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INTRODUÇÃO 
Na apostila Direito Societário: sociedade limitada, enfocaremos 
os principais temas que regem as sociedades disciplinadas pelo Código 
Civil. Para tanto, abordaremos a Teoria Geral do Direito de Empresa por 
meio da análise dos seguintes conceitos: ato de empresa, empresário, 
empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli) e 
estabelecimento empresarial. Em seguida, a partir de uma perspectiva 
negocial e prática, discutiremos a disciplina jurídica das sociedades 
despersonificadas e das personificadas existentes no Código Civil de 
2002, além da sociedade limitada, modelo que corresponde a 98% das 
sociedades constituídas no cenário brasileiro. 
Ao longo do conteúdo, também serão propostos problemas cuja 
solução será embasada na legislação aplicável e nos seus respectivos 
princípios jurídicos, de modo que cada caso possa ser resolvido com 
maior exatidão. 
Sob esse foco, esta apostila foi estruturada em quatro módulos. 
No módulo 1, examinaremos a origem do ato de empresa e a sua 
formação no nosso ordenamento jurídico, buscando determinar os 
conceitos de empresa, empresário, Eireli e estabelecimento empresarial. 
Analisaremos, ainda, as suas principais implicações. 
No módulo 2, apresentaremos as sociedades despersonificadas e as 
personificadas, e traçaremos uma análise da Teoria da Desconsideração 
da Personalidade Jurídica, cujo conteúdo, até a presente data, constitui 
uma das matérias mais controvertidas do Direito Societário. Trataremos, 
ainda, da sociedade simples, novo modelo societário introduzido pelo 
legislador do Código Civil de 2002. 
No módulo 3, estudaremos o principal e mais utilizado modelo 
societário disciplinado no novo Código Civil: a sociedade limitada. Em 
seguida, enfocaremos os aspectos relativos à constituição da sociedade e 
aos direitos e deveres dos sócios, o objetivo do capital social e a sua divisão 
em cotas. 
 
 
 
No módulo 4, abordaremos as formas de exercício do poder nas sociedades limitadas, além 
das modalidades de ingresso e saída de sócio sob a forma de retirada ou exclusão. Mostraremos, 
ainda, que a sociedade limitada pode ser administrada por quem ostente a qualidade de sócio ou 
não, porém não será admitida a pessoa jurídica como administradora, estando os administradores 
responsáveis pelos atos praticados em violação ao objeto social. Por fim, analisaremos o conselho 
fiscal de administração. 
 
 
SUMÁRIO 
MÓDULO I – ATO DE EMPRESA............................................................................................................. 7 
CASOS GERADORES ........................................................................................................................... 7 
Caso gerador 1 ........................................................................................................................... 7 
Caso gerador 2 ........................................................................................................................... 8 
INTRODUÇÃO À TEORIA DA EMPRESA NO DIREITO BRASILEIRO ................................................ 9 
CONCEITO DE EMPRESA .................................................................................................................. 11 
Exceções ao conceito de empresa ......................................................................................... 13 
EMPRESÁRIO ..................................................................................................................................... 17 
Espécies de empresário .......................................................................................................... 17 
Empresário individual ........................................................................................................ 17 
Sociedades........................................................................................................................... 22 
Eireli ...................................................................................................................................... 22 
ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL ................................................................................................ 25 
NOME EMPRESARIAL ....................................................................................................................... 37 
MÓDULO II – SOCIEDADES .................................................................................................................. 41 
CASOS GERADORES ......................................................................................................................... 41 
Caso gerador 1 ......................................................................................................................... 41 
Caso gerador 2 ......................................................................................................................... 42 
Caso gerador 3 ......................................................................................................................... 42 
PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO ................................................................................... 42 
Associações ............................................................................................................................... 43 
Sociedades ................................................................................................................................ 43 
Fundações ................................................................................................................................. 43 
Organizações religiosas e partidos políticos ........................................................................ 43 
Eirelis ......................................................................................................................................... 44 
TIPOS DE SOCIEDADE ...................................................................................................................... 44 
Classificação genérica ............................................................................................................. 44 
Classificação quanto à responsabilidade dos sócios .......................................................... 45 
Sociedade com sócios de responsabilidade ilimitada ................................................... 45 
Sociedade com sócios de responsabilidade limitada .................................................... 45 
Sociedade de responsabilidade mista dos sócios.......................................................... 45 
Classificação quanto à relação entre os sócios ................................................................... 47 
Sociedade de pessoas ........................................................................................................ 47 
Sociedade de capital .......................................................................................................... 47 
Classificação quanto à regularidade ................................................................................ 47 
Sociedade regular ............................................................................................................... 47 
Sociedade irregular ............................................................................................................ 47 
Classificação quanto à natureza ............................................................................................ 47 
 
 
Sociedade empresária ....................................................................................................... 47 
Sociedade simples .............................................................................................................. 48 
Classificação quanto à pluralidade dos sócios .................................................................... 48 
Sociedade unipessoal originária e permanente (subsidiária integral) ........................48 
Sociedade unipessoal sucessiva e temporária ............................................................... 48 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA .................................................................. 49 
Teorias para a aplicação da Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica ...... 52 
Teoria menor ....................................................................................................................... 52 
Teoria maior ........................................................................................................................ 52 
Formas de efetivação da Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica .......... 52 
Desconsideração direta ..................................................................................................... 52 
Desconsideração incidental .............................................................................................. 52 
Desconsideração inversa ................................................................................................... 52 
Desconsideração indireta .......................................................................................... 52 
MODELOS SOCIETÁRIOS ................................................................................................................. 53 
Sociedade em conta de participação .................................................................................... 53 
Sociedade em nome coletivo ................................................................................................. 54 
Sociedade simples ................................................................................................................... 55 
MÓDULO III – SOCIEDADE LIMITADA ................................................................................................. 59 
CASO GERADOR ............................................................................................................................... 59 
DEFINIÇÃO DE SOCIEDADE LIMITADA ........................................................................................... 60 
NATUREZA DA SOCIEDADE LIMITADA ........................................................................................... 60 
RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS ................................................................................................. 62 
QUALIFICAÇÃO DOS SÓCIOS .......................................................................................................... 62 
NOME EMPRESARIAL, OBJETO E SEDE........................................................................................... 63 
PRAZO DE DURAÇÃO DA SOCIEDADE ........................................................................................... 64 
REGISTRO EM ÓRGÃO COMPETENTE ............................................................................................ 64 
INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL ....................................................................................................... 64 
CESSÃO DE COTAS ........................................................................................................................... 66 
MÓDULO IV – ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA ........................................................... 69 
CASO GERADOR ............................................................................................................................... 69 
DELIBERAÇÃO DOS SÓCIOS ............................................................................................................ 70 
ENTRADA E SAÍDA DE SÓCIOS ........................................................................................................ 73 
ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA ................................................................................ 75 
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................... 78 
CONSELHO FISCAL ........................................................................................................................... 78 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 80 
PROFESSORES-AUTORES ..................................................................................................................... 82 
 
 
 
Neste módulo, examinaremos a origem do ato de empresa e a sua formação no nosso 
ordenamento jurídico, buscando determinar os conceitos de empresa, empresário, Eireli e 
estabelecimento empresarial. Analisaremos, ainda, as suas principais implicações. 
 
Casos geradores 
Caso gerador 1 
Oscar Niemeyer e Richard Rogers são dois jovens e promissores arquitetos ainda no início 
das suas carreiras. Eles desejam montar um escritório de arquitetura onde possam começar a 
angariar clientes e projetos para ascender na vida profissional. 
O plano de negócios é modesto e prevê algo inicialmente pequeno. A ideia de Oscar e Richard 
é trabalharem apenas para clientes selecionados. Eles não querem aceitar qualquer projeto, mas 
apenas aqueles de clientes mais importantes e que lhes darão maior visibilidade. 
Inicialmente, além de Oscar e Richard, existirão quatro subordinados: duas arquitetas júnior; 
um estagiário, estudante de arquitetura; e uma secretária. Os projetos serão coordenados sempre 
por apenas um dos sócios, em conjunto com outra arquiteta júnior e o estagiário. 
Como possuem estilos muito diferentes, Oscar e Richard não conseguem trabalhar juntos no 
mesmo projeto. Para montar o escritório, eles obtiveram um financiamento na Caixa Econômica 
Federal, o qual foi utilizado principalmente para dar entrada em uma pequena sala em um prédio 
comercial, bem como para a aquisição de computadores de última geração. 
Preocupados com a fiscalização, os sócios querem cumprir todas as formalidades exigidas para 
legalizar o escritório, por isso desejam a sua orientação jurídica para a formatação do negócio. Ao 
MÓDULO I – ATO DE EMPRESA 
 
8 
 
analisar o perfil e as necessidades de Oscar e de Richard, bem como a atividade, você concluiu que 
o ideal para eles é constituir uma sociedade limitada. Depois de realizar as formalidades necessárias, 
chegou o momento de registrar o contrato social. 
Pergunta-se: 
1. Qual é o registro competente e quais são as eventuais consequências na hipótese de esse 
registro ter sido realizado indevidamente? 
2. A sociedade pode pedir recuperação judicial ou ter a sua falência decretada? 
 
Caso gerador 2 
O Grupo Carioca Motores, formado pela holding Carioca Construções e Participações S.A., 
é conhecido principalmente pela exploração do ramo de construção, venda e manutenção de 
motores nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente, por meio das sociedades 
Carioca RJ Construção e Manutenção de Motores Ltda. e Carioca SP Construção de Manutenção 
de Motores Ltda., esta última com sede em São Paulo. 
Considerando a escassez de financiamento para expandir os seus negócios, O Grupo Carioca 
Motores decide alienar o estabelecimento empresarial da sua controlada em São Paulo, para focarem 
o estado do Rio de Janeiro. Prontamente, a sociedade Paulistana Caminhões e Motores Ltda. 
demonstra interesse em adquirir o estabelecimento empresarial referido, ressaltando, no entanto, o 
desejo de conhecer melhor o negócio desenvolvido pela alienante. 
Durante as primeiras rodadas de negociação, foi revelado um passivo de aproximadamente 
R$ 1.000.000,00 referente a fornecedores paulistas, estando a dívida em fase de negociação com os 
credores para pagamento em cinco anos. Os administradores da sociedade Paulistana Caminhões e 
Motores Ltda. estão receosos e resolvem consultar você para assessorá-los no processo de aquisição 
do referido estabelecimento empresarial. 
Pergunta-se: 
1. Quais passos e cuidados deverão ser tomados? 
2. Qual seria a responsabilidade da adquirenteem relação ao passivo mencionado na 
hipótese de aquisição do estabelecimento? 
3. Como seria a responsabilidade da adquirente se houvesse uma dívida tributária? 
 
 
 
 9 
 
Introdução à teoria da empresa no direito brasileiro 
Em 1942, o Código Civil italiano (Codice Civile Italiano) promoveu a aclamada unificação 
legislativa do Direito Privado,1 passando a disciplinar tanto matéria civil, quanto comercial e 
trabalhista. Inaugura-se assim, ao ver de Coelho, “a última etapa evolutiva do Direito Comercial 
nos países de tradição romanística”.2 
No que concerne às razões que levaram à unificação do Direito Privado italiano, o célebre 
jurista Ascarelli nos traz uma visão interessante, no sentido de que, a despeito das inúmeras 
considerações técnicas e discussões doutrinárias acerca das vantagens e desvantagens da autonomia 
do Direito Comercial, os motivos ensejadores da unificação foram primordialmente de ordens 
econômica e política, funcionando como um dos mecanismos facilitadores da intervenção do 
Estado na economia. 
Nas palavras do autor: 
 
É justamente no confronto das normas de intervencionismo, dadas as 
finalidades econômicas por ele perseguidas, que o diverso escopo das várias 
atividades econômicas torna-se relevante. A unificação do direito das 
obrigações (realizada primeiramente no Código suíço) foi acompanhada 
por isso de um novo fracionamento da disciplina. Esse fracionamento não 
é uma consequência direta de diversa natureza técnica das várias matérias, 
mas se verifica em função das finalidades perseguidas pela legislação de 
intervenção, em relação à qual tornam-se relevantes diferenças ao contrário 
irrelevantes num regime de livre concorrência. As invocadas autonomias 
dos ramos saídos do tronco do velho direito comercial não encontram a 
sua razão de ser em considerações técnicas, mas (como acentuado pela 
frequente afirmação da concorrência, em tais ramos, de normas privatistas 
e publicistas, invocada para demonstrar a autonomia) na relevância que, 
diante de uma legislação de controle adquirem as diversas finalidades 
perseguidas nas diversas atividades, o que leva naturalmente a substituir, à 
bipartição do direito em público e privado (própria de um regime que 
considera a atividade econômica essencialmente no âmbito da autonomia 
privada, respeitados os limites gerais de ordem pública), na subdistinção 
segundo a diferente natureza das atividades e as diversas finalidades 
concretamente perseguidas com a intervenção pública, com o concurso 
 
1 Observamos que, desde 1881, a legislação suíça já havia promovido a uniformização do direito privado, com o seu código 
único das obrigações. 
2 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 17. v. 1. 
 
10 
 
então de normas privadas e públicas. Esse concurso não indica tanto a 
peculiaridade de um ramo quanto o aparecimento num campo 
determinado de um critério de subdistinção do direito, devidos à 
intervenção pública e que, de fato, se reencontrava iterativamente em todos 
os setores sujeitos a uma intervenção pública na economia.3 (Grifo nosso) 
 
Ocorre que o Codice Civile de 1942, a fim de pôr termo à bipartição da disciplina privada da 
economia, trouxe um novo modelo teórico em substituição ao dos “atos de comércio” até então 
vigente. Nesse sentido, o modelo italiano de disciplinar o exercício da atividade econômica sob um 
prisma privatístico uno, abraçou a teoria da empresa,4 ou seja, não houve apenas a substituição da 
noção de comerciante para a de empresário: foi adotado um novo sistema em que o empresário 
aparece como responsável pela produção organizada de bens ou serviços.5 
Em consonância com a tendência doutrinária à época da sua elaboração, e principalmente 
com o Direito Comparado, como visto, o Código Civil brasileiro seguiu a premissa de unificação 
do Direito Obrigacional, no sentido de fazer cessar a dicotomia existente entre o Direito Comercial 
e o Direito Civil.6 
Convém recordar, no entanto, que o Código Comercial brasileiro de 1850, vigente 
atualmente apenas na parte do Direito Marítimo, foi inspirado diretamente no Code de Commerce, 
prestigiando a teoria francesa dos atos de comércio. No seu art. 19, com redação dada pelo 
Regulamento nº 737, de 25 de novembro de 1850, estavam definidas expressamente as atividades 
sujeitas à jurisdição dos Tribunais do Comércio. Mesmo com a extinção desses tribunais em 1875, 
prosseguiu-se o entendimento de que o Direito Comercial pertencia a um regime jurídico distinto 
do Direito Civil. Isso apenas iria mudar com o advento do Código Civil de 2002 (CC/02). 
 
3 ASCARELLI, Tullio. O desenvolvimento histórico do direito comercial e o significado da unificação do direito privado. Revista 
de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, n. 114, p. 248, abr./jun., 1999. 
4 ASCARELLI, Tullio. Corso di diritto commerciale. Barcelona: Bosch, Espanhola, 1962, p. 127 e FERRARA JR., Francesco. Gli 
imprenditori e la società. 9. ed. Atualizado por Francesco Corsi. Milão: Guiffrè, 1994, p. 15, apud COELHO, 2002, p. 17. 
5 ALMEIDA, Betyna Ribeiro de. Aspectos da teoria jurídica da empresa. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e 
Financeiro. São Paulo: Malheiros Editores, n. 119, p. 244, jul./set. 2000. 
6 Conforme nos recorda Luiz Gastão Paes de Barros Leães: “em 1941, a comissão composta de Orozimbo Nonato, 
Philadelpho Azevedo e Hahneamann Guimarães elaborou um Projeto de Código das Obrigações, orientado no sentido de 
‘reduzir a dualidade de princípios aplicáveis aos negócios civis e mercantis, em prol da unificação de preceitos, que devem 
reger todas as relações de ordem privada’. Em 1965, na comissão de juristas, tomando como ponto de partida o anteprojeto 
elaborado por Caio Mário da Silva Pereira, volta a apresentar um Projeto de Código das Obrigações, desta feita com a 
inclusão no sistema unificado de uma terceira parte inovadora dedicada aos empresários e às sociedades empresárias, fato 
que o projeto anterior desconhecia”. (LEÃES, Luiz Gastão Paes de Barros. A disciplina do direito de empresa no novo Código 
Civil Brasileiro. Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem, São Paulo, n. 21, p. 49, 50, 2003). Sobre o 
tema, consultar também: REQUIÃO, Rubens. Notas sobre o Projeto do Código das Obrigações. Curitiba: Universidade Federal 
do Paraná, 1966. 
 
 11 
 
Depois de quase 30 anos (desde 1975) tramitando no Congresso Nacional, finalmente o novo 
Código Civil brasileiro é aprovado em 2002, finalizando a transição do sistema francês para o 
sistema italiano de Direito Privado. Porém, ao contrário do Codice Civile de 1942, o CC/02 não 
teve o propósito de promover a unificação de todo o Direito Privado, mas, tão somente, a unificação 
do Direito das Obrigações.7 Conforme advertido na exposição de motivos do projeto convertido 
em lei, o Código brasileiro não pretendeu abranger todas as relações privadas, mas apenas a de se 
constituir como “lei básica, mas não global, do direito privado, conservando, em seu âmbito, o 
Direito das Obrigações, sem distinção entre obrigações civis e mercantis” (Grifo nosso).8 
Nesse passo, nosso atual diploma civil consagrou a teoria da empresa, também seguindo o 
modelo adotado pelo Codice italiano, substituindo, por conseguinte, a teoria dos atos do comércio, 
de inspiração francesa e até então vigente no ordenamento pátrio. 
O novo sistema afastou a antiga classificação que distinguia as sociedades em civis e 
comerciais, a qual tinha como fundamento o conceito de ato de comércio, passando a se basear na 
existência ou não de uma estrutura organizada e profissional para assim classificar as sociedades em 
empresárias e simples. 
Cabe, portanto, a seguinte indagação: o que caracteriza a empresa? 
 
Conceito de empresaTal como no Codice Civile, a empresa foi disciplinada entre nós no seu perfil subjetivo, 
estabelecendo o art. 966 do CC/02 que “considera-se empresário quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços”. Assim, de 
acordo com o referido dispositivo legal, entende-se por empresário todas as pessoas, naturais ou 
 
7 Nesse sentido, esclarece Miguel Reale: “não é um Código de direito privado. Muita matéria privatista escapa, com efeito, 
de seu plano. Consiste a unificação, isto sim, na simples justaposição formal de matéria civil ao lado de matéria comercial, 
regulada num mesmo diploma”. Apud REQUIÃO, Rubens. Projeto do Código Civil. Revista de Direito Mercantil, Industrial, 
Econômico e Financeiro, São Paulo, n. 17, v. 14, p. 155. Para Requião, o Código Civil de 2002 constitui uma simples e 
inexpressiva unificação formal, nada dizendo de científico e de lógico. Por fim, conclui o referido jurista que o direito 
comercial, como disciplina autônoma, não desaparecerá com a codificação, já que nela apenas se integra formalmente 
(Idem, ibidem). Fábio Ulhoa Coelho conclui o mesmo, porém, segue caminho diverso. Segundo o professor, a autonomia 
do direito comercial vem referida na Constituição Federal que, ao listar as matérias de competência legislativa privativa da 
União, menciona “direito civil” em separado de “direito comercial” (art. 22, I). Lembra, ainda, que a supressão de tal 
dicotomia se opera no âmbito legislativo, não atingindo a autonomia “didática e profissional” do direito comercial, enquanto 
ramo do direito e disciplina acadêmica. Fábio Ulhoa exemplifica, inclusive, que na Itália e nos demais países, nos quais 
ocorreu anteriormente a unificação legislativa, não houve a supressão do direito comercial enquanto disciplina acadêmica 
autônoma (COELHO, 2002, p. 27, 28). Sobre o tema, vejamos o que diz Ascarelli: “A unificação realizou-se na codificação 
italiana de 1942, [...] porém, não por via de supressão, mas de triunfo dos princípios comercialistas, praticamente 
reconhecidos no Código de 1942 como princípios gerais de todo o direito privado (em matéria de solidariedade; de juros; 
de resolução e execução compulsória de venda; de prescrição, etc.)” (ASCARELLI, 1999, p. 248). 
8 REALE, Miguel. O Projeto do Código de Obrigações: situação atual e seus problemas fundamentais. São Paulo: Saraiva, 1986, 
p. 71 e ss. 
 
12 
 
jurídicas, que exercem profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou 
circulação de bens ou de serviços voltados para o mercado. 
Como se pode perceber, o art. 966 do CC/02 é mera tradução do art. 2.082 do Código Civil 
italiano.9 Entretanto, a nossa lei civil vigente, diferentemente da italiana, não traz a relação das 
atividades consideradas comerciais, deixando a cargo do intérprete a difícil tarefa de enquadrar as 
várias hipóteses no conceito geral do art. 966. Ainda, aqui, diferentemente da Itália, o legislador 
não trouxe as espécies de empresário.10 
De acordo com a definição de empresário empregada pelo atual Código Civil, a organização 
é o verdadeiro substrato da empresa, o elemento central do seu conceito.11 Empresa é, assim, uma 
atividade complexa, uma repetição de atos coordenados e unificados no plano funcional pela 
unicidade de escopo, refletida na intenção do agente que os executa, uma dedicação profissional e 
contínua àquela finalidade produtiva.12, 13 Dessa forma, a noção de organização está diretamente 
relacionada ao estabelecimento, que, por sua vez, faz-se necessário para a configuração da empresa. 
Contudo, é importante ressaltar que não há critérios legais ou doutrinários quanto à dimensão, 
quantidade ou qualidade do complexo de bens empregados no exercício da empresa, para que esta 
se configure. 
Ou seja, não há um tamanho mínimo de estabelecimento para que se configure a organização 
necessária ao conceito de empresa. Ainda assim, o conceito de estabelecimento pode ajudar a tornar 
mais clara a noção de coordenação e organização do trabalho alheio realizada pelo empresário. Dessa 
forma, pode-se dizer que o empresário exerce a empresa por intermédio do estabelecimento.14 
Destarte, a partir desses elementos, podemos definir empresa como atividade de produção 
economicamente organizada de bens ou serviços, coordenada profissionalmente pelo empresário 
por meio de um complexo de bens e voltada para o mercado. 
 
9 Art. 2.082, Codice Civile Italiano: “È imprenditori chi esercita professionalemente un’attività economica organizzata al fine 
della produzione o dello scambio di beni o di servizi”. 
10 Vale lembrar que a versão primeira do Anteprojeto acompanhou, fielmente, o Código Civil italiano, trazendo os conceitos 
de empresário comercial e o de empresário agrícola ou rural, como denominado pela lei brasileira, como espécies do 
gênero empresário. Entretanto, tal classificação fora abandonada nas versões posteriores do Projeto. 
11 BULGARELLI, Waldírio. Estudos e pareceres de direito empresarial e pareceres de direito empresarial: o direito das 
empresas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 17; e MORAES FILHO, Evaristo de. Sucessão nas obrigações e teoria da 
empresa. Rio de Janeiro: Forense, 1959, p. 21, v. 3. 
12 SZTAJN, Rachel. Teoria jurídica da empresa: atividade empresária e mercados. São Paulo: Atlas, 2004, p. 98. 
13 No mesmo sentido, LEÃES, Luiz Gastão Paes de Barros. A responsabilidade do fabricante pelo fato do produto. São Paulo: 
Saraiva, 1984, p. 25: “A atividade negocial, isto é, a prática reiterada de atos negociais de modo organizado e unificado, por 
um mesmo sujeito, visando a uma finalidade econômica unitária e permanente. Chega-se, assim, ao conceito de atividade 
econômica organizada e, portanto, à noção de empresa, como núcleo do direito mercantil”. 
14 No mesmo sentido: CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 
2005, p. 11. 
 
 13 
 
Exceções ao conceito de empresa 
Na caracterização de empresário, a lei expressamente fez algumas exceções. Assim, 
considerando as peculiaridades da atividade agrícola, o agricultor será empresário somente na 
hipótese de se registrar no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais 
estaduais. Não o será se não se registrar, nos termos dos arts. 971 e 984 do Código Civil. Logo, 
trata-se de uma faculdade, hipótese excepcional à regra de que o registro, para os fins da classificação 
em comento, tem caráter meramente declaratório. 
Por consequência, sem o registro na Junta Comercial, ele não poderá ter a falência decretada 
ou pedir a recuperação judicial, conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). 
Vejamos: 
 
INFORMATIVO DO STJ Nº 386: A Turma reiterou que, no caso, as 
atividades da agricultura e pecuária são estranhas ao comércio segundo a 
tradição jurídica, de modo que, aos recorrentes pecuaristas que vivem da 
compra e venda de gado no meio rural, não se aplicam as regras de Direito 
Comercial, mas de Direito Civil, porquanto, não sendo efetivamente 
comerciantes, não podem se valer das regras específicas da atividade 
empresarial para fins de falência, concordata ou recuperação judicial, 
cabendo-lhes o pedido de autoinsolvência civil, excluídos os benefícios da 
Lei n. 1.060/1950. Precedente citado: AgRg no Ag 925.756-RJ, DJ 
3/3/2008. REsp 474.107-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 
10/3/2009. No mesmo sentido, é a orientação do TJSP: Recuperação 
judicial. Ação ajuizada por produtores rurais que não estão registrados na 
Junta Comercial. “O empresário rural será tratado como empresário se 
assim o quiser, isto é, se se inscrever no Registro das Empresas, caso em 
que será considerado um empresário, igual aos outros”. “A opção pelo 
registro na Junta Comercial poderá se justificarpara que, desfrutando da 
posição jurídica de empresário, o empresário rural possa se valer das figuras 
da recuperação judicial e da recuperação extrajudicial, que se apresentam 
como eficientes meios de viabilizar a reestruturação e preservação da 
atividade empresarial, instrumentos bem mais abrangentes e eficazes do 
que aquele posto à disposição do devedor civil (concordata civil – Código 
de Processo Civil, artigo 783)”. Só a partir da opção pelo registro, estará o 
empresário rural sujeito integralmente ao regime aplicado ao empresário 
comum. Sentença mantida. Apelação não provida. (TJ-SP – APL: 
994092930317 SP, Relator: Romeu Ricupero, Data de Julgamento: 
6/4/2010, Câmara Reservada à Falência e Recuperação, Data de 
Publicação: 16/4/2010) 
 
14 
 
Ainda quanto ao pedido de falência, de acordo com a Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 
2005 (Lei de Falências e de Recuperação), o empresário somente poderá pedir a recuperação judicial 
se comprovar que está no exercício regular da atividade há mais de dois anos, comprovando-se tal 
lapso temporal a partir do seu registro na Junta Comercial, o qual deverá ser feito antes do ingresso 
judicial do pedido. Vejamos: 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPROVAÇÃO DA CONDIÇÃO 
DE EMPRESÁRIO POR MAIS DE 2 ANOS. NECESSIDADE DE 
JUNTADA DE DOCUMENTO COMPROBATÓRIO DE 
REGISTRO COMERCIAL. DOCUMENTO SUBSTANCIAL. 
INSUFICIÊNCIA DA INVOCAÇÃO DE EXERCÍCIO 
PROFISSIONAL. INSUFICIÊNCIA DE REGISTRO REALIZADO 55 
DIAS APÓS O AJUIZAMENTO. POSSIBILIDADE OU NÃO DE 
RECUPERAÇÃO DE EMPRESÁRIO RURAL NÃO ENFRENTADA 
NO JULGAMENTO. 
1. O deferimento da recuperação judicial pressupõe a comprovação 
documental da qualidade de empresário, mediante a juntada com a petição 
inicial, ou em prazo concedido nos termos do CPC 284, de certidão de 
inscrição na Junta Comercial, realizada antes do ingresso do pedido em 
Juízo, comprovando o exercício das atividades por mais de dois anos, 
inadmissível a inscrição posterior ao ajuizamento. Não enfrentada, no 
julgamento, questão relativa às condições de admissibilidade ou não de 
pedido de recuperação judicial rural. 
2. Recurso Especial improvido quanto ao pleito de recuperação. 
(REsp 1193115/MT, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão 
Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 20/8/2013, DJe 
7/10/2013) 
 
Especialmente em relação ao empresário rural, a 4ª Turma do STJ, por maioria, no RESP. 
1.800.032-MT entendeu que o produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na ocasião do pedido de 
recuperação judicial, não precisa estar inscrito há mais de dois anos no Registro Público de Empresas 
Mercantis, bastando a demonstração de exercício de atividade rural por esse período e a 
comprovação da inscrição anterior ao pedido, exatamente nos termos do Enunciado 97 da III 
Jornada de Direito Comercial do CJF. No mesmo julgamento, a 4º Turma do STJ também afirmou 
que a recuperação judicial do empresário rural, pessoa natural ou jurídica, sujeita todos os créditos 
existentes na data do pedido, inclusive os anteriores à data da inscrição no Registro Público de 
Empresas Mercantis, seguindo o Enunciado 96 da III Jornada de Direito Comercial do CJF. 
 
 15 
 
Já com relação ao pequeno empresário,16 o CC/02 não foi expresso como foi com relação a 
quem exerce da atividade rural, limitando-se a estabelecer, no seu art. 970, que “a lei assegurará 
tratamento diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à 
inscrição e aos efeitos daí decorrentes” (Grifo nosso). Nada mais foi dito pelo legislador nessa parte 
geral do Direito da Empresa. 
No que tange às sociedades cooperativas, por determinação expressa do parágrafo único do 
art. 982 do Código Civil, estas serão necessariamente não empresárias, qualquer que seja a atividade 
desempenhada, mesmo quando se associarem às sociedades empresárias.17 Resta assim evidenciado 
em enunciado elaborado pela comissão de Direito de Empresa da III Jornada de Direito Civil, 
realizada pelo Conselho da Justiça Federal (CJF), com o apoio do STJ, nos dias 1º a 3 de dezembro 
de 2004, com a seguinte redação: “207 – A natureza de sociedade simples de cooperativa, por força 
legal, não a impede de ser sócia de qualquer tipo societário, tampouco praticar ato de empresa”. 
A sociedade de advogados, por força do disposto no estatuto da Ordem dos Advogados do 
Brasil – OAB (art. 15 da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994), também está excluída do conceito 
de empresária, sendo considerada sociedade simples. 
Ainda, com base no art. 966, parágrafo único, do Código Civil,18 não é empresário quem 
exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo com o concurso de 
colaboradores ou auxiliares, salvo se o exercício da profissão constituir “elemento de empresa”. 
Na verdade, a dificuldade de conceituação e enquadramento no conceito geral de empresário 
gera inúmeros inconvenientes práticos. Como exemplo, poderíamos citar eventual dúvida 
relacionada ao órgão competente para o registro de determinada sociedade, cuja classificação como 
empresária ou simples seja tênue aos olhos do intérprete, na medida em que a própria lei estabelece 
graves consequências para o registro efetuado perante órgão incompetente. 
Nesse sentido, cumpre perguntar: o que é “elemento de empresa”? A exata definição de o que 
é “elemento de empresa” tem trazido dúvidas e perplexidades na doutrina. Talvez esse seja um dos 
temas mais contestados no âmbito da nova classificação que separa as sociedades em empresárias e 
 
16 O pequeno empresário terá tratamento diferenciado na forma da Lei Complementar nº 123/06, conforme art. 68 do 
referido diploma legal. Notemos que essa lei sofreu alterações promovidas por duas outras leis complementares (nº 127, 
de 14 de agosto de 2007; e nº 128, de 19 de dezembro de 2008), sendo certo que a Lei Complementar nº 128/08 introduziu 
no nosso sistema a figura do microempreendedor individual – MEI, nos termos do art. 18-A da Lei Complementar nº 123/06. 
17 É preciso ressaltar, no entanto, que a cooperativa de crédito, mesmo com a vedação contida no art. 2º da Lei nº 11.101/05 
(Lei de Falências), poderá ter a sua falência decretada. Isso ocorre por força do art. 197 da Lei de Falências, cuja redação 
permite a aplicação do artigo 1º da Lei 6.024/1974 (Lei de Liquidação Extrajudicial das Instituições Financeiras), o qual 
autoriza a utilização do procedimento falimentar às cooperativas de crédito e instituições financeiras destinatárias desse 
sistema de intervenção do Banco Central nas instituições financeiras. Neste caso, o Banco Central do Brasil (Bacen) poderá 
autorizar o liquidante ou o interventor a confessar a falência dessas instituições. Há precedente do Tribunal de Justiça do 
Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), conforme Agravo de Instrumento nº 2007.002.31361. 
18 “Art. 966. [...] Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, 
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir 
elemento de empresa”. 
 
16 
 
não empresárias.19 A ressalva posta pelo legislador quanto às hipóteses em que o trabalho intelectual 
assume a condição de elemento de empresa, parece referir-se a situações em que a atividade 
profissional é absorvida pela atividade empresarial, da qual se tornaria um mero elemento, entre 
diversos outros. 
Um hospital seria, então, uma sociedade empresária, pois, não obstante a atividade científica 
desempenhada pelos médicos seja de natureza não empresária, tal atividade é organizada em uma 
estrutura empresarial. A atividade científica é apenas uma das tantas desenvolvidas pela sociedade, 
uma vez que um hospital compreende farmácia, hotelaria, equipamentos próprios, além de salas de 
cirurgia e de exames com todo um aparato tecnológico.Já no caso de uma clínica médica uniprofissional, composta de vários médicos, sócios e 
contratados, o exame dessa natureza será mais complicado. Tendo em vista que a presença dos 
colaboradores ou auxiliares não é, entre nós, o divisor de águas, será preciso estabelecer quando essa 
clínica será dotada de uma estrutura empresarial.20 
Conforme demonstrado, empresa é um termo econômico, vinculado à organização dos 
fatores da produção pelo empresário. É, por conseguinte, imprescindível, para que se configure a 
sociedade empresária, estar presente uma estrutura organizacional no exercício da atividade social. 
No ordenamento jurídico pátrio, a questão se apresenta mais confusa em virtude da falta de 
consenso em torno da expressão empregada no parágrafo único do art. 966 do CC/02, prejudicando 
o empresário. Isso porque, na prática, são eles quem primeiro precisarão “traduzir” o elemento de 
empresa, enfrentando as imprecisões desse conceito. 
A evolução doutrinária já indica que o indigitado conceito vem sendo aprimorado traduzido 
pelos seguintes enunciados elaborados pela comissão de Direito de Empresa da III Jornada de 
Direito Civil, realizada pelo CJF, com o apoio do STJ, nos dias 1º a 03 de dezembro de 2004: 
 
193 – O exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual 
está excluído do conceito de empresa. 
194 – Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se 
a organização dos fatores da produção for mais importante que a atividade 
pessoal desenvolvida. 
 
19 Nesse sentido, vejamos o que diz o professor Pedro Paulo Cristofaro: “Fica, pois, aqui, a honesta, embora desconfortável, 
confissão de perplexidade sobre quando os profissionais que exercem atividade intelectual serão empresários e quando 
as sociedades que eles organizem para prestar serviços serão sociedades empresárias. Mantenha-se a esperança de que, 
com o tempo, a doutrina e a jurisprudência possam dar entendimento preciso ao tal ‘elemento de empresa’, para que a 
expressão não se transforme, à semelhança do que sucedeu com os malfadados ‘atos de comércio’, em motivo de confusão 
para os intérpretes da lei e de tormento para os que a ela estão sujeitos.” CRISTOFARO, Pedro Paulo. As sociedades e o 
novo Código Civil: uma primeira abordagem do tema. Revista Forense, Rio de Janeiro, v. 364, p. 245, 248, 2002. 
20 Por certo, no Direito italiano a questão se apresenta deveras mais simples, porque o art. 2.238 é expresso: quando o 
exercício da profissão intelectual constituir elemento de atividade organizada sob a forma de empresa, estar-se-á diante 
de empresário, tomando-se como base o trabalho autônomo ou a existência de trabalho subordinado. 
 
 17 
 
195 – A expressão elemento de empresa demanda interpretação 
econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos 
fatores da organização empresarial. 
 
Empresário 
Segundo o art. 966 do CC/02, podem ser consideradas empresárias todas as pessoas, naturais 
ou jurídicas, que exerçam profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou 
circulação de bens ou de serviços voltados para o mercado. 
O nosso ordenamento jurídico, diferentemente do italiano, não traz a relação das atividades 
consideradas empresariais, deixando a cargo do intérprete a difícil tarefa de enquadrar as várias 
hipóteses do conceito geral. 
É fato que a noção de organização está diretamente relacionada ao estabelecimento, que, por 
sua vez, é necessário para a configuração da empresa. Contudo, não há critérios legais ou 
doutrinários quanto à dimensão, quantidade ou qualidade do complexo de bens empregados no 
exercício da empresa para que esta assim se configure. 
No sistema jurídico brasileiro, o empresário pode ser individual ou coletivo, devendo 
organizar uma empresa, explorando-a por meio do estabelecimento empresarial. 
 
Espécies de empresário 
As espécies de empresários no nosso sistema jurídico são: 
� empresário coletivo – sociedades e a Eireli – empresa individual responsabilidade limitada e 
� empresário individual – pessoas naturais que exploram a empresa de forma direta e sem a 
interposição de uma pessoa jurídica. 
 
Nesse momento, é importante observar as principais características do empresário individual. 
 
Empresário individual 
Empresário individual é a pessoa natural que, por meio dos fatores de produção, organiza 
uma atividade econômica para circulação de bens e serviços. Tal empresário deve-se inscrever no 
Registro Público de Empresas Mercantis, nos termos da Instrução Normativa nº 38 – Anexo I, do 
Departamento de Registro Empresarial e Integração. Também se pode inscrever no Cadastro 
Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), passando a gozar de benefícios fiscais e tratamento equiparado 
aos das pessoas jurídicas. Contudo, não deixa de ser considerado pessoa natural. 
 
18 
 
Já a pessoa natural que não explora uma atividade organizada deve-se inscrever no Cartório 
de Registro Civil, reservado às atividades consideradas simples (art. 966 do CC/02). 
A responsabilidade do empresário individual é ilimitada, e este deve responder por todas as 
obrigações contraídas do seu patrimônio (art. 789 do Código de Processo Civil – CPC; Lei 
nº 13.105, de 16 de março de 2015). 
Na I Jornada de Direito Comercial do CJF, houve um enunciado sustentando que, quanto às 
obrigações decorrentes da sua atividade, o empresário individual responderá, primeiramente, com os 
bens vinculados à exploração da sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil. 
No entanto, considerando o ordenamento jurídico vigente, especialmente por força do art. 789 do 
novo CPC, entendemos não ser possível aplicar tal entendimento, já que o devedor deve responder 
com todos os bens, presentes e futuros, sem que haja um patrimônio afetado à atividade empresarial. 
Essa é, na realidade, a grande desvantagem de se optar pela exploração da atividade empresária 
de forma individual. Nesse caso, a adoção de um modelo societário, ou Eireli, pode ser uma opção 
para a blindagem do patrimônio do investidor. 
Anteriormente à Eireli – período em que inexistia a possibilidade de estruturação da empresa 
por meio de uma única pessoa, com responsabilidade limitada, tais como a sociedade unipessoal ou 
o empresário individual com responsabilidade limitada –, era muito comum criarem-se as chamadas 
sociedades fictícias, caracterizadas por serem: 
� constituídas tão somente para driblar o sistema da responsabilidade do empresário 
individual e 
� compostas de um sócio com participação de 99% das cotas e outro com apenas 1% – 
cooptado para que houvesse o número mínimo de pessoas para compor uma sociedade. 
 
Como veremos ao analisarmos a Eireli, infelizmente, esse cenário construído a partir das 
sociedades fictícias não foi totalmente excluído, pois a constituição de uma Eireli exige a 
integralização imediata do capital, que não pode ser inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo 
vigente no País. Essa exigência tem sido considerada um grande entrave para eliminar o fenômeno 
das sociedades fictícias. 
É imprescindível que o empresário individual se registre para obter a proteção do seu nome 
empresarial. No momento da sua inscrição na Junta Comercial, conforme Instrução Normativa 
(IN) do Departamento de Registro Empresarial e Integração (Drei) nº 38/2017, o empresário 
individual deve então indicar a composição do nome da sua empresa. Esse nome deve, 
obrigatoriamente, ser constituído do nome civil do empresário, completo ou abreviado, aditando-
lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero da atividade exercida. 
Por exemplo, o empresário individual Juan Vazquez, que explora uma atividade empresária 
no ramo de consertos de relógios, pode compor o seu nome empresarial das seguintes formas: 
� Juan VazquezConsertos de Relógios ou 
� Juan Relógios. 
 
 19 
 
Para exercer a atividade empresarial, é preciso ter capacidade. Entretanto, o CC/02 permite 
que o menor, desde que com mais de 16 anos, seja emancipado pelo exercício de atividade 
empresarial, organizando estabelecimento empresarial com economia própria. 
Além disso, o art. 974 do Código Civil permite que o incapaz, independentemente da sua 
idade, por meio de representante ou devidamente assistido, possa pedir uma autorização ao juiz 
para continuar a atividade empresarial antes iniciada pelos seus pais ou pelo autor da herança. 
Caso seja concedida a autorização, esta deverá ser averbada no Registro Público de Empresas 
Mercantis, conforme art. 976 do Código Civil. Nesse caso, os bens que o incapaz já possuía ao 
tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo da empresa, não ficarão sujeitos 
ao resultado desta. Deverá ser consignado tal fato no alvará de concessão da autorização. 
Notemos, também, que o incapaz será considerado o empresário, e não o seu representante, 
conforme podemos depreender da leitura do art. 974 do CC/02. 
Com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 
2015), o deficiente não é mais considerado incapaz. Vejamos: 
 
Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem negar ou criar óbices 
ou condições diferenciadas à prestação de seus serviços em razão de 
deficiência do solicitante, devendo reconhecer sua capacidade legal plena, 
garantida a acessibilidade. 
Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput deste artigo 
constitui discriminação em razão de deficiência. 
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de 
sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. 
§ 1° Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à 
curatela, conforme a lei. 
§ 2° É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada 
de decisão apoiada. 
§ 3° A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida 
protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias 
de cada caso, e durará o menor tempo possível. 
§ 4° Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua 
administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano. 
 
Além disso, por meio do Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi alterado o art. 3° do CC/02, 
que trata da indicação dos absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil. 
Vejamos a redação anterior do Estatuto da Pessoa com Deficiência: 
 
 
20 
 
Art. 3° São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da 
vida civil: 
I - os menores de dezesseis anos; 
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o 
necessário discernimento para a prática desses atos; 
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua 
vontade. 
 
Vejamos agora a redação atual: 
 
Art. 3° São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da 
vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. 
 
Por meio do Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi incluído, ainda, o art. 1.783-A no 
CC/02, de acordo com o qual é possível que a pessoa deficiente se valha, caso seja necessário, do 
processo de tomada de decisão apoiada. Dessa forma, o deficiente poderá ser considerado 
empresário. Vejamos o artigo em questão: 
 
Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa 
com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais 
mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio 
na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos 
e informações necessários para que possa exercer sua capacidade. 
 
O analfabeto também não é considerado incapaz, mas, para ser empresário individual, deverá 
nomear um procurador com poderes especiais, outorgando uma procuração por instrumento 
público, conforme IN Drei nº 38/2017. 
O regime de bens do casamento do empresário individual influencia a sua atividade, 
principalmente em relação aos atos de alienação e oneração de bens imóveis. Desse modo, um 
cônjuge não pode alienar ou onerar bens imóveis sem o consentimento do outro consorte, exceto 
no caso do regime da separação absoluta, ou seja, a separação consensual, nos termos do art. 1.647, 
I, do Código Civil. Contudo, o art. 978 do Código Civil permite que o empresário individual, sem 
o consentimento do outro cônjuge, aliene ou grave de ônus real o bem imóvel afetando a sua 
atividade, independentemente, do regime de bens. 
Como essas duas normas podem então ser harmonizadas? Na verdade, quando o empresário 
individual se registra na Junta Comercial pode indicar um bem imóvel que está afetado àquela 
atividade. Nesse momento, deve-lhe ser exigida a outorga conjugal (art. 1.647, I, do CC/02). Feito 
isso, no momento em que pretender alienar o bem imóvel afetado ou onerá-lo com ônus real, o 
 
 21 
 
empresário individual não precisará do consentimento conjugal, uma vez que essa anuência já foi 
dada na oportunidade do seu registro na Junta Comercial. 
O CJF aprovou dois enunciados sobre esse tema. Na I Jornada de Direito Comercial, o 
Enunciado nº 6; e, na II Jornada de Direito Comercial, o Enunciado nº 58. Vejamos: 
 
ENUNCIADO Nº 6 DA I JORNADA DE DIREITO COMERCIAL 
DO CJF: O empresário individual regularmente inscrito é o destinatário 
da norma do art. 978 do Código Civil, que permite alienar ou gravar de 
ônus real o imóvel incorporado à empresa, desde que exista, se for o caso, 
prévio registro de autorização conjugal no Cartório de Imóveis, devendo 
tais requisitos constar do instrumento de alienação ou de instituição do 
ônus real, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição 
no Registro Público de Empresas Mercantis. 
 
ENUNCIADO Nº 58 DA I JORNADA DE DIREITO COMERCIAL 
DO CJF: O empresário individual casado é o destinatário da norma do 
art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar 
de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista 
prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao 
patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a 
consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro 
público de empresas mercantis. 
 
Dessa forma, para que seja dispensada nova outorga, deverá existir prévia averbação de 
autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no Cartório de Registro 
de Imóveis, com a consequente averbação do ato à margem da sua inscrição no registro público de 
empresas mercantis. 
Outra questão muito frequente é a possibilidade de o patrimônio pessoal do cônjuge do 
empresário individual ser atingido em razão de dívida contraída por força do negócio que explora. 
Nesse caso, a solução está no art. 3º do Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121, de 27 de agosto 
de 1962), que estabeleceu a responsabilidade de cada cônjuge pelas suas dívidas. 
O CC/02 regulamentou os efeitos do falecimento ou da incapacidade superveniente do 
empresário individual, sempre tendo como objetivo a preservação da atividade empresarial. Dessa 
forma, mediante autorização judicial, caso o empresário individual venha a tornar-se incapaz ou 
falecer, depois de iniciada, a empresa poderá ser continuada pelos seus representantes ou assistentes. 
 
 
22 
 
Sociedades 
O primeiro exemplo de empresário coletivo é representado pela sociedade empresária, cujos 
modelos são os seguintes: sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade 
limitada, sociedade anônima e sociedade em comandita por ações. 
Conforme previsto no art. 981 do CC/02, celebram contrato de sociedade as pessoas que 
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade 
econômica e a partilha, entre si, dos resultados. A atividade pode restringir-seà realização de um ou 
mais negócios determinados. No nosso curso, vamos tratar da sociedade limitada. 
 
Eireli 
A partir da Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011, foi introduzida, no nosso ordenamento 
jurídico, a figura da empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli). Por conseguinte, 
muitas sociedades e empresários individuais alteraram a sua estrutura jurídica, passando o seu 
registro para essa nova modalidade de empresa. O registro de novas Eirelis nas Juntas Comerciais 
foi crescendo, demonstrando a real necessidade de um modelo de exploração da atividade 
empresarial por pessoa jurídica com a participação de apenas um único membro,. É fato que o 
número poderia ser muito maior, mas o capital mínimo exigido para constituição de uma Eireli 
sempre foi considerado uma grande barreira, pois sequer pode ser parcelado. 
A Eireli, que pode ser originária ou derivada, deve ter como instituidor uma pessoa natural 
ou jurídica natural, com responsabilidade patrimonial limitada e titular de capital social não inferior 
a 100 salários-mínimos (Lei nº 12.441/11), adotando nome empresarial na modalidade firma ou 
denominação acrescida da expressão “Eireli”. 
O exercício da atividade empresária por meio de Eireli ocorre a partir de um novo formato 
de pessoa jurídica, que adquire personalidade após o registro no órgão competente. Vejamos o 
entendimento da doutrina majoritária atualmente, por força da interpretação do inc. VI do art. 44 
do CC/02: 
 
ENUNCIADO Nº 468 DA V JORNADA DE DIREITO CIVIL DO 
CJF: A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli) não é 
sociedade, mas novo ente jurídico personificado. 
 
ENUNCIADO Nº 3 DA I JORNADA DE DIREITO COMERCIAL 
DO CJF: A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – Eireli não 
é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do 
empresário e da sociedade empresária. 
 
 
 23 
 
ENUNCIADO Nº 472 DA V JORNADA DE DIREITO CIVIL DO 
CJF: É inadequada a utilização da expressão “social” para as empresas 
individuais de responsabilidade limitada. 
 
Além disso, o § 2º do art. 980-A do CC/02 traz a seguinte condição para que o instituidor 
possa participar de uma Eireli: “§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de 
responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade”. 
Na II Jornada de Direito Comercial, organizada pelo CJF, foram também aprovados os 
seguintes enunciados a respeito da Eireli: 
 
ENUNCIADO Nº 61: Em atenção ao princípio do tratamento favorecido 
à microempresa e à empresa de pequeno porte, é possível a representação 
do empresário individual, sociedade empresária ou Eireli quando 
enquadrados nos respectivos regimes tributários, por meio de preposto, 
perante os juizados especiais cíveis, bastando a comprovação atualizada do 
seu enquadramento. 
 
ENUNCIADO Nº 62: O produtor rural, nas condições mencionadas no 
art. 971 do CCB, pode constituir Eireli. 
 
Como vimos, a Lei nº 12.441/11 estabeleceu um capital mínimo para a instituição da Eireli: 
100 salários-mínimos. Esse valor não pode ser parcelado, devendo ser integralizado no ato da sua 
constituição. A forma de integralização do capital observará as regras da sociedade limitada, nos 
termos do § 6º do art. 980-A do CC/02, não sendo possível a integralização com a prestação de 
serviços, pois também é vedada tal forma de contribuição nas sociedades limitadas, nos termos do 
§ 2º do art. 1.055 do CC/02. 
A exigência de capital mínimo para a Eireli já foi objeto de questionamento no Supremo 
Tribunal Federal (STF) pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.637, sob o 
fundamento de que o capital mínimo é elevado, inviabilizando o acesso à responsabilidade 
limitada pelo pequeno empreendedor. Além disso, a indexação em salário-mínimo seria 
inconstitucional. O STF não conferiu efeito liminar no processo citado, cuja regra vem sendo 
regularmente aplicada pelas juntas comerciais nas respectivas unidades federativas, com regulação 
por meio da IN Drei nº 38/2017. 
 
 
24 
 
Devemos notar, ainda, que o capital da Eireli, conforme o Enunciado nº 473 da V Jornada 
de Direito Civil do CJF, não poderá ser integralizado com o nome, a voz ou a imagem. Vejamos: 
“A imagem, o nome ou a voz não podem ser utilizados para a integralização do capital da Eireli”. 
Ademais, no Enunciado nº 4 da I Jornada de Direito Comercial do CJF, afirma-se que, “uma 
vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da empresa individual de responsabilidade 
limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores alterações no salário mínimo”. 
Pode instituir Eireli a pessoa natural ou jurídica, conforme prevê a IN Drei nº 38/2017, estando 
superada a discussão quanto à possibilidade de uma pessoa jurídica ser instituidora de uma Eireli.21 
A instituição de uma Eireli poderá ser realizada para a exploração de uma atividade 
empresarial ou simples, portanto, não há impedimento quanto à exploração de uma atividade 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, sem elemento de empresa. 
O registro da Eireli pode ocorrer de duas formas distintas: 
� Quando a Eireli for criada para o exercício de uma atividade empresarial, o seu registro 
deverá ocorrer na Junta Comercial. 
� Quando for criada para explorar uma atividade simples, deverá ser registrada no Cartório 
de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. 
 
Além disso, a Eireli pode ser administrada pelo próprio instituidor ou por terceira pessoa 
nomeada pelo único participante, desde que não seja pessoa jurídica, nos termos da IN Drei 
nº 38/2017. 
O § 6º do art. 980-A do CC/02 determina que se aplicam às Eirelis, supletivamente, as 
normas atinentes às sociedades limitadas. Vejamos: “§ 6º Aplicam-se à empresa individual de 
responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas”. 
Dessa forma, por exemplo, não poderá ser integralizado o capital da Eireli com a prestação de 
serviços, pois, apesar de o art. 980-A ser omisso nesse aspecto, com a aplicação das regras da sociedade 
limitada, devemos afirmar que o § 2º do art. 1.055 do CC/02 terá incidência nesse caso concreto. 
Por fim, vale mencionar que a Lei 13.874/2019 (Lei da Liberdade Econômica) tentou resgatar a 
essência da Eireli, para tentar tornar mais difícil a aplicação da teoria da desconsideração da 
personalidade jurídica, pois de acordo com o Art. 980-A, §7º, CC, somente o patrimônio social 
da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese 
em que não se confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui, 
ressalvados os casos de fraude. Em outras palavras, a aplicação de tal teoria deverá observar a regra 
dos artigos 49-A e 50, ambos do CC. 
 
21 Quando o Registro Público de Empresas Mercantis continha uma norma permitindo apenas a instituição de uma Eireli 
por pessoas naturais, era necessário ingressar com ação judicial para obter o registro de Eireli instituída por pessoa jurídica. 
O Judiciário aceitava tal possibilidade, como podemos observar no Processo nº 0800278-98.2012.4.05.8300, quando a 4ª 
Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região admitiu que uma fundação de direito privado constituísse uma Eireli, 
contando, ainda, com parecer favorável do Ministério Público Federal. Disponível em: < https://pje.trf5.jus.br>. 
 
 25 
 
Estabelecimento empresarial 
Nos termos do art. 1.142 do CC/02, estabelecimento empresarial22 é o complexo de bens 
organizado pelo empresário ou pela sociedade empresária para o exercício da sua atividade. Artigo 
inspirado claramente no conceito já utilizado pelos italianos e positivado no art. 2.555 do Código 
Civil daquele país.23 
Segundo Fiúza,24 o estabelecimento empresarial representa a forma pela qual o empresário ou 
a sociedade empresária reúne, organiza e explora os seusrecursos, incluindo os físicos, os humanos 
e os tecnológicos (bens corpóreos), assim como os bens incorpóreos, como marca, nome e patentes. 
Corresponde ao conjunto de elementos materiais e imateriais que não perdem a sua individualidade, 
mas que, reunidos, constituem um novo bem com valor econômico próprio.25 
Também conhecido como fundo de comércio26 (agora, fundo de empresa) e azienda27 é 
importante notar que o estabelecimento empresarial somente passou a estar devidamente definido 
na nossa legislação com o advento da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 
A primeira questão legal relevante é a definição da natureza jurídica do estabelecimento 
empresarial. Diversas teorias foram criadas, nacional e internacionalmente, todas com o objetivo de 
delimitar e enquadrar o referido instituto em determinado regramento jurídico. 
Nesse sentido, a primeira teoria, de origem germânica, define o estabelecimento empresarial 
como ente dotado de personalidade jurídica, outorgando-lhe, assim, autonomia patrimonial. Seria 
um sujeito de direito capaz de contrair obrigações relativas à atividade empresarial. No entanto, tal 
teoria não é admitida no nosso ordenamento,28 uma vez que, de forma exaustiva, aponta os entes 
que possuem personalidade jurídica própria.29 
 
22 Com a consagração no Direito pátrio da Teoria da Empresa, o instituto passou a ser denominado de estabelecimento 
empresarial (anteriormente era designado como estabelecimento comercial) e, consequentemente, teve a sua aplicação 
estendida a todas as atividades economicamente organizadas, inclusive aquelas de natureza civil. 
23 No Códice Civile Italiano, o conceito de Estabelecimento corresponde à azienda, definida como “complesso dei beni 
organizzati dall’imprenditore per l’esercizio dell’impresa”. 
24 FIÚZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 1.051, 1.052. 
25 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 96-98, v. 1. 
26 Expressão trazida do Direito francês, que se referia a tal complexo de bens como fonds de commerce ou fonds de boutique. 
No Brasil, à Teoria da Empresa, é melhor aplicar a expressão fundo de empresa. 
27 Segundo o Direito italiano, azienda significa o complexo de bens organizado para o exercício da empresa. 
28 É importante esclarecer, todavia, que para fins fiscais o estabelecimento empresarial tem relativa autonomia, tendo, 
inclusive, em alguns casos, tributação e contabilidade individualizadas. 
29 Art. 44 do CC/02. 
 
26 
 
A segunda teoria considera o estabelecimento como um patrimônio afetado ou separado, isto 
é, um patrimônio autônomo destacado pelo empresário com a finalidade de que sirva de 
instrumento a certa exploração industrial ou mercantil.30 
Como a vontade do empresário ou da sociedade empresária não é suficiente para considerá-
lo como um patrimônio separado, tal teoria também não se enquadra ao ambiente legal pátrio, que 
consagra a regra da unicidade patrimonial, excepcionando-a em apenas alguns casos (por exemplo, 
a herança jacente e o dote). 
A terceira teoria entende ser o estabelecimento empresarial um bem imaterial pertencente à 
categoria dos bens móveis incorpóreos e que transcende a singularidade dos bens que o compõem, 
os quais se mantêm unidos em virtude da finalidade que lhes é dada pelo empresário.31 
Apesar de ser adotada por boa parte da doutrina, tal teoria é também criticada por estar 
fundada em conceitos abstratos, que dificultam a proteção do estabelecimento comercial. 
Por fim, temos a quarta teoria, que considera o estabelecimento empresarial como uma 
universalidade de bens, ou seja, a reunião de vários bens singulares que, embora possam, de per si, 
ser considerados individualmente, em determinados momentos são encarados em conjunto, como 
um bem coletivo. Essa conexão entre bens poderá decorrer da lei (universalidade de direito) ou da 
vontade do seu titular (universalidade de fato). 
Nos termos do art. 90 do CC/02, a universalidade de fato consiste em uma pluralidade de 
bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.32 Por outro lado, a 
universalidade de direito foi definida como o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas 
de valor econômico.33 
Embora a introdução de capítulo próprio na lei civil tenha criado uma sistemática para a 
matéria, isso não significou que as relações jurídicas, de que é parte o titular do estabelecimento 
empresarial, fizessem parte dos seus elementos e, por isso, passassem a ser consideradas o fundo de 
empresa como uma universalidade de direito. Na verdade, a intenção foi dar maior estabilidade aos 
negócios jurídicos envolvendo a transferência do estabelecimento.34 
Como explica Carvalhosa, a noção de universalidade de direito muito mais se assemelha ao 
do patrimônio separado, tais como a herança e a massa falida: “Por isso somente se poderia 
reconhecer hipoteticamente ao estabelecimento a natureza jurídica de universitas juris se lhe fosse 
atribuído o caráter de patrimônio separado, coexistindo com o patrimônio geral do empresário”.35 
 
30 MIGUEL, Paula Castello. O estabelecimento comercial. Revista de Direito Mercantil, São Paulo, v. 118, p. 22, 2000. 
31 REQUIÃO, 2003, p. 276. 
32 Ver art. 90 do CC/02. 
33 Ver art. 91 do CC/02. 
34 Ver art. 1.143 do CC/02. 
35 CARVALHOSA, Modesto. Apud AZEVEDO, Antônio Junqueira de (Coord.). Comentários ao Código Civil: parte especial – Do 
Direito de Empresa (artigos 1.052 a 1.195). São Paulo: Saraiva, 2003, p. 633, v. 13. 
 
 27 
 
Assim, atualmente, prevalece o entendimento de que o estabelecimento consiste em uma 
universalidade de fato, isto é, um conjunto de bens destinados a um determinado fim, criado por 
vontade, não da lei, mas sim do seu proprietário. 
Como anteriormente definido, o estabelecimento empresarial é o complexo de bens 
organizados para o exercício da empresa. Esses elementos vão variar de estabelecimento para 
estabelecimento, visto que o empresário reúne e organiza os bens os quais entende que sejam mais 
necessários e funcionais para o desenvolvimento da sua atividade. Não existem elementos essenciais 
ou indispensáveis a um fundo de empresa.36 
Ademais, esse conjunto de elementos é constantemente alterado. Alguns bens podem ser 
retirados, e outros adicionados, sem que, entretanto, o fundo de empresa venha a ser afetado e, 
assim, prejudique o exercício da atividade. Nesse sentido, enfatiza Coelho: 
 
Desta forma, admite-se, até certos limites, que os seus bens componentes 
sejam desagregados do estabelecimento comercial, sem que este tenha 
sequer o seu valor diminuído. Claro está que a desarticulação de todos os 
bens, a desorganização daquilo que se encontrava organizado, importa em 
desativação do estabelecimento comercial, em sua destruição, perdendo-se 
o seu valor.37 
 
Nesse sentido, a doutrina classifica os bens que o compõem em (i) corpóreos ou materiais e 
(ii) incorpóreos ou imateriais. 
Os bens corpóreos são aqueles que se caracterizam por ocupar um espaço físico no mundo 
exterior e compreendem a matéria-prima, o maquinário, a mobília, as mercadorias em estoque, os 
veículos e os demais bens corpóreos utilizados nos exercícios da atividade econômica. 
Importante questão é se o imóvel integra ou não o grupo de elementos corpóreos do 
estabelecimento empresarial. O entendimento de Requião38 parte do esclarecimento de que não se 
deve confundir estabelecimento empresarial com patrimônio. Isso porque o estabelecimento 
representa apenas uma parcela do patrimônio de uma empresa. Portanto, para o autor, o imóvel é 
elemento da empresa, mas não faz parte do fundo de comércio.39 
 
36 Sobre a qualificação de contratos enquanto elementos do fundo de comércio, ver páginas 15 e 17 adiante. 
37 COELHO,Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 58. 
38 REQUIÃO, ob. cit., p. 283. 
39 Como anteriormente discutido, o nosso ordenamento jurídico teria consagrado o estabelecimento empresarial como 
uma universalidade de fato. Como essa figura é classificada juridicamente como um bem móvel, o estabelecimento 
empresarial, portanto, não poderia incluir, entre os seus elementos, os bens imóveis. Caso contrário, estaria sendo 
admitida a transformação de um bem imóvel em móvel. 
 
28 
 
Porém, essa posição é rejeitada por parte da doutrina, a qual entende que o imóvel integra o 
fundo de comércio desde que seja de propriedade do titular desse estabelecimento e seja elemento 
da exploração da sua atividade.40 
Já os bens incorpóreos ou imateriais são definidos por Requião como as coisas que não 
ocupam espaço no mundo exterior: “são ideais, frutos da elaboração abstrata da inteligência ou do 
conhecimento humano”.41 
Segundo Coelho, os elementos imateriais principais são os bens de propriedade industrial – 
que compreendem as patentes de invenção,42 de modelo de utilidade, registros de desenho 
industrial, marca registrada,43 nome empresarial e título de estabelecimento – e o ponto, que pode 
ser definido como o local em que é explorada a atividade empresarial.44 
Entre os bens incorpóreos, alguns autores45 ainda incluem o aviamento, que pode ser definido 
como o sobrevalor adquirido pelo conjunto de bens organizados para o exercício da empresa que 
compõem o estabelecimento empresarial.46 É a medida da qualidade do fundo de empresa e, por 
isso, pode ser positivo ou negativo, a depender da capacidade que determinado estabelecimento tem 
de produzir riquezas, ou seja, de captar clientela. 
No entanto, como informa a própria doutrina, “o aviamento é um atributo da empresa”.47 É 
resultado da organização racional dos elementos do fundo de comércio feita pelo empresário. Por 
isso, não integra o estabelecimento, mas tão somente é a expressão da sua qualidade, da sua aptidão, 
da sua “capacidade funcional de dar lucros”.48 
Outra questão é a inclusão da clientela – assim definida como o conjunto de pessoas que 
habitualmente consomem os produtos ou serviços fornecidos pelo empresário49 – como elemento 
imaterial do estabelecimento empresarial. 
 
40 MIGUEL, ob.cit., p. 32. 
41 REQUIÃO, ob. cit., p. 284. 
42 A patente é o direito de exploração de uma invenção com exclusividade e por um determinado período de tempo. Por 
isso, a patente não é renovável. 
43 A marca é um sinal distintivo de um determinado produto ou de um determinado serviço. Diferentemente da patente, o 
registro da marca pode ser renovado. 
44 COELHO, 2003, p. 101. 
45 FERREIRA, Waldemar. Apud COELHO, 2003, p. 101. 
46 COELHO, 2003, p. 101. 
47 REQUIÃO, ob. cit., p. 334. 
48 Idem. 
49 É importante enfatizar que a clientela pode ser da empresa – aquela composta de clientes que buscam o estabelecimento 
em razão da confiança que têm na sociedade, nos seus sócios ou administradores – ou do próprio estabelecimento – aquela 
composta de clientes que procuram o estabelecimento independentemente de quem o dirige. 
 
 29 
 
Embora tenha proteção jurídica própria em razão da repressão legal à concorrência desleal, a 
clientela não se confunde com um bem do patrimônio da empresa, tampouco com um elemento 
do estabelecimento empresarial.50, 51 Proteger a clientela de uma sociedade empresária contra a ação 
ilegal dos seus concorrentes não significa que os clientes são da sua propriedade. 
É importante tratar da questão pertinente à alienação do estabelecimento empresarial. Nos 
termos do art. 1.143 do CC/02, o estabelecimento empresarial pode ser objeto unitário de direitos 
e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, desde que compatíveis com a sua natureza. 
O texto legal reafirma a natureza do estabelecimento empresarial como uma universalidade, 
um todo unitário no qual os diversos elementos heterogêneos que o integram passam a ser 
indissociáveis enquanto instrumento da atividade empresarial. 
Porém, deixemos de lado essa questão já anteriormente aprofundada e passemos a analisar as 
espécies de transferência52 do estabelecimento empresarial, que podem ser classificadas em: (i) 
transferências involuntárias e (ii) transferências voluntárias. 
No primeiro caso, a transferência pode ocorrer: (a) em função do falecimento de quem era 
titular do estabelecimento – seja por ordem hereditária ou por verba testamentária, a sucessão se dá 
a partir da morte do empresário, assumindo os seus herdeiros ou legatários o fundo de comércio – 
ou (b) em virtude de alienação judicial, após a penhora judicial. 
No segundo caso, a cessão ocorre com a celebração de negócio jurídico, cujo objeto é a alienação, 
a título oneroso ou gratuito, do fundo de comércio (por exemplo, compra e venda e doação). 
Entre as hipóteses de transferência voluntária, vamos nos ater, neste momento, à que importa 
na alienação do estabelecimento empresarial a um terceiro com a celebração de instrumento 
contratual específico. 
Com origem na expressão “passa-se o ponto”, o contrato de trespasse é um contrato 
consensual, oneroso, bilateral, comutativo e não solene53 que regula os termos e as condições para 
a compra e venda do conjunto de bens empregados por determinado empresário na sua atividade. 
 
50 COELHO, 2003, p. 101. 
51 Todavia, como abordaremos a seguir, tanto o aviamento quanto a clientela são fatores decisivos na fixação do preço em 
caso de alienação do estabelecimento empresarial. 
52 Não há de se confundir a transferência do estabelecimento com a da titularidade das quotas ou ações representativas 
do capital da sociedade, cujo patrimônio contém diversos bens, inclusive o fundo de comércio. 
53 “É um contrato consensual porque se perfaz pela simples anuência dos contraentes, sem necessidade de outro ato; é 
oneroso, pois traz vantagens para ambas as partes, onde cada contratante suporta um sacrifício de ordem patrimonial 
com o intuito de obter vantagem correspondente, de forma que o ônus e proveito fiquem numa relação de equivalência; 
é sinalagmático ou bilateral perfeito, porque ambos os contraentes se obrigam reciprocamente, sendo credores e 
devedores uns dos outros; é comutativo, pois as partes podem antever o que receberão em troca das prestações que 
realizarem; é não solene, sendo desnecessário que se perfaça através de instrumento público, porém não pode deixar de 
ter forma escrita para regular as relações entre os contratantes.” MORAES, Antonieta Lynch de. O trespasse: a alienação do 
estabelecimento e a cláusula de não restabelecimento. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 792, p. 119-120, 2001. 
 
30 
 
O empresário poderá ressalvar que alguns elementos não serão cedidos, desde que não fique 
descaracterizado o estabelecimento, sob pena de desmantelá-lo.54 
O contrato de trespasse é diferente da cessão de quotas, pois nesta, o objeto do negócio é a 
própria participação societária. No trespasse, opera-se a alteração da titularidade do 
estabelecimento, enquanto na cessão de quotas não há mudança na sua titularidade. 
Para que possa produzir efeitos perante terceiros, a lei civil exige que o instrumento contratual 
do trespasse seja averbado no Registro Público de Empresas Mercantis (à margem do registro do 
empresário ou da sociedade empresária), assim como publicado na Imprensa Oficial.55 Com isso, 
há uma presunção legal de que terceiros interessados no estabelecimento empresarial foram 
devidamente notificados com relação à cessão. 
Além disso, o art. 1.145 do CC/02 também restringe a eficácia desse contrato à hipótese de 
o alienante possuir bens suficientes para pagar os seus credores existentes à época do trespasse. Essa 
ressalva diz respeito a todos os credores do alienante, não apenas àqueles relativos

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