, asiáticas e suas derivações no contexto brasileiro e também das mesclas 
que ocorreram entre essas ao longo da história brasileira. 
Essa proposição também teve ampla aceitação entre nós, pois reconhece a 
formação do país a partir da origem de seus habitantes, indicando a relevância 
dessa na formação cultural dos brasileiros. Tal formulação, porém, recebeu muitas 
críticas por definir padrões culturais a partir de concepções racistas ou elitistas. A 
partir do critério raça ou etnia, tendeu-se a considerar as culturas europeias padrão 
sofisticado, que atendiam aos anseios das elites brancas e, em contraposição, 
o universo cultural indígena e africano como as referências para o povo pobre, 
caracterizado pela miscigenação. 
Etnia: Trata-se de um termo que deriva de ethos, palavra grega, e pode ser definido 
como um grupo biológico e culturalmente mais homogêneo, que tem o mesmo ethos, 
ou seja, costumes, religião, crenças, língua, hábitos, entre outras características comuns., 
partilhando alguns costumes, tradições, técnicas, comportamentos em comum. 
Tal termo não é sinônimo de raça, já que raça é relacionada exclusivamente ao sentido 
biológico, da cor da pele, dos traços físicos (do cabelo, do nariz, das formas físicas etc.), 
sendo um componente do biótipo humano. 
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A oposição entre raças e etnias revelaria preconceitos embutidos em certa 
admiração pela capacidade criativa da população pobre, fruto da miscigenação 
e, ao mesmo tempo, certo repúdio por suas formas de expressão populares, 
identificadas com ausência de cultura. 
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Como veremos, tal formulação permanece como entrave à compreensão das 
culturas brasileiras ao reforçar estereótipos e contribuir para visões distorcidas de 
nossa realidade cotidiana.
Temos de considerar, ainda, as diferenças socioeconômicas e das classes sociais. 
Seguindo essa linha de pensamento, seria possível identificar a cultura do rico e 
a cultura do pobre, sendo o status socioeconômico que definiria cultura. Para os 
ricos, a cultura erudita, alta cultura; para os pobres, a cultura popular. 
Mesmo a tradição marxista de brasileiros que estudaram a realidade do país a 
partir do conceito de sociedade de classes – burguesia e proletariado – acabou por 
reconhecer a impossibilidade de uma separação tão rígida no campo da cultura, 
vez que nele há manifestações de tal maneira heterogêneas que se torna necessário 
incluir nos estudos outros fatores, para além da classe social. 
Isso ocorre, principalmente, a partir do século XX, com a formação de metrópoles 
nas quais padrões culturais e de relacionamento social foram substancialmente 
alterados e manifestações de uma classe apropriadas por outra e culturas estrangeiras 
adaptadas às realidades locais, caracterizando o que Oswald de Andrade definiria 
como antropofagia.
Figura 4 - Abaporu, de Tarsila do Amaral
Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil
Importante!
O que é Antropofagia na Arte?
No dia 11 de janeiro de 1928, a pintora Tarsila do Amaral oferece a Oswald de Andrade 
(1890-1954), como presente de aniversário, uma de suas recentes pinturas, sem sab-
er que ela viria a ser a propulsora de uma das mais originais formulações teóricas 
sobre a natureza específica da arte moderna brasileira. [...] Oswald de Andrade foi 
indagado por seu amigo e escritor Raul Bopp (1898-1984), que o acompanhava na 
observação: “Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?”. Abaporu, de 
1928, que em tupi-guarani significa “antropófago”, foi o nome escolhido para aquela 
figura selvagem e solitária.
Funda-se em seguida o Clube de Antropofagia, juntamente com a Revista de 
Antropofagia, em que é publicado o Manifesto Antropófago [...] Com frases de 
impacto, o texto reelabora o conceito eurocêntrico e negativo de antropofagia como 
metáfora de um processo crítico de formação da cultura brasileira. Se para o europeu 
civilizado o homem americano era selvagem, ou seja, inferior, porque praticava o 
canibalismo, na visão positiva e inovadora de Andrade, exatamente nossa índole canibal 
permitira, na esfera da cultura, a assimilação crítica das ideias e modelos europeus. 
Como antropófagos, somos capazes de deglutir as formas importadas para produzir algo 
genuinamente nacional, sem cair na antiga relação modelo/cópia, que dominou uma 
parcela da arte do período colonial e a arte brasileira acadêmica do século XIX e XX [...].
Fonte: Texto literal extraído de Itaú Cultural.
Fonte: https://goo.gl/V70Wym
Você Sabia?
Nossa argumentação indica a existência de diferentes critérios, sem definir um 
como correto. Na verdade, existe sim a necessidade de reconhecermos a plura-
lidade como critério para a compreensão da diversidade das expressões culturais 
do povo brasileiro.Culturas: Resistência e Submissão
Bem, até aqui expusemos algumas possibilidades para a definição da cultura bra-
sileira, seus aspectos positivos e negativos. Entendemos que estamos em condições 
de fazer nossa opção. 
Seguindo a definição de Bosi (1992, p. 356), reconhecemos a existência no 
Brasil de duas culturas “fundadoras”: a erudita e a popular. São resultantes da ação 
de brasileiros ricos e pobres, de diversas etnias e raças, considerando, ainda, a 
heterogeneidade que caracteriza as regiões que formam o país. 
Nessa concepção, é essencial reconhecer a pluralidade de expressões e, ao 
mesmo tempo, verificar a existência de processos que possibilitariam termos, 
valores e objetos criados e mantidos ao longo de nossa história, responsáveis por 
garantir a formação de identidades culturais suficientemente estabelecidas e capazes 
de manter os laços sociais. 
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Para usar expressões do autor citado anteriormente, as culturas brasileiras 
conformam uma situação em que vivemos o “plural, mas não caótico”. 
Para o observador crítico, é preciso não confundir diversidade com desorga-
nização. Ao longo de sua curta trajetória, o Brasil construiu significativas formas 
de organização, valores e objetos que o projetam como referência na constituição 
de um país a partir das diferentes culturas trazidas por aqueles que vieram de ou-
tros continentes e os que aqui estavam, em meio às enormes dificuldades típicas 
de uma nação construída pela força utilizada para subjugar ou eliminar culturas e 
expressões originais. 
O intenso convívio entre pessoas com histórias tão diversas, em situações sociais, 
culturais e políticas determinadas, possibilitou a formação dessas culturas iniciais. 
Não há como apagar as marcas da imposição de modelos, como, por exemplo, 
no campo da religiosidade; porém, é possível observar a resistência de amplos 
segmentos e a permanência de objetos e valores alheios ao que foi imposto pelas 
classes dominantes.
Além disso, é intensa a convivência entre cultura erudita e cultura popular, na 
medida em que temas, práticas e valores migram de uma para a outra na dinâmica da 
sociedade de classes. Isso acaba por produzir movimentos de aceitação e de recusa, 
levando a situações novas que, dialeticamente, alimentam tanto uma quanto outra. 
Mais uma vez é preciso manter a capacidade crítica para não compactuar com 
posições racistas ou elitistas de um lado, ou ingênuas, de outro. 
Entendemos a cultura como um campo de disputas e de produção simbólica de 
grande significado para um país e, como tal, marcado pela presença de projetos e 
análises conflitantes.
O Século XX, caracterizado, entre outros aspectos, por seu extraordinário de-
senvolvimento tecnológico, faria surgir no campo cultural uma inovação significa-
tiva: a cultura de massas. Saudada pelos “integrados” e veementemente recusada 
pelos “apocalípticos” – conforme Umberto Eco (1972) –, tal cultura viria a alterar 
as relações culturais no Brasil e no mundo.
Essa “nova” cultura produziria acirrados debates no âmbito acadêmico, incluindo 
os estudos sobre comunicação e cultura. Nele destacam-se alguns posicionamentos 
hoje consolidados: a interpretação elitista, para a qual cultura é apenas a arte 
produzida nos padrões estéticos estabelecidos pelas classes dominantes, o que leva 
à conclusão de que o povo não teria cultura. Tal concepção alimenta confusões 
entre cultura e escolaridade, por exemplo. 
No campo da comunicação, os estudos norte-americanos, com destaque para 
o Funcionalismo, inclinam-se a conceber a cultura dessa forma, o que tende a 
levar os trabalhos realizados a enaltecer a cultura de massas, que seria a primeira 
possibilidade na História de uma cultura verdadeiramente democrática. Para as 
maiorias “sem cultura”, a cultura de massas significaria a oportunidade de acesso 
aos bens culturais antes restritos às elites. 
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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil
Importante ressaltar que não existe ninguém que não tenha cultura, mas, para 
alguns, a cultura é só da elite, sendo que os demais são considerados “sem cultura”. 
No campo oposto, há a Escola de Frankfurt, corrente teórica desenvolvida 
na Europa nas primeiras décadas do Século XX, que vê a cultura de massas como 
fim das culturas erudita e popular, em função da transformação da cultura em 
mercadoria. Observando a ascensão do totalitarismo na Europa, os autores ligados 
a essa corrente concluíram que a cultura de massa seria um instrumento ideológico 
sem precedentes e que seu uso pelas classes dominantes consolidaria um sistema 
capaz de manipular as massas. Daí criaram o termo de indústria cultural.
Figura 5 - Indústria Cultural (TV e Cinema)
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
A Escola de Frankfurt era formada por um grupo de pensadores sociais alemães, 
que no início do século XX criaram uma teoria crítica da sociedade. O grupo era 
formado principalmente por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse 
e Walter Benjamim.
Para esses autores, a ciência não era neutra e havia uma massificação, realizada 
principalmente pela indústria cultural, que ampliava a alienação do homem, 
influenciando a sociedade e a cultura.
O que é indústria cultural?
A indústria cultural é um termo cunhado em 1947 por Adorno e Horkheimer para designar 
a transformação em mercadoria de bens culturais da sociedade contemporânea – caso 
do cinema, das artes, da fotografia, da televisão, das mídias, dos valores culturais –, que 
passaram a ser mercadorias e existem como parte do processo de uso cultural mercadológico. 
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Também na Europa e, posteriormente, em diversos países de outros continentes, 
os estudos culturais desenvolvem análises nas quais reconhecem as culturas erudita 
e popular, como os Frankfurtianos, porém, contrariamente a esses, não aceita 
que o surgimento da cultura de massas signifique o fim das outras culturas – pelo 
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contrário, estabeleceria uma relação de exploração dessas, que continuariam sua 
trajetória tendo a cultura de massa como um novo elemento da realidade. 
No Brasil, tais correntes teóricas do campo das comunicações tiveram e têm 
grande repercussão. Sem desconsiderar as demais, verificamos que os Estudos 
Culturais têm proporcionado amplas possibilidades de análise das culturas brasileiras 
ao examinar as relações tensas entre erudita, popular e de massas. Dois conceitos 
discutidos por Bosi (1992) são bastante ilustrativos de tais contribuições: o Mundo 
do Receituário e o Duplo Vampirismo.
A transformação da cultura crítica em fórmula pronta a ser assimilada pelo 
sistema é o que caracteriza o Mundo do Receituário apresentado pelo autor. Seria 
a passagem, na cultura erudita, do conhecimento obtido na educação formal para 
as práticas de mercado. 
Em toda parte, fórmulas prontas substituiriam a busca criativa e crítica aos 
desafios apresentados nas diversas carreiras para as quais o ensino superior prepara 
jovens privilegiados. 
A todos restaria reproduzir o sistema existente, sem questionamentos. Como 
aponta o autor e também podemos verificar, tal situação ocorre nos diversos 
campos de atuação; porém, a passagem da cultura crítica para a aceitação dos 
valores dominantes não ocorre de maneira tranquila, mas sim produz tensões que 
podem levar a rupturas, mesmo que parciais.
Já a ideia de Duplo Vampirismo procura definir a cultura de massas como 
segmento sem vida própria, que precisaria alimentar-se, vampirescamente, das 
culturas erudita e popular. 
O duplo movimento ocorre pelo uso das formas e criações dessas culturas e 
pela devolução da “nova” cultura como mercadoria a ser comprada e usufruída 
por todos, de maneira segmentada, levando em conta as diferenças de gosto, 
capacidades econômicas e de decodificação.
Finalizando esta Unidade acerca das culturas brasileiras, apresentamos alguns 
aspectos fundamentais delas:
1. É preciso reconhecer a existências de culturas, no plural, como parte 
do processo de constituição de uma sociedade heterogênea. Para essa 
caracterização,podem-se utilizar critérios socioeconômicos, raciais, étnicos;
2. A opção metodológica aqui adotada segue parcialmente a formulação de 
Alfredo Bosi (1992), identificando duas culturas brasileiras – erudita e popular 
– como expressões de brasileiros ricos e pobres ao longo da formação e vida 
nacional. A partir do Século XX, principalmente da segunda metade, uma 
terceira cultura viria a se somar às demais: a cultura de massa;
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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil
3. Cultura e Comunicação são campos que se inter-relacionam desde sempre; 
porém, isso ganhou importância com o surgimento dos meios de comunicação 
de massa e da cultura de massa;
4. Diferentes teorizações buscam explicar as relações entre cultura e 
comunicação, sem haver uma verdade estabelecida, o que gera diferentes 
interpretações – que incluem otimismo e total aderência à cultura disseminada 
pelos meios de comunicação de massa e, em situação oposta, total recusa a 
essa cultura, que teria transformado a cultura em mercadoria.
O tema cultura brasileira tem atraído o interesse de pesquisadores de áreas 
diversas. Para estudiosos e profissionais da comunicação, é fundamental participar 
dos debates e contribuir para melhor compreendermos o papel da cultura na 
sociedade brasileira.
Ressalta-se que não existe uma única cultura brasileira, sendo essa multicultural, 
multifacetada, diversa.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Cultura Brasileira: Temas e Situações
BOSI, A. Cultura brasileira: temas e situações. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008. 
Cultura e Diversidade
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Cultura e diversidade. Curitiba: Intersaberes, 2012. 
 Vídeos
Parque Nacional do Xingu - Documentário
SALDANHA, Paula. Parque do Xingu. Documentário. Série Expedições. Produção RW Cine, 25min28.
https://goo.gl/ZLR91U
 Leitura
Brasil: 500 Anos de Povoamento
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasil: 500 anos de povoamen-
to. IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Rio de Janeiro: IBGE, 2007
https://goo.gl/cy5ZVH
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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil
Referências
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
ECO, U. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Pioneira, 1972.
20
	Cultura e Culturas no Brasil
	Introdução
	Introdução à Cultura
	Cultura(s) Brasileira(s)
	O que é Antropofagia na Arte?
	Culturas: Resistência e Submissão

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