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GESTÃO DE OBRAS Júlia Hein Mazutti Riscos na gestão de obras Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Elaborar matriz de riscos e de controles financeiros. � Interpretar as leis de trabalho e as relações de trabalho terceirizadas com suas características e seus cuidados. � Reconhecer a importância do controle de alterações de projetos (As Built). Introdução O setor de construção civil é amplo e está exposto a riscos dos mais diver- sos tipos. Compreender quais riscos estão em jogo e saber remediá-los, antes mesmo que eles se concretizem, pode salvar o gestor de vários problemas que comprometeriam muito o andamento das atividades. Deve-se dar atenção especial aos riscos quanto a contratos e leis de trabalho e também quanto ao controle de alterações de projetos, um problema comum em obras, em que os projetos são muitas vezes alte- rados e possuem diversas versões. Neste capítulo, você vai compreender melhor os riscos na gestão e a controlá-los, vendo como se pode realizar uma matriz de riscos em quatro etapas: identificação, análise, resposta e monitoramento. Também vai aprender mais sobre as leis de trabalho, sobre a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e sobre a terceirização de serviços na construção civil. Por fim, vai ver como é importante realizar o controle das alterações de projeto, garantindo que se trabalha com um projeto atualizado, e também o que é e como realizar o As Built de uma obra. Matriz de riscos e de controles financeiros A gestão de obras de construção civil está submetida a diversos riscos, como riscos de segurança no canteiro de obras, riscos financeiros, riscos técnicos, entre muitos outros. Você já se perguntou como estimar tantos riscos e saber quais são os que mais podem impactar a obra? Para isso, existe o gerenciamento de riscos e a criação da matriz de riscos da obra. Primeiramente, você deve entender o que é risco, que, segundo Mattos (2016), é um evento que pode ocorrer tanto em forma de ameaça quanto de oportunidade. Ou seja, caso o risco se concretize, ele influenciará a obra negativamente ou positivamente. É claro que, na avaliação dos riscos de uma obra, somente os riscos negativos são avaliados, e de maneira conservadora. Por exemplo, se a previsão do tempo diz que vai chover 5 dias na semana seguinte, mas talvez chova somente 3 dias, é melhor elaborar o cronograma com base em chuva nos 5 dias. O gerenciamento de riscos passa por 4 etapas principais, conforme Mattos (2016). Inicia-se pela identificação dos riscos, em que se elabora uma lista dos riscos aos quais a obra está submetida e se faz a sua categorização. Em seguida, os riscos são analisados listados qualitativamente ou quantitativa- mente, dependendo do método desejado, estabelecendo-se a probabilidade e o impacto de cada risco. Prossegue-se com a resposta aos riscos, identificando- -se medidas corretivas e preventivas. Por fim, os riscos são monitorados, atualizando-se a lista de riscos iniciais conforme o que foi aprendido durante a obra. Um esquema das principais etapas é apresentado na Figura 1 e, na sequência, você verá em detalhe cada uma dessas etapas. Figura 1. Etapas da gestão de riscos. Fonte: Mattos (2016, documento on-line). Identi�cação Análise Resposta Monitoramento • Categorias • Lista de riscos • Qualitativa • Quantitativa • Medidas corretivas • Medidas preventivas • Atualização da lista • Lições aprendidas Riscos na gestão de obras2 A etapa de identificação de riscos deve ser realizada envolvendo toda a equipe e os diferentes setores da obra, uma vez que cada pessoa e cada setor tem uma visão diferente sobre os possíveis riscos aos quais a obra está subme- tida. Deve-se, além disso, estabelecer a consequência de cada risco. Segundo Mattos (2016), o risco deve impactar alguma dimensão do projeto, podendo ser: custo, tempo, qualidade ou escopo. Uma maneira eficaz é identificar os riscos é estabelecer categorias, pois, assim, o pensamento é direcionado para cada uma das categorias. Veja, no Quadro 1, uma possível lista de riscos e suas respectivas categorias. Categoria Risco Consequência Técnico Projeto executivo inexistente Alterações de campo, inconsistências Escopo mal definido Aumento de escopo, necessidade de prazo adicional Tecnologia complexa Retrabalho, baixa produtividade Interferências com outras empresas Paralisações, conflitos Produtividades abaixo das orçadas Necessidade de hora extra, custo adicional Baixa qualidade dos operários Alta rotatividade, baixo espírito de equipe Comercial Subempreiteiros desconhecidos Produtividade baixa, atrasos Subempreiteiros financeiramente frágeis Falência, abandono da obra Atraso no pagamento de medições Necessidade de maior capital de giro Contratos mal elaborados Pleitos de fornecedores e subcontratados Financeiro Dificuldade de obter empréstimo Necessidade de maior capital de giro Flutuação de preço de insumos Aumento do custo da obra Variação cambial Aumento do custo da obra Quadro 1. Categorias e lista de riscos (Continua) 3Riscos na gestão de obras Fonte: Adaptado de Mattos (2016). Categoria Risco Consequência Gerencial Falta de processos Informalidade, ineficiência, conflitos Papéis e responsabilidades mal definidos Responsabilidades difusas ou conflitantes Ausência de indicadores Subjetividade, desempenho mal monitorado Quadro 1. Categorias e lista de riscos Muito cuidado para não confundir risco e consequência. O risco não é o “retrabalho”, e sim a “utilização de tecnologias complexas”. Ou seja, o “retrabalho” é uma consequência do risco de se utilizar tecnologias complexas. Após a identificação dos riscos, parte-se para a parte de análise de riscos. Uma maneira comum de analisar os riscos é por meio da matriz de probabi- lidade e impacto. Assim, analisa-se cada risco em relação a dois aspectos: o impacto na obra e a probabilidade de ele acontecer. O objetivo da análise é avaliar a severidade de cada risco para o empreendimento. Um furacão teria um grande impacto na obra, mas a probabilidade de ele acontecer pode ser tão baixa que não seja necessário tomar providências quanto a esse risco. Para realizar essa análise, Mattos (2016) aconselha a utilização de critérios objetivos e não arbitrários, como apresentado no Quadro 2. Estabelecendo o impacto e a probabilidade da ocorrência, pode-se, final- mente, classificar os riscos a partir da matriz de probabilidade e impacto, presente na Figura 2. Com isso, cada risco da obra pode ser avaliado conforme sua severidade: baixo risco, médio risco e alto risco. Isso ajuda o gestor a saber quais riscos ele deve priorizar e com quais deve preocupar-se mais. (Continuação) Riscos na gestão de obras4 Fonte: Adaptado de Mattos (2016). Aspecto Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Custo Aumento de custo não significativo Aumento de custo < 10% Aumento 10%–20% Aumento 20%–40% Aumento > 40% Tempo Aumento de tempo não significativo Aumento de tempo < 5% Aumento 5%–10% Aumento 10%–20% Aumento > 20% Escopo Impacto quase imperceptível Impacto em áreas menos importantes Impacto em áreas importantes Redução inaceitável para o cliente Escopo sem utilidade Qualidade Impacto quase imperceptível Impacto em aplicações menos críticas Redução exige aprovação do cliente Redução inaceitável para o cliente Produto final sem utilidade Quadro 2. Avaliação de impacto Figura 2. Matriz de probabilidade e impacto. Fonte: Mattos (2016, documento on-line). médio altobaixo alto alto alto alto altomédio médio médio médio médiomédio médio baixo baixo baixo baixo baixo 80% 60% 40% 20% Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Pr ob ab ili da de Impacto 5Riscos na gestão de obras A resposta aos riscos é a próxima etapa, na qual são definidas as medidas mais eficientes a serem tomadas em relação a cada risco conforme sua seve- ridade. Mattos(2016) divide a tomada de respostas visando quatro resultados conforme a avaliação do gestor: � Eliminar o risco — faz o risco desaparecer da lista de riscos. Por exemplo, pode-se eliminar o risco de taxas de importação comprando somente produtos nacionais. � Mitigar o risco — atenua o risco, reduzindo sua probabilidade de acontecer, de maneira que passe para uma categoria de menor seve- ridade. Por exemplo, para reduzir o risco de retrabalho na obra por utilização de tecnologias complexas, pode-se investir no treinamento dos operários. � Transferir o risco — baseia-se em passar a responsabilidade do risco para outra pessoa ou organização. Um exemplo comum da transferência de riscos é a contratação de seguros. � Aceitar o risco — consiste em esperar o risco se concretizar para, então, tomar alguma atitude. Por exemplo, pode-se não alugar um gerador reserva para a obra e esperar para tomar alguma providência ou até mesmo comprar o gerador caso a obra fique sem energia. Por fim, deve-se monitorar os riscos. Para isso, deve-se avaliar as etapas de gerenciamento de riscos continuamente com o avanço da obra, pois todos os projetos são mutáveis. Os riscos podem sair da lista inicial, novos podem ser incluídos ou a severidade de cada um pode ser alterada. Com a execução de cada uma das quatro etapas, a matriz de riscos da obra pode ser realizada, listando os riscos da obra, sua consequência, severidade e respostas. A matriz de riscos aumenta o controle do planejamento e o controle financeiro da obra por prever os perigos aos quais a obra está submetida e esta- belecer medidas que diminuem a probabilidade da ocorrência de imprevistos. Os imprevistos geram descontrole da situação e necessidade de tomada de decisões de maneira rápida e inesperada; por isso, o gerenciamento de riscos é essencial em toda obra. Riscos na gestão de obras6 Leis de trabalho e relações de trabalho terceirizadas Uma obra envolve a contratação de diversos tipos de serviços de mão de obra, materiais e equipamentos. Você sabe como a empresa pode contratar seus trabalhadores, fornecedores ou empresas terceirizadas e quais são as principais leis que regulam essa prática? Para compreender essa questão, é importante saber o que é a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), regida pela Lei nº. 5452/43, e a Lei nº. 13429/17, de terceirização dos serviços. Primeiramente, deve-se entender a diferença entre a CLT e o Código Civil. Basicamente, eles regulam a relação de diretos e deveres entre trabalhador e empregador. Dentro dessa relação, podem ser verificados vários tipos de contratos. A relação de trabalho regida pela CLT exige o registro do contrato na carteira de trabalho do trabalhador e a inscrição junto ao Instituto Social de Seguridade Social (INSS) (previdência social), enquanto o Código Civil rege relações privadas que exigem direitos e deveres e obrigações de ambas as partes e regula as contratações de direito privado, como contratos de em- preitada, terceirização e prestação de serviços. A terceirização ainda possui uma legislação específica, regulamentada no início de 2017. Existem diversas categorias determinadas pelo regime de contratação CLT. Veja, no Quadro 3, como Dutra (2018) classificou os diferentes tipos de contratos possíveis. 7Riscos na gestão de obras Ti po Su bd iv is õe s 1. P or te m po in de te rm in ad o É o m ai s u til iz ad o na co ns tr uç ão c iv il. O tr ab al ha do r s ab e qu an do in ic ia rá o s s er vi ço s, m as nã o qu an do a ca ba rá . 1.1 . C on tr at o in te gr al Jo rn ad a in te gr al d e 44 h or as s em an ai s. 1. 2. C on tr at o pa rc ia l Jo rn ad a: m áx im o 30 h or as s em an ai s ( se m p os sib ili da de de h or as su pl em en ta re s); 26 h or as s em an ai s m ai s p os sib ili da de d e 6 ho ra s s em an ai s s up le m en ta re s. Sa lá rio : p ro po rc io na l a o co nt ra to d e te m po in te gr al . 2. P or te m po de te rm in ad o D ur aç ão m áx im a de 2 a no s, pr or ro gá ve l s om en te u m a ve z. Co nt ra to p ar a at iv id ad es d e ca rá te r t ra ns itó rio e e xc ep ci on al . 2. 2. C on tr at o po r o br a ce rt a Co nt ra to p ar a se rv iç os e sp ec ífi co s. En ce rr a- se a ss im q ue o s er vi ço é fi na liz ad o. 2. 3. C on tr at o de ex pe riê nc ia M áx im o 90 d ia s ( in cl ui nd o um a pr or ro ga çã o) . Ex ce de r 9 0 di as : d ev e se r c on sid er ad o co nt ra to p or p ra zo in de te rm in ad o. 2. 4. C on tr at o de tr ab al ho te m po rá rio Em pr es a pr es ta do ra d e se rv iç os (t er ce iri za da *) fo rn ec e se rv iç os te m po rá rio s p ar a su bs tit ui çã o tr an sit ór ia de p es so al o u de m an da c om pl em en ta r. M áx im o 18 0 di as , p ro rro gá ve is po r m ai s 9 0 di as . D oi s c on tr at os : e nt re tr ab al ha do r e e m pr es a de tr ab al ho te m po rá rio , e o ut ro e nt re e m pr es a de tr ab al ho te m po rá rio e e m pr es a to m ad or a do s er vi ço . Q ua dr o 3. T ip os d e co nt ra to s r eg id os p el a Co ns ol id aç ão d as L ei s d o Tr ab al ho (C LT ) (C on tin ua ) Riscos na gestão de obras8 Fo nt e: A da pt ad o de D ut ra (2 01 8, d oc um en to o n- lin e) . Ti po Su bd iv is õe s 2. 5. C on tr at o de a pr en di z Pa ra p es so as e nt re 1 4 e 24 a no s m at ric ul ad as no S er vi ço N ac io na l d e Ap re nd iz ag em . Te m po m áx im o de c on tr at o: D oi s a no s ( ex ce to qu an do p or ta do r d e de fic iê nc ia ). Ca rt ei ra d e Tr ab al ho e P re vi dê nc ia S oc ia l. D ev e re ce be r s al ár io m ín im o ou m ai s. Jo rn ad a de s ei s h or as d iá ria s ( oi to a pr en di ze s co m e ns in o fu nd am en ta l c om pl et o) . 3. C on tr at o in te rm it en te ** Se m d ef in iç ão d e jo rn ad a de tr ab al ho . A em pr es a en tr a em c on ta to c om p el o m en os tr ês d ia s d e an te ce dê nc ia , i nf or m an do jo rn ad a. Tr ab al ha do r t em u m d ia ú til p ar a re sp on de r. 4. H om e of fic e ou te le tr ab al ho Tr ab al ho p rin ci pa lm en te fo ra d as d ep en dê nc ia s d o em pr eg ad or . U til iz aç ão d e te cn ol og ia s q ue n ão c ar ac te riz em o tr ab al ho e xt er no . A re sp on sa bi lid ad e pe la in fra es tr ut ur a de tr ab al ho d ev e se r e sp ec ifi ca da e m c on tr at o. * A te rc ei riz aç ão d e se rv iç os p os su i l eg isl aç ão e sp ec ífi ca d et er m in ad a pe la L ei n º. 13 .4 29 /1 7. ** É u m a no va m od al id ad e da R ef or m a Tr ab al hi st a da L ei n º. 13 .4 67 /1 7. Q ua dr o 3. T ip os d e co nt ra to s r eg id os p el a Co ns ol id aç ão d as L ei s d o Tr ab al ho (C LT ) (C on tin ua çã o) 9Riscos na gestão de obras Como você pode ver, existem diversas categorias de contratos pela CLT, que devem ser escolhidas conforme a necessidade de cada obra. O Manual de Contratação de Mão de Obra na Construção Civil do Construct e Sienge (2018) destaca os principais direitos garantidos pela CLT, apresentados a seguir. � Jornada de trabalho de 44 horas semanais: oito horas por dia mais quatro horas no sábado. Horas trabalhadas além disso são consideradas extras, não podem exceder duas horas por dia e devem ser remuneradas comum adicional de 50% no mínimo. � Controle de ponto: o registro da jornada de trabalho é obrigatório para empregadores com mais de dez empregados. O registro deve ser feito pelo próprio trabalhador. O registro de horários falsos caracteriza fraude aos direitos dos trabalhadores. � Adicional noturno: representa um valor extra que deve ser pago ao trabalhador pelo desconforto de trabalhar de noite. É de, no mínimo, 20%. O período noturno começa às 22 horas e termina às 5 horas. Além disso, a lei estabelece que a hora noturna equivale a 52 minutos e 30 segundos. � Fundo de Garantia por Tempo e Serviço (FGTS): é um direito as- segurado pela Constituição Federal, sendo um depósito percentual de, normalmente, 8%, sobre o salário. É realizado pelo empregador. � Vale-transporte: deve ser fornecido pelo empregador para que o tra- balhador possa ir e voltar da sua casa até o trabalho em transporte coletivo. Todo custo com deslocamento que passar de 6% do salário básico deve ficar a cargo do empregador. � Aviso prévio: tanto o patrão quanto o empregado tem o direito de rescindir o contrato de trabalho, tendo que avisar por escrito com pelo menos 30 dias de antecedência. Se o patrão não precisar mais dos serviços do empregado ao pedir o aviso prévio, deve pagar o salário de 30 dias como verba rescisória. Além disso, concedendo o aviso prévio, o empregador deve permitir que o empregado trabalhe 2 horas a menos por dia ou que não trabalhe por sete dias seguidos. � Décimo terceiro salário: é a remuneração extra de um salário devida aos empregados no final do ano. Metade do valor deve ser antecipado até o dia 30 de novembro e a outra metade até o dia 20 de dezembro. Se ocorrer rescisão de contrato, com exceção de justa causa, o empregador deve pagar o valor proporcional ao número de meses trabalhados ao trabalhador. Riscos na gestão de obras10 � Férias anuais remuneradas: depois de trabalhar 12 meses, o traba- lhador adquire o direito a férias de 30 dias, que podem ser divididas em três períodos. Ou seja, no primeiro ano, o trabalhador não tem direito a tirar férias, sendo esse período chamado de período aquisitivo. A remuneração do período de férias deve ser acrescida de um terço em relação ao salário normal. Após completar um ano de trabalho, o empregador não é obrigado a conceder imediatamente as férias ao trabalhador, podendo concedê-las dentro dos próximos 12 meses. As férias devem ser concedidas nos 12 meses seguintes da aquisição do direito ou o empregador deverá pagar as férias em dobro. Se ocorrer rescisão de contrato, o empregador deve pagar o valor proporcional ao número de meses trabalhado ao trabalhador. � Convenção coletiva de trabalho: firmada entre o sindicato patronal da categoria a nível estadual e o sindicato/federação representante da categoria a nível estadual, determina direitos e deveres entre empregado e empregador. Estabelece o piso salarial para cargos como servente, mestre de obras e contramestre, além de todas as cláusulas sociais e econômicas da categoria. Para a terceirização dos serviços, as regras mudam. A terceirização, defi- nida pela Lei nº. 13429/17, nada mais é que um contrato civil entre a prestadora de serviços (empresa terceirizada) e a tomadora de serviços (geralmente, a construtora ou incorporadora) (BRASIL, 2017). Assim, a empresa terceirizada pode executar qualquer serviço para a empresa tomadora, inclusive a atividade principal, devendo somente ter capital social compatível com o número de empregados. A empresa terceirizada pode, inclusive, subcontratar serviços, a chamada quarteirização. Não existe vínculo empregatício entre os empre- gados da terceirizada e a tomadora de serviços, ou seja, a terceirizada deve gerenciar, remunerar e garantir os direitos trabalhistas dos seus empregados. Dutra (2018) resume a terceirização da seguinte maneira: � os empregados são contratados em regime CLT pela empresa que será terceirizada; � a empresa tomadora e a empresa terceirizada estabelecem um contrato civil; � a empresa terceirizada é responsável pelos direitos trabalhistas dos seus trabalhadores, sendo a empresa tomadora subsidiariamente responsável durante o período de prestação de serviços. 11Riscos na gestão de obras Na terceirização de serviços, a empresa terceirizada é responsável pelos direitos trabalhistas dos seus trabalhadores; porém, a empresa tomadora dos serviços é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas no período de prestação de serviços. Isso quer dizer que, se a terceirizada não puder pagar seus funcionários e houver débitos trabalhistas e previdenciários, a empresa tomadora deverá assumir a dívida. Ainda no sentido das relações trabalhistas, deve-se destacar como é co- mum, no Brasil, a incidência de processos trabalhistas contra a empresa, o que pode causar grandes prejuízos. O Manual de Contratação de Mão de Obra na Construção Civil destaca que os principais processos envolvem: � Horas extras: o trabalhador deve ser corretamente pago por suas horas extras. Se a obra contar com menos de 10 trabalhadores e não tiver registro de controle de ponto, o trabalhador deve comprovar as horas trabalhadas a mais. Já no caso de obra com mais de dez trabalhadores, a obra deve ter controle de ponto. � Danos morais: o modo de falar influencia a relação entre contratado e contratante. A utilização de apelidos, por exemplo, mesmo que apa- rentemente inofensiva, deve ser evitada. � Intervalos intrajornadas: para jornadas de seis horas ou mais, deve-se prever repouso e alimentação com duração de pelo menos uma hora. Em caso de comprovação do não cumprimento do horário de repouso, as horas devem ser remuneradas como horas extras. Destaca-se, ainda, uma grande ocorrência de processos por acidentes de trabalho e por adicionais de insalubridade e periculosidade. Por isso, é essencial garantir a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e que a obra implemente medidas que visem a segurança do trabalho e a saúde do trabalhador. Segundo um dos princípios do direito do trabalho, na justiça, quando duas partes desiguais se enfrentam, existe a necessidade da compensação da legislação em relação ao mais fraco. Nesse caso, existe a necessidade de compensação da legislação em relação à parte mais fraca ou hipossuficiente. Ou seja, o trabalhador, que é considerado o elemento mais fraco entre traba- Riscos na gestão de obras12 lhador e empregador, é protegido pela Justiça do Trabalho. Para minimizar a ocorrência de processos trabalhistas, Silva (2013) destaca alguns pontos: � manter um clima bom na empresa, com funcionários bem liderados; � observar e respeitar rigidamente os requisitos legais de jornada de trabalho; � evitar o pagamento de salários muito diferentes entre funcionários de serviços similares; � avaliar e treinar supervisores e gerentes para que exerçam uma liderança baseada na sua competência, e não na sua autoridade; � evitar rotatividade muito grande de trabalhadores e tomar cuidado nas admissões; � manter um bom registro dos contratos de trabalho e de todos os docu- mentos da obra; � ter um contrato com advogado trabalhista com o objetivo de realizar avaliações internas, minimização de riscos e atitudes que gerem a prevenção de ações trabalhistas. Existem diversas Normas Regulamentadoras (NR) que determinam direitos e deveres dos trabalhadores e empregadores. O Manual de Contratação de Mão de Obra na Construção Civil do Construct e Sienge (2018) destaca seis delas que são muito im- portantes na construção civil: � NR 4 — regulamenta os serviços de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho; � NR 5 — regulamenta a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes); � NR 6 — regulamenta a utilização de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual); � NR 7 — regulamenta o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional); � NR 9 — regulamenta o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais);� NR 18 — define Recomendações Técnicas de Procedimento (RTP) para evitar acidentes. Os contratos e relações de trabalho são um ponto vital na construção civil. Deve-se ter cuidado com contratos e com a forma de contratação, adequando esses pontos às necessidades de todos os envolvidos. O cumprimento das leis e o respeito entre os envolvidos sempre será a maior garantia de que o empreendimento não terá problemas nesse setor. 13Riscos na gestão de obras Controle de alterações de projetos É normal que uma obra sofra alterações tanto na sua fase de projeto quanto na fase de execução. Como garantir, então, que, durante o projeto, o construtor estará executando a versão final correta do projeto? E mais: como saber, ao realizar uma reforma ou anexo em uma obra já acabada, qual é a versão final do projeto com todas alterações sofridas durante a execução inclusas? Para isso deve-se ter o controle das alterações do projeto e o As Built da obra finalizada. Antes mesmo de o projeto começar a ser executado, é importante que haja uma boa comunicação entre os projetistas dos diferentes projetos da obra. Isso garantirá uma boa compatibilização entre os projetos, evitando que um projeto interfira no outro e que, durante a obra, seja necessário realizar modificações improvisadas. Por exemplo, deve-se evitar que uma tomada (do projeto elétrico) seja posicionada no mesmo lugar de uma torneira (do projeto hidráulico). A sincronização dos serviços evita retrabalho, atraso e gastos desnecessários na obra. Por ter impacto em todos os setores, a compatibilização dos projetos deve ser encarada como responsabilidade de todos. Mesmo com uma compatibilização detalhada dos projetos, é normal que os projetos sofram alterações. Isso faz com que os projetos possuam diversas versões, mesmo antes da execução da obra. Por isso, é muito importante que as versões finais dos projetos sejam aprovadas, assinadas e carimbadas pelos seus responsáveis técnicos. A confusão de versões desatualizadas pode gerar grandes prejuízos para a obra, e o executor da obra deve garantir que está trabalhando com a última versão dos projetos. É importante ressaltar que a validação da versão final do projeto é utilizada, muitas vezes, como item obrigatório para a concorrência em licitações de obras públicas. Isso garante que o futuro executor trabalhará com os projetos corretamente atualizados. Durante a execução da obra, é igualmente importante atualizar as versões do projeto conforme as modificações realizadas. A revisão final, que representa como a obra foi realmente construída, é chamada de As Built — em português, “como construído”. O As Built não deve mais sofrer alterações e é a versão do projeto que deve ser averbada no órgão de registro da cidade, devidamente Riscos na gestão de obras14 acompanhada da documentação técnica do responsável pelo projeto. Assim, se alguém quiser realizar uma modificação, reforma ou anexo à obra, poderá consultar o As Built e verificar quais tipos de interferência poderá encontrar no projeto. O Departamento de Estradas de Rodagem — DER/SP (SÃO PAULO, 2006) divide a execução do As Built em duas fases: � Fase de execução: é o registro das alterações de projeto que se desenvol- vem paralelamente à execução da obra. Deve-se registrar a ocorrência de desvios em relação ao projeto executivo por meio de desenhos e relatórios preliminares, emitidos periodicamente e arquivados. � Fase de conclusão: compila-se todos os relatórios preliminares da fase de execução, gerando o relatório As Built final, que complementará o projeto executivo considerando as modificações efetivamente implan- tadas na obra. Para a elaboração do As Built, o DER (SÃO PAULO, 2006) ainda aconselha a divisão em três etapas, conforme o andamento da obra. � Conhecimento dos projetos executivos: para poder iniciar a elaboração do As Built, pressupõe-se que toda a documentação de projetos execu- tivos das diversas áreas da obra esteja atualizada. O projeto executivo final é essencial para as atividades de supervisão e controle da obra, pois serve como comparação para o registro das possíveis alterações que estarão contidas no As Built. � Registro das alterações: todas as alterações durante a execução da obra devem ser registradas e documentadas por meio dos relatórios prelimi- nares. Nessa fase, é interessante prestar atenção às mudanças ocorridas, procurando saber suas causas e se ocorreram por incidentes aleatórios ou deficiência do projeto inicial, o que pode servir de embasamento para a melhora dos projetos seguintes. Deve-se registrar, também, a justificativa da adoção de especificações diferentes do projeto inicial. É aconselhável que o registro possua croquis e esboços das modificações. � Fase de conclusão: nessa fase, deve-se juntar todos os dados e rela- tórios preliminares desenvolvidos durante a obra. É preciso elaborar um documento que represente a última versão do projeto e que seja coerente com a real implantação e execução da obra. O As Built deve conter os relatórios e desenhos atualizados de como a obra foi realmente construída. 15Riscos na gestão de obras Estipular um escopo definido para a obra evita o excesso de alterações nos projetos e o retrabalho durante a obra. Veja mais sobre a importância da definição do escopo acessando o link ou código a seguir. https://goo.gl/2kNWQp Como você pôde perceber, o controle das alterações do projeto e a execução do As Built é extremamente importante. Com isso, pode-se garantir que o projeto será executado conforme o estipulado no projeto executivo original e que, ao fim do projeto, a versão realmente construída será registrada. BRASIL. Lei nº.13.429, de 31 de março de 2017. Altera dispositivos da Lei nº. 6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as relações de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13429.htm>. Acesso em: 18 jan. 2019. CONSTRUCT; SIENGE. Manual de Contratação de Mão de Obra na Construção Civil. 2018. Disponível em: <http://www.sienge.com.br/wp-content/uploads/eBook-Manual-de- Contrata%C3%A7%C3%A3o-e-Leis-Trabalhistas-Construct-e-Sienge.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2019. DUTRA, H. Contratação na construção civil: escolhendo a opção ideal. 2018. Disponível em: <https://www.sienge.com.br/blog/contratacao-na-construcao-civil/>. Acesso em: 18 jan. 2019. MATTOS, A. D. Gerenciamento de riscos. 2016. Disponível em: <http://blogs.pini.com. br/posts/Engenharia-custos/gerenciamento-de-riscos-371243-1.aspx>. Acesso em: 18 jan. 2019. Riscos na gestão de obras16 SÃO PAULO. Secretaria dos Transportes. Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Elaboração de As Built de obras rodoviárias. 2006. Disponível em: <ftp://ftp.sp.gov.br/ ftpder/normas/IP-DE-A00-010_A.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2019. SILVA, A. L. Como evitar ou minimizar contingências trabalhistas. 2013. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/como-evitar-ou-minimizar- -contingencias-trabalhistas/71538/>. Acesso em: 18 jan. 2019. Leitura recomendada BRASIL. Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Rio de Janeiro, 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Decreto-Lei/Del5452.htm>. Acesso em: 18 jan. 2019. 17Riscos na gestão de obras Conteúdo:
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